A economia e a política do
Brasil em tempos não convencionais
(nunca antes mesmo...), 1
Paulo
Roberto de Almeida
Palestra
na UnB: 24/04/2014, 19hs
Em
voo, de Bradley a Atlanta, e a Brasília, 17-18/04/2014
Na economia, a herança
bendita da agricultura
Meio século atrás, quando se falava que o Brasil era um país
essencialmente agrícola, essa era quase que uma expressão de culpa, um pedido
de desculpas, era com certo sentimento de vergonha que reconhecíamos essa
condição, pois nossa agricultura era extremamente atrasada. Aliás, toda a nossa
economia se encontrava numa situação precária, com mais de 60% da população
espalhada em zonas rurais dispersas, milhões de Jecas Tatus mal sobrevivendo às
endemias, ao paludismo, ao bicho do pé. Na indústria, a crer num panfleto muito
popular nessa época, Um Dia na Vida de
Brasilino, que ainda pode ser encontrado no site do PCdoB, parece que
devíamos tudo o que consumíamos às companhias estrangeiras: da manhã até a
noite, Brasilino pagava royalties aos imperialistas, acordando e dormindo com a
Light, escovando os dentes com Kolynos, tomando banho com Palmolive ou Lever, fazendo
a barba com Williams e Gillette, comendo cereais americanos, comida feita com
óleo americano, circulando em carros americanos, consumindo filmes de Hollywood
e assim por diante.
Meio século depois, isto é, agora, o único setor verdadeiramente
moderno da economia brasileira parece ser a agricultura, exportando milhões de
toneladas de todos os tipos de produtos, garantindo o equilíbrio das transações
correntes, com seus saldos anuais de dezenas de bilhões de dólares, compensando
assim, pelo menos em parte, os crescentes déficits do setor manufatureiro. De
fato, os agricultores no Brasil são modernos, conectados permanentemente aos
mercados de futuros de Chicago e a outras bolsas de mercadores, para decidir,
quase um ano antes o que plantar, quando plantar e, sobretudo, quando vender,
no melhor momento dos picos de preços.
Parece que os únicos atrasados no campo, atualmente, são os
militantes ignaros do MST, na verdade, quase totalmente urbanos, ou suburbanos,
enganados criminosamente, usados como massa de manobra por reacionários de um
partido neobolchevique que não tem nenhuma intenção de fazer reforma agrária,
pois o que lhe interessa, de verdade, é viver das verbas do governo ou extrair
dinheiro dos ONGs estrangeiras ingênuas, que pensam estar financiado um
movimento que se preocupa com a justiça social. Não, a última coisa que
interessa o MST é a reforma agrária, já que ele é um dos muitos movimentos
autoproclamados sociais, que sobrevivem graças às riquezas produzidas pelo
capitalismo, e que neste caso se dedica apenas a dificultar a vida do
agronegócio, que é, cabe repetir, o único setor verdadeiramente avançado do
Brasil atual.
Enfim, em pouco mais de meio século, demos a volta completa, e hoje
podemos proclamar com orgulho que o Brasil é um país essencialmente agrícola.
(continua)
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