O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Mapa de Marini de 1511: informacao de Sergio Correa da Costa, 1940

Ainda sobre este famoso mapa, depositado na mapoteca do Itamaraty,

e do qual existe uma reprodução em suporte de tapeçaria no gabinete do Ministro de Estado, agrego uma informação produzida em 1940 pelo secretário Sérgio Corrêa da Costa ao então Secretário-Geral do Itamaraty, Mauricio Nabuco, tal como constante dos arquivos de SCC, depositados na Academia Brasileira de Letras, cuja cópia foi feita pelo historiador Rogério de Souza Farias, a quem agradeço a gentileza de me haver repassado.
Fiz reproduções não muito legíveis do material, mas creio que ainda assim podem servir.
Paulo Roberto de Almeida





terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Orbis Universalis, 1512 - Hieronimi Mari

Um mapa famoso, reproduzido em formato de tapeçaria no gabinete do ministro de Estado das Relacões Exteriores: 



Este é o primeiro mapa conhecido em que o nome Brasil aparece para designar a América Lusitana. O norte está em cima.
Confeccionado em pergaminho iluminado, em 1511, em Veneza, pelo cartógrafo Jerônimo Marini. O original está no Ministério das Relações Exteriores. Foi adquirido, em 1912, pelo, então, ministro Lauro Müller (1863-1929), em um leilão da Libreria Antiquaria Pio Luzzietti, situada na Piazza Crociferi, em Roma, uma tradicional biblioteca italiana que fazia leilões de antiguidades desde o final do século 19.
O título do planisfério, em latim, é Orbis Typus Universalis Tabula. Sua autoria é identificada ao lado do título, como Hieronimi Mari fecit Venetia MDXI. Não se conhece outras informações sobre esse cartógrafo. Esse mapa era praticamente desconhecido antes do leilão. Seu nome, Jerônimo Marini, é deduzido da forma latinizada, publicada pelo autor, como Hieronimi Mari.
A América do Norte é a Nova Índia, pois até poucos anos antes, sua grande dimensão era desconhecida. Jerusalém está no centro do mundo. Note que o autor ainda acreditava que o Brasil era parte da costa oriental da Ásia. Para ele a América ainda não existia, nem o Oceano Pacífico. Por volta dessa época, a Austrália estava começando a ser conhecida com sua real localização no Globo e grandes dimensões. Alguns cartógrafos chegaram a confundir o Brasil com a Austrália.
Este mapa é mais uma prova de que o entendimento de que existia um Novo Mundo, entre a Ásia e a Europa, demorou a ser assimilado por muitos acadêmicos. Ambos, Colombo e Cabral, acreditaram terem aportado em uma das ilhas que apareciam próximas da costa oriental da Ásia, nos mapas da época.
 Outro texto sobre o mesmo mapa: 


Orbis Universalis, 1512
O mapa-múndi do veneziano Jerônimo Marini, de 1512, é a primeira carta onde aparece o nome Brasil para designar as terras até então conhecidas como de Vera Cruz, Santa Cruz, dos papagaios ou "del brazille". Desenhado em pergaminho, é um dos poucos mapas manuscritos do início do século XVI hoje existentes. Está de cabeça para baixo, pois, por influência dos costumes árabes, ele é orientado pelo sul. A Palestina, onde há um presépio, é colocada no centro da Terra, conforme a tradição medieval. O mapa apresenta os defeitos da época, como a representação errada da Inglaterra. Por outro lado, é inovador quanto à colocação mais exata da Escandinávia e da península de Malaca. A obra de Marini, cujo original está na Libreria Antiquari Pio Luzzeti, em Roma, é de grande importância na história geral da cartografia, pois documenta uma concepção veneziana do mundo que estava sendo descoberto. O Equador, embora passando ao sul de Gibraltar, corta o Mediterrâneo, ainda considerado, como na Idade Média, o eixo das terras habitadas. É também característica veneziana a presença maciça das regiões asiáticas, pólo de atração da época. Da América, vê-se apenas a costa oriental, com destaque para o Brasil. Em torno do mapa estão alegorias representando o Sol, a Lua, as estrelas e os ventos. Nos extremos oriental e ocidental, duas esfinges simbolizam os mistérios do mundo, que só mais tarde Fernão de Magalhães decifraria.
Reprodução do fac-símile outrora guardado na mapoteca do Ministério das relações Exteriores, situada no Rio de Janeiro, hoje no gabinete do Ministro das Relações Exteriores, em Brasília.

