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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 20 de abril de 2014

Petrobras: o fosso da corrupcao cada vez mais fundo...

... já deve ter ultrapassado a profundidade do pré-sal...
Paulo Roberto de Almeida 

 Novas provas de corrupção na Petrobras
ÉPOCA revela mais suspeitas de gestão temerária – e também de irregularidades – dentro da estatal

Diego Escosteguy, com Marcelo Rocha, Murilo Ramos e Flávia Tavares

Na manhã da segunda-feira, dias após o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter convocado os petistas a defender a Petrobras das mais graves acusações de corrupção na história, a presidente Dilma Rousseff trocou o discreto tailleur preto da Presidência pela clássica jaqueta laranja da estatal. Deixou a labuta no Planalto para fazer campanha no Porto de Suape, em Pernambuco. Numa cerimônia montada às pressas para lançar ao oceano o navio Dragão do Mar, Dilma defendeu incisivamente a Petrobras. “Não ouvirei calada a campanha negativa dos que, por proveito político, não hesitam em ferir a imagem desta empresa que nosso povo construiu com tanto suor e lágrimas”, disse, zangada. “Nada, nem ninguém, conseguirá destruir (a Petrobras). Com o apoio de todas as pessoas, a Petrobras resistiu bravamente às tentativas de desvirtuá-la, reduzi-la e privatizá-la.”

A jaqueta laranja que Dilma ostentava ao discursar já deu orgulho aos brasileiros. Quem não teria orgulho da maior empresa do Brasil, a 13ª produtora de petróleo do mundo e líder inconteste na exploração de óleo em alto-mar? Hoje, é a mesma jaqueta de Paulo Roberto Costa, o ex-diretor da Petrobras preso pela Polícia Federal (PF), acusado de comandar um dos mais vastos esquemas de corrupção já descobertos na estatal, um sujeito mantido no cargo por um consórcio entre PT, PP e PMDB, com o aval de Lula, que o chamava de “Paulinho”. A mesma jaqueta de Nestor Cerveró, o ex-diretor internacional da Petrobras que, indicado por PT e PMDB, é agora acusado de ser o artífice do desastre conhecido como “operação Pasadena”, em que a estatal desembolsou US$ 1,2 bilhão por uma refinaria nos Estados Unidos comprada um ano antes por US$ 42 milhões.

Conexão
A jaqueta laranja não é mais a mesma. Nem a autoridade política de Dilma, após ficar claro que ela avalizara a compra da refinaria Pasadena em 2006. Somente agora, tantos anos depois, ela se disse enganada pela diretoria da Petrobras, acusada de não ter explicado corretamente os termos do negócio. Como fica a imagem de gestora competente, marca de Dilma, assim como a jaqueta laranja é a marca da competência da Petrobras? A combinação das duas imagens pareceu fora do lugar. Tudo ali estava fora do lugar. O navio Dragão do Mar fora construído pelo Estaleiro Atlântico Sul, uma sociedade entre as empreiteiras Camargo Corrêa e Queiroz Galvão, ambas suspeitas de pagar propina para conseguir contratos na Petrobras, segundo a PF investiga na Operação Lava Jato.

Nos últimos dias, Maria das Graças Foster, presidente da Petrobras, e Nestor Cerveró, ex-diretor da Área Internacional, foram ao Congresso Nacional falar sobre o caso da refinaria Pasadena. Eles divergiram. Para Graça Foster, “o negócio originalmente concebido tornou-se um investimento de baixo retorno sobre o capital investido.” Para Cerveró, “foi um bom negócio, sem dúvida”. É útil relembrar a cronologia da transação. Em 2004, a empresa belga Astra comprou o controle acionário da refinaria Pasadena, no Texas, por US$ 42,5 milhões. A Astra pagou dívidas antigas, fez investimentos e vendeu 50% da refinaria à Petrobras por US$ 360 milhões. Havia no contrato uma cláusula segundo a qual, em caso de divergência entre os sócios, a empresa divergente deveria comprar a parte do outro. Tal divergência ocorreu em 2008, e a Astra fez uma proposta para vender a refinaria à Petrobras. A Petrobras decidiu não pagar e entrar na Justiça. Perdeu – e foi obrigada a pagar uma indenização de US$ 639 milhões.

O prejuízo, já grande, poderia ter parado por aí. Bastava à Petrobras ter feito um acordo com a Astra. De acordo com documentos inéditos obtidos por ÉPOCA, a Astra estava disposta a negociar. Em vez disso, a Petrobras preferiu entrar na Justiça outra vez. Perdeu de novo – e o prejuízo para o acionista subiu a US$ 1,2 bilhão.

Como um mau negócio se tornou um negócio ainda pior
Até julho de 2009, o negócio de Pasadena era apenas ruim para a Petrobras. Depois, se tornou desastroso – quando não suspeito, tamanha a sequência de más decisões tomadas no curso de muitos anos. Até ali, havia um prejuízo de US$ 639 milhões com uma refinaria que para nada servia, a não ser enriquecer advogados contratados para defender a Petrobras na Justiça americana. E enriquecer também ex-fun¬cionários da Petrobras que foram trabalhar na Astra. Somente os advogados contratados pela Petrobras já haviam cobrado US$ 3,9 milhões em honorários. Mesmo perdendo.

A Astra, segundo executivos ouvidos por ÉPOCA, já estava satisfeita com a indenização. Havia outros processos na Justiça americana sobre o mesmo caso, mas a Astra, de acordo com executivos ligados a ela, estava disposta a fazer um acordo para encerrar o assunto. Não interessava extrair, nos tribunais, todo o dinheiro possível da Petrobras. Como uma trading, a Astra pretendia fazer mais dinheiro vendendo petróleo, nos anos seguintes, à própria Petrobras. E a manutenção de um longo e desgastante litígio contra a Petrobras, um dos gigantes do petróleo mundial, também afetava as outras relações comerciais da Astra, com empresas no mundo todo. Segundo esses executivos, a Astra não apenas poderia aceitar fazer um acordo. Ela queria fazer um acordo.

Se a Astra queria encerrar o assunto, quem poderia sair ganhando caso a Petrobras continuasse brigando nos tribunais? E, ainda por cima, brigando com poucas chances de se livrar do prejuízo de US$ 639 milhões – mas com chances razoáveis de aumentar substancialmente esse valor? Sem dúvida, os advogados contratados para prolongar essa briga. Quanto mais tempo e mais processos, mais honorários milionários para eles. Não parece fortuito, portanto, que a decisão de prolongar a disputa judicial tenha partido, na Petrobras, de um grupo de advogados. Ao menos oficialmente.

