O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador direitos humanos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador direitos humanos. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Pensar bem... - um editorial do Estadao

O único comentário relevante deste editorial do Estadão é sobre a capacidade de se expressar bem, a partir de um cérebro mais ou menos organizado, pois os demais comentários sobre Cuba e os direitos humanos são du déjà vu, aliás ...



Editorial O Estado de São Paulo, 2/02/2012

São improcedentes as críticas à presidente Dilma Rousseff por sua recusa em abordar as violações dos direitos humanos sob a ditadura que vigora em Cuba há meio século. Mas ela merece ser criticada - duramente - pelo palavrório com que tentou justificar em Havana o seu silêncio em face da política repressiva do regime dos irmãos Castro.

Dilma foi a Cuba, na sua primeira visita de Estado à ilha, para promover os interesses econômicos brasileiros. Por intermédio do BNDES, o País banca 70% do mais ambicioso empreendimento privado ali em curso - a transformação do Porto de Mariel em um dos maiores da América Latina, ao custo aproximado de US$ 1 bilhão. A obra é tocada pela construtora brasileira Odebrecht. O Brasil, apenas o quarto parceiro comercial de Cuba, só tem a ganhar com a ampliação da sua presença econômica na ilha, a exemplo do que fizeram, sobretudo no setor de turismo, a Espanha e o Canadá. Ganhará tanto mais - e esse deve ser o raciocínio estratégico de Brasília - se e quando se normalizarem as relações entre Havana e Washington. Trata-se de estar desde logo ali onde a concorrência virá com tudo.
Nesse quadro, não se deveria esperar que a presidente usasse a mesma mão com que assinou, metaforicamente, os cheques do novo espaço que o empresariado brasileiro ambiciona ocupar em Cuba para investir de dedo em riste contra os seus anfitriões. Nos últimos dois anos, o ditador Raúl Castro iniciou um programa de abertura econômica que, embora tropeçando na pachanga local, pretende ser uma versão caribenha do modelo chinês: economia de mercado com mordaça política. A propósito, desde que a China se abriu, a nenhum chefe de governo brasileiro ocorreu condenar as suas políticas liberticidas - e a nenhum comentarista ocorreu condená-lo por isso.
É também descabida a evocação da visita ao Brasil, sob a ditadura militar, do então presidente americano Jimmy Carter - que não só fez chegar ao homólogo Ernesto Geisel seu protesto pelo que se passava nos porões do regime, como ainda recebeu um dos maiores defensores dos direitos humanos no País, o cardeal dom Paulo Evaristo Arns. É verdade que militantes como Dilma Rousseff, que sentiram literalmente na carne o que era se opor aos generais, devem ter se regozijado com a iniciativa de Carter. Logo, ela deveria imitá-lo em Havana. Lembre-se, no entanto, que o que trouxe Carter ao Brasil foi o contencioso desencadeado pelo acordo nuclear do País com a Alemanha, tido em Washington como o atalho aberto pelos militares para chegar à bomba atômica. Sem falar nas pressões das entidades americanas de direitos humanos pela condenação ao Brasil - o que inexiste aqui em relação a Cuba.
Critique-se Dilma não pelo que calou, mas pelo que falou. Exprimir-se, como se sabe, é uma peleja para a presidente - talvez por isso seja tão avara com as palavras em público. (Há quem diga que quem não fala bem não pensa bem, mas esse, quem sabe, é outro assunto.) Perguntada pelos jornalistas que a acompanhavam sobre direitos humanos em Cuba, Dilma desandou. Poderia ter respondido protocolarmente que, dada a sua condição de chefe de Estado visitante, não poderia se manifestar sobre questões internas do país anfitrião, como seria inadmissível que um hóspede oficial do governo brasileiro fizesse algo do gênero em relação ao País - e ponto final. Em vez disso, saiu-se com um bestialógico sobre o “telhado de vidro” sob o qual estaria o mundo inteiro, democracias e ditaduras, nessa matéria.
Ainda na linha da “primeira pedra”, disparou incongruentemente um torpedo contra os Estados Unidos, pela “base aqui que se chama Guantánamo”. À parte a trôpega retórica, ao se referir à instalação americana em Cuba, onde 171 acusados de terrorismo mofam sem direito a julgamento, a incontinência verbal levou Dilma a virar contra si a “arma de combate político-ideológico” que, segundo ela - neste caso com razão - não deve predominar no debate sobre direitos humanos seja onde for. Resta ver, na hipótese de lhe perguntarem sobre Guantánamo na visita que um dia fizer aos Estados Unidos, em retribuição à do presidente Obama, se ela falará dos presos políticos cubanos.

Brasil e Cuba: direitos humanos na berlinda


Direitos Humanos

Para dissidentes, nada muda com visita de Dilma a Cuba 

Oposição criticou diplomacia brasileira por não intervir em direitos humanos

Maritza Pelegrino, viúva do dissidente Wilman Villar, durante coletiva em Havana
Maritza Pelegrino, viúva do dissidente Wilman Villar, durante coletiva em Havana ( EFE/Alejandro Ernesto)
Em uma entrevista coletiva realizada nesta segunda-feira, em Havana, dissidentes cubanos afirmaram que não esperam "nada de relevante" em relação à situação dos direitos humanos na ilha com a visita da presidente Dilma Rousseff, que desembarcou em Cuba na noite desta segunda.
O ativista Elizardo Sánchez, da Comissão de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional (CCDHRN), afirmou que a política externa do governo brasileiro é marcada por uma interpretação anacrônica do princípio de não intervenção. "A diplomacia brasileira tem uma disciplina pendente em relação à atualização de seu enfoque do princípio de não intervenção, válido do ponto de vista político e do direito internacional, mas não para os direitos fundamentais".
O ex-preso político José Daniel Ferrer, líder do grupo dissidente União Patriótica de Cuba, também expressou suas preocupações: "Há outros interesses, outras questões envolvidas e acho que isso (a questão dos direitos humanos) ficará para trás, assim como fez o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando morreu (Orlando) Zapata", disse Ferrer em referência ao ativista político morto após fazer uma greve de fome de 83 dias, pouco antes da visita de Lula à ilha em 2010.
"Acho que no (âmbito) pessoal, Dilma pode estar preocupada com o que acontece em Cuba em matéria de direitos humanos. Mas não espero que ela trate o caso de Wilman Villar abertamente", declarou Ferrer sobre a morte de outro ativista, ocorrida em 19 de janeiro, também após fazer uma greve de fome –  o governo cubano, porém, negou o jejum e se recusou a classificar Villar como dissidente.
Caso Villar – Durante a entrevista coletiva dos dissidentes, Maritza Pelegrino, a viúva de Wilman Villar, voltou a rejeitar a versão oficial sobre o caso de seu marido. O governo considerava Villar como um "recluso comum", condenado por causa de um episódio de violência doméstica.
A viúva nega a agressão de seu marido, como sustenta a versão oficial, em uma disputa matrimonial que tiveram em julho de 2011 e que acabou com a prisão de Villar. Porém, o preso acabou sendo libertado três dias depois. Em setembro, ele se uniu à organização dissidente União Patriótica de Cuba, mas Maritza afirma que seu marido já era contra o governo cubano por conta da morte de seu pai em uma prisão, cinco anos atrás. 
Em um ato de protesto com a participação de outros dissidentes em novembro passado, na cidade de Contramestre, onde morava, Villar foi detido, julgado e condenado a quatro anos de prisão por "desacato, atentado e resistência". Ferrer indicou que Villar, que não sofria de doença alguma antes de ser preso, esteve em uma cela em condições insalubres, o que pode ter provocado a pneumonia diagnosticada como causa da sua morte.
Segundo a esposa do dissidente, Villar não recebeu atendimento médico adequado e que só foi transferido para um hospital quando sua saúde já estava muito deteriorada. "Estão mentindo. Querem matar também sua imagem", disse Maritza em relação aos argumentos oferecidos pelo governo cubano. 
Atualizado às 21h27
(Com agência EFE)

