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domingo, 22 de outubro de 2023

Revista Acauã-USP- Entrevistas - Paulo Roberto de Almeida, Mônica Hirst, Eduardo Viola e outros

 

https://acaua.info/category/entrevistas/

Apresentação

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A equipe do Acauã conta com cinco editores, seis assistentes editoriais, e duas colaboradoras. A curadoria e produção dos editoriais, das entrevistas, e do rol de oportunidades e experiências é feita pelos membros da Equipe Acauã. Esta plataforma virtual foi pensada como um destino para quem busca informação na área de Relações Internacionais, enquanto disciplina acadêmica, área de estudos e campo de trabalho.


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Cláudia: http://lattes.cnpq.br/2840351689041445

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Ana Paula: http://lattes.cnpq.br/3005504663313782

Juliana: http://lattes.cnpq.br/4212738313620714


Entrevistas







Eleições argentinas: quando começou a derrocada econômica da Argentina - e quão rica ela já foi? - Veronica Smink Role (BBC News Mundo)

Eleições argentinas: quando começou a derrocada econômica da Argentina - e quão rica ela já foi?

  • Author, Veronica Smink
  • Role, BBC News Mundo, Argentina

“A Argentina começou o século 20 como o país mais rico do mundo e hoje tem 40% de pobres e 10% de indigentes.”

Esta frase, repetida diversas vezes durante a campanha presidencial pelo economista “libertário” Javier Milei – que lidera as pesquisas para as eleições deste domingo (22/10) – reproduz um conceito que está impregnado no subconsciente dos argentinos: esta nação, submersa há décadas em sucessivas crises econômicas, já soube ser uma superpotência.

Vários apelidos remetem a esse passado glorioso. O mais famoso é “celeiro do mundo”, uma referência ao poderoso modelo agroexportador que enriqueceu a Argentina há um século e hoje continua a ser o seu principal suporte econômico.

Há também “a Paris da América do Sul”, uma alusão à arquitetura de estilo europeu da capital argentina, hoje em desarmonia com a realidade de um país onde 56% das crianças são pobres.

Essas frases nostálgicas são lembranças de uma época de ouro que muitos no país idealizam. E que alguns políticos, como Milei, prometem resgatar.

“A Argentina pode voltar a ser uma potência mundial”, afirma repetidamente o economista ultraliberal.

“Se aplicarmos todas as reformas pró-mercado, nos primeiros 15 anos poderemos parecer com a Itália ou a França; em 20 anos como a Alemanha; em 35 anos como os Estados Unidos”, diz ele.

Ele não é o primeiro político a entusiasmar eleitores com promessas de volta a esse passado próspero.

O ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019) – cujo campo político é representado nestas eleições pela candidata Patricia Bullrich – propôs na época transformar a Argentina numa “nova Austrália”, um país que na primeira parte do século XX teve uma trajetória econômica semelhante à Argentina, mas que conseguiu se manter no caminho do desenvolvimento, algo que muitos argentinos tomam como exemplo do que sua nação deveria ter feito.

Mas será que a Argentina era realmente o país mais rico do mundo?

E como passou de uma das nações mais prósperas a um dos países com a maior inflação do planeta?

Uma mão entregando notas de 1.000 e 500 pesos argentinos para outra

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Legenda da foto, 

A Argentina tem inflação anual de 138% e eliminou 13 zeros de sua moeda no último meio século

Número 1?

Fim do Podcast

Comparar a riqueza de diferentes países é tarefa complexa, mas a maioria dos especialistas considera que a melhor forma de fazê-lo é medir o Produto Interno Bruto por habitante (PIB per capita, ou PIBpc).

Dado que o PIB dos países periféricos, como a Argentina, só começou a ser medido oficialmente em meados do século XX, informações anteriores a esse período devem ser vistas com cautela.

No entanto, economistas de várias ideologias concordam que a fonte mais confiável é a base de dados do Projeto Maddison, que usa diferentes estatísticas econômicas históricas para estimar o PIBpc no passado.

Em 2018, esta série estatística - criada pelo economista britânico Angus Maddison e mantida, até hoje, pela Universidade de Groningen, na Holanda - estimou que a Argentina foi o país mais rico do mundo em 1896, e que permaneceu entre os mais ricos nas primeiras décadas do século XX.

