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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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quinta-feira, 29 de outubro de 2015

O Brasil e o TPP: uma tragedia anunciada (desde 2003) - Milton Lourenco

Não foi por falta de aviso, e não apenas deste escriba, que desde o primeiro dia do reinado dos companheiros vem denunciando uma política comercial canhestra, ideológica, feita de arroubos patrioteiros tão ingênuos quanto estúpidos.
Começou com a implosão ideológica da Alca -- que não era nenhuma maravilha, mas pelo menos teria assegurado e consolidado nosso acesso aos mercados atrativos da América do Norte, ainda que com persistência do protecionismo agrícola e setorialmente na indústria -- e continuou pela proclamação de uma fantástica "nova geografia do comércio internacional", tanto pelo presidente quanto por seu devoto chanceler. Era tão fantástica que já estava em curso desde muitos anos, pelos países asiáticos, que exportavam sem discriminação para todos os mercados existentes, especialmente os da Europa e dos EUA. Mas os companheiros desprezavam de modo totalmente estúpido, e aqui insisto no adjetivo estúpido, esses mercados, pois como dizia o "capo di tutti i capi" não se podia ficar "dependente do comércio com os Estados Unidos". Sairam então com a tal de "diplomacia Sul-Sul" -- outra estupidez sem tamanho -- para conquistar os mercados do tal Sul: ou seja, América Latina, África, países árabes e africanos, e supostamente da China e outros asiáticos. Deu no que deu: três magros acordos comerciais que são absolutamente ridículos.
A política comercial companheira, volto a dizer, foi ingênua, estúpida, ideológica.
Agora que saiu o TPP, os empresários, sempre tímidos e envergonhados em denunciar as estupidezes companheiras, começam timidamente a protestar, como este "despachante aduaneiro".
Ele responsabiliza o Itamaraty pela tragédia anunciada, o que só em parte é verdadeiro. Certo: foram diplomatas que estiveram à frente do ministério durante todo o reinado companheiro, mas as políticas eram determinadas pelo PT, às quais os diplomatas cederam, talvez passivamente demais.
Dá para reparar o prejuízo?
Vai ser difícil...
Paulo Roberto de Almeida

O Brasil e o TPP

Portogente, Opinião, 
Segunda, 26 Outubro 2015 00:01
 
Presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC)

Se não bastasse o imobilismo que caracterizou a diplomacia brasileira em relação ao comércio exterior nos últimos 13 anos, várias nações com as quais o Brasil tradicionalmente mantém intercâmbio movimentaram-se e acabam de formalizar o Tratado Transpacífico de Comércio Livre (TPP). Depois de quase cinco anos de negociação, Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Cingapura, Estados Unidos e Vietnã concluíram um acordo que suprime taxas alfandegárias em suas transações e define padrões técnicos unificados.
E o Brasil? Cálculos preliminares indicam que as exportações brasileiras para esses países – a hoje, ao redor de US$ 54 bilhões – deverão cair pelo menos 3%, especialmente nas áreas de minérios, commodities agrícolas e produtos industrializados. Só em manufaturados foram US$ 31 bilhões exportados – o equivalente a 35% do total de vendas externas do País – e US$ 47 bilhões importados.
Se sair o acordo entre Estados Unidos e União Europeia, a chamada Parceria Transatlântica, conhecida pela sigla TTIP, a perspectiva é de que a situação se agrave ainda mais, provocando maior isolamento comercial do Brasil, pois os europeus já não terão tanto interesse em assinar um acordo com o Mercosul e, provavelmente, aumentarão suas exigências. Com a TTIP, segundo cálculos da Fundação Getúlio Vargas, a queda nas exportações brasileiras chegaria a 5%.
O resultado de tantos desastres na política externa só pode ser debitado à (des)orientação do Ministério das Relações Exteriores a partir de 2003, quando os teóricos do Partido dos Trabalhadores (PT), sábios aos seus próprios olhos, imaginaram que poderiam sobrepor a influência dos Estados Unidos no continente com uma política pretensamente denominada Sul-Sul.
Ou seja, em vez de privilegiar o maior mercado do mundo, entendeu-se que seria possível fazer um bloco só com os países em desenvolvimento, favorecendo-se Cuba, Venezuela, Argentina, Bolívia, Equador e ainda países africanos não necessariamente governados por regimes de esquerda, como prova o trabalho desenvolvido pela diplomacia brasileira para que a Guiné Equatorial, nação onde pouco se fala Português, aderisse em 2014 à Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), sem levar em conta que aquele país é governado há três décadas pelo mesmo governante e apresenta um dos piores registros de direitos humanos no mundo, segundo pesquisa anual da organização de direitos civis Freedom House, de Washington.
Diante de tão rotundo fracasso diplomático, o que se espera é que o atual governo entenda que o TPP representa uma mudança completa no tabuleiro das negociações comerciais, pois indica que o futuro será regido por mega-acordos comerciais. E que continuar na defesa do imobilismo e ficar de fora desses grandes acordos equivale a levar a Nação a um suicídio político.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

O TPP provoca calafrios em certas autoridades brasileiras (nao todas...) - Matias Spektor

TPP: um dos grandes problemas de analistas acadêmicos é o de achar que o Itamaraty é responsável pela diplomacia brasileira. Não, não é; se foi no passado, isso ficou muito distante no tempo.
Há muito tempo que o Itamaraty deixou de ser o formulador, e por vezes o aplicador, da política externa, sobretudo em sua vertente econômica, ou seja, comercial.
Não há uma relação de causa a efeito, como se costuma dizer, sequer uma correlação...
Paulo Roberto de Almeida

