O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sexta-feira, 24 de março de 2023

Trabalhos Paulo Roberto de Almeida no site OasisBr (Base de Dados do Ibict-CNPq)

 Trabalhos Paulo Roberto de Almeida no site OasisBr

 

Lista elaborada em 24/03/2023

https://oasisbr.ibict.br/vufind/Author/Home?author=Almeida%2C+Paulo+Roberto+de 

(as lacunas na numeração correspondem a trabalhos INDEVIDAMENTE inseridos sob o meu nome, por serem de homônimos “Paulo Roberto de Almeida”, como é o caso de 1 a 6, por exemplo)

7

Brazilian trade policy in historical perspective: constant features, erratic behavior = Política externa brasileira em uma perspectiva histórica: características constantes, compor...

by Almeida, Paulo Roberto de

Published 2013

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8

Os investimentos estrangeiros e a legislação comercial brasileira no século XIX: retrospecto histórico = Foreign investment and the brazilian commercial law during the XIXth centur...

by Almeida, Paulo Roberto de

Published 2003

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9

O Brasil e o FMI desde bretton woods: 70 anos de história = Brazil and IMF since bretton woods: a 70 years history

by Almeida, Paulo Roberto de

Published 2014

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10

O Direito Comercial: um percurso a caminho de novas turbulências? = Commerce and Trade Law: toward new turmoil?

by Almeida, Paulo Roberto de

Published 2019

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13

Propriedade intelectual: os novos desafios para a América Latina

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 1991

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14

Brasileiros na Guerra Civil Espanhola: combatentes na luta contra o fascismo

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 1999

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15

A política internacional do Partido dos Trabalhadores: da fundação à diplomacia do governo Lula

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 2003

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17

Internacionalismo Proletário no Cone Sul. A Experiência Internacional do Sindicalismo Brasileiro em Princípios do Século

by Almeida, Paulo Roberto de

Published 2006

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19

Dez anos de MERCOSUL: uma visão brasileira

by Almeida, Paulo Roberto de

Published 2002

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20

A Brazilian Adam Smith: Cairu as the Founding Father of Political Economy in Brazil at the beginning of the 19th century

by Almeida, Paulo Roberto

Published 2018

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21

A formação da diplomacia econômica do Brasil

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 1999

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22

Propriedade intelectual e política externa: o Brasil no contexto internacional

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 1997

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23

A marcha da integração no Mercosul: vivace ma non troppo

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 1997

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24

A democratização da sociedade internacional e o Brasil: ensaio sobre uma mutação histórica de longo prazo (1815-1997)

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 1997

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25

Major Problems in American Foreign Relations

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 1997

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26

Manual das organizações internacionais

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 1997

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27

Nota liminar do organizador - Revista Brasileira de Política Internacional: a continuidade de um empreendimento exemplar

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 1998

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28

Revista Brasileira de Política Internacional: quatro décadas ao serviço da inserção internacional do Brasil

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 1998

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29

Economia internacional e desenvolvimento econômico: a RBPI na vanguarda do pensamento brasileiro

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 1998

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30

Avanços da regionalização nas Américas: cronologia analítica

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 1999

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31

A Hispanic Division da Library of Congress comemora sessenta anos

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 1999

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32

Comércio, Desarmamento, Direitos Humanos: reflexões sobre uma experiência diplomática

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 1999

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33

Sob a sombra de Mussolini: os italianos de São Paulo e a luta contra o fascismo, 1919-1945

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 2000

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34

A economia internacional no século XX: um ensaio de síntese

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 2001

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35

A pesquisa histórica sobre o Brasil nos arquivos dos Estados Unidos: identificação preliminar e projeto de compilação

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 2001

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36

Brazil's Second Chance: En Route toward the First World

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 2001

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37

Os sucessores do Barão: relações exteriores do Brasil

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 2001

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38

A Política Externa do novo Governo do Presidente Luís Inácio Lula da Silva: retrospecto histórico e avaliação programática

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 2002

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39

Uma política externa engajada: a diplomacia do governo Lula

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 2004

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40

Instituto Brasileiro de Relações Internacionais: 50 anos de um grande empreendimento intelectual

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 2004

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41

Uma nova 'arquitetura' diplomática? - Interpretações divergentes sobre a política externa do governo Lula (2003-2006)

