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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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terça-feira, 20 de junho de 2006

496) Viva Samuel Morse, o antecessor dos blogs...

Leio na minha coluna do "This Day in History" que:

1840 Samuel Morse patents his telegraph

Eu creio haver postado, mais cedo neste ano, uma nota sobre a expedição do último telegrama pela Western Union, e o encerramento desta gloriosa fase da primeira internet da história.
A invenção de Morse (não a sua patente, que deve ter durando no máximo 15 ou 17 anos) aguentou firme por mais de um século e meio, mas de fato ela já vinha batendo pino desde que o telefone e o correio eletrônico fizeram suas respectivas entradas em cena (e, na verdade, os "telegramas" já eram transmitidos por telefone desde várias décadas).
Do Código Morse eu só cheguei a aprender os famosos três pontinhos, três longos sinais e três pontinhos dos sinais de SOS, mas sempre achei essa linguagem genial, tanto quanto a de surdos-mudos e o Braille.

Grandes invenções têm o poder de aguentar a passagem do tempo.
Agora que as autoridades penitenciárias estão proibindo sinais de celulares nos presídios, os criminosos e facínoras teriam interesse em conhecer o Código Morse, para ficar batucando de uma célula a outra até mandar alguma mensagem ao exterior.
Advogados criminosos (e parece que existem alguns) também vão precisar aprender Código Morse, mas não sei se a OAB vai oferecer esse curso.

Acho que a invenção de Morse não está de fato morta. Ela só está esperando, como o conde da Transilvânia...

495) Quem pode entender?: blogs e mais blogs...

Eu estava começando a achar que não havia mesmo fundamentos para conspirações, quando as velhas feiticeiras de Shakespeare voltam a me fazer surpresas.
Meu blog Diplomatzando - o antecessor de um só "z" deste aqui -- voltou temporariamente a funcionar e até chegou a aceitar dois novos posts sem problemas, estes aqui:

486) Nao acredito em teorias conspiratorias, mas...
e
487) Ultima forma, folks: parece que a mula desempacou...

Desconfiado, quis fazer novo teste, e preparei novo post, que transcrevo abaixo. E não é que, só para me desmentir, ele voltou a empacar outra vez?
Bem, até este aqui empacar por sua vez (e ele ficou fora do ar durante quase toda a segunda-feira 19/06/06), vou postar aqui exclusivamente.
Até que eu consiga pensar em algum post sobre a teoria e a prática das "teorias conspiratórias da história", fiquem com o meu post frustrado, que permanece escondido no Diplomatizando.
Até a próxima, guys (eu disse guys)...

Transcriação do meu frustrado post no Diplomatizando:

"488) Parece que o bichinho está andando de verdade...

Sorry, guys (eu disse guys...),
Não sei como explicar, mas este meu Diplomatizando desempacou e o meu Diplomatizzando, que nao abria, voltou a funcionar.
Como explicar? Eu sinceramente não sei.
O fato é que eu escrevi para o balcão de reclamações do free lunch (esqueci o endereço, mas foi algum e-mail do blog support deste maravilhoso empreendimento capitalista que desmente a frase de Milton Friedman) e, de repente, apareceu algum aviso na minha tela falando de Java script e de cookies (vocês sabem, aqueles biscoitinhos chineses que veem com alguma coisa escrita dentro e são a própria teoria conspiratória da história...)
Em todo caso, agora estou com excesso de blogs e como não posso vender nenhum, vou ter de compatibilizar todos eles.
Apesar de manter blogs para todos os gostos e funções, acho que eles estão comecando a ficar excessivos...
Quem sabe o meu primeiro, narcisístico, também volta a funcionar?
Não custa tentar...
Em todo caso, vou ter um sério problema de numeração e vou precisar de algum matemático para operar uma regressão..."

494) O Doutor Helio ataca outra vez...

Um prêmio pela pertinácia e constância na arte de salvar o Brasil
Paulo Roberto de Almeida

Tudo bem, eu sei que jovens estudantes costumam praticar intensamente "lavoisieries", ou seja, aquele velho habito de usar trabalhos antigos para fazer novos, segundo as demandas de professores diferentes, seguindo nisso um velho principio que aparentemente teria sido consolidado por Lavoisier, ao afirmar este que "na Natureza nada se ganha, nada se perde, tudo se transforma..."
OK, OK, mas e quando esse tipo de prática é feita por veneráveis senhores de 83 anos?
O Doutor Helio Jaguaribe vem tentando salvar o Brasil desde os anos 50 pelo menos, ou seja, há mais de meio século, o que é digno de ser elogiado e mereceria mesmo um prêmio pela persistência.
A tendência foi retomada na redemocratizaçáo de 1985, quando o Doutor Hélio "vendeu" ao presidente Sarney o plano dito "Brasil 2000", ou seja a salvação precisava ser alcançada em menos de 15 anos, do contrário se fechariam as tais "janelas de oportunidades" e aí estaríamos irremediavelmente condenados ao caldeirão dos casos inviáveis, seriamos cozinhados em fogo lento por mais meio século pelo menos.
Passou o governo Sarney, veio o Collor e o Doutor Hélio "vendeu" novamente seu plano, devidamente "recauchutado", ao novo comandante em chefe, que tinha os seus próprios planos, certamente neoliberais (o que não impediu o Doutor Hélio de trabalhar para ele enquanto pôde).
Veio a "fernandécada" -- a expressão é do gentil ex-presidente do BNDES, Carlos Lessa -- e o Doutor Hélio aplicou mais um pouco de Lavoisier nos seus planos salvacionistas e conseguiu descolar mais uma graninha do príncipe dos sociólogos, agora reconvertido em presidente "esqueçam-o-que-eu-escrevi" (o Doutor Hélio também poderia praticar essa refinada arte).
Passou a "fernandécada" e o Doutor Hélio se reconverteu em eleitor do paladino das massas trabalhadoras, não sem um olhar crítico em direção da política econômica neoliberal que ele passou a condenar com toda a veemência que se espera de um iluminado.
Na transição do "ancien régime" tucanês para o "nouveau régime" mudancês, o Doutor Hélio encontrou alguma maneira de compilar mais um plano salvacionista, que, como diz a matéria abaixo, permaneceu engavetado durante estes três últimos anos e meio.
Agora, o Doutor Hélio desenterra mais uma vez o seu plano e apresenta para o novo comandante em chefe, na esperança que ele possa pelo menos implementá-lo (mas, alto lá: sem essa horrível política econômica neoliberal, pois é isso que está matando o Brasil desde os anos 1980, adverte ele).
Acho que o Doutor Hélio merece um prêmio pela constância e pertinácia com que defende as suas idéias e propostas.
Proponho que ele se chame, adivinharam?, "Prêmio Lavoisier"...