No dia 9 de julho de 2009, segundo documentos internos da Petrobras, o chefe do Jurídico Internacional, o advogado Carlos Borromeu, defendeu, perante a diretoria da empresa, que a Petrobras continuasse brigando com a Astra nos tribunais americanos. O departamento jurídico da Petrobras, como acontece na maioria das empresas, tem tal peso que raramente uma decisão é tomada em desacordo com a opinião dos advogados. Tem peso também, por óbvio, para escolher que advogados serão contratados para ajudar nos processos. Na Petrobras, os advogados reportam-se diretamente ao presidente – suas carreiras dependem dele. Naquele momento, o presidente era o petista José Sérgio Gabrielli, aquele que aprovara, anos antes, a compra da refinaria. E que, até hoje, defende o negócio.

Naquele dia de julho, Borromeu deveria estar em baixa. Fazia pouco tempo que uma corte arbitral dos Estados Unidos decidira que a Petrobras deveria pagar à Astra a indenização de US$ 639 milhões. Borromeu, sem se abalar pelo prejuízo que ele e seu departamento não haviam conseguido evitar na Justiça, disse aos diretores que a postura da Astra era “belicosa”. Disse também que a estratégia mais inteligente consistia em “prosseguir litigando” com os belgas. Por quê?

Segundo os cálculos apresentados por Borromeu à diretoria, a que ÉPOCA também teve acesso, eram mínimas as chances – 30%, para ser exato – de que a Astra aceitasse um acordo. Borromeu não explicou como chegara a esse percen¬tual. Em contrapartida, argumentou, havia uma chance de 50% de que a Petrobras estancasse os prejuízos se continuasse nos tribunais. Logo, a decisão mais sensata era “prosseguir litigando”.

Para diretores que estavam na reunião, e altos executivos da Petrobras que entendiam do caso, os percentuais não faziam sentido. Estavam, na mais benigna das hipóteses, invertidos. O mais provável era que a Astra topasse um acordo. E, diante do tamanho do prejuízo que a derrota final da Petrobras nos tribunais americanos significaria, era preciso articular esse acordo. Gabrielli estava inflexível – não se sabe se por convicção pessoal, se por influência dos advogados ou se por ordens superiores. Como presidente, tinha poder para decidir que “sugestão de encaminhamento” seria feita ao Conselho de Administração, presidido por Dilma. Gabrielli comprou o argumento de Borromeu.

Procurado por ÉPOCA, Gabrielli afirma que “a disputa judicial buscava o melhor resultado para a Petrobras”. 

“As diferenças entre os sócios eram sobre procedimentos operacionais e o tamanho do investimento a realizar”, diz ele. “Buscamos explicitar as diferenças entre a disputa arbitral sobre essas questões e a judicial, que era o exercício do ‘put option’.” Pasadena foi um bom negócio? Gabrielli afirma que a resposta é “sim” para o momento da compra, mas não teria sido sob o cenário de 2008 a 2012. “Vale lembrar que a refinaria está em operação todos esses anos e, devido à disponibilidade de petróleo leve e barato no Texas, especificamente no campo de Eagle Ford, atualmente é lucrativa, ainda que a Petrobras não tenha realizado os investimentos para capacitá-la a processar petróleo pesado”, diz. Ele sustenta que as cláusulas omitidas do Conselho de Administração – a “put option” (sobre a opção de venda) e “marlim” (referente ao petróleo brasileiro) – não são as responsáveis por transformar um bom negócio no momento da compra, em 2006, em aparente mau negócio no cenário que vai de 2008 a 2012. “Nesse período, o mundo mudou, descobrimos o pré-sal e o planejamento estratégico da Petrobras acompanhou as mudanças”, diz. Quanto à cláusula “marlim”, que garantiria a rentabilidade de 6,9% à sócia da Petrobras no caso de duplicação da capacidade de refino, ela é inócua. “Como não houve o investimento previsto – e essa é a razão da disputa judicial com a Astra –, ela não é válida. Isso foi reconhecido pela Justiça americana.”

Na época da reunião da diretoria, Cerveró não era mais diretor internacional da Petrobras. Pelos bons serviços prestados ao PT e ao senador Renan Calheiros, que também o apadrinhava, fora realocado para a Diretoria Financeira da BR Distribuidora, uma das principais subsidiárias da estatal. Em depoimento ao Senado nos últimos dias, Graça Foster deu a entender que Cerveró fora rebaixado em virtude do mico Pasadena. Nem tanto. É como se Cerveró deixasse de dirigir uma Ferrari para pilotar um Jaguar – e com o mesmo combustível BR. A Ferrari agora estava nas mãos de Jorge Zelada, apadrinhado pela bancada do PMDB na Câmara. Era ele que, ao lado de Paulo Roberto Costa, pilotava o bólido mais veloz da Petrobras, tinha de dar explicações e resolver o problemaço que se tornara Pasadena. Ambos discordavam do cavalo de pau proposto pelo jurídico da Petrobras – e aprovado por Gabrielli.

Os técnicos abaixo deles, também. Nos relatórios internos obtidos por ÉPOCA, eles criticam o resultado da reunião e a posição de Gabrielli. Parte desse material já foi publicado por ÉPOCA – mas a íntegra dos documentos agora revelados detalha os bastidores que levaram a Petrobras a ter ainda mais prejuízo com Pasadena. “Após a explanação (do advogado), resolveu a Diretoria apresentar ao Conselho a sugestão de não negociar-se com a Astra e sim prosseguir com a ação na Corte”, escreveram os executivos da área de Abastecimento. “A razão que fez com que a Diretoria optasse pelo prosseguimento da ação ao invés do acordo deveu-se principalmente pela alegada ‘prepotência’ com que a Astra vem se colocando frente à Petrobras e, segundo colocado na Diretoria, nunca ter havido de parte da Astra uma manifestação de desejar o acordo.”

Eles preferiam o acordo. E tinham argumentos, não apenas legais, para isso. Um deles: “O fato de pessoa altamente credenciada da Astra e membro do seu Board ter procurado uma aproximação para início de entendimentos com a Petrobras”. Em seguida, deixando de lado a dita prepotência dos executivos da Astra, os técnicos afirmaram o óbvio: o acordo significava menos prejuízo num negócio que, use-se lá qual fórmula matemática, já era um mico. “Caso no litígio a Petrobras perca, o custo total irá para cima de US$ 1 bilhão, acrescidos de honorários de sucumbência. Vale lembrar que a Petrobras já perdeu na arbitragem, e a possibilidade de perder na Corte é preocupante”, escreveram.