Brazil and Cuba - The Wall Street Journal


Brazil's President Flexes Clout in Cuba Trip

Rousseff Offers Closer Economic Ties, Reflecting Nation's Bid for Greater Regional Leadership; Human Rights Remain Issue

The Wall Street Journal, February 2, 2012
SÃO PAULO, Brazil—President Dilma Rousseff offered closer economic cooperation to Cuba during a visit to the communist island on Tuesday, marking Brazil's highest-profile bid to transform its growing economic might into diplomatic leadership in Latin America.
Brazil's state development bank is financing a $680 million rehabilitation of Cuba's port at Mariel. Work on the port is being managed by the Brazilian construction firm Odebrecht SA, which may also provide support for Cuba's sugar industry, Brazilian officials have said.
CUBA
Press Pool
Cuban President Raúl Castro, left, and his Brazilian counterpart, Dilma Rousseff, review the honor guard at Revolution Palace in Havana on Tuesday.
Ms. Rousseff's closer engagement of Cuba—she is visiting the island before a trip to the White House— is the latest example of Brazil's strategy to expand its regional influence by offering subsidized loans to poorer nations. In recent years, Brazil has disbursed tens of billions of dollars around Latin America, and as far away as Africa.
But none of these efforts have the same symbolic resonance as in Cuba, which has opposed the U.S. since shortly after Fidel Castro's 1959 revolution and remains a lightning rod in U.S. domestic politics and a sticking point for U.S. relations with other Latin nations.
"This is about growing Brazil's soft power on the international scale and raising Brazil's role in the world," said Matthew Taylor, a Brazil specialist at the American University's School of International Service. "Brazil is taking on a bigger role in the hemisphere in terms of aid and finance, and by helping out Cuba they really draw attention to this new role they are playing."
Although the U.S. has been the predominant power broker in Latin America since the introduction of the Monroe Doctrine in 1823, experts say the U.S. doesn't oppose Brazil's bid for regional influence. Many analysts say they believe Brazil could become a stabilizing force in a region known for political and economic volatility.
In Cuba, for example, Brazil may provide a more moderate alternative to the impoverished island's main economic benefactor, Venezuelan President Hugo Chávez. Mr. Chávez, a self-described foe of the U.S., delivers some 100,000 barrels of oil and refined products to Cuba a day in exchange for the services of Cuban doctors for Venezuelans in poor neighborhoods, along with other barter arrangements.
Cuba, meanwhile, is desperate for economic lifelines. Raúl Castro, who has taken over the presidency from his ailing brother Fidel, has experimented with limited economic overhauls in order to bring life into a moribund economy, where citizens are still issued ration books that allow them access to some basic foods at subsidized prices.
"The more normal Cuba's economic relations are, the easier normalization with the U.S. will be in the future," said Archibald Ritter, an expert on the Cuban economy at Canada's Carleton University.
"I would imagine that the U.S. would privately hope that Brazil will play a mediating role in issues that concern us, like human rights," said Cynthia Arnson, the director of the Latin American program at Washington's Woodrow Wilson International Center for Scholars.
Still, during Tuesday's visit, Ms. Rousseff criticized the existence of the U.S. base at Guantanamo Bay, where terror suspects are held, and the U.S. trade embargo, which she said contributes to poverty on the island.
And it is unclear how far Ms. Rousseff might go to nudge Cuba toward a more democratic society. She declined requests for meetings by Cuban dissidents, and has said she won't press the Castro brothers on the island's human-rights record.
"Human rights aren't a stone to be thrown from one side to another," she said in Havana on Tuesday. This week, Brazilian Foreign Minister Antonio Patriota said human rights aren't an "emergency" issue in Cuba. Last month, Cuban political prisoner Wilmar Villar died in jail after a 50-day hunger strike. Activists said he was protesting being jailed for taking part in a political demonstration. The Cuban government has said Mr. Villar was a common prisoner and wasn't on a hunger strike when he died of complications from pneumonia.
As a young woman, Ms. Rousseff participated in a Marxist guerrilla group in Brazil that was inspired by the Cuban revolution. But the fact that she was jailed and tortured by Brazil's military dictatorship had raised hopes that she might be more sympathetic to the plight of political prisoners than her predecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, who over the years disparaged Cuban hunger strikers.
Observers said the case of Yoani Sánchez, a Cuban blogger who criticizes the Castro regime, may offer clues to changes in Brazilian human-rights policy. Brazil granted Ms. Sánchez a visa, and observers said if Cuba allows her to visit, then Ms. Rousseff may be using engagement to yield some human-rights advances.
In a blog post on Tuesday, Ms. Sánchez said she hoped Ms. Rousseff would meet with human-rights activists in Cuba and in so doing keep faith with "the many voices of democracy rather than opt for a complicit silence before a dictatorship."
For generations, Brazilian leaders have yearned for prominence in foreign affairs commensurate with its population of 190 million and sprawling geography. The country has lobbied, unsuccessfully, for decades for a seat on the United Nations Security Council.
Such aspirations were the butt of jokes during generations of economic and political turmoil. That started to change a nearly a decade ago, when Brazil began an economic expansion that lifted millions out of poverty and transformed the resource-rich nation into what some economists estimate is the world's sixth-largest economy—a notch ahead of the U.K.
Write to John Lyons at john.lyons@wsj.com

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Para nao dizer que nao falei de dores... (sim, as dores da entrevista...)

