O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Dois anos atrás, uma declaração de princípios e valores pessoais: ainda vale...

Uma “velha” declaração (2017), ainda válida

O que vai abaixo é uma espécie de declaração de princípios e valores, feitos ao sabor do teclado, sem preparação e sem reflexão, apenas juntando os elementos que acredito essenciais numa vida dedicada à leitura, à reflexão, ao ensino, enfim, ao conhecimento e à inteligência. Ela passa por uma mensagem unilateral e erga omnes.

Amor: a Carmen Lícia, e a toda a minha família, que ainda vai crescer...
Atitude geral: ceticismo sadio, sempre;
Paixão: pelos livros, em todas as suas formas, de quaisquer idades, tempo e lugar;
Comportamento: contrarianista tranquilo;
Educação: de preferência autodidata, nas leituras, nas viagens, na observação do mundo, tal como ele é, nas experiências da vida, mais do que nas instituições regulares;
Dedicação: ao ensino, à transmissão do conhecimento, pois é uma forma de aprender;
Ideologia: a da racionalidade, que também pode ser uma mania ilusória;
Religião: nenhuma em especial, ou nenhuma tout court, ou seja, irreligiosidade total e absoluta, mas profundo respeito pelas religiões (não todas, como podem ser essas “teologias da prosperidade” ou aquelas muito intolerantes), pois elas estão e estarão conosco por toda a existência humana, quer gostemos ou não;
Vocação: não muito bem definida: entre aprender, ensinar, propor, enfim, aquela mania que tem todo letrado pretensioso de ser conselheiro do príncipe, sem desejar sê-lo verdadeiramente, pois sabe que príncipes não seguem os pretensos conselheiros;
Projeto de vida: colaborar nesse vasto empreendimento reformista para deixar o Brasil um pouquinho melhor, quando eu o deixar (ou quando ele me deixar), do que o país que eu encontrei, quando tomei consciência, na minha primeira adolescência, da porcaria que era em termos sociais, humanos, educacionais e políticos;
Aspiração: que toda criança pobre, ou da modestíssima condição social como era a da minha família, em minha infância, pudesse ter, atualmente, uma educação pública comparável em qualidade à de que eu desfrutei, em décadas passadas, e que me habilitaram, justamente, com a biblioteca infantil que frequentei desde antes de aprender a ler, a adquirir as alavancas necessárias para ascender na escala social, apenas pela dedicação ao estudo, pelo conhecimento acumulado, pelo saber adquirido autodidaticamente, pelo esforço próprio, enfim;
Alergia: à burrice, não à ignorância dos que não tiveram chance de aprender, mas à obtusidade daqueles que tendo chance de o fazer, preferiram ficar na escuridão;
Aversão: à estupidez de certos letrados, por fundamentalismo, ideologia, oportunismo ou qualquer outro motivo não legítimo;
Objetos de desejo: livros, sobretudo aqueles antigos, não mais disponíveis em livrarias, e difíceis de encontrar em bibliotecas medíocres como são as nossas;
Mania: de ler o tempo todo, em qualquer circunstância, em qualquer lugar (menos no banho pois já fizeram livros digitais mas ainda não impermeáveis, a não ser os de bebês), mania que pode irritar quem me dirige a palavra nos momentos de concentração, e quando eu respondo “sim, sim...”;
Escola econômica: aquela que apresenta os melhores resultados práticos, com pouca, ou até nenhuma teoria; já passou da hora de aderir a este ou aquele guru das “melhores receitas econômicas”, e se contentar com a modesta racionalidade dos procedimentos testados e aferidos como efetivos; eles geralmente passam mais pelos mercados livres do que pela regulação estatal (mas reconheço que parece impossível desembaraçar-se desses ogros famélicos que nos dominam);
Filosofia política: a da maior liberdade individual, o que não chega a ser uma filosofia política, mas é um princípio de vida a que se chega depois de se conhecer todas as construções humanas que pretenderam organizar a vida em sociedade;
Política prática: nunca fazer parte de nenhum partido, nunca adentrar na política com ares de salvador da pátria, mas observar e estudar a todos meticulosamente, pois dependemos todos, quer queiramos ou não, da atividade daqueles que se dirigem à política por vocação, por interesse pessoal, por oportunismo, ou por qualquer outro motivo não confessado;
Time de futebol: nenhum, absolutamente nenhum; apenas apreciando alguns jogos;
Lei: a do maior esforço, ou seja, nunca se contentar com as explicações simplistas, mas sempre questionar o fundamento de qualquer afirmação ou argumento que são apresentados;
Responsabilidade: totalmente individual, ou seja, nunca atribuir à sociedade, ao Estado, ou até à família, aquelas bobagens que cometemos, que são cometidas por seres totalmente adultos e absolutamente responsáveis pelos seus atos;
Desafio constante: procurar defender o que se acha certo, aquilo de que se tem certeza de ser o melhor, mesmo em detrimento da conveniência pessoal, ou de interesses momentâneos;
Princípio, valor e finalidade de vida: sempre aprender, sempre procurar transmitir o que se sabe (as vezes até o que não se sabe exatamente também, mas que se desconfia que pode ser útil), sempre fazer o melhor dentro das possibilidade de cada um, nos limites da capacidade individual;
Finalizando: procurar fazer tudo o que me dá prazer intelectual...

