O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sábado, 23 de novembro de 2013

Direitos e privilegios, ou a hipocrisia dos companheiros - Fernando Rodrigues

Os companheiros constituem aquilo que um dissidente do comunismo titoista, Milovan Djilas, chamou, ainda em meados dos anos 1950, de "nova classe", na verdade uma nova elite, mais apropriadamente chamada, por Reinaldo Azevedo, de "burguesia do capital alheio".
Eles ainda tem a pretensão de representar os trabalhadores. Na verdade estão roubando os trabalhadores, a classe média, os industriais, os banqueiros, enfim, a burguesia.
No fundo, no fundo, são apenas isso: ladrões!
Aliás, é por isso que uma pequena parte foi parar na cadeia: por roubar descaradamente.
Mas apenas uma pequena parte; muitos outros ficaram de fora, inclusive o maior ladrão de todos, o maior mentiroso, o maior fraudador, o mais hipócrita de todos.
Paulo Roberto de Almeida

Direitos e privilégios

Fernando Rodrigues
Folha de S.Paulo, 23/11/2013

BRASÍLIA - José Genoino teve um problema cardíaco grave em julho. Sua aorta estava em mau estado. Recebeu uma prótese de 15 centímetros para substituir parte dessa artéria. A cirurgia durou oito horas. Fumante durante décadas, é hipertenso e sofreu uma isquemia cerebral.
Alguém nessas condições deve receber tratamento adequado quando é preso? A resposta sensata é sim. Mas, para o senso comum, ninguém, exceto algum privilegiado, é tratado com a humanidade devida no sistema prisional brasileiro.
Na frente da penitenciária da Papuda, em Brasília, dezenas de parentes de presos precisam dormir ao relento na véspera do dia da visita semanal. Recebem então uma senha às 6h da manhã. Depois, têm de caminhar até cerca de três quilômetros para encontrar o sentenciado.
Essas pessoas vivem um pesadelo semanal. Na quarta-feira, presenciaram uma visita inusitada à Papuda. Era o governador de Brasília, Agnelo Queiroz, do PT. Ele queria vistoriar as condições locais depois que os mensaleiros chegaram.
Dezenas de deputados, amigos e parentes dos mensaleiros furaram a fila e entraram na prisão. Aliás, ninguém explicou até agora por que congressistas entram numa penitenciária quando bem entendem.
Genoino passou mal na quinta-feira devido à pressão alta. Foi para um hospital. Antes, teve tempo suficiente para dar uma entrevista e posar para uma fotografia --material publicado neste fim de semana pela revista "Isto É". O título da reportagem: "Jamais deixarei a luta política".
Ontem, telefonei para a assessoria do governo de Brasília. Queria conhecer dados sobre a administração da Papuda. Ou quantos presos por lá têm pressão alta. Não tive resposta.
Esses são os fatos. Fico aqui na torcida pelo pronto restabelecimento de José Genoino. E para que todos os presos da Papuda tenham o mesmo tratamento recebido até agora pelo deputado e ex-presidente do PT. 
Fernando Rodrigues é repórter em Brasília. Na Folha, foi editor de "Economia" (hoje "Mercado"), correspondente em Nova York, Washington e Tóquio. Recebeu quatro Prêmios Esso (1997, 2002, 2003 e 2006).
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A sós
O presídio da Papuda corre risco de rebelião por regalias para poucos. Uma cena flagrada na Sexta: o detento José Dirceu recebeu a mulher numa sala da direção.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

ONU, um parque de dinossauros? - Fernando Rodrigues (Folha SP)

A baboseira na ONU
Fernando Rodrigues
Folha de S.Paulo, 25/09/2013

Adolescente e trotskista, um dia já enxerguei beleza na Declaração Universal dos Direitos Humanos, um dos pilares da ONU. Foi quando um amigo mais velho do partidão, cheio de sarcasmo, disse: "Não seja ingênuo. A ONU é uma ficção. Não serve para nada. Quem manda lá são os EUA e seus satélites".

Anos depois, já como correspondente da Folha em Nova York, em 1988, trabalhei em uma pequena sala que servia de escritório para o jornal dentro do prédio principal da ONU. Convivi com diplomatas e funcionários públicos mundiais por algum tempo. Ineficiência e inutilidade são as duas palavras que me ocorrem para definir o que presenciei de perto.

Paulo Francis, meu chefe à época em Nova York, desdenhava a ONU de maneira ferina. "É um cabide de empregos para vagabundos desfilarem de sarongue para cima e para baixo", dizia ele. Descontado o preconceito, Francis tinha uma certa razão.

Lembrei-me disso ontem ao assistir ao discurso da presidente Dilma Rousseff na ONU. Ela falou contra a espionagem dos EUA no Brasil. Anunciou "propostas para o estabelecimento de um marco civil multilateral para a governança e uso da internet" em nível mundial visando a "uma efetiva proteção dos dados".

Quase tive um ataque de narcolepsia só de pensar em como tramitaria tal ideia dentro da ONU. A chance de algo efetivo prosperar ali dentro é menor do que zero.

Dilma faria melhor se buscasse equipar o Brasil contra ataques cibernéticos. A presidente faz o oposto. Engavetou um projeto de Política Nacional de Inteligência, que cria diretrizes para o Estado brasileiro se prevenir contra ações de espionagem. O texto está pronto e parado, no Planalto, desde novembro de 2010.

