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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Dez novas regras da vida diplomatica - Paulo Roberto de Almeida

E já que estamos falando da carreira diplomática, reproduzo aqui, em versão muito reduzida, o que talvez seja meu texto mais amplamente reproduzido, aqui e ali, nesses mais de dez anos depois que foi elaborado pela primeira vez.
Sempre me pediram para ampliá-lo, o que eu nunca fiz por absoluta falta de tempo.
Sua repostagem aqui, ainda que numa forma muito sintética em relação ao original, deve servir de lembrete para essa ampliação requisitada.
Paulo Roberto de Almeida 

QUINTA-FEIRA, 22 DE DEZEMBRO DE 2005


62) Dez regras modernas de diplomacia


Dez Regras Modernas de Diplomacia
Paulo Roberto de Almeida

Este ensaio breve sobre as novas regras da diplomacia, me foi inspirado pela leitura de um livro de um diplomata português do século XIX: Frederico Francisco de la Figanière: Quatro regras de diplomacia (Lisboa: Livraria Ferreira, 1881, 239 p.). Ao lê-lo, passei a redigir imediatamente algumas regras mais adaptadas ao século XXI. O trabalho foi escrito originalmente entre Chicago (em 22 de julho de 2001) e depois novamente em viagem de São Paulo a Miami e daí a Washington (em 12 de agosto de 2001). Foi publicado originalmente na série “Cousas Diplomáticas” (nº 1), da revista eletrônica Espaço Acadêmico, e espero poder ampliá-lo assim que me for dada oportunidade.

Reflexões rápidas para futuro desenvolvimento...

1. Servir a pátria, mais do que aos governos, conhecer profundamente os interesses permanentes da nação e do povo aos quais serve; ter absolutamente claros quais são os grandes princípios de atuação do país a serviço do qual se encontra.
O diplomata é um agente do Estado e, ainda que ele deva obediência ao governo ao qual serve, deve ter absoluta consciência de que a nação tem interesses mais permanentes e mais fundamentais do que, por vezes, orientações momentâneas de uma determinada administração, que pode estar guiada — mesmo se em política externa isto seja mais raro — por considerações “partidárias” de reduzido escopo nacional. Em resumo, não seja subserviente ao poder político, que, como tudo mais, é passageiro, mas procure inserir uma determinada ação particular no contexto mais geral dos interesses nacionais.

2. Ter domínio total de cada assunto, dedicar-se com afinco ao estudo dos assuntos de que esteja encarregado, aprofundar os temas em pesquisas paralelas.
Esta é uma regra absoluta, que deve ser auto-assumida, obviamente. Numa secretaria de estado ou num posto no exterior, o normal é a divisão do trabalho, o que implica não apenas que você terá o controle dos temas que lhe forem atribuídos, mas que redigirá igualmente as instruções para posições negociais sobre as quais seu conhecimento é normalmente maior do que o do próprio ministro de estado ou o chefe do posto. Mergulhe, pois, nos dossiês, veja antigos maços sobre o assunto (a poeira dos arquivos é extremamente benéfica ao seu desempenho funcional), percorra as estantes da biblioteca para livros históricos e gerais sobre a questão, formule perguntas a quem já se ocupou do tema em conferências negociadoras anteriores, mantenha correspondência particular com seu contraparte no posto (ou na secretaria de estado), enfim, prepare-se como se fosse ser sabatinado no mesmo dia.

3. Adotar uma perspectiva histórica e estrutural de cada tema, situá-lo no contexto próprio, manter independência de julgamento em relação às idéias recebidas e às “verdades reveladas”.
Em diplomacia, raramente uma questão surge do nada, de maneira inopinada. Um tema negocial vem geralmente sendo “amadurecido” há algum tempo, antes de ser inserido formalmente na agenda bilateral ou multilateral. Estude, portanto, todos os antecedentes do assunto em pauta, coloque-o no contexto de sua emergência gradual e no das circunstâncias que presidiram à sua incorporação ao processo negocial, mas tente dar uma perspectiva nova ao tema em questão. Não hesite em contestar os fundamentos da antiga posição negociadora ou duvidar de velhos conceitos e julgamentos (as idées reçues), se você dispuser de novos elementos analíticos para tanto.

4. Empregar as armas da crítica ao considerar posições que devam ser adotadas por sua delegação; praticar um ceticismo sadio sobre prós e contras de determinadas posições; analisar as posições “adversárias”, procurando colocá-las igualmente no contexto de quem as defende.
Ao receber instruções, leia-as com o olho crítico de quem já se dedicou ao estudo da questão e procure colocá-las no contexto negocial efetivo, geralmente mais complexo e matizado do que a definição de posições in abstracto, feita em ambiente destacado do foro processual, sem interação com os demais participantes do jogo diplomático. Considerar os argumentos da parte adversa também contribui para avaliar os fundamentos de sua própria posição, ajudando a revisar conceitos e afinar seu próprio discurso. Uma saudável atitude cética — isto é, sem negativismos inconseqüentes — ajuda na melhoria constante da posição negociadora de sua chancelaria.