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 2006

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42

Entre a América e a Europa: a política externa do Brasil nos anos 1920

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 2006

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Review

43

As relações econômicas internacionais do Brasil dos anos 1950 aos 80

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 2007

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44

Never before seen in Brazil: Luis Inácio Lula da Silva's grand diplomacy

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 2010

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45

Katia de Queiroz Mattoso: obituário de um membro do Conselho da RBPI

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 2011

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46

Transformações da ordem econômica mundial, do final do século 19 à Segunda Guerra Mundial

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 2015

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47

O BRASIL E O FMI DESDE BRETTON WOODS: 70 ANOS DE HISTÓRIA

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 2014

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48

A economia política da velha guerra fria e a nova “guerra fria” econômica da atualidade: o que mudou, o que ficou?

by Almeida, Paulo Roberto de

Published 2017

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49

O Brasil e os blocos regionais: soberania e interdependência

by ALMEIDA,PAULO ROBERTO DE

Published 2002

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57

Brazil and the first 500 years of capitalist globalization

by Almeida, Paulo Roberto de

Published 2000

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58

Os limites do alinhamento do liberalismo econômico e interesse nacional, 1944-1951

by de Almeida, Paulo Roberto

Published 1993

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59

Contribuições à história diplomática do Brasil: Pandiá Calógeras, ou o Clausewitz da política externa

by de Almeida, Paulo Roberto

Published 1992

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60

A grande fragmentação na América Latina: globalizados, reticentes e bolivarianos

by Almeida, Paulo Roberto

Published 2014

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61

América Latina: novo rumo na direção da esquerda?

by Almeida, Paulo Roberto

Published 2006

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62

América do Sul: rumo à desintegração política e à fragmentação econômica?

by Almeida, Paulo Roberto de

Published 2006

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63

A diplomacia do governo Lula em seu primeiro mandato: um balanço e algumas perspectivas

by Almeida, Paulo Roberto de

Published 2007

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64

The European experience of integration and the evolution of the Mercosul

by Almeida, Paulo Roberto de

Published 2007

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65

O Brasil e a construção da ordem econômica internacional contemporânea

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 2004

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66

Sovereignty and regional integration in Latin America: a political conundrum?

by Almeida,Paulo Roberto de

Published 2013

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68

A diplomacia financeira do Brasil no Império

by Almeida, Paulo Roberto

Published 2012

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69

Brazil in the 1933 London economic conférence: limited objectives, negligible results

by Almeida, Paulo Roberto

Published 2021

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77

Editorial - O Ibri e a Revista Brasileira de Política Internacional: tradição, continuidade e renovação

by Lessa,Antônio Carlos

Published 2004

Other Authors: “...Almeida,Paulo Roberto de...”
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Lançamento da 5ª Edição da CEBRI-Revista: A reconstrução da política externa brasileira - artigo de Paulo Roberto de Almeida

 O Centro Brasileiro de Relações Internacionais convida para o lançamento online da 5ª Edição da CEBRI-Revista, que traz como tema da Seção Especial "A reconstrução da política externa brasileira".


Data e hora: 30 de março, quinta-feira, 18h.

Inscreva-se AQUI: https://cebri.us2.list-manage.com/track/click?u=e10468999ae316dfcc8bebd53&id=6276e1b6e1&e=a827ec0cea 

Acesse as edições anteriores da CEBRI-Revista AQUI: https://cebri.us2.list-manage.com/track/click?u=e10468999ae316dfcc8bebd53&id=b06377daa7&e=a827ec0cea 

Em caso de dúvidas sobre como acessar ou outras informações, por favor, entrar em contato pelo e-mail cebrionline@cebri.org.br.

PRA: Contribui para esse número especial com o seguinte artigo: 
Perspectivas da diplomacia no terceiro governo Lula, 2023-2026”, Brasília, 8 fevereiro 2023, 18 p. Artigo opinativo sobre a diplomacia do governo Lula, com base na experiência anterior e focando os grandes temas da política externa brasileira, para a revista do Cebri. 

