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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Depois das guerras da Ucrania e Hamas-Israel, Venezuela-Guiana é o novo desafio da diplomacia brasileira

 Depois da agressão de Putin à Ucrânia, do Hamas contra Israel, Maduro cria novo foco de tensão, e possível guerra, com a diplomacia brasileira tendo de se manifestar OBRIGATORIAMENTE a respeito de um território que já foi brasileiro em parte.

Conflito na América do Sul: Nova crise na mesa de Lula: Venezuela ameaça anexar a Guiana
Veja.com, 02 de novembro de 2023
Lula está diante de uma nova e grave crise diplomática: Nicolás Maduro, ditador da Venezuela, deslocou tropas para a fronteira com a Guiana e ameaça anexar dois terços do território desse país depois do domingo 3 de dezembro, quando pretende legitimar em referendo a criação de um "Estado da Guiana Esequiba".
O governo da Guiana pediu na segunda-feira (30/10) a intervenção imediata da Corte Internacional de Justiça, conhecida como Corte de Haia, organismo das Nações Unidas com jurisdição sobre conflitos entre Estados.O primeiro-ministro de Guiana, Mark Anthony Phillips, esteve em Washington nesta quarta-feira (1/2) e obteve garantia de apoio do governo Joe Biden. Em seguida foi à sede da Organização dos Estados Americanos onde apresentou evidências de que a Venezuela está concentrando tropas e construindo um aeroporto militar na fronteira.
Phillips ouviu do embaixador brasileiro na OEA, Benoni Belli, uma oferta de mediação lastreada na experiência secular do Itamaraty de solucionar conflitos pela via diplomática.A disputa territorial Venezuela-Guiana começou há 134 anos.
Até agora, a Guiana venceu o caso em praticamente todas as instâncias internacionais de arbitragem.O declínio político e econômico do regime ditatorial venezuelano levou Maduro a adotar uma postura de confronto aberto inspirado no "modelo" da Rússia de Vladimir Putin na tentativa de anexação da Ucrânia, por enquanto sem êxito.Maduro marcou para 3 de dezembro um "referendo consultivo" que, na prática, levará a Venezuela a abandonar formalmente o processo de arbitragem em curso na Corte de Haia, abrindo caminho para ações unilaterais, eventualmente com invasão militar.
Entre as questões previstas no "referendo" estão a afirmação da soberania da Venezuela sobre a maior parte da bacia do rio Essequibo, ou seja, sobre quase dois terços do território da Guiana estabelecido em 1899 e, desde então, reconhecido em acordos.A consulta de Maduro prevê, ainda, aprovação da criação do "Estado da Guayana Esequiba", em território do país vizinho, com imediata emissão de carteiras de identidade venezuelana à população local.Por trás da manobra está a ambição do regime da Venezuela na apropriação da maior parte de um território onde foram descobertas grandes reservas de petróleo.
Os dados mais recentes indicam disponibilidade comercial reconhecida de nove bilhões de barris de petróleo, equivalente a 60% da reserva brasileira no pré-sal.Foi no Natal de 2019 que os 782 mil habitantes da Guiana receberam a confirmação de um grande prêmio da loteria geológica: o petróleo começou a jorrar no campo de Liza-I, a 120 quilômetros da costa, em frente à capital Georgetown.Mudou a sorte do país mais pobre da América do Sul, vizinho do em 1.605 quilômetros de fronteira com Roraima. O petróleo produzido renovou a perspectiva de futuro de uma sociedade construída por migrantes indianos e africanos nas colonizações holandesa e britânica até 1966.
A ditadura venezuelana, provavelmente, não deve ir além das ameaças. Faltam-lhe apoio doméstico e externo e, sobretudo, dinheiro para uma aventura do gênero em área de interesse primordial dos Estados Unidos, a exploração das reservas de petróleo da Guiana.
O estrago, no entanto, já está feito: Maduro conseguiu aumentar a instabilidade política na América do Sul. América do Sul.

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Governo e oposição da Venezuela criticam líder da OEA por postura sobre Guiana
Zero Hora - Últimas Notícias
02 de novembro de 2023

O governo e a oposição da Venezuela, normalmente com posições antagônicas em tudo, concordaram, nesta quinta-feira (2), em condenar a postura do secretário-geral da OEA, Luis Almagro, sobre a centenária disputa com a Guiana pelo território de Essequibo, zona rica em petróleo.

Almagro, um crítico ferrenho do governo do presidente Nicolás Maduro e aliado natural da oposição, advertiu na quarta-feira a Venezuela por "provocar" a Guiana com uma "linguagem preocupante" e a convocação de um referendo sobre a disputa.

"As expressões deste nefasto personagem, uma desgraça para a história latino-americana e caribenha, correspondem a uma linha vergonhosa de provocação que tenta desestabilizar a região", informou um comunicado do Ministério das Relações Exteriores.

"O ódio do senhor Almagro pela Venezuela leva-o novamente a colocar-se à margem da legalidade internacional."

A Venezuela convocou para 3 de dezembro este referendo consultivo, não vinculativo, que propõe a criação de um estado (província) nessa região e a nacionalização de seus habitantes.

"O regime (da Venezuela) deve respeitar os princípios de paz e evitar qualquer confusão e mensagem lesiva", disse Almagro, que alertou sobre "provocações" e sobre os movimentos de tropas na fronteira.

"Seu silêncio sobre as concessões em território em disputa e inclusive em águas que são da Venezuela e não estão em discussão é grave. Seja pelo menos imparcial", declarou Gerardo Blyde, membro da delegação da oposição em negociações com o governo de Maduro mediadas pela Noruega.

"O Essequibo é um assunto de Estado que envolve todos os venezuelanos, além de quem exerça o poder", disse Blyde.

- "Campanha contra o referendo" -

Biagio Pilieri, outro porta-voz da coalizão oposicionista Plataforma Unitária Democrática (PUD), disse durante uma entrevista coletiva na quarta-feira que os partidos agrupados neste bloco defendem que "o Essequibo é território venezuelano".

"Disso não pode haver dúvida, não a houve, nem a há, nem a haverá jamais", destacou Pilieri, que apontou que a PUD fixará posição sobre se a consulta "ajuda ou não" a causa venezuelana pelo Essequibo.

"A Venezuela tem um ponto de unidade em torno da defesa do território e do Essequibo, que não se deve confundir a defesa dos venezuelanos ao Essequibo com um apoio político a ninguém", disse aos jornalistas o consultor político Luis Vicente León, diretor da Datanálise.

No entanto, seguindo essa tradição antagonista, Maduro acusou a oposição venezuelana de liderar uma campanha contra o referendo consultivo organizado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano.

"Começaram uma campanha contra o referendo consultivo, denuncio a campanha da ultradireita da Plataforma Unitária que viola os acordos de Barbados e que ofende o povo da Venezuela e que faz o trabalho da Exxon Mobil", afirmou Maduro na segunda-feira mostrando um suposto panfleto.

* AFP

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Petrobras aprova Plano Estratégico 2022-2026: "Ser a melhor empresa de energia..."

 Petrobras aprova Plano Estratégico 2022-2026 

Rio de Janeiro, 24 de novembro de 2021 – A Petróleo Brasileiro S.A. – Petrobras informa que seu Conselho de Administração aprovou, em reunião realizada hoje, o Plano Estratégico para o quinquênio 2022-2026 (PE 2022-26).

Com a visão de “Ser a melhor empresa de energia na geração de valor, com foco em óleo e gás, sustentabilidade, segurança, respeito às pessoas e ao meio ambiente”, a Petrobras reafirma seus valores: (i) Respeito à vida, às pessoas e ao meio ambiente; (ii) Ética e transparência; (iii) Superação e confiança; (iv) Orientação ao mercado e Resultados. Além disso, a companhia mantém seu propósito de “Prover energia que assegure prosperidade de forma ética, segura e competitiva”. 

“A Petrobras mantém sua estratégia consistente de focar em projetos com pleno potencial de gerar recursos e contribuições para a sociedade brasileira. Priorizamos transformar recursos em riquezas para o país ao mesmo tempo em que trilhamos o caminho sustentável para a transição energética. Ampliamos nossa previsão de investimentos para os próximos anos e fazemos isso com extrema responsabilidade e diligência na alocação dos recursos”, destaca o presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna.

O PE 2022-26 apresenta quatro métricas de topo que quantificam os atributos da visão e fornecem uma orientação mais explícita sobre os principais objetivos de curto prazo da Petrobras. A vida é um valor inegociável para a Petrobras e, por isso, a companhia segue ambicionando zero fatalidade. O indicador TAR (taxa de acidentes registráveis por milhão de homens-hora) é uma de nossas métricas de topo, mas não é utilizado para fins de remuneração variável dos empregados. Para 2022, o limite de alerta permanece abaixo de 0,7, o que reafirma o compromisso da Petrobras com a vida e a mantém no melhor quartil da indústria. 

De maneira a garantir o alinhamento dos incentivos para o atingimento das metas, três dessas métricas impactarão diretamente a remuneração dos executivos e de todos os empregados da companhia em 2022. As métricas são: 

  • Indicador de atendimento às metas de emissões de gases de efeito estufa (IAGEE) de 100%;
  • Volume vazado de óleo e derivados (VAZO), com limite de alerta de 120 m³;
  • Delta do EVA® consolidado de US$ 2 bilhões.

As métricas IAGEE e VAZO estão alinhadas aos compromissos de baixo carbono e sustentabilidade ambiental do PE 2022-26, que manteve a ambição de zero vazamento. 

Clique aqui para acessar o documento completo: 

https://api.mziq.com/mzfilemanager/v2/d/25fdf098-34f5-4608-b7fa-17d60b2de47d/7faf1a6b-1083-649e-970e-0043f5f18800?origin=2


sábado, 17 de fevereiro de 2018

International Conference on The Economics of Oil - FGV-RJ, 28/02 a 2/03/2018


Inscriçõesregistration

Registration 

Registration is required, but, the conference will be open and free to the general public. Admissions will be accepted in the order of subscription, limited to the auditorium capacity. Most presentations will be in English and there will be no simultaneous translation from English to Portuguese. However, there will be simultaneous translation from Portuguese to English.
Sign up - Feb. 28  l click here 
Sign up - Mar. 1 - 2  l click here

Programa

International Conference on The Economics of Oil

28/02/2018
09:45 - 10:00 – Welcome Message: Carlos Ivan Simonsen Leal (President of FGV), with Sergio Quintella (Vice President of FGV), Hilde C. Bjørnland(Norwegian Business School), Roberto Castello Branco (FGV), João Victor Issler (FGV)
10:00 - 11:00 – Opening Lecture: Pedro Parente (CEO of Petrobras), (Chair: Carlos Ivan Simonsen Leal)
11:00 - 12:30 – Round Table: The Future of Oil: Roberto Castello Branco (FGV, Moderator), David Zylbersztajn (DZ Energia), Marco Lombardi (BIS), Ragnar Torvik (Norwegian University of Science and Technology)
12:30 - 14:30 – Lunch (by invitation only)
14:30 - 15:30 – Décio Oddone (General Director of ANP – Brazilian Oil and Gas Regulatory Agency), (Chair: Sergio Quintella)
15:30 - 16:00 – Coffee break
16:00 - 17:00 – Closing Lecture I: Warwick McKibbin (Australian National University) Sensible Design of Climate Policy to Enable an Orderly Energy Transition (Chair: Hilde C. Bjørnland)
17:00 - 18:00 – Closing Lecture II: Lutz Kilian (University of Michigan) Modeling Fluctuations in the Global Demand for Commodities (Chair: João Victor Issler) 

01/03/2018
09:00 - 10:00 – Opening remarks: Roberto Castello Branco (FGV)
·     09:00 - 09:40 – Fernando Coelho – Brazilian Minister of Energy and Mines
·     09:40 - 10:00 – Jorge Camargo – President of IBP, Brazilian Institute of Oil and Gas
10:00 - 11:00 – Keynote I: Ian Parry (International Monetary Fund) Getting Energy Prices Right (Chair: Yoosoon Chang)
11:00 - 11:30 – Coffee break
11:30 - 12:30 – Keynote II: Rabah Arezki (The World Bank) The Shifting Natural Wealth of Nations: The Role of Market Orientation (Chair: João Victor Issler)
12:30 - 14:00 – Lunch (by invitation only)
14:00 - 16:00 Session I – Resource rich countries (Chair: Marcelle Chauvet)
·     Pedro C. Ferreira (FGV): Fracking, China and the Global Economy
·     Ragnar Torvik (Norwegian University of Science and Technology): Dutch Disease Reconsidered
·     Renée McKibbin (Australian National University) Recovery from Dutch Disease
·     Hilde C. Bjørnland (Norwegian Business School): Supply Flexibility in the Shale Patch: Evidence from North Dakota
16:00 - 16:30 – Coffee break
16:30 - 18:30 Session II – Oil and business cycles (Chair: Hilde C. Bjørnland)
·     Yoosoon Chang (Indiana University) World GDP and oil price: Do they have a common trend?
·     João Victor Issler (FGV): The Role of Demand Factors in Determining the Behavior of Oil Prices
·     Alain Hecq (University of Maastricht) Detecting Co-Movements in Non-causal Time Series: An Application to Oil Prices
·     Zack Miller (University of Missouri) Forecasting energy consumption and efficiency in developing countries: A functional coefficient panel approach

