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quinta-feira, 31 de julho de 2014

O Fim do Brasil? (quase, se depender dos companheiros) - Felipe Miranda (sem censura)

O Fim do Brasil? (cosi è, si vi pare...)
Uma análise do consultor de investimentos Felipe Miranda
Disponível em sua íntegra neste link: http://www.empiricus.com.br/o-fim-do-brasil-5/

(Minha introdução, PRA:)
Poucas semanas atrás, o consultor de negócios totalmente privado, totalmente livre, sem qualquer vínculo com o governo, candidatos, partidos políticos – o que não exclui que ele possa ter simpatia por alguns e antipatia por outros – publicou uma longa análise, duplicada com autopropaganda – claro, para incentivar os seus negócios – que tinha esse título relativamente catastrófico e apocalíptico.


Para confirmar a seriedade de seus dizeres, ele não deixava de fazer um alerta preliminar aos seus eventuais leitores, que tampouco se poderia dizer isento de apelação para algum desastre iminente. Eis aqui o que ele dizia, ao início:
ALERTA: O que você vai ler nas próximas linhas é polêmico e revelador. O texto pode ser ofensivo a determinadas audiências. Recomenda-se discrição na leitura.
Bem, apesar de eu me interessar por negócios, finanças, investimentos, não tenho absolutamente nada a ver com a prática de tudo isso, sendo apenas um observador conceitual desses fenômenos.
Mas, o que mais me interessa nesse “negócio” é que, assim que essa postagem começou a fazer sucesso, o governo resolveu interferir, e conseguiu liminares de juízes – que não hesito em classificar de idiotas inconstitucionais – impedindo o Felipe Miranda de divulgar dois de seus materiais na internet. Não sei sequer quais são, e o que me revolta, justamente, é a censura, o autoritarismo, a intolerância com opiniões alheias.
Não concordo com tudo o que diz esse analista, mas o fato é que ele vem justamente apoiado em fatos, e esses podem não ser do agrado de muita gente, mas são fatos.
Como o governo está em campanha contra o analista, e colocou toda a sua máquina totalitária contra um simples indivíduo, eu que sou um simples amigo da liberdade e inimigo de todos os totalitarismos, resolvi contrariar os esbirros do governo e colocar aqui, à disposição de todos os leitores, uma versão resumida da postagem alarmista desse consultor censurado.
Volto a dizer: quem quiser ler o texto integral, tem de ir ao link original (http://www.empiricus.com.br/o-fim-do-brasil-5/); o que vai abaixo é um resumo pessoal de um documento importante. Atenho-me aos fatos.
Paulo Roberto de Almeida 

