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sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Ebook: Conferencia Os Rumos da Politica de Comercio Exterior do Brasil - FGV-SP

É com grande satisfação que o CCGI – Centro do Comércio Global e Investimento da EESP/FGV, com o apoio da FIESP, CINDES, ABCI e Valor Econômico divulgam o e-book da

Conferência Os Rumos da Política de Comércio Exterior do Brasil
realizada dia 09 de setembro de 2014.

Durante a Conferência foram debatidos os principais pontos de uma proposta de agenda de Política de Comércio Exterior. Foram apresentados dados sobre as oportunidades a serem exploradas, resultados de modelagem de possíveis acordos e dados sobre a posição do Brasil com relação às cadeias globais de valor. Finalmente, foram discutidas medidas que possam gerar os ajustes necessários tanto em termos de atuação diplomática, quanto de reformulação da estrutura do comércio exterior do Brasil.

O e-book é composto pelo programa, minuta dos painéis e apresentações dos palestrantes, e está disponível para download no site do CCGI:

http://ccgi.fgv.br/en/confer%C3%AAncia-os-rumos-da-pol%C3%ADtica-de-com%C3%A9rcio-exterior-do-brasil

Vera Thorstensen
CCGI

CONFERENCIA OS RUMOS DA POLÍTICA DE COMÉRCIO EXTERIOR DO BRASIL
O superávit do comércio exterior brasileiro mostra declínio desde 2006. Caiu de US$ 46 bilhões em 2006 para US$ 2,5 bilhões em 2013, podendo apresentar déficit em 2014. 
Algumas razões são apresentadas para esse declínio: a crise econômica de 2008, que paralisou a economia global, sem que até hoje tenha ocorrido recuperação significativa nas grandes economias; a reorientação da economia chinesa, que resultou em taxas menores de crescimento, diminuindo a demanda por commodities, os principais produtos exportados pelo Brasil; a perda de competitividade global dos produtos industrializados brasileiros, cuja participação decresceu significativamente nas exportações de nosso país.
No entanto, uma visão mais aguda do quadro ajuda a detectar questões outras que poderiam explicar a atual perda de fôlego do comércio exterior brasileiro.
Além das questões de Custo Brasil, carga tributária, encargos trabalhistas e câmbio, debate-se, nos meios acadêmicos, se a perda de ímpeto do comércio não seria consequência da opção do País pelo multilateralismo, em detrimento dos acordos preferenciais de comércio, e pela ênfase no comércio Sul-Sul, fragilizando a alternativa Norte-Sul, que envolve os países desenvolvidos, com o consequente distanciamento das cadeias globais de valor. 
Diante desse quadro, o CCGI – Centro do Comércio Global e Investimento da EESP/FGV propõe a realização da Conferência Os Rumos da Política de Comércio Exterior do Brasil em que serão debatidos os principais pontos de uma proposta de agenda. Serão apresentados dados sobre as oportunidades a serem exploradas, resultados de modelagem de possíveis acordos, bem como a posição do Brasil com relação às cadeias globais de valor. Finalmente, serão discutidas medidas que possam gerar os ajustes necessários tanto em termos de atuação diplomática, quanto de reformulação da estrutura do comércio exterior do Brasil. 
O E-book com o programa, minutas e apresentações pode ser conferido AQUI.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Conferencia da FGV-SP sobre comercio exterior do Brasil - Vera Thorstensen

CONFERÊNCIA  OS RUMOS DA POLÍTICA DE COMÉRCIO EXTERIOR DO BRASIL
Data: Quinta – 11/09/2014
Local: Auditório da FGV
Das 9h00 as 17h00

O superávit do comércio exterior brasileiro mostra declínio desde 2006. Caiu de US$ 46 bilhões em 2006 para US$ 2,5 bilhões em 2013, podendo apresentar déficit em 2014.

Algumas razões são apresentadas para esse declínio: a crise econômica de 2008, que paralisou a economia global, sem que até hoje tenha ocorrido recuperação significativa nas grandes economias; a reorientação da economia chinesa, que resultou em taxas menores de crescimento, diminuindo a demanda por commodities, os principais produtos exportados pelo Brasil; a perda de competitividade global dos produtos industrializados brasileiros, cuja participação decresceu significativamente nas exportações de nosso país.

No entanto, uma visão mais aguda do quadro ajuda a detectar questões outras que poderiam explicar a atual perda de fôlego do comércio exterior brasileiro. Além das questões de Custo Brasil, carga tributária, encargos trabalhistas e câmbio, debate-se, nos meios acadêmicos, se a perda de ímpeto do comércio não seria consequência da opção do País pelo multilateralismo, em detrimento dos acordos preferenciais de comércio, e pela ênfase no comércio Sul-Sul, fragilizando a alternativa Norte-Sul, que envolve os países desenvolvidos, com o consequente distanciamento das cadeias globais de valor.

Diante desse quadro, o CCGI – Centro do Comércio Global e Investimento da EESP/FGV, com o apoio da FIESPCINDESABCI e Valor Econômico, propõe a realização da Conferência Os Rumos da Política de Comércio Exterior do Brasil em que serão debatidos os principais pontos de uma proposta de agenda. Serão apresentados dados sobre as oportunidades a serem exploradas, resultados de modelagem de possíveis acordos, bem como a posição do Brasil com relação às cadeias globais de valor. Finalmente, serão discutidas medidas que possam gerar os ajustes necessários tanto em termos de atuação diplomática, quanto de reformulação da estrutura do comércio exterior do Brasil.

Questões a serem debatidas:
1) Por que o superávit comercial brasileiro perdeu fôlego nos últimos anos?
2) Qual o peso da crise global nessa perda?
3) Qual o impacto da diminuição do ritmo de desenvolvimento da China?
4) Qual o peso da perda de competitividade dos produtos industrializados?
5) Como se tem comportado o setor de serviços?
6) O que significa participar das cadeias globais de valor?
7) Por que as exportações de bens industrializados perderam competitividade global?
8) Quais as vantagens da opção do Brasil pelo multilateralismo?
9) Os tratados de comércio preferencial podem ser uma alternativa válida?
10) Há conflito entre a opção multilateralista e a opção por acordos comerciais?
11) Há contradição entre o Brasil manter boas relações Norte-Sul e Sul-Sul?
12) Se os EUA e a União Europeia assinarem o TTIP, como o Brasil será afetado?
13) Qual o potencial de comércio no âmbito dos BRICS?
14) Há vantagens no Brasil se aproximar da Aliança do Pacífico?
15) O Mercosul, hoje, é uma vantagem ou um peso para o Brasil?

O programa segue abaixo, e está disponível no site http://ccgi.fgv.br/eventos.