03/02/2018
09:00 - 10:00 – Keynote III: Cynthia Wu (University of Chicago) Title (Chair: Hilde C. Bjørnland)
10:00 - 10:30 – Coffee Break
10:30 -12:30 – Session III - Commodity prices and monetary policy (Chair: Sergio Quintella)
·     Robert Vigfusson (Federal Reserve Board): Oil, Equities, and the Zero Lower Bound
·     Drago Bergholt (Norges Bank): Oil prices and optimal monetary policy
·     Marco Lombardi (BIS): Monetary policy spillovers, global commodity prices and cooperation
·     Marcelle Chauvet (UC Riverside): Title
12:30 - 13:45 – Lunch (by invitation only)
13:45 - 15:45 Session IV - Oil prices and instability (Chair: João Victor Issler)
·     Junior Maih (Norges Bank): Oil and Macroeconomic (in)Stability
·     Yongok Choi (Chung-Ang University) World energy consumption: Global trend and country specific characteristics
·     Julia Zhulanova (BI Norwegian Business School): The Shale Oil Boom and the U.S. Economy
·     Francesca Loria (European University Institute): The Effect of Oil Price Shocks on U.S. Investment: Size Matters

15:45 - 16:00 – Coffee break

16:00 - 17:00 (Paralell) Session V Crude oil prices
A)     Oil and empirics (Chair: Yoosoon Chang)
·     Reinhard Ellwanger (Bank of Canada): The Simple Economics of Global Fuel Consumption
·     Isabel Figuerola-Ferretti (ICADE): Mild explosivity in recent crude oil prices
B)     Oil and finance (Chair: Roberto Castello Branco)
·     Nicolas Legrand (INRA): The Delaying Effect of Storage on Investment: Evidence from The Crude Oil Sector
·     Espen Skretting (Norwegian Business School): Title
17:00 – 18:00 – Keynote IV - Joon Park (Indiana University): Interactions of oil futures and stock market at high frequency: A distributional approach (Chair: Marcelle Chauvet)
O evento será realizado em inglês.  

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Uma outra maldicao do petroleo: barril acima ou abaixo de 100 dolares (draft de 8/07/2014)

As consequências, num e noutro caso, são obviamente diferentes, e não apenas para produtores (rentistas) e consumidores (vítimas?) dessas políticas de transferência de renda para uns e outros.
Um petróleo muito barato, pode, obviamente, derrubar ditaduras populistas e demagógicas, mas também impedir democracias de desenvolver suas próprias fontes de combustíveis fósseis ou alternativas (renováveis), que são, por definição, mais caras.
Mas um petróleo muito caro vai dar, justamente, sobrevida a essas petroditaduras, além de extraordinários lucros para algumas gigantes da área (o que esquerdistas ingênuos sempre acham indecente). Também tem o poder de desenvolver energias alternativas, ou formas mais baratas de desenvolver derivativos e alternativas.
Em todo caso, esta matéria de um administrador de investimentos é interessante pelas informações que contém.
Paulo Roberto de Almeida
PS: esta postagem é de meados de 2014, e por alguma razão ficou parada em meu blog. Desde então, o barril de petróleo despencou a menos de 60 dólares, onde ele se mantem mais ou menos precariamente. Mas a matéria em si é mais importante do que a data deste artigo, aliás bem mais antigo e por isso mesmo resolvo colocar agora como postagem.
Hartford, 24/02/2015

The Hidden Cost of Oil
By Jeff D. Opdyke, Editor of Profit Seeker
The Sovereign Investor, July 8, 2014

Dear Paulo Roberto,

Editor’s Note: This article is the second in our “Best of Sovereign Investor Daily” series. It was originally published on December 18, 2012. All the information below is unchanged from the original publication.

In the early spring of 2011, events unfolded 6,400 miles east of New York City that I am confident most Americans missed. It had the effect of robbing the wallet of everyone reading these words.

During a televised speech to a tense nation, King Abdullah bin Abdulaziz announced to his rapt audience that the kingdom of Saudi Arabia, by royal decree, would give to all civil servants and military personnel two months of salary. University students would receive a two-month stipend. Job seekers would receive the equivalent of $533 a month while hunting for work. Minimum wages were increased; 60,000 law enforcement jobs were created; and 500,000 new houses were to be built across the kingdom at a cost of nearly $70 billion. And that was just the beginning of a $130 billion spending program…

It was all part of a well-orchestrated — and exceedingly expensive — effort by Saudi Arabia to quell months of protests that had roiled the already-anxious kingdom and which were tied to much-broader clashes across the Middle East and North Africa.

King Abdullah had, in effect, bought the peace — for the time being, at least.

For most Americans, the king’s speech seems entirely irrelevant. But it impacts every single one of us every day.

For you see, the costs that King Abdullah imposed on Saudi Arabia that March day suddenly changed the dynamics of the oil market. A new cost structure was added to each barrel of oil pulled from beneath the desert sands — a social cost. And so long as tensions exist across the region between Arabic leaders and local populations that feel oppressed, that social cost is going nowhere but up.

It’s why those who call for lower oil prices are overlooking a crucial piece of the oil market.

I’ve read a lot of jibber-jabber recently about the miniscule costs countries like Saudi Arabia have for lifting oil out of the ground. Some Saudi fields purportedly have lifting costs of just $2 a barrel. Russia’s lifting costs in some instances are said to top no more than $15.

That may be true. But only the addle-brained believe that either of those countries can profitably sell oil anywhere near those levels. They can’t sell oil profitably at $50 a barrel. And it’s because of the social costs.

Buying the peace is how oppressive governments bribe their people and maintain social order — no easy task in parts of the world where religious minorities often rule over very angry majorities comprised of the religious opposition. In many of those countries, human misery is rife and poverty rates range as high as 60% … and hungry, impoverished people are the foot-soldiers of revolution, as Tunisian, Egyptian and Libyan leaders have learned.

Saudi Arabia and Russia are the world’s #1 and #2 oil-producing countries. They’re also political economies that generate lots of animosity and, on occasion, anti-government protests. To assuage the anger that bubbles up — or to keep it below a boil in the first place — both countries throw around huge sums of riyals and rubles.

And the question is: Where does the money come from?

In Russia, oil generates more than 45% of government revenues. In Saudi Arabia, it’s up near 75%.

Leaders in both countries have no choice but to rely heavily on oil to fund the civic largess … which means they have every incentive to manipulate oil prices through production.

Prior to its $130 billion social-spending spree, Saudi Arabia needed oil prices somewhere north of $70 to balance the kingdom’s budget, according to the International Monetary Fund. Now the per-barrel cost is reportedly approaching $100. Russia needs something close to $120.

To be clear, I am picking on the Saudis and the Russians simply because of the size of their oil industries and the political issues with which those countries struggle. But the reality is that social costs also play a similarly large role in Bahrain, Kuwait, Venezuela, Iran and elsewhere, where oil revenue accounts for up to 90% of domestic income.

The United Arab Emirates, for instance, needs oil prices in the $85 range to balance a budget larded with social programs. Tiny Bahrain needs about $119.

$100 a Barrel is Middle-of-the-Road
This is where the argument goes astray that American energy independence — still a giant question mark — will drop oil prices to $50 or below. Unless America is going to produce enough oil for the world — and, honestly, we will never even produce enough for ourselves — it won’t control prices.

Oil prices sustained at $50 a barrel would crimp the ability of oppressive governments to quiet the angry masses. That would lead to potential revolt or overthrow, which would have the perverse effect of pushing oil prices back up, since the risk exists that a regime intolerant of the West would take power and drastically reduce oil supplies to undermine Western economies.

Thus, any time oil prices get so low that they begin to cause societal tinges wherever governments lean on oil to cover their social costs, those countries will naturally rely on the power of the spigot. All they need do is clamp off production until prices reach a more-adequate level.

$100 is Oil’s New Floor

Take a look at this graph. It’s oil as priced in the Middle East. I’ve highlighted $100 to make the point that it’s clear where the floor for oil rests. It’s not a coincidence that oil is bouncing around the range that leading oil nations need to balance budgets that are overloaded with social costs.

Over the last two years, in fact, Middle Eastern oil has traded below $80 a barrel for just 16 days, and that was largely during the overreaction to European debt woes this past summer. More impressive is the fact that these sustained prices above $100 have occurred even as the top three oil nations have been producing barrels at record levels.

Yes; it’s true that U.S. benchmark crude — West Texas Intermediate — will often trade at cheaper prices, and sometimes down into the $80 or $90 range. But oil is priced regionally all over the world. And if oil in the Middle East were to push continually higher from here as nations pay for their social programs, and then U.S. prices would march higher too.

The Future of Oil
I listen to what the disbelievers write when they say oil prices are headed lower. I think about their rationale for oil at $50 or below. But ultimately, their arguments are simplistic and too often built on the nationalistic hoopla about America’s nascent oil renaissance (and there are so many misconceptions about American oil that even their rationale is seriously flawed).

Even if some fields in America can produce oil at a sub-$50 cost, that oil is still subject to global pricing. And when you have oppressive nations spending money furiously to maintain social order, there’s simply no way oil prices spend any time near $50 a barrel outside of a major, global financial upset.

If you recognize that, and if, in turn, you litter your portfolio with energy-related stocks — oil-field servicers, drillers, rig owners, exploration companies and the energy majors — you will protect your standard-of-living as oil prices inexorably rise over time.

Until next time, stay Sovereign …

Jeff D. Opdyke
Editor, Profit Seeker

Editor’s Note: Cheap oil continues to be little more than a dream for Americans, with crude prices pushing ever higher. In the 18 months that have passed since this article was originally released, we’ve had new civil unrest in Iraq, Russia thumbing its nose at the world as it swallows up Crimea, and Venezuela is struggling through economic collapse — all factors determined to keep oil prices high so these countries can stay afloat.  With Middle East and other oil-producing countries dependent on black gold to keep the wheels of government turning and the people placated, the days of cheap oil are long gone.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

E por falar em petroliferas: PDVSA se afunda na lama, tambem, e na incompetencia, tambem...

Ou seja, nada de muito diferente do que se vê por aqui, e talvez até pior.
A PDVSA já chegou a ser a segunda maior empresa do mundo, em termos de reservas petrolífera, e em princípio as da Venezuela superam, ou chegam muito perto das da Arábia Saudita.
Os companheiros bolivarianos conseguiram afundar a companhia, tanto quanto os daqui com a Petrobras.
Impressionante como corruptos, ladrões, incompetentes conseguem estrangular uma fonte de riquezas naturais.
Como se poderia dizer, são reis Midas ao contrário: no que tocaram, transformaram em....
Abaixo, uma pequena nota sobre a situação da PDVSA. Cliquem para aumentar.
Paulo Roberto de Almeida


sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Venezuela bolivariana vai importar petroleo: uma realizacao inedita...

Venezuela estuda, pela 1ª vez, importar petróleo
Guilherme Russo, Enviado Especial / Caracas
O Estado de S. Paulo, 28/08/2014

Documento obtido pela 'Reuters' diz que produto argelino, mais leve do que o venezuelano, seria usado para reduzir custo do refino
O governo da Venezuela está considerando importar petróleo cru pela primeira vez na história do país e poderá usar o produto vindo da Argélia, mais leve, como uma mistura para estimular as vendas do petróleo venezuelano, pesado. A informação consta de um documento obtido na quarta-feira, 27,pela agência de notícias Reuters.
Apesar de o país latino-americano ter as maiores reservas de petróleo do mundo, a Petróleos de Venezuela (PDVSA), estatal responsável pela exploração petrolífera no território venezuelano, tem comprado um volume crescente de subprodutos refinados do insumo, como nafta, para misturar com o petróleo pesado extraído da bacia do Orinoco, sua maior região produtora.
Isso é feito para tornar o produto venezuelano exportável, enquanto a extração de petróleos de teor mediano e leve - que também têm sido usados como diluentes - tem diminuído no país.
O nafta tem sido importado por altos valores atualmente, o que tem prejudicado o fluxo financeiro da PDVSA, a maior fonte de dólares do governo da Venezuela. A compra de petróleo leve da argelina Sonatrach seria uma forma de o governo tentar diminuir o custo de exportação de seu petróleo.
A possibilidade de a Venezuela importar petróleo cru de outro país havia sido classificada neste ano pelo ministro do petróleo, Rafael Ramírez, como o "último recurso" para diluir a produção local.
Além do documento obtido pela Reuters, uma fonte com informações da PDVSA e da Sonatrach, confirmou a intenção de Caracas adquirir petróleo leve.
Inflação. A Federação de Câmaras e Associações de Comércio e Produção da Venezuela (Fedecámaras) declarou nesta quarta que a inflação acumulada entre junho de 2013 e junho de 2014 no país se elevou em 62,1%. "É a inflação mais alta do planeta", afirmou o presidente da entidade, Jorge Roig, citando dados comparativos do Fundo Monetário Internacional (FMI).
De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatísticas da Venezuela, organismo do governo, em maio, a inflação anualizada se situava em 60,9% no país. No ano passado, a elevação no Índice Nacional de Preços ao Consumidor venezuelano chegou a 56,2%.
Em uma entrevista coletiva em que pediu transparência do governo em relação aos dados da economia, o presidente da Fedecámaras ressaltou que, entre 2003 e 2014, a inflação registrada na Venezuela chegou a 1.239% - no mesmo período, o aumento inflacionário relativo ao preço dos alimentos foi de 2.277%. "Essas cifras não têm precedentes", disse Roig.
O presidente da Fedecámaras lembrou que, segundo o último levantamento do Banco Central da Venezuela (BCV) a respeito da escassez de produtos no mercado venezuelano, entre fevereiro e março, foi registrada falta em 29,4% dos itens comercializados no país. "Desde então, o BCV não voltou a publicar a estatística. Um país não pode se planejar sem a transparência e a oportuna publicação das cifras oficiais (da economia)."
De acordo com o estudo da entidade, o Produto Interno Bruto (PIB) da Venezuela caiu 4% no primeiro semestre deste ano.
A Federação Farmacêutica Venezuelana (FFV) pediu uma "política de emergência" ao governo para combater a escassez de medicamentos no país e culpou a não concessão de divisas por parte do governo para a importação de medicamentos pela atual crise.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Percival Puggina (2): o petroleo dos companheiros, esse liquido nauseabundo...