Addendum: ficaram faltando alguns elementos indispensáveis na vida mundana:
Dinheiro: justo o necessário para comprar livros, viajar, frequentar restaurantes italianos de par le monde; o resto é mesada para pequenas despesas...;
Bebida: sem maiores vícios: taças de vinho nas refeições, cervejinha nas horas vagas;
Outros vícios?: quase nenhum: não jogo, não fumo, não faço apostas, não assino correntes em favor ou contra qualquer coisa, inclusive em prol de distribuição gratuita de livros; basta-me uma velha mania, com uma autoimposição adicional: começar a colocar os livros e papéis em ordem, terminar aqueles escritos essenciais deixados de lado por trabalhos de circunstância ou conjunturais, se expor menos, usufruir mais dos pequenos prazeres da vida, ser menos autocentrado, ou seja, várias tarefas a mais...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 25 de dezembro de 2019 
(sobre texto de novembro de 2017)

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Postagem destinada a esse povo de mau-humor... - Paulo Roberto de Almeida

Oyez, oyez, citoyens!
Declaração de caráter público.
Certas pessoas, provavelmente pouco propensas a rir da vida, a tomar qualquer coisa levianamente, neste espaço público, que para mim é simples divertimento, andam reclamando de que eu posto coisas contra as quais elas têm duas ou três razões, sempre de mau-humor, para desejar nunca ter lido. Ora, eu não obrigo ninguém a me seguir, a ler o que posto e, sinceramente, acho essas reclamações simplesmente ridículas. Quem desejar ler apenas o que lhe dá prazer, deve montar o seu próprio estilo e estoque de coisas inteligentes, se mirar com prazer no espelho, convidar os que pensam como esse FBukiano e então dormir placidamente.
Quanto a mim, declaro o seguinte:
Eu costumo postar, sem uma ordem precisa, o que é compreensível, o que é inteligente, o que me dá prazer, o que me suscita comentário, o que é gozado, o que é absurdo. Se alguma coisa, de algum extremo, do centro, de meios centros de um lado e outro, do alto, de baixo, preencher qualquer um desses requisitos, puramente subjetivos, eu posto, do contrário ignoro.
Todos os que não gostam das minhas postagens tem duas opções: me eliminar completamente de suas "relações", ignorar o que escrevo, fingir que não leram, disfarçar e sair de fininho, me xingar, o que desqualificaria o interlocutor, podendo torná-lo passível de guilhotina.
Minha guilhotina não precisa nem de algum Comitê de Salut Public, sou eu mesmo quem opera o mecanismo, abro o alçapão e esqueço o deletado...