Por favor, confirme seu interesse em participar enviando um e-mail com seus dados (nome e número de documento de identificação) para:

Fernanda Bertolaccini – fernanda.bertolaccini@fgv.br
CCGI – ccgi@fgv.br


PROGRAMA

CONFERÊNCIA OS RUMOS DA POLÍTICA DE COMÉRCIO EXTERIOR DO BRASIL

Abertura e Painel 1
Dados e Fatos: um retrato do Brasil nas correntes internacionais de comércio
Objetivo: Apresentar um quadro atual dos fluxos, origens e destinos das exportações e importações brasileiras. Examinar a participação da agricultura, indústria e serviços no comércio, e o porquê da perda da competitividade brasileira. Comparar custos mão de obra, energia, tributários e de infraestrutura com os de outros parceiros internacionais do Brasil.

Presidente – Yoshiaki Nakano
Acadêmico - Ricardo Markwald – Funcex
Carlos Abijaoldi – CNI
Tatiana Palermo – CNA
Mauro Laviola – AEB

Coffee Break

Painel 2
Brasil: as estratégias possíveis - sul-sul ou sul-norte?
Objetivo: Debater as vantagens e desvantagens da atual Política de Comércio Exterior do Brasil. Examinar como reforçar o multilateralismo da OMC com os ganhos dos acordos comerciais. Debater quais seriam as opções para acordos comerciais: sul-sul, sul-norte, sul-leste ou sul-oeste. Analisar os impactos para o Brasil dos Mega-Acordos Comerciais (TTIP e TPP) e o enfraquecimento da OMC. Discutir se o Mercosul é hoje uma oportunidade ou uma camisa de força para o comércio. Indagar sobre as opções do Brasil para a América do Sul, e se a Aliança do Pacífico representa uma ameaça da China na região. Questionar o que representam os BRICS e como podem atuar para resgatar a posição central da OMC.

Presidente: Embaixador Luiz Felipe de Seixas Correa
Acadêmico – Vera Thorstensen – FGV SP
Aluisio Lima Campos – American University School of Law
Ronaldo Costa – MRE
Tomas Zanotto – FIESP
Sandra Rios – Cindes

Painel 3
O Brasil nas cadeias globais de valor: custos e oportunidades de se conectar às cadeias
Objetivo: Apresentar a posição do Brasil nas cadeias globais. Debater quais setores industriais e de serviços tem potencial para integrar-se e beneficiar-se das cadeias globais de produção. Indagar qual é o papel dos serviços na agregação de valor das cadeias. Examinar quais seriam os programas de uma plataforma de inserção do Brasil nessas cadeias. Analisar qual a relação dos acordos de comércio com o fortalecimento das cadeias. Para fortalecer as cadeias, quais seriam os mais relevantes parceiros comerciais do Brasil?
Presidente – Professor Celso Lafer (a confirmar)
Acadêmico – Lucas Ferraz – FGV SP
Renato Baumann – IPEA
Paulo Estivallet Mesquita – MRE
Lia Vals Pereira – FGV-Rio
Roberto Caiuby Vidigal

Brunch

Painel 4
A voz do setor produtivo
Objetivo: A formulação de uma nova Política para o Comércio Exterior deve contemplar os anseios dos diversos segmentos produtivos envolvidos no comércio internacional.
Presidente – Embaixador Fernando de Mello Barreto
Representante da ABIT
Representante da ABIQUIM
Representante da ANFAVEA
Representante da ABIA
Representante da ABIMAQ
Representante da ABINEE
Representante da IBA
Representante da UNICA

Painel 5
Uma nova estrutura para uma nova Política de Comércio Exterior
Objetivo: Debater como reformular a estrutura governamental, de forma a dar coordenação e suporte a nova Política de Comércio Exterior. Examinar reformas necessárias do ponto de vista estrutural e de instrumentos de Política.
Mediador: Sergio Leo
Clodoaldo Hugueney (a confirmar)
Rubens Barbosa
Alessandro Teixeira
Samuel Pinheiro Guimarães
Regis Arslanian

sábado, 19 de julho de 2014

Rumos do comercio exterior no Brasil - conferencia na FGV-SP (11/09/2014)

O comércio exterior do Brasil tem rumos? Eles foram definidos, estão claros, estamos perdidos?
Em todo caso, observamos um nítido retrocesso nos últimos anos, tanto em termos de orientações, quanto de composição, de competitividade, de respeito pelas normas multilaterais, de simples defesa dos compromissos firmados sob o Mercosul, por exemplo, se não for falta completa de bom senso.
Dá para consertar?
Talvez...
Metade, ou mais, do povo que vai abaixo, pode tentar, mas ainda assim seria preciso um governo que agisse de forma coerente e consentânea com os interesses dos agentes econômicos que produzem e que exportam no Brasil, o que não é certo que ocorra com o atual, mais movido por ideologias e políticas bizarras do que pelo simples bom senso.
Quando se fala de política de comércio exterior estamos falando de atitudes em face do relacionamento externo do Brasil, que têm a ver com nossa competitividade agrícola, industrial, em serviços e em inteligência de comércio exterior, que não é apenas promoção comercial, mas uma definição ampla e clara do que queremos, do que necessitamos, para onde desejamos ir.
No governo atual parece claro: vamos ser avestruzes, nos fechar, ter uma política defensiva, no máximo fazer promoção comercial num sentido claramente ideológico: passar a mão por cima de todas as arbitrariedades comerciais e políticas da Argentina no Mercosul, e sair por aí promovendo uma tal de política Sul-Sul, canhestra, caolha, irracional, simplesmente ridícula.
Uma conferência como essa é muito bem vinda, por permitir debater todos esses problemas e apontar soluções.
Elas são fáceis de serem implementadas?
Provavelmente não, pois o governo, a quem cabe uma série de definições nessa área, é um monstrengo desgovernado e sem rumo (o conceito é apropriado, portanto, mas não parece se adaptar muito bem ao que faz o governo atualmente, que parece uma barata tonta).
Se houver soluções, elas serão implementadas pelo governo?
Dificilmente, não apenas porque falta tempo a esse governo, mas porque ele não sabe o que fazer...
Em todo caso, trata-se de uma excelente ocasião para debater alguns dos mais importantes problemas não apenas do comércio exterior, mas das políticas públicas em áreas econômicas relevantes para os destinos do país.
Meus parabéns aos organizadores.
Paulo Roberto de Almeida

CONFERENCIA OS RUMOS DA POLÍTICA DE COMÉRCIO EXTERIOR DO BRASIL E LANÇAMENTO DO CCGI COMO WTO CHAIR
Data: Quinta – 11/09/2014
Local: Auditório da FG
Av. 9 de Julho 2029
Das 9h00 as 17h00