Diante desse cenário, o que propuseram os executivos? “A ministra Dilma deverá ser procurada para ser informada de que a Astra está procurando entendimentos, inicialmente por canais informais. (…) Com isto, a ministra Dilma deveria, na reunião do Conselho dapróxima sexta-feira, comunicar que estão havendo (sic) movimentos de aproximação da Astra com relação a Petrobras e, com isto, o Conselho daria um prazo para que se consumasse o acordo – ou, aí sim, a partir deste prazo não restaria outra alternativa senão prosseguir na Corte.”

Os técnicos foram ignorados, os advogados prevaleceram, e o Conselho presidido por Dilma tomou, mais uma vez e no mesmo caso, uma decisão que, sob a luz do presente, revela-se profundamente danosa aos cofres – e à imagem – da Petrobras. Pode-se argumentar que Dilma e o Conselho de Administração foram, como no começo do caso Pasadena, mal assessorados. Que não tinham acesso às informações necessárias para tomar a melhor decisão possível em favor da Petrobras.

Outros executivos talvez tivessem prestado atenção aos apelos dos técnicos para levar a sério as abordagens informais da Astra. Mesmo depois que o Conselho presidido por Dilma resolveu levar a briga judicial até as últimas consequências, executivos da Astra prosseguiam buscando formas de encerrar o caso – o oposto do que asseguravam, meses antes, os advogados da Petrobras. Tamanho era o desejo dos belgas de pôr fim à disputa judicial que Mike Winget, presidente da Astra nos Estados Unidos, e Kari Burke, diretora da empresa, vieram ao Brasil diversas vezes, em busca de contatos políticos que resolvessem o caso definitivamente.

Segundo empresários e lobistas que mantiveram contato com eles, os diretores da Astra queriam duas coisas: que a Petrobras pagasse os US$ 639 milhões e que as duas empresas voltassem a fazer negócios. Para conseguir, a Astra, de acordo com esses relatos, estava disposta a pagar até US$ 70 milhões à pessoa certa – à pessoa que resolvesse o caso. Procuraram o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, e um assessor informal dele, Carlos Mattos.

Como revelou ÉPOCA, Fernando Baiano é parceiro de negócios de Paulo Roberto. Baiano não conseguiu resolver. Procuraram outros lobistas, que também não resolveram. Nas conversas com esses lobistas e empresários, os dois executivos da Astra diziam que haviam contratado um advogado ligado ao ex-mi¬nistro José Dirceu para resolver o assunto. Não declinavam o nome do advogado, o método empregado por ele para “resolver”, nem o andamento das tratativas. Para convencer a Petrobras a encerrar o caso, os executivos conseguiram até que o senador americano Ted Kennedy enviasse uma carta à presidência da Petrobras, apelando para a boa relação entre os dois países.

A intensa movimentação dos executivos demonstra que a Astra não estava interessada em faturar os US$ 1,2 bilhão pagos pela Petrobras. Queriam mais – mas em negócios. Ao fim, quem mais ganhou com tudo isso, além dos belgas, foram os advogados contratados pela Petrobras.

Emprego: tres mitos do governo derrubados pelo IBGE

Pesquisa do IBGE derruba três mitos do governo Dilma sobre o emprego
Folha de S.Paulo, sábado, 19 de abril de 2014
Leia a matéria no site da Folha de S. Paulo

Suspensa de maneira de controversa, a pesquisa ampliada do IBGE sobre o mercado de trabalho tem o potencial de derrubar mitos propagados pelo governo Dilma Rousseff sobre o emprego no país.

Apurados em todo o país, os números mostram que o cenário atual é, sim, favorável -mas não a ponto de autorizar afirmações de tom épico como as mostradas abaixo, retiradas de discursos da presidente.

1) “Nós hoje, no Brasil, vivemos uma situação especial. Nós vivemos uma situação de pleno emprego.” (Dilma, 29/01/13)

O mito revisto: “Nós chegamos próximos do pleno emprego.” (Dilma, 17/07/13)

Os dados: A tese do (quase) pleno emprego se amparou nos resultados da pesquisa mais tradicional do IBGE, limitada a seis regiões metropolitanas, que mostra desemprego na casa dos 5%.

A pesquisa ampliada que começou a ser divulgada neste ano mostra taxa mais alta, de 7,1% na média de 2013, e, sobretudo, desigualdades regionais: no Nordeste, o desemprego médio do ano ficou em 9,5%.

2) “O Brasil, hoje, é um país que, em meio à crise econômica das mais graves, talvez a mais grave desde 1929, é um país que tem a menor taxa de desemprego do mundo.” (Dilma, 14/06/13)

O mito revisto: “Hoje nós temos uma das menores taxas de desemprego do mundo.“ (Dilma, no mesmo discurso)

Os dados: Em comparação com o resto do mundo, não há nada de muito especial na taxa brasileira. É semelhante, por exemplo, à dos Estados Unidos (6,7% em março), que ainda se recuperam de uma das mais graves crises de sua história.

O desemprego no Brasil é menor que o de importantes países europeus, mas supera o de emergentes como Coreia do Sul (3,9%), China, (4,1%,), México (4,7%) e Rússia (5,6%), além de ricos como Japão (3,6%), Noruega (3,5%) e Suíça (3,2%).

3) “Temos o menor desemprego da história.” (Dilma, 23/12/12)

O mito não foi revisto.
Os dados: A base da afirmação é que a taxa apurada em apenas seis metrópoles é a menor apurada pela atual metodologia, iniciada em 2001. Já foram apuradas no passado, com outros critérios, taxas iguais ou mais baixas.

