Ex-militar opositor de Maduro é sequestrado no Chile
O Globo, 23/02/202opositor de Maduro é sequestrado no Chile
Crime foi alertado à Interpol pelo governo chileno; Ronald Ojeda foi levado por quatro criminosos que se passaram por policiais
Paradeiro desconhecido.
Ojeda fugiu da prisão da Venezuela e foi sequestrado no Chile: autoridades reforçaram fronteira
ANA MARÍ A SANHUEZA
Do El País
SANTIAGO
O governo chileno solicitou um alerta internacional à Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol), além do reforço da guarda nas fronteiras, após o sequestro de um ex-militar venezuelano, opositor do presidente Nicolás Maduro, dentro do território do país, informou o subsecretário do Interior do Chile, Manuel Monsalve, na quarta-feira.
AÇÃO DE MADRUGADA
O caso ocorreu por volta das 3hl5 da madrugada de terça-feira para quarta-feira, quando o ex-militar Ronald Ojeda estava em seu apartamento, no 14 9 andar, na comuna de Independência, Zona Norte de Santiago. Segundo um vídeo das câmeras de segurança do prédio que circula nas redes sociais, Ojeda foi levado por quatro criminosos que se passaram por funcionários da Polícia de Investigações do Chile (PDI).
Após ter identificado Ojeda, o governo chileno não especificou há quanto tempo o ex-militar estava no país e se ele havia chegado a Santiago como refugiado político. Monsalve destacou que a informação, por lei, não pode ser tornada pública.
Assim como outros casos de sequestro, a investigação foi classificada como sigilosa tanto pelo Ministério Público chileno quanto pela Brigada Antissequestro (Bipe) da Polícia Investigativa do país.
"Como muitas hipóteses foram levantadas, o governo também leva em consideração todos os cenários possíveis", disse o subsecretário em nota do Palácio de La Moneda.
Uma das hipóteses difundidas pelo ex-comissário de Segurança venezuelano Iván Simonovis, membro da oposição aogoverno Maduro, éque o sequestro tenha sido parte de uma operação orquestrada pela Direção Geral de Contrainteligência Militar (DGCIM) da Venezuela.
ACUSADO DE CONSPIRAÇÃO
O jornal chileno La Tercera aponta que Ojeda é um dos 33 militares que, em 24 de janeiro, foram expulsos das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (Fanb) sob a acusação de conspirar para matar Maduro.
Horas depois do sequestro, um carro, que pode estar relacionado ao crime, foi encontrado na comuna de Renca com um colete supostamente da Polícia de Investigação (PDI) e um capacete à prova de balas dentro.
Com cautela, Monsalve disse ainda que "nesses casos, o que importa é a proteção da integridade física da possível vítima e de sua família. Portanto, o sigilo da investigação ordenada pelo Ministério Público deve ser respeitado."
O subsecretário acrescentou que o governo pediu aos Carabineros, a polícia militar chilena, e à Polícia de Investigação (PDI), que reforçassem o controle das fronteiras na quarta-feira de manhã.
O partido de oposição venezuelano Vontade Popular emitiu uma nota sobre o caso para "alertar a comunidade internacional" em que menciona a hipótese de que o sequestro tenha sido orquestrado pelo governo Maduro. "Se a notícia for confirmada, estaremos falando do uso do território soberano de outros Estados para práticas de espionagem e agressão contra refugiados venezuelanos que escaparam de um regime repressivo".
'PRESO POLÍTICO'
Segundo a imprensa venezuelana, Ojeda foi preso por traição em 2017 enquanto aguardava sua promoção a capitão do Exército. Na época, ele era primeiro-tenente. Sete meses depois, o então militar fugiu com outros oficiais.
Ficou escondido e reapareceu no Chile, onde, em 2021, foi multado porviolar as regras sanitárias em meio à pandemia da Covid-19. No X (antigo Twitter), Ojeda se apresenta como "ex-preso político" e "oficial das Forças Armadas venezuelanas".