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quinta-feira, 16 de novembro de 2017

VI Conferencia de Relacoes Exteriores, Funag-Itamaraty, 8 a 10/11/2017 - discurso inagural

Transcrevo abaixo o discurso de abertura da VI Conferência de Relações Exteriores, organizada pela Fundação Alexandre de Gusmão, proferido pelo presidente da Funag, embaixador Sérgio Eduardo Moreira Lima, e realizada no Itamaraty, entre os dias 8 e 10 de novembro.
Não estive presente na abertura, por motivo de viagem e imediata obrigação de aula no programa de doutorado em Direito do Uniceub, mas participei do terceiro dia, presidindo uma sessão dividida em duas fases, uma voltada aos 30 anos de existiencia do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI-Funag), do qual sou Diretor atualmente, e outra para a interação com os coordenadores de cursos de pós-graduação em RI das universidades brasileiras.
Nessa abertura, destaco o trecho voltado para o IPRI:

"Nesta VI edição da CORE, comemora-se 30º aniversário do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), razão pela qual convidamos ex-diretores do Instituto para participar da Conferência e da Reunião de Coordenadores, paralela a este evento.  O IPRI é órgão da FUNAG que tem por finalidade desenvolver e divulgar estudos e pesquisas sobre temas atinentes às relações internacionais; promover a coleta e a sistematização de documentos relativos a seu campo de atuação; fomentar o intercâmbio científico com instituições congêneres nacionais e estrangeiras; e realizar cursos, conferências, seminários e congressos na área de relações internacionais."

Transcrevo agora a íntegra do discurso inaugural:


Palavras do Embaixador Sergio Eduardo Moreira Lima, Presidente da FUNAG, na cerimônia de abertura da VI Conferência sobre Relações Exteriores (CORE), no Auditório Paulo Nogueira Batista, em Brasília, 9 de novembro de 2017.
Senhor Ministro de Estado das Relações Exteriores, Senador Aloysio Nunes Ferreira,
Embaixador Paulo Estivallet de Mesquita, Subsecretário-Geral da América Latina e do Caribe;
Ministro Michel Arslanian Neto, Diretor do Departamento de Integração Econômica Regional;
Senhores coordenadores e coordenadoras de cursos de Relações Internacionais,  
Caros colegas, professores e alunos,
Senhoras e senhores,

