Paulo Roberto de Almeida
Apresentação:
O
crescimento extraordinário do número de tratados internacionais concluídos nas
últimas décadas tem feito despertar em todo o mundo o estudo do Direito dos
Tratados. No Brasil, em especial, o assunto ganhou maior relevo apenas
recentemente, dada a tardia ratificação pelo país da Convenção de Viena sobre o
Direito dos Tratados. De fato, desde a assinatura da Convenção em 23 de maio de
1969, mais de quarenta anos se passaram até o engajamento definitivo do Brasil
ao texto de Viena, ocorrido apenas em 25 de setembro de 2009. É certo que antes
dessa dada a Convenção já era utilizada pela diplomacia brasileira, se não como
norma convencional formal, como costume internacional
reduzido a termo. Seja como for, o certo é que a doutrina internacionalista
brasileira – talvez à custa do largo período de tempo que o Direito
Internacional Público restou apenas como disciplina optativa em nossas faculdades de direito – parece não ter se
dedicado ao estudo dos tratados como deveria. Hoje, depois de ter sido a
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados formalmente ratificada pelo
Brasil, mais do que nunca é chegado o momento de estudar a teoria dos tratados
e compreender os problemas jurídicos que suscita. É também necessário apontar
respostas práticas às demandas crescentes que envolvem os tratados
internacionais ratificados e em vigor no Estado.
Este
livro – que é o primeiro a ser publicado entre nós depois da ratificação brasileira
à Convenção de Viena de 1969 – vem suprir esta grande lacuna na doutrina
pátria. Escrito por um dos mais respeitados internacionalistas brasileiros, o
livro que chega agora às mãos dos leitores versa com profundidade todos os temas
relativos à teoria dos tratados, como demonstra o sumário detalhado. Cada tema
estudado na obra mereceu rigoroso tratamento, desde a utilização precisa das
palavras no texto e do rigor metodológico utilizado, até a fundamentação de
cada ponto versado com o que há de melhor em nível doutrinário.
A obra serve ao
governo, à diplomacia, aos operadores jurídicos e à academia em geral, no
auxílio e esclarecimento de como se processam os atos internacionais, como
podem ser negociados e adotados, quais as regras para as reservas e emendas ao
texto, como se engaja definitivamente o Estado, quais os efeitos do tratado em
vigor, como devem ser internamente aplicados etc. Numa época em que a doutrina
jurídica parece cada vez mais render-se à superficialidade, livros como este
que agora vem à luz reacendem a esperança de que o Direito brasileiro ainda há
de contar com juristas de substância e preocupados com a realização da ciência.
SUMÁRIO
PREFÁCIO
INFORMAÇÃO AO LEITOR
ABREVIATURAS E SIGLAS USADAS
INTRODUÇÃO
PARTE I
TEORIA GERAL DOS TRATADOS
Capítulo 1
Conceito de Tratado Internacional
1.1. Antecedentes históricos
1.2. A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados
1.3. Conceito de tratado
1.3.1. Acordo
internacional
1.3.2. Celebrado por
escrito
1.3.3. Concluído
entre Estados ou organizações internacionais
1.3.4. Regido pelo
Direito Internacional
1.3.5. Celebrado em instrumento único ou em dois
ou mais instrumentos conexos
1.3.6. Ausência de
denominação específica
1.4. Terminologia dos tratados
1.5. A questão dos
memorandos de entendimentos (MOUs)
Capítulo
2
Classificação
dos Tratados
2.1. Classificações formais
2.1.1.
Quanto ao número de partes
2.1.2. Quanto ao tipo de procedimento utilizado
para a sua conclusão
2.1.3. Quanto à possibilidade de adesão
2.2. Classificações materiais
2.2.1.
Quanto à natureza jurídica
2.2.2.
Quanto à execução no tempo
2.2.3. Quando à
execução no espaço
2.2.4. Quando à
estrutura da execução
2.3. Plano das partes seguintes
PARTE II
GÊNESE DO TRATADO INTERNACIONAL
Capítulo 1
Processo de Formação e Celebração dos Tratados
1.1. Introdução
1.2. Fases internacionais e internas
1.3. Condições de validade
1.3.1. Capacidade dos negociadores
1.3.2. Habilitação dos signatários e plenos poderes
1.3.3. Consentimento mútuo
1.3.4. Licitude e possibilidade material do objeto
1.4. Formação do texto
convencional
1.4.1.
As negociações
1.4.1.1. Distinção quanto ao tipo de tratado
1.4.1.2. Procedimento em organizações internacionais ou
conferências internacionais ad hoc
1.4.1.3. Regra
geral da boa-fé nas negociações
1.4.2.
A adoção do texto
1.4.2.1.
Regras para a adoção
1.4.2.2.
Diferenciações
1.4.2.3.
Plenos poderes na adoção
1.4.3.
A autenticação
1.5. Expressão
do consentimento
1.5.1.