Brasília, 19 junho 2006


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Consenso por um país mais justo
Aos 83 anos, o cientista social Hélio Jaguaribe aponta o caminho para o Brasil se tornar desenvolvido em 20 anos
(Boletim eletrônico do Congresso Nacional, em 19/06/2006, neste link)
Edson Sardinha
Elevar dos atuais US$ 3,6 mil para US$ 14 mil a renda per capita do brasileiro. Reduzir a taxa de desemprego de 18% para 5% e criar 38 milhões de novos postos de trabalho. Erradicar o analfabetismo (que hoje atinge 14% da população com mais de 10 anos de idade), diminuir o analfabetismo funcional de 30% para menos de 10% da população com mais de 15 anos e elevar o índice de escolaridade dos atuais 6,7 anos para 11 anos. Tudo isso a partir de um crescimento econômico anual superior a 6%. Realidade ou sonho? Essas são algumas das metas do documento "Brasil: para um projeto de consenso", que pretende incluir o país na lista das nações desenvolvidas em, no máximo, duas décadas.
Coordenado pelo sociólogo Hélio Jaguaribe e pelo economista João Paulo de Almeida Magalhães e relatado pelo senador Aloizio Mercadante (PT-SP), o projeto será entregue até agosto ao presidente Lula e ao candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin. Uma versão da proposta foi apresentada sem sucesso aos candidatos ao Planalto em 2002.
Na época, ninguém encampou a idéia. Nem mesmo o relator Mercadante, que, por três anos e meio, foi líder do governo Lula no Senado. "Lula não estava interessado no projeto, mas em consolidar o poder do PT. Essa coisa não deu certo. Com as lições obtidas no primeiro mandato, na provável hipótese de vir a ser reeleito, Lula irá querer fazer coisas diferentes", acredita Jaguaribe.
Amigo há cinco décadas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e eleitor de Lula na eleição passada, o sociólogo defende a tese de que, sem um consenso suprapartidário sobre os principais objetivos do país a longo prazo, o Brasil não conseguirá dar o salto prometido e adiado sucessivamente pelos governos de plantão.
"O Brasil teve idéias a respeito do que lhe convinha apenas nos governos Vargas e Kubitschek. A partir daí ficou sem projeto. Isso é uma coisa grave porque, atualmente, estamos totalmente entregues às vicissitudes do mercado. E o mercado não opera necessariamente a favor dos países subdesenvolvidos e muito menos no sentido de acelerar o crescimento desses países", observa o professor.
Caminho do crescimento
Assinada por parlamentares de pensamentos tão divergentes quanto José Carlos Aleluia (PFL-BA), Jefferson Peres (PDT-AM) e Yeda Crusius (PSDB-RS), a proposta também apresenta estratégias de transição, como a superação da fragilidade fiscal do Estado, a revisão do papel do Mercosul, a discussão do acordo com a Alca e a implantação de uma Carta de Responsabilidade Econômica e Social.
Para retomar a rota do crescimento, afirma Jaguaribe, o Brasil terá de mudar a orientação de sua política econômica e contar com a vontade política do próximo presidente. "E liberação em grande massa de recursos para tornar possíveis esses projetos, o que significa corte vertiginoso de juros, protegido por medidas que evitem a crise cambial, e redução da carga fiscal. Com controle de câmbio, carga fiscal menor e juros pela metade, o Brasil passará a ter R$ 70 bilhões por ano para projetos prioritários", ensina.
Na avaliação dele, o país está no caminho certo para alcançar a segunda meta do projeto de consenso, ou seja, a erradicação da miséria. "O Brasil está hoje menos miserável do que estava quando Lula começou o governo. Essa política é correta, mas não é suficiente porque não está eliminando as causas da miséria. Está compensando os miseráveis com auxílio público. É preciso que os miseráveis tenham condições próprias para sobreviver. Isso significa crescimento econômico, educação e emprego", ressalta.
Lula na berlinda
Crítico do receituário neoliberal, Jaguaribe condena a continuidade da política econômica do governo FHC pelo governo Lula e avisa que não votará novamente no petista caso ele não sinalize com mudanças. "Se Lula não fizer uma ruptura com esse projeto neoliberal, não votarei nele em nenhum momento", alerta. "O governo Lula é um governo de boas intenções e modestas realizações", classifica. Na avaliação dele, Lula tornou-se um mito e, por isso, chega favorito às urnas em outubro, a despeito dos erros de seu governo. "Esse é um mito que não se destrói por argumentos puramente racionais. Ele resistiu aos maus aspectos do governo Lula", considera.
Do alto de seus 83 anos, Jaguaribe é um dos intelectuais mais respeitados do país. Nos anos 1950, fundou ao lado de outros estudiosos o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), que funcionou como núcleo irradiador de idéias e de políticas públicas inovadoras. Com o golpe militar de 1964, mudou-se para os Estados Unidos, onde lecionou até 1969, quando retornou ao Brasil.
Um dos fundadores do PSDB, Hélio Jaguaribe deixou a vida partidária em 1992 para ser secretário de Ciência e Tecnologia do governo Collor. Após o impeachment do presidente, decidiu dedicar-se exclusivamente à vida acadêmica. Atuando como pesquisador e decano emérito do Instituto de Estudos Políticos e Sociais (Iepes), cuja sede fica no Rio de Janeiro, o sociólogo continua um observador atento da cena política. Veja a íntegra da entrevista dele ao Congresso em Foco.
Congresso em Foco - O senhor tem dito que importa menos para o Brasil que o próximo presidente seja Lula ou Alckmin. O que importa é a definição de uma agenda púbica para o país. Que agenda é essa?
Hélio Jaguaribe - A idéia de consenso comanda a ação de todos os países desenvolvidos. Existe consenso na Grã-Bretanha, nos EUA, na Europa e no Japão a respeito dos principais objetivos desses países. O Brasil teve idéias a respeito do que lhe convinha apenas nos governos Vargas e Kubitschek. A partir daí ficou sem projeto. Isso é uma coisa grave porque, atualmente, estamos totalmente entregues às vicissitudes do mercado. E o mercado não opera necessariamente a favor dos países subdesenvolvidos e muito menos no sentido de acelerar o crescimento desses países. O Brasil está precisando desesperadamente de um consenso nacional a respeito dos seus objetivos fundamentais, independentemente da alternância democrática de partidos e lideranças. Seja Lula, seja Alckmin, seja quem for, o próximo presidente não pode continuar desprovido de projeto nacional como tem sido até agora. Essa iniciativa retoma um projeto que foi objeto de consenso parlamentar de alto nível em 2002 e que não teve seqüência porque o relator, que era o senador Aloizio Mercadante, passou a ter uma vida partidária muito ativa e não pôde se ocupar de uma idéia transpartidária e de consenso.
Qual o eixo desse projeto?
Isso vai depender da maneira com que essa idéia de consenso for assimilada pela classe política e admitida pelos candidatos. Fizemos uma primeira comunicação dessa nova redação do projeto de consenso ao presidente interino, Renan Calheiros, numa ausência de Lula. Estamos programando um encontro com o presidente da Fiesp este mês para programar um grande lançamento nacional, em data ainda a ser fixada, visando a conscientizar a classe política e os dois principais candidatos da absoluta necessidade de que certas medidas mínimas sejam objeto de seus programas de governo.
Que metas são essas?
São metas que se dividem em diversos aspectos. Entre os principais, destaco a retomada de um acelerado crescimento econômico e a organização das condições para que esse crescimento nos conduza a uma significativa redução das desigualdades socais e à erradicação da miséria. Para conseguir esse acentuado crescimento econômico, o Brasil precisa sair da estagnação. E isso não será possível se o país não tiver um crescimento anual superior a 6%, em vez dos atuais miseráveis 2% ou 3%, que estamos tendo nos últimos anos. O Brasil está estagnado há 25 anos. Não pode ficar estagnado no próximo quadriênio. Daí a necessidade de uma meta que fixe como prioridade absoluta o crescimento econômico superior a 6%.
Mas como fazer isso?
Com várias medidas, como a redução dos juros e da tributação excessiva e o estímulo à exportação e à empresa privada. O objetivo é o mais importante: adotar as questões necessárias para que o crescimento seja superior a 6% ao ano. Em segundo lugar, a meta da erradicação da miséria. Essa, aliás, está sendo, em parte, muito bem ativada no que diz respeito ao curto prazo, pelo governo Lula, que aumentou significativamente a quantidade de famílias indigentes que estão recebendo o Bolsa-Família. É uma medida necessária que corrige, num curto prazo, as condições miseráveis dessas pessoas. Mas não corrige a miséria. É uma aspirina. Temos de continuar com a Bolsa-Família, mas também caminhar para erradicar as condições que geraram essa miséria, o que significa oferecer mais educação e emprego.
Mas no discurso, professor, todos os partidos defendem isso. O que acontece que, quando chegam ao poder, eles não levam isso a cabo? O que fazer pra isso sair do discurso?
