O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Acordos de livre comercio: os que ganham, os que perdem; adivinhem onde esta o Brasil?

E alguem por aí acredita realmente que haverá um acordo UE-Mercosul?
O Brasil, junto com a Argentina, é um país instintivamente protecionista, o que não só explica seu atraso relativo, como também a desigualdade de renda: protecionismo costuma prejudicar (costuma não: prejudica) os mais pobres, e beneficia um punhado de já ricos.
Paulo Roberto de Almeida

País é dos que mais perdem com acordo de EUA e Europa

RENATA AGOSTINI
DE BRASÍLIA

Um acordo de livre comércio entre Estados Unidos e União Europeia pode redesenhar a economia global e ter o Brasil como um dos grandes prejudicados.

Caso seja de fato concluído, o tratado pode levar o país a experimentar uma queda em suas exportações, equivalente a uma redução de até 2,1% de seu PIB per capita, num cenário em que taxas de importação sejam zeradas e outras barreiras eliminadas, como padronizações conflitantes e reservas de mercado.

O cálculo, da Universidade de Munique, mede os efeitos, em 126 países, do acordo.

EUA e União Europeia discutem desde o início do ano um tratado de livre-comércio. A expectativa é que até o fim do ano que vem seja fechado um acordo que une quase metade do PIB global e um terço do comércio mundial.

 

AlexArgozino/Editoria de Arte/Folhapress

 

 

 

O estudo mostra que todos os países fora do novo bloco registrarão queda nas vendas ao exterior e, consequentemente, perderão receitas. A Coreia do Sul seria exceção.

Os países europeus terão ganhos variados de até 10% na renda média de seus cidadãos, e os Estados Unidos serão os maiores vitoriosos, com ganho de 13,4%.

A queda das receitas para o Brasil ocorrerá nos dois destinos, segundo o estudo. Somente para os EUA, a perda seria de 30% das vendas. Os dois blocos absorvem um terço das exportações do país.

"O mundo caminha para o fim das tarifas. Se houver um acordo entre EUA e UE, começará a haver um isolamento do Brasil", diz Carlos Abijaodi, diretor da CNI (Confederação Nacional da Indústria).

Entre os Brics, o Brasil perderá tanto quanto a Rússia (2,1%), será menos prejudicado que a África do Sul (3,2%), mas ficará em desvantagem em relação a Índia (1,7%) e China (0,4%).

OUTROS EFEITOS

O estudo não contempla os efeitos para o Brasil caso uma área de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia seja também criada.

Empresários brasileiros defendem que, diante das negociações entre EUA e europeus, o país deveria acelerar as tratativas para se proteger.

"Neste caso o ataque é a melhor defesa. Se eles fecharem um acordo antes do nosso, podem dizer que terão de seguir o padrão já fechado com os EUA. Teríamos de recomeçar toda a negociação e nos ajustar a outras condições", afirma Abijoadi.

Reportagem da Folha desta semana mostrou que a indústria nacional está defendendo um acordo de livre-comércio com os EUA. O Ministério de Desenvolvimento afirmou, porém, que não há conversas no momento sobre esse tema e que o foco é um acerto com a Europa.

Procissao pre-natalina: a Via Sacra dos quadrilheiros e o presepio humano energetico

A fé, cega, indomável, inflexível, devotada e carola, é o que impulsiona seres verdadeiramente crentes a dedicar toda uma vida a causas aparentemente desesperadas, e a apoiar projetos quase impossíveis, como, por exemplo, dominar os três poderes, comprar bancadas partidárias inteiras, aparelhar todo o Estado, roubar esse mesmo Estado como se assalta um banco, enfim, essas coisas que só grandes líderes totalitários são capazes de conceber e de implementar.
Sempre tem idiotas que seguem esses profetas do mal.
Rezemos para que alguns não crentes ou homens de pouca fé não assaltem os dois true believers durante a madrugada.
Dá prá começar uma vigília sagrada em todo caso: providenciem velas...
Paulo Roberto de Almeida

Militantes da juventude do PT fazem vigília na Papuda para transmitir energia positiva

  • Petistas também organizaram, no início do ano, vaquinha para pagamento de multa dos condenados pelo mensalão
Junia Gama
O Globo, 17/11/2013

BRASÍLIA — Dois militantes da Juventude do PT decidiram, neste domingo, fazer uma vigília em apoio aos integrantes do partido que estão presos no complexo penitenciário da Papuda. João Paulo Oliveira, de 36 anos, e Pedro Henrichs, de 28 anos, chegaram à Papuda no fim da tarde deste domingo e colocaram duas cadeiras na entrada do local, onde prometem passar toda da madrugada.

Os militantes sabem que não poderão ter qualquer contato com o ex-ministro José Dirceu, com o ex-presidente do PT, José Genoino, ou com o ex-tesoureiro do partido, Delúbio Soares, mas disseram que a ideia da vigília é transmitir energia positiva aos condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no processo do mensalão.

— Não dá para vê-los, mas tentamos transmitir algum tipo de energia positiva para eles saberem que não estão sozinhos. Não vão pagar multas e penas sozinhos. São presos políticos e não políticos presos — disse Henrichs, que organizou, no início do ano, um jantar numa galeteria de Brasília para angariar fundos para o pagamento de multas impostas ao mensaleiros. O evento foi um fracasso, mas Henrichs não divulga quanto foi arrecadado.

Os dois militantes estão em contato com as famílias dos presos e informaram que, segundo uma filha de José Genoino, o ex-presidente do partido teria passado mal neste domingo. Genoino também teve um pico de pressão ontem durante a transferência de São Paulo para Brasília. Segundo ambos, mais integrantes da Juventude do PT devem chegar à Papuda nas próximas horas para participar da vigília.

O adolescente que reinventou a leitura: Nick D'Aloisio

O adolescente que quer reinventar a leitura

Nick D'Aloisio criou um app e o vendeu por milhões, aos 17 anos, mas está longe de ser um nerd


[image]David BaileyPor Seth StevensThe wall Street Journal, November 18, 2013

Depois de ouvir falar que, em março, um garoto britânico de 17 anos vendeu um software para oYahoo! YHOO -0.62% por US$ 30 milhões, alguém poderia ter noções preconcebidas de que tipo de rapaz ele seria. Um nerd, que só pensa em códigos de programação. Um sujeito tímido, que fala baixinho e tem aversão ao olho no olho.