Matias Spektor
 
Em seguida ao anúncio do Tratado Transpacífico (TPP), o ministro das Relações Exteriores disse ter "preocupação sistêmica". Em diplomatês, significa que o problema é grave.
O novo mega-acordo comercial é um golpe duro contra a estratégia brasileira dos últimos 20 anos, quando o condomínio PT-PSDB optou por fazer uma abertura comercial lenta e parcial, sem combate aos grandes interesses protecionistas nacionais.
A preocupação do chanceler se justifica porque o TPP reduz o poder de fogo de grandes países em desenvolvimento e reconcentra a autoridade pelo comércio global nas mãos de um grupo pequeno de países e de suas empresas.
Não surpreende que o TPP reintroduza elementos que o Brasil e seus aliados haviam conseguido eliminar ou neutralizar nas negociações multilateral da última década.
Além de facilitar comércio, o TPP agora estabelece disciplinas de direito trabalhista, proteção ambiental, convergência regulatória, serviços legais, comércio eletrônico, propriedade intelectual e políticas de conteúdo nacional. Um mecanismo de solução de disputas outorga poderes inéditos a investidores estrangeiros diante de Estados nacionais.
A proposta do TPP é tão ambiciosa, e seus signatários tão poderosos, que o efeito do acordo será sentido em todo o mundo. E servirá como balão de ensaio para a introdução de temas polêmicos. Para o Brasil, o saldo de um acordo dessa natureza é muito negativo.
Não se trata apenas de mais um passo em direção ao isolamento na geopolítica do comércio, mas de algo mais grave. Com o Brasil fora de qualquer negociação relevante, os defensores do livre comércio em Brasília perdem força diante de interesses protecionistas representados no Congresso.
O impacto disso é brutal por um motivo simples. O protecionismo brasileiro beneficia um grupo pequeno de grandes indústrias subsidiadas. Elas custam caro à sociedade, embora empreguem cada vez menos trabalhadores, que via de regra são da classe média.
Quem perde é o resto da economia, onde trabalha a maior parte da população. Esta, apesar de ser composta em sua grande maioria por pessoas de renda baixa ou muito baixa, é forçada a pagar caro por produtos de má qualidade que seus impostos subsidiam.
Forças protecionistas utilizarão o TPP para denunciar o imperialismo americano. Afastando o país das cadeias globais de valor, porém, manterão a sociedade brasileira enquistada no atraso tecnológico e na baixa produtividade. Impedirão o surgimento de uma política industrial inteligente.
A retomada da liderança em negociações comerciais deveria ser objetivo central da diplomacia brasileira. Desta vez, o país precisaria fazê-lo pela via da abertura.
 
MATIAS SPEKTOR escreve às quintas-feiras nesta coluna.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Mercosul: um peso morto e uma camisa de forca? - Juan Hidalgo

Hora de livrar-se da camisa de força do Mercosul
Juan Carlos Hidalgo
El País, 10/10/2014

O descontentamento com a zona livre de comércio cresceu à medida em que o bloco se converteu em uma aliança política de governos de esquerda

O futuro do Brasil e do Uruguai dentro do Mercosul se tornou um dos principais temas de campanha nas eleições presidenciais depois que os candidatos de oposição expressaram suas intenções de buscar acordos comerciais bilaterais com outras nações e blocos. Embora não tenham largado como favoritos na corrida eleitoral, se Aécio Neves e Luis Lacalle Pou chegarem à presidência no Brasil e no Uruguai, respectivamente, haverá uma importante reconfiguração política e comercial na América do Sul.
O descontentamento com o Mercosul veio crescendo à medida em que esse grupo deixou de ser uma promissora zona de livre comércio para se tornar uma aliança política de governos de esquerda. Embora em seus primeiros anos o bloco tenha sido muito bem-sucedido em abolir as barreiras comerciais entre seus membros, nos últimos 10 anos, sucumbiu às inclinações protecionistas de seus dois maiores sócios, Argentina e Brasil. Prova disso é que, após mais de 20 anos de existência, o Mercosul não conseguiu materializar dois de seus principais objetivos: o livre comércio absoluto entre seus membros e a implementação de acordos comerciais importantes com atores como os Estados Unidos ou a União Europeia.
Essa degeneração de propósitos atingiu seu zênite com a incorporação da Venezuela ao grupo em 2011 depois da suspensão temporária do Paraguai por causa do julgamento político do presidente Fernando Lugo. A legalidade desse ato foi resumida naquela altura pelo presidente uruguaio José Mujica, quando disse que “o político superava amplamente ao jurídico”. Embora tenha sido admitida no Mercosul, a Venezuela não entrou para a união aduaneira, o que confirma a atual primazia dos fins políticos sobre os comerciais.
Essa ênfase não teve consequência aparente na última década, quando os países do Mercosul desfrutavam de uma bonança em suas exportações resultante do alto preço das matérias primas. Durante esse período, do outro lado do continente, países como Chile, Peru e Colômbia negociavam ativamente acordos comerciais com os Estados Unidos, a União Europeia e até a China. Entretanto, quando começaram a minguar os ventos de popa das condições externas favoráveis e as economias do Mercosul desaceleraram, o bloco começou a ser percebido mais como uma camisa de força do que como uma plataforma de oportunidades.
Em particular, está em jogo a chamada “Decisão 32/00”, que não permite que um país membro do Mercosul assine acordos comerciais com outras nações sem o consentimento prévio do bloco. Essa cláusula foi usada pelos governos protecionistas, principalmente o da Argentina, para sufocar qualquer tentativa de outros estados membros, em especial dos dois pequenos, de assinar tratados bilaterais de livre comércio. Assim, o Paraguai teve, recentemente, de engavetar as negociações que mantinha com o México ante a resistência de seus parceiros do Mercosul.No Brasil, a necessidade de abrir mercados externos se tornou cada vez mais evidente. A paralisia da Rodada da Doha e o estancamento das negociações entre o Mercosul e a União Europeia iniciadas em 1999 – devido principalmente à reticência argentina – fortaleceram as vozes para que Brasília negocie o tratado de livre comércio por conta própria. Aécio Neves propôs “flexibilizar” o Mercosul de tal forma que seu país possa alcançar o tão ansiado acordo com a UE, que é o principal parceiro comercial do Brasil. Os números ressaltam a lógica dessa posição: enquanto as exportações brasileiras ao restante do Mercosul constituem 11,6% do total, as vendas à UE representam 21,4%. Aécio ressaltou que o bloco sul-americano deveria copiar o exemplo “dinâmico” da Aliança do Pacífico, formada por México, Colômbia, Peru e Chile.
No Uruguai, o candidato nacionalista Luis Lacalle Pou também mencionou a necessidade de o Mercosul permitir que seus sócios negociem tratados comerciais com outros países e blocos. No passado, o Uruguai sondou um tratado de livre comércio com os Estados Unidos e é agora um dos principais interessados em materializar a negociação com a UE. Lacalle Pou indicou que, como presidente, lutaria para eliminar a Decisão 32/00.
Entretanto, cabe destacar que essa cláusula constitui uma trava política, mas não jurídica para os países interessados em buscar acordos bilaterais. A Decisão 32/00, que não é parte do Tratado de Assunção de 1991, foi pactuada entre os Executivos do Mercosul em 2000, mas nunca foi ratificada pelos respectivos parlamentos nacionais. Assim, sua validade é simbólica mas não legal, já que os ordenamentos constitucionais desses países estabelecem que os tratados internacionais devem ser ratificados pelo Legislativo para entrar em vigor. Assim, se forem eleitos, tanto Aécio como Lacalle Pou estão em condições de assinalar que o Brasil e Uruguai não contam com um impedimento legal para materializar acordos comerciais com outras nações. O Paraguai muito provavelmente se juntará a eles, já que há vários anos deixou muito clara sua insatisfação com o Mercosul.
Se Aécio e Lacalle Pou quiserem mesmo buscar o livre comércio, devem se livrar da camisa de força em que se transformou o Mercosul.
 