A pesquisa ampliada permite comparações com taxas apuradas no passado por amostras de domicílios. Dados do Ipea mostram que o desemprego atual é semelhante, por exemplo, ao medido na primeira metade nos anos 90.

sábado, 19 de abril de 2014

Petrobras: um covil de ladroes? - Caio Gorentzvaig

Caio Gorentzvaig afirma ter documentos e que em breve fará mais acusações

O empresário Caio Gorentzvaig, ex-acionista da Petroquímica Triunfo, no Rio Grande do Sul, postou vídeo na internet na 2ª feira (14.abr.2014) no qual faz duras acusações de corrupção na Petrobras e ataca a presidente da República Dilma Rousseff, o ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli e o ex-diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto da Costa, que está preso.
Gorentzvaig, cujo pai, Boris, foi o fundador da petroquímica, afirma que a Petrobras “virou um condomínio político de ladrões de primeira linha”. Ele diz que a Triunfo foi “expropriada'' em maio de 2009 por decisão de Dilma, Gabrielli e Roberto da Costa, em uma operação que teria beneficiado a Odebrecht, por meio da sua empresa petroquímica, a Braskem, e cobra apuração do Ministério Público Federal.
Assista ao vídeo abaixo:

Segundo Gorentzvaig, após um processo litigioso, o juiz da 3ª Vara Cível de Porto Alegre propôs que a Petrobras vendesse sua parte na Triunfo Petroquímica por R$ 250 milhões à sua família. A estatal teria cobrado um valor maior, de R$ 355 milhões, coberto pelos Gorentzvaig. Apesar disso, segundo o empresário, a Petrobras reucou e disse que, por razões estratégicas, não tinha mais interesse em vender sua parte na Triunfo. Depois, diz Gorentzvaig, a Petrobras vendeu sua participação na Triunfo para a Braskem, da Odebrecht, por R$ 118 milhões. Como eram minoritários, os Gorentzvaig teriam sido obrigados a sair da empresa.
Ao final do vídeo, Gorentzvaig, que foi candidato a deputado federal em 2010 pelo PPS-SP, pede que o Ministério Público investigue a suposta “relação promíscua” do Grupo Odebrecht com a Petrobras, inclusive o polo petroquímico de Paulínia. Ele diz ter “vários documentos” e que fará novas acusações. “Vocês vão se surpreender. (…) É maior do que Pasadena”.
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Petrobras: repensar a empresa - Adriano Pires, Paula Barbosa

É preciso repensar a Petrobrás

19 de abril de 2014 |

O Estado de S.Paulo

ADRIANO PIRES E PAULA BARBOSA

A delicada situação econômico-financeira e operacional que a Petrobrás vem apresentando nos últimos anos sofreu considerável deterioração com os eventos e as revelações ocorridos a partir de março. Embora a companhia apresente plenas condições para sua recuperação e retorno a uma trajetória de êxitos, é necessário corrigir a rota e promover mudanças estratégicas. Em especial, reduzir a interferência que o governo passou a ter na companhia ao longo dos últimos anos.

Refletir sobre erros e acertos talvez ajude a empresa a reencontrar seu rumo e sua vocação. De seus primórdios, em 1953, até 2004, a contagem de acertos e elementos que atraíram admiração e orgulho do povo brasileiro se sobrepõe à contagem dos erros. De 2005 para cá, no entanto, a balança se inverteu e a Petrobrás passou a ter de um cenário de céu azul para nuvens e tempestades.

Desde 2005, a companhia sistematicamente não consegue entregar a produção de petróleo nos níveis pretendidos, vindo esta a crescer apenas 10% nos últimos sete anos, de aproximadamente 1,8 mil barris diários, em 2006, para pouco mais de 2 milhões de barris diários, em 2013. Em paralelo, o endividamento da companhia cresceu vertiginosamente 260% no mesmo período, de R$ 64 bilhões, em 2006, para quase R$ 240 bilhões, no fim de 2013. Já o lucro, em moeda constante, decresceu 46% no período, para R$ 20 bilhões em 2013, revelando uma gestão que ou é falha ou afetada por fatores alheios à pura e simples boa governança.

É notório que uma grande fonte de perdas de recursos para a Petrobrás vem sendo a administração política dos preços dos combustíveis, de modo a evitar o contágio para os índices de inflação, mas produzindo uma destruição de R$ 40 bilhões, aproximadamente, de janeiro de 2010 até dezembro de 2013, valor que é subtraído do acionista e que provavelmente jamais retornará ao caixa da empresa.

O ajuste dos preços dos combustíveis é um fator indispensável e reconhecido pela própria direção da companhia, que já o propôs no fim de 2013, sem êxito, por causa da decisão do governo federal de evitar impactos na inflação e possíveis desgastes eleitorais. Enquanto essa visão do governo não mudar, a Petrobrás continuará a punir os acionistas minoritários com a sua perda de valor de mercado e a enfrentar sérios problemas em várias frentes:

nos resultados operacionais e financeiros e na avaliação das agências de classificação de risco, que recentemente rebaixaram a nota da empresa e a do País;

na totalidade da cadeia produtiva, que alcança os mais diversos setores e movimenta bilhões de reais e milhares de empregos;

e na capacidade de desenvolver o pré-sal e de se tornar uma das líderes mundiais do setor de petróleo e gás, enquanto nações como os Estados Unidos já avançam a passos largos na indústria do petróleo e do gás não convencional, ameaçando inundar o mercado com enormes volumes de hidrocarbonetos, reduzindo preços e, com isso, sufocando as aspirações nacionais de ter na Petrobrás uma líder nessa indústria.

Diante de tão críticos fatos, é necessário começar a adotar medidas precisas, austeras e corajosas.

Duas medidas já foram publicamente anunciadas pelo corpo técnico da empresa, mas a interferência do governo vem impedindo a sua adoção.

A convergência dos preços domésticos dos combustíveis com os preços internacionais é absolutamente imprescindível. A diretoria da companhia indica que isso ocorrerá apenas em 2015, ou seja, após as eleições deste ano. O atraso é um erro.

A segunda medida, anunciada recentemente pela presidente Graça Foster, consiste na priorização da curva de produção sobre o conteúdo local. Não poderia ter encontrado melhor acolhida pelo mercado. O acelerado programa de investimentos da empresa no pré-sal é absolutamente incompatível com o atual nível de exigências de conteúdo local, explícito na regulamentação vigente.

Ativos. Desinvestir (ou vender) ativos que foram adquiridos e que não têm afinidade com a vocação e foco da empresa no pré-sal é outra ação sine qua non. Entre esses ativos, as refinarias dos Estados Unidos e do Japão, hoje tarefa difícil, e outros ativos espalhados pelo mundo, adquiridos por razões incompatíveis com o momento atual.

Reestruturar o portfólio de ativos no Brasil também é imperativo. Como proprietária de dutos de transporte, plantas de regaseificação e distribuidoras de gás natural, a Petrobrás aufere baixa rentabilidade e entrega a seus clientes um serviço de baixa eficiência, que poderia ser desempenhado com melhores resultados por empresas com outro perfil, e puramente dedicadas a esses serviços.

Analogamente, não faz sentido que a Petrobrás detenha o controle da BR Distribuidora, um tipo de negócio totalmente diverso do segmento de exploração e produção, em que reside a sua vocação e no que deveria residir também o foco da Petrobrás. A oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da BR Distribuidora se configura como um avanço na estrutura organizacional e no foco estratégico da companhia.