Por isso, conhecer Nick D'Aloisio é um choque. Imagine um alto executivo do Vale do Silício dotado de temperamento fácil e talento nato para a mídia. Imagine um cara capaz de conversar com segurança (e olhando no seu olho) sobre temas variados como as teorias de Noam Chomsky, a ciência das redes neurais e o conceito budista de "jñana".

O aplicativo inventado por D'Aloisio, o Summly, comprime textos longos em algumas frases representativas. Especialistas em tecnologia perceberam que um aplicativo capaz de gerar resumos sucintos e precisos seria extremamente valioso num mundo em que estamos o tempo todo lendo coisas em nossos telefones.

Em 2011, aos 15 anos, D'Aloisio recebeu um financiamento inicial do bilionário de Li Ka-shing de Hong Kong, o homem mais rico da Ásia. A venda para o Yahoo! fechou um ciclo notável para alguém que ainda nem terminou o ensino médio. Mas não é só o conhecimento tecnológico que distingue D'Aloisio. Muito antes de poder fazer a barba, ele já era movido por uma curiosidade intensa e um enorme desejo de deixar uma marca no mundo da tecnologia. Não apenas criar, mas construir algo, e, é claro, ganhar dinheiro no processo.

Associated Press

O inventor do Summly, aplicativo que cria sumários de textos, mostrando o app no seu iPhone

Ele recentemente passou a se reunir com gente como Marissa Mayer, diretora-presidente do Yahoo!, e Rupert Murdoch, presidente da News Corp., a dona do The Wall Street Journal. À sua maneira, ele é tão formidável quanto os relativamente "velhos" David Karp, 27 anos, fundador do Tumblr, ou Mark Zuckerberg, 29, o prodígio do Facebook FB +0.04% . "Ele cativa a atenção das pessoas", diz Joshua Kushner, fundador da Thrive Capital, uma das primeiras a financiar o Summly. "Ele é incrivelmente autoconsciente para a idade."

D'Aloisio começou a programar aplicativos para oiPhone em 2008, quando tinha 12 anos e trabalhava em seu quarto, num computador Mac. Não teve aulas formais de computação e nenhum de seus pais entendia de tecnologia. Aprendeu a programar praticamente sozinho.

Estudou línguas diversas como latim e mandarim, e ficou fascinado por conceitos como estruturas gramaticais e análise morfêmica (morfema é a menor unidade linguística com um significado).

D' Aloisio chegou à conclusão de que era crucial encontrar uma maneira de determinar melhor o que vale a pena ser lido. Imaginou uma ferramenta sintetizadora que usasse teoria linguística para fazer uma sinopse significativa em menos de 400 caracteres.

"Há dois jeitos de fazer processamento de linguagem natural: o estatístico e o semântico", diz D'Aloisio. O sistema semântico tenta descobrir o significado de um texto e traduzi-lo de forma sucinta. O sistema estatístico — do tipo usado por D'Aloisio no Summly — não se preocupa com isso. Ele mantém as sentenças intactas e descobre como selecionar umas poucas que melhor captem a mensagem do texto todo.

Getty Images

Nick D'Aloisio falando numa conferência de design digital em Munique

Uma versão inicial do Summly, chamada Trimit, foi destaque na loja de aplicativos da Apple em 2011. Lá, o app chamou a atenção do TechCrunch, um blog influente do Vale do Silício, e logo atraiu um grupo de investimento liderado por Li Ka-shing, o Horizons Ventures.

"Pensei que ia vender o aplicativo por uma ou duas libras esterlinas cada um na loja da Apple e aí usar o dinheiro para comprar um computador novo", diz D'Aloisio. "Nunca havia tido contato com um investidor antes." Ele foi à reunião com representantes do Horizons Ventures acompanhado dos pais. O encontro terminou com D'Aloisio recebendo um investimento inicial de US$ 300.000.

Ele foi levado a conferências de tecnologia em todo o mundo e apresentado a outros potenciais investidores. "Ele tem uma maturidade assustadora", diz Andrew Hall, diretor da King's College School, a escola que D'Aloisio frequenta desde os 11 anos.

D'Aloisio atraiu também um grande grupo de financiadores para o Summly, incluindo famosos como Ashton Kutcher, Yoko Ono e Stephen Fry.

Getty Images

D'Aloisio, aos 13 anos, trabalhando no seu computador Mac

Os pais de D'Aloisio migraram da Austrália para a Inglaterra. O pai, Lou, trabalhou na área de commodities da BP e do Morgan StanleyMS -0.13% e a mãe, Diana, é advogada especializada em direito empresarial e representa o filho nos contratos. Eles sempre souberam que D'Aloisio era uma criança extremamente curiosa. "Mas ele é nosso primeiro filho e, por isso, não achamos que fosse nada fora do comum", diz Diana. (O irmão de D'Aloisio, Matthew, tem 14 anos.) Eles enfatizam o fato de que D'Aloisio continua a ser um garoto normal. "Ele ainda sai nos fins de semana, vai a festas, namora", diz Diana. E, embora tenha parado de frequentar a escola, ainda tem que fazer lição de casa e se encontra com seus professores regularmente.

Por enquanto, D'Aloisio não tocou no dinheiro. "Sou muito novo para apreciar o valor desse dinheiro", diz. Ele não tem autorização para comentar o preço de venda do Summly, noticiado como US$ 30 milhões.

Talvez a pergunta mais interessante seja por que o Yahoo! gastou tanto dinheiro num único aplicativo. É que a capacidade de resumo do Summly se encaixa perfeitamente ao novo foco do Yahoo! em serviços para dispositivos móveis. A empresa americana de internet está decidida a obter espaço na disputada telinha do smartphonee atrair os jovens.

Não há dúvida que a aquisição é uma dessas em que a pessoa sendo adquirida é tão importante quanto o produto. D'Aloisio está agora trabalhando em tempo integral no escritório do Yahoo! em Londres. Mayer, a diretora-presidente, elogia seu "compromisso com a excelência em design e a simplicidade". D'Aloisio passa 80% do tempo no escritório melhorando o Summly (que já foi integrado aos apps para iPhone do Yahoo!) e os restantes 20% planejando novos desafios. Ele prevê que haverá programas para sumarizar para vídeo fazendo o equivalente ao que o Summly faz para texto.