No entanto, a metodologia utilizada foi questionada por muitos historiadores econômicos, levando à publicação de uma nova série estatística em 2020 que tirou o troféu de número 1 do país sul-americano, relegando-o para o sexto lugar em 1896.

De qualquer forma, esta edição – que ainda é a mais atual – confirma que a Argentina começou o século XX como uma das nações mais ricas do mundo, uma prosperidade que a levou a estar no “top 10” das nações ricas até a Primeira Guerra Mundial (1914-18). 

A partir daí, o país declinaria até atingir o atual 66º lugar.

Quão rica foi a Argentina?

Em 1913, antes do início da Primeira Guerra, o PIBpc da Argentina era de US$ 6.052 (a preços em dólares de 2011), segundo cálculos do Projeto Maddison.

Isso era menos que o PIBpc dos Estados Unidos (US$ 10.108), do Reino Unido (US$ 8.212) e da Austrália (US$ 8.220).

Mas era o dobro da Espanha (US$ 3.067), da qual se tornou independente há quase um século, e superior à da Alemanha (US$ 5.815), da França (US$ 5.555) e da Itália (US$ 4.057), entre outras nações europeias.

Foi também muito superior ao rendimento dos países asiáticos que hoje dominam a economia, como a China (US$ 985) e o Japão (US$ 2.431).

E este não era um fenômeno regional, como mostram os índices dos seus vizinhos e de outros países latino-americanos como o Uruguai (US$ 4.838 ), o Chile (US$ 4.836), o México (US$ 2.004) e o Brasil (US$ 1.046).

Então, quando foi que a Argentina começou a perder seu lugar privilegiado no mundo e por quê?

"100 anos de decadência"

Se observarmos como o PIB por habitante evoluiu no mundo no século passado, veremos que a posição da Argentina no ranking mundial tem caído constantemente ao longo dos últimos cem anos.

Embora a riqueza de todos os países – incluindo a Argentina – tenha aumentado ao longo do tempo, a nação sul-americana começou o século XX com a renda de um país rico e aos poucos foi ficando cada vez mais relegada na tabela internacional.

Muitos chamam o fenômeno de “os 100 anos de declínio argentino” e afirmam que este é o único exemplo no mundo de um país que passou de desenvolvido a em desenvolvimento.

Alguns até usam o caso argentino para ensinar o que não fazer.

Isto foi feito pela revista britânica The Economist, que em 2014 publicou uma famosa reportagem de capa intitulada “A Parábola da Argentina”, na qual explicava “o que outros países podem aprender com um século de declínio”.

artigo apontava claramente um culpado pela queda: o peronismo, o movimento político fundado por Juan Domingo Perón e sua esposa, Eva Duarte (a famosa "Evita"), que desde 1946 foi principal força a governar a Argentina.

Segundo a revista, o peronismo gerou “uma sucessão de populistas economicamente analfabetos” que levaram a Argentina “à ruína”.

Esta é uma opinião amplamente difundida entre setores liberais do país sul-americano.

Mas será verdade?

O peronismo

O economista Fausto Spotorno é vice-presidente da Fundação Norte e Sul, dedicada a questões de desenvolvimento, e compilou as estatísticas econômicas da Argentina desde sua fundação em 1810 até 2018.

Spotorno disse à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, que “os dados mostram que o crescimento econômico argentino começou a desacelerar a partir de 1930”, quando o país sofreu um duplo golpe: os impactos da crise internacional, devido à quebra da bolsa de Wall Street, e seu primeiro golpe de Estado militar.

No entanto, ele observou: “Fica claro pelos números que as coisas começaram a ficar complicadas depois do peronismo”.

“A Argentina se assemelhava a uma economia desenvolvida, em termos de padrão de vida, renda per capita e taxa de crescimento, até 1946”, explicou. Ou seja: até a chegada de Perón.

Juan Domingo Perón e sua primeira esposa, "Evita"

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Legenda da foto, 

Juan Domingo Perón e sua primeira esposa, "Evita", fundaram um movimento popular que governou durante 40 dos últimos 78 anos.

“É aí que a inflação começa a aparecer”, disse ele, referindo-se ao problema mais persistente enfrentado pela Argentina.

Embora o país já tivesse tido aumentos de preços antes, esclareceu, a partir desse momento eles subiram para além de 20% pela primeira vez.

E por que a inflação começou a subir? 

