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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Livro: O conhecimento no seculo 20 (e em alguns outros mais)
Samuel Simon (org.)
Um Século de Conhecimento - Arte, Filosofia, Ciência e Tecnologia no século XX
Prefácio de Roberto Salmeron
(Brasília: Editora da UnB, 2011, 1282 p.; ISBN: 978-85-230-1276-2)
Organizador de livro sobre avanço da ciência vê tema como "grande ausente"
Max Miliano Melo
Correio Braziliense, 26/01/2011
Entrevista com o organizador do livro "Um Século de Conhecimento - Arte, Filosofia, Ciência e Tecnologia no século XX", Samuel Simon
- Como surgiu o interesse de escrever um livro tratando das teorias produzidas pela ciência ao longo do século XX?
As razões são, basicamente, duas. A primeira, conforme explico na Apresentação do livro, nasceu de uma constatação: nos balanços realizados pela imprensa no final do milênio, o tema "teorias científicas" era o grande ausente. Falou-se sobre acontecimentos políticos, grandes catástrofes, tecnologia, etc. O conhecimento científico e seus fundamentos foi esquecido. A segunda, porque "o que é uma teoria científica" é um dos meus objetos de estudo, na medida em que trabalho com filosofia da ciência. "Um Século de Conhecimento" nos apresenta as teorias em inúmeras áreas do conhecimento e podemos, assim, compreender melhor o que fazem os pesquisadores nas universidades.
- Explique um pouco como foi o processo de produção do livro.
Tive a ideia de fazer esse livro em 2000. Comecei então o contato com os autores explicando o projeto: fazer esse balanço das teorias produzidas na sua área no século XX, mas sem esquecer século anterior e sem esquecer as origens da área. Solicitei também uma avaliação sobre os possíveis desenvolvimentos da área para o século seguinte, o atual (século XXI).
- Qual a importância das teorias na produção do conhecimento?
As teorias são fundamentais para o desenvolvimento do conhecimento, embora não sejam as únicas fontes para o conhecimento. Antes um rápido esclarecimento: quando falo em conhecimento, estou me referindo ao conhecimento científico, que tem seus métodos, controles, aferições, etc. Voltando à importância das teorias, pode-se dizer, também de maneira breve, que elas buscam exprimir as causas de um fenômeno, qualquer que seja ele: do movimento da Lua a um distúrbio comportamental. A relação entre os enunciados de uma teoria, os termos que a compõem e a experiência é extremamente complexo e é um dos principais assuntos tratados pela filosofia da ciência. Nesse campo, não somente os filósofos, mas também cientistas deram e tem dado grandes contribuições. Albert Einstein, Sigmund Freud, são exemplos de cientistas que contribuíram para esse debate. Entre os filósofos, temos, evidentemente Karl Popper, Thomas Kuhn, para citar apenas dois grandes nomes do século XX.
- Porque tão relevantes elas não chegam, muitas vezes ao conhecimento do grande público?
As razões podem ser várias. Vou arriscar algumas: talvez o interesse por assuntos mais imediatos do dia-a-dia ocupem bastante as pessoas. Uma outra razão é que, muitas vezes, confunde-se tecnologia e produtos de teorias, que evidentemente têm sua importância, com as próprias teorias científicas e supõe-se que isso basta. Finalmente, os elementos mais fundamentais que compõem as teorias científicas, as conexões causais e os fundamentos dessas conexões para explicar certos fenômenos ("explicar o visível pelo invisível", como dizia o biólogo Jacques Monod) se relacionam de maneira bastante intrincada e com termos técnicos de difícil compreensão para quem não trabalha com aquele assunto. Nesse sentido, a imprensa tem um papel bem relevante.
- Este século a ciência passou por um processo de especialização?
A especialização no conhecimento tem a idade da filosofia ocidental e das primeiras pesquisas científicas no período clássico. Quando Platão faz filosofia, Euclides formula sua geometria, Arquimes enuncia os primeiros princípios da física, temos uma especialização. Com o passar do tempo, o número de domínios aumentou e, portanto, também a especialização.
- E a interdisciplinaridade ela teve um papel importante na produção do conhecimento neste século?
Também a interdisciplinaridade tem origem no período clássico. Para citar dois exemplos: Ptolomeu precisava de geometria para seu sistema geocêntrico de mundo. O século XVII continuou essa tendência e aguçou essa relação, na medida que incorporou definitivamente a matemática à física. Hoje, com maior número de domínios essa relação é inevitável. Não vejo uma grande novidade aí, pois ela é antiga.
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