D'Aloisio está pensando em cursar uma faculdade na Inglaterra, ou talvez nos Estados Unidos, para ficar mais perto do Vale do Silício. Ou talvez nem faça faculdade. "Com certeza quero abrir outra empresa", diz ele. "Empreendedores ficam viciados nisso."

domingo, 17 de novembro de 2013

O sistema de poder totalitario dos companheiros neobolcheviques - Demetrio Magnoli

Bom dia Tristeza
Demétrio Magnoli
Folha de S.Paulo, 16/11/2013

Dirceu, Genoino e Delúbio não aprenderam nada, depois de um quarto de século de democracia

Acordei anteontem sob o impacto da notícia da expedição de mandados de prisão para os condenados do "mensalão". Uma tristeza, inicialmente indefinível, tomou conta de mim. Sim: eles devem ser presos, em nome da democracia e da justiça. Sim: a prisão deles é um sinal de que a igualdade perante a lei ainda tem uma chance na nossa pobre república habitada por tantas figuras "mais iguais" que as demais. Por que, então, a tristeza?

Os integrantes do núcleo político do "mensalão" foram condenados sem provas, por um recurso à teoria do domínio do fato, alegam ali (no PT, em sites chapa-branca financiados com dinheiro público) e aqui (neste espaço, por comentaristas que não se preocupam com a duplicidade de critérios morais), numa tentativa canhestra de confundir o público. A teoria do domínio do fato, amplamente utilizada nos tribunais brasileiros, não equivale a uma noção arbitrária de "responsabilidade objetiva", que é coisa de tiranias, e não dispensa provas. Ela é uma ferramenta analítica destinada a identificar responsabilidades em crimes cometidos pelo concurso de agentes: no julgamento de uma quadrilha de assaltantes de banco, serão imputadas penas não só aos que empunharam armas, mas também aos planejadores da ação. Sobram provas nos autos do processo do "mensalão". Não: a lenda do "julgamento político" não me comove nem um pouco.

A Ação Penal 470 é "um ponto fora da curva", dizem alguns cínicos e incontáveis porta-vozes informais do governo. O diagnóstico é compartilhado por não poucos advogados de boa-fé que se habituaram às transações internas de nossa elite de fidalgos a ponto de confundirem impunidade com justiça. Talvez seja mesmo: o STF nem mesmo abriu processo contra Antonio Palocci, apesar dos indícios clamorosos de que o então ministro cometeu um crime de Estado, violando o sigilo bancário de uma testemunha sem posses ou poder. Mas, se assim for, que o "ponto" inaugure uma nova "curva", traçada por um compasso que não reconheça privilégios derivados do convívio nos palácios. Não: o ineditismo real ou suposto da prisão de gente de "sangue azul" não é o que me entristece.

Na hora em que li a notícia da prisão iminente dos cérebros do "mensalão" veio-me à mente uma frase de Leon Trotsky, pronunciada perante uma maioria stalinista hostil que o isolava no Partido Comunista: "Em última análise, o Partido está sempre certo, porque é o único instrumento histórico que a classe trabalhadora tem para a solução de suas tarefas fundamentais. Só podemos ter razão com o Partido e através do Partido, porque a História não criou nenhuma outra forma para a realização do nosso direito. Os ingleses têm um lema: Meu país, certo ou errado'. Com muito maior justificação, podemos dizer: meu Partido, certo ou errado." Dirceu, Genoino e Delúbio não são revolucionários, nem de longe, mas herdaram da tradição comunista a convicção de que o Partido possui direitos extraordinários, oriundos de uma aliança especial com a História. Por pensarem isso, agora se declaram "presos políticos". Sim, estou triste e sei por quê: eles não aprenderam nada, depois de um quarto de século de democracia.

Dirceu et caterva aparentemente não desviaram dinheiro público para formar patrimônios privados próprios, mas para estabilizar e reproduzir um sistema de poder. Eles fizeram o que fizeram em nome dessa ideia: a Verdade do Partido. É bom, muito bom, que a Corte diga-lhes que nossa República não reconhece nenhuma verdade transcendental. Não estou triste, mas feliz, com o triunfo da mensagem de que a corrupção em nome de uma causa, de um Partido ou da História, escrita assim com maiúscula, é um crime tão grave quanto a corrupção em nome do vil metal. Entristece-me, isso sim, a constatação inevitável de que nossa democracia, imperfeita mas real, não conseguiu civilizá-los.

Mensalao, o maior crime contra a democracia no Brasil: dez pontos essenciais - Augusto de Franco

Concordo integralmente, e até acrescentaria algo mais: o grupo criminoso, a quadrilha de meliantes políticos que assaltou o país, não fez apenas um exercício de gramcismo prático, e sim colocou em marcha uma estratégia completa de leninismo aplicado para completar seu monopólio totalitário do poder.
Nem todos eram neobolcheviques refinados. O grande chefe, por exemplo, o verdadeiro chefe da quadrilha, que por enquanto permanece ileso e tenta se consolidar como o novo mito carismático do Brasil, é um rústico, sem qualquer cultura política, econômica, histórica, ou qualquer outra, mas é dotado de uma inteligência instintiva que o faz estar à frente de todos esses golpes contra a democracia, mas fazendo outros assumir as responsabilidades pelos crimes do bando de quadrilheiros políticos. O perigo ainda não passou e nisso concordo inteiramente com Augusto de Franco.
Paulo Roberto de Almeida


10 PONTOS PARA ENTENDER O CHAMADO MENSALÃO
15/11/2013

As tentativas solertes de confundir são tantas que resolvi tirar um tempinho para redigir este decálogo (parece que ainda está na moda fazer decálogos). Lamentavelmente, porquanto - como muitos sabem - não acredito mais na velha política. É um tempo roubado das minhas tarefas mais criativas. No entanto, porque há uma questão democrática envolvida em tudo isso, fiz o sacrifício. Se vocês fizerem também o sacrifício de ler (não é muito curto), terão justificado o meu esforço.