“Porque os gastos aumentaram muito”, explicou o economista, que destacou que “a Argentina tinha gastos públicos de 8,5% do PIB e na segunda metade da década de 1940 e isso aumentou para 12%”.

No entanto, Spotorno esclareceu que muitos dos problemas que Perón enfrentou surgiram antes da sua chegada e foram agravados pelo contexto internacional desfavorável que a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) trouxe.

Os países europeus para os quais a Argentina exportava produtos de sua agricultura atrasaram pagamentos, afirmou. E o país, que durante décadas teve um superávit primário - isto é, mais receitas do que despesas - "começou a ter um deficit na década de 1940".

Este rombo não poderia ser resolvido – como fizeram os governos anteriores – com empréstimos externos, também por causa da guerra, disse o especialista.

Mas estas limitações não frearam Perón, que, apesar do contexto, aumentou drasticamente os gastos sociais.

“A Argentina aumentou as despesas sem poder financiá-las”, disse Spotorno. 

“Perón nacionalizou o Banco Central para poder imprimir dinheiro, o que desencadeou a inflação.”

Impressão de notas de 500 pesos na Casa da Moeda argentina

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Segundo economistas ortodoxos, o persistente problema de inflação da Argentina está relacionado com a emissão de notas para cobrir o deficit fiscal.

Esse problema (gastar mais do que se tem) foi piorando a cada governo posterior, explicou o economista.

E as soluções adotadas por todos - seja emitindo mais dinheiro ou solicitando mais empréstimos - foram o que levou a Argentina a se tornar um dos países com mais inflação e mais incumprimentos (ou cessação de pagamentos de dívidas - os famosos calotes) do mundo.

Os militares

Mas muitos também dizem que seria injusto dizer que a Argentina “perdeu o rumo” por causa do peronismo.

Afinal, as potências com as quais o país conviveu no início do século se beneficiaram pelo Plano Marshall, que depois da Segunda Guerra lhes permitiu regressar ao caminho do desenvolvimento.

Em contraposição, a Argentina, que demorou a declarar guerra à Alemanha e ao Japão, foi excluída dos mercados europeus.

Quanto à inflação, economistas lembram que Perón conseguiu reduzi-la para menos de 4% antes de ser derrubado por um golpe de Estado em 1955.

E observam que, depois desse acontecimento, o peronismo foi banido por mais de 18 anos.

Acadêmicos como Eugenio Díaz Bonilla, economista e professor da Universidade George Washington, destacam que se compararmos a trajetória econômica da Argentina com a da Austrália - que sofreu os mesmos ataques internacionais e não foi incluída no Plano Marshall - pode-se perceber que o verdadeiro colapso do país sul-americano não teria ocorrido com a ascensão do peronismo, mas décadas depois, com a chegada do último regime militar, que aplicou políticas neoliberais.

“Se compararmos os dois países tomando como referência a distância em relação à renda per capita dos Estados Unidos, vemos que a relação permanece entre 1900 e 1975. A mudança ocorreu com o golpe de 1976”, disse Díaz Bonilla à BBC Mundo após a polêmica gerada pela revista The Economist.

Emilio Massera (esq), Jorge Rafael Videla e Orlando Ramon Agosti, líderes da Junta militar que tomou o poder argentino em 24 de março de 1976

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Muitos acadêmicos sustentam que o verdadeiro desastre econômico ocorreu com o regime militar, há 40 anos.

O historiador argentino Ezequiel Adamovsky concluiu o mesmo.

“Nos trinta anos após 1945, a Argentina dobrou sua renda per capita e expandiu seu PIB a taxas superiores às dos Estados Unidos e também às do Reino Unido, Austrália ou Nova Zelândia (embora tenha sido superada pelos de alguns países europeus)", observou numa coluna de opinião no jornal El Diario AR.

“Com todos os seus problemas, a economia argentina crescia a um ritmo mais rápido do que o das principais potências ocidentais”, observou.

“Só em 1975 é que a economia local sofreu um declínio abrupto e perdeu terreno em comparação não só com os países mais avançados, mas praticamente com o mundo inteiro. Desde 1975, sim, pode-se dizer que o país sofreu um declínio”, escreveu ele, em referência a um período marcado pela crise de hiperinflação.

Um problema de base

Mas há algo com que analistas de várias ideologias concordam: para além das falhas de governos específicos, o problema subjacente que afetou a Argentina é uma instabilidade institucional que levou a seis golpes de Estado no século XX.