Por exemplo, ter de suportar perguntas chatas de jornalistas, questionando sobre direitos humanos em Cuba, êta coisa chata sô...
Se eles apenas falassem de negócios, comércio, tudo seria mais fácil, mas eles logo vêm com essas coisas incômodas.
Será que eles não percebem que isso constrange nossos anfitriões?
Enfim, vamos lá: 

Entrevista coletiva concedida pela Presidenta da República, Dilma Rousseff, após visita ao Memorial José Martí


Havana-Cuba, 31 de janeiro de 2012

Jornalista: Bom dia, Presidente. Bom dia.
Presidenta: Vamos fazer assim: um quebra-queixo, pode ser levinho? Então, um quebra-queixo levinho.

Jornalista: Presidente.
Presidenta: Calma, três perguntas, quebra-queixo levinho, não é? Levinho.

Jornalista: Levinho. Então, vamos começar falando dos Direitos Humanos.
Presidenta: Nós vamos começar a falar de Direitos Humanos em todo o mundo?

Jornalista: Vamos, vamos.
Presidenta: De todo o mundo?

Jornalista: Não, não, é só para a gente...
Presidenta: Pois é. Nós começaremos a falar de Direitos Humanos no Brasil...

Jornalista: Como o Brasil (incompreensível) essa abertura econômica?
Presidenta: No Brasil. Nós vamos começar a falar de Direitos Humanos nos Estados Unidos, a respeito de uma base, aqui, chamada Guantánamo. Vamos falar de Direitos Humanos em todos os lugares.
Então, eu prefiro falar de outra coisa, eu prefiro falar de uma coisa que é muito importante, que é o fato de que o mundo precisa se comprometer em geral. E não é possível fazer da política de Direitos Humanos só uma arma de combate político-ideológico. O mundo precisa se convencer de que é algo que todos os países do mundo tem de se responsabilizar, inclusive o nosso. Quem atira a primeira pedra tem telhado de vidro. Nós, no Brasil, temos os nossos.
Então, eu concordo em falar de Direitos Humanos dentro de uma perspectiva multilateral. Acho que esse é um compromisso de todos os povos civilizados. Há, necessariamente, muitos aspectos a serem considerados.
Agora, de fato, é algo que nós temos de melhorar no mundo, de uma maneira geral. Nós não podemos achar que Direitos Humanos é uma pedra que você joga só de um lado para o outro. Ela serve para nós também. Bom...

Jornalista: (incompreensível)
Jornalista: A senhora vai interceder a favor da blogueira Yoani Sanchéz (incompreensível) do Brasil?
Presidenta: Olha, eu dei, o Brasil deu seu visto para a blogueira. Agora, os demais passos não são da competência do governo brasileiro.

Jornalista: Presidenta (incompreensível)
Presidenta: Calma, calma, calma. Como o Brasil pode ajudar Cuba? Vamos discutir como o Brasil pode ajudar Cuba. A grande ajuda que o Brasil vai dar a Cuba é contribuir para que esse processo, que é um processo que eu não considero que leve a grande coisa, leva mais à pobreza e a problemas sério para as populações que sofrem a questão do bloqueio, a questão do embargo, a questão do impedimento do comércio. Eu sou a favor e o Brasil é a favor e, por isso, eu acho que é um compromisso de todos nós, brasileiros, que somos um povo pacífico. Eu acredito que a grande contribuição que nós podemos dar, aqui em Cuba, é ajudar a desenvolver todo o processo econômico.
Primeiro, o Brasil, hoje, participa, aqui em Cuba, de várias iniciativas que eu considero importantes: a primeira, que é uma política de alimentos. É impossível se considerar que é correto o bloqueio de alimentos para um povo. Então, nós participamos aqui, financiando, através de um crédito rotativo, US$ 400 milhões de compra de alimentos no Brasil. Financiamos, também, através... aprovamos esse financiamento através do Programa Mais Alimentos, que aí é de equipamentos, máquinas, pequenos tratores, colheitadeiras para estimular aqui a própria produção de alimentos, aqui em Cuba, através de 200 milhões de crédito, sendo que 70 milhões a Camex aprovou recentemente.
E acho que também uma grande contribuição na construção do Porto de Mariel, que não é só um porto. O Porto de Mariel, ele é, de fato, um sistema logístico de exportação de bens produzidos aqui em Cuba, no valor de... o Porto de Mariel, no total, tem um pouco mais de US$ 900 milhões, dos quais nós contribuímos com algo como 640 e poucos milhões de dólares também. Por que nós achamos importante participar do Porto de Mariel? Porque nós achamos que é fundamental que se crie, aqui, condições de sustentabilidade para o desenvolvimento do povo cubano.
E nós participamos, não só construindo o Porto, mas também trazendo para cá uma cooperação que eu considero estratégica para o Brasil e para Cuba. É o tipo da cooperação em que todo mundo ganha. Quem ganha? Ganha o Brasil, por fazer uma cooperação com um país e um povo e toda uma estrutura institucional que é visivelmente competente, capaz na área de biotecnologia, na área das ciências médicas e com uma grande competência para todas as questões ligadas à biotecnologia. Então, o Brasil ganha com isso. Ganha Cuba também porque é uma parceria em que o Brasil entra também com os seus conhecimentos nessa área, suas empresas privadas, que também implicam em uma capacidade tecnológica do nosso país, e nós queremos uma parceria estratégica e duradoura. Nós estamos fazendo aqui uma parceria com essas... através desses projetos, que eu acredito que vai levar, para o Brasil e para Cuba, um processo de desenvolvimento.
Então, acredito que é isso o que nós estamos fazendo isso aqui no Brasil... em Cuba... que o Brasil está fazendo aqui em Cuba. 

Jornalista: Presidenta...
Presidenta: É essa a contribuição.

