Fatores do crescimento e expansão da Direita em sociedades contemporâneas
Paulo Roberto de Almeida
O movimento para a direita concerne sobretudo as gerações mais velhas, embora possa tocar igualmente certas faixas mais jovens, afligidas por problemas sociais que concernem a todos: crises econômicas— desemprego, visto como ameaça externa ou concorrência imigratória, queda do padrão de vida por eventual defasagem cambial, rebaixamento de estruturas de apoios sociais, deterioração e envelhecimento de equipamentos coletivos, como escolas, transportes públicos e hospitais — além de uma percepção geral de malaise na governança tradicional, por corrupção do estamento político, distanciamento da administração dos núcleos habitacionais suburbanos, assim como percepção da indiferença das elites afluentes com respeito a setores da classe média inferior e estratos mais pobres, subproletarizados.
Cabe acrescentar, nos países ricos, o afluxo crescente de imigrantes ilegais, fazendo pressão sobre equipamentos e estruturas de apoio social, sensação de maior insegurança coletiva e de desconforto com a alteridade racial ou religiosa, e sentimento difuso de perda de exclusividade e homogeneidade grupal nacional. Ameaça de terrorismo estrangeiro pode ser outro fator, aliás já manifestado desde longo tempo, sobretudo a partir do Oriente Médio.
Movimentos conspiratórios extremistas nativos, crescimento do nacionalismo simplório e ativismo acrescido de movimentos deliberadamente radicais nos extremos do leque político-ideológico também podem ser influentes nesses processos. O aumento do populismo político tem sido exercido sobretudo a partir de correntes de direita, mobilizando o espectro conservador, geralmente de idades mais avançadas.
No caso da Europa ocidental, a ação clandestina, especificamente administrada por Putin junto a movimentos políticos e sociais aproximados à Direita, teve certo papel no reforço de tendências existentes nas nações democráticas liberais, inclusive com interferência em processos eleitorais (até mesmo nos EUA).
Existem, portanto, diferentes fatores em jogo no impulso à direitização das sociedades democráticas e de reforço do autoritarismo naquelas menos liberais. No caso do Brasil, a direitizaçâo incluiu até liberais presumidos e reacionários conhecidos não só pela ignorância manifesta como por vínculos com milicianos criminosos, como já foi amplamente revelado em investigações envolvendo a escória da sociedade, sem excluir negacionismo imbecil e indústria religiosa.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 31/05/2024