sábado, 9 de agosto de 2014

Cartografia historica: mapas antigo digitalizados

Para quem, como eu, adora mapas, história, geografia, viagens, livros, cultura, etc.
Paulo Roberto de Almeida 




Viagem no tempo on-line e de graça
Mapas não são apenas registros geográficos. Com o passar dos anos, tornam-se importantes artefatos históricos, memórias feitas de papel e tinta de certas configurações locais, regionais e mundiais que nunca mais serão as mesmas. Por isso, todo projeto que disponibiliza acervos de mapas na rede para acesso público contribui para resgatar parte da história de nosso mundo. 
Um exemplo recente foi dado pela Biblioteca Pública de Nova York, que disponibilizou na internet para download e sob uma licença Creative Commons sua coleção de mais de 20 mil mapas, todos em alta resolução. As cartas podem ser acessadas na plataforma Map Warper. A coleção conta com registros elaborados do século 16 às primeiras décadas do século 20 que retratam a Europa, a América do Sul e os Estados Unidos, além, é claro, de uma grande coleção de mapas da própria ‘grande maçã’.
A plataforma digital também conta com recursos muito interessantes: permite combinar parte de seu acervo com coordenadas geográficas reais, recriando os registros antigos como espaços virtuais, que podem ser percorridos e complementados com informações adicionais, como fotos históricas – tudo isso de forma colaborativa. Vale conferir! 
Abaixo selecionamos alguns exemplos de mapas disponibilizados on-line pela iniciativa: 
Viagem no tempo on-line e de graça
Mapas não são apenas registros geográficos. Com o passar dos anos, tornam-se importantes artefatos históricos, memórias feitas de papel e tinta de certas configurações locais, regionais e mundiais que nunca mais serão as mesmas. Por isso, todo projeto que disponibiliza acervos de mapas na rede para acesso público contribui para resgatar parte da história de nosso mundo. 
Um exemplo recente foi dado pela Biblioteca Pública de Nova York, que disponibilizou na internet para download e sob uma licença Creative Commons sua coleção de mais de 20 mil mapas, todos em alta resolução. As cartas podem ser acessadas na plataforma Map Warper. A coleção conta com registros elaborados do século 16 às primeiras décadas do século 20 que retratam a Europa, a América do Sul e os Estados Unidos, além, é claro, de uma grande coleção de mapas da própria ‘grande maçã’.
A plataforma digital também conta com recursos muito interessantes: permite combinar parte de seu acervo com coordenadas geográficas reais, recriando os registros antigos como espaços virtuais, que podem ser percorridos e complementados com informações adicionais, como fotos históricas  tudo isso de forma colaborativa. Vale conferir! 
Abaixo selecionamos alguns exemplos de mapas disponibilizados on-line pela iniciativa: 

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

O Brasil num ovo de avestruz,... de 1500 (The Portolan)

Descoberto em ovos de avestruz o mais antigo globo com mapa do Brasil
Zero Hora, 23/08/2013

Mapa foi desenhado nas metades inferiores de dois ovos e data do início da década de 1500

A descoberta do globo mais antigo com uma representação gráfica do "Novo Mundo" foi anunciada nesta segunda-feira em Washington, capital dos Estados Unidos, pela revista científica de cartografia The Portolan. O mapa foi desenhado nas metades inferiores de dois ovos de avestruz e data do início da década de 1500, ano em que Pedro Álvares Cabral encontrou o Brasil. Segundo a pesquisa, o objeto inclui a representação mais antiga em globo de países como o Brasil e o Japão.

O nome do nosso país, aliás, está entre os poucos (apenas sete) inscritos no hemisfério ocidental: a América do Sul é apresentada como "Mundus Novus", "Terra de Brazil" e "Terra Sanctae Crucis". A América do Norte aparece como um conjunto de ilhas, que não são nominadas.

O mapa inclui navios de diversos tipos, monstros, choques de ondas, um náufrago, 71 nomes de lugares e a frase "HIC SVNT DRACONES" ("Aqui estão os Dragões").

 Até aqui, se pensava que a representação esférica mais antiga a mostrar o Novo Mundo era o Globo de Lenox, que se encontra na Biblioteca Pública de Nova York, mas foram apresentadas evidências de que o mapa gravado nos ovos de avestruz foi usado como referência para a confecção do Globo de Lenox.

Segundo os pesquisadores, o globo recém-descoberto reflete o conhecimento reunido por Cristóvão Colombo e outros exploradores europeus daquela época, incluindo Américo Vespúcio, cujo nome serviu de batismo para o novo continente. A pesquisa, que se desenrolou por mais de um ano, indica que o globo foi confeccionado em Florença, na Itália, e sugere que o artista responsável foi influenciado ou trabalhou na oficina de Leonardo da Vinci.