Juan Carlos Hidalgo é analista de políticas públicas sobre a América Latina no Centro para a Liberdade e Prosperidade Global do Cato Institute em Washington, DC.

sábado, 27 de setembro de 2014

Politica comercial externa e os efeitos da ideologia companheira -Editorial O Globo

Grato ao meu amigo Orlando Tambosi por transcrever esta matéria.
Paulo Roberto de Almeida 

Eis o resultado da ideologização da política externa. O Itamaraty nunca esteve tão distante dos interesses do país, submetido que foi ao alinhamento com vetustas posições terceiro-mundistas e antiamericanistas. O predomínio da ideologia sobre os interesses nacionais afetou a economia, principalmente o comércio.
Editorial do jornal O Globo:

Não se tem notícia de uma fase como esta dos 12 anos de hegemonia do PT, em que o Itamaraty tenha estado tão distante das formulações da diplomacia do país. Desde 2003, tornou-se impossível qualquer desalinhamento entre ideologia dos inquilinos do Planalto e a política externa, mesmo para defender interesses nacionais estratégicos. O Itamaraty passou a ser guiado pelas visões terceiro-mundistas e antiamericanistas do partido. Não se trata de uma mudança de eixo neutra e isolada, porque estas visões fazem parte de um todo, articulam-se com outras políticas, como o protecionismo, que reativou a tendência ao fechamento da economia, uma das razões da perda de competitividade da indústria.

O comércio exterior, em boa medida, passou a refletir as opções ideológicas de Brasília. Atreladas ao Mercosul, no qual a visão autárquica do governo brasileiro foi temperada pelo chavismo venezuelano e anabolizada pelo populismo argentino, as exportações brasileiras, principalmente de manufaturados, tiveram perigosamente ampliada a dependência ao bloco de comércio sul-americano. Em 2013, o peso do Mercosul, como destino das exportações, era maior que o do mercado americano: 12% contra 10%.

Enquanto se sedimentava esta dependência, cresciam as exportações de matérias-primas para a China, de minério de ferro e soja. O resultado foi a mudança de patamar das vendas brasileiras anuais de algo como US$ 100 bilhões para mais de US$ 200 bilhões. E o mercado chinês passou a disputar com a União Europeia qual o principal destino das vendas do Brasil, praticamente empatados em 19% do total das exportações cada um. Não é ruim o crescimento das exportações de matérias-primas. O problemático tem sido, por condicionamento ideológico, o Brasil se manter ligado a um Mercosul em crise, sem explorar as alternativas de acordos bilaterais que existem. O subproduto deste engessamento é a perda relativa de importância do mercado importador americano, ainda o maior do mundo, alternativa para as exportações de bens manufaturados e semimanufaturados barradas no Mercosul (menos aproximadamente quatro pontos percentuais de 2008 ao ano passado).

Passado o bom tempo para a economia mundial, as exportações brasileiras padecem com a diminuição de ritmo do crescimento chinês — de 10% para 7,5% ao ano. Reduz-se a pressão da China nos mercados, caem — ou sobem menos — as cotações de soja e minério, ajudando a gerar déficits na balança comercial do país, algo há muito tempo não visto. Importações não previstas de petróleo agravaram o quadro. E o cenário piora porque as exportações aumentaram a dependência para com as matérias-primas (de 28,9% do total em 2003 para 46,7% dez anos depois). A radiografia do comércio exterior chama a atenção do próximo presidente para reformas que precisará fazer na economia e a necessidade de gerenciar problemas técnicos sem partidarismos.

OS PONTOS-CHAVE

1 País passou a depender bastante do Mercosul, mas o bloco entrou em crise, devido à Argentina

2 Como a China ganhou grande importância para o Brasil, o desaquecimento chinês preocupa

3 A queda de preços internacionais de matérias-primas contribui para déficits comerciais brasileiros

4 Crise à parte, descaso de fundo ideológico com os EUA se reflete no comércio externo

5 Brasil voltou a ser essencialmente um grande exportador de matérias-primas Este é o primeiro editorial de uma série sobre problemas que terão de ser enfrentados pelo próximo presidente da República

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quinta-feira, 10 de julho de 2014

Integração Regional e Políticas Comerciais na América Latina - Paulo Roberto de Almeida

Mais recente trabalho publicado:


2606. “Integração Regional e Políticas Comerciais na América Latina”
Hartford, 16 Maio 2014, 9 p. 
Publicado em Sapientia (São Paulo: ano 3, n. 18, junho-julho 2014, p. 31-36; disponível no link: http://www.cursosapientia.com.br/images/revista/edicao18.pdf). 
Relação de Publicados n. 1132.

Toda a revista possui excelentes matérias e o link fornecido acima permite ler sua íntegra.

Também publicado sob o título de “O Brasil e a integração regional, da Alalc à Unasul: algum progresso?”,  
Mundorama (Divulgação Científica em Relações Internacionais, ISSN: 2175-2052, 11/06/2014; link: http://mundorama.net/2014/06/11/o-brasil-e-a-integracao-regional-da-alalc-a-unasul-algum-progresso-por-paulo-roberto-de-almeida/). 