Gostaria de dar as boas vindas aos participantes da VI Conferência sobre Relações Exteriores (CORE), sobretudo aos que vieram de outras cidades. Sejam benvindos. A Fundação Alexandre Gusmão realiza, anualmente, a CORE, que já se vem tornando tradicional no meio acadêmico. Ela aproxima professores, pesquisadores, alunos e diplomatas. Seu foco recai na compreensão das tendências da evolução do poder no cenário internacional, desafios regionais, globais e oportunidades para o Brasil.
2.      A primeira Conferência foi organizada em conjunto com a Universidade de Fortaleza, em 2012. As quatro edições seguintes foram realizadas, respectivamente, com a Universidade de Vila Velha; com a Universidade de Brasília, em homenagem ao 40º aniversário do Curso de Relações Internacionais; com a PUC-Rio, em comemoração aos 15 anos do primeiro curso de pós-graduação em Relações Internacionais no Brasil; e com a Universidade da Amazônia, em Belém, para marcar o lançamento do livro Pedro Teixeira, a Amazônia e o Tratado de Madri, os 400 anos da fundação daquela cidade histórica - na presença do belenense Embaixador Baena Soares, ex-secretário Geral da OEA e ex-Presidente da Funag - e também os 45 anos da Fundação Alexandre de Gusmão.  
3.      A participação do Ministro Aluízio Nunes na abertura da VI CORE ressalta a importância que o Itamaraty atribui a este espaço de reflexão e interação entre diplomacia e academia. Sem o apoio da alta chefia desta Casa, especialmente, do chanceler e Presidente do Conselho da Funag não teria sido possível criar as condições que levaram a Fundação a ser incluída entre os melhores think tanks do mundo, classificação atribuída pela Universidade da Pensilvânia. Tampouco seria provável que 186 países estivessem acessando o portal e a Biblioteca Digital da Funag, que caminha para atingir a marca de 2 milhões de acessos.
4.      A Conferência está dividida em cinco painéis temáticos, sendo eles: i) O futuro da integração na América do Sul: desafios políticos e econômicos; ii) Estratégia de inserção do Brasil na Economia Global; iii) A liderança brasileira em Desenvolvimento Sustentável e o futuro do Acordo de Paris; iv) A reforma da ONU e o futuro do multilateralismo; e v) O retorno da geopolítica e os principais focos de tensão globais.
4.      Muito agradeço aos moderadores e palestrantes, professores e diplomatas, a participação na CORE e a contribuição para o êxito de seus trabalhos, bem como aos coordenadores de Relações Internacionais, que vieram de todas as regiões deste imenso Brasil para enriquecer os nossos debates. Com eles, teremos também, a exemplo dos anos anteriores, reunião para troca de ideias sobre política externa, relações internacionais do Brasil, expectativas, demandas, críticas, que fortalecerão o diálogo em prol do conhecimento, da qualidade do debate e do aprimoramento de nossas instituições governamentais e acadêmicas ligadas ao tema.
5.      Uma palavra de reconhecimento às Subsecretarias do Itamaraty, a Coordenação de Projeto da Funag e a equipe técnica do IPRI, que tanto contribuíram no planejamento e organização deste evento. A exemplo dos anos anteriores, o IPRI colabora na preparação da Reunião de Coordenadores dos Cursos de Relações Internacionais, este ano representados nos níveis de mestrado e de doutorado pelos Professores escolhidos dentro de suas instituições para coordenar o Curso.  
6.      Nesta VI edição da CORE, comemora-se 30º aniversário do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), razão pela qual convidamos ex-diretores do Instituto para participar da Conferência e da Reunião de Coordenadores, paralela a este evento.  O IPRI é órgão da FUNAG que tem por finalidade desenvolver e divulgar estudos e pesquisas sobre temas atinentes às relações internacionais; promover a coleta e a sistematização de documentos relativos a seu campo de atuação; fomentar o intercâmbio científico com instituições congêneres nacionais e estrangeiras; e realizar cursos, conferências, seminários e congressos na área de relações internacionais.
7.      Essas atribuições traduziram-se, em 2017, em extenso calendário de eventos acadêmicos, como palestras-debates com professores brasileiros e estrangeiros, a série de palestras “Encontro IPRI-IRBr: Percursos Diplomáticos”, palestras ministradas por Embaixadores de carreira, lançamentos de publicações e a edição dos números 4 e 5 do periódico “Cadernos de Política Exterior”, além do seminário “O Brasil e a Grande Guerra: diplomacia e história, realizado na segunda-feira última no Rio de Janeiro .
8.      Durante o ano de 2017, a Funag colaborou com diversas iniciativas em conjunto com o Itamaraty. Destaco o Curso para Diplomatas da CPLP, a IV Mesa-Redonda “O Brasil, o BRICS e a Agenda Internacional” e a Conferência “Micro e Pequeno Empreendedorismo Brasileiro no Exterior”, além de seminários como a “Novas Disciplinas do Comércio Internacional”, “Os Tribunais Internacionais e a Regulação da Economia Internacional”, “Diálogo sobre Financiamento de Florestas e Mudança do Clima”, “Palácios: Expressão Espacial do Poder Político” e o “Centenário de Roberto Campos”.
9.      Gostaria de ressaltar, igualmente, algumas das principais obras editadas pela Fundação no ano de 2017: “A Obrigação Universal do Desarmamento Nuclear", do juiz da Corte Internacional de Justiça Antonio Augusto Cançado Trindade, os volumes da série “Barão do Rio Branco: caderno de notas”, a edição revista da A Integração Brasil-Argentina – Historia de uma ideia na "visão do outro"; “Os Desafios e Oportunidades na Relação Brasil-Ásia; "A Security Council for the 21st Century: Challenges and Prospects"; “A diplomacia do marechal: intervenção estrangeira na Revolta da Armada”,  “Formação da Diplomacia Econômica no Brasil” e “The Non-Proliferation Treaty and Latin America as a Nuclear Weapon-free Zone”.  Diplomacia Presidencial; e Oswaldo Aranha, um Estadista brasileiro (em dois volumes).
10.     A FUNAG possui uma Biblioteca digital com mais de 600 livros. Com mais de 1,5 milhão de livros baixados entre janeiro e setembro deste ano, o acesso digital gratuito à Biblioteca Digital da FUNAG tem contribuído para democratizar o conhecimento das relações internacionais e disciplinas correlatas. Concorre, também, para que a literatura especializada brasileira nesses campos alcance os grandes centros editoriais formadores de opinião no mundo. Não se trata de um resultado trivial. Este ano, o Brazilian Diplomatic Thought, Policymakers and Agents of Foreign Policy (1750-1964) foi recomendado pelo Kings College de Londres, prestigiosa universidade britânica, a seus alunos de pós graduação.  Foi também apresentado em Londres durante a Conferência Internacional de Editores Diplomáticos, patrocinada pelo Foreign Office.
11.     É com satisfação que convido, assim, todos os presentes a conhecer as atividades da FUNAG, principalmente sua biblioteca digital.
12.     Agradeço a atenção de todos e formulo os melhores votos de êxito aos participantes da VI CORE. De acordo com o Programa, o Ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, fará a abertura oficial da Conferência com sua palestra magna.