- Quando soube deste globo, inicialmente fiquei cético em relação a sua data, origem, geografia e proveniência, mas tive que descobrir por mim mesmo, já que ninguém havia ouvido falar dele, e descobertas desse tipo são extremamente raras - disse o autor do estudo, o belga Stefaan Missinne.

O globo foi comprado de um negociador em 2012 na Feira de Mapas de Londres. O dono atual disponibilizou o objeto para a pesquisa, que incluiu testes como tomografia, datação por carbono e análise da tinta usada para colorir a superfície. Mais de 100 estudiosos e experts do mundo todo foram consultados e citados no artigo de Missinne, que agradeceu à Biblioteca Pública de Nova York pelo apoio recebido.


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Earliest Globe, America

(Click HERE for press updates)
MAJOR DISCOVERY:
OLDEST KNOWN GLOBE TO DEPICT THE NEW WORLD;
POSSIBLE LINKS TO WORKSHOP OF LEONARDO DA VINCI;
ANNOUNCEMENT MADE IN THE PORTOLAN--JOURNAL OF THE WASHINGTON MAP SOCIETY

(WASHINGTON, DC. August 19, 2013] The discovery of the oldest surviving engraved globe to show the New World was announced today in Washington in The Portolan, a prestigious journal of cartography published by the Washington Map Society, in its Fall 2013 issue (#87). Copies have been posted to all active members of the Society and to all institutions who are active subscribers to the journal.  [Members who have not yet received their copies should allow for occasional USPS delivery delays.]  Copies of Issue 87, with this article and more, may be ordered via http://www.washmapsociety.org/Purchase-of-Back-Issues.htm
The previously-unknown globe, which is about the size of a grapefruit, was made from the lower halves of two ostrich eggs, and dates from the very early 1500s.   Until now, it was thought that the oldest globe to show the New World was the “Lenox Globe” at the New York Public Library, but the author presents evidence that this Renaissance ostrich egg globe was actually used to cast the copper Lenox globe, putting its date c. 1504. The globe reflects the knowledge gleaned by Christopher Columbus and other very early European explorers including Amerigo Vespucci after whom America was named.     The author points to Florence Italy as where the globe was made, and offers evidence that the engraver was influenced by or worked in the workshop of Leonardo da Vinci. 


Tom Sander, Editor of The Portolan, who has personally inspected the globe, noted that   “This is a major discovery, and we are pleased to be the vehicle for its announcement.  We undertook a very extensive peer review process to vet the article, which itself was based on more than a year of scientific and documentary research.”
The author, S. Missinne, PhD. is an independent Belgian research scholar who has published on the subject of ancient globes made from different materials such as ivory.  He said, “When I heard of this globe, I was initially skeptical about its date, origin, geography and provenance, but I had to find out for myself.  After all no one had known of it, and discoveries of this type are extremely rare.  I was excited to look into it further, and the more I did so, and the more research that we did, the clearer it became that we had a major find.”  The globe was purchased in 2012 at the London Map Fair from a dealer who said it had been in an “important European collection” for many decades. The current owner made it available to the author for his research, which included scientific testing of the globe itself, computer tomography testing, and carbon dating, assessment of the ink used to color its engraved surface, and close geographical, cartographic, and historical analysis. More than 100 leading scholars and experts were consulted worldwide and are cited in the article’s acknowledgements, and gratitude was expressed to the New York Public Library for its helpful assistance.
The globe contains ships of different types, monsters, intertwining waves, a shipwrecked sailor, and  71 place names, and one sentence , “HIC SVNT DRACONES” (Here are the Dragons).  Only 7 of the names are in the Western Hemisphere.  No names are shown for North America, which is represented as a group of scattered islands; three names are shown in South America   (Mundus Novus or “New World”, Terra de Brazil, and Terra Sanctae Crucis, or”Land of the Holy Cross”).  For many countries and territories in the world, (e.g. Japan, Brazil, Arabia) this is the oldest known engraved depiction on a globe. A full list of place names on the globe is included in the article, along with several illustrations.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Cartografia política - Simon Garfield (WSJ)

The End of the Map

Apple Maps stands at the end of a long line of cartographic catastrophes. Say goodbye to the Mountains of Kong and New South Greenland—the enchanting era of geographic gaffes is coming to a close.

