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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 8 de setembro de 2020

O gás russo na equação Rússia-Alemanha

 

Opinião: O possível fim do Nord Stream 2

Merkel pode fazer história se, em seu último ano como chanceler federal, desistir do projeto do gasoduto com a Rússia. A Europa avançaria e abandonaria um regime que não tem nenhum futuro, opina Miodrag Soric.

Merkel não seria Merkel se não hesitasse. Mas independentemente de qualquer decisão que ela tome: Alemanha e Rússia terão que continuar a se entender. Até agora, o negócio de gás entre os dois países sobreviveu a todas as turbulências políticas.

Desde o começo, no início dos anos 1970, os americanos protestavam contra essa parceria: questionavam como a Alemanha poderia ser tão míope a ponto de fornecer divisas ao inimigo. No final daquela década, o então chanceler federal alemão, Helmut Schmidt, e o presidente americano, Jimmy Carter, brigaram sobre as transações da Alemanha com o Oriente. E seu sucessor no cargo, Ronald Reagan, criticou todos os pontos possíveis do acordo na cúpula do G7 em Ottawa, em 1981. Assim como o faz Donald Trump hoje.

Há décadas, os argumentos da Casa Branca são essencialmente os mesmos: qualquer dependência de Moscou enfraquece o Ocidente. A resposta de Berlim a isso veio certa vez de Helmut Schmidt: "Quem faz comércio um com outro não atira um no outro."

Um argumento que hoje praticamente não vale mais: mesmo os maiores pessimistas não imaginam um conflito militar entre a Otan e a Rússia. Os defensores do projeto Nord Stream 2 recorrem ao princípio de separar negócios da política – especialmente numa política que se baseia em valores.

A Alemanha tem realmente se saído bem com este princípio até agora: não importa se Moscou ameaçava o Ocidente com mísseis nucleares, se prendia dissidentes num gulag, invadia o Afeganistão ou declarava lei marcial na Polônia – o fluxo de gás nunca parou.

E, especialmente nos dias de hoje, Moscou está nos fazendo lembrar desse acordo tácito. Formulando cinicamente, o Kremlin espera: "Mesmo que perseguamos os opositores do regime, isso não afetará os negócios."

Mas quem concorda com este cálculo no Ocidente se torna aliado de Putin. Moscou está fazendo pouco esforço para negar o atentado contra o opositor Alexei Navalny. O regime parece ter a certeza de que a Alemanha, como já fez tantas vezes, só ameaçará, mas no final das contas não vai agir.

É um risco que o Kremlin acredita que deve correr atualmente: devido às manifestações no Extremo Oriente e em Belarus e ao padrão de vida em constante queda na Rússia. O Kremlin teme que manifestações em massa também possam ocorrer em Moscou. É por isso que o regime está mais do que nunca perseguindo adversários potencialmente perigosos. Navalny pode ser o mais importante, mas ele é apenas um entre muitos.

E ainda assim o Kremlin pode ter feito cálculos errados. Já se foram os dias em que a Alemanha era dependente do gás da Sibéria. O futuro pertence acima de tudo às energias alternativas, talvez não na Rússia, mas certamente na Europa. E há muitos Estados que querem vender gás para a Alemanha: vivemos em uma época de abundância de energia. Também não faz sentido dizer que o gás é uma "energia limpa", como argumenta-se. Embora produza menos CO2 do que o carvão quando é queimado, durante a extração e o transporte é liberado muito metano, que é prejudicial ao clima.

Merkel ganharia muito capital político nestes tempos econômicos difíceis se não apenas dissesse que "não descarta nada", mas se desistisse de vez do projeto do gasoduto com a Rússia: a Polônia, os franceses, os Estados bálticos e outros estariam muito mais dispostos a cooperar em várias questões centrais da União Europeia (UE) se a Alemanha finalmente se distanciasse claramente da Rússia.

Em seu último ano como chanceler, Merkel poderia assim, mais uma vez, escrever história: fazendo avançar a Europa e desistindo de um regime que de qualquer forma não tem nenhum futuro. Além disso, a Rússia não é um parceiro comercial realmente importante. Sem a possibilidade de exportar matérias-primas, o país está falido.

O fim do Nord Stream 2 teria um efeito de alerta muito além do projeto em si: a economia alemã se retiraria do mercado russo ainda mais forte do que antes. E a tentativa de Putin de modernizar o país com a ajuda do Ocidente finalmente fracassaria.

Miodrag Soric é jornalista da Deutsche Welle, ex-correspondente em Moscou e Washington. O texto reflete a opinião pessoal do autor, e não necessariamente da DW.