 O superávit do comércio exterior brasileiro mostra declínio desde 2006. Caiu de US$ 46 bilhões em 2006 para US$ 2,5 bilhões em 2013, podendo apresentar déficit em 2014.
Algumas razões são apresentadas para esse declínio: a crise econômica de 2008, que paralisou a economia global, sem que até hoje tenha ocorrido recuperação significativa nas grandes economias; a reorientação da economia chinesa, que resultou em taxas menores de crescimento, diminuindo a demanda por commodities, os principais produtos exportados pelo Brasil; a perda de competitividade global dos produtos industrializados brasileiros, cuja participação decresceu significativamente nas exportações de nosso país.
No entanto, uma visão mais aguda do quadro ajuda a detectar questões outras que poderiam explicar a atual perda de fôlego do comércio exterior brasileiro.
Além das questões de Custo Brasil, carga tributária, encargos trabalhistas e câmbio, debate-se, nos meios acadêmicos, se a perda de ímpeto do comércio não seria consequência da opção do País pelo multilateralismo, em detrimento dos acordos preferenciais de comércio, e pela ênfase no comércio Sul-Sul, fragilizando a alternativa Norte-Sul, que envolve os países desenvolvidos, com o consequente distanciamento das cadeias globais de valor.



Diante desse quadro, o CCGI – Centro do Comércio Global e Investimento da EESP/FGV, com apoio do Valor Econômico propõem a realização da Conferência Os Rumos da Política de Comércio Exterior do Brasil em que serão debatidos os principais pontos de uma proposta de agenda. Serão apresentados dados sobre as oportunidades a serem exploradas, resultados de modelagem de possíveis acordos, bem como a posição do Brasil com relação às cadeias globais de valor. Finalmente, serão discutidas medidas que possam gerar os ajustes necessários tanto em termos de atuação diplomática, quanto de reformulação da estrutura do comércio exterior do Brasil.

Este evento inaugura as atividades da Cátedra OMC no Brasil atribuída ao CCGI – Centro de Comércio Global e Investimento da EESP-FGV. 

Questões a serem debatidas:
1) Por que o superávit comercial brasileiro perdeu fôlego nos últimos anos?
2) Qual o peso da crise global nessa perda?
3) Qual o impacto da diminuição do ritmo de desenvolvimento da China?
4) Qual o peso da perda de competitividade dos produtos industrializados?
5) Como se tem comportado o setor de serviços?
6) O que significa participar das cadeias globais de valor?
7) Por que as exportações de bens industrializados perderam competitividade global?
8) Quais as vantagens da opção do Brasil pelo multilateralismo?
9) Os tratados de comércio preferencial podem ser uma alternativa válida?
10) Há conflito entre a opção multilateralista e a opção por acordos comerciais?
11) Há contradição entre o Brasil manter boas relações Norte-Sul e Sul-Sul?
12) Se os EUA e a União Europeia assinarem o TTIP, como o Brasil será afetado?
13) Qual o potencial de comércio no âmbito dos BRICS?
14) Há vantagens no Brasil se aproximar da Aliança do Pacífico?
15) O Mercosul, hoje, é uma vantagem ou um peso para o Brasil?

O programa preliminar segue abaixo.
Por favor, confirme seu interesse em participar enviando um e-mail com seus dados (nome e número de documento de identificação) para:
Fernanda Bertolaccini – fernanda.bertolaccini@fgv.br
CCGI – ccgi@fgv.br
Vera Thorstensen
Coordenadora do CCGI
Centro do Comércio Global e Investimento, EESP - FGV                       

PROGRAMA
CONFERÊNCIA: OS RUMOS DA POLÍTICA DE COMÉRCIO EXTERIOR DO BRASIL
Abertura
9h00 – 9h30
LANÇAMENTO DA CATEDRA OMC
Representantes do CCGI, da EESP-FGV e da OMC

Painel 1
9h30 – 10h45
Dados e Fatos: um retrato do Brasil nas correntes internacionais de comércio
Objetivo: Apresentar um quadro atual dos fluxos, origens e destinos das exportações e importações brasileiras. Examinar a participação da agricultura, indústria e serviços no comércio, e o porquê da perda da competitividade brasileira. Comparar custos mão de obra, energia, tributários e de infraestrutura com os de outros parceiros internacionais do Brasil
Palestrantes convidados:
Presidente – Yoshiaki Nakano
Acadêmico - Ricardo Markwald – Funcex
Debatedor – Sandra Rios – CINDES
Daniel Godinho – SECEX
Carlos Abijaoldi – CNI
Tatiana Palermo – CNA
Mauro Laviola – AEB

Coffee Break
10h45 – 11h00

Painel 2
11h00 – 12h15
Brasil: a ideologia da opção sul-sul ou o pragmatismo da opção sul-norte?
Objetivo: Debater as vantagens e desvantagens da atual Política de Comércio Exterior do Brasil. Examinar como reforçar o multilateralismo da OMC com os ganhos dos acordos comerciais. Debater quais seriam as opções para acordos comerciais: sul-sul, sul-norte, sul-leste ou sul-oeste. Analisar os impactos para o Brasil dos Mega-Acordos Comerciais (TTIP e TPP) e o enfraquecimento da OMC. Discutir se o Mercosul é hoje uma oportunidade ou uma camisa de força para o comércio. Indagar sobre as opções do Brasil para a América do Sul, e se a Aliança do Pacífico representa uma ameaça da China na região. Questionar o que representam os BRICS e como podem atuar para resgatar a posição central da OMC.
Palestrantes convidados:
Presidente: Embaixador Luiz Felipe de Seixas Correa
Acadêmico – Vera Thorstensen – FGV SP
Debatedor – Aluisio Lima Campos – American University
Ronaldo Costa – MRE
Pedro Passos – IEDI
Tomas Zanotto – FIESP
Roberto Rodrigues – GV AGRO

Painel 3
12h15 – 13h30
O Brasil nas cadeias globais de valor: custos e oportunidades de se conectar às cadeias
Objetivo: Apresentar a posição do Brasil nas cadeias globais. Debater quais setores industriais e de serviços tem potencial para integrar-se e beneficiar-se das cadeias globais de produção. Indagar qual é o papel dos serviços na agregação de valor das cadeias. Examinar quais seriam os programas de uma plataforma de inserção do Brasil nessas cadeias. Analisar qual a relação dos acordos de comércio com o fortalecimento das cadeias. Para fortalecer as cadeias, quais seriam os mais relevantes parceiros comerciais do Brasil?
Palestrantes convidados:
Presidente – Professor Celso Lafer
Acadêmico – Lucas Ferraz – FGV SP
Debatedor – Renato Baumann – IPEA
Paulo Estivallet Mesquita – MRE
José Serrador – Embraer
Luiz Fernando Furlan
Roberto Caiuby Vidigal

