Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
sábado, 30 de outubro de 2010
Relations Internationales du Brésil - table des matieres du livre
Relations Internationales du Brésil - Brazil’s International Relations: nouveau livre - new book
A politica externa do Brasil e as eleicoes presidenciais - Paulo R. Almeida
2171. “A Política Externa e as Eleições Presidenciais no Brasil em 2010”, Shanghai, 12 agosto 2010, 6 p. Texto de comentários para serem lidos por ocasião de um debate acadêmico. Não publicado.
A utopia do desarmamento nuclear - Book by Michael E. O’Hanlon
By JACOB HEILBRUNN
The New York Times, October 29, 2010
In “A Skeptic’s Case for Nuclear Disarmament,” Michael E. O’Hanlon, a defense analyst at the liberal Brookings Institution who has attracted much controversy on the left for supporting the Iraq war, joins the debate. O’Hanlon expertly unravels the myriad threads of the often abstruse disputes about nuclear weapons and disarmament. He seeks to chart a middle ground between the nuclear abolitionists and the proponents of retaining the bomb in perpetuity. His solution is to advocate full dismantlement — but only if the United States and other major powers can reconstitute nuclear weapons rapidly if, say, menaced by a foreign foe who had secretly kept them. Like many attempts to cope with the problem of nuclear proliferation, however, O’Hanlon’s proposal is unpersuasive. His book is better at outlining the problems surrounding disarmament than at solving them.
According to O’Hanlon, pushing for disarmament without retaining the right to reconstruct nuclear weapons is sheer utopianism. He also notes that no major power is about to defer to the United Nations Security Council for authorization to rebuild these weapons. So he suggests the creation of a “contact group for each country that wishes to preserve the right to build or rebuild a nuclear arsenal under extreme conditions.” But this defies credibility. What commander in chief would ever put America’s national security in the hands of a “contact group”?
Still, as O’Hanlon sees it, one advantage of pushing for disarmament is simply that it might promote more general enthusiasm for arms reduction. “Tired of incrementalism,” he states, “the American public has long since lost its real interest in arms control.” But did it ever have any such interest in the first place? O’Hanlon himself doesn’t seem to have all that much interest in full disarmament.
His suggestion is that the United States should pursue a rather Machiavellian policy: On the one hand, it should “endorse a nuclear-free world with conviction.” On the other, “it should not work to create a treaty now and should not sign any treaty that others might create for the foreseeable future.” Only when Iran, North Korea, the status of Taiwan and Kashmir, and a host of other issues are settled will the great powers be able to cooperate on moving toward a world truly free of nuclear weapons. Of course, setting world peace as a precondition for nuclear disarmament is tantamount to saying it will never occur.
Even the act of disarming, O’Hanlon notes, could throw America’s relations with its allies into turmoil. Japan continues to rely on American nuclear assurances. So does Europe. In short, the American nuclear umbrella extends far and wide — indeed, Secretary of State Hillary Clinton suggested last year that a “defense umbrella” now extends to shield Middle East states like Saudi Arabia from a potential Iranian strike.
Rather than seeking the utopian dream of ridding the world of nuclear weapons, keeping a small arsenal on hand as a deterrent is far more likely to preserve the peace than abandoning them completely. The fundamental problem is that nuclear weapons are not the source of international tensions but an expression of them.
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Os interessados em ler largos extratos do livro para conhecer as teses do autor, podem percorrer estas páginas no Google Books, que aliás segue o sistema da Amazon: dá para ler, mas não para copiar.
Excerpt by Google Books
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Transcrevo abaixo um comentário recebido e minha resposta a ele:
- Julian Farret disse...
- A questão nuclear é um tema em voga. E não poderia ser diferente. Há algumas semanas, Roger Noriega denunciou o apoio de Hugo Chavez a o programa nuclear iraniano. Aparentemente, através de um acordo de "troca de tecnologia", a Venezuela forneceria urânio ao Irã, ao arrepio das Resoluções da ONU que tentam impedir que o país se arme. Apesar de neste caso tratarmos de governantes que, claramente, compõem sistemas autoritários de governo (e isso bastaria para que alguém repudiasse meus questionamentos), não posso deixar de me ansiar com um fator. Um aspecto, acredito, paradoxal ao paradigma da não-proliferação. Me refiro à utopia do absoluto desarmamento nuclear, tema do livro deste post. Posso estar equivocado, e sobre isso gostaria muito de ouvir o que pensa o estimado blogueiro, mas me parece que o armamento nuclear, quando em mãos de Estados de Direito, democráticos são excelentes "instrumentos da paz". Parecem garantir uma espécie de "isonomia" entre os Estados. Em sentido oposto, a insegurança surge, creio, ao passo que "esse" ou "aquele" país é detentor de uma arma tão poderosa. Isso faz surgir, sem dúvida alguma, uma hegemonia militar que em nada contribui para a segurança internacional. Não faço votos de proliferação das bombas atômicas, mas compreendo os governos que investem forças nesse sentido. Aproveito a oportunidade para registrar minha profunda admiração pelo autor do blog. Não é de hoje que o acompanho, apesar de não ser 'follower' nem ter antes me manifestado. Sucesso! Um forte abraço. Julian.