No exterior, grandes petroleiras de capital privado (por exemplo, Exxon, Shell, Chevron, BP, BG) iniciaram recentemente programas dedesverticalização, isto é, fazendo desinvestimentos e vendas dos segmentos com os quais têm menor afinidade e nos quais têm menor vocação, como abastecimento (refinarias) e distribuição (postos de gasolina, gás natural, dutos diversos). A elevação acentuada dos custos dessas indústrias na última década, aliada à manutenção do preço do petróleo no patamar de cerca de US$ 100,00 o barril, vem gerando contínua perda de rentabilidade e a urgente necessidade de reorganizar suas estruturas produtivas, justificando, portanto, os movimentos dedesverticalização.

Por fim, está claro que esse elenco de medidas não será posto em prática em 2014, um ano de eleições. Entretanto, é absolutamente imprescindível discutir a Petrobrás e seu futuro nestas eleições, sem demagogias e com bastante pragmatismo. A companhia, seus acionistas, funcionários, fornecedores, clientes e o próprio País agradecem.

ECONOMISTAS, SÃO, RESPECTIVAMENTE, DIRETOR DO CENTRO BRASILEIRO DE INFRA ESTRUTURA E ESPECIALISTA NO MERCADO DE PETRÓLEO E GÁS NATURAL

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quinta-feira, 17 de abril de 2014

1964: Jornal O Dia, 2 de Abril, o povo festeja nas ruas

"O Sr. Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados, poderá assumir ainda hoje a Presidência da República, em virtude do que dispõe o artigo 79 parágrafo 2o da Constituição, que declara: - Vagando os cargos de Presidente e Vice Presidente da República, far-se- á eleição 60 dias depois de abertas a última vaga. Se as vagas ocorrerem na segunda metade do período presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita 30 dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma estabelecida em lei. Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o período dos seus antecessores.


Em consequência, o Sr. Ranieri Mazzilli deverá exercer a Presidência até a posse do novo presidente, a ser eleito no dia 1o de maio próximo pelo Congresso Nacional." "Em face da absoluta normalidade reinante na cidade com a cessação dos motivos que a determinaram, terminou à zero hora de hoje a greve geral decretada terça-feira.

Todos deverão retornar tranqüilamente ao trabalho, evitando, contudo, aglomerações públicas nas ruas.

Somente os bancos ainda permanecerão fechados, hoje e amanhã, em virtude de decreto."

"Brasília, 1o - Até às 22 horas de hoje o Sr. João Goulart ainda se encontrava na Granja do Torto, nesta capital, em companhia de sua esposa e filhos.

No aeroporto militar, achava-se, pronto para decolar a qualquer instante um "Coronado", moderno jato da Varig, que tanto poderia se dirigir para Buenos Aires como para a Espanha, segundo afirmam fontes ligadas à família presidencial.

Após chegar a Brasília, às 15 horas, o Sr. João Goulart esteve no Palácio do Planalto uns 15 minutos, fechado em seu gabinete, retirando-se depois para a Granja do Torto, onde recebeu poucas pessoas, uma delas o deputado Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados. Pessoas, que privam com o Sr. Mazzilli, afirmam que este ouviu do Sr. João Goulart a declaração de que, antes de partir de Brasília, lhe transmitiria o cargo de Presidente da República. Outras fontes adiantam que o Sr. João Goulart, durante a tarde, esteve redigindo o documento de renúncia, que será enviado ao Congresso de Porto Alegre, para onde irá nas próximas horas."

"Porto Alegre, 1o - O Sr. João Goulart, cerca das 23 horas, chegou a esta capital em companhia de sua família e do Sr. Darci Ribeiro. Antes de embarcar em Brasília, o Sr. João Goulart conferenciou novamente com o Presidente Ranieri Mazzilli." (...)

"Às treze horas o Sr. João Goulart deixava o Rio, indo para Brasília e, pouco depois, a Cadeia da Liberdade anunciava que o Sr. Goulart havia partido num avião da Varig para destino ignorado. Todos os comandos militares haviam aderido ás tropas do general Castelo Branco. Em Recife soldados do IV Exército cercaram o Palácio do Governador e prenderam o Sr. Miguel Arrais, por ordem do general Justino Alves.

O ministro Lafaiete de Andrade enviou emissário a Minas para decretar solidariedade ao Supremo Tribunal Federal à revolução.

Às 16 horas, foi lida esta ordem, firmada pelo general Castelo Branco:

"Que as tropas do I Exército cessem todas as operações e voltem aos quartéis".

Era o fim da resistência e a vitória da Revolução.

As autoridades civis e militares estão lembrando a toda a população que estão em vigor as leis e os códigos. Os culpados por atos condenáveis serão punidos. Aconselham que a população se abstenha de participar de aglomerações e movimentos coletivos. Avisam ainda que a normalidade voltou ao País e cessaram, imediatamente, todos os movimentos grevistas."

"Dezenas de automóveis trafegaram pelo centro da cidade, tocando suas buzinas, em sinal de alegria pela vitória da democracia em todo o País. As estações de rádio e televisão, que estavam sob censura, iniciaram suas transmissões normais, pouco depois das 17 horas. Os contingentes de fuzileiros navais que ocupavam as redações de alguns jornais, foram recolhidos aos quartéis.

Por volta das 17,15, o Forte de Copacabana anunciava, com uma salva de canhão, a aproximação das tropas do general Amauri Kruel, que atingiria o Estado da Guanabara às últimas horas da noite de ontem.

A população de Copacabana saiu ás ruas, em verdadeiro Carnaval, saudando as tropas do Exército. Chuvas de papéis picados caíam das janelas dos edifícios enquanto o povo dava vazão, nas ruas, ao seu contentamento. (...)"

Inflacao: governo companheiro encomenda uma taxa robusta - Alexandre Schwartsman

Intenção e gesto

Embora ateu, sou fascinado pela literatura bíblica, como, imagino, alguns dos 18 heróis já devem ter percebido. Li recentemente um estudo sensacional a respeito, mais precisamente sobre a evolução da interpretação das Escrituras, “How to Read the Bible”, de James L. Kugel, e aprendi que, de acordo com a visão tradicional, cada palavra da Bíblia seria carregada de significado. Eventuais inconsistências seriam, portanto, apenas fruto das dificuldades de interpretação, pois a palavra divina não admitiria falhas.