O Fim do Brasil?
Olá. Meu nome é Felipe Miranda.
Há quase cinco anos, eu fundei, (...) a Empiricus Research, (...) casa de pesquisa independente voltada a investimentos do Brasil. (...)
Aqui cito apenas exemplos mais contundentes. Poderia perder um tempo enorme na lista de acertos. Mas eu não escrevo este texto para isso. (...)Só por isso eu tenho dedicado uma enormidade de tempo e dinheiro nos últimos meses preparando este material.
Em resumo, quero falar de um evento específico cuja ocorrência deve se dar num futuro bastante próximo, com implicações pronunciadas sobre as finanças de cada brasileiro e, até mesmo, sobre nosso modo de vida.
Esta esperada crise encontra suas raízes no colapso do sistema financeiro de 2008, cujo ápice é marcado pela quebra do centenário banco norte-americano Lehman Brothers e pelo consequente caos em Wall Street. Para tentar neutralizar impactos do tsunami externo por aqui, o Brasil abandonou os pilares tradicionais de política econômica e seguiu uma série de medidas heterodoxas, com implicações trágicas, conforme será visto um pouco à frente.
Para nosso caso, os problemas a ser vistos nos próximos meses serão muito piores do que os vivenciados em 2008. Se houve quem classificasse a crise de seis anos atrás como uma marolinha para o Brasil, desta vez não existirá espaço para qualquer metáfora parecida. Isso ficará claro em alguns minutos.
Adiantando um pouco, (...) teremos disparada da inflação, aumento destacado do desemprego, interrupção do crédito, maior endividamento da população e grande salto do dólar.
Acredite: o argumento aqui, conforme ficará evidente, é estritamente técnico. Não faço uma projeção sequer sem o devido embasamento, tampouco tenho a pretensão de assustar o leitor. (...)
Fiz toda minha carreira profissional como analista de investimentos, para, então, fundar a Empiricus. Jamais colocaria uma vida construída sob os pilares da ética, do amor ao trabalho e da dedicação por conta de uma simples tese catastrofista.
Tudo que faço aqui é levar meu esforço de pesquisa dos últimos meses a uma conclusão lógica. (...)
Por conta disso, antes de prosseguir com a leitura, faço um alerta a você:
As palavras a serem ditas aqui gerarão polêmica. Elas podem ofender bastante gente. Esquerdistas, direitas, petistas, tucanos e qualquer outra classificação semelhante. Com efeito, eu já recebi uma enxurrada de emails de ódio sobre minha tese.
Reconheço que, a princípio, as ideias e soluções a serem apresentadas podem parecer radicais. Talvez até mesmo antipatrióticas. (...)
Tenha um pouco mais de paciência. Respondo com o pedido de que prossiga até o final da argumentação. E lembre-se: (...)
Os exatos mesmos problemas antes identificados para as empresas acima ou para nossa taxa de câmbio agora ameaçam a economia brasileira como um todo. Vou explicar exatamente como chegamos até aqui. Ficará claro como falamos de algo importante e crítico para você e para cada brasileiro.
A próxima fase desta crise vai afetar cada ponto de nosso modo de vida.
A poupança de milhões de pessoas será dizimada. A mudança vai afetar seus negócios e seu emprego. Veremos impactos dramáticos sobre as poupanças, os investimentos e as aposentadorias. (...)
Economia não admite experiências de laboratório. Erros cobram seu preço e as consequências são grandes. (...)
Deixe-me dar um passo atrás e mostrar, nos termos mais simples possíveis, o que está acontecendo, o porquê de tamanha preocupação e qual é meu prognóstico para os próximos 12 meses…
O Maior Problema desde o Início do Plano Real
Eu acredito que nós, como brasileiros, estamos prestes a observar um verdadeiro colapso no nosso sistema econômico, com desdobramentos relevantes sobre o cotidiano de cada cidadão.
Basicamente, há cerca de cinco anos, o Governo brasileiro mudou dramaticamente sua política econômica. Passamos a desafiar décadas de um conhecimento acumulado e consolidado em macroeconomia. Abandonamos o pilar ortodoxo para nos render à maior intervenção do Estado na Economia, a uma economia pautada no assistencialismo e ao estímulo excessivo ao consumo.
Qual o resultado? Falência das contas públicas e impossibilidade das famílias continuarem aumentando o consumo nesta velocidade. (...)
O Brasil (...) tem queimado caixa de maneira sistemática. O total de suas despesas supera suas receitas. Pior ainda, a diferença em desfavor das receitas tem aumentado. O déficit nominal brasileiro, que mede esta relação, mira os 4% ao ano e as contas públicas tiveram em maio seu pior resultado da história, mesmo com uma contabilidade nacional bastante criativa e uma porção de receitas extraordinárias.
A sustentabilidade das contas do Estado brasileiro está em risco, como fruto de uma política deliberada de aumento dos gastos públicos.
Os empresários não confiam mais no Brasil e veem seu espaço ocupado pelo setor público. Há, inclusive, um termo técnico para isso: crowding-out.
Sem confiança, os empresários simplesmente não investem. É aquilo que se convencionou chamar de “espírito animal dos empresários”. A relação Investimento sobre PIB, que nunca foi uma maravilha, vem caindo de maneira consistente: depois de atingir o ápice de 19,5% no fim de 2010, recuou para apenas 18,1%.
Somente essa variação impõe impacto negativo da ordem de 0,5% na capacidade de crescimento do PIB.
Breve pausa para reflexão: há certo consenso entre os mais competentes economistas de que a variável-chave para o crescimento sustentável e de longo prazo, sem inflação, é o investimento. Isso porque, ao investir, o empresário aumenta sua capacidade produtiva à frente e pode responder a aumentos da demanda oferecendo mais produtos. Caso contrário, ou seja, sem investimentos, só pode responder com aumentos de preço.
Agora, pasmem!
Perguntada recentemente sobre as razões para o Brasil não crescer, a presidente Dilma respondeu da seguinte forma: “Eu não sei”.
Se não temos um diagnóstico, como poderemos sequer considerar um bom prognóstico?
Isso é absolutamente inacreditável, não é mesmo? (...)
Talvez você discorde sobre o quão ruim está a situação da economia brasileira. Eu respeito sua opinião. Peço, porém, que considere os seguintes pontos – todos os dez elementos estritamente factuais:
1 - O crescimento médio do PIB no governo Dilma, se confirmadas as projeções de consenso para 2014, deve ser de 1,8% ao ano. Veja: esse é o pior resultado desde o governo Collor. Temos a primeira evidência empírica e incontestável de que retornamos a   condições anteriores a 1994. O gráfico abaixo resume a evolução recente da economia brasileira:

Há ainda de se pontuar que minha projeção de 1,3% para crescimento da economia brasileira em 2014 está entre as mais otimistas.
O Banco Santander, por exemplo, já estima evolução de apenas 0,9% neste ano, enquanto o brilhante economista Affonso Celso Pastore sugere pífio crescimento de 1% em 2014 – e de, acreditem, 0,8% em 2015.
“Mas este crescimento mais baixo desde a Era Collor não é resultado de uma conjuntura internacional desfavorável?”
A simples observação da imagem abaixo comprova a resposta negativa. O gráfico compara a evolução do PIB brasileiro nos governos Dilma, Lula, FHC, Itamar e Collor, contextualizando com o resto do mundo, os países emergentes/pobres e nossos vizinhos latino-americanos. Eis o resultado:

Até 2013, mesmo sem considerar o resultado pífio previsto para este ano, observamos o crescimento mais baixo desde a Era Collor.
2 - A inflação tem sido persistentemente alta e acima do centro da meta, de 4,5% ao ano. Simplesmente, temos ignorado esses 4,5% e observado, de maneira sistemática, uma inflação beirando o teto da meta.
A imagem abaixo ilustra bem o argumento:

