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domingo, 30 de outubro de 2011

Brasil: nao existe dificuldade que nao possa piorar (se depender do governo, claro...)

O Brasil é um país curioso. Enfim, curioso é um eufemismo. Talvez se devesse dizer bizarro, mas ainda assim bizarro não expressa bem essa situação dos negócios no Brasil.
O último relatório Doing Business do Banco Mundial coloca o Brasil um pouco mais atrás: o país caiu da 120a. posição para a 126a., ou seja, estamos indo para trás.
Tudo, mas vocês podem pensar em tudo, o que depender do governo tende a piorar, sobretudo no terreno dos impostos: estamos em 150o. lugar. Acham pouco?
Esperem mais alguns anos que vamos chegar a ser campeões absolutos em matéria de impostos: 183o. lugar, ou seja, o cidadão mais taxado do mundo.
Leiam bem o que diz o relatório: "as empresas nacionais levam 2.600 horas por ano, em média, para ficar em dia com suas obrigações tributárias. Na América Latina em geral, são 382 horas, enquanto nos países-membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) não passam de 186." Isto quer dizer que os empresários brasileiros levam 14 VEZES MAIS TEMPO apenas para pagar ou declarar impostos do que seus colegas da OCDE.
Como é que os governantes, os políticos, pretendem que as empresas brasileiras sejam competitivas desse jeito?
Quando é que eles vão se corrigir? Acho que vai demorar.
Estou esperando por uma fronda empresarial, algum dia...
Paulo Roberto de Almeida 

Fazer negócios continua difícil

29 de outubro de 2011 | 3h 06

Editorial - O Estado de S.Paulo

O curioso no relatório Doing Business 2012 do Banco Mundial (Bird), há pouco divulgado, não é a constatação de que a burocracia no Brasil tem aumentado. Isso não chega a ser novidade. O que chama a atenção do Bird, como exemplo de melhora, é "o sistema de informação sobre crédito, ao permitir que as agências privadas coletem e divulguem dados positivos". Trata-se do cadastro positivo, já regulamentado por lei e que, felizmente, é opcional. As empresas e os cidadãos que se submeterem ao cadastro positivo têm de abrir mão de sua privacidade, ficando seu histórico financeiro à disposição de toda a rede bancária, com risco de invasão por pessoas inescrupulosas. Para os bancos, o cadastro positivo pode concorrer para aumentar a rentabilidade, mas para os clientes, que têm de preencher formulários e aguardar aprovação, não há benefício algum, uma vez que, como as próprias instituições financeiras afirmam, os bons pagadores não fazem jus a taxas mais baixas de juros ou a tarifas menores por serviços prestados.