Muito obrigado. 
 Embaixador Sergio Eduardo Moreira Lima

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Coreia: as fontes do crescimento em seis decadas - Hyeok Jeong (World Bank Studies)

Eis um estudo econômico, até econométrico, que analisa as fontes sucessivas de crescimento econômico da Coreia do Sul em suas diversas fases de desenvolvimento desde os anos 1960.

WORLD BANK POLICY RESEARCH WORKING PAPER ABSTRACTS

HYEOK JEONG, Seoul National University
Email: 
 
This paper analyzes the Republic of Korea's rapid and sustained growth experience for the past six decades from the perspective of the neoclassical growth model (the workhorse model of the World Bank?s Long Term Growth Model (LTGM) project). Overall, the sources of Korea's growth were balanced among labor market and demographic factors, capital investment, human capital accumulation, and productivity growth. However, the main engine of growth evolved sequentially, e.g., labor and human capital factors in the 1960s, capital deepening in the 1970s, and then productivity growth for the following periods. The major sources of sustained growth over six decades were human capital accumulation and productivity growth rather than labor or capital investment. A counterfactual calibration of the model explains Korea's actual growth experience well, and shows why gaps between the model's predictions and the data arise. This illustrates that an appropriate calibration of a simple neoclassical growth model provides useful lessons and tools for policy makers in developing countries in designing their national development strategies.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Bertha Lutz e o papel das mulheres na ONU - seminario-debate no IPRI, 20/11, 9:00hs

CONVITE / INVITATION:

"Bertha Lutz and Women's Rights in the UN Charter: How a Brazilian delegate successfully championed gender-equality in the San Francisco Conference"

Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) and its Institute for Research on International Relations (IPRI) are honoured to invite you to the lecture "Bertha Lutz and Women's Rights in the UN Charter: How a Brazilian delegate successfully championed gender-equality in the San Francisco Conference". The presentation by researchers Elise Dietrichson and Fatima Sator, from the University of London, will be followed by comments from Minister Eugenio Garcia, head of the Division of the United Nations, Counsellor Marise Nogueira, head of the Division on Social Issues, and Counsellor Viviane Balbino, head of the Division of Southern Europe and the European Union. The lecture, which will be in English, will be held on 20 November 9h00 at Paulo Nogueira Batista Auditorium, Annex II of the Ministry of Foreign Affairs. Register here.

A Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) e seu Instituto de Pesquisa em Relações Internacionais (IPRI) têm a honra de convidar para a palestra "Bertha Lutz e os Direitos das Mulheres na Carta da ONU: Como uma delegada brasileira promoveu com sucesso a igualdade de gênero na Conferência de São Francisco". A apresentação das pesquisadoras Elise Dietrichson e Fatima Sator, da Universidade de Londres, será seguida de comentários do ministro Eugenio Garcia, chefe da Divisão das Nações Unidas, da conselheira Marise Nogueira, chefe da Divisão de Temas Sociais, e da conselheira Viviane Balbino, chefe da Divisão da Europa Meridional e União Europeia. A palestra, em inglês, será realizada em 20 de novembro às 9h00 no auditório Paulo Nogueira Batista, Anexo II do Ministério das Relações Exteriores. 


The idea is to have quick lectures by Elise and Fatima of about 20 minutes each, followed by comments from three Brazilian diplomats: Eugenio Garcia, head of the United Nations Division and historian by training; Marise Nogueira, head of the Division of Social Issues - in charge of women's issues; and Viviane Balbino, head of the Division of Southern Europe and the European Union, who did her Masters' Dissertation about women in the Brazilian diplomatic career. After their interventions, we will open the debate to the floor.

O diplomata como intelectual publico - Paulo Roberto de Almeida


Diplomatas intelectuais: grandes pensadores públicos do Brasil

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: esquema de livro; Finalidade; homenagear grandes nomes da diplomacia]


Introdução
O Itamaraty é conhecido por ter grandes intelectuais, mas poucos entram na categoria de “pensadores”, ou seja, homens que são não apenas intelectuais públicos, mas que também moldam as políticas públicas com ideias e propostas relevantes para o desenvolvimento do país. Roberto Campos é sem dúvida alguma um desses grandes. Entre o final do século XIX e o início do século XXI só consigo detectar alguns desses grandes nomes: Oliveira Lima, Roberto Campos, José Osvaldo de Meira Penna, José Guilherme Merquior e Rubens Ricupero, o único sobrevivente. Desses, o mais destacado intelectual público e reformador do Brasil foi Roberto Campos, sobre quem coordenei o livro O Homem que Pensou o Brasil: trajetória intelectual de Roberto Campos (Curitiba: Appris, 2017).
(...)


Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 13 de novembro de 2017


domingo, 12 de novembro de 2017

Crescimento populacional: os dados da questao - The Globalist



Global Population Growth: Just The Facts

The Globalist, November 2017

 

Global Population Growth Per Minute

On balance, how many more people did Earth gain every minute of the past year? | By The Globalist.

https://www.theglobalist.com/global-population-growth-per-minute/

Annual Population Growth by Region

How much did different world regions gain in population over the past year? | By The Globalist

 https://www.theglobalist.com/annual-population-growth-by-region/

The Global Gender Balance in 2017

What share of the population of each world region is female? | By The Globalist.

https://www.theglobalist.com/the-global-gender-balance-in-2017/

International Migration and the Global Agenda

What are the causes and effects of global migration?



Four powerful forces are contributing to the urgency of addressing the international migration issue on the national, regional and international agenda.
The first force is demography. Generally speaking, receiving countries in the North are facing a “birth-rate crisis.” With more deaths than births due to low fertility levels, many receiving countries are experiencing rapid population aging — and facing outright population decline.
In contrast, the populations of sending countries, especially in Asia and Africa, continue to grow rapidly, with most of their populations concentrated in the younger ages.
Economics is the second major force. With aging and shrinking populations, many developed nations are confronting serious labor shortages, financial pressures on government-sponsored pensions and difficulties providing health care for the elderly.
In addition, countries in the Persian Gulf are recruiting large numbers of temporary migrant workers for their expanding economies, fueled largely by their vast oil wealth.
At the same time, millions of men and women in poor developing countries, especially the youth, face poverty and hardships securing employment. And as a result, many are seeking opportunities by migrating — legally or illegally — to wealthier countries, especially in Europe and North America.
Their difficult situations are further compounded by environmental and climate changes impacting their farming, fishing and other important natural resources.
The third major force is culture — a broad set of issues including ethnicity, language, religion, customs and tradition. In contrast to the past, the composition of the immigrants in many instances differs greatly from that of the receiving country.
In Europe following World War II, for example, many immigrants came from the relatively poorer countries of southern Europe.
Many of the immigrants today, however, are not only less educated and lower skilled than the native populations — but are ethnically and culturally different, raising concerns about integration, assimilation and cultural integrity.
Finally, the fourth crucial force is national security. The events of 9-11 in the United States, the bombings in the United Kingdom, Spain, Indonesia and elsewhere, as well as several high profile violent crimes committed by immigrants have heightened security and safety concerns relating to international migrants.
As a result, many countries have tightened their borders, stiffened their policies and instituted new guidelines and procedures, e.g., photos, fingerprints, lengthy detentions and immigration bans, to monitor and deal with those coming from certain countries, especially illegal immigrants.
In addition, civil conflict and societal breakdowns — such as in Somalia, Haiti and the Congo — have resulted in millions of people rushing to escape from the disorder, violence and insecurity.
These four powerful forces are keeping international migration at the top of national, regional and global agenda.
Moreover, given the current economic downturn and growing anti-immigrant sentiments among both developed and developing countries, it seems certain that the issue of how best to manage international migration will become even more contentious, divisive and challenging for governments and international organizations in the years ahead.

A OTAN e o fim da Guerra Fria - Paulo Roberto de Almeida


A OTAN e o fim da Guerra Fria

 

Paulo Roberto de Almeida
Espaço Acadêmico (Maringá: UEM, Ano I, n. 9, fevereiro de 2002 (link: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/download/35905/21033).


O ato constitutivo da Organização do Tratado do Atlântico Norte foi assinado em Washington em 4 de abril de 1949, como resultado das tensões acumuladas na fase inicial da Guerra Fria entre as duas grandes potências vencedoras da II Guerra Mundial. Os Estados Unidos e a União Soviética, nações aliadas no esforço de guerra contra o inimigo nazi-fascista, descobrem no imediato pós-guerra diferenças políticas e ideológicas irreconciliáveis, já evidenciadas desde março de 1946 por Winston Churchill (1874-1965) que, em visita aos Estados Unidos, pronunciou sua famosa frase sobre a “cortina de ferro” que separava a Europa de Gdansk a Trieste.