No país da petrodemagogia
Percival Puggina
Zero Hora, 03 de novembro de 2013

Em 2007, foi anunciada pela Petrobrás a descoberta de um megacampo, batizado com o nome de Tupi. Passados três anos, depois de muito Tupi para cá, Tupi para lá, o alto comando da Petrobrás resolveu trocar o nome do campo para... para que outro nome, mesmo? Adivinhe! Pois é, depois de guri grande, o campo de Tupi virou Campo de Lula. Há, em nosso país, uma histórica e bem sucedida petrodemagogia. Quem entra no Portal Brasil, por exemplo, e lê a nota do governo sobre o Campo de Libra e o Pré-sal vai pedir para ser congelado hoje e levado ao microondas daqui a alguns anos. No entanto, é importante para a política do poder que essas riquezas minerais, sepultadas sob quilômetros de coluna d'água e ainda mais espessas camadas geológicas, rendam votos no curtíssimo prazo.
Esse é o raciocínio que explica os abusos políticos e de informação envolvendo a Petrobrás. Em 2006, o ex-presidente Luiz Inácio pousou na plataforma P-50 e, minutos após, exibiu para os fotógrafos as mãos lambuzadas de óleo extraído da Bacia de Campos. O fato foi comunicado à nação como início da autossuficiência. O Brasil se tornaria exportador. A vaga na OPEP estava logo ali, provavelmente ao lado da cadeira no Conselho de Segurança da ONU. Mas o dito logo ficou pelo não dito. Os anunciados saldos positivos que viriam para a balança comercial do país a partir de 2010 viraram saldos negativos e assim se mantêm. Até o passado mês de agosto o Brasil já gastara, só neste ano, US$ 28 bilhões em importação de petróleo e derivados e essa conta joga no vermelho a balança comercial de 2013
            Pensando sobre isso, e já sabendo que quatro empresas haviam desistido de participar, acomodei-me diante da tevê para assistir ao leilão do Campo de Libra. A Globo News, sei lá por quê, demonstrava imenso interesse em duas pacíficas e ociosas barreiras que se entreolhavam no meio da avenida. Numa estavam alinhadas tropas militares. Noutra, pequeno grupo de manifestantes. A tranquila cena atraía tanto a atenção da emissora que ela repartia igualitariamente: meia tela para cada evento.

            Assistir o leilão do campo de Libra me fez lembrar aqueles filmes nos quais nada acontece e a gente resiste teimosamente só para saber onde aquilo vai dar. E dá em nada mesmo. Perdi meu tempo testemunhando um conflito que felizmente não houve e um leilão que infelizmente não aconteceu. O único consórcio que apresentou proposta tinha a Petrobrás como líder e foi declarado vencedor pelo lance mínimo admitido. Isso é leilão que se apresente num negócio de tamanho porte? Por que tanto desinteresse mundial em riquezas que o governo anuncia tão promissoras e pródigas? Mesmo assim, horas após, a presidente veio a público festejar o resultado do evento e partilhar hipotéticos trilhões de reais que sanearão todas as carências do país. É a arte de gastar, retoricamente, recursos talvez alcançáveis em futuro remoto, convertendo-os em votos na urna de logo mais.

            No dia seguinte, ainda ponderando as patéticas cenas da véspera, abro minha caixa de e-mails e o primeiro que me cai sob os olhos dizia assim: "O Brasil comprou do Brasil uma reserva de petróleo para ficar com 40% para o Brasil". Disse tudo. 

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Energia no Brasil e no mundo: caderno do Valor e material PRAlmeida (completo)

O Caderno de Fim de Semana do jornal Valor Econômico publicou, nesta sexta-feira 18 de outubro, uma reportagem especial sobre petróleo do pré-sal e suas implicações para o Brasil, tanto do ponto de vista econômico, como de seu possível impacto geopolítico nas relações internacionais.
Fui contatado por jornalista para responder algumas perguntas, o que fiz de modo obviamente bem mais completo do que o que é possível acomodar numa simples matéria de jornal. Sempre é assim e isso faz parte das regras do jogo do trabalho dos jornalistas.
Acontece que sempre aproveito essas oportunidades para ver mais claro no panorama proposto e acabo escrevendo mais do que o esperado. Mas se trata de meu próprio esclarecimento, e acredito que possa servir aos curiosos na matéria e aos estudantes de forma geral.
Por isso transcrevo aqui tudo o que redigi em torno dos pontos focados pela matéria.
Paulo Roberto de Almeida

A questão energética no Brasil: petróleo, Petrobras e políticas de governo

Paulo Roberto de Almeida
Respostas a questões colocadas pela jornalista Marcia Pinheiro
Valor Econômico (pinheiromarcia@terra.com.br)
Princeton, 7-8/10/2013
Publicada apenas uma frase na matéria: 
"Trunfos petrolíferos", por Cyro Andrade e Marcia Pinheiro,
Valor Econômico, Caderno EU & Fim de Semana, Sexta-feira e fim de semana, 18, 19 e 20 de outubro de 2013, ano 14, n. 675, p. 9-11.


Questão inicial: Como FHC conseguiu flexibilizar o mercado de petróleo, com tanta campanha contra?

PRA: FHC NÃO flexibilizou o mercado do petróleo, pois isso seria impossível, não só a ele, como a qualquer governo, socialista ou neoliberal. O que FHC fez, em meio a um processo inteligente – mas incompleto – de correção das muitas estupidezes econômicas da Constituição de 1988, foi adequar o Brasil a algumas realidades dos mercados mundiais. Os mercados do e para o petróleo – existem vários, não um único mercado global, alguns deles dominados por carteis, outros teoricamente livres, outros influenciados por ditaduras petrolíferas, e várias outras modalidades intermediárias – são gigantescos, e o Brasil participa de uma pequena parte deles, antes importando 80% do que consumia, atualmente em situação de equilíbrio instável, mais ainda exportando muito cru, e importando também muito cru e derivados, o que é irracional, mas é fruto das políticas erradas mais recentes.
            FHC se aproveitou de um momento único na história do Brasil, que provavelmente vai demorar para voltar: uma coalizão reformista no bojo de uma enorme crise inflacionária e que permitiu fazer algumas reformas absolutamente necessárias para a economia e para a política do País: a crise permitiu aprovar diversas medidas – constitucionais e infra – que não tiveram, infelizmente continuidade. Os esquerdistas atrasados – concentrados no PT e nos outros partidos de esquerda, ainda que alguns sejam propriamente fascistas – estiveram momentaneamente na defensiva, embora todo governo constituído sempre possa contar com a boa disposição fisiológica da maior parte dos políticos em apoiar o governo em vigor, qualquer governo. Uma liderança dotada de visão de futuro pode, assim, reformar as regras constitucionais e a legislação do setor do petróleo a essa abertura ao capital estrangeiro, combinada a um tratamento puramente comercial da Petrobras, que teve liberdade para se desenvolver como companhia, não como cabide de emprego de políticos, o que ela era antes e voltou a ser depois. Infelizmente, não se avançou na abertura total do setor e na privatização da Petrobras, o que teria sido excelente para o Brasil e para a própria companhia, que assim poderia crescer mais ainda sem interferências dos governos e sem essa promiscuidade gerada por políticos rentistas. Lamentavelmente, o setor retrocedeu absoluta e relativamente depois que terminou o governo FHC, com várias distorções se acumulando ao longo do tempo, num verdadeiro trabalho de destruição da Petrobras, processo conduzido pelos governos posteriores.
Mas a campanha contra a mudança de regime foi e é relevante, tanto que se conseguiu convencer os brasileiros que a Petrobras é um “patrimônio do povo brasileiro”, quando ela é apenas uma empresa estatal, importante, certo, mas manipulada antes e atualmente por interesses políticos que não tem nada a ver com a atividade-fim. Os brasileiros – como ocorria antes no caso da Vale, uma empresa na origem estrangeira, privatizada pelo governo Vargas, e que vale imensamente mais agora, privatizada, do que durante o meio século que permaneceu em mãos do governo – estão convencidos de que o petróleo é um bem estratégico, o que ele é, mas muito mais é a educação, inclusive para compreender que o petróleo deve ser tratado como mercadoria, não como a salvação do Brasil. Salvação só existe com povo educado, não com petróleo. O Japão quase não tem petróleo, e não deixou de alcançar a riqueza mesmo sem muita energia. Educação é a chave, não mercadorias.

1. O petróleo sempre desempenhou papel geopolítico de primeira importância na história moderna, interligando produtores e compradores numa rede de interesses ora comuns, ora conflitantes.

PRA: Como qualquer mercado sempre existe oposição de princípio entre compradores e vendedores, cada um querendo maximizar os seus ganhos. Mas não existe um mercado para o petróleo e sim muitos, múltiplos mercados, muito diversos, com características muito diferenciadas dos demais mercados, pois no caso do petróleo cru não se trata de uma commodity como qualquer outra, mas sim de um produto natural, não renovável, relativamente concentrado em pontos determinados do planeta – variáveis em função das tecnologias de exploração – mas que é absolutamente estratégico, central, determinando, absolutamente indispensável à moderna civilização industrial. Para uma informação mais detalhada sobre as características desse produto, e de seus diversos mercados, recomendo uma leitura dos dois livros indispensáveis de Daniel Yergin sobre a economia política do petróleo, já traduzidos e publicados no Brasil: são, provavelmente,  mais de 1.600 páginas, no conjunto, mas vale a pena o esforço. Uma consulta a seu site de consultoria em energia, baseado em Cambridge, Massachussetts, também seria recomendável.

2. Grandes produtores (países do Oriente Médio e do Norte da África), de um lado, e grandes consumidores (países centrais, em sentido amplo), estabeleceram-se há muito tempo como protagonistas no xadrez geopolítico global.

PRA: Essa realidade já mudou muito e está mudando cada vez mais. A China já é uma grande consumidora global – embora não per capita – de petróleo, e há muito tempo deixou de ser uma produtora autossuficiente: para ela, ter acesso a fontes seguras de petróleo é absolutamente vital, mais até do que para os países ocidentais, que podem contar com diversas fontes relativamente seguras, inclusive porque dominam amplamente tecnologias e os mercados de futuros e o mercado spot de petróleo. Ou seja, o mundo ocidental ainda tem algum controle – não sobre fontes, mas – sobre comercialização e industrialização desse produto estratégico. Mas, grandes países periféricos vem igualmente adquirindo certa preeminência em alguns dos mercados, inclusive de derivados, e no consumo.
A geopolítica do petróleo também mudou bastante: até o segundo choque do petróleo (1979), a OPEP (e dentro dela a OPAEP, árabes) eram responsáveis por parte substancial da oferta mundial e quase 70% das reservas declaradas. Já não é mais o caso, e o cartel da OPEP já não tem condições de ditar as regras dos diversos mercados de petróleo cru, inclusive porque os próprios países membros não cumprem suas decisões por inteiro. Hoje mais da metade das reservas e da oferta de petróleo é não-OPEP. Se trata de uma diferença importante em relação ao passado. Ver Yergin para essas mudanças.

3. Graças a avanços técnicos que possibilitam a descoberta de grandes reservas e, sobretudo, a exploração e produção de petróleo e gás de fontes não convencionais, Estados Unidos, Canadá, Brasil e Venezuela podem levar o continente americano a uma posição de menor ou nenhuma dependência energética em relação às regiões fornecedoras tradicionais.