O que realmente importa é que o Brasil caiu, no relatório do Bird, da 120.ª posição para 126.ª entre 183 países. O grande empecilho para fazer negócios no mercado brasileiro continua sendo o tempo gasto para pagar impostos, considerando o número de tributos, o número de horas necessário para completar os procedimentos contábeis, preparar as declarações e, finalmente, fazer o recolhimento. No ranking mundial desse quesito, o Brasil ocupa o 150.º lugar, estimando o Bird que as empresas nacionais levam 2.600 horas por ano, em média, para ficar em dia com suas obrigações tributárias. Na América Latina em geral, são 382 horas, enquanto nos países-membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) não passam de 186.
Tem havido um certo avanço, com o Simples Nacional, que vem facilitando a vida de muitas micro e pequenas empresas, mas o universo contemplado pelo sistema ainda é relativamente pequeno. Um dos grandes objetivos de uma reforma tributária, como as entidades empresariais defendem há anos, é justamente reduzir o número de tributos e contribuições e torná-los de fácil compreensão. Mas entra governo e sai governo e essa reforma não progride, principalmente por falta de acordo entre a União, os Estados e os municípios sobre o quinhão de cada um sobre as receitas.
Em alguns quesitos, o Brasil melhorou, ainda que pouco, como o número de dias que os empreendedores levam para abrir uma firma, item em que o Brasil subiu 5 posições ficando agora na 120.ª. Esse prazo no Brasil agora é, em média, de 119 dias (quatro meses), muito acima do exigido por países da América Latina (54 dias) e pelos países da OCDE (13). Ao todo, são necessários 13 procedimentos para abrir uma empresa no Brasil, uma boa parte dos quais poderia ser dispensada, sem perda de arrecadação e sem risco à segurança. Contudo, em um estado cartorial como ainda é o Brasil, a formalização de empresas não pode passar sem certos carimbos. Essa burocracia é, certamente, um dos fatores que contribuem para que muitos empreendedores prefiram trabalhar na informalidade, sem pagar impostos. E, apesar dos controles, existem burlas até em contratos com o governo, como mostram empresas fantasmas que frequentam o noticiário.
Os critérios utilizados pelo Bird podem ser discutíveis sob alguns aspectos, como "proteção aos investidores", em que o Brasil aparece em 79.ª posição, o que, aparentemente, não reflete a percepção dos investidores internacionais. Deve-se reconhecer, contudo, que aquela instituição internacional vem trabalhando para aperfeiçoar sua análise. No relatório deste ano, por exemplo, foi introduzido mais um critério para avaliação do ambiente de negócio em um país - "obtenção de eletricidade". Nesse quesito, o País obteve a sua melhor colocação: a 51.ª.
O Brasil, contudo, diz a coordenadora do relatório, Sylvia Solf, está "na direção correta" e que tudo "é uma questão de tempo". E de vontade política, vale acrescentar.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Hong Kong: primeiro lugar (em quase tudo...)


YOU ARE HERE

The Land of Milk and Money


Philipp Engelhorn for The New York Times
The entrepreneur Fredy Harianto strolling Hong Kong's busy streets.



Fredy Harianto was one of 30 or so people who congregated at the headquarters of Boot HK, an incubator for Internet start-ups in Wan Chai, one of Hong Kong’s many business districts, to hear a lecture on how to create a punchy, likable corporate blog voice. The attendees were mostly young; each had sharp clothes and impeccable posture. Only two were born in Hong Kong.

