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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
Mercosul vs dragao chines (tem quem espere S.Jorge...)
Não existem mercados reservados, num regime aberto como o do GATT, nem parcerias por direito divino. No mundo do comércio, e dos negócios, portanto, vale competitividade, ou seja, preços e qualidade. Ninguém faz caridade com ninguém, ou pelo menos nenhum empresário é maluco ao ponto de atender ao pedido do ex-presidente Lula que recomendava comprar produtos dos países vizinhos mesmo que eles fossem mais caros do que de fornecedores externos. Caridade não existe no mundo dos negócios.
O Mercosul e a indústria dos países membros vai sobreviver na medida em que for competitiva, e o "estrago" chinês se deve, antes de mais nada, a distorções internas, ou seja, tributação excessiva nos processos produtivos domésticos.
Antes de reclamar da China, os países membros deveriam cuidar do próprio quintal.
Paulo Roberto de Almeida
Manipulação da China ameaça os objetivos do Mercosul
Rubens Ricupero
Folha de S.Paulo, segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
A visita de Dilma Rousseff à Argentina não será a ocasião para relançar a integração porque mais uma vez não coincidem os ciclos políticos e econômicos dos países.
Do lado brasileiro, o governo começa, enquanto, do outro lado, termina. As políticas econômicas e os resultados em inflação, deficit orçamentário, câmbio e proteção à indústria são contrastantes e difíceis de harmonizar.
Não obstante, o encontro pode ser a oportunidade de reflexão sobre os dilemas do Mercosul, que enfrenta ameaças de fora e de dentro.
De fora, afastado o perigo da Alca, que teria dissolvido o bloco na geleia da integração subordinada aos EUA, o risco provém da China.
A diferença é que, graças à opacidade que lhes permite manipular câmbio, empréstimos e favores tributários para estimular exportações, os chineses não precisam negociar acordos para passar por baixo de qualquer barreira.
O resultado é que a China ocupa mercados destinados em princípio à indústria dos parceiros do Mercosul. A China põe assim em risco o próprio pressuposto da integração: viabilizar a industrialização de cada país graças aos ganhos de escala derivados da soma dos membros.
Sem manufaturas competitivas para exportar, o que resta aos latinos é acentuar o aspecto das economias em que são concorrentes, não complementares: o de exportadores de commodities minerais e agropecuárias.
Na medida em que a China se torna o motor do avanço das exportações para todos, desaparece outro objetivo da integração, que é aumentar o comércio dentro da zona.
A ameaça de dentro se origina da frustração com projeto que estancou.
Após atingir o pico em 1997-98 (17%), o comércio intrazona caiu. As vendas dos parceiros a terceiros se expandem muito mais rápido do que dentro do bloco. Nem o grupo nem o mercado brasileiro se revelaram capazes de proporcionar aos sócios demanda que lhes possibilitasse diversificar e desenvolver as economias.
Diante disso, a Argentina optou pelo unilateralismo: protege seus interesses sem ligar para regras. A resposta do Brasil é contemporizar.
Falta iniciativa para pôr fim aos casuísmos e renovar o conceito da integração.
Será preciso partir de realidade inexistente na fundação do bloco: a China e a acentuação da dependência de Brasil e Argentina das commodities.
Integrar concorrentes na exportação de commodities não faz sentido.A fim de sair do dilema, os dois países terão de, finalmente, enfrentar o desafio da sua persistente falta de competitividade.
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