O Tratado de Washington havia sido precedido pelo Tratado de Dunquerque, assinado pela França e pela Grã-Bretanha em 1947, assim como, em 1948, pelo Tratado de Bruxelas, criando a União da Europa Ocidental (UEO), esquema de defesa comum entre a França, a Grã-Bretanha, os Países Baixos, a Bélgica e Luxemburgo. Mas, se o tratado de assistência mútua anglo-francês era especificamente dirigido contra um eventual novo ataque da Alemanha, o de Bruxelas, apenas um ano mais tarde, já tinha a União Soviética como seu objeto, o que é revelador de como as novas percepções da Guerra Fria iam sepultando os temores ainda presentes dos antigos inimigos de guerra. A UEO, por sua vez, tinha sido concebida em moldes similares aos delineados um ano antes no continente americano, no Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR). A exemplo do TIAR, o Tratado de Washington criava uma aliança de países comprometidos com sua defesa recíproca contra ameaças externas, neste caso, doze Estados da Europa ocidental (nem todos democráticos, como era o caso de Portugal salazarista, membro fundador em virtude das bases norte-americanas nas ilhas atlânticas) e da América do Norte, sob a liderança dos Estados Unidos.
A construção institucional e a ulterior evolução organizacional da OTAN, assim como o desenvolvimento de esquemas táticos e estratégicos de defesa comum (inclusive mediante o emprego de armas nucleares) não podem ser vistos de maneira independente do cenário político-militar predominante no hemisfério norte nas décadas de confrontação bipolar, uma vez que, também do lado socialista, uma aliança militar constituir-se-ia em 1955 sob a liderança da União Soviética, o chamado Pacto de Varsóvia. Na verdade, a aliança dominada por Moscou se destinava bem mais a garantir a manutenção forçada dos países da Europa Central e Oriental no campo socialista do que a impedir um ataque militar ocidental à União Soviética.
A primeira sede da OTAN foi instalada na capital da França, um aliado militar que se revelaria politicamente recalcitrante, como foi demonstrado anteriormente pela recusa soberanista em ratificar a Comunidade Européia de Defesa (1954). Com o estabelecimento de uma nova doutrina militar concebida pelo General De Gaulle (1890-1970) ao voltar ao poder (1958) – a chamada force de frappe independente, que também traduziu-se na proibição do estacionamento de forças nucleares norte-americanas em território francês –, a França abandona, em 1966, os esquemas militares ofensivos comuns (táticos e nucleares), o que leva a OTAN a se mudar de Paris para a Bélgica, passando ela a manter instalações políticas em Bruxelas (Secretariado) e militares em Mons (comando militar aliado). De acordo com uma “divisão do trabalho” institucional entre americanos e europeus, o Secretário Geral da OTAN sempre foi escolhido entre os próprios europeus, ao passo que a designação do seu comandante militar permanecia sob exclusiva responsabilidade dos Estados Unidos (geralmente sem consulta aos aliados europeus). Esse tipo de acerto informal se repete no caso das organizações de Bretton Woods, em que o Diretor Gerente do Fundo Monetário Internacional tem sido buscado tradicionalmente na Europa, enquanto a presidência do Banco Mundial é reservada a um cidadão norte-americano.
A incorporação de novos membros ao esquema da OTAN se deu em saltos, em função da evolução do quadro geopolítico. No período da Guerra Fria, acederam progressivamente ao tratado de Washington quatro outros países europeus – a Grécia e a Turquia em 1952, a Alemanha Federal em 1955 (mesmo ano da constituição do Pacto de Varsóvia) e a Espanha redemocratizada do pós-franquismo em 1982 –, observando-se então uma relativa estabilidade. Depois, como resultado das transformações políticas relevantes ocorridas na Europa Central e Oriental desde o fim do socialismo realmente existente e o desaparecimento da União Soviética – e do próprio Pacto de Varsóvia – no começo dos anos de 1990, três outros países outrora integrantes da aliança militar socialista ingressaram na OTAN já em 1999, quando se comemorou o seu 50º aniversário: a República Tcheca, a Hungria e a Polônia, elevando a aliança atlântica a 19 membros.
Com o fim da Guerra Fria e o desaparecimento da ameaça de uma invasão militar “socialista” à Europa Ocidental, a OTAN foi reestruturada num sentido menos preventivo de um conflito de amplas proporções e mais com objetivos de cooperação em matéria de segurança e de medidas de confiança para o conjunto da Europa. Ela também passou a participar, não sem alguns problemas em termos de mandato “constitucional”, de operações de manutenção de paz no continente, geralmente em coordenação com outras organizações internacionais (mas nem sempre dotada de um claro mandato multilateral, como foi o caso nos Balcãs). De forma bem mais complexa para os equilíbrios políticos na Europa pós-socialista, ela veio a ser “assediada” por países desejosos de escapar ao “abraço fatal” da Rússia, que recuperou (ou herdou) muitas das prevenções anti-ocidentais da desaparecida União Soviética. Assim, a história recente da OTAN é bem mais movimentada em termos institucionais e políticos do que a rigidez doutrinal e estratégica dos anos de Guerra Fria.
Logo depois da queda do muro de Berlim, uma conferência da OTAN em Londres dirigia votos de amizade aos países da Europa Central e Oriental e apoiava os projetos de unificação européia, a começar pela própria Alemanha, dividida oficialmente desde 1949 e de fato desde 1945. O Tratado da União Européia em Maastricht, em 1992, assim como a transformação da Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa em verdadeira organização (OSCE) foram saudadas como passos significativos nesse processo de aproximação e de cooperação pan-europeu. A OTAN estava pronta para aceitar novos membros e para reforçar seus esquemas táticos. Medidas obstrucionistas russas impediam, no entanto, a incorporação de novos candidatos da antiga zona soviética nos esquemas militares da OTAN. A solução política encontrada pelos líderes do núcleo original (com uma França já parcialmente reconciliada com o hegemonismo norte-americano) foi o desenvolvimento de uma série de instâncias institucionais e de foros ad-hoc para acomodar os impulsos adesistas dos países mais abertamente pró-ocidentais (ou mais virulentamente anti-russos), como a República Tcheca, a Hungria e a Polônia. A primeira dessas iniciativas foi a criação de um Conselho de Cooperação do Atlântico Norte (CCAN), envolvendo os membros das duas antigas alianças rivais.