Paulo Roberto de Almeida  

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Ficar atrelado no Mercosul significa afundar o Brasil - VeraThorstensen (Carta Capital)

CARTA CAPITAL
20/05/2014 - 15:30

Para Vera Thorstensen, da FGV, o Mercosul hoje é a prova da incompetência brasileira no comércio internacional
As maiores apostas do Brasil no setor comercial são a Organização Mundial do Comércio e o Mercosul, mas a primeira é um foro ultrapassado para a ampliação do comércio internacional e o segundo não passa de um acordo para proteger montadoras multinacionais. Este é o diagnóstico de Vera Thorstensen, coordenadora do Centro de Comércio Global e Investimento da FGV-SP sobre a posição internacional do Brasil. Nesta entrevista a CartaCapital, Thorstensen critica o que chama de "escândalo" do Mercosul, a proteção dada pelo bloco às multinacionais automobilísticas, as "maiores exportadores de recursos daqui", e defende acordos comerciais com países desenvolvidos, como os Estados Unidos e os da União Europeia. "Não adianta casar com pobre", diz ela.
CartaCapital: A senhora vem de uma experiência na OMC.
Vera Thorstensen: Estive por cinco anos no Centro para Estudos Europeus de Políticas Públicas, em Bruxelas, no Banco Interamericano de Desenvolvimento, em Washington e fui assessora econômica da Missão do Brasil em Genebra de 1995 a 2010. Presidi o Comitê de Regras de Origem da Organização Mundial do Comércio. Criei um centro que está indo muito bem, com seis advogados e dois economistas, nas áreas de regulação de comércio externo. A OMC como instituição está muito bem. O mais importante é que tem o tribunal. E este tribunal atua nos painéis, que são disputas, interpreta regras e resolve conflitos. A OMC como rodada (de Doha) está mal, mas como instituição está lá funcionando.
O que eu faço aqui: regulação. Há também uma área fortíssima de modelagem. E depois tem uma área de câmbio. Outra área é a de acordos regionais. Trabalho tudo com sistema multilateral de comércio, os sistemas regionais – e aí você põe desde os tratados Transpacífico e Transatlântico (Transatlantic Trade and Investment Partnership – TTIP, entre Estados Unidos e União Europeia, e o Trans-Pacific Partnership – TPP entre Estados Unidos, Austrália, Brunei, Canadá, Cingapura, Chile, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru e Vietnã) –, os grandes parceiros (India, China, Brics) e depois o Brasil. Em tudo que examino, analiso o que está acontecendo nos grandes parceiros.
CC: Qual a situação do Brasil em relação aos acordos comerciais?
VT: Política de comércio externo no Brasil não existe, virou apêndice de uma política industrial inexistente. Você não pode separar política industrial da comercial; como não tem a primeira, a segunda virou um remendo. Sintomas de que as coisas não estão bem: uma exportação que está diminuindo, uma importação que está subindo. O que o Brasil exporta é puramente commoditie para a China. Industrializados, o que conseguia exportar para o mundo não exporta mais, só para o Mercosul porque tem a preferência.
CC: Com quais países o Brasil deve fazer acordo?
VT: Com os grandes, não adianta casar com pobre. Ficar isolado é se afundar cada vez mais. Há o exemplo da Argentina. Para mim, ficar atrelado ao Mercosul é a morte, é afundar o Brasil de vez. Onde estão os problemas da indústria internamente? Falta de competitividade, excesso de impostos, de encargos trabalhistas em comparação com outros países, custos de energia dos mais altos, custos do atraso da infraestrutura. Como sai disso? Enterrar a cabeça no chão como a avestruz não resolve.
CC: E os acordos?
VT: Vamos ver o que está acontecendo com o mundo. Você tem 160 membros na OMC e a negociação parou. Por que? EUA e UE disseram: é muito complicado com 160 países e vamos fazer a “OMC Transatlântica”. Estão criando o TTIP, que é uma OMC transatlântica. O que o americano faz? As regras que tem na OMC já estão estão ultrapassadas, porque desde 1994 não tem negociação. Eles tentaram fazer alguma coisa em Doha, já desistiram e estão jogando tudo na Transatlântica. Há necessidade de criar regras novas de investimento, meio ambiente, de concorrência, trabalhistas, economia e comércio digitais, é tudo novidade e não vai sair na OMC. Os EUA não conseguem fazer isso em Doha porque ela está muito mais preocupada com os países em desenvolvimento. Então chamaram a Comunidade Europeia para a definição de um novo patamar de comércio. E tem propriedade intelectual (querem passar para 90 anos) e aí o pessoal chia, quebra de patentes e a cláusula investidor Estado. Tudo isso.
CC: Há impactos enormes para o Brasil.
VT: Brutais. Propriedade intelectual é um tema sensível para a gente e outro é o problema da cláusula investidor-estado. Leva o investidor estrangeiro aqui no Brasil para julgamento contra o Estado. O investidor tem direito a ressarcimento porque você mudou uma lei. O americano inventou isso por causa do México.
CC: É uma regra do Nafta...
VT: Mas a Austrália já disse que no TTP ela não aceita isso. Você não fazer nada com medo disso, não aceito esse argumento. O Brasil é forte e grande o suficiente. Se a Austrália conseguiu, porque nós não conseguiríamos? Os dois grandes acordos mencionados estão mudando a geopolítica. Não contêm só visão de comércio, há uma visão geopolítica também. O TTP é claramente Estados Unidos dizendo aos países para não ficarem amarrados à China. Eles produzem componentes, a China monta e exporta para o resto do mundo. Portanto a China foi fator para o TTP e o é para o TTIP, porque está tirando todo mercado de produtos industrializados da Europa nos Estados Unidos.
CC: Assim como tira mercado do Brasil na Argentina...