A sua pergunta é perfeitamente válida. Há duas condições fundamentais para que isso saia do discurso para a prática. Primeiro, uma excessiva vontade política de realizar esses objetivos, algo que não seja um marketing para ganhar votos mas um compromisso real dos candidatos para implementar essas políticas. Ponto dois: para que essas metas sejam viáveis, é preciso desengessar a União. As finanças da União estão completamente engessadas. Ela recebe uma gigantesca massa de recursos sob forma de tributos e não tem um centavo disponível. Tudo é consumido pelos juros, que absorvem mais de 20% da despesa federal e por uma outra série de despesas parasitárias. Se nós cortarmos os juros pela metade e eliminarmos essas despesas na mesma proporção, teremos verbas anuais da ordem de R$ 60 a R$ 70 bilhões para serem aplicadas nesses planos.
O senhor tem percebido preocupação dos candidatos a presidente em definir essas prioridades?
Estamos iniciando agora a segunda etapa do projeto, que foi muito bem elaborado por Mercadante em 2002, mas que, no governo Lula, ficou estagnado. Estamos tirando ele da geladeira, renovando as estatísticas e programando com a Fiesp o grande lançamento do projeto. Na medida em que o projeto alcançar audiência pública, ele tenderá a ser executado.
Mas não está claro que o PT e PSDB estão mais preocupados hoje com um projeto de poder do que com um projeto de governo?
Sim, é lamentável isso. Mas é preciso fazer uma distinção entre o presidente Lula e o PT. Embora seja a principal figura do PT, ele tem um estilo próprio, é independente do partido. Esperamos poder conscientizá-lo, por meio do projeto de consenso, da absoluta necessidade de adoção de metas mínimas que ponham o Brasil novamente no caminho do desenvolvimento e contribuam para eliminar as desigualdades, não apenas no curto prazo, mas de forma definitiva.
Sempre há embate entre as áreas econômica e social. O que fazer pra que essas duas áreas joguem no mesmo time?
Há duas condições fundamentais prévias. Vontade política, que não seja meramente retórica para o eleitorado mas efetivo compromisso pessoal do futuro presidente. E liberação em grande massa de recursos para tornar possíveis esses projetos, o que significa corte vertiginoso de juros, protegido por medidas que evitem a crise cambial, e redução da carga fiscal. Com controle de câmbio, carga fiscal menor e juros pela metade, o Brasil passará a ter R$ 70 bilhões por ano para projetos prioritários.
Mas isso é possível mesmo com o Congresso e o modelo eleitoral que temos?
O nosso modelo eleitoral está longe de ser o ideal. Em outubro vamos eleger Alckmin ou Lula. Os outros candidatos são irrelevantes. Qualquer dos dois que venha a ser eleito precisa executar um projeto que tire o Brasil do marasmo. Estou convencido de que eles vão ter essa disposição.
O senhor disse que o senador Aloizio Mercadante foi relator do projeto de Consenso. Mas o fato de ele não ter levado essa proposta adiante, como líder do governo, não é sintomático de que essas idéias não irão pra frente?
Como líder do governo, Mercadante tinha de seguir o que Lula queria naquela ocasião. E Lula não estava interessado no projeto, mas em consolidar o poder do PT. Essa coisa não deu certo. Por isso, creio que agora, com as lições obtidas no primeiro mandato, na provável hipótese de vir a ser reeleito, Lula irá querer fazer coisas diferentes.
O senhor é amigo do ex-presidente Fernando Henrique, mas votou em Lula nas últimas eleições. O senhor identifica avanços no governo Lula em relação ao governo FHC?
São governos muito diferentes. O governo Lula aumentou significativamente o número de famílias beneficiadas pela Bolsa-Família, que é uma invenção do governo FHC. Com isso, deu uma contribuição significativa para reduzir a massa de miséria do país. O Brasil está hoje menos miserável do que estava quando Lula começou o governo. Como lhe disse, essa política é correta, mas não é suficiente porque não está eliminando as causas da miséria. Está compensando os miseráveis com auxílio público. É preciso que os miseráveis tenham condições próprias para sobreviver. Isso significa crescimento econômico, educação e emprego.
Uma das metas do projeto de consenso é que a renda per capita do brasileiro chegue a US$ 14 mil por ano num prazo de 20 anos. O que fazer pra resolver esse problema crônico da distribuição de renda no Brasil até lá?
A primeira coisa é voltar a ter crescimento. Não se pode fazer nada com o país estagnado. Crescer 2% ou 3% ao ano é perpetuar a miséria. Com isso, o Brasil vai ficando cada vez mais perto da África. Para se livrar disso, o país precisa ter o que chamo de velocidade de escape, ou seja, um crescimento superior a 6%. Se atingirmos essa velocidade, passaremos a ter condições para acumular recursos adicionais para educação, saúde, investimentos etc.
Dois temas que devem ser levados a cabo durante o processo eleitoral são a corrupção e a segurança pública. Eles são obstáculos ao crescimento do país?
São medidas operacionais indispensáveis. Creio que é preciso fazer uma distinção entre as metas estruturais do que se pode chamar de metas contingentes. O combate à violência e à corrupção são metas importantíssimas de caráter contingente. O projeto de consenso não pode ser detalhado, isso não funciona. Ele deve ter um número muito pequeno de metas que todo mundo reconheça como indispensáveis para que, depois, cada candidato adote as medidas de acordo com o seu repertório.
A hoje improvável aproximação entre o PT e o PSDB é inevitável, na avaliação do senhor?
Estou convicto de que, a longo prazo, o PT e o PSDB representam a mesma idéia de um projeto de social-democracia do qual o Brasil precisa. Vamos imaginar que depois da reeleição de Lula, num prazo um pouco mais longo, se forme uma frente social-democrática neste país. É um objetivo de longo prazo. Num curto prazo o que importa é que os candidatos dos dois partidos assumam condições para o escape da miséria e do subdesenvolvimento.
O senhor já disse que o governo FHC era neoliberal. O governo Lula seguiu o mesmo caminho?
Também é totalmente neoliberal economicamente. Não pode continuar sendo. Para passarmos de uma política econômica neoliberal para uma política de equilíbrio e desenvolvimentista, as principais medidas a tomarmos são: a drástica redução de juros, o controle do câmbio e a redução do gasto público em atividades meios.
Oposição acusa governo Lula de aparelhar o Estado, de inchar a máquina administrativa. O senhor concorda com isso?
Claramente. O governo Lula é um governo de boas intenções e modestas realizações. Teve uma política externa bem orientada, embora nem sempre tenha tido êxito com ela. Teve uma política de correção da miséria extremamente feliz. Também teve muito êxito nas exportações. O ministro (do Desenvolvimento) Furlan (Luiz Fernando Furlan) revelou-se extremamente competente, conseguiu aumentar de maneira impressionante as exportações brasileiras, corrigindo o eterno déficit externo que vulnerava nosso país.
A última eleição foi ditada pela esperança de mudança. Mas não foi isso que se viu nesses três anos e meio de governo Lula. Os principais candidatos à Presidência são exatamente do PT e do PSDB. Isso não sepulta a esperança de mudança do eleitor?
No momento, estamos diante de um governo Lula que quer ser reeleito sem dizer o que pretende fazer no segundo mandato, e de um candidato, o Alckmin, que critica Lula, mas ainda não definiu o que pretende fazer. O último discurso foi um pouco melhor porque ele disse que tem compromisso com o crescimento econômico. Mas não disse como vai fazer isso. O período eleitoral está começando.
O senhor vota em Lula novamente?
Depende de como eles vão se posicionar. A manutenção dessa política econômica não interessa. Se Lula não fizer uma ruptura com esse projeto neoliberal, não votarei nele em nenhum momento.
O senhor votaria em Alckmin?
Se o Alckmin não tiver um projeto neoliberal, como parece que não vai ter, posso votar nele. As coisas estão pouco definidas agora. Uma pessoa que tenha o voto consciente ainda não pode se antecipar. Não voto por simpatia, voto por projetos.
Inclusive o senhor não votou no Serra mesmo ele sendo seu amigo.
É verdade, porque eu queria um projeto de renovação que, lamentavelmente, não houve.
Que cenário o senhor antevê para o final do mandato do presidente Lula? Chegou-se a acreditar que ele não chegaria ao final por causa da crise política...
O que salva Lula de seus erros e omissões é o fato de que ele se tornou um grande mito. O mito do operário presidente, o do filho de uma família de cortadores de cana que passa fome na infância e consegue, com o seu talento, galgar a condição de presidente da República. Esse é um mito que não se destrói por argumentos puramente racionais. Ele resistiu aos maus aspectos do governo Lula. Essa compra de votos do PT não tem precedente. Aliás, só teve precedente no partido bolchevique russo, que pegava dinheiro de qualquer maneira. Para eles, tudo o que fosse para o partido era legítimo. O PT entrou nessa mesma política, que é inaceitável.