Entendimento semelhante têm os economistas que, oito vezes por ano, uma semana após a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em que o Banco Central decide sobre a taxa de juros básica (Selic), se acotovelam para ler a ata da reunião em busca de pistas acerca das próximas decisões, assim como suas prováveis consequências.

Cada palavra é sopesada, assim como adições ou subtrações em relação às versões anteriores do documento, ou mesmo a ordem dos parágrafos. Nada é por acaso e cada vírgula pode indicar o rumo futuro das taxas de juros.

Isto dito, a exegese da última ata deixou poucas dúvidas acerca das intenções do BC. A eliminação da referência à “continuidade” do processo de ajuste monetário, a introdução do termo “neste momento” para qualificar a decisão de elevar mais uma vez a taxa de juros, assim como a menção a uma “política monetária vigilante” (não mais “especialmente vigilante”) oferecem indicações claras que o BC deseja parar o aperto monetário.

Por outro lado, a evolução da inflação não condiz com este anseio. Na véspera da divulgação da ata soubemos que a inflação atingiu 0,92% em março e 6,15% nos últimos 12 meses, taxa perigosamente próxima à máxima permitida pelo sistema de metas (6,5%), que, a propósito, deve ser ultrapassada com folga nos próximos meses.

Não faltou, é claro, quem procurasse reduzir a relevância do número desastroso. Condições climáticas fizeram com que os preços dos alimentos “in natura” saltassem no mês, contaminando o índice de inflação. Como, porém, este processo seria temporário, não caberia ao BC reagir nem à população ficar alarmada com os desenvolvimentos recentes.

Ata do BC dá sinais claros de que alta dos juros vai parar, mas inflação não condiz com este anseio

Trata-se de já conhecida conversa para boi dormir. Sim, preços de alimentos subiram muito por causa da seca, mas quem faz este argumento deixa convenientemente de lado o virtual congelamento dos preços administrados pelo governo, como energia, combustíveis, passagens de ônibus, que têm atuado do lado contrário (em março, por exemplo, caíram 0,02%, acumulando alta de apenas 3,4% nos últimos 12 meses).

De fato, se desconsiderarmos tanto o impacto dos alimentos consumidos em casa como o das tarifas públicas chegaríamos à conclusão de que o conjunto dos demais preços aumentou nada menos do que 0,88% no mês, valor apenas levemente inferior ao registrado pelo IPCA “cheio”. Mais grave, esta medida, “limpa” de ambos efeitos, mostra inflação de 7,36% nos últimos 12 meses, bastante superior à registrada pelo IPCA.

Diga-se, aliás, que esta conclusão também é válida para as demais medidas de inflação que tentam justamente eliminar eventuais efeitos de preços muito voláteis ou sujeitos à intervenção governamental (os chamados “núcleos de inflação”).

A aceleração inflacionária não resulta, pois, de preços de alimentos nem tem caráter temporário. Pelo contrário, vai muito além dos alimentos (a inflação de serviços supera 9%) e é disseminada (no mês passado 72% dos itens não alimentícios do IPCA subiram de preço).

Neste contexto, o BC até pode fingir que não tem nada a ver com o problema e parar o ciclo de aperto monetário com a Selic nos atuais 11% (ou mesmo em 11,25%).

Não vai, porém, escapar de ter que voltar ao tema uma vez passadas as eleições. Problemas não desaparecem porque sua solução é adiada; apenas voltam vitaminados a requerer doses muito maiores de sacrifícios.

Fonte: Folha de S. Paulo, 16/04/2014

Politica comercial companheira, 2: Brasil perde espacos no comercio internacional - Editorial Estadao

O Brasil perde espaço no comércio internacional

17 de abril de 2014 
Editorial O Estado de S.Paulo
Com um déficit na balança comercial de US$ 6 bilhões, até 11 de abril, e uma evolução das exportações de apenas 1%, neste ano, pelo critério de média por dia útil, é frágil o comércio exterior do Brasil. A fraqueza fica explícita nas previsões da Organização Mundial do Comércio (OMC), divulgadas segunda-feira, que apontam para uma recuperação das exportações e das importações no mundo.
Em 2013, o crescimento do comércio global foi de apenas 2,1% em relação a 2012, com as exportações alcançando US$ 18,8 trilhões, mas as previsões da OMC indicam um avanço de 4,7%, neste ano. No ano passado, a China foi o principal país exportador com US$ 2,2 trilhões e uma participação de 11,8% no comércio mundial, enquanto o Brasil, com vendas externas de US$ 242 bilhões, ocupou o 21.º lugar, com peso de 1,3%. Entre os maiores importadores, a liderança é dos Estados Unidos, seguida por China e Alemanha - e o Brasil está no 20.º lugar, importando US$ 250 bilhões, com peso de 1,3% na importação global.
Os números da OMC são algo diferente dos números oficiais do País. Entre 2011 e 2013, segundo a OMC, as exportações brasileiras declinaram US$ 13,8 bilhões, enquanto as importações cresceram quase US$ 13,4 bilhões. Pelos números oficiais divulgados no País, as exportações caíram US$ 8 bilhões ou 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB).
A recuperação do comércio global, neste ano, dependerá tanto do ritmo da atividade nos Estados Unidos, que é promissor, como da União Europeia, que é lento, além da China. O comércio não recuperou a vitalidade que tinha antes da crise de 2008, registrando, em 2013, volume de trocas 17% menor. A recuperação será insuficiente para compensar a queda dos últimos 5 anos.
O diretor-geral da OMC, o brasileiro Roberto Azevêdo, argumenta que o aumento das importações do País tem um aspecto positivo. "Se o País importa substancialmente mais, tende a indicar que a economia está bem, o consumidor está comprando, a indústria está importando bens intermediários."
Mas esse é apenas um lado da realidade, pois a corrente comercial do Brasil - ou seja, a soma de importações e exportações - ficou estagnada entre 2011 e 2013. E não há indícios de que venha a se recuperar neste ano. O Brasil está, de fato, perdendo espaço no comércio internacional, por causa de custos e de ineficiências do governo Dilma.