1 - O PROBLEMA PRINCIPAL DO MENSALÃO NÃO É A CORRUPÇÃO
Chamou-se de mensalão a um esquema de compra de parlamentares e outros agentes públicos e privados comandado por altos funcionários do primeiro governo Lula e por dirigentes do Partido dos Trabalhadores. A palavra - cunhada pelo delator Roberto Jefferson - se referia à suposta periodicidade mensal dos subornos (o que não é fato). Tratou-se, aparentemente, de corrupção. Mas foi bem mais do que isso: o objetivo era capturar o Estado brasileiro e as instituições democráticas para que um grupo privado pudesse se prorrogar indefinidamente no poder falsificando na prática o princípio da alternância ou da rotatividade.

2 - O OBJETIVO DO MENSALÃO NÃO ERA ENRIQUECER INDIVÍDUOS
Os operadores do mensalão, sobretudo os seus chefes, não tinham o objetivo de enriquecer pessoalmente. Ainda que isso possa ter eventualmente acontecido aqui e ali, era uma tarefa partidária (delegada pela direção real do PT, que nunca coincidiu com sua direção formal ou legal).

3 - MENSALÃO NÃO É CAIXA 2
Não é verdade que o mensalão seja consequência do nosso imperfeito modelo de financiamento de campanhas eleitorais, porque o objetivo do esquema não era simplesmente eleitoral (formação de Caixa 2). As ações criminosas, em sua maior parte, foram praticadas em períodos não eleitorais. Eram ações permanentes, orientadas por uma estratégia maior de conquista de hegemonia no Estado e na sociedade. O mensalão configurou um inédito tipo de caixa - poder-se-ia dizer: um Caixa 3 - voltado ao financiamento de ações estratégicas legais e ilegais de uma espécie de Estado paralelo.

4 - NUNCA HOUVE OUTRO MENSALÃO NA HISTÓRIA DO BRASIL
Corrupção existe no Brasil desde as capitanias hereditárias e por isso se diz que há corrupção endêmica no país: os governos de todos os níveis são mais ou menos corruptos (ou praticam ou toleram a corrupção em maior ou menor grau), os partidos transigem mais cedo ou mais tarde com a corrupção e os agentes políticos são, em alguma medida, coniventes ou lenientes com a corrupção. Mas um esquema sistêmico - como o que foi revelado pelo processo do mensalão: pela sua abrangência, profundidade e organicidade, com comando centralizado e hierarquia operativa, com governança corporativa de holding, outsourcing e terceirização - é fato inédito na história do Brasil. Não houve nada semelhante na velha República, nem nos governos militares, nem no governo Sarney, nem no governo Collor, nem no governo Itamar, nem no governo FHC. Foi uma inovação introduzida pelo governo Lula. Caixa 2, sim, sempre existiu na maioria desses governos. Mas mensalão não foi caixa 2 e sim caixa 3.

5 - NÃO HOUVE UMA QUADRILHA ESPECÍFICA DO MENSALÃO
Embora o mensalão seja crime de quadrilha, não se formou uma quadrilha específica para praticar o mensalão. O núcleo da quadrilha já existia estruturado no partido há vários anos, como parte da estratégia de poder arquitetada por um conjunto de dirigentes partidários (que constituíam a direção de fato ou real do PT desde a década de 80). Essa estratégia teve como ponto de partida a constatação (errada) de que as elites que dominaram o país por vários séculos sempre lançaram mão de expedientes semelhantes para conquistar o poder e nele se manter e que, portanto, isso era uma espécie de imperativo da realpolitik. O erro não foi a constatação de que as elites praticaram a corrupção e sim de que elas teriam feito isso voluntariamente de forma sistêmica, em nome de uma causa ou propósito explícito e coordenado de modo centralizado; não, isso não era necessário porque o sistema era a própria corrupção institucionalizada e a corrupção dos chefes políticos - cada qual visando apenas seus próprios interesses egotistas - fazia parte desse mercado político que se autorregulava perversamente. A avaliação errada gerou um novo comportamento adaptativo (e por isso o mensalão como forma organizativa foi inédito). Com a vitória de Lula, a partir de 2003, o contingente dedicado a implementar a estratégia se deslocou para o centro do governo federal, instalando-se na presidência da República. O caso Waldomiro Diniz (assessor de Dirceu na Casa Civil) já era parte das ações da quadrilha.

6 - NÃO FOI O PT QUE PLANEJOU E EXECUTOU O MENSALÃO
A quadrilha não era o PT, se entendermos por isso o conjunto de filiados, dirigentes e instâncias formais do partido. Os que planejaram e executaram o mensalão eram uma parte dos que detinham o poder real no Partido dos Trabalhadores e que passaram a se organizar a partir da tendência originalmente chamada de Articulação dos 113, que tinha como chefes Lula e Dirceu. Sobretudo durante a década de 90, o PT foi profissionalizado - sob o comando operacional de Dirceu e seus seguidores - como uma máquina azeitada para servir de instrumento à estratégia de conquista (eleitoral) do poder e de retenção do poder (por todos os meios: eleitorais e não eleitorais, legais e ilegais) por prazo indeterminado.

7 - OS RÉUS DA AÇÃO PENAL 470 COMPÕEM UMA ÍNFIMA PARTE DOS CULPADOS PELO MENSALÃO
Os reus da Ação Penal 470 não representam nem 1% dos operadores da estratégia que veio parcialmente à luz com o nome de mensalão. Foram operadores da estratégia que - em parte - veio à luz com o nome de mensalão, todos os dirigentes e militantes subordinados à orientação do subconjunto do núcleo duro da tendência majoritária do PT que desenhou a estratégia. Esse contingente estava (e está) distribuído em instâncias do PT em todo o Brasil, nas instituições do Estado e do governo, em empresas estatais, fundos de pensão e, inclusive, em organizações privadas empresariais e sociais. Entenda-se bem: nem todos os membros desse contingente são mensaleiros. A estratégia é complexa e tem vários tipos de ações. Além disso, tal contingente não se confunde com o PT, nem com a imensa maioria de seus filiados, muito menos com seus eleitores fiéis (que nunca souberam de nada disso).