Jornalista: A senhora começou o ano indo ao Fórum Social e agora vem a Cuba. São gestos políticos mais à esquerda. Por que a senhora fez isso aqui?
Presidenta: Olha, eu acho o seguinte. Eu acho interessante a forma como a mídia analisa meus atos. Posso te dizer uma coisa? Eu fico estarrecida com esse tipo de pergunta, estarrecida, porque significa que no ano passado eu fui à União Europeia, recebi os Estados Unidos, depois onde mais que eu fui? Bom, eu andei para danar. Fui ao G-20, fui para a Argentina, e como é que a gente interpretaria o ano passado? O Brasil faz política internacional com todos os países. Nós somos um povo absolutamente pacífico, acreditamos no diálogo e achamos que é fundamental também dialogar com os movimentos sociais. Não acredito, nem para nós, internamente, que as práticas violentas de tratamento dos movimentos sociais se justificam. Nem tampouco nós acreditamos que a guerra, e o conflito, e o confronto levem a grandes resultados. Nós temos uma política, claramente, de conversa com todo o mundo sem nenhum preconceito, de nenhuma ordem. Agora, somos contra a violência, e isso tem sido a característica, e eu acho que não é só do meu governo, não é só do governo do presidente Lula. Acho que é uma certa característica do Brasil ter 140 anos – e nós temos que ter orgulho disso – de paz com todos os nossos vizinhos no mundo, com conflitos regionais sistemáticos. Então, eu tenho imenso orgulho, primeiro, de estar aqui em Cuba; segundo, de ter ido ao Fórum Social Mundial; terceiro, de ter ido ao G-20, no ano passado, de ter conversado com o Presidente dos Estados Unidos, com o presidente Hu Jintao, com o presidente Medvedev, com o presidente [primeiro-ministro] Singh, ter ido na África do Sul e conversado com todos os líderes. É minha obrigação, como Presidente, estabelecer uma posição do Brasil que, além de manifestar o crescente poder econômico que o Brasil tem tido e reconhecido internacionalmente, também mostra essa disposição do Brasil de diálogo, de parcerias construtivas e de parcerias pacíficas.
Aqui em Cuba, nós queremos uma grande parceria com o governo cubano e o povo cubano, no sentido de auxiliar todos os processos de desenvolvimento e de garantia de uma condição de desenvolvimento e de vida melhor. Esta é uma região na qual nós estamos presentes, não é? Nós atuamos na América Latina toda, no Caribe e na América Central. É a nossa região aqui e, inclusive, nós temos mais obrigação do que nas outras regiões. É aqui e na África, eu acho, que o Brasil tem obrigação de ter uma política descente de cooperação econômica. Não uma política que só olhe o seu interesse, mas seja capaz de construir, com o seu interesse, o interesse do outro povo. Eu acho que essa é a novidade da nossa presença internacional.

Jornalista: (incompreensível) la Celac? La Celac, Presidenta?
Presidenta: La Celac, la Celac. A Celac foi uma reunião... Aliás, muito bem lembrado. Uma outra reunião, assim, interessante, foi a da Celac, foi toda essa América que é a partir do México até a Patagônia argentina, estavam todos os presidentes, primeiros-ministros ou altos representantes nessa reunião, que eu acho que foi no final do ano. Muitas vezes, a imprensa não deu, assim, tanta importância, mas para mim foi uma das mais importantes feitas aqui na região, naquele período.

Jornalista: Presidente, como é que fica a situação do ministro Negromonte agora?
Presidenta: Olha, as questões relativas ao Brasil - eu já disse isso para vocês anteriormente – vocês são insistentes, eu sei.

Jornalista: Ai da gente se não perguntar, não é?
Presidenta:... insistentes, inteligentes e rápidos, rápidos. Então, as questões relativas ao Brasil nós discutimos no Brasil, a partir de quinta-feira.

Jornalista: (incompreensível) aumentar o investimento e a (incompreensível)
Jornalista: A senhora vai encontrar com o Fidel Castro?
Presidenta: Sim, com muito orgulho, eu vou.

Jornalista: (incompreensível)
Jornalista: Obrigada.
 Ouça a íntegra da entrevista (11min26s) da Presidenta Dilma

Guantanamera... Yo soy un hombre sincero...

De donde cresce la palma...
Homens sinceros, e corajosos, só tem uma palavra, e nunca se dobram à conveniência e à acomodação com quem ocupa (temporariamente, se espera) o poder.
Quem o ocupa, pode ordenar muita coisa e, claro, espera contar com a obediência dos passivos.
Mas não pode contar, pelo menos não em todos os casos, com que os homens de Guantanamo -- os da canção e mesmo os atuais ocupantes -- pensem exatamente como pensa o poder. Isso nenhum poder superior consegue assegurar, mesmo sob ameaça de fuzilamento, ainda que virtual.
Homens sinceros conservam autonomia de pensamento, mesmo em condições adversas.
Nunca se deve esperar hipocrisia de quem não depende de favores ou de concessões.
Acho que fui claro...
Paulo Roberto de Almeida

Reinaldo Azevedo, 1/02/2012
Revejam esta foto:

Aquele que aparece com ar quase infantil amarrando a venda do condenado à morte é Raúl Castro. Pelo menos 17 mil pessoas foram assassinadas assim na ilha. Estima-se em 83 mil as que morreram afogadas tentando fugir do país! Adiante.
Em janeiro do ano passado, o presidente da China, Hu Jintao, visitou os EUA. Ele e Barack Obama concederam uma entrevista coletiva conjunta. O americano afirmou com todas as letras:
“A história mostra que as sociedades são mais harmônicas, as nações são mais bem-sucedidas, e o mundo é mais justo quando os direitos e as responsabilidades de todos os países e todos os povos são cumpridos, incluindo os direitos de cada ser humano. Os EUA vêem os direitos humanos como um valor universal, até mesmo para a China”.
Não parou aí. Defendeu o diálogo do governo daquele país com o Dalai Lama, líder religioso do Tibete. Obrigou Jintao a sair do silêncio: “A China fez um enorme progresso na área de direitos humanos. Reconhecemos e respeitamos a universalidade dos direitos humanos. Ainda há muito o que fazer em matéria de direitos humanos. Mas devemos ter em conta as diferenças e o princípio da não intervenção”.
No Estadão de hoje, Maria Aparecida de Aquino, petista que é professora de história da USP, fala como membro de partido, não como acadêmica — que é o que fazem todos os professores universitários brasileiros ligados à legenda, o que evidencia má destinação do dinheiro público: comportam-se como esbirros da organização, como meros “apparatchiki”. Segundo a preclara, se Dilma cobrasse respeito aos direitos humanos, “estaria ferindo todas as normas diplomáticas”. Como se vê pelo exemplo que abre o texto, esta senhora não sabe o que diz e põe a sua reputação acadêmica a serviço da causa. Trata-se de uma fala vergonhosa. Essa gente tem coragem de encarar os alunos no dia seguinte?
Pergunto a Maria Aparecida — e, se ela tiver uma boa resposta, publico: Jimmy Carter “feriu todas as normas diplomáticas” quando defendeu os direitos humanos em sua visita ao Brasil em 1978? Fez mal? Não que as duas ditaduras se igualassem, é claro! Numa contagem bastante alargada, já informei aqui, morreram 424 pessoas durante o regime militar brasileiro; a tirania cubana responde pela morte de 100 mil. E ainda não parou de matar. No Chile, a ditadura de Pinochet (que serve como o ”Judas de direita” a Maria Aparecida e a seus amiguinhos de esquerda) matou três mil pessoas. Mesmo a carnificina argentina, com escandalosas 30 mil vítimas, perde feio dos irmãos Castro, os tarados por cadáveres.
Estou fazendo campeonato de mortes ou livrando a cara das ditaduras latino-americanas? Eu não! Que vão todas elas para a lata do lixo. Eu tenho compromisso é com a vida. São bem poucas as pessoas que se atrevem a defender esses regimes. Se o fazem, tendem a ser severamente combatidas como partidárias da violência e da truculência. E é justo. O que me pergunto é por que temos de considerar respeitáveis algumas vozes que se alinham com os porcos  da esquerda. Não gostamos de assassinos porque assassinos ou porque “de direita”? Se forem “companheiros”,  tudo bem? É por isso que essa escória matou 25 milhões na antiga URSS, 70 milhões na China, 3 milhões no Camboja, para citar os casos mais escandalosos. Dêem-me uma boa razão para um comunista ser considerado uma pessoa mais decente do que um nazista — nem do discurso anti-semita essa escória escapou.

Guantánamo
A fala de Dilma que foi divulgada pelo jornalismo online não fazia jus à delinqüência da política externa por ela vocalizada, que segue sendo a de Celso Amorim — só mudou o gerente da padaria, mas o serviço continua péssimo. Vamos ver.
“Nós vamos falar de direitos humanos em todo o mundo? Vamos ter de falar de direitos humanos no Brasil, nos EUA, a respeito de uma base aqui que se chama Guantánamo”.

Pouco treinado que anda o jornalismo em análise de discurso, poucos se deram conta de que Dilma se nega a cobrar de Cuba respeito aos direitos humanos, mas se acha no direito de cobrar dos EUA, ainda que em solo cubano. Uma coerência  mínima, então, deveria levá-la a silenciar também sobre Guantánamo, certo? Mas este é um governo que segue, nesse particular, o brilhante raciocínio do sambista Chico Buarque: fala grosso com os EUA e fino com ditaduras. O que Dilma sugere? Aquele anão homicida que governa Cuba, Raúl Castro, pode, então, fazer o que bem entender enquanto existir Guantánamo e enquanto perdurar o embargo — que já não embarga, de fato, coisa nenhuma? Essa é só uma das fantasias da esquerdopatia sobre Cuba. Então que se registre: a Dilma que não se mete na realidade de outros países acha-se, no entanto, em condições de questionar os EUA.

Não que as questões se igualem, é bom deixar claro. Os leitores antigos sabem — e os mais recentes podem procurar em arquivo — que escrevi aqui dezenas de vezes que Barack Obama não iria desativar a prisão de Guantánamo porque se criou, de fato, um nó jurídico e tanto, decorrente de uma situação inédita. Os presos que lá estão eram mercenários ou militantes religiosos oriundos de diversos países que foram “defender” o regime do Taliban, no Afeganistão. Há muitos casos, pesquisem, de prisioneiros que deixaram a base e voltaram para os campos de treinamento terroristas. É o que vai acontecer com uma boa parcela se forem devolvidos a seus respectivos países. Se levados a julgamento em solo americano, há uma boa possibilidade de que sejam soltos.
Então Guantánamo é uma maravilha e deve continuar lá indefinidamente? As repostas são “não” e “não”, mas Dilma incorre em estupidez semelhante a seu antecessor ao evocar Guantánamo. Em visita a Cuba em fevereiro de 2010, questionado sobre Orlando Zapata, prisioneiro que morrera no dia de sua chegada à ilha em decorrência de uma greve de fome, o Apedeuta afirmou: “Imaginem se todos os bandidos presos em São Paulo fossem fazer greve de fome”… Lula, que já havia comparado a oposição iraniana a uma torcida que perde o jogo, não via diferença ente oponentes do regime e marginais. Agora chegou a vez de Dilma fazer uma escolha entre os cidadãos comuns de Cuba, que anseiam por liberdade, e cento e poucos presos que restaram em Guantánamo, que lá não estão porque gostem de brincar de amarelinha… A exemplo do Babalorixá, Dilma tripudia sobre um cadáver ainda fresco. O opositor Wilmar Villar Mendoza morreu, também de greve de fome, no dia 19 de janeiro.
Encerrando
É evidente que o Brasil não pode impor a sua pauta a países com os quais mantém relações. Não é isso o que se está a cobrar do Itamaraty ou de Dilma Rousseff. Nem mesmo se esperava que a presidente censurasse Cuba. O que se está a pedir é bem menos do que isso: só uma defesa enfática, clara, insofismável e sem ressalvas dos direitos humanos, como Carter fez ao regime militar brasileiro em 1978 e como Obama fez à China no ano passado.