A assinatura
1.5.1.1. Conceito
1.5.1.2. Natureza
jurídica
1.5.1.3. Plenos
poderes na assinatura
1.5.1.4. Assinatura
com efeito de ratificação
1.5.1.5. Assinatura
diferida
1.5.2.
A ratificação
1.5.2.1. Conceito
1.5.2.2. Natureza
jurídica
1.5.2.3. Tratados
silentes
1.5.2.4. Procedimento
1.5.2.5. Características
1.5.2.5.1.
Ato externo e de governo
1.5.2.5.2.
Ato expresso
1.5.2.5.3.
Ato político
e circunstancial
1.5.2.5.4.
Ato
discricionário
1.5.2.5.5.
Ato
irretroativo
1.5.2.5.6.
Ato
irretratável
1.5.2.5.7.
Inexistência
de prazos gerais
1.5.2.5.8.
(Im)possibilidade
de ratificação condicional
1.5.3.
A adesão
1.6. Estrutura dos tratados
Capítulo 2
Reservas aos Tratados Multilaterais
2.1. Introdução
2.2. Reservas aos tratados bilaterais?
2.3. Conceito e formulação das reservas
2.4. Momento de formulação das reservas
2.5. Limites às reservas
2.6. Procedimento das reservas
2.7. Distinção entre
reservas e outros atos não reservativos
2.8. Aceitação e objeção das reservas
2.9. Efeitos das reservas
2.10. Retirada das reservas ou objeções
2.11. Interpretação das reservas
2.12. O problema das reservas (e das
emendas) no âmbito interno
Capítulo 3
Entrada em Vigor dos Tratados
3.1. Entrada em vigor e
aplicação provisória dos tratados
3.1.1.
Entrada em vigor dos tratados
3.1.2.
Aplicação provisória dos tratados
3.2. Registro e publicidade
dos tratados
3.3. Observância e aplicação dos tratados
3.3.1.
Observância (ou cumprimento) dos tratados
3.3.2.
Aplicação dos tratados
3.3.2.1.
Aplicação no tempo
3.3.2.2.
Aplicação no espaço
3.4. Vigor dos tratados e
responsabilidade internacional
PARTE III
VIGÊNCIA E EXTINÇÃO DOS TRATADOS
Capítulo 1
O Tratado em Vigor
1.1. Efeitos do tratado sobre as partes
1.1.1. Efeitos externos
1.1.2. Efeitos internos
1.2. Efeitos do tratado
sobre terceiros
1.2.1.
Efeito difuso de reconhecimento de uma situação jurídica objetiva
1.2.2.
Efeito de fato de repercussão
sobre terceiro Estado das consequências de um tratado
1.2.3.
Efeito jurídico na atribuição de
obrigações e na concessão de direitos a terceiros Estados
1.2.3.1. Tratados que criam obrigações para terceiros Estados
1.2.3.2.
Tratados que criam direitos para terceiros Estados
1.3. Efeitos de um tratado
ainda não em vigor sobre os contratantes e sobre terceiros
1.4. Emendas e modificações aos tratados
1.4.1.
Emendas aos tratados
1.4.2.
Modificações aos tratados multilaterais
1.4.3.
Procedimento de direito interno
1.5. Interpretação dos
tratados
1.5.1.
Regra geral de interpretação
1.5.2.
Meios suplementares de interpretação
1.5.3.
Interpretação dos tratados autenticados em duas ou mais línguas
1.5.4.
Sistemas de interpretação
1.5.4.1.
Interpretação internacional
1.5.4.2.
Interpretação interna
1.5.4.3.
Interpretação doutrinária
1.6. O conflito entre tratados sucessivos
1.6.1.
Prevalência da Carta da ONU e das normas de jus
cogens
1.6.2.
O problema das cláusulas de compatibilidade
1.6.3.
Tratados sucessivos sobre a mesma matéria com
partes idênticas
1.6.4.
Tratados sucessivos sobre a mesma matéria com
partes distintas
1.7. Concorrência do tratado com uma norma costumeira posterior
Capítulo 2
Vícios do Consentimento e do Ato Internacional
2.1. Vícios do consentimento e nulidade dos tratados
2.1.1.
Anulabilidade do consentimento
2.1.2. Nulidade do
consentimento
2.1.3.
Nulidade dos tratados
2.2. O jus cogens e o tema da invalidade dos tratados
2.2.1. O que são normas de jus
cogens?
2.2.2.
Conflito entre tratado de norma jus cogens
2.2.2.1.
Conflito entre tratado e norma de jus cogens
anterior
2.2.2.2. Conflito entre tratado e
norma de jus
cogens posterior
2.2.2.3. Conflito entre tratado e norma de jus cogens
existente antes da entrada em vigor da Convenção de Viena
2.2.3.
Posição hierárquica das normas de jus cogens
no direito dos tratados
2.3. A inconstitucionalidade
dos tratados
2.3.1. Concepção constitucionalista
2.3.2.
Concepção internacionalista
2.3.3.