Brunch
13h30 – 14h30

Painel 4
14h30 – 15h45
A voz do setor produtivo
Objetivo: A formulação de uma nova Política para o Comércio Exterior deve contemplar os anseios dos diversos segmentos produtivos envolvidos no comércio internacional.
Palestrantes convidados:
Mediador – Jornalista
Representante da ABIT
Representante da ABIQUIM
Representante da ANFAVEA
Representante da ABIA
Representante da ABIMAQ
Representante da ABINE
Representante da IBA

Painel 5
15h45 – 17h00
Uma nova estrutura para uma nova Política de Comércio Exterior
Objetivo: Debater como reformular a estrutura governamental, de forma a dar coordenação e suporte a nova Política de Comércio Exterior. Examinar reformas necessárias do ponto de vista estrutural e de instrumentos de Política.
Palestrantes convidados:
Mediadora – Vera Thorstensen
Clodoaldo Hugueney
Rubens Barbosa
Alessandro Teixeira
Samuel Pinheiro Guimarães
Eduardo Gianetti da Fonseca
Sergio Amaral

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Ficar atrelado no Mercosul significa afundar o Brasil - VeraThorstensen (Carta Capital)

CARTA CAPITAL
20/05/2014 - 15:30

Para Vera Thorstensen, da FGV, o Mercosul hoje é a prova da incompetência brasileira no comércio internacional
As maiores apostas do Brasil no setor comercial são a Organização Mundial do Comércio e o Mercosul, mas a primeira é um foro ultrapassado para a ampliação do comércio internacional e o segundo não passa de um acordo para proteger montadoras multinacionais. Este é o diagnóstico de Vera Thorstensen, coordenadora do Centro de Comércio Global e Investimento da FGV-SP sobre a posição internacional do Brasil. Nesta entrevista a CartaCapital, Thorstensen critica o que chama de "escândalo" do Mercosul, a proteção dada pelo bloco às multinacionais automobilísticas, as "maiores exportadores de recursos daqui", e defende acordos comerciais com países desenvolvidos, como os Estados Unidos e os da União Europeia. "Não adianta casar com pobre", diz ela.
CartaCapital: A senhora vem de uma experiência na OMC.
Vera Thorstensen: Estive por cinco anos no Centro para Estudos Europeus de Políticas Públicas, em Bruxelas, no Banco Interamericano de Desenvolvimento, em Washington e fui assessora econômica da Missão do Brasil em Genebra de 1995 a 2010. Presidi o Comitê de Regras de Origem da Organização Mundial do Comércio. Criei um centro que está indo muito bem, com seis advogados e dois economistas, nas áreas de regulação de comércio externo. A OMC como instituição está muito bem. O mais importante é que tem o tribunal. E este tribunal atua nos painéis, que são disputas, interpreta regras e resolve conflitos. A OMC como rodada (de Doha) está mal, mas como instituição está lá funcionando.
O que eu faço aqui: regulação. Há também uma área fortíssima de modelagem. E depois tem uma área de câmbio. Outra área é a de acordos regionais. Trabalho tudo com sistema multilateral de comércio, os sistemas regionais – e aí você põe desde os tratados Transpacífico e Transatlântico (Transatlantic Trade and Investment Partnership – TTIP, entre Estados Unidos e União Europeia, e o Trans-Pacific Partnership – TPP entre Estados Unidos, Austrália, Brunei, Canadá, Cingapura, Chile, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru e Vietnã) –, os grandes parceiros (India, China, Brics) e depois o Brasil. Em tudo que examino, analiso o que está acontecendo nos grandes parceiros.
CC: Qual a situação do Brasil em relação aos acordos comerciais?
VT: Política de comércio externo no Brasil não existe, virou apêndice de uma política industrial inexistente. Você não pode separar política industrial da comercial; como não tem a primeira, a segunda virou um remendo. Sintomas de que as coisas não estão bem: uma exportação que está diminuindo, uma importação que está subindo. O que o Brasil exporta é puramente commoditie para a China. Industrializados, o que conseguia exportar para o mundo não exporta mais, só para o Mercosul porque tem a preferência.
CC: Com quais países o Brasil deve fazer acordo?
VT: Com os grandes, não adianta casar com pobre. Ficar isolado é se afundar cada vez mais. Há o exemplo da Argentina. Para mim, ficar atrelado ao Mercosul é a morte, é afundar o Brasil de vez. Onde estão os problemas da indústria internamente? Falta de competitividade, excesso de impostos, de encargos trabalhistas em comparação com outros países, custos de energia dos mais altos, custos do atraso da infraestrutura. Como sai disso? Enterrar a cabeça no chão como a avestruz não resolve.
CC: E os acordos?
VT: Vamos ver o que está acontecendo com o mundo. Você tem 160 membros na OMC e a negociação parou. Por que? EUA e UE disseram: é muito complicado com 160 países e vamos fazer a “OMC Transatlântica”. Estão criando o TTIP, que é uma OMC transatlântica. O que o americano faz? As regras que tem na OMC já estão estão ultrapassadas, porque desde 1994 não tem negociação. Eles tentaram fazer alguma coisa em Doha, já desistiram e estão jogando tudo na Transatlântica. Há necessidade de criar regras novas de investimento, meio ambiente, de concorrência, trabalhistas, economia e comércio digitais, é tudo novidade e não vai sair na OMC. Os EUA não conseguem fazer isso em Doha porque ela está muito mais preocupada com os países em desenvolvimento. Então chamaram a Comunidade Europeia para a definição de um novo patamar de comércio. E tem propriedade intelectual (querem passar para 90 anos) e aí o pessoal chia, quebra de patentes e a cláusula investidor Estado. Tudo isso.
CC: Há impactos enormes para o Brasil.
VT: Brutais. Propriedade intelectual é um tema sensível para a gente e outro é o problema da cláusula investidor-estado. Leva o investidor estrangeiro aqui no Brasil para julgamento contra o Estado. O investidor tem direito a ressarcimento porque você mudou uma lei. O americano inventou isso por causa do México.
CC: É uma regra do Nafta...
VT: Mas a Austrália já disse que no TTP ela não aceita isso. Você não fazer nada com medo disso, não aceito esse argumento. O Brasil é forte e grande o suficiente. Se a Austrália conseguiu, porque nós não conseguiríamos? Os dois grandes acordos mencionados estão mudando a geopolítica. Não contêm só visão de comércio, há uma visão geopolítica também. O TTP é claramente Estados Unidos dizendo aos países para não ficarem amarrados à China. Eles produzem componentes, a China monta e exporta para o resto do mundo. Portanto a China foi fator para o TTP e o é para o TTIP, porque está tirando todo mercado de produtos industrializados da Europa nos Estados Unidos.