Julian,
Discordo ligeiramente de sua analise. A questão da arma nuclear não tem tanto a ver com a natureza do regime -- democrático ou ditatorial -- e sim com sua capacitação tecnológica e industrial. Democracia e ditaduras, totalitarismos, enfim, qualquer tipo de regime, desde que dotado de capacitação adequada, pode chegar à manufatura de artefatos nucleares. A sequência é exatamente esta: EUA, URSS, UK, França, RP China, Israel, India, Africa do Sul (que depois voltou atrás), Paquistão e Coréia do Norte.
Podem fazer um artefato nuclear em menos de um ano, se assim o desejarem: Alemanha, Canadá, Japão, Suécia, Espanha, Itália, Ucrânia, Suíça e vários outros.
Demorariam um pouco mais mas poderiam também fazê-lo: Irã, Coréia do Sul, Africa do Sul, Indonésia, México, Argentina, e vários outros.
A natureza do regime não tem nada a ver com a capacidade nuclear.
Não diria que os artefatos nucleares são instrumentos de paz, e sim que são elementos estratégicos suficientemente desestabilizadores, e tremendamente destruidores, para atuar como fatores de dissuasão estratégica e obstáculos de ordem prática a uma guerra global, ou seja, entre potências detentoras desse tipo de armamento. Nesse sentido, ele garantiu, não a paz, mas a "não-guerra", que continuou a existir por outros meios: proxy wars, guerra fria, espionagem, desestabilização, guerras regionais com sistemas de alianças, e todos os tipos de golpes baixos, alguns ainda em curso e se reforçando.
Tampouco é uma isonomia completa, pois há outras maneiras de se projetar poder, mas de certa forma equaliza as chances de destruição mútua (caso ambos tenham meios de delivery, pois não adianta ter a ogiva ou a bomba, sem meios de entregá-la no lugar "certo").
Claro, quando a bomba é detida por líderes perfeitamente malucos, como alguns que existem por aí, a insegurança aumenta, pois outros vão procurar se armar nuclearmente também.
Governos que investem nesse sentido, estão simplesmente cometendo um crime contra seus povos, e jogando dinheiro no lixo.
Mas, não tenho espaço aqui para desenvolver todas as ideias.
Paulo R. Almeida
Pausa para... a piada da campanha eleitoral
Dilma Rousseff:
“No que se refere ao fato de a galinha ter cruzado a rua, eu considero que este é mais um ganho do governo do presidente Lula. Eu considero que foi apenas depois que o presidente Lula me pediu para coordenar o PAC das Ruas é que as galinhas no que se refere ao cruzamento das ruas tiveram a oportunidade de poder cruzar as ruas, coisa que, aliás, só as galinhas com maior poder aquisitivo podiam no governo FHC, no qual o meu adversário foi ministro do Planejamento e da Saúde”.
José Serra:
“Olha, este é mais um trolóló da campanha petista. Veja bem, as galinhas cruzam as ruas no Brasil, há anos. Eu mesmo coordenei a emenda na Constituição que permite o direito de ir e vir das galinhas. Eles ficam falando que foram eles que inventaram esse cruzamento de ruas, mas já no governo Montoro, quando eu era secretário do Planejamento, as galinhas cruzaram as ruas com maior segurança. Eu, por exemplo, criei o programa Galinha Paulistana, que permitiu que milhares de galinhas pudessem cruzar as ruas e, agora no meu governo, vou criar o “Galinha Brasileira”, em que toda galinha terá direito de cruzar as ruas quantas vezes quiser “.
