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quinta-feira, 17 de abril de 2014

1964: Editorial do Correio da Manha, de 31 de marco: Basta!

Muita gente, especialmente entre os mais jovens, pensa que o "golpe militar" de 31 de março de 1964 foi dado por um bando de perversos militares de direita, mancomunados e a serviço do imperialismo americano. Trata-se de tese simplista, simplória, totalmente equivocada, mas ainda presente num recente documentário sobre "O Dia que Durou 21 Anos", no qual a única coisa correta é a transcrição dos telegramas do embaixador americano Lincoln Gordon, que diga-se de passagem correspondia às preocupações paranoicas do governo americano quanto à possibilidade de uma tomada de poder pelos comunistas no Brasil. Não era possível, mas parecia [plausível a partir da movimentação dos comunistas naqueles dias. Não é possível compreender o golpe militar sem a intentona de 1935, sem a conversão de Cuba ao marxismo-leninismo em 1961 e sem o episódio dos mísseis soviéticos em Cuba em 1962.Tampouco é possível entender as torturas e a repressão no Brasil, cuja intensidade se situa no período 1969-1973, sem levar em consideração os atentados esparsos e depois as ações de guerrilha mais coordenadas empreendidas por brasileiros sob estímulo e com suporte total dos comunistas cubanos.Quem não compreender esse contexto, estará pronunciando palavras vazias sobre 1964 e o regime militar.Uma coisa é certa: mesmo sem "conspiração americana", os militares teriam feito algo, pois a sociedade pedia um basta ao clima que se vivia em 1964. Basta ler o editorial abaixo.Paulo Roberto de Almeida
Editorial do jornal Correio da Manhã, edição de 31 de março de 1964

BASTA!

Até que ponto o Presidente da República abusará da paciência da Nação? Até que ponto pretende tomar para si por meio de decretos-leis, a função do Poder Legislativo? Até que ponto contribuirá para preservar o clima de intranquilidade e insegurança que se verifica presentemente na classe produtora? Até quando deseja levar ao desespero, por meio da inflação e do aumento do custo de vida, a classe média e a classe operária? Até que ponto quer desagregar as forças armadas por meio da indisciplina que se torna cada vez mais incontrolável?

Não é possível continuar neste caos em todos os sentidos e em todos os setores. Tanto no lado administrativo como no lado econômico e financeiro. Basta de farsa. Basta da guerra psicológica que o próprio Governo desencadeou com o objetivo de convulsionar o país e levar avante a sua política continuísta. Basta de demagogia para que, realmente, se possam fazer as reformas de base.

Quase todas as medidas tomadas pelo Sr. João Goulart, nestes últimos tempos, com grande estardalhaço, mas inexeqüíveis, não têm outra finalidade senão a de enganar a boa-fé do povo, que, aliás, não se enganará. Não é tolerável esta situação calamitosa provocada artificialmente pelo Governo que estabeleceu a desordem generalizada, desordem esta que cresce em ritmo acelerado e ameaça sufocar todas as forças vivas do país. Não contente de intranqüilizar o campo, com o decreto da SUPRA, agitando igualmente os proprietários e os camponeses, de disvirtuar a finalidade dos sindicatos, cuja missão é a das reivindicações de classe, agora estende a sua ação deformadora às forças armadas, destruindo de cima a baixo a hierarquia e a disciplina, o que põe em perigo o regime e a segurança nacional. A opinião pública recusa uma política de natureza equívoca que se volta contra as instituições, cuja guarda deveria caber ao próprio Governo Federal.

Queremos o respeito à Constituição. Queremos as reformas de base voltadas pelo Congresso. Queremos a intocabilidade das liberdades democráticas. Queremos a realização das eleições em 1965. Se o Sr. João Goulart não tem a capacidade para exercer a Presidência da República e resolver os problemas da Nação dentro da legalidade constitucional não lhe resta outra saída senão entregar o Governo ao seu legítimo sucessor. É admissível que o Sr. João Goulart termine o seu mandato de acordo com a Constituição. Este grande sacrifício de tolerá-lo até 1966 seria compensador para a democracia. Mas para isto, o Sr. João Goulart terá de desistir de sua política atual que está perturbando uma nação em desenvolvimento, e ameaçando de levá-la à guerra civil.

A Nação não admite nem golpe nem contragolpe. Quer consolidar o processo democrático para a concretização das reformas essenciais de sua estrutura econômica. Mas não admite que seja o próprio Executivo, por interesses inconfessáveis, quem desencadeie a luta contra o Congresso, censure o rádio, ameace a imprensa e, com ela, todos os meios de manifestações do pensamento, abrindo o caminho à ditadura. Os Poderes Legislativo e Judiciário, as Classes Armadas, as forças democráticas devem estar alertas e vigilantes e prontos para combater todos aqueles que atentarem contra o regime.

O Brasil já sofreu demasiado com o Governo atual. Agora, basta!

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