[image] David Rumsey Map Collection
The Mountains of Kong, shown in Africa on an 1839 American atlas, were 'discovered' by English cartographer James Rennell in 1798. Rennell based his map showing the fictional range on an erroneous account from a Scottish explorer. It persisted on maps for almost a century—until it was discovered not to exist.
Author Simon Garfield discusses his new book, "On the Map: A Mind-Expanding Exploration of the Way the World Looks," with WSJ Weekend Review editor Gary Rosen.
It's not often that maps make headlines, but they've been doing so with some regularity lately. Last week, tens of millions of iPhone users found that they could suddenly leave their homes again without getting either lost or cross. This was because Google GOOG -0.93% finally released an app containing its own (fairly brilliant) mapping system. Google Maps had been sorely missed for several months, ever since Apple AAPL -0.46% booted it in favor of the company's own inadequate alternative—a cartographic dud blamed for everything from deleting Shakespeare's birthplace to stranding Australian travelers in a desolate national park 43 miles away from their actual destination. As one Twitter wag declared: "I wouldn't trade my Apple Maps for all the tea in Cuba."

Photos: Lost in Our Maps

Trustees of the British Museum
Among cartographic misfirings, the disaster of Apple Maps is rather minor compared to the history of map mistakes.
There was one potential bright spot, though: Among the many mistakes found in Apple Maps was a rather elegant solution to the continuing dispute between Japan and China over the Senkaku islands. Japan controls them; China claims them. Apple Maps, when released, simply duplicated the islands, with two sets shown side-by-side—one for Japan, one for China. Win-win. (At least until the software update.) Call it diplomacy by digital dunderheadedness.
As some may recall, it was not so long ago that we got around by using maps that folded. Occasionally, if we wanted a truly global picture of our place in the world, we would pull shoulder-dislocating atlases from shelves. The world was bigger back then. Experience and cheaper travel have rendered it small, but nothing has shrunk the world more than digital mapping.
[image] Photo Illustration by Stephen Webster; Sebastiano del Piombo/Art Resource (painting)
There is something valuable about getting lost occasionally, even in our pixilated, endlessly interconnected world.
In medieval Christian Europe, Jerusalem was the center of the world, the ultimate end of a religious pilgrimage. If we lived in China, that focal point was Youzhou. Later, in the days of European empire, it might be Britain or France. Today, by contrast, each of us now stands as an individual at the center of our own map worlds. On our computers and phones, we plot a route not from A to B but from ourselves ("Allow current location") to anywhere of our choosing. Technology has enabled us to forget all about way-finding and geography. This is some change, and some loss.
Maps have always related and realigned our history; increasingly, we're ceding control of that history to the cold precision of the computer. With this comes great responsibility. Leading mapmakers used to be scattered around the world, all lending their distinctive talents and interpretations. These days by far the most influential are concentrated in one place—Mountain View, Calif., home of the Googleplex.
There is something disappointing about the austere potential perfection of the new maps. The satellites above us have seen all there is to see of the world; technically, they have mapped it all. But satellites know nothing of the beauty of hand-drawn maps, with their Spanish galleons and sea monsters, and they cannot comprehend wanderlust and the desire for discovery. Today we can locate the smallest hamlet in sub-Saharan Africa or the Yukon, but can we claim that we know them any better? Do the irregular and unpredictable fancies of the older maps more accurately reflect the strangeness of the world?
The uncertainty that was once an unavoidable part or our relationship with maps has been replaced by a false sense of Wi-Fi-enabled omnipotence. Digital maps are the enemies of wonder. They suppress our urge to experiment and (usually) steer us from error—but what could be more irrepressibly human than those very things?
Among cartographic misfirings, the disaster of Apple Maps is rather minor, and may even have resulted in some happy accidents—in the same way that Christopher Columbus discovered America when he was aiming for somewhere more eastern and exotic. The history of cartography is nothing if not a catalog of hit-and-miss, a combination of good fortune and misdirection.
image
The map here, from explorer Ernest Shackleton's account of his 1914-17 journey to the Antarctic, notes the purported location of 'New South Greenland' (highlighted). Described in 1823 by Capt. Benjamin Morrell, the island could not be located.
The story starts at the Great Library of Alexandria around 330 B.C., the place where the study of geography really began. Its first scholars constructed an important proto-map of the world, based largely on the writings of the Greek historian Herodotus. His nine-volume "Researches" had been completed a century and a half earlier, but his description of the rise and fall of the Persian Empire and the Greco-Persian wars remained the most detailed source of information on the shape of the known world.
These early scholars got a lot right—and inevitably a fair bit wrong. The map they constructed depicted the world as round, or at least roundish, which by the fourth century B.C. was commonly accepted (dismissing the Homeric view that if you sailed long enough you would eventually run out of sea and fall off the end).
Eratosthenes of Cyrene (in modern-day Libya) was one of the first scholars to marshal the new geographical knowledge into the art of cartography, making fullest use of the Library of Alexandria's scrolls, the accounts of those who had swept through Europe and Persia in the previous century, and the pertaining views of the leading contemporary historians and astronomers.
His world map was drawn in about 194 B.C., and the shape of the Victorian-era reconstruction of it (the original vanished long ago) resembles nothing so much as a dinosaur skull. There are three recognizable continents—Europe to the northeast, Africa (described as Libya and Arabia) beneath it and Asia occupying the eastern half of the map. The huge northern section of Asia is called Scythia, an area we would now regard as encompassing Eastern Europe, the Ukraine and southern Russia.
The map is sparse but sophisticated, and noteworthy for its early use of parallels and meridians in a grid system (with, bizarre as it seems to us now, the island of Rhodes—then a major trading post—at the center of everything). The inhabited world (something the Romans would later call "the civilized world") was believed to occupy about one-third of the northern hemisphere and was wholly contained within it.
