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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Ditadura em transformação na China e a verdadeira ameaça ao Ocidente: Jean-Marie Guéhenno, entrevista a Assis Moreira (Valor)

 Ditadura em transformação na China e a verdadeira ameaça ao Ocidente

Ex-secretário-geral adjunto da Organização das Nações Unidas (ONU) e chefe das operações de manutenção da paz entre 2000 e 2008 lança o livro “O primeiro século XXI, da globalização à pulverização do mundo”

Por Assis Moreira — De Genebra

Valor Econômico, 01/10/2021 07h55 


Para Jean-Marie Guéhenno, a verdadeira ameaça está no interior das sociedades ocidentais, na fragmentação crescente, que não se sabe ainda como superar 


Ex-secretário-geral adjunto da Organização das Nações Unidas (ONU) e chefe das operações de manutenção da paz entre 2000 e 2008, o diplomata francês Jean-

Marie Guéhenno publica um novo livro, intitulado Le premier XXIe siècle, de la globalisation à l’émiettement du monde (O primeiro século XXI, da globalização à pulverização do mundo, Flammarion), no qual avalia que o Ocidente democrático atravessa sua crise mais grave desde o fim da Guerra Fria.

Especialista de relações internacionais e questões de defesa e hoje professor na Universidade Columbia, de Nova York, Guéhenno observa que o período atual tem, em todo o caso, pouco a ver com a precedente Guerra Fria, e o sucesso chinês coloca o Ocidente capitalista numa situação bem diferente em comparação à confrontação com a União Soviética.E TRÈS POPULAIRE TRÈS POPULAIRE

TRÈS POPULAIRE TRÈS POPULAIRE TRÈS POPULAIRE

Para ele, o medo cresce em sociedades desorientadas e extremamente polarizadas, e isso pode alimentar a chamada “tentação chinesa”, a atração pelo modelo chinês. Guéhenno avalia que a ditadura chinesa parece tentar indivíduos em vários países, com seu sucesso material que fascina e sua capacidade de manter uma certa harmonia da sociedade.

Usando o poder das novas tecnologias, a China procura passar da ditadura repressiva - descrita por George Orwell, baseada no terror - à ditadura preventiva descrita por Aldous Huxley, baseada num controle dos espíritos em que a pessoa não se sente em prisão. Mas, para o autor, a verdadeira ameaça está no interior das sociedades

ocidentais, na sua fragmentação crescente, que não se sabe ainda como superar.

Xi Jinping procura aumentar seu controle sobre as grandes empresas de dados porque ele percebe a dimensão desse poder”


Guéhenno aborda o que chama de ilusão da nova ordem mundial, o indivíduo perante a sociedade, a crise da política tradicional, a nova política e novos nacionalismos, o poder das grandes companhias digitais, o futuro da guerra em sociedades pulverizadas.

No capítulo sobre a nova política, Guéhenno destaca como certos líderes não procuram mais o terreno comum na política, para superar diferenças e agregar pelo compromisso eleitores diversos. Ao contrário, procuram aprofundar as clivagens. Pela brutalidade da linguagem e dos atos, o partido acentua o que o diferencia de seu adversário. Não ofender é visto como começar a mentir. Não tenta sequer se fazer

“respeitável”, seguindo a lógica de partidos fascistas.

Guéhenno nota que nesse cenário a diferença entre o fato e a ficção, entre o verdadeiro e o falso, não existe mais. Destaca o cinismo de líderes que fazem as pessoas acreditarem nas declarações mais absurdas um dia, certos de que podem dizer todo o contrário no dia seguinte como uma espécie de habilidade tática superior na política.

Assim, o espaço compartilhado da razão, que desde a antiguidade foi a base do debate democrático, se fragmenta numa multitude de ilhas de certezas incompatíveis e irreconciliáveis, observa Guéhenno.


Trechos da entrevista:

Valor: O sr. diz que o Ocidente democrático passa pela mais grave crise

desde o fim da Guerra Fria. O que deu errado?

Jean-Marie Guéhenno: Durante toda a Guerra Fria não pensamos sobre

quem éramos, porque tínhamos como adversário o bloco comunista, a

União Soviética, e víamos que nossa sociedade, com todas suas

deficiências e fraquezas, era ainda assim bem superior à deles. Em 1989

(queda do Muro de Berlim), ficamos sem inimigo. Naquele momento, em

vez de nos indagarmos sobre o que faz uma sociedade, o que nos une,

quais os valores em que acreditamos, qual é nossa vontade coletiva para

o futuro, o que fizemos foi simplesmente celebrar o fato de termos

ganhado e fomos triunfalistas.