Fonte: Sensacionalista, um jornal isento de verdade
Pre-sal: a mistificacao reiterada - Miriam Leitao
Míriam Leitão
O Globo, 29.10.2010O Brasil descobriu petróleo no pré-sal nos anos 50 e já o explora há décadas. O que houve agora foi a descoberta de grandes reservas, mas nem todo produto é de boa qualidade. A produção iniciada em Tupi é mínima perto do total extraído no Brasil. Principalmente é falsa a ideia de que o pré-sal é a solução mágica que garante o futuro. O governo faz confusão proposital quando o assunto é petróleo.
A excessiva politização do tema está criando mitos e passando para o país a ideia de que agora ganhamos na loteria, um bilhete premiado, que vai produzir dinheiro abundante que resolverá todos os nossos problemas. Isso reforça a tendência a acreditar na quimera, no “deitado em berço esplêndido”, que tem feito o país perder chances e assumir riscos indevidos.
A primeira descoberta de petróleo no pré-sal do Brasil foi em 1957 no campo de Tabuleiro dos Martins, em Maceió. A segunda foi em Carmópolis, em 1963. Ainda hoje se produz petróleo nos dois campos: no segundo, 30 mil barris por dia. O campo de Badejo, na Bacia de Campos, também fica na camada do pré-sal. Ele foi descoberto em 1975. Os dados contrariam o marketing do “nunca antes” e que esse petróleo é o “passaporte para o futuro”, como tem dito a candidata Dilma Rousseff.
Há produção de petróleo em campos de pré-sal no mundo inteiro. No Golfo do México, no Oriente Médio, no oeste da África, no mar do Norte. Um dos mais famosos é o de Groningen, na Holanda, descoberto pela Shell em 1959. Ainda hoje se tira petróleo de lá.
— O pré-sal invenção brasileira é uma distorção de marketing inventado pelos políticos do governo com apoio dos ideólogos da Petrobras e da ANP — explica o ex-diretor da Petrobras, Wagner Freire.
O Brasil produz hoje dois milhões de barris de petróleo por dia. Na melhor estimativa, a produção do pré-sal chegará a esse volume daqui a cinco anos. A exploração definitiva do campo de Tupi, que começou ontem, mas que na verdade ainda se encontra na fase de testes, foi de 14 mil barris, cerca de 0,7% da produção atual. A projeção é que em 2012 produza 100 mil.
— Na rodada zero de licitações, em 1998, a ANP permitiu que a Petrobras escolhesse todos os campos que gostaria de explorar. Ela não quis as áreas do pré-sal. Na época, o barril do petróleo custava em torno de US$ 15. Por esse preço, a exploração era inviável pelos custos e dificuldades. Hoje, o petróleo está cotado a US$ 80. É por isso que a produção começou a valer a pena — lembra o consultor Adriano Pires.
O campo de Tupi foi licitado para a Petrobras e outras empresas privadas no ano 2000, como resultado da segunda rodada da ANP. Em 2007, foi comprovado que havia petróleo e, diante dos indícios de grandes reservas 47, blocos do pré-sal foram retirados da competição.
Até agora ainda não se sabe quais são as reservas de Tupi. A Petrobras afirma que existem de 5 a 8 bilhões de barris. Mas a certificadora Gaffney, Cline & Associates, que foi contratada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) para analisar o campo, estimou um volume menor: de 2,6 bilhões de barris. Quem está certo? Ninguém sabe. É preciso fazer mais prospecção.
O relatório da Gaffney também diz que um dos campos de pré-sal, o de Júpiter, tem óleo pesado, ou seja, com menor qualidade, explica Wagner Freire. O gás possui 79% de CO2 e o petróleo é de 18° de API. O petróleo do tipo Brent e WTI, que são referência no mundo, possuem API acima de 30°. Quanto mais alta essa medida, mais leve é o petróleo, ou seja, dele se retira maior volume dos derivados mais valorizados. O petróleo que hoje se extrai no Brasil é de 20° a 22°. Tupi é um pouco melhor, 26°, mas ainda assim não chega ao nível do Brent e do WTI.
O fato de ter alto teor de CO2 no gás em Júpiter é um complicador. Se o CO2 for para a atmosfera, aumentará muito as emissões de gases de efeito estufa do Brasil.
Todo brasileiro admira a capacidade da Petrobras, provada ao longo de cinco décadas, de encontrar petróleo, desenvolver tecnologias e produzir em águas profundas. Mas a propaganda tem distorcido tudo, como se houvesse uma Petrobras velha e uma nova, do PT.