VT: Claro. Então você tem dois acordos novos que são importantes e estão estabelecendo as regras e o Brasil só está na OMC. Há uma proliferação dos acordos regionais e o Brasil está fora. O Mercosul estáshrinking, diminuindo. Há um acordo que nem ratificou com a África do Sul e envolve 400 produtos, outro com a Índia envolvendo 460 produtos de cada lado. Desde quando países em desenvolvimento conseguem exportar uns para os outros? Não conseguem, porque produzem as mesmas coisas. Então é dificílimo conseguir algum resultado significativo, esse é que é o problema. O Chile faz com os Estados Unidos porque são muito complementares, os africanos fazem com a UE. Mas Brasil e Índia não sairão desses 460 produtos, o restante é sensível demais. Como é que fica?
CC: Se bem que com o Mercosul funcionou bem depois da crise de 2008.O comércio do Brasil com o Mercosul caiu menos que com o resto do mundo.
VT: Não exportamos mais para o resto do mundo. Depois de quatro anos iniciais de boom, que não devem ser considerados em nenhuma estatística como alguns fazem, acabou-se a alegria, a preferência zero valeu. O correto é analisar logo depois de 1994, quando estabilizou. As exportações de manufaturados brasileiros estão desabando no resto do mundo, só sobem na Argentina e alguém acha isso uma maravilha? Isso apenas prova que só conseguimos exportar para a Argentina e não temos competitividade para exportar para nenhum outro país. É isso o que está acontecendo. O Mercosul hoje é a prova da incompetência brasileira. É muito mais sério do que se imagina. Não temos competitividade para exportar para mais nenhum lugar. O Mercosul não agrega nada. A gente exportava um monte de componentes de automóvel para os EUA, parou de exportar tudo. Alguma coisa está errada. O segundo grande desafio hoje são as cadeias globais de valor. O mundo inteiro, o que faz? Importa e reexporta. A China é exemplo, todos os asiáticos, a Europa inteira. E nesse quesito, o Brasil está lá na rabeira.
CC: Só tem uma empresa integradora, que é a Embraer.
VT: Vamos nos integrar ou não? O problema é trazer tecnologia. Quem é que manda nas cadeias globais? São as transnacionais. No momento em que você se integra nessas cadeias consegue trazer alguma tecnologia. E o Brasil, com algumas exceções, está muito atrás em termos de inovação tecnológica .
CC: Você tem tudo aqui, expertise de montadoras e autopeças.
VT: O problema é o seguinte, esta é a decisão: você quer que o Brasil seja um país exportador de agrobusiness, que vai muito bem, obrigada? Se essa é a decisão do governo, então abre a tarifa para tudo e zera de uma vez para importar o resto.
CC: O Brasil não é o Chile.
VT: O Brasil não é o Chile, tem que ter indústria, tem que ter agrobusiness e tem que ter serviço.
CC: E tem uma indústria.
VT: Claro. E olha que eu posso lhe dizer com a autoridade de quem foi Cepalina [referência à Comissão Econômica para a América Latina] e trabalhou no Befiex [programa brasileiro de incentivo à exportação]. No tempo em que estava no CNPq, trabalhei na lei de informática. Temos que reconhecer que não deu, tentamos mas não deu. Analisemos a exportação do Mercosul. 50% é o que? É automóvel e autopeça. É uma vergonha, o Brasil é um tratado que está defendendo multinacional, os maiores lucros das multinacionais são mandados para fora. Elas arrancam tudo do governo, por causa do emprego, teoricamente. No fundo, são os maiores exportadores de recursos daqui. Entra no Mercosul para ver o que é: é um acordo setorial, em que se protege as montadoras. Que são ineficientes, os carros brasileiros estão entre os mais caros do mundo, é um escândalo total. Você está defendendo um acordo de multinacional, primeiro. E segundo: o restante da pauta é máquina de lavar, linha branca. Porque não há competitividade para mais nada. Como dizer que o Mercosul é uma maravilha? E a China vai entrando, porque comprou uma quantidade imensa de títulos argentinos, e está enfiando muito dinheiro no petróleo em Vaca Muerta, a principal ocorrência de petróleo shale do pais. Hoje o investimento chinês na Argentina é um dos maiores, 15 bilhões de dólares por ano.
Eu participei da criação do Mercosul, com o todo idealismo possível e imaginável, acreditávamos que era importante. Era em primeiro lugar uma questão de segurança, vamos parar de enterrar as nucleares todas. Funcionou no início, depois parou de funcionar. Pior ainda, o Mercosul está com problemas, há pouca competitividade, os argentinos perceberam a atratividade dos negócios com os chineses. Ficamos brigando com a Argentina, conseguimos fazer uma aliança com a Venezuela, mas perdemos a Colômbia, o Peru. O Chile tem 50 acordos, o México tem 50 acordos. O Brasil está isolado no Mercosul.
CC: O Chile não é referência para nós.
VT: Nunca foi.
CC: Nem o México.
VT: Mas já perdemos Colômbia, Peru. O conceito do Mercosul está ultrapassado, é preciso fazer um aggiornamento [uma atualização]. Achar que a prioridade do Brasil é a América do Sul, não dá. Olha a tragédia: você está com pouca competitividade, um monte de problemas, e esses países todos estão fazendo acordos. A China chegou ao Peru, está fazendo investimentos maciços lá. Na Colômbia, está construindo um outro “canal do Panamá”.
CC: Concorrente do original?
VT: Exatamente. O resultado é que a China vai pegar esses países que exportam os minérios que ela quer e fazer o que? Vai enfiar toda a produção por esses países. E aí chego ao meu outro tema, o câmbio. A China está há 20 anos com o câmbio hiperdesvalorizado. Então todos os instrumentos e regras jurídicas que a gente inventou não funcionam mais. Tem que refazer. Por quê? Todos esses países já entram no Brasil com tarifa nula. Então você está no pior dos mundos.
CC: A China já tomou parte do mercado do Brasil na Argentina.
VT: O último ponto é o que fazer. O Brasil está na situação de se ficar o bicho come, se correr o bicho pega. A gente está vivendo isso. Quais são as opções no mundo? Abrir ou fechar. Fechar, aumentar tarifas, esse tipo de coisa, é ir na contramão.
CC: Países desenvolvidos, no início, protegeram seus mercados.
VT: A China em todas as fronteiras organizou zonas francas. Investimento estrangeiro e tecnologia foram para lá. O roteiro de exportação da China, o Brasil não fez, que é abrir toda a fronteira e condicionar o investimento estrangeiro à exportação e à transferência de tecnologia.
CC: Que são as Zonas Econômicas Especiais
VT: É isso aí.