No que me concerne, fico tranquilamente com o bardo francês Georges Brassens:

Mourir pour des idées
l’idée est excellente
Moi j'ai failli mourir de ne l'avoir pas eue
Car tous ceux qui l'avaient, multitude accablante,
en hurlant a la mort me sont tombés dessus.
Ils ont su me convaincre et ma muse insolente
Abjurant ses erreurs se rallie à leur foi
Avec un soupçon de réserve toutefois,
Mourons pour des idées, d’accord mais de mort lente
D’accord, mais de mort lente...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 7 de abril de 2019

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Princípios, valores e causas: manifesto renovado - Paulo Roberto de Almeida (2006 e 2018)

Estava revisando alguns trabalhos anteriores, e acabei caindo num velho blog abandonado desde muito, que deveria ocupar-se tão somente de livros, resenhas de livros, sugestões de leituras e propósitos semelhantes, como eu declarava no cabeçalho do blog
Vivendo Com Livros (http://vivendocomlivros.blogspot.com/)

Vivendo com Livros

Um blog voltado especificamente para os livros, meus e de outros autores. Nele pretendo colocar materiais relativos a meus livros, resenhas de livros publicados, notas de leitura e informações gerais relativas ao mundo dos livros. Podem também figurar aqui reflexões pessoais sobre esses transparentes objetos de prazer intelectual.

Ao dar início, em junho de 2006, a um blog especializado nessa matéria – abandonado depois de menos de 50 postagens, mas apenas definitivamente em janeiro de 2013 – eu postava em primeiro lugar não uma resenha ou informação sobre livros, mas uma "declaração de princípios", reproduzida abaixo.
Como continuam a ser disseminadas informações ou boatos desencontrados sobre minhas posições a respeito do presente (2018) processo eleitoral presidencial, eu poderia, neste momento, agregar uma firme declaração de princípios sobre o que eu considero aceitável e não aceitável nesse terreno pantanoso das opções políticas e preferências eleitorais.
Sou terminantemente contrário a quaisquer movimentos antidemocráticos, autoritários, totalitários, populistas, demagógicos, salvacionistas, excludentes, intolerantes, fascistas, comunistas, maoistas, cubanistas, stalinistas, militaristas e outros "istas" e "ismos".
Por isso mesmo, consideraria uma terrível tragédia política para o Brasil a vitória de qualquer um dos polos que se apresentam atualmente no processo eleitoral que vai desembocar em outubro próximo. Recuso, em primeiro lugar, a volta dos companheiros ao poder, pois conheço a natureza da organização criminosa que está por trás do candidato dito "poste", pela imprensa, assim apelidado por ter se prestado ao indigno papel de representante de um chefão mafioso, justamente condenado e encarcerado por crimes comuns (corrupção passiva e lavagem de dinheiro). Espero a condenação do dito cujo por muitos outros crimes mais, a pelo menos 300 anos de cadeia firme. Creio ser patética a postura do poste, ao servir a tão indigno projeto.
Recuso, em segundo lugar, a postura de um candidato despreparado, defensor da ditadura militar, admirador de um torturador, e defensor de medidas extra-legais para a resolução de determinados problemas sociais. Acredito que seria um convite a uma crise política permanente e a uma formidável confusão nas políticas econômicas e setoriais, pelo comportamento intempestivo e autoritário do candidato em questão, podendo nos precipitar em nova agonia política por mais alguns anos.
Considero a vitória de qualquer um dos dois nefasta para a democracia no Brasil, e por isso declaro desde já minha abstenção preventiva, caso estas sejam as opções.
Dito isto, considerarei legítima a eleição, por se tratar da escolha livre dos cidadãos eleitores, ainda que eu possa declarar minha desconformidade, por ser fruto da ignorância, da inconsciência, dos instintos mais baixos em matéria política.
Creio que a declaração de princípios abaixo reproduzida está agora completa.
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 24 de setembro de 2018


TERÇA-FEIRA, JUNHO 20, 2006

01) Declaracao de principios: sou um homem de causas...