5. Dar preferência à substância sobre a forma, ao conteúdo sobre a roupagem, aos interesses econômicos concretos sobre disposições jurídico-abstratas.
Os puristas do direito e os partidários da “razão jurídica” hão de me perdoar a deformação “economicista”, mas os tratados internacionais devem muito pouco aos sacrossantos princípios do direito internacional, e muito mais a considerações econômicas concretas, por vezes de reduzido conteúdo “humanitário”, mas dotadas, ao contrário, de um impacto direto sobre os ganhos imediatos de quem as formula. Como regra geral, não importa quão tortuosa (e torturada) sua linguagem, um acordo internacional representa exatamente — às vezes de forma ambígua — aquilo que as partes lograram inserir em defesa de suas posições e interesses concretos. Portanto, não lamente o estilo “catedral gótica” de um acordo específico, mas assegure-se de que ele contém elementos que contemplem os interesses do país.

6. Afastar ideologias ou interesses político-partidários das considerações relativas à política externa do país.
A política externa tende geralmente a elevar-se acima dos partidos políticos, bem como a rejeitar considerações ideológicas, mas sempre somos afetados por nossas próprias atitudes mentais e algumas “afinidades eletivas” que podem revelar-se numa opção preferencial por um determinado tipo de discurso, “mais engajado”, em lugar de outro, supostamente mais “neutro”. Poucos acreditam no “caráter de classe” da diplomacia, mas eventualmente militantes “classistas” gostariam de ajudar na “inflexão” política ou social de determinadas posições assumidas pelo país internacionalmente, sobretudo quando os temas da agenda envolvem definição de regras que afetam agentes econômicos e expectativas de ganhos relativos para determinados setores de atividade. Deve-se buscar o equilíbrio de posições e uma definição ampla, verdadeiramente nacional, do que seja interesse público relevante.

7. Antecipar ações e reações em um processo negociador, prever caminhos de conciliação e soluções de compromisso, nunca tentar derrotar completamente ou humilhar a parte adversa.
O soldado e o diplomata, como ensinava Raymond Aron, são os dois agentes principais da política externa de um Estado — embora atualmente outras forças sociais, como as ONGs e os homens de negócio, disputem espaço nos mecanismos decisórios burocráticos — mas, à diferença do primeiro, o segundo não está interessado em ocupar território inimigo ou destruir sua capacidade de resistência. Ainda que, em determinadas situações negociais, o interesse relevante do país possa ditar alguma instrução do tipo “vá ao plenário com todas as suas armas (argumentativas) e não faça prisioneiros”, o confronto nunca é o melhor método para lograr vitória num processo negociador complexo. A situação ideal é aquela na qual você “convence” as outras partes negociadoras de que aquela solução favorecida por seu governo é a que melhor contempla os interesses de todos os participantes e na qual as partes saem efetivamente convencidas de que fizeram o melhor negócio, ou pelo menos deram a solução possível ao problema da agenda.

8. Ser eficiente na representação, ser conciso e preciso na informação, ser objetivo na negociação.
Considere-se um agente público que participa de um processo decisório relevante e convença-se de que suas ações terão um impacto decisivo para sua geração e até para a história do país: isto já é um bom começo para dar dignidade à função de representação que você exerce em nome de todos os seus concidadãos. Redija com clareza seus relatórios e seja preciso nas instruções, ainda que dando uma certa latitude ao agente negocial direto; não tente fazer literatura ao redigir um anódino memorandum, ainda que um mot d’esprit aqui e ali sempre ajuda a diminuir a secura burocrática dos expedientes oficiais. Via de regra, estes devem ter um resumo inicial sintetizando o problema e antecipando a solução proposta, um corpo analítico desenvolvendo a questão e expondo os fundamentos da posição que se pretende adotar, e uma finalização contendo os objetivos negociais ou processuais desejados. No foro negociador, não tente esconder seus objetivos sob uma linguagem empolada, mas seja claro e preciso ao expor os dados do problema e ao propor uma solução de compromisso em benefício de todas as partes.