PRA: O continente americano não pode ser tomado no plano hemisférico. A América do Norte é tanto produtora quanto consumidora, e este aspecto domina no caso do Canadá e EUA, que vem se tornando novamente um grande produtor de energia, em suas diversas formas. A América Latina, por sua vez, é excedentária em energia, em suas diversas formas, e é uma consumidora moderada, mas isso deve crescer. Mas ela ainda detém tecnologia restrita – com algumas exceções, entre elas o Brasil – e não controla mercados de comercialização. Dependência energética todos os países têm, dependendo das fontes disponíveis, da tecnologia mobilizada, do ritmo de exploração e da intensidade de consumo (hoje, por exemplo, os países avançados consomem muito menos petróleo por unidade de produção do que nos anos 1970, enquanto a China ainda “desperdiça” petróleo no seu setor industrial). Na América Latina, a despeito de existirem grandes produtores, os países também são dependentes, e mesmo o Brasil, com o pré-sal, não deve se tornar um grande protagonista nos mercados ofertantes, pois seu consumo também deve crescer (isso se o pré-sal se revelar realmente produtivo). O Brasil deve continuar a ser relativamente marginal na geopolítica mundial do petróleo, ainda que venha a se tornar um grande produtor: ele não reúne as condições para se tornar um grande protagonista nos diversos cenários que podem ser traçados para seu futuro energético, embora venha a assumir algum papel relevante, mas isso deve ocorrer nas energias renováveis, não nas fósseis, provavelmente, e mesmo assim, muito depende das políticas do governo, que nos últimos dez anos errou tremendamente nas diversas vertentes da política energética.

4. Essa condição de agrupamento geográfico não uniformiza, porém, os interesses correntes e estratégicos de cada um desses países no cenário internacional. Bem ao contrário (com exceção, talvez, em certo grau, de Estados Unidos e Canadá.

PRA: Não existe, no cenário previsível, possibilidade de unificar interesses estratégicos dos grandes, médios e pequenos atores nos diversos mercados energéticos, e mesmo nos mercados do petróleo. Os interesses nacionais são extremamente diversos, embora possa existir alguma coordenação e diálogo entre os grandes atores. A OPEP é um cartel, que como todo cartel, pretende apenas extrair renda dos seus clientes e consumidores. Os países da OCDE estão mais ou menos coordenados na Agência Internacional de Energia, que funciona na OCDE, em Paris, justamente, mas se trata mais de um fórum para intercambiar opiniões, trocar informações, desenvolver estatísticas e estudos técnicos de grande sofisticação, que não pode ter a pretensão de coordenar realmente as políticas nacionais dos países. Ou seja, se trata de cada um por si, pois a energia é absolutamente estratégica, vital para o nosso modo de vida, mas assume tantas formas e características que seria totalmente impossível esperar uniformização de interesses nesses mercados. Não se trata mais, como no passado, de uma luta entre impérios para controle das fontes, mas de uma concorrência entre grandes companhias, num mercado fortemente desigual e altamente competitivo, colocando em face, uns dos outros, governos, companhias privadas, estatais, ditadores e especuladores, o que torna difícil coordenar interesses. Ou seja, o mundo deve continuar na relativa anarquia que hoje o caracteriza, sendo porém de se excluir grandes guerras globais para acesso às fontes, o que não exclui escaramuças e guerras localizadas entre países e dentro dos países.
            Existe, como se sabe, uma “maldição do petróleo”, com muitos livros a respeito. Recomendo ler Peter Maass, Crude World: the violent twilight of oil.

5. Nessa rede de interesses geopolíticos internacionais em transformação, o Brasil tem presença que variou de patamar ao longo do tempo, com narrativas políticas que se desenrolaram, ora na frente doméstica, ora na frente externa, mas quase sempre exprimindo alguma forma de conjugação de iniciativas, nos dois campos, em termos de ação governamental consequente. Com o Pré-Sal, quais perspectivas se abrem para o Brasil na arena geopolítica global? 

PRA: Discordo da expressão “ação governamental consequente”. O Brasil, na verdade, nunca teve uma política coerente para o petróleo, terreno muito submetido a paixões “nacionalisteiras” as mais nefastas e deprimentes do ponto de vista da racionalidade estrita do setor, embora tenha tido políticas energéticas razoáveis, ao longo do tempo. Nos atrasamos na revolução industrial, em parte pela falta de fontes seguras de energia, carvão e petróleo, justamente, o que veio mais tarde, mas com grandes dificuldades e com interferências políticas nefastas em diversas áreas. Mas, por outro lado, soubemos explorar, com algum grau de racionalidade, as fontes naturais, ou seja hídricas. Nesse terreno, as possibilidades ainda existentes vêm sendo sabotadas pelos novos malthusianos da era contemporânea, que são os ecologistas não científicos, essa horda de ambientalistas românticos, que poderiam nos fazer retroceder ao neolítico, se por acaso comandassem governos e políticas públicas (e não só em energia, mas ele alimentos também).
            A matriz energética brasileira é relativamente positiva, com muitos recursos renováveis, e deveríamos continuar assim. Infelizmente (no sentido alegórico da palavra), estamos caminhando para sujar um pouco essa matriz, com a aparente abundância de petróleo do pré-sal, que também pode ser uma “maldição”, dependendo de como seja explorado. O fato é que o pré-sal determinou grandes mudanças nas políticas públicas de energia no Brasil, todas elas nefastas até o momento, pois despertou os instintos rentistas dos políticos e tende a deformar as outras políticas setoriais, inclusive no próprio petróleo.
            Respondo à esta questão – Com o Pré-Sal, quais perspectivas se abrem para o Brasil na arena geopolítica global? pela negativa, por fatores puramente objetivos, e não com base nas minhas opiniões negativas quanto à “baixa política” governamental em relação ao pré-sal. O pré-sal NÃO vai transformar o Brasil em ator geopolítico relevante no terreno do petróleo, simplesmente porque existem muitas outras fontes mais baratas e acessíveis de petróleo e outros combustíveis fósseis, assim como de renováveis (inclusive no próprio Brasil, se as políticas corretas forem aplicadas, o que ainda não é o caso). Em primeiro lugar, seria preciso ver se o pré-sal é de fato real, o que depende não apenas da tecnologia – que existe mas pode ser difícil – mas basicamente dos mercados ofertantes de energia e de petróleo em particular: a AIE calcula que a extração do petróleo do pré-sal pode estar em torno de 80 dólares o barril (comparando: a média no Oriente Médio deve andar em torno de 12 a 15 dólares, sendo que em alguns lugares pode estar abaixo de 5; se fossemos extrair petróleo no Ártico, não seria possível a menos de 150 dólares). Ou seja, se o barril cair muito nos mercados internacionais, melhor deixar o petróleo do pré-sal onde está, dar até logo e esperar que o preço supere 100 dólares (será sorte do Brasil se ele se mantiver nessa faixa, o que é bastante provável, pois outros produtores, basicamente ditaduras petrolíferas e rentistas do petróleo, têm interesse que seja assim).
Mesmo que tudo dê certo, haverá muito pouco petróleo para fazer com que o Brasil altere radicalmente a balança mundial; o que houver de excedentário ao seu próprio consumo (que deve crescer bastante), será comercializado marginalmente nos mercados globais, pelas companhias que o estão explorando e pela Petrobras. Nada que altere a balança mundial energética, ou a “simples” geopolítica do petróleo. Aquela visão do Lula, do Brasil grande produtor, como sempre é megalomaníaca e não corresponde à realidade.

6. Como variaram, no tempo, as políticas externas brasileiras sob relações de interseção com as posições alcançadas pelo país em termos de suficiência energética? Que peso tiveram, em momentos mais expressivos dessa conexão, as peculiaridades do momento político doméstico vivido pelo país? (Vamos fazer uma linha do tempo com os dados assim levantados).

PRA: O Brasil teve políticas erráticas em relação ao petróleo, um pouco menos erráticas nas outras vertentes energéticas. No petróleo, perdemos muito tempo com bravatas nacionalistas que só nos atrasaram, na produção, na exploração, na comercialização, e sobretudo na distribuição interna, pois a Petrobras sempre foi politizada e usada pelos governos, seja num sentido econômico (como na era militar), seja num sentido baixamente fisiológico, como ocorre desde o início da gestão Lula. Quanto ela começou a funcionar corretamente, na gestão FHC – e sobretudo depois da aprovação da lei do petróleo e da ANP, em 1997 – e prometia grandes avanços nos dois terrenos (exploração e produção, ou seja, prospecção, extração e transformação em derivados, mas menos na comercialização, onde se manteve, infelizmente, o monopólio de fato da Petrobras), veio a nova gestão dos companheiros, que praticamente dinamitou, não apenas a Petrobras, mas boa parte da política energética, ambas submetidas a critérios políticos nefastos e indefensáveis.
            Além da politização da Petrobras, e sua utilização por máfias sindicais, ocorreu um desvio fundamental das políticas corretas anteriormente colocadas em vigor pelo governo FHC, ou seja, tratar a Petrobras – que nunca se cogitou de privatizar – como uma empresa comercial, e deixa-la aplicar critérios técnicos e comerciais em todos os aspectos de suas atividades. A gestão Lula foi negativa, chegando a cometer crimes econômicos, sob certos aspectos, contra Petrobras, contra a matriz energética do Brasil, contra os acionistas e contra o próprio Brasil. Um desastre completo, que está longe de ser corrigido, pois a nova lei aplicada ao pré-sal, de 2010 (ainda não totalmente em vigor, pois além de tudo também destruiu a federação, com o acirramento dos comportamentos rentistas em todos os governos estaduais e em todos os políticos), simplesmente desequilibra completamente uma estratégia racional para o petróleo e para outros combustíveis.
            Um dia vai se poder avaliar, racionalmente, todos os desastres e crimes econômicos cometidos pela gestão lulista nessa área. O Brasil ainda está muito dominado pela euforia nefasta do pré-sal, para que os dirigentes façam uma análise isenta dos equívocos cometidos. Alguns economistas, mas muito poucos, vêm apontando os erros perpetrados pelo governo, em praticamente todas as frentes (renováveis e fósseis), e continuam a ser praticados, sem que se tome consciência da má direção tomada pelo país. Se o Brasil tivesse continuado na lei de 1997 (que permanece, mas os leilões pararam, praticamente), teria conseguido royalties para o governo, sem riscos para a Petrobras, e sobretudo sem o caos legislativo e judiciário criado com a estatização do pré-sal pelo governo irresponsável do presidente Lula. Ou seja, os equívocos no tratamento do petróleo são gigantescos e talvez não sejam mais reversíveis, pois o governo, criminosamente, incitou no mais alto grau os instintos rentistas dos políticos, praticamente “distribuindo” royalties do pré-sal que talvez nem venham a existir, e criando um conflito distributivo entre os estados que não se resolverá sequer no Judiciário (STF). Um caos completo.
            No terreno dos renováveis, os erros não são menores, tanto em relação ao etanol (“afogado” pelo controle de preços criminoso aplicado aos derivados de petróleo), como em relação ao biodiesel. Aqui, o governo foi absolutamente estúpido, ao misturar matriz energética com problemas sociais, criando um programa de biodiesel de mamona a ser fornecido por “agricultura familiar”. Um outro desastre incomensurável, que eliminou o Brasil do mapa dos biocombustíveis, aparentemente tão promissor antes dos desastres cometidos pelo governo Lula. Neste terreno, como em diversos outros, ainda falta fazer a história real, verdadeira, dos equívocos cometidos pelo governo Lula em diversas frentes: na produção, na comercialização, nos estímulos setoriais, no tratamento do capital privado e dos investimentos estrangeiros: ele não acertou uma única vez, errou em todas...

7. O Brasil tem hoje um governo que se pode chamar de esquerda e democrático (como já era com Lula).  É um governo que se relaciona bem, no continente, com governos radicais de esquerda, esquerdistas progressistas, e de centro-direita. É considerado pelos Estados Unidos uma potência sub-regional e um aliado de primeira importância. É membro do G-20. Com o Pré-Sal, o Brasil caminha para tornar-se um exportador líquido de energia, e poderá ganhar níveis invejáveis em matéria de segurança energética. Que importância essa posição de quase-independência tem hoje, em termos geopolíticos? Que importância poderá ter, no futuro, a possível independência plena?