1) Declaração de princípios

Sou um homem de causas. Vivi sempre pregando, lutando como um cruzado, pelas causas que me comovem. [...] Na verdade, somei mais fracassos que vitórias em minhas lutas, mas isso não importa. Horrível seria ter ficado ao lado dos que venceram nessas batalhas.
Darcy Ribeiro

Como Darcy Ribeiro, a quem conheci na sua volta ao Brasil, ainda antes da redemocratização, sou um homem de causas.

As minhas são as da inteligência, da racionalidade, da cultura, da educação, da tolerância, da democracia e do comprometimento com o bem-estar e a justiça.
Encontro muitas das causas que procuro nos livros, bem menos do que na vida real, o que seria obviamente preferível.

Também tenho algumas causas "contra": sou contra a ignorância, a irracionalidade (sobretudo em matéria de políticas públicas), o mau-uso do dinheiro público e a malversação das instituições estatais por gente descomprometida com os princípios da democracia e do bem-estar social. Sou contra a intolerância em matérias de opinião e de religião, contra todos os fundamentalismos e integrismos existentes (nem todos são necessariamente de natureza religiosa), e sou contra, de maneira geral, as crenças irracionais.

Creio na capacidade da humanidade em elevar-se continuamenta na escala da civilização, na defesa dos direitos do homem, de valores morais que transcendem os relativismos culturais. Sou pela universalização da democracia, mesmo contra a razão de Estado.

Sou, em princípio, a favor da igualdade, mas contra o mero igualitarismo: ou seja, sou pelo reconhecimento dos méritos individuais e do esforço próprio na conquista de objetivos de vida, mas acredito que os desprovidos da vida devam ser ajudados, sobretudo intelectualmente, menos do que materialmente. A educação deve ser repartida entre todos, como forma de capacitar o maior número possível na busca do sucesso individual, com base no desempenho próprio, não em assistência pública.

O crescimento da ignorância e dos irracionalismos contemporâneos assusta-me, tanto quanto a desonestidade na vida pública, tendência lamentável que se observa no Brasil e em muitos outros países.

Sobretudo, sou um defensor da integridade do trabalho intelectual e posiciono-me profundamente contra a desonestidade acadêmica. Acredito que todos devemos nos esforçar para construir um mundo melhor do que aquele que recebemos de nossos antecessores. Nossa responsabilidade individual é a de deixar um mundo melhor para os que nos sucederão.

Como professor eventual, o que exerço de forma irregular, acredito ser minha obrigação transmitir o máximo de conhecimentos aos aprendizes, mas essencialmente provê-los de métodos de aprendizado auto-sustentado, defensor acirrado que sou do auto-didatismo. Considero-me um pesquisador livre, sem qualquer subordinação a instituições ou corporações.

Acredito poder repetir como Popper:
A tarefa mais importante de um cientista é certamente contribuir para o avanço de sua área de conhecimento. A segunda tarefa mais importante é escapar da visão estreita de uma especialização excessiva, interessando-se ativamente por outros campos em busca do aperfeiçoamento pelo saber que é a missão cultural da ciência. A terceira tarefa é estender aos demais a compreensão de seus conhecimentos, reduzindo ao mínimo o jargão científico.
Karl Popper, em "Ciência: problemas, objetivos e responsabilidades" (1963)

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 20 de junho de 2006.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Declaracao politica: com desculpas aos meus leitores - Paulo Roberto de Almeida


