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sábado, 23 de novembro de 2013

Direitos e privilegios, ou a hipocrisia dos companheiros - Fernando Rodrigues

Os companheiros constituem aquilo que um dissidente do comunismo titoista, Milovan Djilas, chamou, ainda em meados dos anos 1950, de "nova classe", na verdade uma nova elite, mais apropriadamente chamada, por Reinaldo Azevedo, de "burguesia do capital alheio".
Eles ainda tem a pretensão de representar os trabalhadores. Na verdade estão roubando os trabalhadores, a classe média, os industriais, os banqueiros, enfim, a burguesia.
No fundo, no fundo, são apenas isso: ladrões!
Aliás, é por isso que uma pequena parte foi parar na cadeia: por roubar descaradamente.
Mas apenas uma pequena parte; muitos outros ficaram de fora, inclusive o maior ladrão de todos, o maior mentiroso, o maior fraudador, o mais hipócrita de todos.
Paulo Roberto de Almeida

Direitos e privilégios

Fernando Rodrigues
Folha de S.Paulo, 23/11/2013

BRASÍLIA - José Genoino teve um problema cardíaco grave em julho. Sua aorta estava em mau estado. Recebeu uma prótese de 15 centímetros para substituir parte dessa artéria. A cirurgia durou oito horas. Fumante durante décadas, é hipertenso e sofreu uma isquemia cerebral.
Alguém nessas condições deve receber tratamento adequado quando é preso? A resposta sensata é sim. Mas, para o senso comum, ninguém, exceto algum privilegiado, é tratado com a humanidade devida no sistema prisional brasileiro.
Na frente da penitenciária da Papuda, em Brasília, dezenas de parentes de presos precisam dormir ao relento na véspera do dia da visita semanal. Recebem então uma senha às 6h da manhã. Depois, têm de caminhar até cerca de três quilômetros para encontrar o sentenciado.
Essas pessoas vivem um pesadelo semanal. Na quarta-feira, presenciaram uma visita inusitada à Papuda. Era o governador de Brasília, Agnelo Queiroz, do PT. Ele queria vistoriar as condições locais depois que os mensaleiros chegaram.
Dezenas de deputados, amigos e parentes dos mensaleiros furaram a fila e entraram na prisão. Aliás, ninguém explicou até agora por que congressistas entram numa penitenciária quando bem entendem.
Genoino passou mal na quinta-feira devido à pressão alta. Foi para um hospital. Antes, teve tempo suficiente para dar uma entrevista e posar para uma fotografia --material publicado neste fim de semana pela revista "Isto É". O título da reportagem: "Jamais deixarei a luta política".
Ontem, telefonei para a assessoria do governo de Brasília. Queria conhecer dados sobre a administração da Papuda. Ou quantos presos por lá têm pressão alta. Não tive resposta.
Esses são os fatos. Fico aqui na torcida pelo pronto restabelecimento de José Genoino. E para que todos os presos da Papuda tenham o mesmo tratamento recebido até agora pelo deputado e ex-presidente do PT. 
Fernando Rodrigues é repórter em Brasília. Na Folha, foi editor de "Economia" (hoje "Mercado"), correspondente em Nova York, Washington e Tóquio. Recebeu quatro Prêmios Esso (1997, 2002, 2003 e 2006).
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A sós
O presídio da Papuda corre risco de rebelião por regalias para poucos. Uma cena flagrada na Sexta: o detento José Dirceu recebeu a mulher numa sala da direção.

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