The northernmost point, represented by the island of Thule (which may have been Shetland or Iceland), was the last outpost before the world became unbearably cold; the most southerly tip, labeled enticingly as Cinnamon Country (corresponding to Ethiopia/Somaliland) was the point beyond which the heat would burn your flesh. There are no poles, and the three continents appear purposely huddled together, as if the huge encroaching oceans and the vast areas of the unknown world are joining forces against them. There is no New World, of course, no China, and only a small section of Russia.
In the second century, the work of Eratosthenes would be one of the templates used to produce what is traditionally regarded as the bridge between the ancient and the modern world: Claudius Ptolemy's "Geographia." This contained a vast list of names of cities and other locations, each with a coordinate, and if the maps in a modern-day atlas were described rather than drawn, they would look something like Ptolemy's work, a laborious and exhausting undertaking based on a simple grid system. He provided detailed descriptions for the construction of not just a world map but 26 smaller areas.
As one would expect, Ptolemy still held a skewed vision of the world, with distortions of Africa and India, and the Mediterranean much too wide. But his projection of the shape of the world is still something we would recognize today, and the placement of cities and countries within the Greco-Roman empire is highly accurate. He gives due credit to another key source, Marinus of Tyre, whose map was the first to include both China and the Antarctic.
But Ptolemy was prone to the biggest and most contagious cartographic vice: Lacking precise information, he just made things up. Like nature itself, mapmakers have always abhorred a vacuum. White space on a map reveals ignorance, and for some this has always been too much to bear.
Ptolemy could not resist filling blanks on his maps with theoretical conceptions, something that plagues exploration to this day. The Indian Ocean was displayed as a large sea surrounded by land, while many of his measurements of longitude (something that was very hard to measure accurately until John Harrison's timepiece won a famous competition in the 18th century) were way off beam. The biggest miscalculation of all, the longitudinal position of the Far East, would eventually suggest to Columbus that Japan could be reached by sailing West from Europe.
But Ptolemy was at least attempting to map on scientific principles. Not so the wonderful mappae mundi, a collection of large conceptions of the world that filled our imaginations from the 11th century to the Renaissance. These maps, which primarily adorned the world's churches and other places of power and learning, succeeded in returning mapping to the dark ages, getting much wrong and gleefully so. Their goal was not navigation and accurate knowledge but rather religious instruction. The maps contained places we seldom see on modern charts these days—Paradise, for instance, and fiery Hell—and the sort of bestiary and mythical imagery one might expect to find in Tolkien's Middle-earth. We can marvel at the mythical bison-like Bonacon, for example, spreading his acidic bodily waste over Turkey, and the Sciapod, a people whose enormously swollen feet were said to make fine sun-shields.
The Renaissance and the golden age of exploration brought forth a stricter regime and hot-off-the-deck maps from Portuguese and Spanish explorers. Cumulatively, these resulted in the famous projection map of Gerardus Mercator in 1569, a plan of the world that still forms the basis of schoolroom teaching and Google Maps. The projection provided a solution to a puzzle that had troubled mapmakers since the world was recognized as a sphere: How does one represent the curved surface of the globe on a flat chart? Mercator's solution remains a boon to sailors to this day, even as it massively distorts the relative sizes of land masses such as Africa and Greenland.
The catalog of cartographic inaccuracies goes on. Those living in California may be curious to know that for more than two centuries their homeland was not attached to the West Coast mainland but was thought to be an island, drifting free in the Pacific. This wasn't a radical act of political will, nor a single mistake (a slip of an engraver's hand, perhaps), but a sustained act of misjudgment.
Stranger still, the error continued to appear on maps long after navigators had tried to sail entirely around it and—with what must have been a sense of utter bafflement—failed. Between its first appearance on a Spanish map in 1622 and its fond farewell in a Japanese publication of 1865, California appeared insular on at least 249 separate maps. Whom should we blame for this misjudgment? Step forward one Antonio de la Acensión, a Carmelite friar who noted the "island" in his journal after a sailing trip in 1602-03.
But my favorite cartographic error is the Mountains of Kong, a range that supposedly stretched like a belt from the west coast of Africa through half the continent. It featured on world maps and atlases for almost the entire 19th century. The mountains were first sketched in 1798 by the highly regarded English cartographer James Rennell, a man already famous for mapping large parts of India.
The problem was, he had relied on erroneous reports from harried explorers and his own imagined distant sightings. The Mountains of Kong didn't actually exist, but like an unreliable Wikipedia entry that appears in a million college essays, the range was reproduced on maps by cartographers who should have known better. It was almost a century before an enterprising Frenchman actually traveled to the site in 1889 and found that there were hardly even any hills there. As late as 1890, the Mountains of Kong still featured in a Rand McNally map of Africa.
And then there was the case of Benjamin Morrell, who had drifted around the southern hemisphere between 1822 and 1831 in search of treasure, seals, wealth and fame. Having found little of the first three, he apparently thought it amusing to invent a few islands en route. The published accounts of his travels were so popular that his findings—including Morrell Island (near Hawaii) and New South Greenland (near Antarctica)—were entered on naval charts and world atlases. In 1875, a British naval captain named Sir Frederick Evans finally began crossing some of these phantoms out, removing no fewer than 123 fake islands from the British Admiralty Charts. It wasn't until Ernest Shackleton's 1914-17 Endurance expedition, however, that the matter of New South Greenland was put to rest. Shackleton found that the spot was in fact deep sea, with soundings up to 1,900 fathoms. Morrell Island came off maps not long after that.
But perhaps we shouldn't be too hard on the early mapmakers, these pioneers of error. I would argue that Morrell and his misguided fellow adventurers made the world a more exciting and romantic place in which to live. Haven't we lost something important as mapmaking has become a science of logarithms and apps and precisely calibrated directions?
Though those who gratefully downloaded Google Maps on their smartphones last week might disagree, there is something valuable about getting lost occasionally, even in our pixilated, endlessly interconnected world. Children of the current generation will be poorer for it if they never get to linger over a vast paper map and then try in vain to fold it back into its original shape. They will miss discovering that the world on a map is nothing if not an invitation to dream.