Uma certa ideia do Itamaraty ascende ao primeiro posto em menos de 24 hs

Não se pode reclamar do número de acessos. Menos de 6 horas da postagem do meu mais recente livro – certamente não o último - e os acessos já ascendem para os primeiros lugares.
Vou colocar um taxímetro...
Paulo Roberto de Almeida

Aqui

Uma certa ideia do Itamaraty: a reconstrução da política externa e a restauração da diplomacia brasileira 
(Brasília: Diplomatizzando, 2020, 169 p.) Anunciado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/uma-certa-ideia-do-itamaraty_7.html). Academia.edu (link: https://www.academia.edu/44037693/Uma_certa_ideia_do_Itamaraty_A_reconstrucao_da_politica_externa_e_a_restauracao_da_diplomacia_brasileira_2020_); Research Gate (link: https://www.researchgate.net/publication/344158917_Uma_certa_ideia_do_Itamaraty_A_reconstrucao_da_politica_externa_e_a_restauracao_da_diplomacia_brasileira_Brasilia_Diplomatizzando_2020_169_p). 

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segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Movimentos de massa na história do Brasil: quantos tivemos? - Paulo Roberto de Almeida

Movimentos políticos de massa na História do Brasil

Paulo Roberto de Almeida
[Objetivodebate sobre o futuro do Brasilfinalidadepalestra no BNFB]

Quantos movimentos políticos de massa teve o Brasil que lograram mudar o país? 
Eu não vejo muitos. Vou elencar, cronologicamente, aqueles movimentos, de todos os tipos, que me parecem mais significativos em nossa história: os progressistas (marcados SIM, se obtiveram sucesso), aqueles que podem ser considerados como conservadores, ou de “direita”, que podem ter sido tipicamente oligárquicos (marcados NÃO), assim como os movimentos que foram de massa, mas que não conseguiram transformar a “política dos políticos” (marcados Frustrados, o que envolve tanto os primeiros, quanto os segundos). Alguma simplificação pode resultar, em virtude da própria natureza dos movimentos, inclusive devido à sua concentração no tempo, ou sua extensão como dinâmica.
Tentativamente são os seguintes os que poderiam ser identificados, sendo que alguns sequer são de massa, como o tenentismo, mas que corresponde, neste caso, a uma aspiração da classe média pela mudança na política: 
1)       Sim: 1880-88: Abolicionismo
2)       Não: 1889: República
3)       Frustrado: 1910: campanha civilista de Rui Barbosa
4)       Frustrado: 1920s: tenentismo
5)       Não: 1930: revolução liberal
6)       Frustrado: 1932: Revolução constitucionalista de SP
7)       Frustrado: 1935: ANL (Frente Popular)
8)       Sim: 1942-43: Entrada do Brasil na IIGM
9)       Não: 1945: Retirada de Vargas
10)    Sim/Parcial: 1953: Petróleo É Nosso!
11)    Frustrado: 1961: A vassoura de JQ
12)    Frustrado: 1961-64: reformas de base
13)    Sim/Não/Frustrado: Golpe de 1964
14)    Frustrado: 1968-69: Marcha dos 100 Mil; AI-5; Junta Militar
15)    Frustrado: 1984: Diretas Já 
16)    Sim/Frustrado: 1985: Tancredo
17)    Sim: 1992: Impeachment de Collor
18)    Sim/Parcial: 2002: Vitória de Lula
19)    Sim/Divisão País: 2013-16: Fora PT
20)    Sim/Não/Frustrado: 2018 Bolsonaro

Os bem sucedidos:
1) 1888: Abolição; 
2) 1943: Entrada do Brasil IIGM; 
3) 1953: Petrobras; 
4) 1964: Movimentos Pró/Contra Golpe;
5) 1992: Impeachment de Collor; 
6) 2002: Lula; 
7) 2013-2018: Fora PT;

Por natureza política:
Progressistas: 1888, 1943, 1992, 2002
De Direita: só 1964 e 2013-18

Problema atual: 
Reversão conservadora na política pelas frustrações acumuladas com os movimentos progressistas (PT/PSDB), basicamente por muita corrupção, insegurança civil e péssimos serviços estatais. 

Vai reverter?
Pode, mas para isso o projeto da Direita precisa fracassar (na economia e na corrupção, em termos) e os progressistas precisam se unir numa Frente Democrática, mas apresentando perspectivas econômicas e sociais melhores das que existem hoje.

O que é novo no país?
Pela primeira vez, a extrema-direita chegou ao poder, porque a Direita, os Conservadores e os Liberais se uniram, e por um conjunto de circunstâncias excepcionais, que não devem se reproduzir em 2022 (Fora PT; esgotamento das bondades estatais, crise de 2015/16; facada em Bolsonaro); 

O que vem pela frente?
Essas circunstâncias NÃO vão se reproduzir em 2022, mas se não aparecer nada melhor, os eleitores ficarão com o que já existe e conhecem.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 6/09/2020