Politica comercial companheira: renuncia a soberania nacional - Editorial Estadao

O Brasil preso à Casa Rosada

17 de abril de 2014 | 2h 08
Editorial O Estado de S.Paulo
O Brasil é oficialmente governado pela presidente Dilma Rousseff e sua capital é Brasília, mas as decisões mais importantes da diplomacia comercial brasileira vêm sendo tomadas na Casa Rosada, em Buenos Aires, capital da República Argentina. Se o governo argentino se recusa a negociar seriamente e de forma razoável um acordo comercial com a União Europeia, o acordo fica emperrado e as autoridades brasileiras aceitam e se conformam. Pelo menos até agora tem sido esse o procedimento-padrão. É o mesmo seguido, regularmente, quando a presidente argentina decide impor mais uma barreira comercial ao Brasil ou prorrogar o acordo automotivo e reformar suas regras. As autoridades brasileiras ainda se expõem, no mínimo, ao ridículo, com a mesma subserviência, ao apoiar abertamente a Casa Rosada em suas disputas com as vítimas inconformadas do calote declarado em 2001.
No mês passado o novo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Mauro Borges, voltou de Buenos Aires com uma exibição de otimismo quanto à negociação entre Mercosul e União Europeia.
Segundo ele, no começo de abril o governo argentino apresentaria uma lista suficiente de ofertas para permitir o avanço das conversações com os europeus. Brasil, Paraguai e Uruguai já haviam apresentado suas listas e só esperavam a proposta argentina, já muito atrasada, para planejar os próximos passos.
Na semana passada, em Montevidéu, mais uma vez a Casa Rosada prejudicou o jogo, com uma proposta bem inferior às de seus vizinhos e, obviamente, inadequada. Ficaram fora da lista vários produtos classificados como "sensíveis", como autopeças, químicos, eletrônicos e bens de capital. Além disso, o governo argentino defende um prazo de 15 anos para redução das tarifas sobre os produtos europeus e carência de 7 anos. Os outros membros do Mercosul pedem até 12 anos para o ajuste das tarifas e os europeus, 10.
A meta combinada entre as partes é uma redução tarifária para produtos correspondentes a 90% do comércio entre Mercosul e União Europeia. Brasil, Paraguai e Uruguai chegaram perto disso, mas a proposta argentina reduz a média das ofertas para cerca de 80%. O Brasil ainda pode melhorar sua oferta, mas a negociação é conjunta e a disposição argentina é fundamental para o resultado. Além do mais, a troca inicial de ofertas é apenas o começo da discussão mais substancial e mais consequente. Aberta essa fase, as partes ainda terão muitos detalhes para acertar.
Será importante retomar logo as negociações, para haver algum avanço ainda este ano. Se houver nova demora, a troca dos comissários europeus, em setembro, e as eleições no Brasil prejudicarão os trabalhos. Qualquer perda de tempo, nesta altura, pode ser desastrosa, porque várias outras negociações muito importantes estão progredindo, incluída a de um acordo entre União Europeia e Estados Unidos. A cada dia aumenta a desvantagem do Brasil e do Mercosul num mundo onde se multiplicam os acordos comerciais.
O governo brasileiro, afirma-se reservadamente em Brasília, está pronto para pressionar o argentino, se um entendimento entre os parceiros do Mercosul for impossível até a metade de maio. Esse tipo de ameaça, ou de promessa, já circulou em outras ocasiões, mas a Casa Rosada sempre se manteve como o principal centro de decisões da diplomacia do Mercosul.
A desastrosa política da presidente Cristina Kirchner já impôs à Argentina a perda de US$ 6 bilhões em exportações de carne nos últimos quatro anos, segundo a Fundação Mediterrânea, um centro de estudos econômicos. Em 2012 e 2013 o país ficou fora da lista dos 10 maiores exportadores de carne. Isso é só um exemplo - mas muito significativo - do custo da política econômica. Parte da conta dessa política vem sendo paga pelo Brasil, prejudicado pelo protecionismo do segundo maior sócio do Mercosul.
Custos até maiores já resultaram de erros cometidos em Brasília, como a opção terceiro-mundista do governo Lula, até agora preservada, e a insistência em sujeitar os interesses brasileiros a um Mercosul desmoralizado, mas ainda sujeito ao requisito de ação conjunta de uma união aduaneira.

1964: Editorial do Correio da Manha, de 31 de marco: Basta!

Muita gente, especialmente entre os mais jovens, pensa que o "golpe militar" de 31 de março de 1964 foi dado por um bando de perversos militares de direita, mancomunados e a serviço do imperialismo americano. Trata-se de tese simplista, simplória, totalmente equivocada, mas ainda presente num recente documentário sobre "O Dia que Durou 21 Anos", no qual a única coisa correta é a transcrição dos telegramas do embaixador americano Lincoln Gordon, que diga-se de passagem correspondia às preocupações paranoicas do governo americano quanto à possibilidade de uma tomada de poder pelos comunistas no Brasil. Não era possível, mas parecia [plausível a partir da movimentação dos comunistas naqueles dias. Não é possível compreender o golpe militar sem a intentona de 1935, sem a conversão de Cuba ao marxismo-leninismo em 1961 e sem o episódio dos mísseis soviéticos em Cuba em 1962.Tampouco é possível entender as torturas e a repressão no Brasil, cuja intensidade se situa no período 1969-1973, sem levar em consideração os atentados esparsos e depois as ações de guerrilha mais coordenadas empreendidas por brasileiros sob estímulo e com suporte total dos comunistas cubanos.Quem não compreender esse contexto, estará pronunciando palavras vazias sobre 1964 e o regime militar.Uma coisa é certa: mesmo sem "conspiração americana", os militares teriam feito algo, pois a sociedade pedia um basta ao clima que se vivia em 1964. Basta ler o editorial abaixo.Paulo Roberto de Almeida
Editorial do jornal Correio da Manhã, edição de 31 de março de 1964

BASTA!

Até que ponto o Presidente da República abusará da paciência da Nação? Até que ponto pretende tomar para si por meio de decretos-leis, a função do Poder Legislativo? Até que ponto contribuirá para preservar o clima de intranquilidade e insegurança que se verifica presentemente na classe produtora? Até quando deseja levar ao desespero, por meio da inflação e do aumento do custo de vida, a classe média e a classe operária? Até que ponto quer desagregar as forças armadas por meio da indisciplina que se torna cada vez mais incontrolável?

Não é possível continuar neste caos em todos os sentidos e em todos os setores. Tanto no lado administrativo como no lado econômico e financeiro. Basta de farsa. Basta da guerra psicológica que o próprio Governo desencadeou com o objetivo de convulsionar o país e levar avante a sua política continuísta. Basta de demagogia para que, realmente, se possam fazer as reformas de base.