Mas isso não vai acontecer. O coração dos companheiros ainda dispara de emoção quando vê um inimigo de olhos vendados, pronto para ser executado. É o que teriam feito a milhões no Brasil se tivessem vencido a batalha e implementado o regime dos sonhos, ainda vigente em Cuba. Dilma, afinal, não consegue ir contra esta outra ilha de sua antiga utopia.
Como seu discurso dá a entender, se pudesse escolher, A Soberana soltaria todos os presos de Guantánamo e manteria prisioneiro o povo de Cuba, com Raúl a lhes vendar os olhos e a atar os braços. Em nome do sonho!
=================

Reinaldo Azevedo
As declarações de Dilma sobre os direitos humanos, feitas em Cuba, chegam a ser mais vergonhosas do que as do Apedeuta, seu antecessor. Ele, com a grossura teórica peculiar, decidiu ignorar a questão e pronto! Ela ameaçou criar uma espécie de teoria, segundo a qual todos os países, em certa medida, Brasil inclusive, têm telhado de vidro. Sim, sempre há transgressões — a situação dos presos comuns no Brasil, por exemplo, é detestável.
Mas há uma diferença considerável entre países que têm instituições em defesa das liberdades públicas e das liberdades individuais, como o Brasil — e que devem fazer um esforço cotidiano para que sejam respeitadas —, e aqueles que têm na tirania e na violência o seu modo ótimo de fazer política. Num caso, a justiça é um norte a ser perseguido; no outro, tem-se a morte da esperança.
Por que Dilma e os seus não reconhecem essa distinção? Porque têm a ditadura entranhada na alma, ora essa! Ela é presidente de um país democrático, mas pertence a uma corrente de pensamento que, a despeito de algumas dissensões internas (irrelevantes), atua cotidianamente para eliminar o adversário, para apagar o passado, para reescrever a história.
O que estou afirmando é que o norte moral da presidente, no fim das contas, continua a ser aquele vigente em Cuba, onde uma elite de iluminados decide os destinos da sociedade — condenando-a, como se sabe, ao atraso. O Brasil teve a sorte de manter essa gente longe do poder por um bom tempo. O Brasil teve o bom senso de recusar em 1989, 1994 e 1998 os métodos que o PT propunha. Quando chegou ao poder, em 2003, já estava mais domesticado, e as instituições democráticas já haviam avançado o suficiente para dificultar a tarefa de construção do partido único.
Não obstante, no 10º ano do poder petista, vemos a) as oposições com as pernas quebradas — também em razão de sua ruindade, já que não entenderam até agora como funciona o petismo; b) boa parte da imprensa ou rendida ou experimentando uma espécie de esquizofrenia, que exalta as qualidades interventoras de Dilma em seu próprio governo; c) um rebaixamento contínuo e sistemático do padrão ético na vida pública; d) o uso descarado na máquina do estado para difamar personalidades e políticos considerados incômodos; e) uso do dinheiro público para financiar as diversas formas de subjornalismo a soldo, cuja tarefa é difamar os, vejam vocês!, “inimigos do regime”; f) uso de juros subsidiados para transformar o empresariado em clientela do governo — os cordatos ganharão o leite de pata…
Trata-se do mesmo espírito ditatorial, só que exercido por outros meios — os meios possíveis num sistema ainda democrático, mas exibindo cada vez mais a musculatura de um regime ditatorial.
O que Dilma fez em Cuba? Resolveu generalizar a transgressão aos direitos humanos — seria um problema universal — para, na prática, poder endossar as práticas vigentes em Cuba. Alinhou-se com a ditadura e cuspiu em cada um dos presos políticos da ilha, que sofrem lá, de modo comprovado, as mesmas agruras que ela diz ter sofrido quando presa no Brasil. Membro então de uma organização terrorista, a detenção fez dela uma heroína; simples opositores pacíficos do governo, os que estão presos em Cuba ou são “bandidos”, como comparou o Babalorixá de Banânia, ou merecem ser evocados ao lado dos terroristas da Al Qaeda.
Querem saber? É puro lixo moral!



terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Poncius Pilatus no Caribe: assim é, se lhe parece...


Dilma visita Cuba e evita se pronunciar sobre direitos humanos
Lisandra Paraguassu
Estadão Online, 31/01/2012

Em visita oficial a Cuba, a presidente Dilma Rousseff evitou polemizar sobre o tema “direitos humanos”. “Quem atira a primeira pedra tem telhado de vidro”, disse a presidente. Para ela não é possível fazer da política de direitos humanos apenas uma arma de combate político ideológico.
“O mundo precisa se convencer de que é algo que todos os países do mundo têm de se responsabilizar, inclusive o nosso”, ponderou. Dilma disse que concorda discutir o tema, dentro de uma perspectiva multilateral. “De fato, é algo que temos de melhorar no mundo de uma maneira geral. Não podemos achar que direitos humanos é uma pedra que você joga só de um lado para o outro. Ela serve para nós também”, afirmou.
Com relação ao visto de turista concedido pelo governo brasileiro à blogueira cubana Yoani Sánchez, que faz oposição ao regime castrista, Dilma disse que os próximos passos não são da competência do governo brasileiro.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Direitos humanos no Iran: direitos? humanos?: execucoes secretas...


A despeito de alguns problemas de tradução (como, por exemplo, "estandartes" em lugar de padrões), o texto abaixo revela uma realidade humanitária simplesmente terrível no Irã, atualmente.
Pode ser que a pena de morte ilegal também esteja sendo aplicada por outras razões do que combate às drogas...
---------------------------
Paulo R. de Almeida

Begin forwarded message:
From: Irã Direitos Humanos <infobr@iranhumanrights.org>
Subject: Execuções Secretas: Evidências Contrariam a Narrativa do Judiciário
Date: 9 de janeiro de 2012 13:50:19 BRST
To: pralmeida@xxx.xxx


Execuções Secretas: Evidências Contrariam a Narrativa do Judiciário
Detalhes sobre os procedimentos da pena de morte confirmam a necessidade de moratória
101 identidades de presos executados coletivamente na prisão de Vakilabad são reveladas