segunda-feira, 19 de junho de 2006

493) A economia da Copa do mundo e o Brasil

Retiro, do relatório sobre "The World Cup and Economics 2006", preparado pela Goldman Sachs(disponível neste link: http://www.gs.com/insight/research/reports/report31.html), estes excertos:

Introduction:
Except for 1978, every competition since 1938 has involved either Germany or Brazil in the final. Argentina and Italy are the two other names immediately associated with glory in the competition, and of course France and England have enjoyed the loftiest level once each.

Tabela dos finais de copa:
World Cup Finals
Year Host Country Winner Runner-up Score
1930 Uruguay Uruguay Argentina 4-2
1934 Italy Italy Czechoslovakia 2-1 (extra-time)
1938 France Italy Hungary 4-2
1950 Brazil Uruguay Brazil 2-1
1954 Switzerland West Germany Hungary 3-2
1958 Sweden Brazil Sweden 5-2
1962 Chile Brazil Czechoslovakia 3-1
1966 England England West Germany 4-2 (extra-time)
1970 Mexico Brazil Italy 4-1
1974 West Germany West Germany Holland 2-1
1978 Argentina Argentina Holland 3-1 (extra-time)
1982 Spain Italy West Germany 3-1
1986 Mexico Argentina West Germany 3-2
1990 Italy West Germany Argentina 1.0
1994 United States Brazil Italy 0-0 (3-2 penalty kicks)
1998 France France Brazil 3-0
2002 Japan/Korea Brazil Germany 2-0
2006 Germany ? ? ?

Football and the BRICs
As for the BRICs and soccer, Brazil has, of course, been the greatest ever national football team and in recent years its stock and equity market one of the best investments. What a lucky country! Long of many commodities that China needs, high interest rates and a fantastic football culture.