É mais fácil ler um discurso feito pelo marqueteiro no teleprompter na ONU do que trabalhar duro em casa. Para azar de Dilma, é possível perceber a distância entre o que ela fala e o que, de fato, faz.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Brasil-Bolivia deslancha forte ataque ao Itamaraty - Fernando Rodrigues

O autor concentra seus ataques ao Itamaraty, de maneira errática e pouco racional; o autor talvez tenha razões pessoais para ter raiva do Itamaraty, mas ele passa por cima do fato que a política externa desses anos não foi feita, em grande medida, no Itamaraty e sim no Planalto, com todos os aparatchiks do PT distorcendo posições da diplomacia profissional em favor de suas obsessões ideológicas,quando não no interesse de seus mestres cubanos.
PRA

Opinião: a incompetência do Itamaraty e do governo

Blog Fernando Rodrigues, 26/08/2013 23:41

O episódio do senador boliviano que fugiu para o Brasil tem vários aspectos. O mais relevante é o que expõe a extrema incompetência do serviço público brasileiro, a falta de capacidade gerencial e um pendor por colocar sempre a culpa em algum sujeito oculto –ou em alguém que acaba demitido e pagando o pato sozinho.


Tome-se como verdadeira a fantástica história do encarregado de negócios do Brasil na embaixada em La Paz, na Bolívia, Eduardo Saboia. Ele teria tomado sozinho a decisão de fugir com o senador boliviano Roger Pinto Molina.
Tome-se também como verdadeiro o fato de o então Ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, não saber de nada. E que, pior ainda, a presidente da República, Dilma Rousseff, também estava em completa ignorância até o senador boliviano chegar a terras brasileiras.
Aí vem a pergunta: como é possível a sexta ou sétima economia do planeta não ter um sistema de filtros e de freios e contrapesos internos para prever que algo tão disparatado estava para acontecer? O encarregado Eduardo Saboia enviou centenas de e-mails de alerta.
É relevante não esquecer que o caso se refere à Bolívia. Por mais que exista um abominável preconceito contra o país vizinho, trata-se de um parceiro essencial do Brasil. Consome-se aqui gás vindo de lá. A fronteira entre as duas nações é extensa. Enfim, não se trata de um país remoto e pouco relevante para os brasileiros. Ainda assim, por muito tempo a embaixada em La Paz estava sem um titular.
demissão de Antonio Patriota do cargo não resolve em absolutamente nada o problema. E qual foi e é o problema? A péssima administração do Ministério das Relações Exteriores. Essa deve ser a pasta na qual a relação custo-benefício talvez seja a pior de todas para os contribuintes brasileiros.
No Itamaraty os salários são os melhores. Os diplomatas passam um tempo estudando e já recebendo os salários durante a fase no Instituto Rio Branco. Sabem falar inglês. Conhecem as regras de boas maneiras, pegam nos talheres corretamente e sabem escolher um vinho. Quando vão para um posto no exterior, viajam bem e podem levar um contênier com suas mudanças. Educados na superfície, produzem uma miragem: seriam a ilha de excelência no depauperado serviço público nacional.
É um erro crasso cair nessa esparrela. O valor de recursos que consomem faz dos diplomatas brasileiros menos eficientes comparativamente do que o pobre coitado que trabalha numa repartição pública qualquer e não tem um centésimo dos benefícios do Itamaraty.
Até porque, afinal, qual foi a grande contribuição da diplomacia brasileira em anos recentes para que o Brasil prosperasse? É difícil dizer. Durante os anos FHC e Lula, foram esses políticos-presidentes os responsáveis pelo certo avanço da diplomacia brasileira, cada um a seu jeito. Não foram grandes diplomatas que tiveram ideias e propuseram uma política externa mais arrojada. Não fossem os presidentes, o país andaria de lado no cenário internacional e com a sabujice de sempre da maioria dos egressos do Itamaraty.
Com as exceções de sempre, o Itamaraty é um serpentário habitado por fofoqueiros que vivem falando mal do colega da mesa ao lado, tomando cefezinho, pensando na piada que farão com o desafortunado que foi removido para a África ou no sortudo que acabou de ser nomeado para Roma ou Paris.
Já estou na estrada há muito tempo. Nos tempos de correspondente em Nova York, Tóquio e Washington, nunca recebi a menor colaboração profissional para obter informações –além do básico– por parte de diplomatas. Como estudante na Bélgica e na Inglaterra, pior ainda. Estudantes brasileiros no exterior são quase desprezados pelos diplomatas e pelo corpo consular. O tratamento é a pontapés. Sem contar o preconceito latente. Em terras estrangeiras, diplomatas brasileiros agem como se fosse europeus –mas não sabem como são típicos e apenas provocam vergonha alheia.
Agora, ficará no ar, como se fosse um fato isolado, a inépcia de Patriota e de outros que deixaram a representação da Bolívia acéfala. Dilma demitiu o ministro. Tudo bem? Não. A responsabilidade é também da presidente e de seus antecessores –FHC e Lula incluídos– que nunca se preocuparam para valer em colocar essa tropa abúlica de punhos de renda para trabalhar de verdade a serviço do país –e faço sempre a ressalva de que há exceções.
A laborfobia reinante no Itamaraty, o espírito macunaímico da maioria dos diplomatas brasileiros (não todos) é que produz patetadas como essa recente na Bolívia.
Dilma demitiu Patriota. Mas o que ela fará para fazer com que os diplomatas peguem no batente e melhorem a governança do Itamaraty? Ninguém sabe. Nem ela.
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