—Mr. Garfield is the author of "On the Map: A Mind-Expanding Exploration of the Way the World Looks," to be published by Gotham next week.
A version of this article appeared December 22, 2012, on page C1 in the U.S. edition of The Wall Street Journal, with the headline: The Endof Map.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Idiotas por mapas: confesso que sou um...

Sempre uma boa companhia...

De: AMIGOS DO PATRIMÔNIO CULTURAL
Data: 26 de junho de 2011 19:44
Assunto: [LIIB - Icomos/Brasil] A mina dos mapas - material cartográfico revela imaginário colonial português.

A mina dos mapas
Material cartográfico revela imaginário colonial português
Márcio Ferrari
Edição Impressa 183 - Maio de 2011

© Divulgação
Visão do Brasil que revela a exploração
Um precioso material cartográfico vem ganhando visibilidade irrestrita graças ao trabalho do grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) responsável pela construção da Biblioteca Digital de Cartografia Histórica. O acesso on-line é livre. [NOTA PRA: Não, não é!] Fruto de um conceito desenvolvido pelo Laboratório de Estudos de Cartografia Histórica (Lech), o site não só oferece a apreciação de um acervo de mapas raros impressos entre os séculos XVI e XIX, mas também torna possível uma série de referências cruzadas, comparações e chaves interpretativas com a pluralidade e a rapidez da internet. Afinal, “um mapa sozinho não faz verão”, como diz uma das coordenadoras do projeto, Iris Kantor, professora do Departamento de História da USP. O conjunto revela muito mais do que informações geográficas. Permite também perceber a elaboração de um imaginário ao longo do tempo, revelado por visões do Brasil concebidas fora do país. O trabalho se inseriu num grande projeto temático, denominado Dimensões do Império português e coordenado pela professora Laura de Mello e Souza, que teve apoio da Fapesp.