Mas isso não é o pior.
As estimativas para a inflação oficial de 2014, conforme levantamento do próprio Banco Central junto a agentes de mercado, rondam exatamente os 6,50%, teto da meta. E até mesmo o Relatório Trimestral de Inflação, do nosso BC, projeta 6,40% para este ano, colado nos 6,50%.
Isso é particularmente problemático porque corremos um risco grande de estourar o intervalo da meta, ferindo a credibilidade do Banco Central e impondo um custo alto à sociedade.
A rigor, em 12 meses, já estamos acima da meta. No intervalo encerrado em junho, a inflação foi de 6,52%.
Para 2015, a situação não é muito diferente. A mediana das projeções dos economistas também aponta inflação próxima a 6,50%.
Não custa lembrar: o trabalhador é quem mais sente os efeitos negativos da inflação, ao ter o poder de compra de seu salário corroído pela escalada dos preços. 
Sim, há coisas ainda mais desagradáveis a respeito da inflação. Já teríamos estourado o teto da meta não fosse pelo controle de preços. Ou seja, estamos artificialmente maquiando a inflação, ao represar alguns preços, com exemplos mais claros nos setores de energia e combustíveis.
Sem desonerações, a inflação ronda 8,50% ao ano.
O próprio governo admite controlar preços, sem nenhum tipo de constrangimento. Em entrevista à Folha de S. Paulo em 14 de maio, o ministro Mercadante reconheceu que o governo controla preços de combustíveis e energia elétrica.
O represamento de preços tem consequências conhecidas e desastrosas, como sugestão de maior inflação futura, desalinhamento de preços relativos e destruição de determinados setores. (...)
Quando todos achávamos que havíamos consolidado a política de combate à inflação, passamos a cometer erros triviais, com impactos gigantescos sobre a sociedade. Nem sequer estamos sendo criativos. Tivemos a proeza de resgatar erros antigos e com consequências conhecidas.
Esses dois primeiros pontos já seriam suficientes para provarmos o argumento do quão grave é o problema atual. Combinamos simplesmente baixíssimo crescimento econômico e inflação alta.
Temos, portanto, o mais negativo dos mundos, a chamada estagflação.
Mas, calma. Há coisas graves ainda pela frente, capazes de reforçar o prognóstico de algo simplesmente catastrófico para os próximos 12 meses. Falamos de inflação que pode chegar a 15% ao ano, forte redução do poder de compra, aumento do desemprego para 10% e interrupção súbita do crédito, com consequente dificuldade das famílias em arcar com suas obrigações financeiras.
Estamos prestes a observar concreta mudança em nosso cotidiano. Precisamos nos blindar. (...)
3 - As contas públicas estão completamente desajustadas, de tal sorte que o Governo brasileiro vai, em breve, encontrar grandes dificuldades para se financiar. Ou seja, as taxas de juro devem subir com vigor, impactando fortemente o orçamento das famílias e a capacidade de crédito.
Não há como brigar contra os fatos. Vemos uma clara deterioração das contas públicas brasileiras.
Nossa economia para pagar dívida e juros, o chamado superávit primário, foi, na média, de 3,1% do PIB no intervalo de 2001 a 2008, sem considerar aqui receita de dividendos e concessões.
Considerando agora o intervalo de 2009 a 2013, esse percentual caiu para 1,5% do PIB. Para 2014, devemos terminar com menos de 1% do PIB, algo que é, obviamente, insuficiente para estabilizar dívida bruta ou líquida.

Isso sem nenhum incremento significativo do investimento público. O que tem aumentado é o consumo do governo – esta métrica bateu 22% do PIB, o nível mais alto da série histórica iniciada em 1995.
Mais uma proeza notável ao Brasil: somos um dos poucos países do mundo em que essa variável supera o investimento.
4 - O resultado de nossas relações com o resto do mundo, que já era péssimo, fica cada vez pior. O chamado déficit em transações correntes, medida do saldo de nossas contas com o exterior sem considerar as movimentações de capital, vem crescendo sistematicamente e atinge níveis preocupantes.
Em maio, o déficit brasileiro em conta corrente montou a US$ 6,635 bilhões, o mais alto para um mês de maio em toda a série histórica.
O desempenho é inclusive pior do que projetado pelo próprio BC, em US$ 6 bilhões. Soma-se ao já delicado resultado apresentado até abril, conforme demonstrado por gráfico abaixo:

Qual o problema disso?
Para que não haja saída líquida de dólares do Brasil e perda de reservas internacionais, precisamos da entrada de moeda estrangeira por meio da conta de capital.
Por sua vez, a conta de capital possui, grosso modo, duas subdivisões: i) Investimento Estrangeiro Direto (IED); e ii) Investimentos de portfólio.
O ponto nevrálgico aqui é que o IED está inferior ao déficit em conta corrente. Portanto, para fechar nosso balanço com o resto do mundo, estamos dependendo do investimento em portfólio, que é muito volátil e sensível à menor das mudanças das condições da economia mundial.
Por enquanto, com o Brasil oferecendo um juro estratosférico e os Bancos Centrais mundiais mantendo juro zero, parece não haver grande problema.
Mas a situação está próxima de mudar. O Banco Central norte-americano deve começar a subir sua taxa de juro em 2015, voltando a atrair recursos para os títulos dos EUA hoje presentes nos mercados emergentes.
Neste momento, vai faltar dólar no Brasil. Teremos uma disparada da taxa de câmbio, com impactos diretos sobre a inflação, sobre os importadores e sobre as empresas com dívida em dólar.
Peço a devida atenção a este ponto. Em resposta à crise, o Banco Central dos EUA injetou uma quantidade cavalar de dólares no mercado. Conforme mostra o gráfico abaixo, os ativos totais do Fed saíram de US$ 869 bilhões em agosto de 2007 para US$ 4,3 trilhões em junho de 2014.