9. Valorize a carreira diplomática sem ser carreirista, seja membro da corporação sem ser corporativista, não torne absolutas as regras hierárquicas, que não podem obstaculizar a defesa de posições bem fundamentadas.
Geralmente se entra na carreira diplomática ostentando certo temor reverencial pelos mais graduados, normalmente tidos como mais “sábios” e mais preparados do que o iniciante. Mas, se você se preparou adequada e intensamente para o exercício de uma profissão que corresponde a seus anseios intelectuais e responde a seu desejo de servir ao país mais do que aos pares, não se deixe intimidar pelas regras da hierarquia e da disciplina, mais próprias do quartel do que de uma chancelaria. Numa reunião de formulação de posições, exponha com firmeza suas opiniões, se elas refletem efetivamente um conhecimento fundamentado do problema em pauta, mesmo se uma “autoridade superior” ostenta uma opinião diversa da sua. Trabalhe com afinco e dedicação, mas não seja carreirista ou corporativista, pois o moderno serviço público não deve aproximar-se dos antigos estamentos de mandarins ou das guildas medievais, com reservas de “espaço burocrático” mais definidas em função de um sistema de “castas” do que do próprio interesse público. A competência no exercício das funções atribuídas deve ser o critério essencial do desempenho no serviço público, não o ativismo em grupos restritos de interesse puramente umbilical.

10. Não faça da diplomacia o foco exclusivo de suas atividades intelectuais e profissionais, pratique alguma outra atividade enriquecedora do espírito ou do físico, não coloque a carreira absolutamente à frente de sua família e dos amigos.
A performance profissional é importante, mas ela não pode ocupar todo o espaço mental do servidor, à exclusão de outras atividades igualmente valorizadas socialmente, seja no esporte, seja no terreno da cultura ou da arte. Uma dedicação acadêmica é a que aparentemente mais se coaduna com a profissão diplomática, mas quiçá isso represente uma deformação pessoal do autor destas linhas. Em todo caso, dedique-se potencialmente a alguma ocupação paralela, ou volte sua mente para um hobby absorvente, de maneira a não ser apenas um “burocrata alienado”, voltado exclusivamente para as lides diplomáticas. Sim, e por mais importante que seja a carreira diplomática para você, não a coloque na frente da família ou de outras pessoas próximas. Muitos se “sentem” sinceramente diplomatas, outros apenas “estão” diplomatas, mas, como no caso de qualquer outra profissão, a diplomacia não pode ser o centro exclusivo de sua vida: os seres humanos, em especial as pessoas da família, são mais importantes do que qualquer profissão ou carreira.


4 COMENTÁRIOS:

Anônimo disse...
Dr Paulo, como mae de uma candidata ao Itamaraty, tenho feito pesquisas sobre livros e metodologias prioritarias de estudo. Seus sites sobre o assunto tem nos ajudado muito na dificil tarefa de selecionar material adequado.Gostaria de parabeniza-lo especialmente pelas 10 regras diplomaticas. Foi reconfortador encontrar um ser humano de calibre, com valores humanos e ético.
Anônimo disse...
Sábios conselhos! Só que talvez eu fizesse do item 10 o primeiro mandamento desse decálogo... Abraço!
Luciane Mirella disse...
Nesse momento estou decidindo enveredar-me definitivamente na luta por uma vaga no instituto Rio Branco e o que mais pesa na decisão é a escolha a fazer entre a vida profissional e pessoal. A vida de diplomata é assim tão instável?
Walace Ferreira - 25 anos disse...
Excepcionais as reflexões acima. Brilhante a colocação final. Complementaria dizendo que sem a família ou o prazer de levantar a cada dia e amar a vida, nenhuma profissão pode fazer sentido ao ser humano. Sobretudo quando se trata de diplomacia, onde mais que ser portador da razão e do conhecimento, esses elementos constituem-se na base para um excelente trabalho. Só um profundo conhecedor da paixão, frutificada e amadurecida no dia-a-dia com as relações sociais, pode servir com afinco e humanidade a sua nação.

Walace Ferreira.


O que faz um diplomata, exatamente? Um texto de meu primeiro blog (2006)

Grato ao Lucas por se vestir de arqueólogo e retirar esse texto meu do pré-cambriano de minha evolução blogueira:

Lucas deixou um novo comentário sobre a sua postagem "153) O que faz um diplomata, exatamente?":
Paulo,
Quero lhe parabenizar e agradecer, não somente por informar sobre a rotina do diplomata brasileiro, mas também pela humildade e atenção em responder os comentários.
Era o tipo de opinião que faltava pra eu me decidir pela carreira.
Postado por Lucas no blog Paulo Roberto de Almeida em quinta-feira, outubro 02, 2014 11:27:00 PM
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Aqui o texto referido:



quarta-feira, 11 de janeiro de 2006


Muito freqüentemente sou solicitado, por interessados na carreira diplomática, geralmente jovens, a pronunciar-me sobre a natureza exata do trabalho diplomático. As dúvidas são muitas e a curiosidade infinita. Ainda assim tento responder a cada um da melhor forma possível, mas novas demandas se repetem, com perguntas usualmente similares. Como exemplo típico desse gênero de questionamento, transcrevo mensagem enviada hoje (11.01.06), que tentarei responder em seguida:
“Ainda falta um pouco para eu me decidir por este caminho (a diplomacia), por isso vim lhe pedir um breve relato de um dia comum seu, em sua profissão. O que é comum encontrar nessa carreira? O que é gratificante? E quais as dificuldades? Não quero incomodá-lo, aliás tenho muito receio disso, mas, ao mesmo tempo, quero me encontrar com a certeza de um futuro inescusável. E como decifrá-lo, se não perguntá-lo? A simples informação de quanto tempo permanece sentado assinando papéis, de quanto de autonomia se tem, dentre outros aspectos congêneres; essas simples informações formam o motivo de minha interpelação.”