Não é verdade também que antes o petróleo brasileiro era carne de pescoço e agora acharam filé. Temos no Brasil óleos mais leves, ou seja filé mignon, em poços como os do Espírito Santo. O de Urucu na Bacia do Solimões é leve e sem enxofre, melhor que o Brent. E tem petróleo leve e pesado no pré-sal.
A Gaffney, que fez o estudo para a ANP, concluiu que todas as reservas do pré-sal juntas têm potencial de 15 a 20 bilhões de barris. Isso é uma boa notícia porque significa dobrar as reservas provadas do Brasil, que em 31 de dezembro de 2009 estavam em 15,2 bilhões. Poderíamos chegar a 35 bilhões e ganharíamos cerca de seis posições no ranking mundial de países com potencial para explorar petróleo, saltaríamos do 16º lugar para 10º, ao lado da Nigéria. Ainda assim, estaríamos longe de países como Arábia Saudita, com 314 bilhões de barris em reservas; Irã, com mais de 138 bilhões; Iraque, 115 bilhões; Kuwait, com 113 bilhões. Não seríamos também o primeiro da América do Sul porque a Venezuela tem mais de 99 bilhões de reservas comprovadas.
Há dificuldades técnicas nada desprezíveis para a produção desse petróleo em larga escala.
— Para se ter ideia, o campo de Roncador, que é no pós-sal, e foi descoberto em 1996, com três bilhões de barris de reservas, ainda não tem seu plano de desenvolvimento completo. E o desenvolvimento e a operação do pré-sal são mais complexos e mais caros — diz Freire.
Não existe um pote de ouro depois do arco-íris que vai resolver todos os nossos problemas. Ainda não inventaram um passaporte para o futuro que não seja trabalhar muito, poupar mais, investir sempre e, principalmente, educar a população.
Miriam Leitão
De novo, o "grande jogo" na Asia Central - Der Spiegel
Apenas o primeiro e o último de uma série especial da revista semanal alemã Der Spiegel, sobre o novo "grande jogo" das grandes potências mundiais em torno das ex-satrapias soviéticas que ascenderam à independência na sequência do desaparecimento da União Soviética em condições de estabilidade política, de exploração de recursos naturais e de relacionamento com os vizinhos regionais e os grandes interesses internacionais em condições muito diversas, algumas preservando o antigo poder autocrático (ou até agravando seus traços mais deletério, outras tentando se inserir no novo contexto democrático). No site da Der Spiegel internacional podem ser lidos outros materiais sobre a região.
Paulo Roberto de Almeida
SPIEGEL Central Asia Special
The New Great Game
Der Spiegel, 10/08/2010
The Pamir, Hindu Kush and Tian Shan mountain ranges and the Syr Darya and Amu Darya rivers border a region in which two world religions, Islam and Christianity, collided, astronomy blossomed and eminent doctors taught. Central Asia is one of the eternal hot spots in world history, a place where Darius I and Alexander the Great, Genghis Khan and Tamerlane left their marks. The British and Russian colonial powers followed suit when they embarked on the "Great Game," a bitter struggle over natural resources and strategic bases.
Today the major powers' interests in the region range from military bases for waging the war against the Taliban to oil and gas pipelines and drug prevention. One of the most important heroin smuggling routes passes through a part of Central Asia controlled by Islamists.
For these reasons, the world is now witnessing a new version of the Great Game, this time involving both the former players, Russia and Great Britain, and new players, the United States, China and Iran. None of the countries within their field of vision is stable, eccentric dictators are in control almost everywhere, corruption is rampant and many nations are at odds with their neighbors. After several coups and ethnic unrest, Kyrgyzstan is leaderless. Kazakhstan, rich in natural resources, feels pressured by China. Islamists in Tajikistan have renewed their fight against the regime, and in Uzbekistan, a major cotton exporter, the opposition is brutally persecuted.
In a new series, SPIEGEL describes the worrisome situation in Central Asia, a region where American historian Kenneth Weisbrode fears "a massive storm could be brewing."
The first installment on Kyrgyzstan, where elections will be held on Saturday, posted this week. A dispatch from Kazahkstan will follow next week, along with reports on Tajikstan, Turkmenistan and Uzbekistan in the coming days.