Esse foi o pecado original. Confundimos o colapso de um sistema

soviético em fim de linha com o triunfo da democracia. Mas democracia

é muito mais que eleições, é um conjunto social de valores

compartilhados que permite eleições. Eleições são evidentemente muito

importantes, mas sem debate público, sem um alicerce compartilhado

entre os cidadãos, tornam-se o que Fareed Zakaria (analista de política

internacional) chama de democracia iliberal, que pode conduzir na

verdade ao contrário da democracia.


Valor: E resulta no triunfo do indivíduo?

Guéhenno: Sim. Essa ideologia do indivíduo vem de longe, da ruptura na

relação direta do indivíduo ao divino. Foi uma ruptura da religião que

colocava antes de tudo a família, a tribo, como base da sociedade. Essa

ideia do indivíduo foi fundamental para o desenvolvimento do mundo,

com sua liberdade de espírito e de empreender. Mas, com o colapso do

comunismo, o que vimos como triunfo do indivíduo foi ao mesmo tempo

o apogeu e a descoberta de seus limites. Porque o indivíduo de algum

modo isolado, cortado do coletivo, é algo muito angustiado.

O indivíduo precisa de fronteiras, de uma comunidade, de um

engajamento coletivo. O que temos hoje são indivíduos que se afogam

num mundo que eles não controlam. Daí esse sentimento de angústia e

reação de xenofobia, nacionalismo, tudo isso que vemos e que é

desastroso. É uma reação a essa imensa discrepância entre o indivíduo, a

quem prometemos todos os poderes, e um mundo que o esmaga mais

que o libera.

Para os europeus, para os brasileiros, sempre

haverá maior proximidade com parceiros com

tradição democrática”


Valor: Isso explica a crise da política tradicional e o aparecimento de

forças como Trump e suas cópias em outros países?

Guéhenno: Sim, acho que explica amplamente. Quando o comunismo

desmoronou, inicialmente a social-democracia achou que sua hora tinha

chegado. Mas, no rastro disso, houve uma perda de confiança no Estado,

na capacidade do poder público de mudar a sociedade. Rapidamente a

social-democracia foi identificada a uma forma de suavizar o capitalismo

puro e duro, mais que de transformar realmente a sociedade. E partidos

conservadores, que também podiam pensar que era sua hora, ao

celebrar o mercado sem nuance, como vimos com Margaret Thatcher,

que foi um grande sucesso político, igualmente atingiu o movimento

conservador clássico.

Apareceram esses novos movimentos políticos que não são baseados

em programas - e muito mais em identidade. Essa é uma mudança

profunda. Frequentemente se vincula o populismo a razões puramente

socioeconômicas, como erosão da classe média e aumento das

desigualdades. Sim, é uma parte da explicação, mas só uma parte.

Quando vemos a ascensão do que chamamos preguiçosamente de

populismo no mundo, vemos que isso acontece em países

extraordinariamente diferentes. O Brasil é diferente dos EUA, que é

diferente do Reino Unido, que é diferente da Índia, que é diferente da

Itália, e as situações socioeconômicas são diferentes. Há outras razões

que são mais políticas.


Valor: Por exemplo?

Guéhenno: Por exemplo, o sentimento de que em todos os países há

uma perda de controle, de que somos dependentes de ações que estão

bem além de seu país e fora de seu alcance. Outro elemento são as

novas tecnologias, com influência sem precedentes, e que facilitam a

emergência de novos partidos num mundo inicialmente virtual, onde

competem e desestabilizam estruturas políticas tradicionais. Antes a

política evoluía lentamente, marcada pela proximidade. Agora, as

pessoas se encontram na internet. E o mundo virtual encoraja a

brutalidade. Estudos mostram que se pode ter muito mais sucesso na

política evitando nuances. Na “nova política”, que agrupa pela identidade,

mais que em torno de projetos, um discurso equilibrado, que mostra o

pró e o contra, não interessa. O que interessa é o julgamento pleno de

certeza, determinado. A lógica das comunidades virtuais é da violência.