Pois bem, sei que existem muitas lendas em torno das atividades de um diplomata, geralmente de natureza turística ou etílica, ou seja, de que passamos o tempo viajando de um lugar para outro, em belas cidades de países desenvolvidos, participando de reuniões sofisticadas e, sobretudo, de coquetéis e recepções, um pouco como se todo mundo ainda vivesse nos tempos das cortes européias, em bailes e outras galanterias... Exagero, claro, mas o pessoal também exagera em torno da quantidade de bebida que é humanamente possível ingerir. Com exceção do Vinicius de Moraes, que vivia de copo de uísque na mão, o diplomata geralmente não bebe, salvo, claro, quando é obrigado...

Sans blague, para descrever um dia típico de um diplomata seria preciso, primeiro, distinguir entre o diplomata na Secretaria de Estado, ou seja, na sua capital, onde ele é miseravelmente remunerado, e aquele destacado para um posto no exterior, numa embaixada permanente, numa missão junto a um organismo internacional, ou em missão temporária, integrando uma delegação em alguma reunião internacional, onde ele ganha um pouco mais, mas onde ele tampouco vive nababescamente, como alguns podem imaginar.

Na Secretaria de Estado, somos perfeitos burocratas, processando informações, geralmente em formato eletrônico – como tudo o mais na vida, nestes tempos de informatização generalizada – mas também em suporte papel, muito papel. Ainda existe um bocado de formulários e memorandos nas burocracias governamentais, mais do que o necessário.
Um diplomata padrão cuida de alguns assuntos, sobre os quais possui, ou pelo menos deveria ter, domínio completo e competência reconhecida. Ele recebe um insumo qualquer – digamos um telegrama, hoje um simples e-mail, de uma embaixada, ou uma demanda de algum outro serviço – e imediatamente transforma esse tema em algum tipo de “instrução”, para a própria Secretaria de Estado, para outros órgãos do Estado ou para a missão no exterior que primeiro suscitou o problema. Essa resposta pode sair imediatamente ou requerer consultas a outras instâncias da Casa – divisões políticas, isto é, geográficas, ou econômicas, jurídicas, administrativas, etc. – ou de fora, algum órgão técnico do governo, por exemplo, ou até mesmo a entidades da chamada “sociedade civil”. Se o assunto é sério o suficiente para requerer uma decisão superior, ele é levado sucessivamente a escalões mais elevados, eventualmente até ao próprio presidente da República, que assume responsabilidade por todas as decisões maiores da política externa oficial, da qual o chanceler (ou ministro de Estado das relações exteriores) é o executor.

O gratificante, para um diplomata, é ver que uma proposta sua, emanada de seu “processamento” diligente, e inteligente, defendendo o que ele considera como sendo o interesse nacional, foi convertida em política de Estado e passa a ser defendida pelos representantes do país nos foros internacionais. As dificuldades, pelo menos no plano “psicológico”, geralmente estão ligadas à incapacidade de a instituição responsável pela política externa chegar a uma posição clara, contemplando esses interesses – mas nem sempre é fácil determinar onde está o interesse nacional –, ou então elas são derivadas do fato de que a melhor posição possível, em determinadas circunstâncias, tem de ser “contornada”, digamos assim, em função de alianças táticas ou de “competição” com outros objetivos, nem sempre muito claros.
Já nem considero aqui as dificuldades de tipo administrativo ou logístico – como a ausência de recursos materiais e humanos suficientes para executar o que se poderia considerar como a melhor diplomacia possível em todas as frentes abertas ao engenho e arte de nosso serviço exterior – ou os obstáculos propriamente “estruturais”, que são a obstrução dos fins pretendidos pelas “nossas” instruções por alguma coalizão mais forte no plano externo ou a insuficiente mobilização de aliados para a nossa causa. Isso faz parte da vida...

O diplomata na capital, ainda que fazendo parte de uma grande burocracia, dispõe de mais margem de ação e de mais autonomia do que o diplomata no posto, que tem necessariamente de seguir as instruções da capital. Mas este último também participa do processo decisório e da elaboração de posições, ao informar corretamente sobre as relações de força, sobre as posições dos demais países, sobre as alianças táticas que estão sendo desenhadas em torno de algum assunto e assim por diante.
Numa embaixada bilateral, que são os postos mais numerosos, as negociações são talvez menos freqüentes, mas aumenta o volume de informações produzidas sobre o país em questão e cresce o esforço de defesa dos interesses brasileiros em temas concretos, como comércio, investimentos, acordos de cooperação, geralmente científica e tecnológica, visitas bilaterais, bem como atividades de promoção cultural.