CC: Começaram com quatro, hoje são muitas.
VT: E é economia de estado, em todas as províncias.
CC: O governo controla toda moeda estrangeira.
VT: Outra coisa, China não é economia de mercado, é uma economia híbrida. E nós, fazemos o quê? Ficamos só com a Argentina e afundamos junto? Ou abrimos à chinesa? A estratégia que eu defendo é fazer acordo, não com pobre, não adianta fazer acordo Sul-Sul, sinto muito. Porque acordo com a Índia não dá, a Índia não quer abrir, porque a gente exporta as mesmas coisas. Com a África do Sul, o acordo é ridículo, são pouquíssimos produtos. Fez com o Egito, maior, mas não ratificou. O Brasil não tem acordo nenhum, gente. Sul-Sul não funciona. E qual é o problema do Sul-Sul? É muito de dominação, o Brasil acha que vai dominar, você não consegue tecnologia. Temos que fazer um aggiornamento rapidíssimo de tecnologia. E como é que você faz isso? Casando com pobre? Não. Obrigar multinacional a vir para cá e trazer tecnologia? Não fai fazer. Então o que é que tem de fazer?  Tem de abrir, via acordos e fazer o quê? Fazer acordos com países ricos. O acordo do Mercosul com a União Europeia é a coisa mais prioritária. Só que metade do governo quer, metade não quer, porque a UE não vai abrir para a nossa agricultura. Não vai abrir muito mais do que isso, e você tem de pensar que o que queremos não é só agricultura. Se não fizermos acordo com a UE, perderemos as cotas europeias, os EUA são mais poderosos e vão comer as nossas cotas de laranja, soja, carne. Aí estaremos no pior dos mundos.
Deram um chega pra lá e a proposta está aqui. Agora, o que está acontecendo é que o governo está dividido, tem gente que acha que não deve fazer, eu acho um erro não fazer. Porque você ainda consegue pegar a tecnologia alemã, tecnologia francesa, tem países que podem ajudar o processo. De quê? De aumentar a produtividade e fazer o Brasil voltar a ter uma pauta exportadora mais decente. Caso contrário, vai exportar soja e minério de ferro, que é o que a China quer. Que incompetência política a nossa, de não conseguir exportar nada além do complexo de soja e do de minério de ferro. Eu acho isso uma grande incompetência, a gente não conseguir fazer isso com um grande parceiro.
CC: Tem como concorrer?
VT: Tem que chamar a China e dizer: exportar soja não, queremos exportar óleo. Há outro problema. Há lógica em fazer um acordo do Mercosul só com a União Europeia se esta faz um acordo transatlântico? EUA, Europa, estes dois estão casados. O mais importante para o comércio hoje não são as tarifas. Tarifa o câmbio come, a flutuação do câmbio é mais importante do que a tarifa. Essas tarifas de 10%, não valem nada. Estamos há 15 anos negociando, Brasil e UE, focando na briga por tarifa. Muito mais importante é barreira técnica e fitossanitária. Esta é a base dos grandes acordos e os Estados Unidos e a União Europeia estão se harmonizando nessa área. Já são 10 mil produtos na lista dos harmonizáveis. Acertam padrões de alguns produtos, por exemplo: a camisa não pode soltar tinta, etc. E em relação a outros, vão fazer equivalência no nível de proteção. E há os famosos reconhecimentos mútuos, que é a coisa mais importante. O europeu vai no instituto de lá, certifica que o produto foi bem feito e exporta sem ter de certificar nos EUA. São muitos milhares de dólares economizados.
CC: Fale mais um pouco sobre esse ponto dos reconhecimentos mútuos.
VT: Como é que você exporta um alimento pela primeira vez? É preciso provar que o seu suco de laranja não tem inseticida, adubo, químico. A carne brasileira não pode ser tratada com hormônio. Há especificações que equipamentos supersofisticados detectam. Hoje, a cada partida você tem que provar que aquele gado é são, que está dentro daquelas normas etc. Mas se há um acordo de reconhecimento mútuo, você vai aqui num laboratório conhecido teu, que já está reconhecido nos EUA e ele dá o certificado. Não tem que mandar toda a sua carga de tantas em tantas toneladas para aquele laboratório, o que demora, atrasa, fica parado no porto. Um inferno.
E tem toda parte de TBT. Você tem que pegar a mesa, o plástico e provar que não é cancerígeno. Quer dizer, se você, a cada partida, tem que provar, custa milhões para fazer isso. Toda parte que a gente chama de barreira técnica é isso, estabelecer e certificar que isso tem glúten, etc. Normalmente se faz a certificação aqui e tem de fazer lá também. São milhares e milhares de dólares gastos.
É mais complicado fazer tudo isso com os EUA porque os Estados têm autonomia. A Europa, não, a comunidade europeia é mais condensada. É difícil, mas eles vão fazer. Estão conseguindo trabalhar não por harmonização, mas por equivalência. Eu faço diferente, mas garanto que a sanidade é a mesma. Eles estão estabelecendo equivalências de controle. Com isso você tira de 10% a 15% do custo da exportação. A tarifa na média não chega a isso.
CC: Isso entre eles.
VT: Entre Europa e Estados Unidos. E nós estamos ainda no tempo do onça, negociando um acordo com a Comunidade Europeia baseado só em tarifas. O mundo mudou. Há duas coisas que destroem tarifa, barreira não tarifária, que é muito mais importante e câmbio.
CC: No caso do Brasil, que tamanhos têm as barreiras não tarifárias e tarifas?
VT: A média das tarifas brasileiras é de 10%, fora o pico de 35% para brinquedos e automóveis. Isso vai ter que baixar em 10 anos. Agora, o restante já está baixo. Você pode com a Comunidade Europeia tranquilamente fazer negociação, para alguns produtos dá já, em dois, três anos zera, e depois vai esticando, põe lá para alguns setores 15 anos; teoricamente o teto seria de 10 anos, mas você negocia.
CC: A quanto equivalem as barreiras não tarifárias?
VT: A redução de custo com diminuição de barreiras não tarifárias pode chegar a 20% ou até mais. No estudo Ecolys, sobre barreiras tarifárias, não tarifárias e alfandegárias, há setores em que a redução chega a 30%.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Politica comercial companheira, 2: Brasil perde espacos no comercio internacional - Editorial Estadao