Ou seja, para voltar à normalidade histórica, o Banco Central norte-americano precisa retirar cerca de US$ 3,5 trilhões do sistema. As condições de liquidez vão mudar dramaticamente a partir de 2015.
5 - O mercado de trabalho se enfraquece em ritmo assustador. 
A criação líquida de postos de trabalho em maio foi de 58.836, segundo dados do Caged. Trata-se do pior mês de maio desde 1992. Estamos com novo argumento de situação sem precedentes desde o Plano Real.
Isso não é coincidência.
Por que o desemprego, então, ainda não aumentou?
Simplesmente, por uma questão de forma de se medir. Só é considerado desempregado quem está procurando emprego, mas não encontra.
O desemprego não aumenta simplesmente porque as pessoas têm desistido de procurar emprego.
Tomo a liberdade de emprestar argumento do excepcional economista Alexandre Schwartsman para o fechamento do primeiro trimestre: a População em Idade Ativa cresce entre 1% e 1,5% ao ano (1,3% no trimestre em questão), enquanto a geração líquida de empregos foi próxima a zero.
Trocando em miúdos, só há redução da taxa de desemprego porque parcela da população simplesmente desistiu do mercado de trabalho, e não se pode atribuir o pleno emprego à competência da gestão pública.
6 - Estamos à beira do apagão.
Os analistas do banco Brasil Plural escreveram relatório recentemente apontando uma pequena chance de 100% de racionamento de energia ainda em 2014. De acordo com eles, o nível dos reservatórios chegará a 10% em novembro, a se manter o atual ritmo.
Isso é extremamente preocupante.
Para usar as palavras dos próprios analistas, “há um elefante político que não pode ser ignorado.”
Sejamos justos aqui. Há um único culpado para o nível tão baixo dos atuais reservatórios: São Pedro. Realmente, choveu muito pouco e ninguém detém controle sobre isso. Ponto final.
Agora, a falta de planejamento, a concentração da matriz energética e o impedimento ao aumento da capacidade de oferta de energia é culpa total e irrestrita do Governo.
Em setembro de 2012, foi anunciada a famosa MP 579, que alterou as regras para concessões de energia, com o objetivo de reduzir as tarifas de eletricidade – de novo, o tal controle de preços.
A medida destruiu a rentabilidade de empresas de energia, adicionou incerteza jurídica ao  marco regulatório do setor e, portanto, afastou iniciativas em prol de novos investimentos.
Além disso, desrespeitou contratos existentes.
O exemplo de Cemig é emblemático. A companhia tinha concessões vencendo em 2015, com renovação automática prevista para mais 20 anos, conforme definido em contrato inicial.
Quando se fala em renovação automática de qualquer contrato, supõe-se, obviamente, preservação das mesmas condições iniciais.
Então, veio a MP 579 propondo condições completamente diferentes para a renovação das concessões, ferindo com clareza o pressuposto de “automática”.
O resultado foi a devolução, pela Cemig, das usinas de São Simão, Jaguara e Miranda, por não aceitar a aplicação das novas regras.
Ou há uma nova definição para o conceito de renovação automática ou houve quebra de contrato.
7 - A Petrobras foi simplesmente destruída.
O gráfico abaixo apresenta a evolução das ações da Petrobras nos últimos cinco anos. Ele fala por si só:

De uma máxima de R$ 40,00, as ações chegaram à mínima de R$ 12,57.
O patrimônio nacional sendo simplesmente reduzido a 1/3 de seu valor. Quem tinha R$ 40 mil em ações da Petrobras chegou à mínima de R$ 12.570.
Além de ser historicamente motivo de orgulho, Petrobras tem em sua base de acionistas milhares de brasileiros, de forma direta ou através da aplicação de seu FGTS.
Estamos mexendo com a poupança do cidadão comum.
Chegamos a essa situação simplesmente porque a empresa tem o preço de seus produtos controlado pelo Governo. Quando impede-se o reajuste de preço da gasolina, Petrobras se vê obrigada a comprar produtos por um preço superior a seu preço de venda.
O resultado? Queimas sucessivas de caixa, num momento em que a companhia tem um ambicioso plano de investimento para tocar, e explosão de sua dívida líquida.
Mais uma conquista para o Brasil: Petrobras hoje apresenta a maior dívida corporativa de todo o mundo. A evolução abaixo resume a questão.

8. Com inveja da Petrobras, a Eletrobras, outra estatal relevante, também foi destruída.
Eletrobras nunca foi exemplo de eficiência. A empresa é historicamente reduto do PMDB, possui rentabilidade sobre o patrimônio baixa e entra em projetos ruins, para atender anseios políticos.
Sempre foi assim. E a empresa, de uma forma ou de outra, se virava. Mas a situação degringolou a partir da MP 579 – a mesma que falei acima.
O gráfico abaixo traz a trajetória das ações de Eletrobras nos últimos cinco anos. Não é muito diferente de Petrobras:

A situação de Eletrobras é ainda mais complicado do que aquela apresentada acima para Cemig. A empresa também foi exposta a condições piores (e de baixíssima rentabilidade) para renovar concessões.
Mas, diferentemente de Cemig e de outros participantes de mercado, Eletrobras aceitou termos que implicavam retornos negativos para determinados projetos.
Isso porque era do interesse da União (principal acionista e que votou proporcionalmente às suas ações em Assembleia) manter as concessões pouco rentáveis.
A resposta foi imediata. Suas ações simplesmente derreteram em Bolsa.
Ultrajados com a questão, acionistas minoritários recorreram à CVM (regulador do mercado de capitais), basicamente dizendo que a União não poderia votar na Assembleia sobre o tema, por uma questão de conflito de interesse – o que me parece óbvio, não é mesmo? A União propõe novos termos, que só servem a ela mesma, e vota sobre a questão?
Assim diz o artigo 115, parágrafo 1 da Lei das S.A.s: o acionista deve exercer o direito de voto no interesse da companhia e será considerado voto abusivo aquele exercido com o fim de causar dano à companhia, aos seus acionistas ou a obter vantagem ou que possa resultar em prejuízos.
A adesão à renovação das concessões sob os termos previstos pela MP 579 trouxe benefício exclusivo ao controlador (o Governo) e prejuízo aos demais.
A União reagiu ao pedido dos minoritários.
Fez uma oferta bastante justa para compensar os danos bilionários: um evento sobre mercado de capitais, com a presença do ministro Guido Mantega.
E o pior: a CVM flerta com o aceite da proposta.
Pode parecer engraçado, mas somente para quem não é acionista de Eletrobras.
A prática inibe não somente investimentos nas ações de Eletrobras, mas também de outras ações do setor elétrico, além de inibir a confiança de empresários no segmento.
9. A indústria brasileira fica menor, a cada dia.
De novo, imagens valem mais do que mil palavras:

A produção industrial brasileira está simplesmente atônita. Isso num Governo que supostamente tinha uma política industrial explícita.
O tal Plano Brasil Maior, lançado em 2011, tinha objetivos muito bem definidos para 2014. Eram eles:
- aumentar a taxa de investimento dos 18,4% vistos em 2010 para 22,4% do PIB;
- elevar dispêndio empresarial de Pesquisa e Desenvolvimento como percentual do PIB de 0,59% para 0,90%; e
- diversificar a pauta de exportações, aumentando a participação brasileira no comércio internacional de 1,36% para 1,60%.
Pronto. Chegamos em 2014, o que nos dá a prerrogativa de analisar se atingimos os resultados.
A conclusão é assustadora. Não cumprimos nenhum dos três objetivos.
A relação Investimento sobre PIB não somente descumpriu a meta de 22,4%, como inclusive caiu frente ao ponto inicial. Dos 18,4%, batemos vergonhosos 18,1%.
Sobre o investimento em P&D, ainda não há dados muito atualizados. Mas pesquisas feitas para 2011 apontaram uma enorme subida da razão gastos em P&D sobre PIB de 0,49% para 0,50%. Alguém, em sã consciência, admitiria um crescimento dessa relação para 0,90% em três anos?
A respeito das exportações, a coisa fica ainda mais pitoresca. Não diversificamos nossa pauta, tampouco aumentamos nossa representatividade na corrente de comércio mundial.  A participação dos produtos manufaturados nas exportações era de 39,4% em 2010. Passou a 38,7% em 2013. Tínhamos 1,35% da exportação mundial em 2010. Encerramos o ano passado em 1,29%.
A política industrial é um fracasso retumbante.
O Medo é Político Também
Os pontos acima resumem o tamanho de nosso problema econômico. Mas ainda preciso de, ao menos, uma menção honrosa à questão política.
Em entrevista recente ao Valor Econômico, Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, falou assim:
“O brasileiro gosta do seu país, gosta de morar aqui, de investir aqui. Mas o grau de incerteza hoje é tal que as pessoas estão pensando em investir fora do Brasil, estão pensando até em sair do Brasil. Há um medo que vai além da economia, é medo político também. Há uma sensação de medo que as pessoas não têm coragem de manifestar abertamente. Medo de uma atitude contra a liberdade de imprensa, contra a democracia.”
Há razão de ser nesse medo.
Não há nada mais antidemocrático e desrespeitoso à democracia quanto uma lista negra de jornalistas, a serem perseguidos pelo Estado e seus defensores.
Veja, então, texto recente publicado no site do partido do Governo:
Personificados em Reinaldo Azevedo, Arnaldo Jabor, Demétrio Magnoli, Guilherme Fiúza, Augusto Nunes, Diogo Mainardi, Lobão, Gentili, Marcelo Madureira entre outros menos votados, suas pregações nas páginas dos veículos conservadores estimulam setores  reacionários e exclusivistas da sociedade brasileira a maldizer os pobres e sua presença cada vez maior nos aeroportos, nos shoppings e nos restaurantes.”
Tratam críticos como inimigos de guerra e convocam companheiros a lutar.
Há exemplos semelhantes na História daqueles que não respeitam a liberdade de imprensa e querem calar as vozes dissonantes.
Em 10 de fevereiro de 1933, Joseph Goebbels, responsável pelo marketing do Partido dos Trabalhadores Nacional-Socialista, alertou assim: “Um dia nossa paciência vai acabar, e calaremos esses judeus insolentes, bocas mentirosas!”
O resto da História todo mundo conhece.
(...)
A pergunta é: o que acontece a partir de agora?
A metáfora com a gravidez é clássica. Não existe inflação um pouco alta. Inflação necessariamente cresce. E deve crescer muito.
Marcio Garcia, professor de Economia da PUC-RJ, trouxe tese semelhante em resposta ao jornal Valor Econômico de 27 de junho: “A inflação não vai ficar parada nos 6,5%, há uma inflação represada de 1,5 ponto percentual; os [preços] monitorados vão ter que subir; o câmbio não pode ficar muito tempo nesse nível de R$ 2,20 porque o déficit em conta corrente continua crescendo e é elevado. Tudo isso vai colocar pressão na inflação. Se você não tiver um BC que leve a inflação de volta à meta, passamos por um outro regime. Um regime turco, argentino ou até venezuelano.”
A situação é mesmo grave.
Depois de represar preços por dois anos, o Governo precisará soltar as amarras em 2015.  Somente esse movimento, supondo uma liberação única, deve colocar a inflação brasileira em 10% ao ano.
Mas temos riscos ainda maiores.
O Banco Central norte-americano deve começar a subir sua taxa básica de juro justamente em 2015. Isso vai causar um grande retorno de recursos para os EUA, com maior demanda por dólar.
Ou seja, a taxa de câmbio pode caminhar rapidamente para cima. O dólar não salta gradualmente quando se trata de valorizações. (...)
O dólar deve bater, com margem para algo ainda mais alto, R$ 2,50.
Essa é uma projeção conservadora e está bastante alinhada àquela prevista para 2015 pela mediana das estimativas dos economistas brasileiros, conforme o relatório Focus, levantamento feito pelo próprio Banco Central.
Temos dois problemas importantes derivados dessa subida de taxa de juro nos EUA.
O primeiro é a grande dificuldade para fechar nossas contas com o exterior. Lembre-se que estamos dependendo da conta de capitais para fechar o balanço – e observaremos justamente fuga de capitais. Pela terceira vez, faço o alerta: vai faltar dólar.
E o segundo relacionado ao reforço importante ao problema da inflação, através do famoso repasse cambial. A disparada do dólar significa aumento do preço dos produtos transacionados no mercado internacional, os chamados tradeables. Aos poucos, também os não tradeables, por uma questão de preços relativos, também vão reagindo. Em certo tempo, temos uma escalada generalizada dos índices de preços apenas por conta do efeito câmbio.
Peço a gentileza de prestar atenção nas seguintes variações: entre maio e junho do ano passado, o Ibovespa, nosso principal índice de 2013, caiu nada menos do que 15,12%. Em paralelo, o dólar disparou 10,69%. Em apenas dois meses.
Por que tamanha mudança? Simplesmente porque o Banco Central dos EUA, em maio de 2013, sinalizou que poderia, em breve, começar a reduzir seus estímulos à economia e subir suas taxas de juro.
Uma simples sinalização verbal foi suficiente para causar destruição de valor para as ações brasileiras e essa valorização do dólar. Imagine quando houver, de fato, aumento das taxas de juro nos EUA. (...)
Combinando o repasse integral das tarifas públicas represadas e a desvalorização esperada do câmbio, entendo que a inflação brasileira pode chegar a 12% ao ano, para uma meta de 4,5%.
Não há saída para uma inflação bem acima da meta. O Banco Central terá de subir a taxa Selic. E como a diferença entre a inflação projetada e a meta é grande, o movimento dos juros terá de ser expressivo.
Não haveria surpresa em vermos taxa Selic de 15% ao ano.
A implicação imediata de um juro básico desse tamanho é óbvia: recessão.
Imagino que você entenda esse conceito.
Se o Brasil cresce 1% ao ano com juro básico de 11% ao ano, quanto vai crescer com a Selic a 15%?
Falamos de estagnação da economia, queda dos salários, aumento dramático do desemprego, esgotamento do crédito, queda vertiginosa do preços dos imóveis (muito sensíveis às taxas de juro) e aumento do endividamento das famílias.
Tudo isso num ambiente de inflação alta.
Já temos: o menor crescimento econômico desde o Governo Collor, a menor criação de postos de trabalho para um mês de maio desde 1992, o pior resultado das contas públicas para um mês de maio de toda a série histórica e o maior déficit em conta corrente para um mês de maio em toda a série histórica do Banco Central.
E teremos: a maior taxa Selic desde 2006 e descumprimento da meta de inflação, com a maior variação de preços desde 2002.
Rasgamos o que foi construído em 1994 e aperfeiçoado em 1999, sob o pretexto de implementação de uma nova matriz econômica, heterodoxa.
Temos um único resultado prático: voltamos a 1993.
Se, metaforicamente, nasce um novo País em 1994, com a estabilização da economia, podemos dizer que a nova matriz econômica e suas consequências representam o falecimento desse Brasil.
Morremos aos 20 anos de idade, de forma prematura.
(...)
Um forte abraço,