All-Time World Cup Table
Team Played Won Drawn Lost Goals (For Against) Points
1 Brazil 87 60 14 13 191 82 150
2 Germany1 85 50 18 17 176 106 129
3 Italy 70 39 17 14 110 67 103
4 Argentina 60 30 11 19 102 71 77
5 England 50 22 15 13 68 45 63
6 Spain 45 19 12 14 71 53 56
7 France 44 21 7 16 86 61 55
8 Sweden 42 15 11 16 71 65 45
9 Netherlands 32 14 9 9 56 36 43
10 Russia/USSR 37 17 6 14 64 44 42
11 Yugoslavia 37 16 8 13 60 46 42
12 Uruguay 40 15 10 15 65 57 40
13 Mexico 41 10 11 20 43 79 35
14 Poland 28 14 5 9 42 36 34
15 Hungary 32 15 3 14 87 57 33
16 Belgium 36 10 9 17 46 63 32
17 Austria 29 12 4 13 43 47 28
18 Czech Republic2 30 11 5 14 44 45 27
19 Romania 21 8 5 8 30 32 26
20 Denmark 13 7 2 4 24 18 20
21 Chile 25 7 6 12 31 40 20
22 Paraguay 19 5 7 7 25 34 19
23 Croatia 10 6 - 4 13 8 18
24 United States 22 6 2 14 25 45 17
25 Bulgaria 26 3 8 15 22 53 17
26 Cameroon 17 4 7 6 15 29 16
27 Switzerland 22 6 3 13 33 51 16
28 Portugal 12 7 - 5 25 16 15
29 Turkey 10 5 1 4 20 17 15
30 Scotland 23 4 7 12 25 41 15
31 South Korea 21 3 6 12 19 49 15


Brazil,
by Arminio Fraga
Double Excitement in 2006
The World Cup coincides with Presidential elections in Brazil. As always, it promises to be an exciting year. Last time, after a marvelous win in football, Brazil went on to elect Mr Luiz Inácio Lula da Silva (or Lula as he prefers to be called), a labor leader and founder of the Workers' Party. This was supposed to blow the Brazilian economy to smithereens, but in the end it did not. As it turned out, the campaign was a bloody affair, one of those instances where the tension around the elections easily surpassed that of the World Cup. But I must not get ahead of myself: first, a bit of history.

A Bit of History: Football and the Economy
As part of the homework I did to write this article I watched some tapes of old World Cups. One in particular caught my attention, that of 1982. Brazil had at the time a
team that many considered one of our best ever. It was loaded with talent, including names such as Zico, Sócrates, Falcão, Júnior, Eder and Cerezo. Brazil breezed through the early matches, and needed only a tie with Italy to move to the next round. In a game that few Brazilians (and Italians for that matter!) will ever forget, we lost 3-2 (three goals by Paolo Rossi). Twice Italy scored and twice we managed to tie, beating a very solid defense. Each time we went back on the offensive, we allowed Italy to score again and pull ahead. Italy went on to win the Cup, and we came back home thinking about what had gone wrong.
I was a 24-year-old graduate student then, full of dreams and hopes, and somewhat impatient in defeat. My view of that game was that it showed Brazil at its very worst: a talented bunch lacking the ability to get their act together to win. After the game I swore never to watch another football game in my life, a promise I kept for 11 years until my football-crazy children (born in 1983 and 1986) dragged me back in time to see our sweet win in 1994.
Little did we know in 1982 that soon after the defeat in Spain would come the debt default in Mexico, and shortly after in Brazil as well. The Latin American debt
crisis marked the beginning of what became known as the Lost Decade for Brazil, a period most of us would like to forget. As in the match against Italy, during this period we were unable to get our act together, in this instance with more dramatic consequences: from 1982 until 1993 we experienced no growth in income per capita,
hyperinflation and the impeachment of a President. Brazil as a nation was incapable of organizing itself so as to deliver good economic and social results. The fight
against inflation is a good example: we tried every gimmick in the book, from price controls to freezes on bank deposits, but nothing worked until the Real Plan of
1994, when the proper monetary and fiscal tools were combined with an ingenious approach to dealing with the 100% indexation of wages and most prices.

Quite a lot has been achieved since then, including significant fiscal adjustment, the privatization of many industries, better education and health, financial sector
adjustment and a successful move to an inflation targeting and floating exchange-rate regime. Growth did improve, but modestly. If we compare the growth of GDP per capita in the BRIC countries over this period, Brazil’s 1.2% pales in comparison to China’s 8.0%, India’s 4.5% and even Russia’s 2.3%. This is the key issue for Brazil’s future. Can Brazil do what it takes to deliver sustainable economic growth and development? Can we derive any lessons from the recent history of Brazil’s football?

Football Back on Track...
In 1994 Brazil finally wiped out hyperinflation at home and won the World Cup in the US. Was this just a coincidence, or was it a sign of some positive underlying
force propelling Brazil forward? Obviously, it is hard to push this analogy too far, but the Brazilian economy had a good run after the win in Pasadena, and struggled after losing in the finals of the 1998 World Cup in Paris to a fine French squadron.
This year’s team is once again loaded with talent, and is in essence very similar to the winning team of 2002.
Granted, a few new names (such as Kaká and Robinho) bring some new blood to the action, replacing Rivaldo and a few others. But the core unit of Ronaldinho, Ronaldo, Cafú and Roberto Carlos is back. One cause for concern is the age and condition of the last three, now past 30 and showing signs of less energy. Their presence
in the line-up is subject to heated debate here in Brazil, and Mr Parreira (the head coach) is, for the moment, keeping his cards close to his chest. My view is that
Ronaldo is a winner and will once again deliver a topnotch performance for Brazil. He came back from a horrendous injury to become the star of the Cup in 2002, and it is likely that he will pull it off one last time this year. As for the two wings, most observers in Brazil worry that it would be too much for them to run up and down the field again, as they did in 2002, and so we must follow the news to see whether they convincingly prove to be ready for another World Cup or must be replaced.
All of this brings back memories of 1966, the year an injured Pelé and a past-his-prime Garrincha played together for the last time – and failed to make it past the first round for the only time in Brazil’s history.
My take on all this is that Brazil will once again be competitive, blending experience and youth, and playing hard and smart. Can we do the same in the economic and political sphere?