8 - O VERDADEIRO BENEFICIÁRIO DO MENSALÃO NÃO FOI PROCESSADO
O chefe supremo do núcleo duro da tendência majoritária do PT - embora tenha sido objetivamente o maior beneficiário do mensalão - não foi sequer indiciado, muito menos processado.

9 - OS DIRIGENTES CONDENADOS PELO MENSALÃO CONTINUAM NA DIREÇÃO REAL DO PT
Os atores políticos condenados pelo mensalão não são ex-dirigentes do PT (como se noticia), mas continuam, em parte, na direção real do partido: são assim acatados por quase todos e, ademais, reverenciados como grandes líderes pela militância mais aguerrida. Continuarão, ao que tudo indica, exercendo seu papel dirigente dentro da cadeia. Continuarão, estejam onde estiverem, articulando e operando a estratégia que vazou, em parte, em razão da denúncia do mensalão. E continuarão sendo obedecidos por um grande contingente de petistas, de lulistas e de seus aliados estratégicos.

10 - A ESTRATÉGIA QUE ENSEJOU O MENSALÃO CONTINUA VIGENDO
As justificativas apresentadas pelos condenados indicam que eles não estão arrependidos. As declarações ríspidas e os gestos agressivos (como o punho levantado) são um sinal de que eles acham que estão certos e de que fariam tudo outra vez. E indicam também que a estratégia que ensejou o mensalão continua vigendo. Quando reclamam que nada fizeram e que tudo não passou de um golpe das elites, isso não é apenas uma alegação de autodefesa e sim uma tática derivada da mesma estratégia de hegemonização das instituições do Estado e da sociedade com objetivos de retenção do poder em mãos de um grupo privado por longo prazo. Ao caracterizar todos os que não estão sob seu controle ou que põem reparos à sua atuação como "elites", "direita", "conservadores", essa tática visa demarcá-los como alvos de sucessivas campanhas políticas de difamação, isolamento, cerco e aniquilamento (da sua condição de atores políticos válidos perante a sociedade em uma democracia).

Enfim... o grande problema do mensalão não é a velha corrupção. Antes fosse! O dinheiro desviado não era para a locupletação de indivíduos e sim para financiar uma guerra (na 'formule-inverse' de Clausewitz-Lenin: a política como continuação da guerra por outros meios) cujo objetivo é destruir os inimigos capazes de impedir a degeneração institucional necessária e funcional para que um grupo privado possa reter autocraticamente o poder em suas mãos por prazo indeterminado, usando a democracia (notadamente as eleições) contra a própria democracia. O mensalão, portanto, é apenas a parte que veio à luz de uma estratégia maior de enfreamento do processo de democratização no Brasil. Foi, definitivamente, um atentado à democracia (como, aliás, perceberam - e declararam nos autos - os ministros do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres Britto e Celso de Mello).
 

Moises Naim e o fim do poder: um livro, um projeto, uma entrevista - Antonio Cano (El Pais)


“Las democracias no pueden estar basadas en ONG, sino en partidos”

“Es bueno que grupos marginados en la política, a los que no se prestaba atención, puedan tener influencia”, afirma el analista



La aparición de El fin del poder(Debate) ha provocado tal interés en todas partes que su autor, Moisés Naím (Caracas, 1952), lleva meses recorriendo el mundo para explicar sus tesis sobre el declive del poder tradicional a los mismos grupos a los que él identifica como víctimas o beneficiarios de ese movimiento: militares y estudiantes, obispos y mujeres, ejecutivos y académicos, políticos, funcionarios, periodistas… Todos, de alguna manera, se ven afectados por un cambio profundo y universal hacia un nuevo mundo en el que el poder está más repartido, es más fácil de perder y más fácil de conseguir.

El libro es, en cierta forma, la culminación del esfuerzo de un hombre que lleva décadas formulando un pensamiento original, independiente y provocador, aunque constructivo. Naím no tiene unos colores claros, no pertenece a ningún bando intelectual o ideológico, trata de mantenerse, no equidistante, sino a la distancia suficiente de cada uno como para poder criticarlo con libertad. Eso hace su trabajo más controvertido, pero también más valioso.

Gracias a esa cualidad, Naím ha podido escribir un libro útil para todos. Nadie va a sentirse particularmente atacado por El fin del poder, con excepción de sátrapas y abusadores. Nadie va a entender esta obra como una desautorización de sus propias ideas. En cambio, cualquiera, incluso los que están perdiendo el poder, podrán encontrar sugerencias para hacer mejor las cosas.

El fin del poder consagra a Naím como un punto de referencia del pensamiento actual. Exministro de Venezuela, todavía con un Gobierno democrático, exfuncionario del Banco Mundial, exdirector de la revistaForeign Policy y actual académico del Carnegie Endowment for International Peace, ninguno de esos cargos está a la altura de los méritos de Naím como conversador. Tras la lectura de este libro, lo único que lamentarán los lectores es no poder comentarlo con el autor, como yo hago a continuación.

Pregunta. Después de leer El fin del poder me quedé con la impresión de que estaba ante un excelente libro, pero ante una mala noticia. Sé que usted es más optimista.

Respuesta. Una de las experiencias más interesantes que he tenido desde la aparición de este libro es que he descubierto que es una especie de test de Rorscharch, una mancha en la que cada uno cree ver una cosa diferente. Hay argumentos muy válidos sobre que el libro es una visión preocupante sobre el futuro, un futuro en el que hay más anarquía, en el que grupos pequeños, gente con ideas extremas, que yo llamo terribles simplificadores, que de alguna manera, debido a que el poder se ha hecho más fácil de obtener, tienen ahora más poder. Entre ellos están el Tea Party, los grupos de extrema derecha en Europa, los populistas de América Latina, gente con malas ideas y que alcanza un poder desproporcionado con relación a su tamaño. Esa es la visión pesimista.

P. ¿Y la optimista?

R. La visión optimista es que también hay que gente con buenas ideas que logra más fácilmente ahora hacer progresar la humanidad. Es decir que un grupo de jóvenes puede reunirse y crear una empresa y conseguir, gracias a las nuevas oportunidades que existen, capital, clientes y crecer rápidamente en espacios que antes habían sido monopolizados por las grandes empresas tradicionales. Ese es un mundo mejor, un mundo en el que los monopolios, los tiranos, los autócratas, los concentradores de poder están más inseguros.