Coquetéis e recepções constituem parte integral do “balé” diplomático, mas esse tipo de atividade “festiva” geralmente está ligada às comemorações das datas nacionais – e isso dá para preencher quase todos os dias do ano, dependendo da capital e da respectiva rede de embaixadas, mas a freqüentação desse tipo de evento varia muito em função de “quem trabalha com aquele país” – ou então contempla a parte inicial de alguma reunião importante, com a presença de várias delegações. Almoços de trabalho – muito raramente pagos pelo serviço exterior – são mais usuais, ao passo que são mais raras aquelas recepções que nós mesmos organizamos para os colegas que conosco trabalham ou com quem convivemos por dever de ofício. Chefes de missão têm, sim, uma jornada extra, recepcionando ou participando intensamente desses eventos, para os quais se requer boa disposição de espírito, bom humor e o físico em forma...

Resumindo em poucas palavras, o diplomata, em suas diferentes funções ligadas à representação, negociação e informação, passa a maior parte do tempo pesquisando, escrevendo, processando informações, se relacionando com outros diplomatas, colegas e de outros países, bem como com funcionários de diferentes serviços, com o objetivo básico de conceber instruções e depois defender posições que reflitam o interesse nacional de seu país. É uma função, sem dúvida alguma, “nobre” e gratificante, mas também muito exigente e comportando alguma dose de desprendimento, pois por vezes as condições de trabalho, ou as da vida em família, não são as melhores possíveis (em alguns postos “de sacrifício”, por exemplo, ou até mesmo na Secretaria de Estado, onde os salários são baixos e o trabalho excessivo).

No cômputo global, creio que se trata de uma profissão invejável, pela diversidade de situações que ela permite e pelas oportunidades que cria de engrandecimento pessoal, intelectual e profissional. Os interessados em uma opinião pessoal sobre o que eu creio serem, na atualidade, as regras pelas quais deve pautar-se um diplomata, podem consultar meu ensaio preliminar “Dez regras modernas de diplomacia”, no seguinte link:http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/800RegrasDiplom.html; um resumo do mesmo texto, limitado às regras, foi colocado em meu Blog, post nr. 62, neste link:http://paulomre.blogspot.com/2005/12/62-dez-regras-modernas-de-diplomacia.html.
Boa sorte aos que tentam o ingresso na carreira, mas um aviso preliminar: será preciso estudar muito, antes e durante toda a carreira...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 11 de janeiro de 2006

Eleicoes 2014: tres candidatos que acreditam no Estado - Veja

Artigo

No Brasil, candidatos creem que o Estado tem solução para tudo

Tal como o rei Luís XVI, que encarnava o próprio Estado, quem concorre à presidência, mesmo quando diz o contrário, tem fé excessiva no poder do governo

André Petry
TRÊS GRAÇAS - Da esq. para a dir., Aécio, Marina e Dilma, em pinturas que retratam Luís XIV: olhando de perto, eles até que ficam bem com os paramentos de um rei que se dizia o próprio Estado

TRÊS GRAÇAS - Da esq. para a dir., Aécio, Marina e Dilma, em pinturas que retratam Luís XIV: olhando de perto, eles até que ficam bem com os paramentos de um rei que se dizia o próprio Estado      (Montagem sobre quadros Museu Versalles/Getty Images e Corbis/Latinstock/VEJA)

Em sua última coluna para o jornal O Globo, o escritor baiano João Ubaldo, morto em julho, tratou de uma obsessão brasileira: a ideia de que o Estado é a fonte de todas as soluções, mesmo para aquilo que nem sabíamos que se constituía num problema. Sob o título “O correto uso do papel higiênico”, Ubaldo satirizou a onipotência estatal, que vive criando normas e regulamentos “para nos proteger dos muitos perigos que nos rondam, inclusive nossos próprios hábitos e preferências pessoais”. Agora, na reta final da campanha presidencial, essa obsessão brasileira esteve em plena evidência, com os principais candidatos demonstrando — mesmo quando querem dizer o contrário — sua excessiva fé no poder do Estado e do governo de resolver tudo.

Os candidatos falam como se fossem, eles próprios, a própria encarnação do Estado, mais ou menos como Luís XIV, o rei que cunhou a célebre frase “L’État c’est moi” (O Estado sou eu), para ilustrar seu poder incontrastável na França monárquica. Em julho, numa entrevista à TV, a presidente Dilma Rousseff disse: “Nós vamos manter o emprego, aqui no Brasil, em alta e o desemprego em baixa”. Há duas semanas, também em entrevista à TV, o tucano Aécio Neves, questionado sobre suas políticas para favorecer o crescimento econômico, respondeu assim: “Nossa candidatura é a que permitirá que o Brasil cresça.” Como se vê, os candidatos pensam que o governo cria emprego, que o governo comanda a economia e a faz crescer.