Meu nome é Alexandre Vannucchi Leme: fui assassinado sob tortura pela ditadura militar há 50 anos - Camillo Vannucchi, Paulo Roberto de Almeida

Breve introdução: Eu também era um estudante da USP, em 1969,  mas em Ciências Sociais; um de meus colegas de classe, da primeira turma dos “barracões” da Fefelech, era Frei Tito, que também foi preso e torturado; eu também protestava contra o regime militar e organizava um grupo de estudantes para se juntar à luta; eu também me aproximei dos grupos de resistência armada, mas nunca cheguei a “entrar em ação”; fazia parte de uma espécie de assistência logística, para auxiliar os que já tinham entrado na clandestinidade; senti que poderia ser preso a qualquer momento; resolvi sair do Brasil no final de 1970, trancando o curso de Ciências Sociais já no segundo ano; vendi o pouco que tinha, comprei uma passagem de 3a classe num barco espanhol e fui para a Europa; foi o que me salvou; continuei lutando contra a ditadura na Europa, com outros grupos de resistência, como o Front Brésilien d’Information; voltei só em 1977, e me tornei diplomata, em parte para saber o que o SNI sabia a meu respeito; não era muito, mas já no primeiro ano da carreira, em 1978, fui fichado pelo SNI como “diplomata subversivo”; está na minha ficha do SNI no Arquivo Nacional de Brasilia; preciso colocar a ficha num quadro.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 24/03/2023 


O último artigo da série dos 50 anos de Alexandre Vannucchi, escrito por seu próprio primo. 
Aluno brilhante, universitário da USP, "Minhoca" se integrou ao movimento estudantil - ilegal na época. Aos seus 22 anos, não deu tempo de muita coisa: morreu torturado numa cela do DOI-Codi. Mas muita coisa ocorreu a partir dele. 
Leia a história de Vannuchi clicando abaixo: 


PODERIA ESTAR ENTRE NÓS, GEOLOGANDO

CAMILLO VANNUCCHI


Meu nome é Alexandre Vannucchi Leme e fui torturado até a morte há 50 anos

Estudante de geologia na USP e líder estudantil, Alexandre Vannucchi Leme foi assassinado aos 22 anos no DOI-Codi de São Paulo, em 17 de março de 1973

16/03/2023 – UOL Notícias

O meu nome é Alexandre Vannucchi Leme. Quando entrei na USP, em 1970, ganhei o apelido de Minhoca. A turma achava graça quando eu imitava um dos professores da Geologia, o Sérgio Estanislau do Amaral, conhecido como Minhocão. Quem não era da Geo devia pensar que eu virei Minhoca por ser franzino e por estar sempre me metendo na terra – o que também é verdade.

Sempre fui vidrado em geologia. E colecionava rochas desde menino, em Sorocaba, no interior de São Paulo. Aonde eu fosse, voltava sempre para casa com algum mineral. Limpava as amostras, classificava, anotava a procedência, separava as ígneas das metamórficas e das sedimentares… Algumas eu dava de presente. Minhas irmãs ainda devem ter algumas dessas pedras.

Tenho quatro irmãs e um irmão, todos mais novos. Botei apelido em todos eles. A Regina eu batizei de Fejorelo; a Míriam virou Norelo; a Cristina é a Niquinho, o Zé Augusto virou Zé Cuiara e a Beatriz, Belecoteco. Devem ter se sentido vingados quando eu virei Minhoca.

Eu tinha 19 anos quando entrei na USP e me mudei para São Paulo. Egle, minha mãe, gostava de repetir, orgulhosa, que eu tinha sido o primeiro colocado no vestibular. Naquela época, não tinha Fuvest, e cada faculdade fazia seu próprio exame de seleção. Cheguei com fama de bom aluno.

A verdade é que eu sempre gostei de estudar. Dava aulas particulares de português e matemática e passava o resto do tempo entre cadernos e livros. Só parava pra ver jogo do Timão. À noite, fechava a porta do quarto e ficava lendo até tarde, a única luz acesa da casa. Às vezes, mergulhava num tema por semanas.

Uma vez, o Adriano, que cuidava da área cultural do centro acadêmico, me pediu uma pesquisa sobre o impacto ambiental da Transamazônica, uma obra faraônica que tinha virado a menina dos olhos dos militares. O grupo de teatro estava montando uma peça com o espirituoso título de “Uma Transa Amazônica” e precisava de informações pra incrementar o texto. Pedi orientação pro Aziz Ab’Saber e levantei uma série de dados.