Neste ano, o país está comemorando, pela primeira vez, 40 anos ininterruptos de democracia.

Uma pesquisa conduzida pelo professor de economia da Universidade de Liubliana, Rok Spruk, destacou que esta fraqueza existe desde o início.

“Em comparação com EUA, Canadá e Austrália, a Argentina nunca completou a transição para uma democracia aberta sustentada pelo Estado Democrático de Direito”, escreveu Rok num artigo intitulado “The Rise and Fall of Argentina” (A ascensão e queda da Argentina, em tradução direta), publicado em 2019 na revista Latin American Economic Review.

“Quando os militares quebraram formalmente a ordem constitucional em 1930, a Argentina embarcou no caminho do desenvolvimento institucional instável e das frequentes transições de idas e vindas entre ditadura e democracia.”

“Em vez de embarcar no caminho do desenvolvimento institucional sustentado, a Argentina sofreu uma fraude eleitoral tumultuada com uma quase erosão do sistema de freios e contrapesos que precipitou a ascensão de líderes populistas”.

Um quebra-cabeça da Argentina com peças separadas

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A fraqueza institucional da democracia argentina causou muitas rupturas durante o século passado

Spotorno diz que esta instabilidade democrática fez com que a Argentina perdesse a atratividade que tinha no final do século XIX e início do XX.

“Se há um golpe de Estado volta e meia e as instituições são violadas, obviamente os investimentos começam a bambear”, disse ele.


Lula deveria se ocupar com o Brasil - Carlos Alberto Sardenberg (O Globo)

Lula deveria se ocupar com o Brasil

Carlos Alberto Sardenberg, O Globo (21/10/2023)

Toda a movimentação diplomática do governo brasileiro simplesmente não deu em nada até agora. E não dará

Vamos falar francamente: só os Estados Unidos têm capacidade de intervenção no conflito do Oriente Médio. Deve-se ao presidente Biden — com sua arriscada viagem a Tel Aviv — o único movimento, digamos, no sentido da redução de danos: obter a concordância de Israel e do Egito na abertura do corredor para levar comida, água e remédios para a sofrida população de Gaza.

E o Brasil?

Ia escrever capacidade zero. Mas perto de zero é mais adequado. Por um motivo: as boas relações de Lula e de Celso Amorim, seu assessor especial, com lideranças palestinas, incluindo, muito especialmente, o Hamas. E com o Irã, patrocinador dos terroristas do Hamas e do Hezbollah. Tratamos desse tema na coluna da semana passada. Voltamos para acrescentar novos dados.

Em março deste ano, Amorim assinou o prefácio da edição em português do livro “Engajando o mundo: a construção da política externa do Hamas”. O autor, Daud Abdullah, que esteve no Brasil para o lançamento, vive na Inglaterra. Já foi processado sob acusação de incitar ataques terroristas.

Em seu prefácio, Amorim declara ter ficado “encorajado” com estas palavras do autor: “O Hamas pode representar um papel central na restauração dos direitos palestinos”. Isso, acrescenta o embaixador brasileiro, “através de maiores esforços diplomáticos e alianças globais”.

Como percepção geopolítica, trata-se de um equívoco monumental. Esforços diplomáticos de um grupo cujo objetivo formal, escrito em estatutos, é destruir Israel e assassinar judeus? Como um diplomata experiente pode equivocar-se tanto?

A menos que não seja análise, mas propaganda. O autor Abdullah certamente é propagandista do Hamas. Amorim, de sua parte, acentua as relações históricas de Lula com o movimento palestino. O que é verdade. Tanto que, nos primeiros dias depois do ataque do Hamas, Lula e Amorim evitaram qualificar o caso como terrorismo.

Pois não seria este o momento de usar essas relações? Se o objetivo for evitar a escalada, há um movimento essencial que depende do Hamas: a libertação dos reféns presos em Gaza, entre os quais há muitos civis não israelenses, inclusive, possivelmente, brasileiros.

Há uma pressão global para que Israel cesse os bombardeios em Gaza e desista do ataque por terra. Não fará isso unilateralmente. A pressão interna sobre o governo israelense não permite. Uma troca pelos reféns pode levar pelo menos a uma parada temporária na guerra, abrindo espaço à diplomacia.

