Um trabalho publicado em livro que eu ainda não havia divulgado publicamente:
1321. “Uma nova etapa da grande cooperação
científica Brasil-França”, in: Journées
Jeunes chercheurs en sciences humaines et Sociales: regards croisés France
Brésil = Jornadas Jovens
pesquisadores em ciências humanas e sociais. Olhares Cruzados França Brasil.
Brasília: Embaixada da França no Brasil, Serviço de Cooperação e Ação Cultural
(SCAC), Universidade de Brasília (UnB), Fundação Alexandre de Gusmão, 2019, 520
p.; ISBN: 978-85-5054-000-5; pp. 13-16. Relação de Originais n. 3367.
Uma nova etapa da grande
cooperação científica Brasil-França
Paulo Roberto de Almeida
in: Journées
Jeunes chercheurs en sciences humaines et Sociales: regards croisés France
Brésil = Jornadas Jovens
pesquisadores em ciências humanas e sociais. Olhares Cruzados França Brasil.
Brasília: Embaixada da França no Brasil, Serviço de Cooperação e Ação Cultural
(SCAC), Universidade de Brasília (UnB), Fundação Alexandre de Gusmão, 2019, 520
p.; ISBN: 978-85-5054-000-5; pp. 13-16. Relação de Originais n. 3367.
Este livro representa o
feliz resultado de mais um empreendimento exitoso entre o Brasil e a França no
campo das ciências humanas, mais especificamente entre a embaixada da França em
Brasília, a Universidade de Brasília e a Fundação Alexandre de Gusmão, autarquia
vinculada ao Ministério das Relações Exteriores, na qual se enquadra o
Instituto de Pesquisa de Relações Exteriores, atualmente sob minha direção. A
ideia surgiu de uma conversa com a Dra. Mathilde Chatin, encarregada de missão junto
ao Conselheiro de Cooperação e de Ação Cultural da embaixada, logo secundada
por meio de contatos diretos com o Conselheiro Cultural, Alain Bourdon, a quem
sou muito grato por todos os demais esforços de cooperação que temos mantido ao
longo dos últimos anos em empreendimentos de caráter cultural e acadêmico,
envolvendo ainda outros interlocutores de diferentes setores da vida cultural
de nossos dois países.
A ideia inicial era a de
oferecer uma oportunidade a que jovens pesquisadores nas diferentes vertentes
das ciências humanas oferecessem seus trabalhos em curso ou já terminados –
projetos de pesquisa, teses e dissertações já apresentadas, artigos e papers
preparados no contexto acadêmico – a um comitê de seleção para posterior
apresentação num seminário em Brasília, congregando os responsáveis pelas três
áreas engajadas no exercício – a seção cultural da embaixada da França em
Brasília, o IPRI-Funag e a assessoria internacional da Universidade de Brasília
–, os professores e colaboradores selecionados para a avaliação desses
trabalhos e os próprios jovens pesquisadores trabalhando sobre uma ampla gama
de temas de interesse dos dois países no âmbito das ciências humanas. Tal como
me foi apresentado pela Dra. Mathilde Chatin – autora de uma magnífica
tese defendida no King’s College da Universidade de Londres sobre a política
externa do Brasil, selecionada para publicação pela Funag –, o projeto me fez
imediatamente relembrar um exercício precedente, mas quase esquecido nas dobras
da história, sobre um precedente levantamento da cooperação Brasil-França no
vasto terreno da ciência e tecnologia. Com efeito, uma parte significativa da
rica cooperação Brasil-França ao longo das décadas precedentes tinha sido
objeto de um encontro para balanço e avaliação, na parte de ciência e
tecnologia, tal como publicada no livro coordenador por um francês, Guy
Martinière, e um brasileiro Luiz Claudio Cardoso: France-Brésil: Vingt Ans de Coopération (Science et Technologie) (Grenoble:
Presses Universitaires de Grenoble, 1989, 352p.; Collection “Travaux et
Mémoires” de l’Institut de Hautes Études de l’Amérique Latine, n° 44, Série
Essai nº 4).