PRA: O governo é de esquerda, certamente, mas de uma esquerda atrasada, estatizante, centralizadora, populista e demagógica, quando existem outros governos de esquerda, no mundo, abertos, reformistas, racionais em economia e dotados de uma visão econômica moderna, receptiva a investimentos estrangeiros e sem muita demagogia populista (no Chile, por exemplo, ou no Uruguai, e em vários países europeus). O governo certamente não é democrático, ainda que não possa implantar um regime autoritário, mas é dominado por um partido neobolchevique que faz de tudo para eliminar as oposições, controlar a imprensa e impor o controle do Estado sobre praticamente todos os setores da vida pública. A bem da verdade, o partido hegemônico e seu governo possuem tendências fascistas, que se revela justamente nessa tentativa de colocar sob o controle do Estado a vida de todas as empresas e de todos cidadãos, e que trata os mais pobres como massa de manobra.
            Quanto ao ambiente externo, se pode dizer que o governo tem tendência a apoiar todas as ditaduras supostamente esquerdistas, como governos autoritários de modo geral, e age com uma grande motivação contra o que ele chama de países hegemônicos, ou seja, as grandes democracia de mercado. Não se deve tomar discursos diplomáticos – como essa expressão usada e abusada de “parceiros estratégicos” – pelo seu valor face, pois existe muita hipocrisia nessas proclamações; se formos julgar pelos discursos, o Brasil tem “parceiros estratégicos” em todos os continentes, e eles são tão mais estratégicos quanto menos “hegemônicos” forem, ou seja, antiocidentais e anti-Estados Unidos. Esta é uma realidade fática, que pode ser comprovada por diversas iniciativas e proclamações do governo atual, não se trata de uma opinião. Basta ler nas entrelinhas e ver as ações reais.
            Quanto às perguntas, respondo topicamente:
            (a) Com o Pré-Sal, o Brasil caminha para tornar-se um exportador líquido de energia, e poderá ganhar níveis invejáveis em matéria de segurança energética.
            PRA: Não é seguro que o Brasil se torne um exportador líquido de petróleo, e se isso se confirmar, será marginal no mercado mundial, ainda que possa trazer divisas para o Brasil. Creio que haverá um equilíbrio entre consumo e produção com o pré-sal, e os movimentos de comércio exterior nessa área vão depender da capacidade industrial de refino e novas explorações.
(b) Que importância essa posição de quase-independência tem hoje, em termos geopolíticos?
PRA: Quase nenhuma no plano mundial, apenas tornar o Brasil menos dependente de petróleo importado, mas isso não é em si relevante, pois o petróleo é uma commodity amplamente comercializável nos mercados livres, sem qualquer problema de acesso aos demandantes. Basta ter renda, e renda se consegue exportando quaisquer outros produtos.
(c) Que importância poderá ter, no futuro, a possível independência plena?
PRA: Não existe independência plena no campo da energia. Nenhum país e totalmente independente, e isso se aplica inclusive e principalmente ao petróleo. Mesmo os países produtores e exportadores de petróleo são em geral dependentes da importação de derivados e, como se disse, o petróleo é, e pode ser, fonte de problemas enormes, como a distorção da economia, e algumas “maldições” não desejadas. Não é seguro que o Brasil (pelo menos no governo atual) consiga desenvolver um modelo “norueguês” de exploração racional do petróleo e de utilização de seus royalties. O que é seguro, até aqui, é que o governo Lula conseguiu piorar amplamente o ambiente geral do Brasil para a exploração racional desse produto estratégico, deteriorando amplamente o quadro institucional e as relações federativas. Em relação à Petrobras, os desastres são visíveis.

8. Talvez essa independência coincida com a dos Estados Unidos, a julgar pelo otimismo com que vem sendo saudada a descoberta de importantes jazidas de óleo e gás de xisto naquele país e possibilidades de sua extração. Quais efeitos poderia ter essa coincidência (se ocorrer) para o fator ‘energia’ na equação geopolítica brasileira?

PRA: Qualquer que seja a evolução energética, pelos seus vetores, nos EUA, parece que o país está motivado para diminuir sua dependência de fontes externas, fósseis e renováveis, e pode conseguir, parcialmente. Isso significa que o Brasil perdeu e está perdendo oportunidades, por cegueira econômica e miopia ideológica, de desenvolver políticas de cooperação com esse gigante econômico, sobretudo em razão da estatização irracional, demagógica, totalmente política, desse setor. O Brasil, como já dizia Roberto Campos, é um país que não perde oportunidade de perder oportunidades. Pois perdeu também no petróleo e nos renováveis, com os EUA, e com os investidores estrangeiros de modo geral. Só estamos tendo relacionamento com estatais de países autoritários, que não tem o critério do lucro como básico, como é o caso de alguns investidores no campo de Libra.

9. A independência americana pode ser mais difícil de ocorrer do que a brasileira: a extração de óleo e gás de xisto ainda apresenta dificuldades técnicas e traria acréscimos apenas graduais à produção, e as jazidas em águas profundas também não seriam facilmente alcançáveis. Quais as possibilidades de o Brasil ganhar essa corrida e com quais consequências geopolíticas, no continente, nas relações com os Estados Unidos e no plano global?

PRA: O conceito de corrida é totalmente inadequado neste terreno, só se for uma corrida contra si mesmo, pois cada país tem recursos naturais e dotações tecnológicas (e sobretudo humanas) muito diferentes, que precisam ser mobilizadas para obter o melhor retorno possível das oportunidades existentes dentro e FORA do país. No que concerne uma corrida para melhorar ainda mais nossa matriz energética, o Brasil, infelizmente, está perdendo a corrida contra consigo mesmo: temos um governo sem condições financeiras, técnicas, de gestão e sem visão para impulsionar as diversas vertentes da matriz; o governo tem aversão ao capital privado, sobretudo estrangeiro, e com isso perde enormes chances de desenvolver as diversas frentes; o Brasil é errático nas suas políticas de preços (na verdade, ele é controlador, o que é mortal para qualquer setor econômico), nas tecnologias, no equilíbrio das diversas fontes, e se mostra refém dos malthusianos ecológico-românticos; o governo é estúpido na gestão dos renováveis, pois mistura problemas sociais (camponeses pobres, que supostamente cultivariam mamona) com a matriz energética; o governo foi criminoso na condução do assunto do pré-sal, pois criou uma querela monumental entre os estados, que não vai ser resolvida sequer no STF. Ou seja, o governo, até aqui, só errou, e está perdendo a corrida consigo mesmo, e de todos os demais países.

10. Como a China entraria na equação geopolítica brasileira? (o governo brasileiro considera diferentes hipóteses para as relações com a China na área de energia; no caso do Pré-Sal, as estatais chinesas poderão entrar com força relevante para a Petrobras financiar sua participação na exploração, em troca de fornecimento de petróleo).

PRA: Um governo estatizante como o atual governo brasileiro pode se dar muito bem com a China, em detrimento de uma política mais inteligente de exploração de seus recursos. A China precisa, necessita absolutamente de segurança energética, basicamente petróleo, pois ainda tem muito carvão e está desenvolvendo energias renováveis e nuclear. O Brasil entra como fornecedor, e a China como financiador, ou seja, uma relação desequilibrada e que só convém aos chineses. Como a China tem muitos recursos financeiros, a Petrobras vai ser mantida nessa relação esquizofrênica criada pelo próprio governo.

11. O modelo brasileiro de regras para a exploração das jazidas do Pré-Sal tem forte viés estatal. Como se deve interpretar essa opção -- a escolha, em si mesma e no contexto de perspectivas atuais e futuras de interinfluências geopolíticas do Brasil com as principais economias do mundo, de um lado, e outras economias latino-americanas? (as ‘bolivarianas’ do Sul e o México, ao norte) É um modelo que veio para ficar, ou poderá ser modificado no futuro, caso se constatem falhas de eficácia?

PRA: As políticas atuais brasileiras para o pré-sal são totalmente irracionais, e já criaram prejuízos irreparáveis, além de um enorme custo para o país. Um governo racional, se por acaso tiver futuro no país, deveria simplesmente eliminar toda a legislação do pré-sal e retornar ao regime de 1997. Parece que algumas decisões já tomadas vão continuar criando problemas, mesmo se um retorno como esse viesse ocorrer. Infelizmente, o governo Lula fez um enorme mal ao Brasil em todas as áreas energéticas em que tocou: foi um Midas ao contrário. A ineficácia da política já foi colocada: estão “leiloando” royalties entre políticos muitos anos antes de existir qualquer rótulo. Uma das piores maldições que pode ocorrer numa política desse tipo são os mais baixos instintos rentistas entre os políticos, além de uma deformação da área energética do país, sem falar da própria indústria, desviada para essa maldição concentradora de recursos. O Brasil estaria muito melhor sem o pré-sal, e isso por razões políticas mas também econômicas.

12. O modelo brasileiro de abertura da exploração do petróleo à participação estrangeira parece voltado mais para a garantia de fornecimento do que para a oferta de atrativos de retorno (lucratividade), como no caso das estatais chinesas que manifestaram interesse pelo leilão de Libra. Considerando-se também os termos regulatórios dessa participação, tem-se um modelo marcadamente ‘estatal’. Que importância terão os resultados (bons ou maus) da adoção desse viés, digamos, menos ‘privatista’ para a afirmação da presença política brasileira no G-20?

PRA: A tendência é a consolidação do ogro estatal no setor energético, concentrando recursos, benefícios, favores, enfim, distorcendo um pouco mais a economia brasileira, em geral, e o setor de petróleo em particular. Isso não tem absolutamente nada a ver com o G20, a não ser muito indiretamente. O G20 é um grupo informal de diálogo sobre questões financeiras e monetárias – e por extensão de outras questões econômicas também, embora pretenda se meter um pouco em todos os assuntos – mas ele não tem qualquer poder sobre as políticas nacionais dos seus integrantes. A imagem que o Brasil consolida no G20, em todo caso, é a de um país estatizante, refratário à abertura econômica, pouco propenso a uma política de acolhimento de investimentos privados estrangeiros e praticando um tipo de nacionalismo econômico ultrapassado nas condições de interdependência mundial atual.

13. Em que medida as grandes empresas de energia de capital privado, elas mesmas, têm poder de influenciar, com suas decisões estratégicas (e probabilíssimos lobbies, os movimentos de governos no xadrez geopolítico? E as grandes estatais asiáticas, especialmente as chinesas?

PRA: Pergunta impossível de ser respondida em geral e no abstrato. Companhias de energia podem ser mais ou menos influenciáveis pelos governos, mas nem sempre. Por exemplo: se o governo americano desejasse, realmente, estrangular o governo de Hugo Chávez (e do seu sucessor), há muito tempo teria decretado o final da importação de petróleo venezuelano, e sua substituição por outras fontes. Por que não o fez, por que não o faz? Por que o governo americano não é ditatorial e não pode determinar sozinho as políticas de importação de petróleo. A despeito de controlar uma enorme reserva estratégica de petróleo, o governo americano não possui nenhuma companhia estatal de petróleo, e são as companhias privadas que exploram, produzem derivados, importam, comercializam todo o setor. Companhias estatais de petróleo podem ter uma gestão mais comercial – em alguns emirados e monarquias árabes, por exemplo – ou ser inteiramente submetidas à gestão política do governo, como parece ser o caso com as chinesas e outras estatais em petro-ditaduras. Outros países podem ser ditaduras petrolíferas mesmo sem ter companhias estatais, como alguns da ex-URSS. Ou seja, o cenário é muito diverso para se ter um retrato uniforme de como são tomadas certas decisões nos diferentes atores relevantes.

14. Com a entrada no mercado de outras fontes de energia abundante, como o óleo e o gás de xisto  americanos, o petróleo vai perdendo importância estratégica, o que também ajudaria a explicar a perda de atratividade do Pré-Sal. Mas o Brasil pode se tornar bastante “forte” na produção de biocombustíveis. Em que medida essa possível vantagem estratégica específica pesaria na balança, a favor da preservação, ou mesmo aumento, da presença geopolítica brasileira no cenário internacional?

PRA: Não existem cenários fiáveis em nenhum terreno – mesmo nas teorias fantasiosas do “pico do petróleo”, jamais alcançado e ninguém sabe onde está – e mesmo nos renováveis o futuro é muito incerto, pois muito depende de políticas de governo, que costumam ser erráticas, quando não prejudiciais ao próprio país, quando preconceitos e ideologia tomam conta do espaço que deveria estar reservado a análises técnicas por especialistas. Por exemplo, o pré-sal brasileiro pode ser considerado um desastre completo pelas políticas erradas do governo, mas também o setor de renováveis foi submetido a políticas da mesma forma equivocadas. A decisão alemã de excluir completamente o vetor nuclear pode ser considerada igualmente uma decisão irracional e de alto custo para o país.
            O Brasil, de fato, poderia se tornar, em 500 anos de história econômica concentrada na produção de produtos de “sobremesa”: açúcar, café, cacau, etc. – um país relevante no futuro mercado de renováveis, não tanto pela oferta de bens, mas de tecnologia, e de know-how do setor, para produção na América Latina, na África e em outros países de perfil similar ao Brasil. Mas até aqui as políticas foram também equivocadas. Pode ser que no futuro, um governo menos irracional venha a colocar um pouco de ordem e de critérios exclusivamente técnicos e econômicos num setor importante.

15. As relações internacionais guiam-se, em grande medida, por expectativas. A quais alturas a soma de potencialidades em petróleo e em biocombustíveis poderá elevar a influência brasileira no cenário global e com quais efeitos sobre a capacidade de o país formular políticas públicas (para uso doméstico) com acréscimos de autonomia decisória?

PRA: O Brasil é um país que frustra expectativas, não apenas do seu próprio povo, mas também de parceiros estrangeiros, que certamente gostariam de vender tecnologia, comprar produtos brasileiros (renováveis, por exemplo), se associar a investimentos produtivos neste país de imensos recursos naturais hoje escassamente explorados. Tudo depende de políticas corretas de governo, o que até agora se revelou totalmente frustrante. Não acredito que o Brasil tenha grandes perspectivas na geopolítica mundial do petróleo; no máximo terá uma grande fonte para seu próprio consumo, e interagirá com os investidores estrangeiros nessa área de prospecção, exploração e produção interna de derivados (se o monopólio de fato da Petrobras for rompido, o que é um enorme problema para nós mesmos). Mas sua participação nos mercados mundiais de petróleo continuará marginal, ainda que possa ter grande expressão numérica: grandes negócios, certamente, mas nenhuma revolução geopolítica nessa área.
            Onde o Brasil poderia fazer diferença seria nos renováveis, mas até aqui, as políticas foram erráticas, e até retrocedemos nesse terreno. Importar etanol de milho subsidiado dos EUA é um exemplo perfeito da estupidez econômica do governo Lula no terreno dos renováveis. Fazer biodiesel com mamona de camponês pobre é outra estupidez econômica que não tem tamanho. Enfim, o governo Lula colecionou diversas estupidezes econômicas ao longo dos dez últimos anos, e infelizmente as mesmas bobagens continuam a ser cometidas no governo sucessor. Além dos vários crimes econômicos, a estatização ampliada do setor é a outra grande estupidez que continua ser praticada pelos governos petistas. Não se sabe quando, e se, essas estupidezes serão corrigidas. Mas enquanto não forem o Brasil continuará patinando, senão retrocedendo, no petróleo e nos renováveis.