P. Parece bueno en el ámbito de la empresa. Pero ¿lo es en la política?

R. Es bueno que, en la política, grupos que antes estaban marginados, a los que no se prestaba atención, puedan ahora tener influencia. Eso es una buena noticia. La mala noticia es la aparición de lo que Frank Fukuyama llama “las vetocracias”, es decir, las democracias en las que existen un grupo de actores, de individuos, que no tienen la autoridad para imponer una agenda, pero tienen el poder de bloquear el juego, de vetarlo. Lo hemos visto recientemente en Estados Unidos, pero los vemos en otras partes. Treinta de los treinta y cuatro países miembros de la OCDE tienen jefes de Gobierno de partidos distintos a los que controlan sus Parlamentos, es decir, tienen que vivir en coaliciones difíciles, ineficaces, que toman decisiones tardías, malas, diluidas.

Hay tres veces más jóvenes que en 1950. Y son menos tolerantes con las estructuras tradicionales de autoridad”

P. Entiendo El fin del poder como el declive del poder. Creo que podemos estar de acuerdo en que el poder no ha cambiado de manos todavía. Puede que quienes lo han tenido siempre tengan hoy menos, pero conservan mucho aún. ¿No es así?

R. Sería una insensatez no admitir que existen personas, grupos, instituciones que aún conservan un enorme poder, desde el Vaticano hasta el Pentágono, del Partido Comunista Chino al Partido Republicano de Estados Unidos, de J. P. Morgan y los grandes bancos a Google, las potencias en el deporte o en Hollywood. Claro que hay grupos con enorme poder. Lo que argumenta el libro es que esos que tienen el poder hoy tienen más restricciones para ejercerlo y son más vulnerables a perderlo.

P. Usted alude a una frase de Zbigniew Brzezinski según la cual hoy es más fácil matar a 100 millones de personas que controlarlas. Yo no estoy muy seguro. Yo veo, por ejemplo, cientos de millones de personas perfectamente controladas en China.

R. Pero también ve 120.000 manifestaciones callejeras al año en China. En China hay una intensidad de protestas como no se ha conocido nunca desde que el Partido Comunista está en el poder. Por supuesto que en China, en Irán, en Cuba, en Bielorrusia, en la misma Rusia de Putin, existe un control férreo. Lo que argumento es que ese control es hoy más difícil que antes.

P. ¿Y eventualmente desaparecerá?

R. Eventualmente cambiará. Es muy difícil que la cúpula del poder en China no sufra transformaciones profundas en los próximos 10 años. No digo que se va a transformar en una democracia suiza, pero digo que el régimen leninista de partido único que todo lo controla monolíticamente va a ser muy difícil de sostener.

P. Otras personas que han analizado los cambios registrados en el mundo en los últimos años tienden a explicarlos principalmente como una consecuencia de la revolución digital. Usted parece darle una importancia menor a ese fenómeno.

R. Yo le atribuyo a la revolución digital muchísimo valor, pero no la considera la variable fundamental de lo que está pasando. Las nuevas tecnologías, las redes sociales son instrumentos, instrumentos que poseen unos usuarios, y estos tienen, a su vez, unos motivos y una dirección. Para mí, lo más importante es entender cuáles son las fuerzas que mueven a esos usuarios. En el libro, lo que hago es describir esas fuerzas, que van desde la demografía, hasta las necesidades económicas, la urbanización… Estamos viviendo en el mundo más urbano de la historia. Desde 2007 hay más personas viviendo en la ciudad que en el campo. Este es el planeta más joven que ha tenido la historia, el de mayor número de población joven. La población menor de 30 años es tres veces mayor de lo que era en 1950. Todo eso, la educación, la ingesta calórica… Todo eso es lo que mueve a esos usuarios y lo que ha dado lugar a lo que yo en el libro llamo las tres revoluciones: la del más, la de la movilidad y la de la mentalidad.

P. Es sabido que ni la edad es garantía de sabiduría, ni la juventud de innovación. ¿Por qué el hecho de que la población sea más joven es un factor de cambio?

“El mundo que viene será más inseguro para dictadores y autócratas. Su permanencia en el poder será más corta”

R. Yo me limito a decir que los jóvenes son menos tolerantes con las estructuras tradicionales de autoridad.

P. No estoy seguro de si los jóvenes deOcupa Wall Street o las protestas en Europa desafían la autoridad o reclaman beneficios perdidos.

R. Desde mi punto de vista, lo importante no eso. Para mí, lo importante es, primero, que hoy hay más jóvenes que nunca; segundo, que los jóvenes se comportan socialmente de forma distinta a las personas de más edad; tercero, que el número de jóvenes que se manifiesta en Wall Street o en las calles europeas es menor al número de jóvenes que van todos los días a trabajar a una fábrica en China, y cuarto, que las razones por las que protestan los jóvenes en los países ricos son distintas a las razones por las que protestan en Chile, Brasil o Turquía. Ocupa Wall Street y los jóvenes europeos protestan porque quieren proteger sus estándares de vida de clase media. En el mundo menos desarrollado, las razones para salir a la calle están relacionados con la insatisfacción por los servicios públicos.

P. ¿Qué es lo que está ocurriendo, entonces, en común en todos los países?

R. Esas tres revoluciones —más, movilidad y mentalidad— están ocurriendo en todos los países, son universales y tienen en común que socavan las barreras que protegen a los poderosos.

P. ¿Y no socavan también las estructuras de los Estados democráticos?

R. Absolutamente. Y en algunos casos hemos visto cómo los Estados generan anticuerpos. En Estados Unidos, después de que hemos visto de qué manera el Tea Party bloqueaba la acción política, ahora tenemos encuestas que indican que ha perdido popularidad.

P. Es decir, que no todos los desafíos al poder establecido tienen un carácter positivo. Algunos son incluso muy negativos.

R. Absolutamente. Por eso, el libro incluye con mucha alarma lo que llamo terribles simplificadores. Yo soy muy duro contra los que predican la antipolítica.