Em pouco tempo, comecei a participar do movimento estudantil. Naquela época, era tudo mais complicado. Censura, governo Médici, muita gente presa… Desde 64, os centros acadêmicos eram proibidos por lei de promover ações, manifestações ou propaganda política de qualquer espécie. Mas a gente se virava. Editava jornais, convidava artistas, organizava encontros e ia fazendo oposição à ditadura do jeito que dava.

No terceiro ano, me aproximei da Ação Libertadora Nacional. Distribuía panfletos, escrevia notas, às vezes ajudava a esconder alguém ou alguma coisa, e buscava, à medida do possível, aumentar a adesão dos universitários à luta por democracia. Formávamos uma espécie de base de apoio da ALN dentro da universidade: o Enzo, o Queiroz, o Adriano, o Frazão, a Loira, o Babão…

No começo de 1973, o cerco começou a se fechar. O Enzo deixou o país. O Queiroz caiu na clandestinidade. Dois primos meus de São Joaquim da Barra, o Zé Ivo e o Paulinho, tinham sido presos. O Paulinho já somava dois anos de cadeia. Cheguei a visitá-lo em dezembro. Naquele Natal, levei a Lisete, minha namorada, para apresentar à família. De volta a São Paulo, dobramos os cuidados. Surgiram rumores de que havia um agente infiltrado em nosso grupo.

Ainda assim, eu continuava indo às aulas. Não usava codinome nem era clandestino. Em fevereiro, só não fui ao estágio de campo com a turma da Geologia em Diamantina porque tive de fazer uma cirurgia de emergência para retirar o apêndice no finalzinho de janeiro. Passei um mês praticamente de molho, deus me livre.

Fui sequestrado e conduzido ao DOI-Codi no dia 15 de março, uma quinta-feira, perto da hora do almoço. O major Carlos Alberto Brilhante Ustra estava eufórico. Minha prisão era tudo o que ele queria pra desmantelar a presença da ALN na USP. Ele acreditava que bastaria me apertar para que eu entregasse os companheiros.

Os primeiros a me torturar foram os agentes da equipe C: Attila Carmelo, que os colegas chamavam de Dr. Jorge, o Oberdan, o Mario, o Marechal e o Lourival Gaeta, que usava o codinome Mangabeira. Eles atribuíam a mim ações que eu não cometi, até porque estava de repouso em Sorocaba naquelas datas. Pediam nomes e eu dizia o meu, pediam nomes e eu repetia o meu, horas a fio.

A tortura se estendeu até à noite, quando fui jogado na X-zero, a solitária. No dia seguinte, quem assumiu a tortura foi a equipe A: Alemão, Rubens e Silva, Dr. Tomé, Dr. Jacó. “Meu nome é Alexandre Vannucchi Leme. Meu nome é Alexandre Vannucchi Leme”. Foi a mesma coisa no sábado de manhã. Voltei para a solitária ao meio-dia, desta vez carregado.

Por volta das quatro da tarde do dia 17 de março de 1973, foram me buscar para mais uma sessão de tortura e encontraram meu corpo inerte. Recém-operado, não resisti à porrada e aos choques elétricos. Uma hemorragia interna foi minha sentença de morte.

Meu corpo estava todo ensanguentado quando fui arrastado para fora da solitária. Um corre-corre dos diabos. Mandaram todo mundo encostar no fundo das celas e fizeram uma busca por giletes e outros objetos cortantes. Os torturadores diziam que eu havia me cortado com uma navalha. Ustra, no pátio, berrava: “Acabei de mandar o Minhoca para a Vanguarda Popular Celestial!” E dava tiros para o alto.

Em seguida, começaram a preparar outra versão. Fui jogado no porta-malas de um carro e levado para a esquina da Rua Bresser com a Avenida Celso Garcia, no Brás, onde o motorista de um caminhão foi pago para passar por cima de mim e declarar que havia me atropelado, ou melhor, que eu havia pulado na frente do caminhão ao tentar escapar da polícia. “Subversivo tenta fugir, mas morre atropelado”, dizia o título de uma das matérias publicadas nos jornais.

Fui enterrado às pressas, como indigente, no Cemitério Dom Bosco, em Perus, antes da publicação das matérias. Avisado da minha prisão por um telefonema anônimo, meu pai, José, professor do Senai em Sorocaba, viajou para São Paulo e me procurou no Dops, no DOI-Codi e no IML. Em todos esses lugares, negaram que eu tivesse sido preso. Meus pais souberam pelos jornais que eu estava morto. Foi o início de uma longa jornada por justiça e reparação.