Felipe Miranda
Sócio-fundador da Empiricus Research

Julho de 2014

quarta-feira, 30 de julho de 2014

O abutre rosa que inferniza a Argentina

Paul Singer, el enemigo feroz de Cristina Fernández
El estadounidense Paul Singer, de 69 años, es el principal enemigo de Argentina en su batalla contra los fondos de inversión acreedores. Singer es el director de Elliott Capital Management. Una de sus filiales —NML— no aceptó, junto a otros inversores, las quitas ofrecidas en 2005 y 2010 por Buenos Aires y lideró una larga y feroz pelea en los tribunales. La victoria final le llegó en junio cuando un juez de Nueva York determinó que Argentina debía pagar sus deudas pendientes. A NML le corresponden alrededor de 225 millones de euros, a cambio de la deuda que según el Gobierno argentino adquirió por 35 millones.
Singer acumula una fortuna de 1.120 millones de euros, según la revista Forbes. En 1977 fundó Elliott y, gracias a su agresividad empresarial, ha logrado catapultar el fondo, que gestiona un capital de unos 11.000 millones.
Este multimillonario discreto, generoso donante del Partido Republicano y activista de los derechos de los homosexuales no ha escatimado esfuerzos en su cruzada contra Buenos Aires. Su mantra: presionar al máximo. Singer no ha tenido reparos en organizar la distribución de folletos contra la política del Gobierno argentino en cualquier viaje de la presidentaCristina Fernández a Estados Unidos, consiguió retener durante 70 días en 2012 en un puerto de Ghanala fragata insignia de la Armada argentina y ha puesto en enormes aprietos logísticos a Fernández. Entre 2007 y 2010, el Gobierno argentino tuvo que cancelar varios vuelos de su avión oficial a EE UU y a Alemania para que no fuera embargado.
La estrategia de Singer de comprar deuda cuando su precio está hundido para después reclamar un beneficio mayor no es nueva y le ha valido a su firma el calificativo defondo buitre. En los años 90 consiguió, mediante fallos judiciales, cobrar 43 millones de euros en deuda de Perú que había adquirido por 8 millones, y otros 67 millones en pasivo de Congo que había comprado por 15 millones.
Pero en EE UU, este licenciado en derecho por la Universidad de Harvard no es conocido por su ofensiva contra Buenos Aires sino por sus vínculos políticos y su influencia en Wall Street. Singer es uno de los donantes más generosos con los republicanos de cara a las elecciones legislativas de noviembre, como ya lo fue en el pasado. Sin embargo, no coincide al 100% con las tesis del aparato del partido, especialmente respecto a los derechos de los gays, una causa que ha abrazado con fuerza influido por su hijo, quien se casó en 2010 con otro hombre.
En el terreno económico, Singer ha criticado la política ultraexpansiva de la Reserva Federal y los cambios regulatorios impulsados por Barack Obama por ser demasiado laxos con los grandes bancos. No en vano, fue de los inversores que más alertaron de los riesgos de las hipotecas subprime antes de la debacle financiera de 2008. Eso sí, según la revista Fortune, es "un defensor apasionado" del 1% más rico del país.

Chines do Deutsche Bank tambem preve deterioracao sob os companheiros: vai ser demitido por isso?

O estrategista do banco usa luva de pelicas, mas não esconde dos clientes que a situação tende a se agravar caso Dilma seja reeleita. E agora, Lula, vai pedir cabeças no Deutsche também?

O banco Deutsche Bank está recomendando os seus clientes a reduzirem sua exposição aos títulos da dívida soberana brasileira denominados em dólar citando como uma das principais razões a perspectiva de reeleição de Dilma Rousseff e o “otimismo” demasiado dos mercados em relação a uma melhora nos fundamentos macroeconômicos do Brasil num eventual segundo mandato da presidente.
O banco alemão espera uma eleição apertada e apenas decidida no segundo turno.
Em nota enviada a clientes ontem, o estrategista para mercados emergentes do Deutsche Bank, Hongtao Jiang, rebaixou o peso dos títulos soberanos do Brasil em dólar de “neutro” para “underweight” (abaixo da média dos títulos que compõem a carteira sugerida para mercados emergentes), o que levaria os investidores a reduzir as suas aplicações nos papéis brasileiros em favor de outros países emergentes.
O Deutsche Bank havia elevado o Brasil para o peso “neutro” em janeiro deste ano, depois de ter deixado os títulos brasileiros por mais de um ano na posição “underweight”. Contudo, diante da recente valorização dos ativos brasileiros e da perspectiva dos fundamentos macroeconômicos, o banco voltou atrás e rebaixou novamente o País.
Jiang também recomenda os investidores favorecerem os títulos com vencimentos mais longos na curva de juros em dólar do País.
“Seguimos esperando que a presidente Rousseff seja reeleita, mas apenas após uma corrida presidencial apertada e com um apelo mais populista”, afirma Jiang em nota a clientes. “Além disso, acreditamos que o mercado está precificando muito otimismo sobre uma melhora potencial de políticas num segundo mandato de Dilma.”
Segundo Jiang, o sub-índice Brasil (na carteira de índices de mercados emergentes globais) registrou uma queda de 25 pontos-base desde o final de março. Uma queda refletiria teoricamente uma melhora na percepção do risco-País. Agora, segundo Jiang, o sub-índice Brasil está sendo negociado a 15 pontos-base abaixo da média dos títulos de países emergentes com rating soberano de grau de investimento, enquanto que no final de janeiro os papéis brasileiros eram negociados a 30 pontos-base acima da média dos países emergentes com nota de risco semelhante.
Esse nível atual de preços dos títulos brasileiros, ressaltou Jiang aos clientes do Deutsche Bank, “não compensa o risco de contínua deterioração dos fundamentos caracterizados por estagflação, piora no balanço de pagamentos, deterioração da qualidade fiscal, e um horizonte desafiador de política econômica antes e depois das eleições”.
O estrategista do Deutsche Bank disse acreditar que as eleições de outubro permanecem como um fator de restrição, limitando o escopo de mudanças significativas de políticas econômicas. O cenário base do banco alemão é que a presidente será reeleita após uma corrida apertada e apenas no segundo turno.
“A popularidade dela (Dilma) continuará provavelmente caindo nas pesquisas de opinião, devido ao ciclo desfavorável da economia, mas também em razão de uma crise de energia, uma investigação no Congresso e dificuldades ao sediar a Copa do Mundo”, disse Jiang. Mas essa queda da popularidade não será suficiente para prejudicar as chances de reeleição ou mesmo trazer de volta o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para substituir Dilma como candidato do PT, escreveu o estrategista aos clientes.
Essa dinâmica, ressaltou ele, representará um cenário desfavorável ao mercado, pois o PT provavelmente conduzirá a campanha eleitoral com forte apelo populista, o que provavelmente não melhorará a percepção sobre um segundo mandato de Dilma Rousseff. Tal apelo populista, disse Jiang, ficou explícito com o anúncio de reajuste de 10% nos valores do Bolsa Família e a correção da tabela do Imposto de Renda em 4,5% para 2015, além da continuidade da política de manter o salário mínimo crescendo a um ritmo maior do que a inflação para além de 2015.
Com base nas estimativas de José Carlos Faria, economista-chefe para Brasil do Deutsche Bank, Jiang disse que a perspectiva para os fundamentos econômicos do Brasil é bastante desafiadora. No lado fiscal, ele cita a projeção de um superávit primário consolidado do setor público de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014, em comparação com a meta de 1,9% anunciada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega.
“A inflação permanece sob pressão, agravada por condições climáticas”, afirmou Jiang. “O provável racionamento de energia elétrica neste ano e em 2015 causará uma redução adicional da atividade econômica; a balança comercial tem se deteriorado continuamente e a estagflação parece ser o curso do futuro próximo (ao menos nos próximos dois anos)”, escreveu o estrategista do Deutsche Bank. (Blog do Fábio Alves, no Estadão).