...But the Economy Still Needs Some Work
As for the economy, much is at stake in these elections. The debate is just starting, so it is a bit early to draw conclusions, but for now the main focus seems to be on
the corruption scandals that have grabbed the headlines since last year. Needless to say, these are matters of great importance that must be debated and addressed. But the winner of this year’s elections must also deal with the challenge of returning Brazil to a path of fast and sustainable growth.
Brazil’s low growth is caused by low investment (under 20% of GDP) and by numerous microeconomic barriers, as illustrated by Brazil’s rank of 119 out of 155 in the
World Bank’s most recent Doing Business evaluation. In the near term, some pick-up in growth is to be expected because interest rates have started to come down from the
ultra-high levels needed to curb inflation. Rates should continue to go down so long as fiscal discipline is maintained.
But further work must take place if Brazil is to sustain faster rates of growth. Some topics deserve the urgent attention of the next administration: at the top of the list is the need to curb the growth in government expenditure, which has kept an average pace of nearly 10% in real terms over the last decade. As this is done and lower interest rates become a reality, the supply side of the economy must also be freed, so as to avoid the stop-andgo pattern of growth so often seen in recent decades. This means tackling a myriad of microeconomic and regulatory issues – a daunting but not unfeasible task. As with Brazilian football, some basic lessons for
economic success appear to have been learned: for example, a solid macroeconomic framework is needed for growth, as is a focus on education and health. But unlike in football, where Brazil has played in the last three World Cup finals and won two, in the political sphere a reasonable degree of consensus around a growth strategy still needs to be articulated. Let us just hope that as in football (where our drought lasted 24 years) in the economy the current 24-year era of low growth is coming
to an end. I am hopeful, but still a bit skeptical. It could well be that at 48 I have become even more impatient than I was at 24.

Arminio Fraga
Founder, Gávea Investimentos
Former President, Central Bank of Brazil

Estatísticas do futebol brasileiro na Copa do Mundo:
Odds: 11/4 World Ranking: 1
1st Round Match Schedule
Date Venue Against Local Time
13-Jun Berlin Croatia 21:00
18-Jun Munich Australia 18:00
22-Jun Dortmund Japan 21:00

Previous Appearances: 17
Host Year Outcome
Uruguay 1930 Eliminated in 1st Round
Italy 1934 Eliminated in 1st Round
France 1938 Reached Semi Finals
Brazil 1950 Finished in 2nd Place
Switzerland 1954 Reached Quarter Finals
Sweden 1958 Winners
Chile 1962 Winners
England 1966 Eliminated in 1st Round
Mexico 1970 Winners
Germany 1974 Finished in 4th Place
Argentina 1978 Finished in 3rd Place
Spain 1982 Eliminated in 2nd Round
Mexico 1986 Reached Quarter Finals
Italy 1990 Eliminated in 2nd Round
USA 1994 Winners
France 1998 Runners Up
Korea/Japan 2002 Winners

Won Drawn Lost
World Cup Results
Games Played 87
Won 60
Drawn 14
Lost 13
Goals Scored 191
Goals Against 82
Yellow Cards 64
Red Cards 9

Voilá, aí temos um pouco de economia da copa do mundo...
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Paulo Roberto de Almeida

domingo, 18 de junho de 2006

492) Madame Voltaire, mas independente...

A cara metade de Voltaire
The Economist
16/06/2006
Jornal Valor Econômico, caderno EU&Fim de Semana (16/06/2006)
Num tempo em que as mulheres só tinham o casamento como objetivo, Emilie du Châtelet, matemática e física, destacou-se por seu pensamento.

Praticamente todo mundo já ouviu falar alguma coisa de Voltaire. Certamente lisonjeira. Livre pensador, dramaturgo, poeta, cientista, economista, espião, político e especulador muito bem-sucedido, ele personifica a inovação intelectual do Iluminismo - o maior salto individual dado pela humanidade na compreensão de si própria e do mundo.

Mas quase ninguém ouviu falar da mulher com quem ele dividiu a maior parte de sua vida, Emilie du Châtelet. Há bons motivos para pensar que ela foi uma pensadora mais rigorosa, uma escritora melhor, uma cientista mais sistemática, uma matemática formidável, uma exímia jogadora, uma amante mais fiel e uma pessoa muito mais amável e profunda. E ela foi tudo isso, apesar de ter nascido mulher numa sociedade em que a educação feminina era deficiente e frívola. Sua mãe temia que algo mais acadêmico do que lições de etiqueta pudesse tornar sua filha uma pessoa não talhada para o casamento.

"Marquise du Châtelet", a nova biografia de Emilie escrita por David Bodanis, é um testemunho tardio de uma história que, surpreendentemente, sempre foi negligenciada. Um dos motivos foi o chauvinismo masculino. As melhores obras de Emilie foram feitas numa época em que as mulheres não apareciam na corrente científica principal: Immanuel Kant disse que classificar Emilie como uma grande pensadora seria tão ridículo quanto imaginar uma mulher com barba. Os biógrafos estavam muito mais interessados em Voltaire; sua amante sexy era apenas uma coadjuvante. A maioria dos escritores que pesquisavam Emilie também eram pouco letrada em ciência para entender seu significado. "Voltaire in Love", o romance publicado em 1957 por Nancy Mitford, é um bom exemplo disso. "Mitford sabia tanto de ciências quanto um arbusto", observa Bodanis com desdém. Bodanis, um ex-acadêmico cujo livro anterior, "Electric Universe", ganhou o prêmio Aventis (de literatura científica) em 2006, está bem colocado para apreciar a consistência e o alcance extraordinário da obra de Emilie du Châtelet, e não deixa nenhuma dúvida sobre isso ao leitor.

Nascida em 1706, Emilie teve três lances de muita sorte na vida. O primeiro foi nascer com um cérebro admirável. Sua maior obra foi traduzir "Principia", a revolucionária obra sobre física do recluso gênio de Cambridge, Isaac Newton, que morreu quando Emilie tinha 20 anos. Ela não só traduziu a obra do latim para o francês como também expressou as obscuras provas geométricas de Newton usando a linguagem mais acessível dos cálculos matemáticos. E tornou mais acessível, dentro da complicada teia de teoremas de Newton, as importantes implicações para o estudo da gravidade e da energia. Isso lançou as bases para as descobertas da física teórica no século seguinte. O uso do quadrado da velocidade, c2, na equação mais famosa de Einstein, E=mc2, tem ligação direta com seu trabalho.

O segundo lance de sorte de Emilie foi que seu pai permitiu que ela usasse seu cérebro: está certo que não muito, mas certamente muito mais do que as mulheres mais brilhantes da época em seu país. Ela não foi mandada para um convento. Ele era rico e liberal o suficiente para lhe comprar livros e falar sobre astronomia com ela. Ele a casou com Florent-Claude, marquês de Châtelet-Lomont, que era meio sem graça, mas decente - e não se incomodava com a vida intelectual da esposa e com suas aventuras amorosas. Na verdade, ele admirava Voltaire.

O terceiro lance de sorte de Emilie foi a série de amantes de cabeça aberta que teve. Eles podem ter sido parceiros insatisfatórios pelos padrões atuais, mas eram raridades numa época em que poucos homens buscavam qualidades intelectuais em uma mulher. Emilie começou com o duque de Richelieu, "o homem mais cobiçado da França". Ele incentivou sua confiança intelectual, abalada por uma infância reclusa e um casamento prematuro. Mesmo depois de ter sido abandonado por ela, continuou sendo seu amigo. Então veio Voltaire, pobre, comodista, pouco confiável e egocêntrico - mas ainda assim o amor de sua vida e seu grande estímulo intelectual e cultural. Mesmo quando a paixão esfriou, eles continuaram sendo grandes companheiros.