Primeiro, é uma violência virtual, e depois, quando se é suficientemente

numeroso, o que chamo no meu livro de rio subterrâneo que incha fora

da vista, pode fazer irrupção no mundo territorial. E nesse momento

pode ter um impacto devastador, surpreende, sacode ou pode quebrar

os partidos tradicionais, como a vitória de Donald Trump à Presidência

dos EUA (em 2016), em que ninguém ou poucos acreditavam antes.

Valor: O sr. fala de declínio da democracia...

Guéhenno: Há um declínio porque justamente a democracia é reduzida

à pura mecânica eleitoral, onde é transposta a ideologia do mercado pela

qual o melhor produto é aquele que se vende melhor. Ora, o centro da

democracia é a deliberação, a troca de ideias, a negociação de interesses.

E quando se reduz a democracia à pura mecânica para determinar um

vencedor, perdemos o que faz seu valor.


Valor: A truculência do discurso político é a tendência para atrair os

eleitores?

Guéhenno: Sim, na política tradicional os partidos tentavam ganhar

eleitores do centro, mostrar algo para eles se identificarem ao partido.

Os partidos convergiam para o centro, em algum momento, e contendo

extremos. Hoje, novos movimentos procuram sobretudo mobilizar sua

base, marcar sua diferença. E assim acentuam o que os separam do

adversário, endurecem o discurso, ofendem, buscam ser o mais violento

possível, porque é isso que vai energizar a base. A linguagem política

encolerizada se tornou a linguagem em várias democracias ocidentais.


Valor: O sr. menciona uma escolha entre GAFA, os gigantes do digital, e a

China. Como explicar isso?

Guéhenno: O fenômeno que sacode tudo é a nova economia dos dados,

que é tão importante quanto a Revolução Industrial. A revolução de

dados muda a maneira como o poder e o saber vão ser distribuídos. O

poder e a riqueza estão hoje na coleta e na gestão de dados. Há

inquietações sobre efeitos mais visíveis desse poder, como a capacidade

de espionagem que ameaça o espaço privado, a capacidade de

manipulação que pode ameaçar as campanhas eleitorais. Mas os efeitos

são muito mais profundos, porque é a estrutura mesmo das sociedades,

nas suas dimensões políticas e econômicas, que estão sendo redefinidas

pelos novos controladores de dados. Por isso que essas grandes

empresas, todas americanas, passaram a ter uma importância

gigantesca no mundo ocidental. A China também tem grandes empresas

de dados e tem o Partido Comunista (PC). É interessante como o

presidente Xi Jinping procura aumentar seu controle sobre as grandes

empresas de dados porque ele percebe a dimensão desse poder. E ele

provavelmente não quer um centro de poder independente do PC que

se desenvolva na China e que um dia se torne mais importante que o

partido. Isso coloca a China diante de escolhas difíceis e não sabemos

como vai acabar. Se Xi e o partido querem controlar o poder dos dados

com uma ditadura tradicional, colocando censores, vigilantes em todo

lugar, não vão conseguir, ou o que vão é causar uma ossificação da

sociedade, pois não se controla um país com 1,4 bilhão de habitantes

dessa maneira. Outra solução é dar o poder aos algoritmos. É o que se

passa no Ocidente, com Facebook, Twitter etc. Aceita deixar os

algoritmos livres, mas não para polarizar, pelo contrário, para

harmonizar, e isso causa muito medo. No Ocidente, vemos os algoritmos

do lado comercial e vemos uma exaustão, um esgotamento dessa

sociedade disfuncional onde todo mundo disputa com todo mundo.


Valor: O sr. aponta riscos de “tentação chinesa”. E pergunta se a China é

o nosso futuro. Qual é a resposta?

Guéhenno: A grande diferença entre a China e a URSS é que a URSS era

um fiasco econômico e a China é um sucesso econômico. Vemos em

pesquisas que, no fundo, a ideia de país onde se fabrica uma espécie de

bolha de felicidade é uma tentação forte. Alguns aspectos do dito

modelo chinês, comparado a nossas sociedades democráticas em

decomposição, ameaçam se tornar mais atrativos. A China tem tanto a

repressão horrível aos uigures como tem a ditadura amena, quase

invisível. O sistema chinês de crédito social, que Pequim tenta

implementar, procura criar uma espécie de harmonia social que pode

alimentar desejos de indivíduos desorientados em outras sociedades.