Uma sub-retranca
Em quais detalhes as condições brasileiras (dadas nos leilões) diferem das condições de parceria oferecidas por outros grandes produtores a investidores estrangeiros (privados ou estatais)? Ou seja: como estão definidas as políticas para a abertura do setor de petróleo à participação estrangeira? Por quais razões foram definidas com estes ou aqueles principais traços? Com quais eventuais influências de condições ditadas por possíveis investidores e/ou práticas consagradas de mercado? Com quais efeitos sobre o ânimo dos investidores e suas decisões?

PRA: O modelo brasileiro é um híbrido, mas registre-se que no setor do petróleo existem muitos regimes diferentes, pois cada governo tem suas possibilidades e preferências. De maneira geral, quanto mais democrático e avançado for o país, mais livres, mais abertos, mais comercialmente orientados, mais tecnicamente fundamentados e mais amigáveis aos investimentos privados são e serão os regimes aplicados ao petróleo; quanto mais ditatorial for o governo, ou mais “subdesenvolvido”, mais irracional, mais rentista, prejudicial ao país e ao povo será o setor, com as diversas “maldições” do petróleo se acumulando. O Brasil fica entre os dois extremos: não é uma ditadura (mas o governo atual gostaria de ter uma no setor do petróleo, confirmando as piores expectativas rentistas dos políticos em geral e desses políticos em particular), e tampouco é uma perfeita democracia avançada, pois existe um enorme predomínio do Executivo na determinação das políticas do setor, uma vez que o congresso ou é inerme, ou desenvolve, justamente, os comportamentos rentistas mais deploráveis já vistos na história econômica do país.
            Uma pA questão energética no Brasil: petróleo, Petrobras e políticas de governo

Paulo Roberto de Almeida
Respostas a questões colocadas pela jornalista Marcia Pinheiro
Valor Econômico (pinheiromarcia@terra.com.br)
Princeton, 7-8/10/2013

Respondo topicamente às questões, mas faço comentários intercalados ao texto, uma vez que detecto algumas imprecisões ou pontos ainda obscuros quanto à substância.

Questão inicial: Como FHC conseguiu flexibilizar o mercado de petróleo, com tanta campanha contra?

PRA: FHC NÃO flexibilizou o mercado do petróleo, pois isso seria impossível, não só a ele, como a qualquer governo, socialista ou neoliberal. O que FHC fez, em meio a um processo inteligente – mas incompleto – de correção das muitas estupidezes econômicas da Constituição de 1988, foi adequar o Brasil a algumas realidades dos mercados mundiais. Os mercados do e para o petróleo – existem vários, não um único mercado global, alguns deles dominados por carteis, outros teoricamente livres, outros influenciados por ditaduras petrolíferas, e várias outras modalidades intermediárias – são gigantescos, e o Brasil participa de uma pequena parte deles, antes importando 80% do que consumia, atualmente em situação de equilíbrio instável, mais ainda exportando muito cru, e importando também muito cru e derivados, o que é irracional, mas é fruto das políticas erradas mais recentes.
            FHC se aproveitou de um momento único na história do Brasil, que provavelmente vai demorar para voltar: uma coalizão reformista no bojo de uma enorme crise inflacionária e que permitiu fazer algumas reformas absolutamente necessárias para a economia e para a política do País: a crise permitiu aprovar diversas medidas – constitucionais e infra – que não tiveram, infelizmente continuidade. Os esquerdistas atrasados – concentrados no PT e nos outros partidos de esquerda, ainda que alguns sejam propriamente fascistas – estiveram momentaneamente na defensiva, embora todo governo constituído sempre possa contar com a boa disposição fisiológica da maior parte dos políticos em apoiar o governo em vigor, qualquer governo. Uma liderança dotada de visão de futuro pode, assim, reformar as regras constitucionais e a legislação do setor do petróleo a essa abertura ao capital estrangeiro, combinada a um tratamento puramente comercial da Petrobras, que teve liberdade para se desenvolver como companhia, não como cabide de emprego de políticos, o que ela era antes e voltou a ser depois. Infelizmente, não se avançou na abertura total do setor e na privatização da Petrobras, o que teria sido excelente para o Brasil e para a própria companhia, que assim poderia crescer mais ainda sem interferências dos governos e sem essa promiscuidade gerada por políticos rentistas. Lamentavelmente, o setor retrocedeu absoluta e relativamente depois que terminou o governo FHC, com várias distorções se acumulando ao longo do tempo, num verdadeiro trabalho de destruição da Petrobras, processo conduzido pelos governos posteriores.
Mas a campanha contra a mudança de regime foi e é relevante, tanto que se conseguiu convencer os brasileiros que a Petrobras é um “patrimônio do povo brasileiro”, quando ela é apenas uma empresa estatal, importante, certo, mas manipulada antes e atualmente por interesses políticos que não tem nada a ver com a atividade-fim. Os brasileiros – como ocorria antes no caso da Vale, uma empresa na origem estrangeira, privatizada pelo governo Vargas, e que vale imensamente mais agora, privatizada, do que durante o meio século que permaneceu em mãos do governo – estão convencidos de que o petróleo é um bem estratégico, o que ele é, mas muito mais é a educação, inclusive para compreender que o petróleo deve ser tratado como mercadoria, não como a salvação do Brasil. Salvação só existe com povo educado, não com petróleo. O Japão quase não tem petróleo, e não deixou de alcançar a riqueza mesmo sem muita energia. Educação é a chave, não mercadorias.

1. O petróleo sempre desempenhou papel geopolítico de primeira importância na história moderna, interligando produtores e compradores numa rede de interesses ora comuns, ora conflitantes.

PRA: Como qualquer mercado sempre existe oposição de princípio entre compradores e vendedores, cada um querendo maximizar os seus ganhos. Mas não existe um mercado para o petróleo e sim muitos, múltiplos mercados, muito diversos, com características muito diferenciadas dos demais mercados, pois no caso do petróleo cru não se trata de uma commodity como qualquer outra, mas sim de um produto natural, não renovável, relativamente concentrado em pontos determinados do planeta – variáveis em função das tecnologias de exploração – mas que é absolutamente estratégico, central, determinando, absolutamente indispensável à moderna civilização industrial. Para uma informação mais detalhada sobre as características desse produto, e de seus diversos mercados, recomendo uma leitura dos dois livros indispensáveis de Daniel Yergin sobre a economia política do petróleo, já traduzidos e publicados no Brasil: são, provavelmente,  mais de 1.600 páginas, no conjunto, mas vale a pena o esforço. Uma consulta a seu site de consultoria em energia, baseado em Cambridge, Massachussetts, também seria recomendável.

2. Grandes produtores (países do Oriente Médio e do Norte da África), de um lado, e grandes consumidores (países centrais, em sentido amplo), estabeleceram-se há muito tempo como protagonistas no xadrez geopolítico global.

PRA: Essa realidade já mudou muito e está mudando cada vez mais. A China já é uma grande consumidora global – embora não per capita – de petróleo, e há muito tempo deixou de ser uma produtora autossuficiente: para ela, ter acesso a fontes seguras de petróleo é absolutamente vital, mais até do que para os países ocidentais, que podem contar com diversas fontes relativamente seguras, inclusive porque dominam amplamente tecnologias e os mercados de futuros e o mercado spot de petróleo. Ou seja, o mundo ocidental ainda tem algum controle – não sobre fontes, mas – sobre comercialização e industrialização desse produto estratégico. Mas, grandes países periféricos vem igualmente adquirindo certa preeminência em alguns dos mercados, inclusive de derivados, e no consumo.
A geopolítica do petróleo também mudou bastante: até o segundo choque do petróleo (1979), a OPEP (e dentro dela a OPAEP, árabes) eram responsáveis por parte substancial da oferta mundial e quase 70% das reservas declaradas. Já não é mais o caso, e o cartel da OPEP já não tem condições de ditar as regras dos diversos mercados de petróleo cru, inclusive porque os próprios países membros não cumprem suas decisões por inteiro. Hoje mais da metade das reservas e da oferta de petróleo é não-OPEP. Se trata de uma diferença importante em relação ao passado. Ver Yergin para essas mudanças.

3. Graças a avanços técnicos que possibilitam a descoberta de grandes reservas e, sobretudo, a exploração e produção de petróleo e gás de fontes não convencionais, Estados Unidos, Canadá, Brasil e Venezuela podem levar o continente americano a uma posição de menor ou nenhuma dependência energética em relação às regiões fornecedoras tradicionais.

PRA: O continente americano não pode ser tomado no plano hemisférico. A América do Norte é tanto produtora quanto consumidora, e este aspecto domina no caso do Canadá e EUA, que vem se tornando novamente um grande produtor de energia, em suas diversas formas. A América Latina, por sua vez, é excedentária em energia, em suas diversas formas, e é uma consumidora moderada, mas isso deve crescer. Mas ela ainda detém tecnologia restrita – com algumas exceções, entre elas o Brasil – e não controla mercados de comercialização. Dependência energética todos os países têm, dependendo das fontes disponíveis, da tecnologia mobilizada, do ritmo de exploração e da intensidade de consumo (hoje, por exemplo, os países avançados consomem muito menos petróleo por unidade de produção do que nos anos 1970, enquanto a China ainda “desperdiça” petróleo no seu setor industrial). Na América Latina, a despeito de existirem grandes produtores, os países também são dependentes, e mesmo o Brasil, com o pré-sal, não deve se tornar um grande protagonista nos mercados ofertantes, pois seu consumo também deve crescer (isso se o pré-sal se revelar realmente produtivo). O Brasil deve continuar a ser relativamente marginal na geopolítica mundial do petróleo, ainda que venha a se tornar um grande produtor: ele não reúne as condições para se tornar um grande protagonista nos diversos cenários que podem ser traçados para seu futuro energético, embora venha a assumir algum papel relevante, mas isso deve ocorrer nas energias renováveis, não nas fósseis, provavelmente, e mesmo assim, muito depende das políticas do governo, que nos últimos dez anos errou tremendamente nas diversas vertentes da política energética.

4. Essa condição de agrupamento geográfico não uniformiza, porém, os interesses correntes e estratégicos de cada um desses países no cenário internacional. Bem ao contrário (com exceção, talvez, em certo grau, de Estados Unidos e Canadá.

PRA: Não existe, no cenário previsível, possibilidade de unificar interesses estratégicos dos grandes, médios e pequenos atores nos diversos mercados energéticos, e mesmo nos mercados do petróleo. Os interesses nacionais são extremamente diversos, embora possa existir alguma coordenação e diálogo entre os grandes atores. A OPEP é um cartel, que como todo cartel, pretende apenas extrair renda dos seus clientes e consumidores. Os países da OCDE estão mais ou menos coordenados na Agência Internacional de Energia, que funciona na OCDE, em Paris, justamente, mas se trata mais de um fórum para intercambiar opiniões, trocar informações, desenvolver estatísticas e estudos técnicos de grande sofisticação, que não pode ter a pretensão de coordenar realmente as políticas nacionais dos países. Ou seja, se trata de cada um por si, pois a energia é absolutamente estratégica, vital para o nosso modo de vida, mas assume tantas formas e características que seria totalmente impossível esperar uniformização de interesses nesses mercados. Não se trata mais, como no passado, de uma luta entre impérios para controle das fontes, mas de uma concorrência entre grandes companhias, num mercado fortemente desigual e altamente competitivo, colocando em face, uns dos outros, governos, companhias privadas, estatais, ditadores e especuladores, o que torna difícil coordenar interesses. Ou seja, o mundo deve continuar na relativa anarquia que hoje o caracteriza, sendo porém de se excluir grandes guerras globais para acesso às fontes, o que não exclui escaramuças e guerras localizadas entre países e dentro dos países.
            Existe, como se sabe, uma “maldição do petróleo”, com muitos livros a respeito. Recomendo ler Peter Maass, Crude World: the violent twilight of oil.

5. Nessa rede de interesses geopolíticos internacionais em transformação, o Brasil tem presença que variou de patamar ao longo do tempo, com narrativas políticas que se desenrolaram, ora na frente doméstica, ora na frente externa, mas quase sempre exprimindo alguma forma de conjugação de iniciativas, nos dois campos, em termos de ação governamental consequente. Com o Pré-Sal, quais perspectivas se abrem para o Brasil na arena geopolítica global? 

