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terça-feira, 8 de novembro de 2011

Mon Sejour en France (5) Sabendo Frances, tudo se torna mais facil

Bem, eu não tenho esse problema, pois ja sei Frances, mas não aprendi na escola, senão muito pouco. Aprendi mesmo morando na Europa, e falando...
Leiam esta deliciosa crônica de Loyola Brandão, que aprendeu um pouco de francês na escola.
Paulo Roberto de Almeida 

Sabendo francês podemos ser mais felizes

Ignácio de Loyola Brandão - O Estado de S.Paulo, 04 de novembro de 2011 | 3h 06
Não me considerem esnobe, exibido. Mascarado, como se dizia na minha infância. Não usam mais a palavra? Tão atual. O que há de gente mascarada no mundo. Vou dizer o óbvio. Para desfrutar melhor Paris, a Provence celebrada, e outros, sabendo francês, os prazeres multiplicam-se por cem, o desfrute por duzentos, a alegria por quinhentos. Mesmo que você tenha ido apenas para fazer compras, como a maioria dos brasileiros, que pedem descontos em português mesmo e em altos brados (ou em brado retumbante), vale a pena aprender francês.
O parisiense muda quando você se dirige a ele na sua língua, ainda que precariamente, como eu. Quem não gosta de uma pessoa que chega e você percebe o esforço que ela faz para se expressar em sua língua natal? Assim, vale a pena aprender francês para poder caminhar à vontade em Paris deixando-se envolver por ela, sabendo um pouco mais.
Claro, o francês não é importante apenas por isso. Mas já é um enorme handicap. Há as revistas, os milhares de livros traduzidos do mundo inteiro, o cinema, a música, até a facilidade nas compras. Só poder ler a gigantesca coleção La Pléiade (projeto de uma vida) no original é uma bênção, raras vezes igualada. Ou os fólios, delicados, sensuais? Hoje estamos aprendendo apenas o que o mercado chama de línguas úteis, como o inglês, o japonês, o mandarim. Mandarim? (Eu lá quero falar chinês?) Para vencermos na vida? Nos tornarmos empreendedores? Sermos alguém? Mas o que é ser alguém? Tudo tem de ter aplicação prática? Se é assim, acabemos com o ensino brasileiro, ele não leva a nada, do jeito que está estruturado.
Há na nossa vida algo que é preciso preencher. Uma necessidade interior de espírito, contemplação do mundo, da vida, avaliação das coisas. Encarar a existência como algo que precisa de alimento. Foram eliminando as línguas de todos os cursos, a não ser alguns muito especializados. Tive no ginásio português, inglês, francês, latim e espanhol e posso dizer que isso me ajudou. Mas vieram deletando tudo, como se diz. E o francês se foi por meio de ministros que só pensam em política. O atual quer a Prefeitura de São Paulo, imaginem. Nem administrou direito o Enem.
A primeira palavra que aprendi em francês foi: nous. Estava no primeiro ano do ginásio. Tínhamos aulas de francês desde o primeiro dia com mademoiselle Fanny, uma graça de pessoa. Perguntamos: "Por que a senhora começou com o nous, que significa nós, e não com o je, que quer dizer eu?" Ela sacudiu o dedo: "O nous somos todos, é o coletivo, a classe. O je é muito individualista." Esses eram os professores que tínhamos. Jamais dona Fanny falou em português na aula. Nos virávamos para saber o que ela queria dizer. Ela sabia conduzir a lição, de maneira que descobríamos os significados e as pronúncias às vezes sutis do francês, língua tão poética, sensível, cheia de nuances, e ao mesmo tempo incisiva. Dificuldades terríveis para diferenciar Anne (Ana) de âne (asno). A professora insistia, queria a perfeição. Nesta minha idade, penso, dia desses entrar para a Aliança Francesa a fim de aperfeiçoar minha precariedade.
Donna Fanny ainda está lá em Araraquara. Até algum tempo atrás, quando eu a encontrava na rua, ela me dizia, como sempre disse ao entrar na classe:
- Bonjour, mon enfant!
- Bonjour, madame.
- Mademoiselle, mademoiselle...
Ria, afetuosa. Aos 14 anos estávamos lendo Alexandre Dumas no original. Não era fácil, mas a gente acabava gostando, se imaginava na França. Também Victor Hugo, Lamartine, Chateaubriand, depois Balzac, Flaubert, Stendhal. Hoje chegaríamos a Le Clézio, Houellebecq, Jonathan Littell, Georges Perec. Aos 16 tivemos acesso a Jaques Prévert, que deslumbramento! A poesia entrava em nós por meio de Aragon, Paul Valéry, Verlaine, e, claro Rimbaud e Baudelaire, o maldito. Também Céline, complicado, Camus, os romances de Sartre, um pouco de Proust (eu mantinha a tradução do Quintana do lado). Toda semana, nos anos 50, havia um filme francês no cinema. Fanny insistia para que fôssemos. Não era exigir muito, sabíamos que algumas estrelas francesas como Martine Carol, Claudine Dupuis e Françoise Arnoul mostravam os peitinhos, era um avanço na nossa vida sexual. Mas havia Arlety, Edwige Feuillère, Maria Casarés, soberbas. E Gerard Philippe, jamais substituído. Hoje minhas paixões são Juliette Binoche, Irene Jacob, Marion Cotillard. Por outro lado, descobrimos os filmes de Marcel Carné, de René Clair, André Cayatte, Jean Delannoy, Robert Bresson, clássicos. Depois, digerimos toda nouvelle vague, que mudou a linguagem do cinema.
Nós, que aprendemos francês, tivemos sempre algo mais dentro de nós. De coisas pequenas e grandes. Não estou aqui para fazer lista e apenas para insistir numa coisa muito simples: sabendo francês, sempre me senti um pouco mais feliz na vida. Uma delas foi ouvir, recentemente, do garçom de um bistrô; "Monsieur, vous êtes du quartier?" (O senhor é do bairro?) Que, como Eros Grau diz em um livrinho delicioso sobre Paris, é um sinal de que você está sendo aceito. Coisa nada fácil para um estrangeiro. Que volte o francês às escolas!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Wikileaks-Brasil: muitos sorrisos amarelos no proximo encontro