'A Completely Lawless Place': Kyrgyzstan Has Become an Ungovernable Country (10/08/2010)
10/08/2010
'A Completely Lawless Place'
Kyrgyzstan Has Become an Ungovernable Country
10/29/2010
Editor's note: This feature is the first of a series on Central Asia that will be running on SPIEGEL International in the coming weeks. You can read more about future installments in the series here.The sun is high in the sky, directly above the Taht-I-Suleiman, a giant rock in the middle of the city where the Biblical King Solomon was once said to have preached. In fact, the sun is so unrelentingly bright that the snow-covered peaks of the Tian Shan have disappeared behind a curtain of flickering heat. Somewhere in the city a muezzin is calling the faithful to prayer.
For the men and women gathered in the tent cities near the large white regional administration building, the case is clear. "The murderers were Uzbeks," says Gumira Alykulova, a 35-year-old Kyrgyz. Uzbeks, though an ethnic minority in Kyrgyzstan, form the majority in Osh. They own most of the city's markets, restaurants and much of the surrounding farmland and, as angry citizens believe, they are determined to drive the Kyrgyz out of the city.
A Wave of Pogroms
Since the bloody four days of violence in June, the small tent city has been one of the main sources of news in Osh -- from the Kyrgyz perspective, that is. Anyone wishing to hear the other side's version of the truth has to drive two kilometers farther down the road to an Uzbek neighborhood like Shark.
Shark looks like it has recently been carpet-bombed. The district was completely burned down, with nothing but blackened foundation walls remaining where many buildings, including the schools, once stood. The Uzbeks in Shark blame the Kyrgyz.
According to official figures, more than 370 people died in the pogroms, when the Kyrgyz went on a rampage against the Uzbeks and the Uzbeks against the Kyrgyz. But the true figure is probably upwards of 2,000. More than 75,000 people fled to Uzbekistan. The news coming out of the city shocked people around the world.
What happened in Osh? Why are no officials, including the mayor, the provincial administrator, the chief of police and the head of intelligence, willing to say how the killing began? Why are the newspapers avoiding the issue?
The silence that has descended on Osh after the so-called incidents has instilled fear in the residents of a city that was cosmopolitan for centuries, a peaceful trading center and a crossroads on the legendary Silk Road.
Osh is 3,000 years old, even older than Rome. Caravans from China once passed through the city, and even Alexander the Great is believed to have stopped at the Taht-I-Suleiman en route to India.
A Lawless City
But since June this city of 250,000 has been only a shadow of its former self. The four days of violence left behind a broad trail of destruction. Major thoroughfares like Kyrgyzstan Street are devastated, with all of the businesses on the right side of the street, as well as cafés, restaurants and a Muslim hospital, burned to the ground. The left side, where the Kyrgyz live, remained unharmed.
This is one version of the events: Uzbeks attacked a student dormitory at the University of Osh and raped female Kyrgyz students. This prompted the Kyrgyz to retaliate.
According to another version, the rapes never occurred and the riots were deliberately provoked.
Osh is now a lawless city. At night, men wearing camouflage uniforms without shoulder insignia rule the pitch-black streets, during hours of revenge and violence. Some 3,000 ethnic Uzbeks have reportedly been arrested, while others have been abducted or simply disappeared. All Uzbeks in government positions were let go.
What is happening in Osh is not some provincial drama. Osh has become a warning sign -- for an entire country and perhaps even an entire region.
The pogroms were a consequence of the most recent change of power in the capital Bishkek. After bloody protests in April, the corrupt president, Kurmanbek Bakiyev, was ousted and forced to flee the country. The government that replaced Bakiyev also no longer exists. Transitional President Rosa Otunbayeva, a former foreign minister and then a member of the opposition, rules the country with decrees. She intends to hold parliamentary elections on Oct. 10, but protestors have already returned to the streets in Bishkek, the police are back to using teargas, and opposition members are being arrested once again.
A Decline of Historic Proportions
Kyrgyzstan, a mountainous Muslim republic with a population of only 5.3 million, has become ungovernable. This would be a footnote in world history if this country, where the towns have names like Toru-Aigyr and Kurkurëu and the people are called Momun and Oroskul, were not at the center of a region that has alarmed the world's powerful.
But the foreign powers also need this small country. China hopes to use Kyrgyzstan to satisfy its demand for natural resources. Moscow needs the region as a buffer zone against the advances of fundamentalist Islam, and the United States uses it as the site of a resupply base for its war against al-Qaida and the Taliban. Chaos and anarchy in Kyrgyzstan are the last thing the Americans, Russians and Chinese need. Ironically, the Western press only recently referred to this country as "the Switzerland of Central Asia."