PRA: Discordo da expressão “ação governamental consequente”. O Brasil, na verdade, nunca teve uma política coerente para o petróleo, terreno muito submetido a paixões “nacionalisteiras” as mais nefastas e deprimentes do ponto de vista da racionalidade estrita do setor, embora tenha tido políticas energéticas razoáveis, ao longo do tempo. Nos atrasamos na revolução industrial, em parte pela falta de fontes seguras de energia, carvão e petróleo, justamente, o que veio mais tarde, mas com grandes dificuldades e com interferências políticas nefastas em diversas áreas. Mas, por outro lado, soubemos explorar, com algum grau de racionalidade, as fontes naturais, ou seja hídricas. Nesse terreno, as possibilidades ainda existentes vêm sendo sabotadas pelos novos malthusianos da era contemporânea, que são os ecologistas não científicos, essa horda de ambientalistas românticos, que poderiam nos fazer retroceder ao neolítico, se por acaso comandassem governos e políticas públicas (e não só em energia, mas ele alimentos também).
            A matriz energética brasileira é relativamente positiva, com muitos recursos renováveis, e deveríamos continuar assim. Infelizmente (no sentido alegórico da palavra), estamos caminhando para sujar um pouco essa matriz, com a aparente abundância de petróleo do pré-sal, que também pode ser uma “maldição”, dependendo de como seja explorado. O fato é que o pré-sal determinou grandes mudanças nas políticas públicas de energia no Brasil, todas elas nefastas até o momento, pois despertou os instintos rentistas dos políticos e tende a deformar as outras políticas setoriais, inclusive no próprio petróleo.
            Respondo à esta questão – Com o Pré-Sal, quais perspectivas se abrem para o Brasil na arena geopolítica global? pela negativa, por fatores puramente objetivos, e não com base nas minhas opiniões negativas quanto à “baixa política” governamental em relação ao pré-sal. O pré-sal NÃO vai transformar o Brasil em ator geopolítico relevante no terreno do petróleo, simplesmente porque existem muitas outras fontes mais baratas e acessíveis de petróleo e outros combustíveis fósseis, assim como de renováveis (inclusive no próprio Brasil, se as políticas corretas forem aplicadas, o que ainda não é o caso). Em primeiro lugar, seria preciso ver se o pré-sal é de fato real, o que depende não apenas da tecnologia – que existe mas pode ser difícil – mas basicamente dos mercados ofertantes de energia e de petróleo em particular: a AIE calcula que a extração do petróleo do pré-sal pode estar em torno de 80 dólares o barril (comparando: a média no Oriente Médio deve andar em torno de 12 a 15 dólares, sendo que em alguns lugares pode estar abaixo de 5; se fossemos extrair petróleo no Ártico, não seria possível a menos de 150 dólares). Ou seja, se o barril cair muito nos mercados internacionais, melhor deixar o petróleo do pré-sal onde está, dar até logo e esperar que o preço supere 100 dólares (será sorte do Brasil se ele se mantiver nessa faixa, o que é bastante provável, pois outros produtores, basicamente ditaduras petrolíferas e rentistas do petróleo, têm interesse que seja assim).
Mesmo que tudo dê certo, haverá muito pouco petróleo para fazer com que o Brasil altere radicalmente a balança mundial; o que houver de excedentário ao seu próprio consumo (que deve crescer bastante), será comercializado marginalmente nos mercados globais, pelas companhias que o estão explorando e pela Petrobras. Nada que altere a balança mundial energética, ou a “simples” geopolítica do petróleo. Aquela visão do Lula, do Brasil grande produtor, como sempre é megalomaníaca e não corresponde à realidade.

6. Como variaram, no tempo, as políticas externas brasileiras sob relações de interseção com as posições alcançadas pelo país em termos de suficiência energética? Que peso tiveram, em momentos mais expressivos dessa conexão, as peculiaridades do momento político doméstico vivido pelo país? (Vamos fazer uma linha do tempo com os dados assim levantados).

PRA: O Brasil teve políticas erráticas em relação ao petróleo, um pouco menos erráticas nas outras vertentes energéticas. No petróleo, perdemos muito tempo com bravatas nacionalistas que só nos atrasaram, na produção, na exploração, na comercialização, e sobretudo na distribuição interna, pois a Petrobras sempre foi politizada e usada pelos governos, seja num sentido econômico (como na era militar), seja num sentido baixamente fisiológico, como ocorre desde o início da gestão Lula. Quanto ela começou a funcionar corretamente, na gestão FHC – e sobretudo depois da aprovação da lei do petróleo e da ANP, em 1997 – e prometia grandes avanços nos dois terrenos (exploração e produção, ou seja, prospecção, extração e transformação em derivados, mas menos na comercialização, onde se manteve, infelizmente, o monopólio de fato da Petrobras), veio a nova gestão dos companheiros, que praticamente dinamitou, não apenas a Petrobras, mas boa parte da política energética, ambas submetidas a critérios políticos nefastos e indefensáveis.
            Além da politização da Petrobras, e sua utilização por máfias sindicais, ocorreu um desvio fundamental das políticas corretas anteriormente colocadas em vigor pelo governo FHC, ou seja, tratar a Petrobras – que nunca se cogitou de privatizar – como uma empresa comercial, e deixa-la aplicar critérios técnicos e comerciais em todos os aspectos de suas atividades. A gestão Lula foi negativa, chegando a cometer crimes econômicos, sob certos aspectos, contra Petrobras, contra a matriz energética do Brasil, contra os acionistas e contra o próprio Brasil. Um desastre completo, que está longe de ser corrigido, pois a nova lei aplicada ao pré-sal, de 2010 (ainda não totalmente em vigor, pois além de tudo também destruiu a federação, com o acirramento dos comportamentos rentistas em todos os governos estaduais e em todos os políticos), simplesmente desequilibra completamente uma estratégia racional para o petróleo e para outros combustíveis.
            Um dia vai se poder avaliar, racionalmente, todos os desastres e crimes econômicos cometidos pela gestão lulista nessa área. O Brasil ainda está muito dominado pela euforia nefasta do pré-sal, para que os dirigentes façam uma análise isenta dos equívocos cometidos. Alguns economistas, mas muito poucos, vêm apontando os erros perpetrados pelo governo, em praticamente todas as frentes (renováveis e fósseis), e continuam a ser praticados, sem que se tome consciência da má direção tomada pelo país. Se o Brasil tivesse continuado na lei de 1997 (que permanece, mas os leilões pararam, praticamente), teria conseguido royalties para o governo, sem riscos para a Petrobras, e sobretudo sem o caos legislativo e judiciário criado com a estatização do pré-sal pelo governo irresponsável do presidente Lula. Ou seja, os equívocos no tratamento do petróleo são gigantescos e talvez não sejam mais reversíveis, pois o governo, criminosamente, incitou no mais alto grau os instintos rentistas dos políticos, praticamente “distribuindo” royalties do pré-sal que talvez nem venham a existir, e criando um conflito distributivo entre os estados que não se resolverá sequer no Judiciário (STF). Um caos completo.
            No terreno dos renováveis, os erros não são menores, tanto em relação ao etanol (“afogado” pelo controle de preços criminoso aplicado aos derivados de petróleo), como em relação ao biodiesel. Aqui, o governo foi absolutamente estúpido, ao misturar matriz energética com problemas sociais, criando um programa de biodiesel de mamona a ser fornecido por “agricultura familiar”. Um outro desastre incomensurável, que eliminou o Brasil do mapa dos biocombustíveis, aparentemente tão promissor antes dos desastres cometidos pelo governo Lula. Neste terreno, como em diversos outros, ainda falta fazer a história real, verdadeira, dos equívocos cometidos pelo governo Lula em diversas frentes: na produção, na comercialização, nos estímulos setoriais, no tratamento do capital privado e dos investimentos estrangeiros: ele não acertou uma única vez, errou em todas...

7. O Brasil tem hoje um governo que se pode chamar de esquerda e democrático (como já era com Lula).  É um governo que se relaciona bem, no continente, com governos radicais de esquerda, esquerdistas progressistas, e de centro-direita. É considerado pelos Estados Unidos uma potência sub-regional e um aliado de primeira importância. É membro do G-20. Com o Pré-Sal, o Brasil caminha para tornar-se um exportador líquido de energia, e poderá ganhar níveis invejáveis em matéria de segurança energética. Que importância essa posição de quase-independência tem hoje, em termos geopolíticos? Que importância poderá ter, no futuro, a possível independência plena?

PRA: O governo é de esquerda, certamente, mas de uma esquerda atrasada, estatizante, centralizadora, populista e demagógica, quando existem outros governos de esquerda, no mundo, abertos, reformistas, racionais em economia e dotados de uma visão econômica moderna, receptiva a investimentos estrangeiros e sem muita demagogia populista (no Chile, por exemplo, ou no Uruguai, e em vários países europeus). O governo certamente não é democrático, ainda que não possa implantar um regime autoritário, mas é dominado por um partido neobolchevique que faz de tudo para eliminar as oposições, controlar a imprensa e impor o controle do Estado sobre praticamente todos os setores da vida pública. A bem da verdade, o partido hegemônico e seu governo possuem tendências fascistas, que se revela justamente nessa tentativa de colocar sob o controle do Estado a vida de todas as empresas e de todos cidadãos, e que trata os mais pobres como massa de manobra.
            Quanto ao ambiente externo, se pode dizer que o governo tem tendência a apoiar todas as ditaduras supostamente esquerdistas, como governos autoritários de modo geral, e age com uma grande motivação contra o que ele chama de países hegemônicos, ou seja, as grandes democracia de mercado. Não se deve tomar discursos diplomáticos – como essa expressão usada e abusada de “parceiros estratégicos” – pelo seu valor face, pois existe muita hipocrisia nessas proclamações; se formos julgar pelos discursos, o Brasil tem “parceiros estratégicos” em todos os continentes, e eles são tão mais estratégicos quanto menos “hegemônicos” forem, ou seja, antiocidentais e anti-Estados Unidos. Esta é uma realidade fática, que pode ser comprovada por diversas iniciativas e proclamações do governo atual, não se trata de uma opinião. Basta ler nas entrelinhas e ver as ações reais.
            Quanto às perguntas, respondo topicamente:
            (a) Com o Pré-Sal, o Brasil caminha para tornar-se um exportador líquido de energia, e poderá ganhar níveis invejáveis em matéria de segurança energética.
            PRA: Não é seguro que o Brasil se torne um exportador líquido de petróleo, e se isso se confirmar, será marginal no mercado mundial, ainda que possa trazer divisas para o Brasil. Creio que haverá um equilíbrio entre consumo e produção com o pré-sal, e os movimentos de comércio exterior nessa área vão depender da capacidade industrial de refino e novas explorações.
(b) Que importância essa posição de quase-independência tem hoje, em termos geopolíticos?
PRA: Quase nenhuma no plano mundial, apenas tornar o Brasil menos dependente de petróleo importado, mas isso não é em si relevante, pois o petróleo é uma commodity amplamente comercializável nos mercados livres, sem qualquer problema de acesso aos demandantes. Basta ter renda, e renda se consegue exportando quaisquer outros produtos.
(c) Que importância poderá ter, no futuro, a possível independência plena?
PRA: Não existe independência plena no campo da energia. Nenhum país e totalmente independente, e isso se aplica inclusive e principalmente ao petróleo. Mesmo os países produtores e exportadores de petróleo são em geral dependentes da importação de derivados e, como se disse, o petróleo é, e pode ser, fonte de problemas enormes, como a distorção da economia, e algumas “maldições” não desejadas. Não é seguro que o Brasil (pelo menos no governo atual) consiga desenvolver um modelo “norueguês” de exploração racional do petróleo e de utilização de seus royalties. O que é seguro, até aqui, é que o governo Lula conseguiu piorar amplamente o ambiente geral do Brasil para a exploração racional desse produto estratégico, deteriorando amplamente o quadro institucional e as relações federativas. Em relação à Petrobras, os desastres são visíveis.

8. Talvez essa independência coincida com a dos Estados Unidos, a julgar pelo otimismo com que vem sendo saudada a descoberta de importantes jazidas de óleo e gás de xisto naquele país e possibilidades de sua extração. Quais efeitos poderia ter essa coincidência (se ocorrer) para o fator ‘energia’ na equação geopolítica brasileira?

PRA: Qualquer que seja a evolução energética, pelos seus vetores, nos EUA, parece que o país está motivado para diminuir sua dependência de fontes externas, fósseis e renováveis, e pode conseguir, parcialmente. Isso significa que o Brasil perdeu e está perdendo oportunidades, por cegueira econômica e miopia ideológica, de desenvolver políticas de cooperação com esse gigante econômico, sobretudo em razão da estatização irracional, demagógica, totalmente política, desse setor. O Brasil, como já dizia Roberto Campos, é um país que não perde oportunidade de perder oportunidades. Pois perdeu também no petróleo e nos renováveis, com os EUA, e com os investidores estrangeiros de modo geral. Só estamos tendo relacionamento com estatais de países autoritários, que não tem o critério do lucro como básico, como é o caso de alguns investidores no campo de Libra.