Deve ter muita gente curiosa para saber, quem sabe até assistir, a cara dos citados, falando uns dos outros, em algum próximo encontro social, ou até de trabalho:
" -- Esse bandido andou falando mal de mim para os americanos...", devem dizer alguns, enquanto outros ficam quietos, aguardando as próximas revelações, pois sabem que eles também andaram falando o que não deveriam ter falado, mesmo em off...
Divertido...

WikiLeaks: para EUA, divisão interna levou a política externa brasileira desarticulada
O Globo, 06/12/2010

RIO - Em mais um documento divulgado no domingo pelo site WikiLeaks, o ex-embaixador americano no Brasil Clifford Sobel apresenta uma extensa análise sobre o papel de três figuras-chave no país, afirmando que a divisão entre eles foi responsável por uma política externa desarticulada, que "pode levar à frustração por parte de diplomatas brasileiros".

A mensagem de Sobel, datada de 11 de fevereiro de 2009, concentra-se no ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, definido como "nacionalista", no então secretário-geral da pasta, Samuel Pinheiro Guimarães, apresentado como "antiamericano", e no assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, classificado como "acadêmico esquerdista".

"Cada um entalhou seu próprio nicho de política externa: comércio, relações com países desenvolvidos, questões multilaterais, África e Oriente Médio para Amorim; questões político-militares, relações com alguns países em desenvolvimento, e trabalhos internos do Ministério de Relações Exteriores para Guimarães; e países da América do Sul e esquerdistas na América Latina e em outros lugares para Garcia. O efeito é a visão e a implementação da política externa do Brasil de alguma maneira desarticuladas, o que pode levar à frustração por parte de diplomatas brasileiros", afirma Sobel no documento .
Sobel aponta oportunidade de influenciar nova geração de diplomatas

Ao lado dos três - apresentados como principais atores da política externa brasileira -, Sobel cita também o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que comporia com eles as "quatro poderosas personalidades cujas ideologias estão moldando" as prioridades da atuação internacional do Brasil. Juntos, eles levaram o Itamaraty a "direções estranhas e às vezes diferentes", diz o ex-embaixador.

Todos os quatro são descritos como "esquerdistas". Sobel destaca, no entanto, o "pragmatismo" de Lula. Sua boa relação com líderes mundiais ajudou, na visão do ex-embaixador, a aumentar a influência do Brasil no mundo. O diplomata afirma que a política externa do presidente também abriu caminho para ampliar a cooperação do Brasil com atores globais, "inclusive os Estados Unidos".

Ainda assim, Sobel diz no mesmo documento que sua dinâmica ideológica faz do Itamaraty um parceiro frustrante, apontando a oportunidade de contornar o problema e influenciar novos diplomatas.

"Existe agora a oportunidade de ir adiante trabalhando com outras instituições brasileiras, e de moldar as visões de um grande grupo de diplomatas, mais novos, mais pragmáticos, e mais globalmente orientados, que estarão caminhando para postos mais graduados", avalia.
Preocupação com terrorismo em São Paulo, cabos de comunicação e minas

Outros documentos divulgados pelo WikiLeaks revelam também mais preocupações dos americanos com o Brasil. Em pelo menos duas mensagens publicadas no site no domingo, diplomatas americanos afirmam que São Paulo é o principal foco do combate ao terrorismo no país , deixando a Tríplice Fronteira em segundo plano. Os documentos indicam a presença de suspeitos ligação com extremistas do Hezbollah no Sudeste brasileiro.

O Brasil também é citado em documentos vazados pelo WikiLeaks que listam locais "vitais" para a segurança nacional dos EUA . O Departamento de Estado americano pediu em 2009 a todas as missões diplomáticas no exterior informações sobre instalações diversas. Entre as brasileiras estão cabos de comunicação submarinos com conexões em Fortaleza e no Rio de Janeiro e minas de minério de ferro, manganês e nióbio em Minas Gerais e em Goiás.

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