Marina Silva, a candidata do PSB, apresentou ideias que, de início, foram tomadas como propostas para cancelar a tutela estatal sobre os trabalhadores e as indústrias. Disse que, eleita, pretendia “atualizar” as leis trabalhistas, aparentemente ampliando a autonomia de patrões e empregados nos dissídios coletivos. Também prometeu “desmamar” a indústria, sugerindo que a deixaria atuar sem a proteção maternal de incentivos fiscais. Era tudo o contrário do que parecia, como a candidata fez questão de esclarecer. “Desmamar”, na verdade, significa “qualificar melhor” as isenções fiscais, de modo a cobrar uma contrapartida da indústria em favor do governo. E “atualizar” a legislação do trabalho queria dizer “manter os direitos já conquistados e ampliar aqueles que os trabalhadores ainda precisam conquistar”.

Nenhum dos três candidatos, nem mesmo Dilma, que reza pela cartilha do PT, se diz estatista ou estatizante. Nenhum defende a estatização de bancos ou hospitais. Aécio e Marina, sobretudo, apresentam-se como políticos do mercado, da iniciativa privada. Todos, porém, estão sempre vidrados em Brasília, no governo, no Estado, como se daí viessem todas as soluções para o Brasil e seu povo. Contabilizando-se a frequência com que cada candidato, em entrevistas e discursos, pronunciou as palavras “governo” e “mercado”, tem-se uma matemática surpreendente: Aécio, logo Aécio, que se posiciona como o político capaz de acalmar os mercados, falou nada menos que 638 vezes em “governo” e 24 em “mercado”. Dilma, em tese a mais estadocêntrica, falou bem menos em “governo” (150 vezes) e quase o mesmo que Aécio em “mercado” (23 vezes). Marina, outra que se apresenta como amistosa à iniciativa privada, falou 104 vezes em “governo” e só quatro em “mercado”.

A insistência dos candidatos pode parecer apenas receio de perder voto de um eleitorado que equaliza governo com salvação. Mas, por trás desses números, esconde-se uma visão de mundo na qual o Estado é o centro de todas as coisas: cria empregos, move a economia, abraça os pobres, os trabalhadores e os industriais, e protege os cidadãos dos “muitos perigos que nos rondam”. O Estado, claro, é resultado do avanço civilizatório. Apesar da globalização, que enfraqueceu parte de suas funções clássicas, os estados nacionais exercem papéis essenciais nas sociedades democráticas — da proteção aos mais vulneráveis à aplicação de uma política externa. Só não criam um centavo de riqueza, e todo o dinheiro que os governos gastam vem dos impostos pagos por cidadãos produtivos e por empresas que os empregam. Portanto, o Estado está abaixo — e não acima — da sociedade.

Comportando-se como personificação do Estado e fonte de todo o poder, os candidatos reforçam o histórico vício nacional de pedir socorro ao governo — seja para o que for. Marina gosta de denunciar as forças políticas que querem “um pedaço do Estado para chamar de seu”. Em entrevista, Dilma disse que sem os bancos públicos, como Caixa, Banco do Brasil e BNDES, “não saem rodovia, ferrovia, porto, aeroporto. Não sai VLT. Esquece, porque não sai”. É verdade, pois os bancos públicos dão empréstimos para obras de infraestrutura e cobram juros mais acessíveis, mas só é verdade porque queremos que seja assim. Não é um imperativo universal. O conflito entre o individualismo e a sociedade governada nasceu junto com o próprio Estado. Mas a sociedade que não abre o olho acaba tendo um Estado que lhe ensina o correto uso do papel higiênico.

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quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Alternativas de Politica Externa, ou Continuidade da Politica Externa Companheira? - Victor Augusto Ferraz Young