Quando se combina isso com medo, porque em nossas sociedades hoje

a única coisa que as mobilizam é o medo, isso pode resultar numa

demanda de autoridade e de controle. É um verdadeiro risco em

sociedades desorientadas, confusas, ao mesmo tempo hiperconectadas

e hiperfragmentadas. Isso provoca a demanda de um poder que o

protege como uma bolha e que gera suas emoções.


Valor: Os EUA com essa confrontação com a China colocam freios à

“tentação chinesa”?

Guéhenno: Os americanos justamente estão numa situação difícil para

contrapor-se ao modelo chinês porque o que vemos dos EUA hoje não é

muito encorajador. É um país extraordinariamente polarizado, suas

instituições políticas funcionam mais e mais dificilmente, as relações são

ainda mais judicializadas e colocam um peso ainda maior nas costas dos

juízes. Uma questão é se a Suprema Corte, com maioria de juízes

nomeados por presidentes republicanos, e que sempre foi considerada

acima da política, se ela manterá sua legitimidade numa sociedade mais

e mais polarizada. Vemos uma fragmentação da sociedade americana

que não é invejável. Há também as grandes desigualdades na sociedade

americana, que o presidente Joe Biden tenta corrigir um pouco. Ele tem

limites, com um Partido Democrata também rachado sobre a questão.

Assim, o modelo americano como alternativa à China tem muito menos

atrativo que tinha face à URSS. Ao mesmo tempo, é verdade que o

mundo da internet é dominado por empresas americanas, e essa

influência americana continuará muito potente no mundo. Mas no

momento ela consegue mais fragmentar o mundo do que uni-lo, de

forma que o triunfo americano é de uma certa maneira também o que

fragiliza um pouco o mundo hoje. Os EUA vão colocar em ordem de

batalha essas empresas digitais para fazer contrapeso à influência

chinesa. Da mesma maneira que Xi Jinping tenta reforçar o controle

sobre empresas de dados, nos EUA não é evidentemente o mesmo

sistema, mas a lógica da confrontação com a China produzirá

provavelmente uma aproximação mais e mais importante entre o Estado

e essas empresas.


Valor: Entramos numa segunda Guerra Fria?

Guéhenno: A história aqui não se repete realmente. As economias

ocidental e soviética eram dois mundos separados. Hoje, a China é o

maior detentor de títulos do Tesouro americano, é um parceiro

comercial fundamental para a Alemanha e mesmo para os EUA, é o

primeiro cliente da Austrália. Não vejo muito uma dissociação aí. Os

chineses construíram uma espécie de muralha da China virtual para a

internet. Mas, ao mesmo tempo, sabem que para gerir suas empresas

de maneira eficaz é preciso uma circulação de dados global. Distinguir

entre dados a bloquear ou não é muito complicado. Assim, os dois

mundos estão muito mais interligados do que ocorreu na Guerra Fria.

Também a distinção hoje entre política externa e política interna é

menos e menos pertinente. Os dois mundos são muito porosos. E cada

um procurará influenciar, fazer mover do interior o outro país, e cada um

vai procurar manipular a interdependência para seu proveito. Em vez de

guerra fria no sentido clássico que conhecemos, hoje temos é uma

competição muito mais difusa.


Valor: O recente acordo militar para transferência de tecnologia

americana de submarinos para a Austrália amplia até que ponto a

tensão entre americanos e chineses?

Guéhenno: O aspecto mais importante é que os EUA romperam uma

espécie de acordo tácito, de consenso ocidental, de não transferir essa

tecnologia muito proliferadora de submarino nuclear. Mudar sua posição

é um fato importante e militariza ainda mais a rivalidade com a China. E

isso significa que o prognóstico de 15 anos, 20 anos, é o de uma

confrontação militar. O lado chinês vai acelerar o reforço da capacidade

marítima chinesa, acelerar uma corrida aos armamentos na região do

Pacífico, mas ao mesmo tempo essa rivalidade tomará vários outros

caminhos. E os chineses esperam contornar a rivalidade militar por todo

o tipo de meios que não são militares.


Valor: Uma confrontação militar é inevitável?

Guéhenno: Acho que nada é inevitável. É preciso confiar na capacidade

humana de não fazer sempre besteiras. Mas vejo riscos reais de erro de

cálculo. A China foi uma potência dominante do mundo por séculos.