Quase todas as medidas tomadas pelo Sr. João Goulart, nestes últimos tempos, com grande estardalhaço, mas inexeqüíveis, não têm outra finalidade senão a de enganar a boa-fé do povo, que, aliás, não se enganará. Não é tolerável esta situação calamitosa provocada artificialmente pelo Governo que estabeleceu a desordem generalizada, desordem esta que cresce em ritmo acelerado e ameaça sufocar todas as forças vivas do país. Não contente de intranqüilizar o campo, com o decreto da SUPRA, agitando igualmente os proprietários e os camponeses, de disvirtuar a finalidade dos sindicatos, cuja missão é a das reivindicações de classe, agora estende a sua ação deformadora às forças armadas, destruindo de cima a baixo a hierarquia e a disciplina, o que põe em perigo o regime e a segurança nacional. A opinião pública recusa uma política de natureza equívoca que se volta contra as instituições, cuja guarda deveria caber ao próprio Governo Federal.

Queremos o respeito à Constituição. Queremos as reformas de base voltadas pelo Congresso. Queremos a intocabilidade das liberdades democráticas. Queremos a realização das eleições em 1965. Se o Sr. João Goulart não tem a capacidade para exercer a Presidência da República e resolver os problemas da Nação dentro da legalidade constitucional não lhe resta outra saída senão entregar o Governo ao seu legítimo sucessor. É admissível que o Sr. João Goulart termine o seu mandato de acordo com a Constituição. Este grande sacrifício de tolerá-lo até 1966 seria compensador para a democracia. Mas para isto, o Sr. João Goulart terá de desistir de sua política atual que está perturbando uma nação em desenvolvimento, e ameaçando de levá-la à guerra civil.

A Nação não admite nem golpe nem contragolpe. Quer consolidar o processo democrático para a concretização das reformas essenciais de sua estrutura econômica. Mas não admite que seja o próprio Executivo, por interesses inconfessáveis, quem desencadeie a luta contra o Congresso, censure o rádio, ameace a imprensa e, com ela, todos os meios de manifestações do pensamento, abrindo o caminho à ditadura. Os Poderes Legislativo e Judiciário, as Classes Armadas, as forças democráticas devem estar alertas e vigilantes e prontos para combater todos aqueles que atentarem contra o regime.

O Brasil já sofreu demasiado com o Governo atual. Agora, basta!

Venezuela: revolucao bolivariana nao vai sobreviver ao ridiculo

A revolução perecerá sob o peso do seu próprio surrealismo patético.
Paulo Roberto de Almeida 

Maduro quer ministério para “defesa mundial” da Venezuela

O Globo, 16/04/2014
Pasta de Comunicação Internacional será a 32ª do Gabinete chavista
O Gabinete de Nicolás Maduro já conta com 31 ministérios e, se depender do presidente venezuelano, pode ganhar mais um no rastro da repercussão dos dois meses de manifestações contra o governo. Em entrevista exclusiva ao jornal local “Últimas Noticias”, Maduro anunciou que planeja criar o Ministério para a Comunicação Internacional, “dedicado exclusivamente à defesa mundial da Venezuela” num contexto de “guerra comunicacional” contra o país.
— Atingimos todos os objetivos planejados, mas é necessário admitir que, do ponto de vista midiático, todos esses meios de comunicação e representantes da oposição que saíram pelo mundo pedindo uma intervenção contra a Venezuela fizeram muitos danos ao país — disse Maduro, para quem a criação do novo ministério é uma “necessidade dos tempos”.
O 32º ministério do governo Maduro será mais um órgão num aparato criticado por opositores devido ao seu tamanho. Além dos ministérios, há seis vice-Presidências e impressionantes 111 vice-ministérios. Um dos mais polêmicos deste contingente, criado pelo presidente em outubro do ano passado, é o Vice-Ministério da Suprema Felicidade.
O presidente venezuelano inclusive já tem um nome para o Ministério para a Comunicação Internacional: o embaixador do país na Organização dos Estados Americanos (OEA), Roy Chaderton, deverá ser o titular da pasta. Chaderton comandou a mobilização na OEA para aprovar, em votação, que uma reunião do Conselho Permanente sobre a situação da Venezuela fosse feita a portas fechadas — impedindo assim a participação da deputada opositora María Corina Machado. Na época, o embaixador considerou que seria “uma aberração” se a OEA desse a palavra a alguém que “apoia a desestabilização da Venezuela”.
As rusgas entre o chavismo e a imprensa nacional e estrangeira não são novidade. Com a atual crise na Venezuela, Maduro tem reforçado as acusações de que o país tem sido vítima de um ataque midiático internacional, da mesma forma que constantemente denuncia supostas tentativas de golpe de Estado. Ao mesmo tempo, Maduro marcou presença recentemente em veículos de comunicação de fora da Venezuela para dar a visão chavista dos fatos, com entrevistas para a emissora americana CNN e o jornal britânico “Guardian”, além de publicar um artigo de opinião no “New York Times”.
Provocação antes de reunião
Dentro da Venezuela, um dos expedientes mais frequentes do governo para ocupar espaço na mídia é o uso de cadeias nacionais de rádio e televisão, prática inclusive criticada pelos representantes da coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD) na primeira reunião de diálogo com o governo, na semana passada. Ontem, aproveitando o primeiro aniversário de seu mandato presidencial, Maduro voltou a comandar uma cadeia nacional e, mesmo em meio ao diálogo, provocou a oposição.
— Vocês imaginam o que aconteceria se eles tivessem ganhado as eleições? Haveria uma guerra, uma matança no país. — disse Maduro, que venceu em 2013 com uma vantagem de menos de 300 mil votos. —A permanência de Nicolás Maduro na Presidência é a maior garantia de estabilidade do país.
A transmissão foi iniciada horas antes do segundo encontro entre representantes do governo e da MUD, previsto para ontem à noite. Uma pesquisa divulgada ontem pelo instituto Hinterlaces mostrou que 90% dos venezuelanos apoiam o diálogo. No entanto, diminuiu para 54% os que disseram crer que o contato pode ajudar a resolver os problemas da Venezuela.
De acordo com o Itamaraty — o Brasil media o diálogo junto com Equador e Colômbia —, a segunda etapa do diálogo inclui negociações sobre dois temas: presos e uma eventual lei de anistia; e a criação de uma comissão da verdade. Estes assuntos estavam na agenda desejada pela MUD para o diálogo com o governo. A coalizão defende a anistia de manifestantes detidos, assim como a soltura de nomes da oposição como Leopoldo López, líder do partido Vontade Popular e acusado de incitar a violência em protestos, e os prefeitos Enzo Scarano e Daniel Ceballos, na cadeia por não destruírem barricadas montadas por opositores em suas cidades.

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