A julgar pelo autor, ou melhor, pelo artigo abaixo transcrito, não existem alternativas à atual política externa, que é considerada excelente por princípio, mesmo quando existem amplas evidências de que ela não cumpriu nenhum dos seus objetivos projetados (no Mercosul, na OMC, na ONU, e em várias outras esferas, inclusive com a China e com a Índia, por exemplo).
Nesse sentido, o título do artigo está completamente errado: deveria ser "Pela continuidade da atual política externa, ativa, altiva e soberana".
Assim, ficaria mais claro o que o autor pretende, desqualificar quaisqer outras alternativas, e proclamar a excelência da atual diplomacia. Seria mais honesto, em todo caso, mais conforme os objetivos do site e de sua campanha continuista. De toda forma combina perfeitamente com o que pensa a maior parte da academia.
Ele condensa, sem a mediocridade de outros artigos que tenho visto na internet, o que pensa a academia, e ela pensa muito mal.
O autor é incapaz de reconhecer algumas barbaridades que assina -- em relação à Rússia, à China, por exemplo, o que revela um espírito autoritário e propenso a apoiar ditaduras, o que é títpico do partido neobolchevique atualmente no poder -- e sequer consegue reconhecer que a integração proposta no cone sul simplesmente não tem funcionado.
Ele não reconhece a deterioração nas contas comercial e de transações correntes, o baixo crescimento, a perda de credibilidade da política externa (justamente ao apoiar ditaduras e regimes pouco frequentáveis), além de diversos outros pontos que pertencem mais ao terreno do delírio -- como por exemplo, o fato de acreditar que o Banco dos Brics vai representar um grande aporte para o Brasil -- do que ao âmbito da realidade concreta.
Enfim, se trata mais de uma peça publicitária, em favor do continuismo na área externa, do que uma análise objetiva da agenda diplomática brasileira.
Paulo Roberto de Almeida

Eleições e as alternativas para a política externa
Victor Augusto Ferraz Young
Brasil Debate, 1/10/2014

Entre as iniciativas atuais que mereceriam debate mais amplo, em contraste com as propostas dos outros candidatos, está, por exemplo, a criação do banco dos BRICs, que permitirá estabelecer proteção adicional em relação à nossa vulnerabilidade monetária, com nova possibilidade de financiamento desvinculada dos credores de Wall Street.

Tema pouco debatido nesta campanha eleitoral é a proposta de política externa dos candidatos. Somos grandes exportadores de produtos agropecuários, minerais e, em proporção menor, de manufaturados.
Nossa indústria depende da importação de componentes, maquinário e serviços do exterior. Há ainda o consumo de bens finais importados que, pela valorização do real, colaboram para diminuir o ritmo de investimentos produtivos, ao mesmo tempo em que mitigam a elevação dos preços.
Além disso, a entrada e saída de capitais como investimentos diretos, aplicações especulativas, empréstimos e emissão de papéis são tão ou mais importantes que o saldo do comércio internacional brasileiro. Tais pontos, mais vinculados à economia interna, não resumiriam todos os aspectos a serem tratados por nossos representantes no exterior.
As relações interestatais também impõem desafios. Estamos sujeitos a uma zona de influência  internacional que nos limita a autonomia sobre a política externa. Os Estados Unidos nos “protegem” com a Quarta Frota e espionam nosso governo.
Economicamente, como muitos países, estamos submetidos a um fluxo de liquidez controlado em última instância pelo banco central norte-americano. O que torna nossa situação bem menos confortável é o fato de nossa moeda não ser conversível, o que, conforme a absorção externa de divisas, poderia fragilizar a economia, obrigando o País a submeter-se outra vez às imposições de seus credores.
Dessa maneira, os EUA são ator da maior relevância com o qual o Brasil deve lidar habilmente. Não se trata de um demônio a nos tolher a iniciativa, mas de uma nação hegemônica que põe seus interesses à frente de qualquer outro em sua tradicional área de influência, a América Latina.

Rússia e China
Novos desdobramentos internacionais, por outro lado, sinalizam mudanças na divisão do poder geopolítico mundial. No leste, a Rússia demonstrou não submeter-se a pressões norte-americanas e europeias.
A incorporação da Crimeia àquele Estado e as “independências” da Abcásia e Ossétia do Sul em relação a Geórgia – apesar da contrariedade dos Estados Unidos e União Europeia – não devem ter seu status revertido.
Mais ao oriente, a China, apesar de seu atrelamento econômico a norte-americanos e europeus, vem estabelecendo uma agenda própria para a expansão de seus negócios na África, América Latina e Leste Asiático. Suas capacidades bélicas também adquiriram grande avanço sobre bases tecnológicas próprias.
O que se destaca é o fato de que, desde o fim da Guerra Fria, nenhum desses dois países, Rússia e China, parecem estar acuados ou ter suas ações totalmente vetadas pelas potências do Ocidente.
Ambos, além de considerável poder militar e capacidade aeroespacial, têm condições de impor elevado custo àqueles que queiram aplicar sanções econômicas rigorosas ou coagi-los belicamente. Não há, dessa maneira, como determinar diretrizes de política externa para o Brasil sem considerar o novo peso que têm essas duas potências no sistema interestatal.
Não há como esquecer, além disso, de que a intensificação das relações internacionais brasileiras junto a outros países da periferia é tão ou mais importante quanto aquelas tidas com o centro do poder mundial.
O recente reforço às relações Sul-Sul, alargando a integração regional e buscando estabelecer relações mais próximas junto aos países árabes e africanos, vem ajudando a incrementar o comércio exterior e favorecendo a ampliação da força política brasileira nos fóruns internacionais. Exemplo claro dessa atuação é o notável poder de barganha obtido com o G-20 dentro da OMC.
Enfim, há diferentes opções para uma política externa mais autônoma que preserve boas relações, mas que não seja atada aos Estados Unidos e/ou países da UE.
O cenário internacional nos impõe limites, mas sua configuração vem se modificando e adquirindo delineamentos que nos oferecem alternativas.