CC: Assim como tira mercado do Brasil na Argentina...
VT: Claro. Então você tem dois acordos novos que são importantes e estão estabelecendo as regras e o Brasil só está na OMC. Há uma proliferação dos acordos regionais e o Brasil está fora. O Mercosul estáshrinking, diminuindo. Há um acordo que nem ratificou com a África do Sul e envolve 400 produtos, outro com a Índia envolvendo 460 produtos de cada lado. Desde quando países em desenvolvimento conseguem exportar uns para os outros? Não conseguem, porque produzem as mesmas coisas. Então é dificílimo conseguir algum resultado significativo, esse é que é o problema. O Chile faz com os Estados Unidos porque são muito complementares, os africanos fazem com a UE. Mas Brasil e Índia não sairão desses 460 produtos, o restante é sensível demais. Como é que fica?
CC: Se bem que com o Mercosul funcionou bem depois da crise de 2008.O comércio do Brasil com o Mercosul caiu menos que com o resto do mundo.
VT: Não exportamos mais para o resto do mundo. Depois de quatro anos iniciais de boom, que não devem ser considerados em nenhuma estatística como alguns fazem, acabou-se a alegria, a preferência zero valeu. O correto é analisar logo depois de 1994, quando estabilizou. As exportações de manufaturados brasileiros estão desabando no resto do mundo, só sobem na Argentina e alguém acha isso uma maravilha? Isso apenas prova que só conseguimos exportar para a Argentina e não temos competitividade para exportar para nenhum outro país. É isso o que está acontecendo. O Mercosul hoje é a prova da incompetência brasileira. É muito mais sério do que se imagina. Não temos competitividade para exportar para mais nenhum lugar. O Mercosul não agrega nada. A gente exportava um monte de componentes de automóvel para os EUA, parou de exportar tudo. Alguma coisa está errada. O segundo grande desafio hoje são as cadeias globais de valor. O mundo inteiro, o que faz? Importa e reexporta. A China é exemplo, todos os asiáticos, a Europa inteira. E nesse quesito, o Brasil está lá na rabeira.
CC: Só tem uma empresa integradora, que é a Embraer.
VT: Vamos nos integrar ou não? O problema é trazer tecnologia. Quem é que manda nas cadeias globais? São as transnacionais. No momento em que você se integra nessas cadeias consegue trazer alguma tecnologia. E o Brasil, com algumas exceções, está muito atrás em termos de inovação tecnológica .
CC: Você tem tudo aqui, expertise de montadoras e autopeças.
VT: O problema é o seguinte, esta é a decisão: você quer que o Brasil seja um país exportador de agrobusiness, que vai muito bem, obrigada? Se essa é a decisão do governo, então abre a tarifa para tudo e zera de uma vez para importar o resto.
CC: O Brasil não é o Chile.
VT: O Brasil não é o Chile, tem que ter indústria, tem que ter agrobusiness e tem que ter serviço.
CC: E tem uma indústria.
VT: Claro. E olha que eu posso lhe dizer com a autoridade de quem foi Cepalina [referência à Comissão Econômica para a América Latina] e trabalhou no Befiex [programa brasileiro de incentivo à exportação]. No tempo em que estava no CNPq, trabalhei na lei de informática. Temos que reconhecer que não deu, tentamos mas não deu. Analisemos a exportação do Mercosul. 50% é o que? É automóvel e autopeça. É uma vergonha, o Brasil é um tratado que está defendendo multinacional, os maiores lucros das multinacionais são mandados para fora. Elas arrancam tudo do governo, por causa do emprego, teoricamente. No fundo, são os maiores exportadores de recursos daqui. Entra no Mercosul para ver o que é: é um acordo setorial, em que se protege as montadoras. Que são ineficientes, os carros brasileiros estão entre os mais caros do mundo, é um escândalo total. Você está defendendo um acordo de multinacional, primeiro. E segundo: o restante da pauta é máquina de lavar, linha branca. Porque não há competitividade para mais nada. Como dizer que o Mercosul é uma maravilha? E a China vai entrando, porque comprou uma quantidade imensa de títulos argentinos, e está enfiando muito dinheiro no petróleo em Vaca Muerta, a principal ocorrência de petróleo shale do pais. Hoje o investimento chinês na Argentina é um dos maiores, 15 bilhões de dólares por ano.
Eu participei da criação do Mercosul, com o todo idealismo possível e imaginável, acreditávamos que era importante. Era em primeiro lugar uma questão de segurança, vamos parar de enterrar as nucleares todas. Funcionou no início, depois parou de funcionar. Pior ainda, o Mercosul está com problemas, há pouca competitividade, os argentinos perceberam a atratividade dos negócios com os chineses. Ficamos brigando com a Argentina, conseguimos fazer uma aliança com a Venezuela, mas perdemos a Colômbia, o Peru. O Chile tem 50 acordos, o México tem 50 acordos. O Brasil está isolado no Mercosul.
CC: O Chile não é referência para nós.
VT: Nunca foi.
CC: Nem o México.
VT: Mas já perdemos Colômbia, Peru. O conceito do Mercosul está ultrapassado, é preciso fazer um aggiornamento [uma atualização]. Achar que a prioridade do Brasil é a América do Sul, não dá. Olha a tragédia: você está com pouca competitividade, um monte de problemas, e esses países todos estão fazendo acordos. A China chegou ao Peru, está fazendo investimentos maciços lá. Na Colômbia, está construindo um outro “canal do Panamá”.
CC: Concorrente do original?
VT: Exatamente. O resultado é que a China vai pegar esses países que exportam os minérios que ela quer e fazer o que? Vai enfiar toda a produção por esses países. E aí chego ao meu outro tema, o câmbio. A China está há 20 anos com o câmbio hiperdesvalorizado. Então todos os instrumentos e regras jurídicas que a gente inventou não funcionam mais. Tem que refazer. Por quê? Todos esses países já entram no Brasil com tarifa nula. Então você está no pior dos mundos.
CC: A China já tomou parte do mercado do Brasil na Argentina.
VT: O último ponto é o que fazer. O Brasil está na situação de se ficar o bicho come, se correr o bicho pega. A gente está vivendo isso. Quais são as opções no mundo? Abrir ou fechar. Fechar, aumentar tarifas, esse tipo de coisa, é ir na contramão.