Lula tem acesso direto ao presidente do Irã, Ebrahim Raisi, aliás recentemente admitido como integrante do Brics. O Irã financia e lidera o Hamas. Amorim certamente tem como chegar a lideranças palestinas ligadas ao Hamas. Por que o governo brasileiro não se engaja nessa direção?

Toda a movimentação diplomática do governo brasileiro simplesmente não deu em nada até agora. E não dará. Todo mundo sabia que a resolução apresentada no Conselho de Segurança da ONU seria derrubada pelos Estados Unidos, que pretendem manter abertas todas as suas opções de negociação e intervenção. Os 12 países que votaram pela resolução o fizeram para marcar posição interna ou em relação aos Estados Unidos (como a China). E votaram sabendo que a proposta brasileira cairia.

Retirar os brasileiros de Israel foi simples. Não houve qualquer obstáculo de Israel, ao contrário. Mas e os reféns que estão em Gaza?

O Hamas quer apoio — como o apoio incondicional que recebe de esquerdas internacionais, cuja manifestação em Nova York pedia um só Estado Palestino, “do rio (Jordão) ao mar”. Ou seja, varrendo Israel do mapa. Esquerdas brasileiras, incluindo partes do PT, embarcaram nessa. Mas Lula teve de chamar o terrorismo do Hamas de terrorismo, por pressão local e internacional.

Ora, isso elimina a capacidade de fala com o Irã e o Hamas. Como o governo brasileiro não tem abertura para o outro lado, acabou qualquer possibilidade de intervenção no conflito.

Para falar a verdade, o governo deveria aplicar todo o seu tempo, sua energia e seu dinheiro nos graves problemas internos: a seca no Amazonas, chuvas no Sul, o desastre da segurança especialmente na Bahia e no Rio. Mas isso é mais difícil, né?

The Global South: A new North Star - Kishore Mahbubani (Pearls and Irritations

Kishore Mahbubani sempre foi um bom analista das relações internacionais, em especial da China e da Ásia Pacífico. Desta vez ele falhou enormemente, e demonstrou grande ingenuidade, ao confundir BRICS com Global South. Está fazendo o jogo da China, talvez involuntariamente. PRA

The Global South: A new North Star

Pearls and Irritations (Australia), Oct 19, 2023 

https://johnmenadue.com/the-global-south-a-new-north-star/

We live in surprising times.

Many short-term shocks continue to surprise us: the Covid-19 pandemic, the Ukraine war and the latest Hamas attack. Yet, what makes our world truly hard to understand and grasp in totality is that we are also experiencing simultaneously many long-term structural shifts: the rise of China and India, the broader return of Asia, the relative decline of the West and, equally importantly, the resurgence of the Global South. It is these long-term structural shifts, not the short-term shocks, which will shape our future.

The resurgence of the Global South is going to lead to profound changes in the chemistry of our world order.

Here, a word of caution needs to be added. The Global South has experienced a false dawn before. In the 1950s and 1960s, led by strong and charismatic leaders like Jawaharlal Nehru, Zhou Enlai, Gamal Abdel Nasser as well as Julius Nyerere, Sukarno and Josip Broz Tito, the Global South (then called the Third World) seemed headed to conquer the world. But it did not. Bad economic policies crippled their economic growth.

Hence, at the end of the Cold War, the triumphant Global North (including North America, Western Europe and Japan) commanded over 70 per cent of the global economy. Barely 30 years ago, there seemed to be little hope for the Global South. Political scientist Francis Fukuyama’s essay, The End Of History, predicted a great future for the triumphant West, not for the rest.

Yet, in an essay titled The West And The Rest (published in The National Interest in 1992), I hinted that we should prepare for a new world marked by the resurgence of the Rest. In that essay, I wrote: “Today, Japan’s economic success is having a… psychological impact on developing societies all over the world, gradually convincing them that they too can make it into the developed universe.

“This psychological leap is crucial. Until recently, most Third World nations believed subconsciously that developed status was out of their reach. Today, after looking at Japan and its neighbours, many believe otherwise.” And this is what has come to pass.

Structural shifts

The relative economic weight of the West and the Rest has changed significantly. A quick comparison with the Group of Seven (G-7), the premier club of the Global North, brings this out. In 2000, a decade after the end of the Cold War, the G-7 countries commanded a share of the global economy which was more than twice that of the Brics countries (Brazil, Russia, India, China and South Africa), in purchasing power parity terms. Yet by 2022, the G-7 share had become smaller than that of Brics.