Logo após a minha morte, dezenas de estudantes da USP foram presos e torturados. A repressão buscava alguém que testemunhasse contra mim, que dissesse o quão perigoso eu era, a fim de justificar minha execução. Foi um tiro no pé. Procurado por um grupo de estudantes, o arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, decidiu celebrar uma missa em minha homenagem junto com o bispo de Sorocaba, Dom José Melhado Campos, e ofereceu a Catedral da Sé. Nasci numa família muito católica, com um tio padre e três tias freiras, e não havia quem se conformasse com a minha morte nem com a ausência de um corpo para velar.

Como ninguém sabia ao certo em que dia eu tinha sido morto, consideraram a data da divulgação pelos jornais e marcaram uma missa de sétimo dia para 30 de março, uma sexta-feira. Três mil pessoas lotaram a catedral naquela tarde. No altar, Dom Paulo repudiou publicamente a versão de suicídio e responsabilizou o Estado pela minha morte. “Só Deus é dono da vida; d’Ele a origem, e só Ele pode decidir o seu fim”, protestou. Devo muito a Dom Paulo. “Coragem”, ele costumava dizer. “Coragem!”

São Paulo parou naquele dia. A polícia e o Exército montaram blitz em diversos pontos da cidade para dificultar o acesso à região central e evitar que a igreja enchesse. Não adiantou. Sérgio Ricardo, o mesmo compositor que havia quebrado o violão no Festival da Record de 1967, chegou do Rio de Janeiro para cantar e tocar “Calabouço”, uma música que ele havia acabado de gravar em homenagem a outro estudante morto pela repressão, o secundarista Edson Luís de Lima Souto.

Minha mãe e meu pai jamais desistiram de esclarecer as circunstâncias da minha morte e de fazer justiça. Mário Simas e José Carlos Dias foram os primeiros advogados a cobrar explicações sobre minha morte e meu paradeiro. Apenas em 1983, dez anos após meu assassinato, minha família recebeu meus restos mortais e pôde sepultá-los em Sorocaba. Naquele dia, por algumas horas, fui velado na Sé ao lado de Frei Tito, frade dominicano que abreviou a própria vida na França, assombrado pelas lembranças das torturas que sofrera em 1969. Um homem bom.

Fui anistiado, postumamente, em 2013. Em 2014, o Estado retificou minha certidão de óbito, incluindo a informação de que fui morto no DOI-Codi por “lesões provocadas por tortura”.

Desde 1976, o diretório central dos estudantes da USP tem o nome de DCE-Livre Alexandre Vannucchi Leme. Cinquenta anos após a minha morte, meu retrato pode ser visto em cards e bandeiras, nos muros e nas paredes do campus. Na imagem, o mesmo jovem militante que terá, para sempre, 22 anos.

Nesta sexta-feira, 17 de março de 2023, o cinquentenário do assassinato de Alexandre Vannucchi Leme será rememorado com um ato na Sala dos Estudantes da Faculdade de Direito da USP, no Largo de São Francisco, das 16h às 18h30. Na ocasião, estarão presentes colegas de classe e de militância de Alexandre e haverá o lançamento de uma exposição virtual sobre ele, organizada pelo Instituto Vladimir Herzog e publicada na plataforma Google Arts & Culture em três idiomas. Em seguida, às 19h, dom Pedro Stringhini, bispo de Mogi das Cruzes, preside missa em memória de Alexandre na Catedral da Sé, ao lado de Dom Angélico Sândalo Bernardino. As atividades são uma iniciativa do Instituto Vladimir Herzog com a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns e o Núcleo Memória, com o apoio da Coalizão Memória, Verdade, Justiça, Reparação e Democracia, a OAB-SP, o DCE-Livre da USP Alexandre Vannucchi Leme e o Centro Acadêmico XI de Agosto. Haverá apresentações musicais de Renato Braz e do Coro Luther King.


Fonte: https://noticias.uol.com.br/colunas/camilo-vannuchi/2023/03/16/meu-nome-e-alexandre-vannucchi-leme-fui-torturado-ate-a-morte-ha-50-anos.htm

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Camillo Vannucchi é jornalista, vencedor por duas vezes do Prêmio Jabuti. Primo de Alexandre Vannucchi.


Acervo da família