Declaração política: com desculpas aos meus leitores

Paulo Roberto de Almeida

Meu site, meu blog e eventuais plataformas em outras ferramentas são usualmente dedicados a temas de relações internacionais e de política externa do Brasil, mas também ao debate de ideias, se possível inteligentes, em áreas afins a meus campos de pesquisa acadêmica e de trabalho profissional: políticas públicas, desenvolvimento, relações econômicas internacionais e políticas setoriais: comercial, financeira e tecnológica, de preferência em perspectiva histórica e em escala comparativa, no plano internacional.
Minhas preocupações primárias, essenciais, são essas, e o que coloco nesses veículos tem motivações basicamente didáticas, e já explico por que. Tendo começado na vida acadêmica muito tempo atrás, no século passado, sempre empreguei o essencial de meu tempo livre e de minhas reflexões intelectuais com essa orientação especificamente didática, ou seja, traduzir minhas leituras em linguagem compreensível para alunos de graduação e de pós-graduação.
Sobre isso acrescento minha experiência profissional, na diplomacia, o fato de ter vivido em muitos países, ter viajado intensa e extensivamente, e de ter recolhido, sempre, impressões e informações empiricamente embasadas sobre tudo o que eu vi, tudo o que eu li, tudo a que assisti e registrei nesses anos todos (todos os meus trabalhos, desde o início, estão relacionados em meu site pessoal).

Pois bem, a despeito de todas essas preocupações intelectuais, também sou um cidadão brasileiro e não por ser obrigado a votar nas eleições -- sou contra o voto obrigatório, mas mesmo sendo facultativo eu votaria, em qualquer circunstância -- sou a favor de tomadas de posição, pois é evidente que é o meu destino, o de meus familiares e descendentes que está em jogo a cada escrutínio eleitoral.
Cada eleição é o momento de delegarmos a alguém a faculdade de usar o nosso dinheiro para fazer alguma coisa que reputamos importante, para nós mesmos ou para o Brasil.
Assim, não sou de me eximir em nenhum momento, e o ato de renunciar ao dever eleitoral -- sendo o voto obrigatório ou não -- me parece uma renúncia de escolha, uma indiferença que pode ser fatal, pois, queiramos ou não, nosso dinheiro vai ser usado por políticos para fazer algo de bom ou de menos bom -- talvez até algo de ruim -- no quadro da democracia representativa -- por certo falha -- em que vivemos.

Pensando assim, e pedindo mais uma vez desculpas a meus leitores, por trazer um tema fora dos meus focos habituais de pesquisa e de debate, vou tomar posição.
Não a favor de qualquer um dos candidatos do segundo turno, pois eu não os considero os candidatos ideais, pelo menos não são os que eu escolheria para me representar. Tenho restrições a ambos, mas um dos dois vai "sobreviver", e passar a decidir como gastar o "meu" dinheiro a partir de 1o. de janeiro de 2015.
Sendo assim, prefiro, numa escolha de simples bom-senso, ou de senso comum -- o que não é o meu hábito -- escolher pelo menos ruim, pelo que vai desperdiçar em menor proporção o meu dinheiro.
Mas isso não é tudo, e talvez não seja o mais importante. Também entram aqui considerações questões menos prosaicas, que não tem a ver com dinheiro e sim com valores, com princípios, com a ética na vida pessoal e profissional.

Como sabem todos os que me leem, eu tenho alergia a certas atitudes, entre elas a exaltação da ignorância. Mas alerto imediatamente: não à ignorância “normal”, das pessoa que não tiveram condições de se educar no plano formal; todos nascemos igualmente ignorantes, mas muita gente, infelizmente, não tem chances de estudar e de se aperfeiçoar. Eu me refiro à incultura deliberadamente cultivada, que é aquela escolha por permanecer ignorante mesmo tendo todos os meios à disposição para se informar e esclarecer questões que são importantes para todos nós. A ignorância voluntária, se ouso dizer, é algo grave, quando todos os meios existem para alguém se informar e fazer escolhas inteligentes.
Mas, o que mais tenho horror, mesmo, ojeriza, asco, repúdio absoluto, é por desonestidade intelectual, ainda que o adjetivo intelectual não deveria ser aplicado neste caso. Explico. Desonestidade intelectual é quando a pessoa tendo todos os instrumentos à mão para fazer uma escolha racional e para declarar isso de público, prefere recorrer à mentira por escolha política, por vantagens pessoais, por oportunismo profissional, enfim, por uma série de razões que não são confessáveis de público, e que ela justamente procura esconder, pois aquela escolha racional contrariaria, digamos, sua situação pessoal, seu conforto material, suas vantagens financeiras, enfim, tudo, menos o compromisso com a verdade e com a honestidade.