CC: Países desenvolvidos, no início, protegeram seus mercados.
VT: A China em todas as fronteiras organizou zonas francas. Investimento estrangeiro e tecnologia foram para lá. O roteiro de exportação da China, o Brasil não fez, que é abrir toda a fronteira e condicionar o investimento estrangeiro à exportação e à transferência de tecnologia.
CC: Que são as Zonas Econômicas Especiais
VT: É isso aí.
CC: Começaram com quatro, hoje são muitas.
VT: E é economia de estado, em todas as províncias.
CC: O governo controla toda moeda estrangeira.
VT: Outra coisa, China não é economia de mercado, é uma economia híbrida. E nós, fazemos o quê? Ficamos só com a Argentina e afundamos junto? Ou abrimos à chinesa? A estratégia que eu defendo é fazer acordo, não com pobre, não adianta fazer acordo Sul-Sul, sinto muito. Porque acordo com a Índia não dá, a Índia não quer abrir, porque a gente exporta as mesmas coisas. Com a África do Sul, o acordo é ridículo, são pouquíssimos produtos. Fez com o Egito, maior, mas não ratificou. O Brasil não tem acordo nenhum, gente. Sul-Sul não funciona. E qual é o problema do Sul-Sul? É muito de dominação, o Brasil acha que vai dominar, você não consegue tecnologia. Temos que fazer um aggiornamento rapidíssimo de tecnologia. E como é que você faz isso? Casando com pobre? Não. Obrigar multinacional a vir para cá e trazer tecnologia? Não fai fazer. Então o que é que tem de fazer?  Tem de abrir, via acordos e fazer o quê? Fazer acordos com países ricos. O acordo do Mercosul com a União Europeia é a coisa mais prioritária. Só que metade do governo quer, metade não quer, porque a UE não vai abrir para a nossa agricultura. Não vai abrir muito mais do que isso, e você tem de pensar que o que queremos não é só agricultura. Se não fizermos acordo com a UE, perderemos as cotas europeias, os EUA são mais poderosos e vão comer as nossas cotas de laranja, soja, carne. Aí estaremos no pior dos mundos.
Deram um chega pra lá e a proposta está aqui. Agora, o que está acontecendo é que o governo está dividido, tem gente que acha que não deve fazer, eu acho um erro não fazer. Porque você ainda consegue pegar a tecnologia alemã, tecnologia francesa, tem países que podem ajudar o processo. De quê? De aumentar a produtividade e fazer o Brasil voltar a ter uma pauta exportadora mais decente. Caso contrário, vai exportar soja e minério de ferro, que é o que a China quer. Que incompetência política a nossa, de não conseguir exportar nada além do complexo de soja e do de minério de ferro. Eu acho isso uma grande incompetência, a gente não conseguir fazer isso com um grande parceiro.
CC: Tem como concorrer?
VT: Tem que chamar a China e dizer: exportar soja não, queremos exportar óleo. Há outro problema. Há lógica em fazer um acordo do Mercosul só com a União Europeia se esta faz um acordo transatlântico? EUA, Europa, estes dois estão casados. O mais importante para o comércio hoje não são as tarifas. Tarifa o câmbio come, a flutuação do câmbio é mais importante do que a tarifa. Essas tarifas de 10%, não valem nada. Estamos há 15 anos negociando, Brasil e UE, focando na briga por tarifa. Muito mais importante é barreira técnica e fitossanitária. Esta é a base dos grandes acordos e os Estados Unidos e a União Europeia estão se harmonizando nessa área. Já são 10 mil produtos na lista dos harmonizáveis. Acertam padrões de alguns produtos, por exemplo: a camisa não pode soltar tinta, etc. E em relação a outros, vão fazer equivalência no nível de proteção. E há os famosos reconhecimentos mútuos, que é a coisa mais importante. O europeu vai no instituto de lá, certifica que o produto foi bem feito e exporta sem ter de certificar nos EUA. São muitos milhares de dólares economizados.
CC: Fale mais um pouco sobre esse ponto dos reconhecimentos mútuos.
VT: Como é que você exporta um alimento pela primeira vez? É preciso provar que o seu suco de laranja não tem inseticida, adubo, químico. A carne brasileira não pode ser tratada com hormônio. Há especificações que equipamentos supersofisticados detectam. Hoje, a cada partida você tem que provar que aquele gado é são, que está dentro daquelas normas etc. Mas se há um acordo de reconhecimento mútuo, você vai aqui num laboratório conhecido teu, que já está reconhecido nos EUA e ele dá o certificado. Não tem que mandar toda a sua carga de tantas em tantas toneladas para aquele laboratório, o que demora, atrasa, fica parado no porto. Um inferno.
E tem toda parte de TBT. Você tem que pegar a mesa, o plástico e provar que não é cancerígeno. Quer dizer, se você, a cada partida, tem que provar, custa milhões para fazer isso. Toda parte que a gente chama de barreira técnica é isso, estabelecer e certificar que isso tem glúten, etc. Normalmente se faz a certificação aqui e tem de fazer lá também. São milhares e milhares de dólares gastos.
É mais complicado fazer tudo isso com os EUA porque os Estados têm autonomia. A Europa, não, a comunidade europeia é mais condensada. É difícil, mas eles vão fazer. Estão conseguindo trabalhar não por harmonização, mas por equivalência. Eu faço diferente, mas garanto que a sanidade é a mesma. Eles estão estabelecendo equivalências de controle. Com isso você tira de 10% a 15% do custo da exportação. A tarifa na média não chega a isso.
CC: Isso entre eles.
VT: Entre Europa e Estados Unidos. E nós estamos ainda no tempo do onça, negociando um acordo com a Comunidade Europeia baseado só em tarifas. O mundo mudou. Há duas coisas que destroem tarifa, barreira não tarifária, que é muito mais importante e câmbio.
CC: No caso do Brasil, que tamanhos têm as barreiras não tarifárias e tarifas?
VT: A média das tarifas brasileiras é de 10%, fora o pico de 35% para brinquedos e automóveis. Isso vai ter que baixar em 10 anos. Agora, o restante já está baixo. Você pode com a Comunidade Europeia tranquilamente fazer negociação, para alguns produtos dá já, em dois, três anos zera, e depois vai esticando, põe lá para alguns setores 15 anos; teoricamente o teto seria de 10 anos, mas você negocia.
CC: A quanto equivalem as barreiras não tarifárias?
VT: A redução de custo com diminuição de barreiras não tarifárias pode chegar a 20% ou até mais. No estudo Ecolys, sobre barreiras tarifárias, não tarifárias e alfandegárias, há setores em que a redução chega a 30%.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