P. Esa antipolítica está justificada por la crisis de los partidos políticos tradicionales. Quizá nada represente mejor el fin del poder que el desprestigio casi universal de los partidos políticos.

R. Ese descrédito comenzó con la caída del muro de Berlín y el declive de la ideología como el elemento fundamental que diferencia a los partidos políticos. Cuando la ideología desapareció como elemento de contraste entre los partidos, estos tuvieron que refugiarse en el clientelismo, en el pragmatismo, y crecieron los malos hábitos. Este catastrófico descenso de los partidos políticos ha coincidido con un formidable ascenso de las organizaciones no gubernamentales (ONG). Yo he descubierto que es más fácil sumar a los jóvenes a una ONG para salvar las mariposas que a un partido político. Las ONG se han convertido en la gran atracción de los idealistas de toda edad, lo cual es desastroso para la democracia. Las democracias no pueden estar basadas en ONG, tienen que estar basadas en partidos políticos.

P. ¿Qué se puede hacer para cambiar esa dinámica?

Los países grandes son difíciles de manejar políticamente, pero los demasiado fragmentados no son competitivos”

R. Los partidos políticos tienen que hacerse más transparentes, más abiertos, y tienen que volver a atraer a todas esas personas que quieren cambiar el mundo.

P. El regreso del PRI en México, el monopolio del peronismo en Argentina o la continuidad del PT en Brasil, ¿cómo se explican en ese contexto?

R. Yo interpreto esos tres casos como una confirmación de las tendencias que explico en el libro. El PRI no ganó esta vez por las trampas que podía hacer gracias a su inmenso poder. Ganó en buena lid dentro de lo que, gracias a las reformas de Ernesto Zedillo, es probablemente el sistema electoral más transparente del mundo. Pero si el PRI quisiera hoy quedarse por la fuerza no lo conseguiría. Enrique Peña Nieto es mucho menos poderoso que Carlos Salinas o Luis Echeverría. Igual en Argentina o Brasil. Cada uno de los actuales presidentes tiene menos poder que sus antecesores. Dilma Rousseff tiene menos poder que Lula, y Cristina Fernández tiene menos poder que su marido. Los votantes argentinos le acaban de dar una paliza a un Gobierno que claramente es ventajista y abusivo.

P. En España, quizá Mariano Rajoy es el presidente de Gobierno con menos poder de la democracia, comparado con Felipe González o con José María Aznar. Algo parecido puede decirse del jefe de la oposición. ¿Obedece eso también al declive de los partidos políticos?

R. Indudablemente. Los mecanismos de los partidos políticos españoles para involucrar a la sociedad no están funcionando.

P. Uno de los signos del fin del poder que usted analiza en su libro es el debilitamiento de los Estados nacionales y el fortalecimiento de las regiones. Desde esa perspectiva, ¿qué juicio tiene de las reclamaciones de independencia en Cataluña?

R. Primero habría que hacerse una pregunta que trasciende a España, que es: ¿cuál es la dimensión ideal de un estado en el mundo moderno? La respuesta es que el tamaño óptimo de un país en el siglo XXI es grande, desde el punto de vista económico, pero pequeño, desde el punto de vista político. Los países más grandes son más difíciles de manejar políticamente, pero los Estados demasiado fragmentados no son competitivos en el mundo de hoy. Esa contradicción se da en España, pero también en Rusia, en China, en muchas partes. En el caso de España, existen dudas sobre los efectos que podrían producirse para la prosperidad de las regiones pequeñas que pretenden independizarse de la España grande.

P. ¿Usted ve el Estado central o centralizado como un enemigo o un obstáculo de la democracia?

R. Una de las lecturas más fascinantes que existen es la de la angustia intelectual de Jefferson, Madison y los padres fundadores de Estados Unidos sobre cómo conseguir el equilibrio perfecto entre mantener los Estados unidos, respetando al mismo tiempo su independencia, su autonomía. Ellos sabían que ambas cosas son necesarias. No se trata de elegir entre ambas opciones. Lo importante es el diseño que se hace en el siglo XXI para combinar los deseos de las regiones con las necesidades de un Gobierno central. El que haga mal ese diseño, se rompe.

P. ¿Es el mundo actual más inseguro, y para quién? ¿Para los poderosos o para los ciudadanos?

R. El mundo es, ha sido y será variado y volátil en cuanto a seguridad. Algunos países son hoy mucho menos seguros de lo que habían sido antes para los ciudadanos, mientras que otros lo son mucho más. Por ejemplo, en mi país, Venezuela, se vive una pesadilla diaria de inseguridad ciudadana que no tiene precedentes en nuestra historia. En contraste, Colombia es hoy más segura para sus ciudadanos de lo que era antes. Pero, más allá de ejemplos individuales, las tendencias mundiales son, en general, muy positivas. Como ha demostrado Steven Pinker en su libro (The better angels of our nature: why violence has declined), basándose en una enorme cantidad de datos, la violencia ha venido declinando durante milenios, y hoy vivimos la época más pacífica en la historia de la humanidad. Yo creo que el mundo en general tiende a ser más seguro. La gran amenaza que se cierne sobre nuestra seguridad ya no se origina en lo que los humanos nos hacemos los unos a los otros, sino de lo que le hemos hecho y le seguimos haciendo al medio ambiente. Pero de lo que no hay duda es de que el mundo de hoy, y aun más el que viene, es más inseguro para dictadores, autócratas y monopolistas. Claro que estos siguen existiendo y son poderosos. Pero su permanencia en el poder es hoy menos segura y será cada vez más corta.

P. Hablemos, dentro de la revolución de la movilidad, de los hispanos en EE UU. ¿Son una verdadera fuerza transformadora o una mera circunstancia coyuntural?

R. Son una fuerza transformadora. Son la clase media de más rápido crecimiento en el mundo. Su poder adquisitivo en EE UU aumenta a tasas que no tienen comparación. Pero su participación en la política es todavía incipiente, desorganizada y carecen de las organizaciones que canalicen un liderazgo, y los dos grandes partidos todavía no saben cómo apoyarse en esta masa de votantes. La fuerza fundamental de los hispanos es la demografía. El problema es que la categoría de hispanos es muy dudosa, y todavía no hemos llegado al punto en el que todos los que hablan español en EE UU pertenecen a una misma comunidad.