Foi através do “chapéu” do CCAN que se desenvolveu o programa “Parceria para a Paz”, através do qual os países da OTAN abriram as portas para a cooperação com outros países no quadro da aliança ocidental. Contudo, não foi fácil vencer a resistência da Rússia a esses esquemas de cooperação que inevitavelmente terminariam por minar a sua capacidade de controlar (ou ameaçar) seus imediatos vizinhos geográficos. Apenas em 1997 se dá a assinatura, em Paris, do histórico acordo entre a Rússia e a OTAN sobre suas relações comuns, o que foi por alguns interpretado como uma espécie de veto russo a qualquer futura ampliação da aliança ocidental aos países que lhe eram contíguos. Poucos dias depois, entretanto, uma carta de cooperação foi assinada entre a OTAN e a Ucrânia, minando um pouco mais os velhos bastiões do antigo poderio soviético. Poucos meses depois, uma conferência de cúpula da OTAN, em Madri, abria o caminho a novas adesões à sua estrutura militar, ao mesmo tempo em que mantinha os esquemas cooperativos com a Rússia. Os três primeiros candidatos da antiga fronteira ocidental do Pacto de Varsóvia – República Tcheca, Hungria e Polônia – aderiram ao Tratado de Washington em março de 1999, coincidindo com os primeiros 50 anos da organização e marcada por cerimônia organizada na Biblioteca Truman. Assim, desde alguns anos, novos candidatos da Europa Central e Oriental vêm batendo às portas da OTAN, a exemplo dos bálticos, e mesmo alguns do Cáucaso (como a Geórgia), sem que, no entanto, a aliança ocidental demonstre qualquer precipitação em seu acolhimento.
Ao completar o seu primeiro meio século de existência, a OTAN aprovou novo conceito estratégico, revisando radicalmente e ampliando consideravelmente seu mandato original e seu raio de atuação, uma vez que recebeu mandato para cobrir operações humanitárias e anti-terroristas, para a luta contra o tráfico de drogas, assim como ameaças indefinidas ao meio ambiente, à paz e à democracia, num espaço geográfico igualmente difuso quanto a seus limites externos. No terreno europeu, a OTAN começou a trabalhar cada vez mais estreitamente com a Organização da União Européia (OUE), que também passa por mudanças significativas em função dos avanços da integração européia a partir do Tratado de Maastricht. A OTAN e a OUE já introduziram, por exemplo, o conceito de forças-tarefas conjuntas (Combined Joint Task Forces, CJTFs), ou seja, unidades separáveis mas não separadas que podem ser deslocadas em função de objetivos especificamente europeus no quadro da aliança liderada por Washington.
No próprio teatro estratégico europeu, a conformação de uma política comum de segurança e defesa traduziu-se na transformação da UEO em uma espécie de “braço armado” da União Européia (UE), muito embora não disponha ainda, em sua estrutura institucional, de mecanismo equivalente à obrigação de assistência mútua automática em caso de agressão (como previsto no quinto artigo do Tratado de Bruxelas da OTAN). Em novembro de 2000, o conselho dos dez membros plenos da UEO – outros cinco membros da UE e seis outros países da OTAN não-membros da UE são observadores na UEO – aprovou a transferência progressiva de suas funções operacionais para a UE, o que a termo significa o desaparecimento da UEO. De fato, depois da criação da Força de Reação Rápida (FRR) – desdobramento do Eurocorpo dominado pela França e pela Alemanha –, a transferência do Estado-Maior da OUE para o Estado-Maior da UE até 2002 poderá selar o destino da UEO, cujas estruturas políticas (Assembléia Parlamentar) e de coordenação de equipamento militar (Grupo Armamento da Europa Ocidental) já abrigam praticamente todos os países integrantes, candidatos à adesão ou associados à UE. Quatorze dos atuais quinze membros da UE participam da FRR — tendo a Dinamarca preferido abster-se de participar (como já tinha optado por permanecer fora da união monetária) —, mas ela ainda padece de problemas graves, tanto de ordem logística quanto política: os franceses, herdeiros ideológicos de De Gaulle, gostariam de vê-la o mais possível independente da OTAN e dos EUA, ao passo que os britânicos, os mais fiéis aliados dos EUA, têm opinião exatamente inversa, preferindo manter uma estreita aliança com a OTAN, cujos esquemas táticos são, aliás, indispensáveis a qualquer operação mais complexa da futura FRR.
As relações políticas nem sempre tranqüilas da OTAN com a Rússia passaram a ser mantidas, desde maio de 1997, no quadro do “Ato Fundador das relações mútuas de cooperação e de segurança”, que estabeleceu um novo foro de diálogo, o Conselho Permanente OTAN-Rússia. A evolução interna à própria Rússia – que adotou, no começo de 2000, uma nova doutrina estratégica, caracterizada por uma certa “flexibilidade” no uso do armamento nuclear –, assim como os desenvolvimentos políticos sempre imprevisíveis nos Balcãs e no Cáucaso, parecem constituir os desafios imediatos colocados em face de uma nova OTAN que, embora mais confiante em si mesma, não parece desejosa de crescer de forma incontrolada. De forma surpreendente, porém, os ataques terroristas contra os EUA, ocorridos em 11.09.01, resultaram no estreitamento de relações e num novo espírito de colaboração entre a Rússia e a OTAN, o que poderia mesmo resultar num novo relacionamento cooperativo e, a termo, numa integração do país sucessor da ex-potência soviética às estruturas políticas da aliança atlântica. Ainda que não se preveja incorporação de esquemas militares e mesmo integração a nível de comando, esses desenvolvimentos são suscetíveis de alterar fundamentalmente a estrutura das relações internacionais.
No início do século XXI, marcado por nacionalismos irredentistas em regiões de grande diversidade étnica, a organização do Tratado de Washington aparece mais militarmente preparada do que politicamente coesa e uniformemente consciente de seus novos atributos “universais”. A hegemonia militar continua a ser incontrastavelmente exercida pelos Estados Unidos, muito embora nem sempre sua liderança política e seus interesses nacionais sejam compatíveis com aqueles dos países europeus. Em todo caso, os compromissos com a causa dos direitos humanos, da democracia e do meio ambiente podem levar a OTAN a caminhos bem mais difíceis do que aqueles anteriormente balizados pelo maniqueísmo da Guerra Fria.