Readers’ Comments

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The demographics of the room reminded me of what a London-born banker told me a couple of nights before: “There are only two reasons why a white guy will come to Hong Kong. The first is to make money and evade taxes. The second is girls. But really, once you get down to it, there’s really only the first reason.” In Hong Kong, individual income tax maxes out at 15 percent, and many businesses operate under tax-free status.
And of course, nearly everyone at Boot HK had been seduced by the proximity to China, the biggest market in the world. There was a college kid from Berkeley who was vaguely interested in starting “some sort of social-networking site.” There was a guy from Nebraska who also wanted to create a social-networking site — this one for industrial manufacturing companies. Seated next to me was a half-drunk Chinese-American investment banker, who seemed to have come only to drink Boot HK’s liquor and berate the young and hopeful. About 20 minutes in, he interrupted the lecture, stood up and demanded that everyone explain why, for God’s sake, they would ever want to start their own companies. After it was clear that nobody wanted to answer, he pointed at a woman and said, “You start.”
Most of the boot campers ended up saying they wanted to found Hong Kong’s Groupon, Hong Kong’s Zynga or Hong Kong’s Yelp, in the hope that they could cross over to the Chinese market. The investment banker rolled his eyes after each response, clearly agitated by the collective lack of imagination.
Then came Fredy Harianto. When the question of why he wanted to start his own company got to him, he leaned forward onto his elbows and started yelling: “I am so tired of everyone saying that the Chinese people are not creative and that everything they are doing is a copy of American Internet companies. They are right!” The room went silent.
When the lecture finally ended, the entrepreneurs milled around, forcing eye contact and passing out business cards.
Before he left, I asked Harianto if he would meet me for lunch. The next day, we walked up the steep, narrow incline of Wyndham Street in central Hong Kong because he said the best dumplings in the city were somewhere around some corner. We found the place down an alley lined with English pubs in the expat district called Soho. A woman came from behind the counter and yelled at us in Cantonese before throwing two laminated menus onto the table and stalking off. “The people of Hong Kong are very rude, but I still love them,” Harianto said. “No. 1: They are my people. No. 2: They are very motivated to succeed.”
Over lunch, he talked mostly about American movies. During a brief period of unemployment last year, he downloaded “The Social Network,” which opens with the line, “There are more people with genius I.Q.’s living in China than there are people of any kind living in the United States.” Over the next three months, Harianto watched the opening scene as many as 10 times a day. “Those words were chilling to my spine,” he explained. “I saw what Mark Zuckerberg said as a calling to the Chinese people. If there are so many geniuses in China, we should broadcast that genius to the rest of the world.”
To achieve this goal, Harianto scraped together $7,500 to start offilink.com, a social-networking site he describes as the perfect mix of Facebook, LinkedIn and Twitter. In Hong Kong, all forms of commerce are fueled by the tinder of billions of business cards. The exchange of cards is reflexive and ceremonial: two hands when presenting and two hands when accepting, each and every time you meet someone whose station in life might be equal to or greater than your own. Within a week of arriving in Hong Kong, I was finding them everywhere — between the pages of my notebooks, in every pocket, in between the sheets of my bed. Harianto’s idea: Take all these business cards and put them online.
Everyone I talked to in Hong Kong, from the billionaire clothing manufacturers to the unionized domestic workers, buzzed with a similar ambition. Just as everyone who moves to San Diego considers learning how to surf, nobody comes to Hong Kong without, at some point, considering some entrepreneurial endeavor. It was easy to see how Harianto, still spearing his dumplings in the empty restaurant, got so wrapped up in the idea of success.
“Offilink has to start here, in Hong Kong,” he explained. “This is the place the world looks to for leadership in business.”

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Estado brasileiro: para tras, a toda velocidade...

Pois é, já não bastasse a tragédia educacional brasileira, objeto do post anterior, temos também essa verdadeira bola de ferro acorrentada aos pés dos empresários brasileiros que se chama Estado brasileiro.
Estado? brasileiro?
Sim, ele é brasileiro, mas não responde ao perfil geral que se costuma aceitar para um Estado normal.
Na verdade, se trata de um ogro famélico que dilapida os recursos privados, rouba a renda dos cidadãos, invade o caixa das empresas para dilapidar seu faturamento, engana a todos com promessas mirabolantes, torra um dinheiro enorme em propaganda de si próprio e não faz nada do que seria necessário, ou simplesmente do que seria certo, para responder a essa definição simplória do que seja um Estado, ou seja, um ente coletivo a serviço da sociedade.
No Brasil, esse monstrengo pantagruélico que se chama Estado serve primeiro a si próprio, e com isso ao enxame de políticos -- alcatéia seria um termos mais explícito -- que o cercam e o saqueiam, serve também a vários outros parasitas, a corporações "de Estado" que não merecem esse nome, tal a sanha dos marajás em se apropriar das rendas produzidas por trabalhadores e empresários do setor privado, enfim, se trata de um ser disforme que consome como um parasita as forças vivas da nação.
Quando é que os cidadãos comuns, os empresários brasileiros vão se revoltar e se levantar contra o ogro?
Acho que vai demorar. Vai ser preciso um ou dois desastres -- crise fiscal, crise de transações correntes, falência previdenciária, descalabro educacional, criminalidade sindical -- para que a sociedade desperte e resolva mudar esse cenário.
Acho não! Tenho certeza de que vai demorar...
Paulo Roberto de Almeida
PS: Esta introdução foi destacada deste contexto, ou seja, como introdução ao editorial abaixo do Estadão, e transformada em texto pdf e inserido em algum local digital do Clube Militar, que como se sabe reúne basicamente militares aposentados vivendo no Rio de Janeiro, mas que reflete, em grande medida, o que pensam os militares brasileiros sobre o Brasil e seus desafios. Neste link:
http://www.clubemilitar.com.br/pdf/opinioes/brasileiro.pdf