This broader shift of economic power between the North and South is also reflected in other subsets of the North and South. In 2000, Japan towered over the world as its second-largest economy. Its gross domestic product (GDP) in nominal market terms was US$5 trillion, more than eight times bigger than the combined GDP of Asean at US$650 billion.

Yet, by 2022, the GDP of Japan at US$4.2 trillion (S$5.8 trillion) was only 1.2 times bigger than that of Asean’s at US$3.6 trillion. And, by 2030, Asean’s combined economy will be bigger than Japan’s. This relative shift in economic power between Japan and Asean reflects the larger trend of a similar shift between North and South.

As these structural shifts between the North and South accelerate, it would be wise for the countries of the North to make strategic adjustments and give greater voice and recognition to the needs of the South.

Sadly, there is no such wisdom in the North, even though the North does make rhetorical statements acknowledging this. This is shown most clearly in the continued Northern domination, if not dictatorship, of the world’s two most important global economic institutions, namely the International Monetary Fund (IMF) and the World Bank.

Indeed, the statement at the Group of 20 (G-20) summit in London in April 2009 explicitly promised that future leaders of the IMF and World Bank would be selected on the basis of merit, not geographical regions. “We agree that the heads and senior leadership of the international financial institutions should be appointed through an open, transparent, and merit-based selection process,” it said.

Fourteen years have passed. This promise to give the Global South a voice in running these organisations has not been kept. Similarly, the promise to give the Global South a greater voting share in these two organisations has not been kept either, even though in theory a country’s voting share in the IMF is supposed to represent its share of global GDP. The discrepancy is largest for China. Its share of global GDP has risen to 18 per cent, but its voting share of the IMF remains at 6 per cent.

This is partly a result of clever procedural moves by European diplomats to block change in the IMF and World Bank. Yet, it is also the result of the failure of the Global South to speak with one voice. The new and emerging rivalry between China and India is also complicating the picture. Yet, this rivalry could also help to enhance the voice of the South.

India demonstrated this well by ably securing a membership seat for the African Union at the G-20 summit in New Delhi in September 2023. The title of the G-20 should be changed to “G-21” to reflect this change. And this precedent of having a continent represented by a regional organisation should be studied by the European Union, which claims to have a common foreign and security policy.

The sad truth is that the EU, which makes up around 5 per cent of the world’s population, is over-represented in most global organisations, commanding 20 per cent of G-20 seats and 40 per cent of the five permanent seats in the United Nations Security Council.

French President Emmanuel Macron was absolutely right when he said at the Munich Security Conference in February 2023: “I am struck by how we have lost the trust of the Global South.”

Different view

Yet, this lack of voice in key institutions of global governance does not mean the Global South does not get its viewpoint across. Both in their acts of mission and commission, they are signalling that they have a different view of our current global order.

On Ukraine, for example, there is no doubt that a majority of the Global South countries disapprove of the Russian invasion of Ukraine. This is not surprising. This invasion violates international law. Yet, it is surprising that 85 per cent of the world’s population has not imposed sanctions on Russia. Indeed, Russia’s trade with the Global South has grown significantly post-Ukraine invasion. For example, Russia’s trade with India has grown by a whopping 205 per cent in 2022, primarily due to the surge of discounted Russian oil exports to India.

Similarly, the United States has mounted a strong global campaign to persuade countries not to join the Belt and Road Initiative (BRI). This campaign has been partially successful. Many European and Asian countries like Germany, Japan, India and South Korea have not joined the BRI. Yet, out of 193 member states of the UN, over 150 have signed on to join the BRI. There could be no louder signal that the Global South will pursue its own course, even against the opposition of the North.

BRI is bringing real benefits to the Global South. It is striking that the fast train between Jakarta and Bandung (with speeds of up to 350kmh) was launched in the very week that Britain (a member of the G-7) announced it did not have funds to proceed with the fast train between Birmingham and Manchester. Future historians will mark this as a clear indicator of how times have changed in our world.

Singapore is truly fortunate our leaders have decided that, even with our economic success, we would remain a member of key organisations of the Global South, like the Non-Aligned Movement and the Group of 77. We could have easily joined one of the bastions of the North, the Organisation for Economic Cooperation and Development.

Yet, by sticking with the Global South, we made the right decision. And we will now enjoy the many benefits of working closely with both the North and South.