Paulo Roberto de Almeida

Washington: 756, 15/11/2000; revisto em 25/11/2001

Referências Bibliográficas: 

A principal fonte de informação sobre a OTAN é a própria página da organização: http://www.nato.org; ver também as da UEO (www.weu.int) e da UE (www.europa.eu.int), para os acordos militares europeus.
ALMEIDA, Paulo R. de. Os primeiros anos do século XXI: o Brasil e as relações internacionais contemporâneas. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
BOZO, Frédéric. Deux stratégies pour l’Europe: de Gaulle, les Etats-Unis et l’Alliance atlantique: 1958-1969. Paris: Plon/Fondation Charles de Gaulle, 1996.
CARPENTER, Ted Galen (ed.). NATO enters the 21st century. Portland: Frank Cass, 2000.
KAPLAN, Lawrence S.. The long entanglement: NATO’s first fifty years. Westport: Praeger, 1999.
KAPLAN, Lawrence S.. The United States and NATO: the formative years. Lexington: University Press of Kentucky, 1984. 
SILVA, Francisco Carlos Teixeira da (org.). Enciclopédia de Guerras e Revoluções do Século XX - As Grandes Transformações do Mundo Contemporâneo: Conflitos, Cultura e Comportamento (Rio de Janeiro: Campus, 2004. 963p., ISBN 85-352-1406-2).

 

India avanca, Brasil patina no mesmo lugar; o diagnostico foi posto - Marcos Jank

O aspecto mais interessante deste artigo de Marcos Sawaya Jank, bem mais do que o aumento do comércio bilateral Brasil-Índia, está aqui:

"...desde 2014 a Índia avançou 42 posições no ranking de "facilidade de fazer negócios" do Banco Mundial, para o 100º lugar. O Brasil caiu cinco posições, para 125º."

