Realizou-se, na última sexta-feira 2 de setembro, uma sessão do Fórum Centro-Oeste de Relações Internacionais, no âmbito da qual fui convidado a participar de uma discussão sobre governança econômica internacional, juntamente com o Ministro Paulo Estivallet de Mesquita, diretor do Departamento Econômico do Itamaraty, e Sandra Polônio Rios, economista do Cindes-RJ, um think tank dedicado a temas de comércio, investimentos e relações econômicas internacionais e regionais. O coordenador dos debates foi o professor Carlos Pio, da cadeira de Economia Política Internacional do IRel-UnB.
Procurei fazer uma exposição abrangente, cobrindo o desenvolvimento histórico da governança econômica internacional, com ênfase nas organizações de Bretton Woods (FMI e Banco Mundial) e no GATT-OMC, sublinhando as dificuldades de coordenação econômica entre os países, o que aparece de fato como descoordenação, quase uma "guerra fria econômica".
Na fase de perguntas, não conseguimos, obviamente, cobrir todas elas, mas guardei aqui as perguntas, para tentar responder mais tarde.
Elas foram as seguintes:
Tive primeiramente os c
omentários
iniciais do professor Carlo Pio:
Quais seriam os principais valores, ou
principio, que orientariam os governos no âmbito da governança econômica
internacional? Teríamos a possibilidade de um um novo Bretton Woods?
Depois recebi duas perguntas que me foram dirigidas diretamente:
1) Quais as vantagens e desvantagens para o
Brasil decorrentes da recente decisão de reduzir a taxa de juros?
Não respondi na hora, pois não se tratava de uma pergunta de governança econômica internacional, e sim de política econômica brasileira.
Não creio que a pergunta possa ser respondida nesses termos, de vantagens ou desvantagens, pois tudo depende de que níveis se está falando, de juros em relação a certos níveis de inflação. Se o Brasil tem uma taxa de juros de 12%, como tem, mas a inflação se aproxima de 7%, como está, então a taxa real é de apenas 5%, ainda assim mais do que o dobro das taxas atuais no mundo, que aliás estão muito baixas, algumas até em níveis negativos.
2) Até que ponto a transição para um cenário
mais multipolar a nível internacional afetaria a condução da política
brasileira no campo econômico?
Fiz primeiro a distinção entre multilateralismo e e condução de política econômica, dizendo que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Pode-se ter políticas econômicas de diferentes tipos em quaisquer cenários internacionais, mais concentrados ou mais desconcentrados, pois tudo depende, em última instância, das orientações domésticas. Por outro lado, as políticas nacionais podem, e são, influenciadas pelo ambiente internacional, mas isso não depende, tampouco, do cenário ser mais aberto ou fechado, depende basicamente dos tipos de acordos que um país subscreve no plano internacional.
Tracei o cenário dos acordos mais "intrusivos", que limitam a soberania dos países, sendo o mais limitador de todos os acordos de integração, a que o Brasil se submeteu voluntariamente no Mercosul.
Respondi a mais duas perguntas dirigidas aos três
palestrantes:
3) Gostaria que um de vocês falasse dos BRICS,
em especial da relação Brasil-Índia.
Não fui muito condescendente com os BRICS, que encontro um grupo totalmente artificial. Em todo caso, já tenho alguns trabalhos sobre os países, que permito citar aqui:
4) No atual cenário internacional [o] que dificulta
a implementação de processos de governança global no campo econômico (comércio,
finanças, investimentos); cite exemplos para ilustrar.
Pergunta complexa, que respondi rapidamente, mas repetindo um pouco o que tinha dito na palestra principal; ou seja, a guerra fria econômica, um trabalho que devo publicar proximamente.
Paulo Roberto de Almeida