O Brasil perde espaço no comércio internacional

17 de abril de 2014 
Editorial O Estado de S.Paulo
Com um déficit na balança comercial de US$ 6 bilhões, até 11 de abril, e uma evolução das exportações de apenas 1%, neste ano, pelo critério de média por dia útil, é frágil o comércio exterior do Brasil. A fraqueza fica explícita nas previsões da Organização Mundial do Comércio (OMC), divulgadas segunda-feira, que apontam para uma recuperação das exportações e das importações no mundo.
Em 2013, o crescimento do comércio global foi de apenas 2,1% em relação a 2012, com as exportações alcançando US$ 18,8 trilhões, mas as previsões da OMC indicam um avanço de 4,7%, neste ano. No ano passado, a China foi o principal país exportador com US$ 2,2 trilhões e uma participação de 11,8% no comércio mundial, enquanto o Brasil, com vendas externas de US$ 242 bilhões, ocupou o 21.º lugar, com peso de 1,3%. Entre os maiores importadores, a liderança é dos Estados Unidos, seguida por China e Alemanha - e o Brasil está no 20.º lugar, importando US$ 250 bilhões, com peso de 1,3% na importação global.
Os números da OMC são algo diferente dos números oficiais do País. Entre 2011 e 2013, segundo a OMC, as exportações brasileiras declinaram US$ 13,8 bilhões, enquanto as importações cresceram quase US$ 13,4 bilhões. Pelos números oficiais divulgados no País, as exportações caíram US$ 8 bilhões ou 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB).
A recuperação do comércio global, neste ano, dependerá tanto do ritmo da atividade nos Estados Unidos, que é promissor, como da União Europeia, que é lento, além da China. O comércio não recuperou a vitalidade que tinha antes da crise de 2008, registrando, em 2013, volume de trocas 17% menor. A recuperação será insuficiente para compensar a queda dos últimos 5 anos.
O diretor-geral da OMC, o brasileiro Roberto Azevêdo, argumenta que o aumento das importações do País tem um aspecto positivo. "Se o País importa substancialmente mais, tende a indicar que a economia está bem, o consumidor está comprando, a indústria está importando bens intermediários."
Mas esse é apenas um lado da realidade, pois a corrente comercial do Brasil - ou seja, a soma de importações e exportações - ficou estagnada entre 2011 e 2013. E não há indícios de que venha a se recuperar neste ano. O Brasil está, de fato, perdendo espaço no comércio internacional, por causa de custos e de ineficiências do governo Dilma.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Nuestros hermanos, los protecionistas: a Argentina e o (nao) futuro do Mercosul

O fator Argentina

02 de abril de 2014 | 2h 08
Celso Ming - O Estado de S.Paulo
 
No primeiro trimestre do ano, as exportações do Brasil para a Argentina caíram 14,4% em relação ao primeiro trimestre de 2013 (veja o gráfico). Como pesam cerca de 8% sobre as vendas externas totais, essa retração tem impacto significativo na balança comercial brasileira, especialmente para o setor de veículos.
A Argentina passa por uma forte crise cambial. Não tem moeda conversível em volume suficiente para pagar todas as contas. Daí as travas sobre as importações do mundo inteiro, e não só as do Brasil, apesar dos tratados de livre-comércio e de união aduaneira que amarram os dois países.
Após meses em estudo, o governo Dilma acabou desistindo da proposta de liquidar em moeda nacional as contas com a Argentina porque esse acerto deixaria um mico enorme no Banco Central, pois o Brasil é superavitário nas relações comerciais com o vizinho: depois das compensações, sempre sobra um tanto a ser pago pela Argentina. Em 2013, o superávit foi de US$ 3,15 bilhões.
Nas últimas semanas, o Ministério do Desenvolvimento anunciou uma linha de crédito a ser aberta pelo setor privado e candidamente dizia acreditar na eficácia da gambiarra. É que o problema de fundo continua. Nem o Tesouro nem o Banco Central da Argentina estão dispostos a dar garantias para o pagamento futuro dessa dívida, nem tampouco esses avais podem ser dados pelo Brasil.
O ex-secretário da Indústria da Argentina no governo Duhalde Dante Sica, hoje consultor, não vê futuro em soluções desse tipo. Isso implica emperramento das exportações do Brasil para a Argentina até que as condições se normalizem, sabe-se lá quando.
Dante Sica não acredita que as atuais negociações de abertura comercial entre Mercosul e União Europeia tenham sucesso. Para ele, o máximo que conseguirão será certa encenação para manter as aparências e adiar indefinidamente um acordo. "Não há condições na economia da Argentina para avanços significativos de um acordo comercial", diz.
Não dá para dizer que as coisas por lá estejam inteiramente paradas. O governo de Cristina Kirchner começou a reduzir subsídios, especialmente sobre as tarifas da água e do gás. Também encaminhou um acordo com a espanhola Repsol, que perdeu por decreto o controle da petroleira argentina YPF. E começa a negociar um acordo com o Clube de Paris, que cuida das dívidas entre governos.
O ajuste está sendo descarregado quase inteiramente sobre o setor privado. O rombo das contas externas exige cobertura das reservas e o das contas públicas, das emissões de moeda. Em dezembro, as reservas estavam a US$ 30,6 bilhões; hoje, estão a US$ 27,2 bilhões; e a base monetária cresce a 18% ao ano. É o que explica que a inflação esteja em 33% ao ano pelos cálculos da Consultoria Abeceb, que Dante Sica dirige. Essa inflação põe em risco a relativa estabilidade cambial obtida a partir da última semana de janeiro, em torno de 8 pesos por dólar.
Normalmente, esse tipo de distribuição de contas a pagar pela população cobra alto custo eleitoral. Aparentemente, a presidente Cristina já desistiu de mais um mandato e trata de empurrar a administração econômica até o final de 2015.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Edmar Bacha e os precos $urreais do Brasil: muito simples para resolver, nao vai dar...

Edmar Bacha tem razão em tudo o que ele diz sobre as razões de os preços serem abusivamente elevados no Brasil. Mas as suas soluções para o problema me parecem altamente irrealistas, não que elas estejam erradas, ao contrário, estão todas certas.
O único pequeno problema, pequenino, mas gigantesco, é que essas mudanças simplesmente não vão acontecer.
Não existe político, de centro, de direita, de extrema direita, conservador, ou de esquerda (como todos são) capaz de resolver o nó tributário e de gastos públicos, no Brasil. Simplesmente não existe.
Repito em maiúsculas: NENHUM ESTADISTA, POR MAIS CAPAZ, SERIA CAPAZ DE RESOLVER O IMBROGLIO EM QUE NOS METEMOS, POR FORÇA DE UMA CONSTITUIÇÃO ESQUIZOFRENICA, E DE MENTALIDADES AINDA MAIS ESQUIZOFRENICAS.
Os impasses são de tal tamanho que só uma crise de proporções monumentais poderia nos obrigar a reformar o monstro que foi criado no Brasil, antes do PT, e aperfeiçoado e prostituído pelo PT.
Como esse desastre não virá, continuaremos a patinar no pântano da mediocridade.
Desculpem ser tão pessimista, mas não vejo saídas. Simplesmente não vejo saídas. Apenas ajustes cosméticos que não vão resolver nossos problemas fundamentais.
E estou apenas falando da economia, terreno no qual sou moderadamente pessimista.
Se eu fosse falar de educação, aí não tem jeito: sou absolutamente pessimista. Vamos continuar a caminhar para o brejo e para a total mediocridade no campo do ensino. Estamos simplesmente regredindo, e essa obra pertence sim ao PT, inteiramente ao PT, já que até Paulo Renato estávamos tentando acertar em algumas coisas (fora as universidades que são totalmente irreformáveis).
Paulo Roberto de Almeida  