Consideria isso uma vergonha para o Brasil, especialmente para seus líderes políticos e também as chamadas "classes produtivas". 
Ou seja, o novo primeiro-ministro da Índia, desde que assumiu, fez da melhoria do ambiente de negócios em seu país sua missão prioritária, sua tarefa básica, sua obrigação pessoal. E conseguiu, sem ser nenhum gênio da administração.
Et pour cause: TUDO ESTAVA PRONTO, BASTAVA SEGUIR O RECEITUARIO.
O que quero dizer com isso? 
Se o Brasil quiser MELHORAR DRAMATICAMENTE, basta pegar o Doing Business Brazil (tem até em Português, para os necessitados), e seguir linha por linha os critérios de melhoria do ambiente de negócios, para trazer o Brasil a melhores posições.
 Não precisa ser nenhum gênio, repito, basta ter dois neurônios e seguir o que já está descrito.
O que nos impede de fazer isso?
No governo dos companheiros era inépcia com desejo de roubar, ou seja, quanto mais burocracia, mais oportunidades para arranjar dinheiro fácil, por propina, ou extorsão direta.
No governo atual o que seria? Apenas estupidez? Falta de vontade?
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 12 de novembro de 2017

O novo sabor do agro na Índia
Marcos Sawaya Jank (*)
Jornal “Folha de São Paulo”, Caderno Mercado, 11/11/2017

Narendra Modi vai reformar e modernizar os setores de agricultura, alimentos e varejo.

Narendra Modi vai se firmando como um dos maiores líderes mundiais da atualidade, ao propor reformas para a Índia equivalentes ao que Deng Xiaoping fez nos anos 1980 na China. 

A Índia se parece muito com o Brasil: familiar, festeira, criativa, desorganizada, refém dos ciclos da democracia, fixada no curto prazo e repleta de burocracias e jeitinhos. Em quase tudo, é o oposto da China.

Mas está mudando rapidamente. Basta dizer que desde 2014 a Índia avançou 42 posições no ranking de "facilidade de fazer negócios" do Banco Mundial, para o 100º lugar. O Brasil caiu cinco posições, para 125º.

Um dos setores mais atrasados da Índia é a agricultura, que absorve metade da força de trabalho em propriedades cujo tamanho médio é de só 1,2 hectare. A agroindústria é incipiente e processa menos de 10% do que é produzido no país. A comercialização é precária e se dá em mercados tradicionais, com instabilidade de oferta, volatilidade de preços e graves problemas de qualidade e sanidade. É imensa a necessidade de investimentos em infraestrutura, armazéns e energia elétrica estável.

Na semana passada, Modi abriu o maior evento já realizado na Índia na área de alimentos: a World Food India, que atraiu 4.000 participantes de 60 países. O evento visava atrair investimentos para as áreas de processamento e distribuição de alimentos na Índia.

Entre 2002 e 2014, Modi governou o Estado de Gujarat, onde fez o PIB agrícola crescer 8% ao ano, o melhor desempenho entre os 29 Estados da Índia. Introduziu reformas estruturais que permitiram o acesso dos agricultores às melhores tecnologias (incluindo biotecnologias) e acesso a mercados no país e no exterior.

Agora, através do ambicioso programa "Make in India", Modi quer desregulamentar e modernizar as cadeias agroalimentares, atraindo empresas globais de processamento e distribuição de alimentos. Integração de cadeias produtivas, sanidade e qualidade dos alimentos e a reforma do velho modelo de política agrícola —subsídios ineficientes, controles de preços, estoques públicos, direitos de propriedade— estão no cardápio da nova agenda agro da Índia.

Ao mesmo tempo, o comércio total do agronegócio indiano deu um salto, ao passar de US$ 14 bilhões em 2004 para US$ 60 bilhões hoje. Mas o comércio Brasil-Índia responde por ínfimo US$ 1,6 bilhão ao ano, liderado por exportações voláteis de açúcar e óleo de soja. O volume de comércio e investimentos entre Brasil e Índia no agro equivale a 1/10 do que temos com a China.

Mas as oportunidades estão aí e são imensas em pelo menos duas áreas.

A primeira são os biocombustíveis. Por razões ambientais, a Índia quer consolidar a mistura de 10% de etanol na gasolina (E-10), sem usar suas matérias-primas para fins alimentares. Hoje, ela tem 80% de dependência por petróleo importado, inclusive do Brasil. Com um acordo estratégico, poderíamos suprir boa parte dessa necessidade.

A segunda é o imenso mercado de proteínas da Índia. Aqui entram os lácteos, a carne de frango (a mais aceita na Índia, num momento em que o segmento não vegetariano cresce ano após ano) e leguminosas tradicionais como feijões, ervilhas e lentilhas, produtos que, ao lado das famosas especiarias, formam a base da deliciosa culinária indiana.

Os presidentes-executivos das principais empresas alimentares do mundo manifestaram forte interesse em investir na Índia, que vai dobrar sua demanda por alimentos nos próximos cinco anos. Chegou a hora de apimentarmos essa relação, participando efetivamente da composição dos novos pratos do agro indiano. 

(*) Marcos Sawaya Jank é especialista em questões globais do agronegócio. Escreve aos sábados, a cada duas semanas.