Onde o Brasil é competitivo
Editorial - O Estado de S.Paulo, 12/09/2011
No que depende da iniciativa privada, o Brasil é eficiente e ocupa um lugar confortável na classificação dos países mais competitivos promovida anualmente pelo Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês). No que depende do setor público, porém, o Brasil vai mal e se classifica entre os 40 piores países, numa lista de 142. Em alguns itens é o pior de todos.
O estudo da WEF baseia-se em 12 conjuntos de fatores, como as instituições, a disponibilidade e a qualidade da infraestrutura, o ambiente macroeconômico, os serviços de saúde e de educação, a eficiência do mercado, as condições do mercado de trabalho, o mercado financeiro, a capacidade tecnológica e a capacidade de inovação. No Brasil, seu trabalho conta com a colaboração do Movimento Brasil Competitivo e da Fundação Dom Cabral.
O Brasil está entre os 40 ou 50 melhores países do mundo no que se refere a padrões das demonstrações financeiras das empresas e de proteção aos investidores, disponibilidade e qualidade dos serviços financeiros, disponibilidade de fornecedores locais, gastos das empresas com pesquisa e desenvolvimento e capacidade de inovação. Quanto ao tamanho do mercado interno, o Brasil ocupa o 10.º lugar. São esses alguns itens que impulsionam o País para melhores posições na classificação mundial de competitividade.
Mas o Brasil vai muito mal em outros pontos, especialmente os referentes ao governo. Ocupa a 104.ª posição na qualidade da infraestrutura (no item transporte aéreo, está no 122.º lugar), a 115.ª na qualidade do sistema educacional, a 127.ª na qualidade do ensino de matemática e de ciências, a 138.ª na quantidade de dias necessários para se abrir uma empresa, a 128.ª nas exigências para admitir e demitir trabalhador e a 136.ª no desperdício do dinheiro público. O Brasil é o pior país de todos os analisados pelo WEF no que se refere ao custo da regulação governamental e ao peso e abrangência dos impostos.
São características da economia e das instituições brasileiras que preocupam os dirigentes de empresas ouvidos pelo WEF e deveriam preocupar mais os políticos e as autoridades do País.
Apesar do ônus que o governo impõe à atividade econômica, o País vem evoluindo. Classificado na 53.ª posição no Índice de Competitividade Global divulgado pelo WEF na terça-feira, o País melhorou cinco posições em relação ao índice do ano passado. Nos últimos seis anos, subiu 13 posições.
O diretor e economista do Centro para a Competitividade Global do WEF, Beñat Bilbao-Osorio, observou que o Brasil vem melhorando a cada ano. Mesmo em itens em que está mal classificado, e que representam um obstáculo para seu desenvolvimento, o País tem apresentado alguma evolução.
Como consequência da crise dos países desenvolvidos - que mudou o polo de crescimento mundial, hoje mais dependente do desempenho dos países em desenvolvimento -, estreitou-se a diferença de competitividade entre os países ricos e os pobres. Os EUA, por exemplo, vêm perdendo posições desde o início da crise global, há três anos. Hoje ocupam a quinta posição. Além do fraco desempenho da economia americana, também o ambiente político do país, marcado pela baixa confiabilidade dos políticos e pela ineficiência do governo, passou a preocupar os dirigentes empresariais de todo o mundo
Em movimento contrário ao dos EUA, os países latino-americanos se destacaram na nova classificação do WEF. Como o Brasil, a Bolívia avançou cinco posições (está na 103.ª). O México pulou oito (para a 58.ª); o Peru, seis (para a 67.ª); e o Equador, quatro (para a 101.ª).
"A resistência (dos países latino-americanos) à crise e a perspectiva de crescimento econômico vieram acompanhadas de aumento de competitividade", observou o diretor do WEF. Mesmo assim, a classificação média desses países ainda é ruim e, para avançar, eles precisam fazer reformas. Na maioria deles, as instituições são frágeis, há insegurança, a infraestrutura é precária e é baixa sua capacidade de inovação. "São mudanças difíceis, mas terão de ser feitas", concluiu Bilbao-Osorio.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Mercosul vs dragao chines (tem quem espere S.Jorge...)