(09 de Janeiro de 2012) A Campanha Internacional para os Direitos Humanos no Irã (International Campaign for Human Rights in Iran – ICHRI, sigla em inglês) publicou na última quinta-feira, 05 de janeiro, a primeira lista pública de 101 vítimas de execuções coletivas secretas na prisão de Vakilabad. A Campanha instou o Parlamento e o Judiciário iraniano a adotarem imediatamente a moratória das execuções e a agirem com celeridade para abolir a pena de morte.
“Infelizmente, muitas dessas execuções ocorrem a portas fechadas, sem o envolvimento de advogados ou conhecimento da família das vítimas e sem a possibilidade de um julgamento justo”, disse Shirin Ebadi, prêmio Nobel da Paz.
Ebadi adicionou que a prática abusiva da pena de morte no Irã não tem contribuído no combate ao crime, dizendo:
“O Judiciário e o governo iraniano sabem que a pena de morte não é uma solução adequada para combater o crime, especialmente aqueles relacionados a drogas. A pergunta fundamental é: por que o governo iraniano usa este tipo de punição com tanto entusiasmo? A questão é que essas execuções apenas geram medo e intimidação e servem somente para um propósito político. Todas as estatísticas mostram que enquanto o número de execuções cresceu o número de crimes relacionados a drogas não diminuiu em nenhum aspecto”.
Em 21 de dezembro de 2011, o Aiatolá Sadegh Amoli Larijani, chefe do Judiciário, disse “eu nego categoricamente qualquer execução coletiva secreta (...) Todas as execuções são anunciadas ao meu gabinete (…) se alguém tiver informações sobre execuções realizadas em qualquer lugar que tenham sido secretas, sem o conhecimento das famílias, avisem-nos e nós iremos investigá-las”.
A lista publicada pela Campanha revela nomes de 101 indivíduos que foram executados sem divulgação oficial, entre 09 de junho de 2010 e 20 de dezembro de 2010, na prisão de Vakilabad. Esta lista, que é acompanhada do relatório “Enforcamentos Secretos no Irã: Execuções Coletivas Secretas na Prisão de Vakilabad na Cidade deMashhad” (Iran's Secret Hangings: Mass Unannounced Executions in Mashhad's Vakilabad Prison, nome original em inglês) pela primeira vez torna pública as identidades dos presos que foram executados secretamente na prisão de Vakilabad.
Ativistas locais obtiveram essas informações arriscando sua própria segurança com o objetivo de dar mais crédito a relatos anteriores.
“Essas estatísticas, em minha opinião, e na opinião de outros que contribuíram para o relatório, são o patamar básico para a análise”, disse Asieh Amini, renomada ativista de direitos humanos do Irã que contribuiu para a publicação.
“Em minha opinião, a questão das execuções não é um assunto simplesmente para um indivíduo, uma cidade, ou uma comunidade. Tampouco é simplesmente uma questão para as vítimas e suas famílias. Para nós, as execuções são um assunto com abrangência nacional e precisam ser resolvidas de modo amplo (...) Enquanto as principais notícias sobre direitos humanos forem sobre as execuções injustas, secretas e coletivas no Irã, é responsabilidade de todos os iranianos questionar o judiciário, ‘por que?’ e tentar acabar com essa vergonha nacional”, adicionou Asieh Amini.   
O Irã é maior executor per capita do mundo, atrás apenas da China em números absolutos. Em 2011, o Irã executou mais de 600 pessoas, ao menos 161 das quais secretamente.
A Campanha documentou mais de 471 execuções secretas na cidade de Mashhad e em outras cidades desde janeiro de 2010. Os números reais são provavelmente muito maiores. A Campanha recebeu essas informações de fontes locais e de ativistas que têm acesso a dados governamentais.
As execuções são consideradas secretas quando não são anunciadas publicamente pelas autoridades e a família e advogado da vítima não têm conhecimento prévio de que a sentença será levada a cabo.
De acordo com ativistas locais, os presos executados secretamente em Vakilabad não tinham conhecimento de que suas execuções estavam agendadas e só tomaram conhecimento destas pouco antes da realização. As autoridades carcerárias informaram os indivíduos apenas algumas horas antes de suas execuções que eles tinham que escrever os seus testamentos e fazer um ritual de purificação para se preparar para a sentença de morte.
As autoridades carcerárias enforcaram os presos em um corredor a céu aberto que dá para a sala de visitas da prisão. Sob o manto do sigilo, os telefones dentro da prisão de Vakilabad foram desconectados algumas horas antes das execuções, impedindo telefonemas de dentro e de fora da prisão.
A eficiência burocrática desses enforcamentos é exemplificada pelo fato do instituto médico legal haver emitido as declarações de óbito um dia antes das execuções. As declarações de óbito apontavam a “execução legal” (ghatl-e ghanooni, em persa) como causa das mortes.
As execuções foram presenciadas por representantes de diversas agências governamentais incluindo do escritório do Promotor da cidade de Mashhad, polícia local e distrital, Judiciário local, instituto médico legal, bem como pelo diretor da prisão e pelo chefe de inteligência de Vakilabad.
Acredita-se que maioria dessas execuções foram levadas a cabo sem respeitar as salvaguardas internacionais e estandartes de julgamentos justos.
Fontes da cidade de Mashhad descreveram como diversas dessas sentenças são o resultado de julgamentos apressados e injustos, marcados por processos judiciais também injustos e imprecisos.  Em 18 de agosto de 2010, o sobrinho de um preso executado disse à Campanha: “Passaram-se apenas dois meses entre a prisão e a execução do meu tio, sendo que ele não teve direito a um julgamento justo (...) a verdade ou imprecisão de sua defesa nunca foi ao menos investigada”.
Alguns dos presos executados em Vakilabad não eram iranianos, mas cidadãos do Afeganistão, Gana e Nigéria, e aparentemente não tiveram acesso a seus representantes diplomáticos. Acredita-se que maioria das pessoas executadas era economicamente desfavorecida.
Ademais, a grande maioria das execuções secretas ocorreu devido a crimes relacionados às drogas, para os quais a pena capital não é aplicável segundo o direito internacional.
Quando pressionados, funcionários do governo iraniano admitiram publicamente que algumas dessas execuções secretas ocorreram. De acordo com o relatório sobre direitos humanos no Irã, do Secretário-Geral da ONU publicado em março de 2011, o governo iraniano confirmou a execução coletiva de 60 pessoas na cidade de Mashhad.
O aumento abusivo das execuções secretas criou preocupação e condenação internacional e foi citado como violação de direitos no relatório parcial do Relator Especial da ONU para a situação de direitos humanos no Irã, publicado em outubro de 2011.
O artigo 6, inciso 2, do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos (ICCPR, sigla em inglês), ratificado pelo Irã em 1975, estabelece que “nos países em que a pena de morte não tenha sido abolida, esta poderá ser imposta apenas nos casos de crimes mais graves”.
O Comitê de Direitos Humanos da ONU, a principal autoridade internacional sobre o ICCPR e o Relator Especial para Execuções Extrajudiciais, Sumárias ou Arbitrárias mostraram de maneira clara que crimes relacionados às drogas não satisfazem o estandarte de “crimes mais graves”. Portanto, o uso da pena de morte feito pelo Irã para esses crimes viola as obrigações internacionais assumidas pelo governo.
O artigo 14 do ICCPR garante que todos os suspeitos têm direito a um julgamento justo. Ademais, as Salvaguardas da ONU para a Proteção dos Direitos daqueles que Sentenciados à Morte(UN Safeguards Guaranteeing Protection of the Rights of those Facing the Death Penalty, original em inglêsenuncia de maneira clara que “a pena capital só pode ser levada a cabo depois de um processo legal com todas as salvaguardas para garantir um julgamento justo” e que os condenados devem ter várias possibilidades de apelação.
Ao redor do mundo, 96 países, incluindo o Brasil, Turquia e Ruanda, aboliram formalmente a pena de morte, e outros 34 países, tais como Quênia, Marrocos e Rússia, acabaram com seu uso na prática.
“O Irã mostrou falta de capacidade para fazer uso da pena de morte de forma legal e responsável”, disse Hadi Ghaemi, porta-voz da Campanha. “Com a multiplicação do número de execuções marcadas por julgamentos injustos e procedimentos judicias opacos, está na hora do Irã estabelecer uma moratória a pena capital e unir-se à crescente tendência a favor da abolição”. 
Ouça em inglês aos Podcasts da Campanha: Weekly Iran Rights Podcast
Para os últimos acontecimentos sobre direitos humanos no Irã visite o site da ICHRI
Para entrevistas e mais informações:
 
