Perguntas difíceis para Lula: todas de política externa
Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.
Questionamentos ao chefe de Estado sobre a sua política externa.
Estas questões envolvem considerações de cunho estratégico-geopolítico para o futuro do Brasil:
1) Lula considera positiva, para o Brasil, a ampliação desmesurada do Brics, de um foro antes dedicado à promoção do desenvolvimento econômico e coordenação política entre um número restrito de países emergentes para, a partir de 2023, um amplo agrupamento de candidatos selecionados basicamente por Rússia e China para reforçar um bloco identificado com a criação de uma mal definida “nova ordem global multipolar” (sic), mas que na, verdade se conforma a um projeto antiocidental, ao qual, aliás, Lula já se declarou favorável? Lula avaliou as implicações geopolíticas e de política externa desse novo formato, muito além e acima do nosso poder decisório, para o Brasil e para a sua diplomacia?
2) Por que Lula não saiu imediatamente em apoio à soberania da Guiana, ameaçada de invasão e de anexação de parte considerável de seu território do Essequibo, sendo que pelo menos uma parte dele já pertenceu legitimamente ao Brasil, tendo sido equivocadamente atribuído ao Reino Unido pelo árbitro italiano (rei Vittorio Emanuelle) e que NUNCA PERTENCEU à República da Venezuela? Lula já foi informado pelo Itamaraty sobre essa peculiaridade?
3) No passado, Lula se envolveu pessoalmente e diretamente em diferentes pleitos no continente sul-americano, mas invariavelmente em favor de seus amigos esquerdistas. Agora que a fraude deliberada da ditadura chavista na Venezuela requer seu posicionamento mais firme em defesa da democracia no país vizinho, sua atitude timorata não o qualifica como líder político relevante na região. Lula não pretende ser mais incisivo no impasse?
4) Bolsonaro inaugurou uma política de “solidariedade” à Rússia de Putin, por razões basicamente eleitoreiras: compra de fertilizantes e de combustíveis mais baratos. Mas Lula recrudesceu nesse apoio objetivo ao país agressor, não só aumentando enormemente essas importações — quando poderia ter escolhido outros fornecedores, para demonstrar uma real neutralidade —, mas também se posicionando claramente a favor das teses russas na guerra de agressão contra a Ucrânia. O Itamaraty explicou a Lula as obrigações ao Brasil decorrentes dos artigos da Carta da ONU? Lula pretende continuar ignorando o Direito Internacional?
5) Lula considera que uma adesão do Brasil à OCDE seria prejudicial ao desenvolvimento brasileiro? Não lhe foi explicado que os membros efetivos da OCDE dispõem de indicadores de bem estar e uma qualidade de politicas setoriais muito superiores aos demais países não membro, em condições plenamente democráticas? Por que Lula é contrário? É a velha mania estatizante mais uma vez?
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4735, 15 setembro 2024, 2 p.
Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/09/perguntas-dificeis-para-lula-todas-de.html).
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