País é dos que mais perdem com acordo de EUA e Europa
RENATA AGOSTINI
DE BRASÍLIA
Um acordo de livre comércio entre Estados Unidos e União Europeia pode redesenhar a economia global e ter o Brasil como um dos grandes prejudicados.
Caso seja de fato concluído, o tratado pode levar o país a experimentar uma queda em suas exportações, equivalente a uma redução de até 2,1% de seu PIB per capita, num cenário em que taxas de importação sejam zeradas e outras barreiras eliminadas, como padronizações conflitantes e reservas de mercado.
O cálculo, da Universidade de Munique, mede os efeitos, em 126 países, do acordo.
EUA e União Europeia discutem desde o início do ano um tratado de livre-comércio. A expectativa é que até o fim do ano que vem seja fechado um acordo que une quase metade do PIB global e um terço do comércio mundial.
| AlexArgozino/Editoria de Arte/Folhapress |
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O estudo mostra que todos os países fora do novo bloco registrarão queda nas vendas ao exterior e, consequentemente, perderão receitas. A Coreia do Sul seria exceção.
Os países europeus terão ganhos variados de até 10% na renda média de seus cidadãos, e os Estados Unidos serão os maiores vitoriosos, com ganho de 13,4%.
A queda das receitas para o Brasil ocorrerá nos dois destinos, segundo o estudo. Somente para os EUA, a perda seria de 30% das vendas. Os dois blocos absorvem um terço das exportações do país.
"O mundo caminha para o fim das tarifas. Se houver um acordo entre EUA e UE, começará a haver um isolamento do Brasil", diz Carlos Abijaodi, diretor da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Entre os Brics, o Brasil perderá tanto quanto a Rússia (2,1%), será menos prejudicado que a África do Sul (3,2%), mas ficará em desvantagem em relação a Índia (1,7%) e China (0,4%).
OUTROS EFEITOS
O estudo não contempla os efeitos para o Brasil caso uma área de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia seja também criada.
Empresários brasileiros defendem que, diante das negociações entre EUA e europeus, o país deveria acelerar as tratativas para se proteger.
"Neste caso o ataque é a melhor defesa. Se eles fecharem um acordo antes do nosso, podem dizer que terão de seguir o padrão já fechado com os EUA. Teríamos de recomeçar toda a negociação e nos ajustar a outras condições", afirma Abijoadi.
Reportagem da Folha desta semana mostrou que a indústria nacional está defendendo um acordo de livre-comércio com os EUA. O Ministério de Desenvolvimento afirmou, porém, que não há conversas no momento sobre esse tema e que o foco é um acerto com a Europa.
2 comentários:
Muito interessante, Paulo, um acordo de livre comércio entre uma Europa (Zona do Euro) decadente e um EUA também caindo financeiramente e politicamente, durante governo Obama. Acho que não traria tantos benefício para o país mais aberto do mundo (EUA), mas penso no impacto sobre países como Grécia, Irlanda e Portugal, já em crise.
Sobre o Brasil, nada muito a acrescentar sobre o que você disse. Prejudicamos há décadas nosso povo, com a defesa de setores sindicais e industriais.
Abraço,
Pedro Erik
O artigo analisa as perdas para o Brasil em termos de PIB. Este cálculo é muito adequado para avaliar nosso subdesenvolvimento. Se o Brasil tivesse um desenvolvimento capitalista normal, teria um PIB próximo ao dos EUA, em torno de 40 mil dólares percapita, o que daria 8 trilhões de dólares. A diferença pode ser medida, mas a contabilidade das perdas, se começasse a ser lançada em 1900 poderia revelar uma história econômica em que a pior opção seja reveladora de uma mentalidade produzida no nosso modelo político peculiar, como tentei demonstrar no artigo http://dnabrasilis.blogspot.com.br/2012/01/10-perda-do-capital-social.html
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