P. Usted escribió este libro antes de que estallase el escándalo de Edward Snowden. De haberlo hecho después, ¿lo habría incluido? ¿Es elcaso Snowden una manifestación más del fin del poder?

R. Absolutamente. No hay ninguna duda de que lo es. Como lo es la renuncia del papa Benedicto, como lo es la multa de 13.000 millones de dólares al J.<TH>P.<TH>Morgan, como lo es el hecho de que la gran superpotencia se viera incapaz de intervenir en el país al que había advertido que no utilizara armas químicas, aunque las utilizó. Lo que tienen en común estos casos es la transferencia del poder a pequeños actores que tienen un poder desproporcionado. La CIA acaba de informar de que el daño que Snowden le ha hecho a la inteligencia de Estados Unidos es el mayor de la historia.

P. ¿Cuál es su opinión sobre Snowden?

R. Yo creo que Snowden ha provocado un debate necesario, un debate importante, pero miro sonriente, con cinismo, cuando veo a los presidentes de otros países rasgándose las vestiduras cuando descubren, con hipócrita sorpresa, que son espiados. Son presidentes que, a su vez, espían a sus colegas. Entonces, es un debate importante, pero va a ser inútil, a menos que se lleve a cabo de una manera realista, sincera y no hipócrita.

P. ¿Cuál es el segundo volumen de El fin del poder? ¿Qué viene después?

R. El siguiente libro tendrá que ser sobre cómo se vive en un mundo donde las tendencias que ahora describe se consoliden.

P. Eso va a llevar, ¿una década?

R. Sí, una década, más o menos.

Alguem ainda tem duvida sobre quem exerce o comando? - Merval Pereira

Se alguém ainda tivesse alguma dúvida sobre quem é o chefe de tudo, mas de tudo mesmo, como nunca antes aconteceu neste país, nem mesmo com Getúlio, esta matéria do jornalista e acadêmico Merval Pereira a dirimiria de vez.
Aliás, o teor da matéria interessa menos do que essa nova confirmação: estamos em uma situação de proxy government, de governo por substituição, enfim, um simples detalhe na cadeia de comando. Aliás, a palavra cadeia é também apropriada, neste caso ausente dessa outra cadeia.
Nem na Máfia se gozou de tamanha impunidade.
Paulo Roberto de Almeida

Enviado por Ricardo Noblat - 
17.11.2013
 | 
08h02m
POLÍTICA

As prioridades, por Merval Pereira

Merval Pereira, O Globo

Nos bastidores, ele e a presidente Dilma fazem um balanço das consequências políticas das prisões e concluem que no final foi bom que saíssem ainda em 2013, pois quando começar o período de campanha eleitoral o assunto já estará ultrapassado e não afetará a campanha de reeleição de Dilma.

É assim, entre o pragmatismo eleitoral e a esperança insinuada de que uma hora Lula revelará verdades sobre o mensalão, que o PT vai levando a vida no poder.

Quem se der ao trabalho de fazer uma pesquisa sobre as reações de Lula no curso desse processo, que começou em 2005 com a denúncia de Roberto Jefferson, vai constatar que o ex-presidente nunca teve muita convicção sobre como enfrentar as denúncias contra o PT.

 

Lula, Ex-presidente do Brasil

 

De um presidente amedrontado e encurralado pelas denúncias, que chegou a pedir desculpas ao povo brasileiro, ao político arrogante, que insinuou ter revelações nunca feitas sobre o caso, Lula oscilou e oscila até hoje enquanto espera o momento apropriado para deslanchar a campanha pela manutenção do poder petista, que é o que realmente lhe interessa.

Se a reeleição da presidente Dilma for o caminho mais natural para essa eternização no poder, lá estará Lula para comandar a campanha. Mas se for preciso entrar em campo para garantir o poder petista, Lula não se furtará à missão. Há vários indícios, que se acumulam, de que ele já está com a mão na massa para assumir a tarefa, diante da estagnação da presidente Dilma nas pesquisas eleitorais.

Mesmo favorita, ela parou em torno dos 40% de preferência há alguns meses, e esse é um sintoma de que pode ter atingido seu teto. Nunca é demais lembrar que por esta época, na eleição de 2010, o então governador de São Paulo, José Serra, estava na frente das pesquisas com os mesmos 40% de preferência.

 A situação atual é favorável a Dilma, que tem a caneta mais poderosa da República e, a dar-lhe respaldo, Lula, o cabo eleitoral mais eficiente que se pode ter. Mas o nível de desconfiança do PT com Dilma é tão alto que qualquer indício de que sua candidatura pode representar um risco para o projeto petista de permanecer no governo é superdimensionado para permitir a inclusão no debate da necessidade de Lula tomar a frente da campanha como candidato, não como coadjuvante.

O projeto de permanecer no poder por 20 anos ou mais não é exclusivo do PT e em si mesmo não representa nenhum problema. Collor tinha o mesmo projeto, e também o PSDB. O problema passa a existir quando a maneira de se atingir o objetivo foge das regras democráticas.

O PSDB beirou esse limite quando fez aprovar a reeleição para Fernando Henrique, pois embora a tenha aprovado no Congresso, o mais correto seria que a regra passasse a valer para o próximo presidente da República.

As acusações de corrupção para a aprovação são frágeis, pois a reeleição interessava naquele momento a todos os governadores e prefeitos em exercício, não havendo necessidade de uma ação corruptora em espécie. Casos isolados refletem mais questões políticas locais.

E o PT com o mensalão extrapolou qualquer limite, montando um esquema de compra de apoio no Congresso mediante pagamento. O interessante é que esse esquema só existiu porque Lula se recusou a colocar o PMDB no ministério, como negociado por José Dirceu, obrigando que um Plano B fosse colocado em ação para garantir a maioria no Congresso.

Depois de se ver ameaçado pelo impeachment, Lula abriu as portas de seu governo a qualquer partido, dando-lhe nacos do poder em troca da fidelidade, um mensalão menos rude. É o que chamo de maioria defensiva, serve apenas para evitar ações contra o governo, não para fazer reformas ou para ousadias governamentais.