Finalmente, ela se apaixonou por Jean-François, marquês de Saint-Lambert, um poeta muito mais jovem. Ele preencheu os vazios emocional e físico deixados por Voltaire. Mas também se mostrou descuidado com o que se passava por contracepção naqueles dias. Isso levou a uma gravidez e à infecção que matou Emilie quando ela tinha apenas 42 anos.

É tentador especular que descobertas Emilie poderia ter feito se tivesse vivido em uma época mais salubre e liberal. Mas isso seria não entender a questão. A coisa mais admirável é que ela conseguiu muita coisa, e com bom humor e um auto-conhecimento reflexivo.

Sorte de seu biógrafo que existe muito material acessível sobre sua vida. Voltaire foi muito espionado, assim como muitas das cartas enviadas e recebidas por Emilie.

O livro poderá surpreender alguns leitores com a atenção que dá aos hábitos e predileções sexuais de Emilie. Um defeito mais sério, explicável apenas por preguiça do autor (improvável) ou por mesquinhez dos editores (bem provável) é a surpreendente e inconveniente inexistência de um índice. Esse é o tipo de abordagem descuidada da qual Voltaire se orgulhava, e que tanto incomodava Emilie.

(Tradução de Mario Zamarian)

sábado, 17 de junho de 2006

491) Comunidade Antiimperialista de Nacoes?: por pouco...

Ao que se sabe, na última reunião presidencial do antigo Pacto Andino -- desde os anos 1990 chamado de Comunidade Andina de Nações --, reunião aliás convocada pelo novo presidente boliviano (e bolivariano) Evo Morales, este mesmo presidente propos que a CAN, em lugar de Andina (um mero detalhe geográfico), pudesse ser chamada de Comunidade Antiimperialista de Nações, refletindo certamente os novos brios montagnards (da Revolução francesa, bien sur) na região.

Aparentemente, nem o presidente do Peru, Alejandro Toledo, nem o da Colômbia, Alvaro Uribe, concordaram com a insólita proposta do presidente da Bolívia, com o que a CAN perdeu uma oportunidade de ser “revigorada” bolivarianamente, como era a intenção original de Evo Morales.
Ele também insistiu em que o Chile fosse convidado a retomar sua qualidade de membro da "comunidade", a qual o longo país andino (e também amigo dos EUA, o maior e provavelmente único império da região) deixou em 1975 por diferenças de visão quanto a políticas setoriais, em especial em relação ao capital estrangeiro. Aparentemente, a posição defensiva em relação ao capital estrangeiro diminuiu na região.

Não se sabe se Evo Morales também exigiu o abandono dos acordos de livre-comércio que Colômbia e Peru firmaram com o império, em troca talvez de sua aceitação no quadro da Alba, a aliança bolivariana proposta por Chávez, e que até agora conta com Cuba e a própria Bolívia (e provavelmente o MLST de Bruno Maranhão, além de seu embaixador francês, José Bové).

490) Para os amantes do bardo...

Of course, os amantes do bardo já sabem tudo sobre ele, e sabem perfeitamente onde encontrar todas as suas peças, memorabilia e outros balangandãs próprios do "Nelson Rodrigues" da rainha Elizabeth (com perdão do próprio, e da própria).
Quem nao sabia, em todo caso, fique sabendo, mas é claro que no Google tem de tudo...

Agência Estado, 15 de junho de 2006 - 21:04

Obras completas de Shakespeare, no Google
O super site de buscas lança um site somente sobre o dramaturgo britânico William Shakespeare

SÃO PAULO - "Agora, a obra de Shakespeare é muito mais acessível", proclama o texto introdutório do novo site (www.google.com/shakespeare) sobre a obra completa do dramaturgo inglês, que o super site de buscas Google colocou no ar desde esta quarta-feira. "Basta fazer uma busca sobre a lendária dúvida hamletiana "to be or not to be" (ser ou não ser), e qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo localizará o trecho da peça Hamlet, onde a expressão está inserida.

O site indica também a possibilidade de o leitor comprar as obras nas livrarias virtuais Amazon.com, Barnes&Noble.com, BookSense.com, entre outras.

O internauta poderá encontrar as 37 peças do autor, textos de especialistas, grupos na internet, vídeos de montagens das peças, imagens do Google Earth que permitem uma viagem ao teatro Shakespeare Globe de Londres, por meio de mapas e imagens de satélite, e a outras localidades históricas ao redor do mundo.

489) Homage to a very old Lady (mais toujours gracieuse...)

Leio, no meu calendário de efemérides, Today in History, que em 17 de junho:

1885 Statue of Liberty arrived in New York City

Charmant, n'est-ce pas?
Bem, ela chegou toda desmontada, um monte de ferros e pedaços de granito numerados, tudo transportado em navio, acompanhada do respectivo "manual de instruções" de Frederic Auguste Bartholdi. Por falta de passaporte, ela não pôde entrar nos EUA, tendo sido colocada provisoriamente em Ellis Island, onde ela aguarda pacientemente que se decida sobre o seu caso.
Para maiores informações sobre a estátua ver em: http://www.nps.gov/stli/index.htm

488) Repartindo para mais uma aventura, desta vez com um “z” a mais...


Retomando o fio da meada, desde o início...
(balanço do blogs até o número 488)


Como expliquei abaixo (ver em 487), meu blog Diplomatizando empacou, aliás como os três precedentes, daí a razão de eu ter repartido com este novo, cuja única diferença está no z adicional. No mais, ele permanece igual em espírito e conteúdo, retomando inclusive a numeração sequencial a partir do pos imediatamente anterior.

Faço aqui um balanço de minhas experiências blogueiras.