Quando ela renunciou à potência naval, na época do Renascimento, se

isolou e perdeu o movimento de modernização que começou no século

XVI e se acelerou no fim do século XVIII. Ela foi humilhada e tem uma

revanche a tomar. Mas, nesse mundo complicado, fragmentado, um

elemento de esperança é justamente que há uma multitude de vínculos

que conectam o mundo. É um fator de inquietação, mas que pode

também se tornar um fator de estabilização. Os Estados podem fazer

erros catastróficos, que nos levariam a confrontação. Mas podemos

esperar que todos esses vínculos paralelos aos Estados possam nos

ajudar a não chegar a esses confrontos.


Valor: Os parceiros serão obrigados a escolher claramente entre EUA e

China em certo momento?

Guéhenno: Espero que não. Acho que para os europeus, para os

brasileiros, sempre haverá maior proximidade com parceiros com

tradição democrática. Ao mesmo tempo, creio que há um desejo que

cresce de um país não estar em situação de “conosco ou contra nós”. Um

mundo onde há diferentes maneiras de pensar a relação do indivíduo ao

coletivo é a melhor garantia de pluralismo e de paz. Países que não estão

na linha de confrontação direta, como o Brasil e como os europeus, têm

todo interesse de conversarem, não para formar blocos, mas para

mostrar que pode haver respostas diferentes.


Valor: Crise do Ocidente, tentação chinesa, potência de dados. Quais

alternativas a tudo isso?

Guéhenno: Tento desenhar algumas respostas no livro. Acho que

devemos refletir sobre uma nova governança de dados, pela qual o

poder dos dados não fique nas mãos de empresas nem nas mãos de um

Estado. Creio que essa é uma das questões que pessoas que prezam o

pluralismo devem se colocar. Quanto à questão de legitimidade da

autoridade, acho que toda tentativa de democracia direta, e até sorteio,

por exemplo, é uma resposta superficial, porque não é reproduzindo

uma sociedade disfuncional que vamos torná-la funcional e isso

tampouco resolve a falta do debate. Também num mundo em que o

conhecimento supera mais e mais a capacidade de cada indivíduo, a

relação entre saber e poder está mal resolvida hoje. Vimos na pandemia

de covid-19 de um lado governos que procuram ignorar o saber, o que é

catastrófico, e de outro governos que se escondem atrás do saber. Ora,

há espaço para o saber e para reconhecer sua utilização e há questões

que são de natureza política. A medida do risco é uma questão científica.

O grau de risco a que estamos dispostos é do campo da política.


Trabalhos de Paulo Roberto de Almeida mais acessados na plataforma Academia.edu (1/10/2021)

Trabalhos de Paulo Roberto de Almeida mais acessados na plataforma Academia.edu 

Levantamento efetuado em 1/10/2021 

(limitado a trabalhos com mais de 1.ooo acessos)

 

 

Título

Acessos

22) Prata da Casa: os livros dos diplomatas (Edição de Autor, 2014)

15,301

054) As duas últimas décadas do século XX: fim do socialismo e retomada da globalização (2006)

7,725

1297) Contra a antiglobalização: Contradições, insuficiências e impasses do movimento antiglobalizador (2004)

6,189

107) A diplomacia brasileira perante o potencial e as pretensões belgas (2014)

5,531

16) O Moderno Príncipe: Maquiavel revisitado (2010)

4,660

1462) O Brasil e a nanotecnologia: rumo à quarta revolução industrial (2005)

4,306

A Constituição Contra o Brasil: Ensaios de Roberto Campos

4,295

19) Integração Regional: uma introdução (2013)

3,906

Um Ornitorrinco no Itamaraty: crônicas do Itamaraty bolsolavista - Ereto da Brocha (2020)

3,687

039) Enciclopédia de Guerras e Revoluções do Século XX (2004)

3,565

A política externa brasileira em debate: Ricupero, FHC e Araujo

3,527

24) Codex Diplomaticus Brasiliensis: livros de diplomatas brasileiros (2014)

3,344

108) Brasil no Brics (2015)

2,616

29) O Panorama Visto em Mundorama (2015; 2a. edição)

2,317

25) Rompendo Fronteiras: a academia pensa a diplomacia (2014)