Interessante este artigo, mas discordo do embaixador Ricupero quando este diz que "a China ocupa mercados destinados em princípio à indústria dos parceiros do Mercosul".
Não existem mercados reservados, num regime aberto como o do GATT, nem parcerias por direito divino. No mundo do comércio, e dos negócios, portanto, vale competitividade, ou seja, preços e qualidade. Ninguém faz caridade com ninguém, ou pelo menos nenhum empresário é maluco ao ponto de atender ao pedido do ex-presidente Lula que recomendava comprar produtos dos países vizinhos mesmo que eles fossem mais caros do que de fornecedores externos. Caridade não existe no mundo dos negócios.
O Mercosul e a indústria dos países membros vai sobreviver na medida em que for competitiva, e o "estrago" chinês se deve, antes de mais nada, a distorções internas, ou seja, tributação excessiva nos processos produtivos domésticos.
Antes de reclamar da China, os países membros deveriam cuidar do próprio quintal.
Paulo Roberto de Almeida

Manipulação da China ameaça os objetivos do Mercosul
Rubens Ricupero
Folha de S.Paulo, segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A visita de Dilma Rousseff à Argentina não será a ocasião para relançar a integração porque mais uma vez não coincidem os ciclos políticos e econômicos dos países.

Do lado brasileiro, o governo começa, enquanto, do outro lado, termina. As políticas econômicas e os resultados em inflação, deficit orçamentário, câmbio e proteção à indústria são contrastantes e difíceis de harmonizar.

Não obstante, o encontro pode ser a oportunidade de reflexão sobre os dilemas do Mercosul, que enfrenta ameaças de fora e de dentro.

De fora, afastado o perigo da Alca, que teria dissolvido o bloco na geleia da integração subordinada aos EUA, o risco provém da China.

A diferença é que, graças à opacidade que lhes permite manipular câmbio, empréstimos e favores tributários para estimular exportações, os chineses não precisam negociar acordos para passar por baixo de qualquer barreira.

O resultado é que a China ocupa mercados destinados em princípio à indústria dos parceiros do Mercosul. A China põe assim em risco o próprio pressuposto da integração: viabilizar a industrialização de cada país graças aos ganhos de escala derivados da soma dos membros.

Sem manufaturas competitivas para exportar, o que resta aos latinos é acentuar o aspecto das economias em que são concorrentes, não complementares: o de exportadores de commodities minerais e agropecuárias.

Na medida em que a China se torna o motor do avanço das exportações para todos, desaparece outro objetivo da integração, que é aumentar o comércio dentro da zona.

A ameaça de dentro se origina da frustração com projeto que estancou.

Após atingir o pico em 1997-98 (17%), o comércio intrazona caiu. As vendas dos parceiros a terceiros se expandem muito mais rápido do que dentro do bloco. Nem o grupo nem o mercado brasileiro se revelaram capazes de proporcionar aos sócios demanda que lhes possibilitasse diversificar e desenvolver as economias.

Diante disso, a Argentina optou pelo unilateralismo: protege seus interesses sem ligar para regras. A resposta do Brasil é contemporizar.

Falta iniciativa para pôr fim aos casuísmos e renovar o conceito da integração.

Será preciso partir de realidade inexistente na fundação do bloco: a China e a acentuação da dependência de Brasil e Argentina das commodities.

Integrar concorrentes na exportação de commodities não faz sentido.A fim de sair do dilema, os dois países terão de, finalmente, enfrentar o desafio da sua persistente falta de competitividade.

sábado, 11 de setembro de 2010

Como diminuir a produtividade do Brasil...