OMC e comercio internacional - entrevista com Vera Thorstensen

"Brasil precisa fazer mais acordos comerciais"
Assis Moreira, de Genebra
Valor Econômico, 02/08/2010

A dinâmica atual do comércio internacional não está mais na Organização Mundial do Comércio (OMC) e sim nos acordos regionais. Já há 267 notificados na OMC e 100 estão em negociação, com troca de preferências entre seus membros. O Brasil precisa buscar acordos com as grandes potências e não apenas com países em desenvolvimento. Do contrário, suas exportações serão cada vez mais prejudicadas por regras criadas pelos Estados Unidos, Europa e no futuro pela China em seus entendimentos preferenciais.

Isso é o que defende a professora Vera Thorstensen, que acaba de deixar a assessoria econômica da missão brasileira, em Genebra, para criar um Centro do Comércio Global na Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas, em São Paulo. O objetivo é explorar a nova dimensão da regulação do comércio internacional, com a multiplicidade de normas que encarecem os custos para o exportador e podem afetar duramente a competitividade brasileira. Embora a Rodada Doha não prospere, na própria OMC as regras continuam evoluindo através de interpretações de seu Órgão de Apelação.

Doutora pela FGV, Vera Thorstensen, 60 anos, passou 20 na Europa, dos quase 15 em Genebra, depois de "amor à primeira vista" pelos temas de comércio internacional. Publicou o primeiro livro em português sobre OMC e suas regras, em 1999. Montou e teve papel central na formação de 120 jovens advogados que fizeram estágio na missão brasileira em Genebra desde 20023. Deu cursos pelo Brasil inteiro e na Europa (Paris, Lisboa, Barcelona).

Reputada por seu rigor, a professora Vera se tornou uma figura incontornável na delegação brasileira. Por sua sala, ao longo dos anos, passaram autoridades, acadêmicos, técnicos brasileiro, sempre buscando um esclarecimento sobre a OMC e suas regras negociadas na Rodada Uruguai ou em negociação na Rodada Doha.

Na OMC, ela foi presidente do Comitê de Regras de Origem de 2004 a 2010. Um acordo para definir como os países identificam a origem de uma mercadoria para efeito de tarifas continua bloqueado porque os países visivelmente preferem ter margem para burlar as normas.

A seguir, os principais trechos da entrevista que concedeu ao Valor:

Valor: Por que retornar ao Brasil agora? É frustração com a Rodada Doha?

Vera Thorstensen: No início deste ano, tomei a decisão de voltar ao Brasil consciente de que eu tinha uma missão a cumprir: criar um centro de estudos sobre a OMC para focar na regulação do comércio internacional. E explico: existe uma percepção no país de que a OMC morreu porque a Rodada Doha continua no impasse. Essa visão está errada. A OMC não só não morreu, como está muito ativa, principalmente na solução de disputas entre os países, onde foi aberto esta semana o 411. E tudo isso tem impactos imediatos no Brasil.

Valor: Que impactos seriam esses?

Vera: As regras da OMC não se referem apenas a atividades de exportação e importação de bens e serviços. São muito mais amplas, envolvendo medidas relativas ao comércio com propriedade intelectual, concorrência, investimentos, ambiente, clima, saúde, direitos humanos. Esta é a dimensão da regulação do comércio internacional. Atualmente, são duas as fontes dessa regulação. Uma, são as regras já definidas nos acordos na OMC. E mesmo sem a rodada avançar, essas regras na prática estão sendo ampliadas e revistas por decisões do Órgão de Apelação, que é uma espécie de supremo tribunal dos conflitos do comercio internacional. O mecanismo de solução de controvérsias é composto de duas fases: uma através dos painéis e a outra pelo Órgão de Apelação. Ou seja, não basta hoje apenas ler os acordos da OMC. É preciso ir atrás de todos os painéis relacionados aos temas em conflito e ver como o Órgão de Apelação interpretou os termos dos acordos.

Valor: Ou seja, um grupo de juízes está fazendo regras, enquanto os governos brigam?

Vera: Veja, os panelistas e o Órgão de Apelação têm obrigação de solucionar os conflitos comerciais que são a eles apresentados pelos países. E devem fazer isso com base nos acordos existentes que tem 700 páginas e outras 10 mil páginas de listas de compromisso de liberalização dos países. Como a OMC toma decisão por consenso, a linguagem de suas regras é muito pouco clara, é a famosa ambiguidade construtiva para se fechar negociações. Então, um país interpreta uma regra de um jeito e o outro o contrário. E isso é resolvido pelo Órgão de Solução de Controvérsias. Para manter a previsibilidade do sistema, os membros da OMC esperam que a próxima decisão utilize a interpretação anterior. É o peso da jurisprudência que tem papel fundamental. De fato, discute-se no mundo acadêmico a que ponto o ativismo do Órgão de Apelação está assumindo a posição dos negociadores dos países. E com o impasse da Rodada Doha, são esses juízes que estão atualizando na prática as regras da OMC.

Valor: Por exemplo?

Vera: O artigo 20 do Gatt, de 1947, sobre as exceções gerais, isto é, quando um país pode deixar de cumprir as regras da OMC, está sendo usado para dirimir conflitos que envolvem comércio e ambiente. Foi o caso dos pneus entre o Brasil e a União Europeia, do atum entre México e EUA, dos camarões entre EUA e vários países da Ásia, dos arbestos entre Canadá e UE. O Órgão de Apelação pegou uma página de um acordo negociado há 63 anos e através desses conflitos foi criando passo a passo uma regulação para disputas envolvendo ambiente, algo que os países até hoje nunca chegaram a um acordo.

Valor: Qual a segunda fonte hoje de regulação do comércio?

Vera: São os acordos regionais de comércio, negociados entre dois ou grupos não necessariamente próximos, como entre Chile e China. A regra que continua a vigorar em termos de acordos regionais é apenas o artigo 24 do velho Gatt, que tem 63 anos. E hoje está acontecendo uma explosão de acordos regionais incentivada até pelo impasse da Rodada Doha. Estão notificados na OMC 267 acordos regionais e a entidade já tem informação de que outros cem acordos estão em negociação.

Valor: Qual o problema de ter tantos acordos regionais?