2,113

23) Polindo a Prata da Casa: miniresenhas de livros de diplomatas (2014)

2,045

012) Mercosul, Nafta e Alca: a dimensão social (1999)

1,971

091) Teoria das Relações Internacionais – Apresentação (2012)

1,940

Marxismo e Socialismo (2019)

1,932

056) Planejamento no Brasil: memória histórica (2006)

1,849

530) Brasil e OCDE: uma interação necessária - tese CAE (1996)

1,727

094) A economia do Brasil nos tempos do Barão do Rio Branco (2012)

1,725

14) O Estudo das Relações Internacionais do Brasil (2006)

1,716

005) Os Anos 80: da nova Guerra Fria ao fim da bipolaridade (1997)

1,646

07) Relações Brasil-Estados Unidos: assimetrias e convergências (2005)

1,560

1820) Mercosul e América do Sul na visão estratégica brasileira: revisão histórica e perspectivas para o futuro

1,525

17) Globalizando: ensaios sobre a globalização e a antiglobalização (2011)

1,504

2306) A economia política da velha Guerra Fria e a nova “guerra fria” econômica da atualidade: o que mudou, o que ficou? (2011)

1,438

01) O Mercosul no contexto regional e internacional (1993)

1,361

001) O Paradigma Perdido: a Revolução Burguesa de Florestan Fernandes (1987)

1,316

A Destruição da Inteligência no Itamaraty (Edição do Autor, 2019)

1,295

102) Oswaldo Aranha: na continuidade do estadismo de Rio Branco (2013)

1,261

081) O império em ascensão (por um de seus espectadores): Oliveira Lima (2009)

1,170

110) Padrões e tendências das RI do Brasil (2013-2015)

1,153

2723) Produção intelectual sobre relações internacionais e política externa do Brasil (1954-2-14)

1,150

1378) O desenvolvimento na era da globalização (2005)

1,114

2801) Por Que a América Latina é Pobre e a América do Norte Rica? (2015)

1,066

21) Nunca Antes na Diplomacia: a política externa brasileira em tempos não convencionais (2014)

1,064

007) OCDE, UNCTAD e OMC: uma perspectiva comparada sobre a macroestrutura política das relações econômicas internacionais (1998)

1,017

28) Paralelos com o Meridiano 47: ensaios (2015)

1,016

 

 

Objetivos estratégicos e prioridades táticas do Brasil - Paulo Roberto de Almeida

 3528. “Objetivos estratégicos e prioridades táticas do Brasil”, São Paulo, 31 outubro 2019, 14 p. Elaboração ampliada do trabalho n. 3409, em torno de uma agenda de reformas para o Brasil, com aproveitamento de largos trechos do texto elaborado em 9 de fevereiro de 2019; disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/42923546/Objetivos_estrategicos_e_prioridades_taticas_do_Brasil_2019_)

O declínio da democracia americana: a razão principal, em minha opinião, é o avanço da ignorância e das desigualdades - Ishaan Tharoor and Sammy Westfall (WP)

The Washington Post, September 30, 2021 

Ishaan Tharoor By Ishaan Tharoor
with Sammy Westfall
 Email 

Germany’s election casts U.S. democracy in harsh light

A man attends a Sept. 18 rally in Washington to support defendants being prosecuted in the Jan. 6 attack on the Capitol. (Jim Bourg/Reuters)

A man attends a Sept. 18 rally in Washington to support defendants being prosecuted in the Jan. 6 attack on the Capitol. (Jim Bourg/Reuters)

It’s a scenario that ought to feel familiar to many Americans. Voters participated in an election in the shadow of the pandemic, amid growing uncertainty surrounding the political fate of their country. In weeks ahead of election day, opinion polls showed a topsy-turvy race, shaped by likely razor-thin margins. On the day itself, election officials were set to receive a record number of mail-in ballots.

But unlike in America, this weekend in Germany there was not much disquiet over the way the country voted — and there is general acceptance of its results. Outgoing Chancellor Angela Merkel’s Christian Democrats slumped to a historic low, posting their worst results in the postwar era, while seeing the rival Social Democrats surge above them. The Christian Democrats’ campaign leader, Armin Laschet, seemed resigned to defeat. “I would have preferred to be first,” Laschet said. “I understand, of course, that I bear some personal responsibility for this result.”