1) Meu primeiro blog, ainda inexperiente, se chamava, narcisísticamente, Blog Paulo Roberto de Almeida (http://paulomre.blogspot.com/) e foi mantido e alimentado de 6 de dezembro de 2005 até o dia 21 de janeiro de 2006, quando ele empacou de vez. Nele coloquei os posts de número 0 até o 177 (ou seja: 178 postagens). Segundo levantamento de contador efetuado em 14 de abril de 2006, ele chegou a ter 3.737 hits, mas tinha sido deixado com 1500 hits, em 21 janeiro 2006. Ou seja, em 46 dias de “uso”, ele teve uma média de 32,6 hits por dia.
Depois do seu “fechamento”, ou pelo menos do encerramento de postagens, ele ainda avançou de 1.500 para 3.737 hits, ou seja, 2.237 hits adicionais em mais 82 dias (14.04.06), ou seja, a média de 27,28 hits/dia.
No dia de hoje, 17 de junho de 2006, quando faço este balanço global dos meus blogs, ele ostenta a marca de 6.125 hits, ou seja, 2.388 hits adicionais em mais 64 dias (até hoje), ou seja, a média de 37,3 hits/dia, o que é surpreendente, considerando-se que ele estava inativo e não deve ter recebido nenhuma visita minha (salvou uma ou duas para verificação).
Confesso que não sei explicar essa febre de visitas, num período em que eu jamais fiz qualquer menção à sua existência, salvo de maneira indireta, nos links do blog em utilização, que como disse, foram mais dois.
No total, o primeiro blog ostentou, portanto, 6.125 hits em pouco mais de seis meses, mais exatamente em 193 dias, o que dá uma média de 31,7 hits por dia, tanto ativado como desativado. Este número poderá ser comparado com as visitas aos demais blogs, como indico a seguir.


2) Meu segundo blog foi o Cousas Diplomáticas (http://diplomaticas.blogspot.com/), cuja manutenção e postagens foram feitas entre 21 de janeiro de 2006 e 4 de abril de 2006, quando ele também empacou. Nele coloquei os posts de número 178 a 329 (ou seja: 251 postagens).
Não efetuei, para esse segundo blog, estatísticas de entrada e de saída, e assim só posso reproduzir o número do contador que figura nele hoje (17/06/06), que é: 9.138 hits. Considerando o estrito prazo de funcionamento desse blog, que foi de meros 74 dias, teríamos 123,4 hits por dia, o que me parece exagerado. Dividindo por todo o período decorrido desde 21 de janeiro até o dia de hoje (17/06/06), a média cai para 61,7 hits por dia (em 148 dias), o que não parece mau, pois representa o dobro da média do primeiro blog.

Caberia esclarecer que nesse período eu lancei diversos outros blogs auxiliares ou especializados, de maneira a poder repartir o material eventualmente útil que eu teria para colocar ou oferecer publicamente, que foram estes aqui:

(a) Textos PRA (http://textospra.blogspot.com/): dedicado à postagem de textos mais longos ou de material de referência em geral; iniciado em 14 de dezembro de 2005, mas com um contador iniciado bem depois, ele ostentava em 17/06/06 a marca de 1.785 hits, o que dá uma modesta média de 9,6 hits por dia, desde então. O número de posts alcançou 105 (sem contar o inicial), sendo que a dimensão média desses posts é duas a três vezes maior do que os posts nos demais blogs (o blog foi feito justamente para a colocação de material mais volumoso).

(b) Academia (http://pracademia.blogspot.com/): voltado para a simples postagem de programas de cursos, planos de aula, bibliografia e um ou outro material de referência (já que a maior parte vem sendo postada na seção Academia do meu site pessoal: www.pralmeida.org). Ele teve início em 13 de fevereiro de 2006 e eu não fiz contador para esse blog, tendo colocado tão somente 24 posts, desde então (não estou sendo muito ativo nesse blog, mas é que seu formato não é acolhedor de materiais mais densos, com tabelas, gráficos e outros elementos visuais, além de eu não poder colocar arquivos mais pesados, devendo remeter ao meu site).

(c) Book Reviews (), ou resenhas de livros: iniciado em 21 de janeiro de 2006, ele comportou, até 17 de junho 53 postagens, todas referentes a livros, ostentando uma marca de 1.310 hits, o que daria uma média diária de 8,3 hits por dia.

3) Empacando também o Cousas Diplomáticas, parti, em 5 de abril de 2006, para o meu terceiro blog, Diplomatizando (http://diplomatizando.blogspot.com/). Iniciado com a postagem de número 330 ele alcançou, nesta fatídica madrugada do dia 17 de junho a marca 486, ou seja um total de 156 postagens. O número inicial a partir do qual o contador passou a funcionar, em 5 de abril, era 2.623, o que permite calcular a média de hits ocorrida nesse período de exatos 73 dias. O contador estava, quando o “larguei” (isto é, não mais consegui postar) em 9.124 hits, o que perfaz, portanto, um total de 6.501 hits e uma média de 89 hits por dia, o que me parece bastance razoável.

4) Estou portanto começando este novo blog, Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.com/), no dia 17 de junho, com a marca de 9.133 hits, o que configura a base de partida para futuros cálculos de visitas ou hits por dia.
Preciso descobrir, um dia, por que é que os meus blogs empacam no meio do caminho. Não sei se eu abuso demais deles, se eu manipulo o programa do blogger erradamente, ou simplesmente porque eu sobrecarrego demais os provedores gratuitos da Google. Em todo caso, nunca descobri a resposta.

Quem souber, me avise, por favor, pois eu estou começando a ficar intrigado, quase começando a acreditar nas famosas teorias conspiratórias da história.
Sans blague, desejo a todos bom proveito e satisfação com as visitas aos meus vários blogs, cujo único objetivo, não me canso de repetir, é o de poder servir ao conhecimento, à cultura, à informação e ao diálogo bem fundamentado e racional sobre temas relevantes de nossa vida cultural, acadêmica e diplomática, nessa ordem. Espero poder estar ajudando os mais jovens, que não precisam mais, como eu, passar longas horas em bibliotecas para se informar e se instruir, embora devessem fazê-lo de vez em quando. Blogs, sempre leves e superficiais, não são substitutos à pesquisa bem conduzida, assim como material de internet não pode se equiparar a livros, que constituem ainda o tijolo fundamental do estoque de conhecimento humano disponível para deleite de todos.
Boas leituras!

Paulo Roberto de Almeida
Em 17 de junho de 2006.

487) Saperlipopete: meu blog falhou outra vez...

Parece que existe uma maldição dos blogs gratuitos: em algum momento do percurso, eles falham miseravelmente em “deliver” o que se espera deles, ou seja, um fluxo contínuo de postagens, sem esforço adicional, ou sem outros custos do que parece ser, finalmente, um “free lunch”.
Pois bem, meu quarto blog pessoal, Diplomatizando, empacou por sua vez e eu já desisti de brigar na blogosfera.
Passei imediatamente à construção de um novo.
Apenas registrando, eu estava postando a partir do post 487, que agora se torna este meramente introdutório a um novo blog, que se chama simplesmente:

Diplomatizzando

Sim, apenas acrescentei um z no nome anterior.
Em 17 de junho de 2006, eu estava com 9.124 registros de “visitas” ao meu blog (claro, muitas são minhas próprias, na tarefa de verificar visualmente como andam as postagens).
A vida continua, folks, o negócio é bola para a frente, como dizem os entendidos em futebol...