Totalitarios nao gostam dos fatos, que nao deixam de ser fatos por isso...

Caso Santander: Lula & Dilma contra o mercado e os fatos.
Alexandre Schwartsman, que já foi economista-chefe do Santander, faz uma observação importante em relação à escandalosa interferência de Lula e Dilma no banco: o governo e o PT podem não concordar com a avaliação do mercado - mas trata-se de um fato, e não de simples opinião. A visão de ambos, com efeito, é meramente ideológica:


Antes de tudo, um alerta: para quem não sabe, fui economista-chefe do Santander entre 2008 e 2011, demitido após discussão pública com o então presidente da Petrobras. Digo isso porque quero hoje tratar do imbróglio que envolveu o banco na semana passada, quando foi publicada análise relacionando o desempenho da presidente nas pesquisas eleitorais ao comportamento da Bolsa, do dólar e de outros ativos.

A análise nada trouxe de controverso. Aqui mesmo na Folha, no dia 19, lia-se na página B3: "Bolsa chega ao maior nível em 16 meses", notando que "as ações de empresas estatais dispararam na BM&FBovespa e impulsionaram o principal índice da Bolsa brasileira nesta sexta-feira (18), após pesquisa Datafolha ter apresentado empate técnico entre a presidente Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB)". Acrescentou ainda que, "desde que começaram a ser divulgadas pesquisas apontando perda de espaço da presidente (...), o mercado de ações nacional, que caía e acentuava queda (...), mudou de tendência".

O governo e o partido podem não concordar com a avaliação do mercado, mas, conforme descrito pelo jornal, trata-se de um fato: para bem ou para mal, a percepção é que uma mudança de orientação de política econômica terá efeitos positivos sobre as empresas brasileiras, em particular as sujeitas a controle acionário governamental.

E é bom notar que o tal mercado pode ter as preferências ideológicas que quiser, mas, na hora de comprar ou vender uma ação, o que menos interessa é ideologia; é sempre a perspectiva de lucro que move esses agentes. Posto de outra forma, ninguém rasga dinheiro em nome de suas convicções políticas.

O texto do banco, enviado a correntistas com renda mensal superior a R$ 10 mil, supostamente mais propensos a operar no mercado financeiro, nada mais fez do que compartilhar esses fatos, e por um motivo muito claro. Bancos têm um dever fiduciário com seus clientes: não podem omitir ou distorcer informações relevantes para sua tomada de decisão.

Em particular, a opinião das áreas de pesquisa deve refletir exatamente esse tipo de preocupação. Analistas não estão certos o tempo todo, mas é claro que suas conclusões não devem ser guiadas pelos interesses da instituição financeira. Não por acaso as regras buscam (nem sempre com sucesso, diga-se) isolar a pesquisa econômica das posições próprias do banco e mesmo de áreas que gerenciam as aplicações de clientes (fundos de investimento), precaução devidamente apelidada de "muralha da China".

Nesse sentido, a decisão de demitir os analistas que expuseram, mais que uma opinião, um fato representa uma violação desse procedimento. A alegação de que a análise conteria "viés político ou partidário" não se sustenta diante da própria diretriz interna que "estabelece que toda e qualquer análise econômica enviada aos clientes restrinja-se à discussão de variáveis que possam afetar a vida financeira dos correntistas". Não há, como se viu, a menor dúvida de que as perspectivas acerca da eleição presidencial são mais que relevantes para afetar a vida financeira dos clientes.

A consequência desse comportamento é óbvia (e aqui falo em termos gerais, não do banco em si). Se a autonomia da pesquisa é ameaçada, a credibilidade da análise fica comprometida, a despeito das qualidades do analista. Quem, de agora em diante, pode confiar em relatórios se não sabemos a que tipo de filtros estes se encontram sujeitos?

O maior perdedor é o debate econômico, ainda mais numa conjuntura em que --em face de desafios nada triviais no futuro próximo-- ninguém se aventura a discutir a sério o que precisa ser feito para colocar a economia brasileira de volta nos eixos. Se até o óbvio, amplamente noticiado (ainda bem!) pela imprensa, vira objeto de censura, pouco falta para que fujamos da controvérsia como quem tem um miúra nos calcanhares. (FSP).