Such a subdued reaction is a far cry from the fury of former president Donald Trump, who was unwilling to stomach his defeat in November 2020. He spread falsehoods and stoked doubts in the integrity of the American political process and was impeached, for a second time, by the House of Representatives for his role in helping instigate the Jan. 6 storming of the Capitol by his supporters.

 

The results in Germany, argued Jan-Werner Müller, a professor of politics at Princeton University, offer a riposte to the conventional wisdom in much of the West that sees restive publics inexorably attracted to polarizing, intemperate anti-establishment forces. “Western democracies are not fated to fight culture wars constantly; grand coalitions between center-left and center-right do not necessarily strengthen political extremes; and social democratic parties can do well without pandering to nativism and Islamophobia,” Müller wrote.

Though some on the far-right fringe of German politics did voice protests over alleged irregularities, attention in Germany’s parliamentary democracy has shifted to the tangled coalition politicking already underway and the policy decisions and compromises that will determine the makeup of the new government. “That the outcome of such a close and pivotal election is generally not questioned, but accepted — even if the final makeup of the new government coalition may not be clear for weeks or months — illustrates a certain maturity of and trust in Germany’s political system that these days simply cannot be taken for granted,” Michael Knigge, a veteran German journalist based in Washington, told Today’s WorldView.

 

That sense of maturity marks a stark contrast with the situation in the United States. The Republican Party remains in thrall to Trump, who has been hinting at a campaign for the presidency in 2024 under the false pretense that the 2020 election was “stolen” from him. Polling shows that a declining number of Republicans believe it’s important to prosecute the Jan. 6 rioters for their assault on the Capitol.

Yet various revelations from new books on Trump’s last stand show how close he and his allies got to halting the democratic process and subverting the transfer of power. Meanwhile, state legislatures controlled by Republicans are passing or trying to pass laws restricting voting rights and bolstering the ability of the states to even overturn election results.

 

“We are already in a constitutional crisis,” Brookings fellow and Washington Post contributing columnist Robert Kagan laid out in a lengthy essay for The Post last week. “The destruction of democracy might not come until November 2024, but critical steps in that direction are happening now. In a little more than a year, it may become impossible to pass legislation to protect the electoral process in 2024.”

Scholars of democratic decline see the United States potentially walking down the path of other countries that saw majoritarian or autocratic leaders slowly erode the democratic process through procedural means. “We often think that what we should be waiting for is fascists and communists marching in the streets, but nowadays, the ways democracies often die is through legal things at the ballot box — so things that can be both legal and antidemocratic at the same time,” Daniel Ziblatt, a professor at Harvard University and the co-author of “How Democracies Die,” toldmy colleague Ashley Parker. “Politicians use the letter of the law to subvert the spirit of the law.”

The rest of the world has already taken notice. Pew poll published this January found that overwhelming majorities in Germany, France and Britain believed that the American political system needed at least some changes. Around a fifth of those surveyed said it “needs to be completely reformed” — and this was before the events of Jan. 6.

 

At the same time, an increasing number of Americans want to see their government strengthen the country’s fraying democracy, according to a new poll by the Eurasia Group Foundation. “After fighting a costly and interminable War on Terror it’s possible that many Americans are newly attentive to turbulence at home, from rising distrust in the electoral system to a deeply rooted history of racial injustice,” noted the EGF’s report.

In Germany, a more standardized format for holding elections means there’s less ground for political squabbling over electoral process. “Where Americans must actively register to be able to vote, Germany’s system of recording citizens’ place of residence ensures they are automatically registered,” noted Deutsche Welle. “This difference means that voter lists are regularly updated, including when people die or move, making it more difficult to falsely add people to the database.”

Fraud is, of course, statistically not much of an issue in American democracy either. But whipped-up hysteria over suspected irregularities has consumed Republican Party politics since even before Trump lost power. Germany’s center-right Christian Democrats offer an alternate vision of what to do after a narrow, yet humbling, defeat.

“Instead of contesting [the results], what will likely happen is that the conservatives will take the coming years and work on figuring out how to bring those voters back,” Rachel Rizzo, adjunct fellow at the Center for New American Security, told Today’s WorldView. “They aren’t contesting the results. Political leaders in Germany understand that once you begin questioning democratic processes, the foundation can start to crumble. That’s exactly what we’ve seen happen in the U.S.”