Vera: O problema é que esses acordos estão usando as regras que englobam não só temas regulados da OMC, como estão expandindo e incluindo nova regulação como propriedade intelectual (Trips) e investimentos (Trims) no comércio. Além disso, os acordos regionais estão criando regras sobre temas que a OMC nunca conseguiu regular, como padrões trabalhistas, ambiente, investimento e concorrência. Há acordo de comércio regional que exige que os países tenham assinado as sete convenções fundamentais da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Na OMC, os países em desenvolvimento afirmam que esse tema não é comércio e deve ficar na OIT. Só que, por conta da concorrência de países que não tem padrões trabalhistas, esse tema voltou a ter grande interesse. O fato de o país não ter esses padrões causaria uma redução significativa dos custos de exportação, como no caso da China, afetando a competitividade dos países que seguem as convenções da OIT.

Valor: E qual o problema de os acordos regionais criarem regras novas?

Vera: O problema é que a multiplicidade dessas regras pode minar a OMC e a longo prazo até destruí-la. Por quê? A existência de muitas regras sem controle e sem um órgão de supervisão está levando a criação de grandes blocos de regulação. Tem o modelo dos EUA, da UE e no futuro talvez da China. E já está ocasionando conflitos de regras, aumentando o custo de exportação e reduzindo a competitividade dos países que estão fora desses blocos.

Valor: Qual o impacto para o Brasil?

Vera: O Brasil não tem tradição de negociar acordos regionais fora da América do Sul e terá cada vez mais dificuldades para exportar para os grandes blocos que usam as regras que eles próprios criam, como regras sanitárias e fitossanitárias, barreiras técnicas, padrões privados de alimentos e regras de origem preferenciais. São as novas barreiras ao comércio. Dentro desses blocos, a OMC não tem controle.

Valor: Como exportador agrícola, o Brasil ficará mais vulnerável?

Vera: Sem dúvida. Se os EUA e a UE criam regras sobre alimentos, atingindo todos seus acordos preferenciais dentro de seus blocos, isso configura uma segmentação das novas regras de proteção no comércio internacional. Se o Brasil não participa, as exportações brasileiras são prejudicadas. O Brasil tem que enfrentar um grande dilema: fazer acordos regionais ou ficar autônomo. O problema é que, como grande produtor agrícola, é muito difícil fazer acordo preferencial com outros países, porque o setor agrícola é sensível para a grande maioria dos países.

Valor: O país deveria buscar acordos com os grandes parceiros?

Vera: A dinâmica atual do comércio internacional não está mais na OMC e sim nos acordos regionais. Ficar fora dos grandes blocos poderá afetar sem dúvida as atividades internacionais das empresas brasileiras.

Valor: Mas o Brasil negocia com a UE, Índia, África do Sul e outros.

Vera: Se a dinâmica é fazer acordos regionais, o Brasil deveria estar negociando não só no eixo Sul-Sul, mas no eixo Norte-Sul.

Valor: Qual a consequência do conflito entre OMC e acordos regionais?

Vera: Se as regras da OMC não forem atualizadas, crescerá o problema na hierarquia de regras, com impacto no mundo de negócios. Para se ter uma ideia, o comércio internacional envolve US$ 12 trilhões por ano. Com a multiplicação desses conflitos, os países serão obrigados a sentar de novo na mesa não só para concluir a Rodada Doha, como partir para a negociação de regras mais ambiciosas para novos temas do comércio global.

Valor: Quando Doha será concluída?

Vera: Os prazos para as conclusões das rodadas são cada vez mais longos, porque elas são mais complexas. Não me causa nenhuma estranheza que Doha não tenha sido concluída. Mas o custo político de não concluí-la é muito alto, daí porque acredito que ela será bem sucedida. A rodada será concluída quando as lideranças tiverem consciência do perigo que a multiplicação dos acordos regionais representa para o sistema multilateral que levou 60 anos para ser construído. Quando a incompatibilidade das regras regionais começarem a afetar os grandes países, eles voltarão a se sentar na mesa de negociação na OMC.

Valor: A China é um risco ou oportunidade para o Brasil?

Vera: A China pode representar oportunidade pelo tamanho de seu mercado e um risco pela sua competitividade com produtos brasileiros tanto no mercado interno com em terceiros mercados. Um dos temas mais relevantes hoje de política comercial do Brasil é definir qual sua estratégia em relação a China. Os brasileiros devem produzir na China ou o Brasil deve atrair a China a produzir no Brasil? Até agora, o Brasil não tem estratégia clara, apesar do aumento das relações bilaterais. A existência das regras da OMC é fundamental nesse relacionamento. O Brasil deve usar todos os instrumentos que a entidade permite para defender sua indústria e utilizar as mesmas regras para abrir o mercado chinês.

Valor: Qual será o foco do Centro do Comércio Global que a sra. está criando?

Vera O objetivo é analisar o quadro regulatório do comércio internacional explorando sua nova dimensão, pois as regras não envolvem só exportação e importação, mas toda uma gama de temas que vão de concorrência a saúde, investimentos, ambiente, clima, direitos humanos . E isso é essencial para a economia brasileira. Precisamos conhecer bem os detalhes das regras e saber usá-las para defender os interesses do Brasil. A ideia é juntar advogados, economistas e administradores de empresas para estudar e avaliar os impactos dessas regras, tanto da OMC como de acordos regionais, para a economia brasileira, a competitividade e sobrevivência das empresas. O centro pretende acompanhar a regulação especifica dos principais parceiros do Brasil, como União Europeia, Estados Unidos, China, Índia, África do Sul.

Valor: No que o centro inovará?

Vera Minha intenção é criar uma nova geração de especialistas em comércio internacional. Ao invés de só pensar em participar de painéis (disputas) na OMC, que saibam identificar os problemas concretos das empresas, as regras que foram desrespeitadas e levar os casos para os comitês específicos da OMC. É uma área ainda não explorada no Brasil. Poucos percebem que as regras da OMC estão internalizadas nas regras brasileiras e que isso pode ser utilizado nas atividades normais das empresas e entre empresas e governos. Esse trabalho, de dirimir conflitos, é não só de advogados, mas de economistas, porque cada vez mais os conceitos econômicos estão entrando na OMC.

Valor: As escolas de economia e direito estão atualizadas no Brasil?

Vera: Não. É triste constatar que mesmo as melhores escolas de economia e direito dão pouca atenção ao quadro regulatório do comércio internacional. Existe mesmo o absurdo de alguns professores considerarem que as regras da OMC não fazem parte do direito internacional. Na verdade, o que acontece na OMC faz parte de uma nova área do direito e da economia, que é chamada de "international trade law and economics", que já tem até uma associação criada em Genebra. Em seu congresso, em Barcelona, foi triste constar que, entre 350 participantes, só cinco eram brasileiros. São raras as escolas que oferecem cursos sobre OMC e disputas de conflitos. Como se pode criar economistas e advogados sem saber o quadro regulatório do comércio internacional, como esses futuros profissionais vão defender os interesses das empresas?