Até agora o acervo teve duas fontes principais. A primeira foi o conjunto de anotações realizadas ao longo de 60 anos pelo almirante Max Justo Lopes, um dos principais especialistas em cartografia do Brasil. A segunda foi a coleção particular do Banco Santos, recolhida à guarda do Estado durante o processo de intervenção no patrimônio do banqueiro Edemar Cid Ferreira, em 2005. Uma decisão judicial transferiu a custódia dos mapas ao Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP – iniciativa louvável, uma vez que esse acervo, segundo Iris Kantor, “estava guardado em condições muito precárias num galpão, sem nenhuma preocupação de acondicionamento adequado”. Foram recolhidos cerca de 300 mapas. Sabe-se que o número total da coleção original era muito maior, mas ignora-se onde se encontram os demais.

O primeiro passo foi recuperar e restaurar os itens recolhidos. Eles chegaram à USP “totalmente nus”, sendo necessário todo o trabalho de identificação, datação, atribuição de autoria etc. Durante os anos de 2007 e 2008, o Laboratório de Reprodução Digital do IEB pesquisou, adquiriu e utilizou a tecnologia adequada para reproduzir em alta resolução o acervo de mapas. Foram necessárias várias tentativas até se atingir a precisão de traços e cores desejada. Em seguida, o Centro de Informática do campus da USP em São Carlos (Cisc/USP) desenvolveu um software específico, tornando possível construir uma base de dados capaz de interagir com o catálogo geral da biblioteca da USP (Dedalus), assim como colher e transferir dados de outras bases disponíveis na internet. Uma das fontes inspiradoras dos pesquisadores foi o site do colecionador e artista gráfico inglês David Rumsey, que abriga 17 mil mapas. Outra foi a pioneira Biblioteca Virtual da Cartografia Histórica, da Biblioteca Nacional, que reúne 22 mil documentos digitalizados. Futuramente, o acervo cartográfico da USP deverá integrar a Biblioteca Digital de Cartografia Histórica. Foi dada prioridade aos mapas do Banco Santos porque eles não pertencem à universidade, podendo a qualquer momento ser requisitados judicialmente para quitar dívidas.

Hoje estão disponíveis na Biblioteca Digital “informações cartobibliográficas, biográficas, dados de natureza técnica e editorial, assim como verbetes explicativos que procuram contextualizar o processo de produção, circulação e apropriação das imagens cartográficas”. “Não existe mapa ingênuo”, diz Iris Kantor, indicando a necessidade dessa reunião de informações para o entendimento do que está oculto sob a superfície dos contornos geográficos e da toponímia. “O pressuposto do historiador é que todos os mapas mentem; a manipulação é um dado importante a qualquer peça cartográfica.”

Fizeram parte dessa manipulação os interesses geopolíticos e comerciais da época determinada e daqueles que produziram ou encomendaram o mapa. O historiador Paulo Miceli, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que no início da década passada havia sido chamado pelo Banco Santos para dar consultoria sobre a organização do acervo, lembra que o primeiro registro cartográfico daquilo que hoje se chama Brasil foi um mapa do navegador espanhol Juan de la Cosa (1460-1510), datado de 1506, que mostra “a linha demarcatória do Tratado de Tordesilhas, a África muito bem desenhada e, à sua esquerda, um triângulo bem pequeno para indicar a América do Sul”. “O Brasil foi surgindo de uma espécie de nevoeiro de documentos, condicionado, entre outras coisas, pelo rigor da coroa portuguesa sobre o trabalho dos cartógrafos, que estavam sujeitos até a pena de morte.” Essa “aparição” gradual do Brasil no esquema geopolítico imperial é o tema da tese de livre-docência de Miceli, intitulada, apropriadamente, de O desenho do Brasil no mapa do mundo, que sairá em livro ainda este ano pela editora da Unicamp. O título se refere ao Theatrum orbis terrarum (Teatro do mundo), do geógrafo flamengo Abraham Ortelius (1527-1598), considerado o primeiro atlas moderno.

