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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Diplomatas tambem fazem greve... em Israel... (Carta Capital)

Diplomatas israelenses em greve recebem apoio de sindicato brasileiro
Viviane Vaz, de Jerusalém
Carta Capital, 18 de janeiro de 2011

Visita de autoridade militar ao Brasil em fevereiro pode ser cancelada, se a paralisação continuar.

O Sinditamaraty, sindicato que reúne os servidores do Ministério de Relações Exteriores do Brasil, publicará nos próximos dias um comunicado em apoio aos colegas israelenses em greve por melhores salários desde 27 de dezembro. A iniciativa foi decidida em reunião realizada em Brasília na semana passada. “O salário que os israelenses recebem é de fato irrisório, quanto mais se comparado a outras chancelarias no mundo. Toda a área ligada a segurança do governo é vista com bons olhos, enquanto outras áreas recebem um tratamento com bastante detrimento. Infelizmente eles ainda não conseguiram pensar que relações exteriores é segurança nacional”, ressalta o presidente do Sinditamaraty, João Rafael Chió Serra Carvalho. “Em 1995, fez-se no Brasil uma reforma administrativa na qual se estabeleceu que a diplomacia é uma profissão típica do Estado. Nós ainda estamos aguardando que isso aconteça também em Israel”, disse à Carta Capital o diplomata israelense Leo Vinovezky, que trabalha na embaixada em Brasília.

Em Jerusalém, há quase um mês os diplomatas têm ido à sede da chancelaria com camisetas negras com o alerta em hebraico: “Eu sou um pobre diplomata”. “Vamos ao ministério todos os dias, mas não cumprimos com nosso trabalho em forma de protesto”, explica à reportagem um diplomata israelense. Apesar de a paralisação ter começado em dezembro do ano passado, as manifestações tiveram origem em junho, quando os diplomatas foram trabalhar vestidos com calças jeans e chinelos. Em agosto eles também criticaram o serviço de inteligência, Mossad, por prejudicar os protestos ao aceitarem organizar a visita do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, a Atenas. Os diplomatas reclamam que ganham 49% menos dos funcionários do Ministério da Defesa e 80% que os do Mossad.

O vice-presidente da Associação de Diplomatas Brasileiros (ADB), Paulo Roberto de Almeida, explica que por ser uma profissão tradicionalmente aristocrática e elitista, não é comum ver diplomatas em greve. No entanto, ele destaca que a iniciativa não é inédita, principalmente em países de forte tradição sindical como Espanha e Itália. “No caso de Israel, o passado está identificado claramente com a ideia sionista, que é socialista, sindicalista, trabalhista”, diz Paulo Roberto. “Hoje há diferentes partidos, inclusive radicais e religiosos, mas isso não afeta o sindicalismo de Israel, que é profundamente social-democrata e até socialista. Então não é estranho que o movimento sindical também compreenda muitos diplomatas”, conclui.

Leo avalia que não poderia encontrar uma profissão mais fascinante do que a de diplomata, mas que o sonho profissional está se tornando um pesadelo econômico. “Assim como Israel precisa dos melhores soldados na frente de batalha, precisa dos melhores ‘soldados’ com terno e gravata no exterior do país. Mas se (os salários) continuarem assim, muitos jovens israelenses não vão considerar ser diplomatas”, ressalta.

“Um diplomata brasileiro que acaba de entrar no Rio Branco ganha mais do que um diplomata israelense em 30 anos de carreira em Israel”, afirma em Tel Aviv um funcionário israelense que serviu no Brasil, mas prefere não se identificar. No Brasil, o diplomata em início de carreira começa com um salário de R$ 12.413,03. Em Israel, apesar do desafiador trabalho de lutar para melhorar a imagem internacional de um país que desde 1967 passou de vencido a vencedor, os diplomatas iniciam na profissão com US$ 1340 dólares (cerca de R$ 2680). Segundo o sindicalista Hanan Goder-Goldberger, depois de 10 anos de carreira, a remuneração pode chegar a US$ 1600.

Paulo Roberto recorda que até os anos 1990, os diplomatas brasileiros também ganhavam mal no Brasil. “Quando entrei na carreira diplomática, eu não tinha salário para fazer crediário para comprar geladeira, nem tinha como comprar telefone ou carro, que eram caríssimos. Então eu era um diplomata pobre”, lembra Paulo. “Hoje se ganha bem no Brasil”, reconhece. Leo conta que os israelenses por amor à profissão correm de um lado para outro, muitas vezes em transporte público. “Pensamos no trabalho, como fazer de Israel um país mais reconhecido, mais respeitado no mundo, que as pessoas tenham interesse em pesquisar e descobrir”, explica.

Nos últimos 17 anos, os salários dos diplomatas perderam mais de 40% do valor e os profissionais decidiram que desta vez deixarão de “subsidiar” o Estado. De acordo com Hanan, dos 830 funcionários do ministério, 12% vivem abaixo da linha de pobreza, pois não conseguem sustentar uma família com mulher e dois filhos. O sindicalista alertou que se a situação continuar, apenas aqueles cujas famílias abastadas aceitarem sustentá-los poderão exercer a profissão.

O sindicato israelense exige um aumento de 25% para um “serviço diplomático à altura do Estado”. “Nossos diplomatas destacados no exterior estão orientados a não enviar mensagens diplomáticos ao ministério, nem usar trajes de diplomata nas recepções oficiais, nem dar vistos de entrada para Israel”, explicou Goder ao Jerusalem Post. Até o momento, o ministro de Finanças, Nir Reis, apenas concordou em dar uma gratificação de cerca de R$ 1,5 mil, além de um aumento de 6,5% sobre os salários, como também 15% para os que tiverem mestrado e 14,75% para quem tiver mais de seis anos no exterior.

Carta ao premiê

Na quinta-feira passada, vinte embaixadores israelenses pediram a intervenção de Netanyahu para acabar com a greve e “salvar o serviço exterior de Israel”. Os diplomatas veteranos recordaram ao premiê que ele já serviu como embaixador israelense na ONU e como diplomata em Washington e sabe que o serviço exterior é parte da segurança nacional. “Assim como o Estado precisa dos seus melhores homens em altas posições no sistema de defesa, precisa deles no campo diplomático também, que está se tornando mais importante e relevante para a força nacional todos os dias”, disseram os embaixadores em carta aberta direcionada a Netanyahu. Os diplomatas veteranos reclamam que o ministro de Finanças ignora os “salários humilhantes” e destacam que a crise pode levar a sérios prejuízos da posição de Israel no mundo.

A greve já impediu que o país recebesse duas visitas de Estado consideradas importantíssimas para o país: a do presidente russo, Dimitri Medvedev, a da chanceler alemã, Angela Merkel. “Desde 27 de dezembro não preparamos nenhuma visita oficial, quer se trate de personalidades israelenses que vão ao exterior ou de convidados por Israel”, concluiu Goder. Uma importante autoridade do gabinete politico militar de Israel recebeu um convite para vir ao Brasil em fevereiro, mas se a paralisação continuar, corre o risco de ser cancelada.

Um comentário:

Mário Machado disse...

Não conhecia essa faceta de companheiro Paulo Roberto de Almeida, pensando bem a barba nunca me enganou. Just Kidding.

Abs,