Sendo assim, vou pedir desculpas a meus leitores e proclamar abertamente minhas escolhas, de maneira honesta, objetiva, sincera, como sempre procurei ser neste blog, ou em qualquer outro espaço público que me é oferecido para expressar meu pensamento.
Como também sabem todos os que seguem meu blog ou minhas eventuais intervenções em outras plataformas, grande parte do que é disponibilizado não me pertence, mas sim a terceiros: notícias, informações, análises, artigos de opinião, estudos de instituições de pesquisa, etc., enfim, tudo aquilo que alimenta minhas reflexões e esparsos comentários precedendo cada uma das postagens.
Eventualmente eu também coloco algumas das minhas produções, e meu site pessoal lista escrupulosamente tudo o que produzo, e tento colocar à disposição tudo aquilo que se presta a tal possibilidade (à exclusão, portanto, de material que pertence a alguma editora ou a revistas que exigem exclusividade).
Em também tento seguir os mesmos procedimentos nas plataformas que uso, ou seja, postar material de fontes diversas, tentando sempre distinguir o que é FATO e o que é OPINIÃO, e encimando, sempre quando possível, de comentários meus sobre o que segue no post, ou seja, tomando partido, cada vez que isso for necessário, em relação ao material divulgado.

Creio que assim estarei sendo honesto, em primeiro lugar comigo mesmo -- já que tenho opiniões e posições um pouco sobre tudo, sem querer parecer pretensioso -- e em segundo lugar com meus leitores, que me honram com suas visitas e comentários (sempre bem-vindos, mesmo alguns malucos “claramente” ilegíveis).
Estamos vivendo agora um momento decisivo na vida do país, e a escolha que fizermos agora vai influenciar nossas vidas pelo menos pelos próximos quatro anos, e provavelmente mais além, pois ações governamentais possuem o dom do que se chama de “lasting effects”, ou seja efeitos prolongados no futuro.

Não vou me eximir, não vou me ausentar, farei o que todo cidadão deve fazer, em sua comunidade, em sua "ágora", em seu país, para fazer da nação (e quem sabe até do mundo) um lugar melhor do que o que recebemos, para que os que vierem atrás de nós não tenham de se bater com os mesmos problemas que enfrentamos hoje: uma nação ainda insuficientemente desenvolvida, um sistema político tremendamente corrupto, ausência de segurança para todos os que saem às ruas das grandes metrópoles (e de outras cidades também), ameaças de desemprego, de inflação, de aumento de tributos, de falhas nos serviços públicos, de péssima qualidade nos sistemas públicos de saúde, de educação, de transportes, os preços absurdos que pagamos para nos alimentar, para nos abrigar, nos comunicar, enfim, tudo isso que vocês reconhecem como problemas reais do Brasil.
Meu esforço de contribuir para uma melhor solução a esses problemas -- não a ideal, por certo, mas uma mais aceitável do que a outra -- vai refletida nos próximos posts.
Os que escolhem voluntariamente ler o que escrevo, sabem perfeitamente qual é o meu “partido”, qual é a minha escolha: o partido da inteligência, a escolha da honestidade, a da defesa de certos valores que são facilmente dedutíveis de tudo o que vai acima. Na verdade, não tenho partido e nunca terei. Não sou de partidos, sou apenas eu sozinho e minha consciência .

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 21 de outubro de 2014.