Não é difícil: basta não fazer nada, e os outros países passam na frente.
Mas também tem outras formas ativas de contribuir para a deterioração geral da competitividade no Brasil, das quais enumero apenas algumas:
1) Continuar com uma carga tributária extorsiva (aliás crescente)
2) Expandir a intrusão do Estado na vida econômica
3) Aparelhar o Estado com militantes ignorantes, desprovidos de competência
4) Aumentar o poder das corporações sobre a determinação de políticas nacionais
5) Lotear cargos públicos por critérios políticos
6) Manter uma burocracia extensiva, sujeita a delongas ou corrupção
7) Ocupar estudantes com matérias dispensáveis, e várias inutilidades, em lugar de se concentrar no essencial da boa formação escolar
8) Avançar sobre a poupança privada, impedindo maior taxa de investimento na economia
9) Deixar a infra-estrutura se deteriorar, com pouco investimento na renovação ou conservação
10) Praticar políticas setoriais de cunho partidário, inclusive na frente externa, em ligar de cuidar apenas dos interesses nacionais
Etc., etc., etc. Poderia continuar mas bastam essas para evidenciar porque o Brasil é ultrapassado de longe por outros países que partiram de bases muito frágeis (China) ou que empreenderam o caminho das reformas (Chile)
Paulo Roberto de Almeida

Prioridades erradas afetam a competitividade do País
O Estado de S.Paulo, 10 de setembro de 2010

O Brasil caiu duas posições no ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) - ficou acima da Rússia, do México e da Turquia, mas abaixo de Brunei, do Chile e do Azerbaijão, entre outros. A avaliação é anual, feita em parceria com a Fundação Dom Cabral e o Movimento Brasil Competitivo, e, de 2007 a 2009, o Brasil havia ganho 16 posições. A queda de agora é um alerta para o próximo governo.

O País saiu-se pior por causa da deficiência de políticas públicas de saúde e educação primária, do mercado de trabalho, além do enfraquecimento das agências reguladoras. Como a carga tributária não se reduziu no período, o problema não foi de falta de recursos, mas de gestão na sua aplicação. Exemplo: aplicou-se menos em saneamento básico e mais em subsídio ao crédito.

A classificação do WEF leva em conta fatores favoráveis ao Brasil, tais como as dimensões do mercado interno e o conteúdo local da produção, a solidez dos bancos e o desenvolvimento do mercado financeiro, a sofisticação dos negócios, o treinamento profissional e o ensino universitário, além do baixo custo da política agrícola.

E, apesar dos problemas da infraestrutura, os empresários consultados afirmaram que houve melhora nesse item - no qual o País passou do 74.º lugar para o 62.º lugar. "Se não fossem os transportes, especialmente na parte de estradas, o Brasil teria tido uma nota melhor em infraestrutura e, por tabela, no índice geral", notou o presidente do Movimento Brasil Competitivo, Erik Caramano.

Mas, em 139 países pesquisados, o País está em último lugar quanto ao peso da regulação pelo governo e à extensão e peso da tributação; no 136.º, por desperdício nas despesas do governo e spread na taxa de juros; e no 135.º, no tempo gasto para abrir um negócio. E ficou ainda entre os 15 piores países em rigidez do mercado de trabalho, confiança nos políticos, crime organizado, custo da violência para os negócios, qualidade dos portos e problemas aduaneiros.

Em especial, ocupou o 126.º lugar em qualidade em Matemática e Ciências e o 127.º, em qualidade do ensino primário. Da falta de conhecimento básico em Português e Matemática ao analfabetismo funcional é um passo.

Todavia, a queda do Brasil no ranking geral de competitividade neste ano se deveu a que outros países fizeram mais do que o nosso. Mais do que desqualificar os critérios do WEF, está claro onde é que se deve recuperar o terreno perdido.