Concepção conciliatória
2.3.4.
A solução adotada pela Convenção de Viena de 1969
2.3.5.
A questão da inconstitucionalidade intrínseca dos tratados
Capítulo 3
Extinção e Suspensão dos Tratados
3.1. Extinção dos tratados
3.1.1.
Extinção por acordo das partes
3.1.1.1.
Ab-rogação predeterminada
3.1.1.1.1.
Expiração do termo convencionado
3.1.1.1.2. Condição resolutiva
3.1.1.1.2.
Execução integral do objeto do tratado
3.1.1.2.
Ab-rogação superveniente
3.1.1.2.1.
Extinção pelo voto de certo número de partes
3.1.1.2.2.
Extinção por um tratado posterior
3.1.2. Extinção pela
vontade unilateral (denúncia)
3.1.2.1. A
denúncia na Convenção de Viena de 1969
3.1.2.2. O
problema da denúncia no Direito interno brasileiro
3.1.3.
Causas extrínsecas de extinção
3.1.3.1.
Violação grave do tratado
3.1.3.2.
Impossibilidade superveniente de cumprimento do tratado
3.1.3.3.
Mudança fundamental das circunstâncias
3.1.3.4.
Rompimento das relações diplomáticas e consulares
3.1.3.5.
O estado de guerra
3.1.3.6.
O desuso (desuetudo)
3.2.
Suspensão da execução dos tratados
Capítulo 4
Procedimento relativo aos Vícios e Nulidades
4.1. Procedimento relativo
aos vícios do consentimento, à nulidade, extinção, retirada ou suspensão da
execução de um tratado
4.2. Consequências da nulidade, da extinção e da suspensão da execução de um
tratado
PARTE IV
OS TRATADOS NA CONVENÇÃO DE VIENA DE 1986
Capítulo 1
Regras Gerais sobre a Convenção de 1986
1. 1. Introdução
1.2. Histórico e situação atual da Convenção de 1986
1.3. Similitude entre as convenções de 1969 e de 1986
1.4. Relação
da Convenção de 1986 com a Convenção de 1969
1.5. Situação da Convenção
de Viena de 1986 no Brasil
Capítulo 2
Os Tratados no Âmbito da Convenção de 1986
2.1. Capacidade das organizações internacionais para concluir tratados
2.2. Alguns tratados abrangidos pela Convenção de 1986
2.2.1.
Acordos de sede
2.2.2.
Acordos sobre privilégios e imunidades
2.2.3.
Acordos para a instalação de órgãos vinculados à organização em Estados
2.2.4.
Acordos para a realização de encontros e
promoção de cooperação entre organizações internacionais
2.2.5.
Acordos para a realização de
conferências de organizações internacionais em Estados
2.3. Questões não
prejudicadas pela Convenção de 1986
PARTE V
OS TRATADOS E O
DIREITO INTERNO
Capítulo
1
Processualística
Constitucional de Celebração de Tratados no Brasil
1.1. Introdução
1.2. A Constituição brasileira de 1988 e o poder de celebrar tratados
1.3. A questão dos acordos
em forma simplificada
1.4. O relacionamento entre os poderes Executivo e Legislativo no
processo de conclusão de tratados
1.5. O papel do Congresso Nacional no processo de celebração de tratados
1.5.1.
A expressão “resolver definitivamente” empregada pela Constituição
1.5.2. A questão dos “encargos ou compromissos
gravosos ao patrimônio nacional”
1.6. Procedimento interno nas casas do Congresso Nacional
1.7. Prática brasileira para a entrada em vigor dos tratados
1.7.1.
Aceite definitivo e depósito
1.7.2.
A promulgação
1.7.3.
A publicação
1.8. Efeitos da
internalização dos tratados na ordem jurídica nacional
1.9. Autoridades públicas responsáveis pela execução dos tratados
Capítulo 2
O Conflito entre Tratado e Norma de
Direito Interno
2.1. O caso brasileiro
2.2. Paridade normativa dos tratados comuns declarada pelo STF
2.3. Nosso posicionamento frente à posição do STF
2.4. O controle jurisdicional da convencionalidade das leis
2.4.1.
A doutrina do controle de convencionalidade no sistema interamericano
2.4.2.
O controle de convencionalidade no Direito brasileiro
2.4.3.
Controle de supralegalidade
2.5. Alguns pontos sensíveis sobre a aplicação dos tratados no
Brasil
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANEXO I
CONVENÇÃO DE HAVANA SOBRE TRATADOS (1928)
ANEXO II
CONVENÇÃO DE VIENA SOBRE O DIREITO DOS
TRATADOS (1969)
ANEXO III
CONVENÇÃO DE VIENA SOBRE DIREITO DOS TRATADOS ENTRE
ESTADOS E ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS OU ENTRE ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS
(1986)
ANEXO IV
STATUS OFICIAL DA CONVENÇÃO
DE VIENA SOBRE O DIREITO DOS TRATADOS DE 1969