- Part 2: A Paralyzed Country
- Part 3: 'We Are Turning this Country into another Afghanistan'
- Part 4: Minority Groups Increasingly Referred to as Parasites
Appeasing the Uzbek Dictator
Who's Afraid of the Ruler of the Silk Road?
Uzbekistan is the most populous and probably most important of the new Central Asian countries that emerged from the former Soviet Union. Islam Karimov, the Communist Party's first secretary in Uzbekistan prior to the collapse of the Soviet Union, easily transitioned into his new role as president, brutally eliminating all opposition and placing members of his family into positions of power. Today Karimov has his eye on billions in future business. Uzbekistan is the world's sixth-largest cotton producer and has massive reserves of natural gas as well as gold and uranium deposits. It is potentially a wealthy country.
A Supply Base for Afghan War
For the world's major powers, there is much more at stake. Military bases, for one thing. Uzbekistan borders on Afghanistan and serves as a supply base for the war against the Taliban. The Germans have their largest and most important supply base in the southern Uzbek city of Termez. They are also interested in building oil and gas pipelines from Uzbekistan that could help satisfy Western Europe's energy needs. Finally, drug prevention is an important issue for the major powers. Some of the world's most important heroin trafficking routes pass through the region and are controlled by Islamists, who threaten to deploy their fighters to commit acts of terror well beyond the borders of these countries.
This explains why we are now experiencing a revival of the Great Game. Only this time a few other powerful players have joined in: the United States, China, Iran, India and Germany.
Once again, they are competing for influence in the region. And, as in the past, foreign envoys play a central role. Just like in the old days, they have a presence on the ground and send reports back home.
A Briton from Norfolk, who is extroverted, narcissistic and combative, and a German from the town of Hüls in western Germany, who is introverted, reliable and accommodating, managed to land their dream jobs. They were named the ambassadors of their respective countries in the Uzbek capital, Tashkent.
But how should they handle an authoritarian country that is so important for the West? Should they flatter the dictator to wrest concessions from him? That would be in the interests of European politicians and military officials -- and perhaps also in the interests of the Uzbek civil rights activists behind bars, who wouldn't stand a chance without a gentle, behind-the-scenes slap on the wrist. Or should they confront the dictator with his misdeeds, sharply criticize his human rights violations and expose the regime, and thus risk a breakdown in relations and the loss of all influence? And how much scope do the ambassadors, who are largely expected to follow their governments' instructions, actually have to make their own decisions on such matters?
With their different approaches and diametrically opposed characters, the only thing these two men have in common is their sincere commitment to a difficult host country. British Ambassador Craig Murray, 51, and German Ambassador Wolfgang Neuen, 63, are ambassadors of a somewhat different stripe. This is their story.
An Upstart and an Outsider
It is the summer of 2002, and the new British envoy has only been in Tashkent for a few weeks. He finally has time to catch his breath, after surviving the obligatory appointment at Buckingham Palace. Craig Murray has every reason to be proud. Following diplomat posts in Poland, Russia and Africa, he is now the youngest ambassador working for the British government. He is only 43, and already he is an ambassador in an important, embattled country.
Unlike his predecessors and most of his fellow diplomats, who tend to focus on the capital, Murray insists on traveling around the country, to beautiful places like Samarkand, for example. But Murray also travels to places where there are no paved roads or acceptable hotels, such as a remote corner of the Fergana Valley, an area strongly influenced by fundamentalists, and to what is left of the polluted Aral Sea, where residents live under wretched conditions.
- Part 2: A Grisly Document
- Part 3: 'A Disgrace for the Entire Foreign Office'
- Part 4: 'The World Here Doesn't Let You Go'
Photo Gallery: The New Great Game
http://www.spiegel.de/fotostrecke/fotostrecke-60769.html#ref=nlint
SPIEGEL Central Asia Special: The New Great Game
http://www.spiegel.de/international/world/0,1518,722173,00.html#ref=nlin
RELATED SPIEGEL ONLINE LINKS
- SPIEGEL Central Asia Special: The New Great Game (10/08/2010)
- 'Leading the Country into a Dead End': Former President Slams Kyrgyzstan's Democracy Plans (06/28/2010)
- Kyrgyzstan Falls Apart: Can Democracy Work in Central Asia? (06/21/2010)
- SPIEGEL Interview with Kyrgyzstan's Interim President: 'We Are Experiencing a New Kind of Terror' (06/21/2010)
- Unrest in Central Asia: 'Kyrgyzstan Is On the Brink of Collapse' (06/17/2010)