9. A independência americana pode ser mais difícil de ocorrer do que a brasileira: a extração de óleo e gás de xisto ainda apresenta dificuldades técnicas e traria acréscimos apenas graduais à produção, e as jazidas em águas profundas também não seriam facilmente alcançáveis. Quais as possibilidades de o Brasil ganhar essa corrida e com quais consequências geopolíticas, no continente, nas relações com os Estados Unidos e no plano global?

PRA: O conceito de corrida é totalmente inadequado neste terreno, só se for uma corrida contra si mesmo, pois cada país tem recursos naturais e dotações tecnológicas (e sobretudo humanas) muito diferentes, que precisam ser mobilizadas para obter o melhor retorno possível das oportunidades existentes dentro e FORA do país. No que concerne uma corrida para melhorar ainda mais nossa matriz energética, o Brasil, infelizmente, está perdendo a corrida contra consigo mesmo: temos um governo sem condições financeiras, técnicas, de gestão e sem visão para impulsionar as diversas vertentes da matriz; o governo tem aversão ao capital privado, sobretudo estrangeiro, e com isso perde enormes chances de desenvolver as diversas frentes; o Brasil é errático nas suas políticas de preços (na verdade, ele é controlador, o que é mortal para qualquer setor econômico), nas tecnologias, no equilíbrio das diversas fontes, e se mostra refém dos malthusianos ecológico-românticos; o governo é estúpido na gestão dos renováveis, pois mistura problemas sociais (camponeses pobres, que supostamente cultivariam mamona) com a matriz energética; o governo foi criminoso na condução do assunto do pré-sal, pois criou uma querela monumental entre os estados, que não vai ser resolvida sequer no STF. Ou seja, o governo, até aqui, só errou, e está perdendo a corrida consigo mesmo, e de todos os demais países.

10. Como a China entraria na equação geopolítica brasileira? (o governo brasileiro considera diferentes hipóteses para as relações com a China na área de energia; no caso do Pré-Sal, as estatais chinesas poderão entrar com força relevante para a Petrobras financiar sua participação na exploração, em troca de fornecimento de petróleo).

PRA: Um governo estatizante como o atual governo brasileiro pode se dar muito bem com a China, em detrimento de uma política mais inteligente de exploração de seus recursos. A China precisa, necessita absolutamente de segurança energética, basicamente petróleo, pois ainda tem muito carvão e está desenvolvendo energias renováveis e nuclear. O Brasil entra como fornecedor, e a China como financiador, ou seja, uma relação desequilibrada e que só convém aos chineses. Como a China tem muitos recursos financeiros, a Petrobras vai ser mantida nessa relação esquizofrênica criada pelo próprio governo.

11. O modelo brasileiro de regras para a exploração das jazidas do Pré-Sal tem forte viés estatal. Como se deve interpretar essa opção -- a escolha, em si mesma e no contexto de perspectivas atuais e futuras de interinfluências geopolíticas do Brasil com as principais economias do mundo, de um lado, e outras economias latino-americanas? (as ‘bolivarianas’ do Sul e o México, ao norte) É um modelo que veio para ficar, ou poderá ser modificado no futuro, caso se constatem falhas de eficácia?

PRA: As políticas atuais brasileiras para o pré-sal são totalmente irracionais, e já criaram prejuízos irreparáveis, além de um enorme custo para o país. Um governo racional, se por acaso tiver futuro no país, deveria simplesmente eliminar toda a legislação do pré-sal e retornar ao regime de 1997. Parece que algumas decisões já tomadas vão continuar criando problemas, mesmo se um retorno como esse viesse ocorrer. Infelizmente, o governo Lula fez um enorme mal ao Brasil em todas as áreas energéticas em que tocou: foi um Midas ao contrário. A ineficácia da política já foi colocada: estão “leiloando” royalties entre políticos muitos anos antes de existir qualquer rótulo. Uma das piores maldições que pode ocorrer numa política desse tipo são os mais baixos instintos rentistas entre os políticos, além de uma deformação da área energética do país, sem falar da própria indústria, desviada para essa maldição concentradora de recursos. O Brasil estaria muito melhor sem o pré-sal, e isso por razões políticas mas também econômicas.

12. O modelo brasileiro de abertura da exploração do petróleo à participação estrangeira parece voltado mais para a garantia de fornecimento do que para a oferta de atrativos de retorno (lucratividade), como no caso das estatais chinesas que manifestaram interesse pelo leilão de Libra. Considerando-se também os termos regulatórios dessa participação, tem-se um modelo marcadamente ‘estatal’. Que importância terão os resultados (bons ou maus) da adoção desse viés, digamos, menos ‘privatista’ para a afirmação da presença política brasileira no G-20?

PRA: A tendência é a consolidação do ogro estatal no setor energético, concentrando recursos, benefícios, favores, enfim, distorcendo um pouco mais a economia brasileira, em geral, e o setor de petróleo em particular. Isso não tem absolutamente nada a ver com o G20, a não ser muito indiretamente. O G20 é um grupo informal de diálogo sobre questões financeiras e monetárias – e por extensão de outras questões econômicas também, embora pretenda se meter um pouco em todos os assuntos – mas ele não tem qualquer poder sobre as políticas nacionais dos seus integrantes. A imagem que o Brasil consolida no G20, em todo caso, é a de um país estatizante, refratário à abertura econômica, pouco propenso a uma política de acolhimento de investimentos privados estrangeiros e praticando um tipo de nacionalismo econômico ultrapassado nas condições de interdependência mundial atual.

13. Em que medida as grandes empresas de energia de capital privado, elas mesmas, têm poder de influenciar, com suas decisões estratégicas (e probabilíssimos lobbies, os movimentos de governos no xadrez geopolítico? E as grandes estatais asiáticas, especialmente as chinesas?

PRA: Pergunta impossível de ser respondida em geral e no abstrato. Companhias de energia podem ser mais ou menos influenciáveis pelos governos, mas nem sempre. Por exemplo: se o governo americano desejasse, realmente, estrangular o governo de Hugo Chávez (e do seu sucessor), há muito tempo teria decretado o final da importação de petróleo venezuelano, e sua substituição por outras fontes. Por que não o fez, por que não o faz? Por que o governo americano não é ditatorial e não pode determinar sozinho as políticas de importação de petróleo. A despeito de controlar uma enorme reserva estratégica de petróleo, o governo americano não possui nenhuma companhia estatal de petróleo, e são as companhias privadas que exploram, produzem derivados, importam, comercializam todo o setor. Companhias estatais de petróleo podem ter uma gestão mais comercial – em alguns emirados e monarquias árabes, por exemplo – ou ser inteiramente submetidas à gestão política do governo, como parece ser o caso com as chinesas e outras estatais em petro-ditaduras. Outros países podem ser ditaduras petrolíferas mesmo sem ter companhias estatais, como alguns da ex-URSS. Ou seja, o cenário é muito diverso para se ter um retrato uniforme de como são tomadas certas decisões nos diferentes atores relevantes.

14. Com a entrada no mercado de outras fontes de energia abundante, como o óleo e o gás de xisto  americanos, o petróleo vai perdendo importância estratégica, o que também ajudaria a explicar a perda de atratividade do Pré-Sal. Mas o Brasil pode se tornar bastante “forte” na produção de biocombustíveis. Em que medida essa possível vantagem estratégica específica pesaria na balança, a favor da preservação, ou mesmo aumento, da presença geopolítica brasileira no cenário internacional?

PRA: Não existem cenários fiáveis em nenhum terreno – mesmo nas teorias fantasiosas do “pico do petróleo”, jamais alcançado e ninguém sabe onde está – e mesmo nos renováveis o futuro é muito incerto, pois muito depende de políticas de governo, que costumam ser erráticas, quando não prejudiciais ao próprio país, quando preconceitos e ideologia tomam conta do espaço que deveria estar reservado a análises técnicas por especialistas. Por exemplo, o pré-sal brasileiro pode ser considerado um desastre completo pelas políticas erradas do governo, mas também o setor de renováveis foi submetido a políticas da mesma forma equivocadas. A decisão alemã de excluir completamente o vetor nuclear pode ser considerada igualmente uma decisão irracional e de alto custo para o país.
            O Brasil, de fato, poderia se tornar, em 500 anos de história econômica concentrada na produção de produtos de “sobremesa”: açúcar, café, cacau, etc. – um país relevante no futuro mercado de renováveis, não tanto pela oferta de bens, mas de tecnologia, e de know-how do setor, para produção na América Latina, na África e em outros países de perfil similar ao Brasil. Mas até aqui as políticas foram também equivocadas. Pode ser que no futuro, um governo menos irracional venha a colocar um pouco de ordem e de critérios exclusivamente técnicos e econômicos num setor importante.

15. As relações internacionais guiam-se, em grande medida, por expectativas. A quais alturas a soma de potencialidades em petróleo e em biocombustíveis poderá elevar a influência brasileira no cenário global e com quais efeitos sobre a capacidade de o país formular políticas públicas (para uso doméstico) com acréscimos de autonomia decisória?

PRA: O Brasil é um país que frustra expectativas, não apenas do seu próprio povo, mas também de parceiros estrangeiros, que certamente gostariam de vender tecnologia, comprar produtos brasileiros (renováveis, por exemplo), se associar a investimentos produtivos neste país de imensos recursos naturais hoje escassamente explorados. Tudo depende de políticas corretas de governo, o que até agora se revelou totalmente frustrante. Não acredito que o Brasil tenha grandes perspectivas na geopolítica mundial do petróleo; no máximo terá uma grande fonte para seu próprio consumo, e interagirá com os investidores estrangeiros nessa área de prospecção, exploração e produção interna de derivados (se o monopólio de fato da Petrobras for rompido, o que é um enorme problema para nós mesmos). Mas sua participação nos mercados mundiais de petróleo continuará marginal, ainda que possa ter grande expressão numérica: grandes negócios, certamente, mas nenhuma revolução geopolítica nessa área.
            Onde o Brasil poderia fazer diferença seria nos renováveis, mas até aqui, as políticas foram erráticas, e até retrocedemos nesse terreno. Importar etanol de milho subsidiado dos EUA é um exemplo perfeito da estupidez econômica do governo Lula no terreno dos renováveis. Fazer biodiesel com mamona de camponês pobre é outra estupidez econômica que não tem tamanho. Enfim, o governo Lula colecionou diversas estupidezes econômicas ao longo dos dez últimos anos, e infelizmente as mesmas bobagens continuam a ser cometidas no governo sucessor. Além dos vários crimes econômicos, a estatização ampliada do setor é a outra grande estupidez que continua ser praticada pelos governos petistas. Não se sabe quando, e se, essas estupidezes serão corrigidas. Mas enquanto não forem o Brasil continuará patinando, senão retrocedendo, no petróleo e nos renováveis.

Uma sub-retranca
Em quais detalhes as condições brasileiras (dadas nos leilões) diferem das condições de parceria oferecidas por outros grandes produtores a investidores estrangeiros (privados ou estatais)? Ou seja: como estão definidas as políticas para a abertura do setor de petróleo à participação estrangeira? Por quais razões foram definidas com estes ou aqueles principais traços? Com quais eventuais influências de condições ditadas por possíveis investidores e/ou práticas consagradas de mercado? Com quais efeitos sobre o ânimo dos investidores e suas decisões?

PRA: O modelo brasileiro é um híbrido, mas registre-se que no setor do petróleo existem muitos regimes diferentes, pois cada governo tem suas possibilidades e preferências. De maneira geral, quanto mais democrático e avançado for o país, mais livres, mais abertos, mais comercialmente orientados, mais tecnicamente fundamentados e mais amigáveis aos investimentos privados são e serão os regimes aplicados ao petróleo; quanto mais ditatorial for o governo, ou mais “subdesenvolvido”, mais irracional, mais rentista, prejudicial ao país e ao povo será o setor, com as diversas “maldições” do petróleo se acumulando. O Brasil fica entre os dois extremos: não é uma ditadura (mas o governo atual gostaria de ter uma no setor do petróleo, confirmando as piores expectativas rentistas dos políticos em geral e desses políticos em particular), e tampouco é uma perfeita democracia avançada, pois existe um enorme predomínio do Executivo na determinação das políticas do setor, uma vez que o congresso ou é inerme, ou desenvolve, justamente, os comportamentos rentistas mais deploráveis já vistos na história econômica do país.
            Uma prova de quão errado está o governo foi dado pelo leilão de Libra: poucas grandes empresas sérias se apresentaram, tal a confusão criada pelo governo quanto às condições reais de exploração. Reina no setor uma completa insegurança jurídica, além das incertezas tecnológicas e quanto à própria “rentabilidade” do petróleo do pré-sal. Como se suspeita: se o preço internacional não for muito alto, melhor deixar o petróleo no fundo do mar e esquecer.
Seria bem melhor para o Brasil se seus dirigentes se ocupassem de questões reais, como o estado deplorável da educação, por exemplo. Essa é a verdadeira “mercadoria” estratégica: educação de qualidade. O Brasil só precisa disso para ser grande. E, claro, precisaria dispor de elites mais esclarecidas, para que se possa ter governos minimamente racionais, o que parece não ser o caso atualmente.

Paulo Roberto de Almeida
Princeton, New Jersey, 8 de outubro de 2013.