ANÁLISE POLÍTICA COMERCIAL
Não há solução simples para acabar com preços "$urreais"
EDMAR BACHAESPECIAL PARA A FOLHA, 22/02/2014
Na semana passada os jornais deram destaque às longas filas que se formaram na abertura da primeira loja da Apple na América Latina, na Barra da Tijuca, no Rio.
Consta que a abertura da loja se deu com gritos dos fãs. Apenas não foi possível saber pelo noticiário se os gritos eram de entusiasmo com os produtos da loja ou de dor com os preços a que eles eram vendidos, mais de 80% acima dos preços nos EUA.
Os preços extremamente altos dos produtos fabricados no Brasil vendidos na loja da Apple são apenas a ponta do iceberg com que os brasileiros se defrontam.
De um modo geral, os preços dos produtos fabricados no país são muito mais caros do que no exterior. A tal ponto que jovens cariocas abriram uma página de denúncia bem humorada no Facebook, com o título "Rio $urreal", ilustrada com a figura de Salvador Dalí.
Não há solução simples para acabar com nossos preços surreais. Se olharmos a composição dos preços dos produtos na loja da Apple na Barra vamos constatar que boa parte da diferença é explicada pela carga de impostos, muito mais pesada no Brasil do que nos EUA.
Logo, para reduzir os preços há que se contemplar uma reforma tributária que simplifique de forma radical os impostos indiretos no Brasil. Idealmente, através da criação de um único imposto, como o IVA nacional que existe nos países europeus, que substituiria toda a parafernália de impostos indiretos (IPI, ICMS, Pis-Cofins etc.) que infernizam o cotidiano de nossos empresários.
À simplificação do regime tributário deveria aliar-se uma redução das alíquotas. Mas para isso seria preciso controlar a expansão do gasto público, com todas as difíceis reformas que esse controle requereria (regras de salário mínimo, normas de aposentadoria, regras de acesso ao SUS, gratuidade do ensino superior etc.).
Mas os impostos são somente parte do problema. Os custos de produção e as margens de lucro de nossas empresas são muito altos. Isso se deve a que a economia brasileira é muito fechada ao comércio exterior.
Como consequência desse isolamento comercial, nossas empresas utilizam insumos locais caros e obsoletos, têm escala de produção pequena por estarem limitadas ao mercado interno, inovam muito pouco por não terem incentivos para tal, são excessivamente diversificadas sem foco nas atividades em que são mais produtivas, e enfrentam muito pouca concorrência.
Tudo isso contribui para tornar os preços surreais.
São grandes os desafios para resolver esse problema. É preciso contemplar uma ampla integração da economia brasileira com o resto do mundo.
Essa integração envolveria a realização de acordos comerciais com nossos principais parceiros, para assegurar que seus mercados se abram para nossos produtos na mesma medida em que estaremos abrindo nosso mercado para seus produtos.
A integração também deveria incluir a substituição dos atuais mecanismos de proteção à produção ineficiente --tarifas às importações, regras de conteúdo nacional, preferências para compras governamentais, processos produtivos básicos, normas técnicas peculiares (tomadas de três pontos, por exemplo), burocracia portuária e alfandegária asfixiante-- por uma taxa de câmbio mais desvalorizada.
Desse modo, estaríamos assegurando uma expansão de nossas empresas mais competitivas, capazes de produzir bens e serviços de qualidade e com preços mais baixos. Os jovens cariocas poderiam então fechar seu portal porque o Brasil deixaria de ter preços surreais.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

E por falar em desgraca alheia, nao custa relembrar a malfadada Alca...

Por acaso cai num post antigo, mais exatamente de SETE anos atras...

quinta-feira, 29 de junho de 2006

533) Ressuscitando a Alca?


Improvável que isto ocorra agora, sobretudo neste governo, mas o estudo referido abaixo do economista Marcos Jank questiona alguns dos fundamentos da atual política comercial brasileira: 

Estudo indica que Brasil deveria incrementar comércio com a América 
Jornal Valor Econômico, 29/06/2006, pág. A4
Raquel Landim

Os dados da balança evidenciam que a prioridade da política comercial brasileira deveria ser a integração do continente americano. Essa é a conclusão de estudo de Marcos Jank, presidente do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), e Sidney Nakahodo, pesquisador-sênior da entidade. 

Os especialistas dividiram a pauta de exportação do Brasil em commodities e produtos diferenciados. As commodities foram subdivididas em agrícolas, combustíveis e minerais. Os diferenciados variaram de alta tecnologia (avião ou celular), média-alta tecnologia (automóveis e máquinas e equipamentos), média-baixa tecnologia (aço), e baixa tecnologia (têxteis e calçados). 

Nos últimos 10 anos, a única região onde o Brasil coleciona superávits crescentes em todas essas áreas é o continente americano. "A Alca é mais oportunidade que ameaça. Tínhamos um processo integrativo que fazia todo sentido", diz Jank, lamentando a paralisia da negociação. 

Para o especialista, a América está fragmentada e os Estados Unidos partiram para fechar acordos bilaterais com todos os países do continente, menos com o Mercosul. A maior parte desses acordos é mais vantajoso do que os obtidos pelo Brasil. Por conta da falta de vontade política dos governos de Brasil e EUA, Jank diz que é mais fácil o governo brasileiro também partir para acordos bilaterais. 

A balança comercial entre o Brasil e a Ásia mostra fortes superávits agrícolas e déficits crescentes em produtos de alta e média tecnologia. "É impossível pensar em um acordo comercial com essa região", diz Jank, ressaltando que a resistência da indústria seria muito forte por conta da China. Já a balança entre Brasil e União Européia mostra que quase nada mudou em 10 anos, pois a indústria enfrenta dificuldades para entrar nesse mercado, tradicional cliente dos produtos agrícolas brasileiros.(RL)
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