Navegadores - Ao contrário do que se pode imaginar, os mapas antigos não tinham a função principal, e prática, de orientar exploradores e navegadores. Estes, até o século XIX, se valiam de roteiros escritos, as “cartas de marear”, registrados em “pergaminhos sem beleza nem ambiguidade, perfurados por compassos e outros instrumentos, e que viraram invólucros de pastas de documentos em acervos cartográficos”, segundo Miceli. “Os mapas eram objetos de ostentação e prestígio, com valor de fruição e ornamentação, para nobres e eruditos”, diz Iris Kantor. “Um dos tesouros do Vaticano era sua coleção cartográfica.” Já os roteiros de navegação eram apenas manuscritos e não impressos, processo que dava aos mapas status de documentos privilegiados. As chapas originais de metal, com as alterações ao longo do tempo, duravam até 200 anos, sempre nas mãos de “famílias” de cartógrafos, editores e livreiros. Às vezes essas famílias eram mesmo grupos consanguíneos com funções hereditárias, outras vezes eram ateliês altamente especializados. Os artistas, com experiência acumulada ao longo de décadas, não viajavam e recolhiam suas informações de “navegadores muitas vezes analfabetos”, segundo Miceli. Para dar uma ideia do prestígio atribuído à cartografia, ele lembra que o Atlas maior, do holandês Willem Blaue (1571-1638), pintado com tinta de ouro, foi considerado o livro mais caro do Renascimento.

Um dos critérios de busca da Biblioteca Digital de Cartografia Histórica é justamente por “escolas” de cartógrafos, entre elas a flamenga, a francesa e a veneziana – sempre lembrando que o saber fundamental veio dos navegadores e cosmógrafos portugueses. Iris Kantor considera que elas se interpenetram e planeja, futuramente, substituir a palavra “escola” por “estilo”. Também está nos planos da equipe reconstituir a genealogia da produção de mapas ao longo do período coberto. No estudo desses documentos se inclui a identificação daqueles que contêm erros voluntários como parte de um esforço de contrainformação, chamado por Miceli de “adulteração patriótica”. Como os mapas que falsificam a localização de recursos naturais, como rios, para favorecer portugueses ou espanhóis na divisão do Tratado de Tordesilhas.

Uma evidência da função quase propagandística da cartografia está no mapa Brasil, de 1565, produzido pela escola veneziana, que ilustra a abertura desta reportagem. Nele não se destaca exatamente a precisão geográfica. “A toponímia não é muito intensa, embora toda a costa já estivesse nomeada nessa época”, diz Iris Kantor. “É uma obra voltada para o público leigo, talvez mais para os comerciantes, como indicam os barquinhos com os brasões das coroas da França e de Portugal. Vemos o comércio do pau-brasil, ainda sem identificação da soberania política. Parece uma região de franco acesso. A representação dos indígenas e seu contato com o estrangeiro transmite cordialidade e reciprocidade.”

“No fundo, os mapas servem como representação de nós mesmos”, prossegue a professora da USP. “Pelo estudo da cartografia brasileira pós-independência, por exemplo, chama a atenção nossa visão de identidade nacional baseada numa cultura geográfica romântica, liberal e naturalista, que representa o país como um contínuo geográfico entre a Amazônia e o Prata. No mesmo período, a ideia do povo não era tão homogênea. Não é por acaso que os homens que fizeram a independência e constituíram o arcabouço legal do país fossem ligados às ciências naturais, à cartografia etc. A questão geográfica foi imperativa na criação da identidade nacional.”

Um exemplo bem diferente de utilização de recursos digitais na pesquisa com mapas está em andamento na Unicamp, derivado do projeto Trabalhadores no Brasil: identidades, direitos e política, coordenado pela professora Silvia Hunold Lara e apoiado pela Fapesp. Trata-se do estudo Mapas temáticos de Santana e Bexiga, sobre o cotidiano dos trabalhadores urbanos entre 1870 e 1930. Segundo a professora, pode-se reconstituir o cotidiano dos moradores dos bairros, “não dissociados de seu modo de trabalho e de suas reivindicações por direitos”.

sábado, 23 de outubro de 2010

Mapas historicos, na ponta do mouse...

Para quem, como eu, gosta de mapas antigos, este é um dos sites (o outro é, obviamente o da Library of Congress):

Biblioteca Digital de Cartografia Histórica da USP

A Biblioteca Digital de Cartografia Histórica reúne a coleção de mapas impressos do antigo Banco Santos - atualmente sob custodia do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB/USP), conforme determinação da Justiça Federal. Além de disponibilizar os mapas em alta resolução, o site oferece informações cartobibliográficas, biográficas, dados de natureza técnica e editorial; assim como verbetes explicativos que procuram contextualizar o processo de produção, circulação e apropriação das imagens cartográficas.

A concepção da Biblioteca Digital foi desenvolvida pela equipe do Laboratório de Estudos de Cartografia Histórica (LECH), da Cátedra Jaime Cortesão, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH/USP), e executada pelo Centro de Informática de São Carlos (CISC/USP), com o apoio da FAPESP (Projeto Temático Dimensões do Império Português). A equipe do IEB realizou a digitalização dos mapas, sendo também responsável pela conservação dos mesmos.