Hadi Ghaemi, em Nova Iorque: +1 917-669-5996

This message was sent to pralmeida@xxx.xxx from:
International Campaign for Human Rights in Iran | Laan van Meerdervoort 70, 4e floor Nl | The Hague, NI 2517 AN, Netherlands
Email Marketing by 

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Contorcionismos diplomaticos, inclusive verbais...


Diplomacia de Dilma errou
Sérgio Malbergier
Folha de S.Paulo, 21/10/2011 -

As cenas de júbilo popular na Líbia e no planeta com a morte brutal de Muammar Gaddafi deixam claro o erro do governo brasileiro ao se opor à coalizão de EUA, França, Otan e países árabes contra o sanguinário ditador.
A base da oposição brasileira à bem-sucedida ação internacional foi uma suposta defesa da população civil da Líbia. É verdade que nunca se sabe como uma guerra termina. Mas, objetivamente, vendo como esta acabou, a ação da coalizão internacional pode até virar benchmark de intervenção multilateral com apoio da população local.
Enquanto o presidente dos EUA, Barack Obama, e líderes europeus celebram e colhem frutos da intervenção que derrubou um dos ditadores mais sanguinários e ensandecidos do mundo, a presidente Dilma, que lutou contra a ditadura brasileira, faz malabarismos retóricos para tentar sustentar a insustentável posição de não apoiar a justa causa da queda do ditador.
"O fato de ela (a Líbia) estar em um processo democrático é algo que todo mundo deve --eu não acho que comemorar é a palavra-- apoiar e incentivar. De fato o que nós queremos é que os países tenham essa capacidade de viver em paz e democracia", disse a presidenta em Angola.
Os líbios discordam, e saíram às ruas ontem felizes para comemorar a liberdade.
Os novos dirigentes líbios serão certamente muito mais simpáticos aos governos e empresas dos EUA, da França, do Reino Unido e de outros países aliados do que do Brasil. E a Líbia é um país não só rico em petróleo, mas estratégico como ponte entre a África subsaariana e o mundo árabe.
O Brasil nesta semana mesmo elaborou mais sua posição na Líbia e, pior, projetou-a como bandeira de nossa diplomacia. "Muito se fala sobre a responsabilidade de proteger; pouco se fala sobre a responsabilidade ao proteger", disse Dilma num exercício de retórica incompreensível, durante encontro de cúpula do Ibas (Brasil, Índia e África do Sul) em Pretória.
O Brasil segue insistindo que está do lado das revoltas árabes por liberdade e democracia, que a defesa da democracia e os direitos humanos norteiam a diplomacia nacional. Mas ninguém na Líbia ou na Síria, na frente dessas lutas, acredita nisso, muito menos organizações de defesa dos direitos humanos globais.
O que parece cada vez mais claro é que sob Dilma temos o prosseguimento do mofado e extemporâneo terceiro-mundismo antiamericano, herdado inercialmente do governo Lula, já que o governo da presidenta ainda não formulou políticas próprias consistentes na área externa.
A suposta bandeira dilmista da defesa dos direitos humanos e da democracia no mundo não fica em pé diante dos fatos, da posição omissa do Brasil nas revoltas árabes.
E enquanto afaga ditadores, nossa política externa está sempre pronta a alfinetar as potências ocidentais, com as quais dividimos valores democráticos, culturais e econômicos.
O chanceler Antonio Patriota, por exemplo, ao escrever artigo nesta Folha para explicar a "nova" política externa brasileira de suposta defesa dos direitos humanos aproveitou para dar uma pancada em Washington, acusando os EUA de terem minimizado a defesa dos direitos individuais na Carta da ONU por temer "questionamentos à segregação racial ainda vigente no país". Verdade ou não, um chanceler criticar um país aliado assim gratuitamente referindo-se a fatos enterrados há meio século não é nada diplomático.
Faz sentido o Brasil colocar-se como potência do Sul e aliar-se a países como Índia, África do Sul e outros emergentes emergidos para reivindicar uma nova ordem mundial, com um novo Conselho de Segurança, um novo FMI e um novo Banco Mundial menos dominados pelas antigas potências.
Mas faria mais sentido ainda se o Brasil chacoalhasse esse complexo de vira-lata e se visse também como membro do clube das democracias liberais ocidentais, com quem dividimos tanta coisa.
Nossas queixas contra a política cambial chinesa, por exemplo, que dizima indústrias brasileiras e americanas, são exatamente as mesmas queixas feitas pelos EUA, e uma aliança Brasília-Washington nesse contencioso poderia pressionar muito mais os chineses.
Enquanto isso, começa a funcionar o acordo de livre comércio Colômbia-EUA, que pode prejudicar ainda mais nossas exportações ao maior mercado do mundo já que os produtos e empresas colombianas terão vantagem diante dos brasileiros no acesso aos EUA.
Mas nossos dirigentes preferem sempre distância dos americanos, como adolescentes que buscam afirmação.
O Brasil tem tudo para ser a melhor ponte entre o hemisfério Norte e o Sul. Será um papel específico, digno de nossa excepcionalidade, já que dividimos valores e anseios com as duas metades do globo. Mas para isso será preciso abandonar posturas (e assessores) fossilizados. O que no nosso caso pode ser mais difícil que um camelo passar pelo buraco da agulha.

Sérgio Malbergier é jornalista. Foi editor dos cadernos Dinheiro (2004-2010) e Mundo (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial da Folha a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, "A Árvore" (1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve para a Folha.com às quintas.