O novo exercício me
parecia retomar o mesmo espírito de cooperação e de avaliação acadêmica das
iniciativas bilaterais ou de projetos individuais que fizessem a ponte entre os
dois países, com a peculiaridade de, nesse novo exercício proposto, limitar o
campo aos trabalhos em ciências humanas e dirigir-se a jovens pesquisadores, ou
seja, uma geração que vai continuar a trabalhar nos próximos anos em temas que
continuarão a unir os dois países no grande espírito de osmose entre
pesquisadores dos dois países que já tinha reunido os participantes daquele
primeiro esforço de avaliação conduzido no final dos anos 1980. A variedade
temática e a diversidade metodológica dos trabalhos selecionados para serem
apresentados em Brasília testemunham da grande interface de interesses e da
abertura epistemológica já consagrados nos múltiplos vínculos que existem entre
dezenas de universidades e centros de pesquisa dos dois países, assim como da
absoluta liberdade de produção que unem profissionais de terreno ou jovens
acadêmicos em início de carreira em cada lado do Atlântico.
O número de propostas
apresentadas representou um enorme desafio ao comitê de seleção, o que nada
mais revela do que a interpenetração já existente naturalmente no terreno das
humanidades nos dois países, o que parece confirmar a percepção existente. Com
efeito, o Brasil ocupa, legitimamente, um lugar privilegiado na América Latina,
junto com o México, no esforço francês de cooperação externa, seja na área científica
e tecnológica, seja no grande terreno das humanidades, e são incontáveis os
projetos conjuntos e as iniciativas individuais que, desde muito tempo, estão
construindo pontes entre as comunidades respectivas de pesquisadores. A partir dos
primeiros visitantes – André Thevet é incontornável na história – até os
cientistas contemporâneos, passando por ilustres exemplos nas humanidades e nas
artes – desde Auguste de Saint-Hilaire, Debret, Taunay, até Fernand Braudel e
Claude Lévi-Strauss –, a França tem estado presente na própria construção das
ciências humanas no Brasil, e certamente seus pesquisadores constituem uma
parte importante de um processo quase equivalente ao ocorrido no terreno da capacitação
industrial, e que poderíamos chamar de “substituição de importações” na teoria
social brasileira, tal como conduzida na academia brasileira nas últimas três
ou quatro décadas. Com a particularidade que essa “substituição” nunca
terminou, de fato, mas continua a ser continuamente alimentada pelo fecundo
intercâmbio de pesquisadores, jovens e maduros, que confirmam o grande
interesse dessa interação exemplar a mais de um título.
Sendo eu mesmo um membro
da comunidade “francófona” da academia brasileira – tendo feito todos os meus
estudos universitários em francês, ainda que exibindo três diplomas, de
graduação, de mestrado e doutoramento, de universidades da Bélgica –, só posso
me congratular com o sucesso deste novo empreendimento cultural ao qual
emprestei, desde o início, o entusiástico apoio do IPRI e da Funag. Os
materiais coletados neste volume, em francês e em português, oferecem um rico
panorama das novas direções de pesquisa que estão sendo diligentemente
perseguidas por jovens acadêmicos dos dois países. Estou certo de que esses
trabalhos frutificarão em projetos mais ambiciosos nos anos à frente e sinto-me
orgulhoso pelo fato de que, ao juntar minha qualidade de acadêmico brasileiro
“francófono” e de diplomata encarregado de um centro de pesquisa a serviço da
diplomacia brasileira, pude agregar meu pequeno grão de colaboração pessoal ao
grande caudal da cooperação bilateral Brasil-França numa área que está no
centro de meus próprios estudos e pesquisas acadêmicas.
Desde as iniciativas pioneiras,
no imediato pós-Segunda Guerra – mas tomando impulso nos intensos intercâmbios
anteriores, até mesmo antes da consolidação de um Estado independente no Brasil
– até os projetos contemporâneos unindo os dois países nas mais diferentes
vertentes das atividades governamentais, empresariais e acadêmicas, as
afinidades eletivas entre o Brasil e a França se reforçam continuamente, graças
a projetos como o aqui apresentado. Em nome do Itamaraty e da Fundação
Alexandre de Gusmão, meus renovados agradecimentos à cooperação cultural da
embaixada da França em Brasília por esta magnífica iniciativa que agrega mais
um tijolo na construção de pontes e vias de interação entre os dois países, e
meus votos de renovada confiança na continuidade desse tipo de intercâmbio e
mútuo enriquecimento nos anos à frente.
Paulo Roberto de Almeida
Diretor do Instituto de Pesquisa de Relações
Internacionais (IPRI)
Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), Ministério das
Relações Exteriores
Brasília, 1 de dezembro de 2018
[Objetivo: servir como introdução ao
volume; finalidade: Brasil-França: “Jornadas
Jovens Pesquisadores em Ciências Humanas”]