Banco dos BRICS
A última iniciativa do grupo dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) de instituir o Novo Banco de Desenvolvimento e o um Fundo de Reservas de Contingência nos permitirá estabelecer proteção adicional em relação à nossa vulnerabilidade monetária, ao mesmo tempo em que teremos nova possibilidade de financiamento desvinculada dos credores de Wall Street.
Além disso, a associação do Brasil a outros Estados também subdesenvolvidos amplia ainda mais o leque de possibilidades políticas e econômicas.
Nos governos Lula e Dilma pudemos assistir à retomada desse tipo de política externa, mais independente do que a praticada anteriormente. Nestas eleições, ao nos debruçarmos sobre o programa do candidato Aécio Neves, verificamos pouca concretude de propostas.
Infelizmente, é superficial para um debate mais profundo: informa que concluirá acordos junto à Europa e lançará bases para outro com os EUA, mas não especifica sob que termos o fará. No passado, não tivemos boa experiência com os termos da abertura comercial e financeira feita pelo governo FHC.
A proposta da candidata Marina Silva, por outro lado, põe em relevo os feitos realizados em período recente, contudo, ao final, há a afirmação de que o Itamaraty foi esvaziado, partidarizado e influenciado ideologicamente: ou seja, fez-se tudo certo, mas está tudo errado. A exposição deste quesito programático é, no mínimo, contraditória.
Entendemos que a política externa em curso e as propostas dos outros dois principais candidatos à Presidência mereceriam debate mais amplo. O escrutínio dos projetos e a crítica à condução atual poderiam, dessa forma, facilitar a escolha do candidato mais adequado, pois aquele que for eleito terá de lidar com desafios exteriores que podem oferecer tanto oportunidades históricas de desenvolvimento, quanto vicissitudes que comprometeriam qualquer programa de governo, como mostra nossa própria história.

Eleições e as alternativas para a política externa

Entre as iniciativas atuais que mereceriam debate mais amplo, em contraste com as propostas dos outros candidatos, está, por exemplo, a criação do banco dos BRICs, que permitirá estabelecer proteção adicional em relação à nossa vulnerabilidade monetária, com nova possibilidade de financiamento desvinculada dos credores de Wall Street

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Tema pouco debatido nesta campanha eleitoral é a proposta de política externa dos candidatos. Somos grandes exportadores de produtos agropecuários, minerais e, em proporção menor, de manufaturados.
Nossa indústria depende da importação de componentes, maquinário e serviços do exterior. Há ainda o consumo de bens finais importados que, pela valorização do real, colaboram para diminuir o ritmo de investimentos produtivos, ao mesmo tempo em que mitigam a elevação dos preços.
Além disso, a entrada e saída de capitais como investimentos diretos, aplicações especulativas, empréstimos e emissão de papéis são tão ou mais importantes que o saldo do comércio internacional brasileiro. Tais pontos, mais vinculados à economia interna, não resumiriam todos os aspectos a serem tratados por nossos representantes no exterior.
As relações interestatais também impõem desafios. Estamos sujeitos a uma zona de influência internacional que nos limita a autonomia sobre a política externa. Os Estados Unidos nos “protegem” com a Quarta Frota e espionam nosso governo.
Economicamente, como muitos países, estamos submetidos a um fluxo de liquidez controlado em última instância pelo banco central norte-americano. O que torna nossa situação bem menos confortável é o fato de nossa moeda não ser conversível, o que, conforme a absorção externa de divisas, poderia fragilizar a economia, obrigando o País a submeter-se outra vez às imposições de seus credores.
Dessa maneira, os EUA são ator da maior relevância com o qual o Brasil deve lidar habilmente. Não se trata de um demônio a nos tolher a iniciativa, mas de uma nação hegemônica que põe seus interesses à frente de qualquer outro em sua tradicional área de influência, a América Latina.
Rússia e China
Novos desdobramentos internacionais, por outro lado, sinalizam mudanças na divisão do poder geopolítico mundial. No leste, a Rússia demonstrou não submeter-se a pressões norte-americanas e europeias.
A incorporação da Crimeia àquele Estado e as “independências” da Abcásia e Ossétia do Sul em relação a Geórgia – apesar da contrariedade dos Estados Unidos e União Europeia – não devem ter seu status revertido.
Mais ao oriente, a China, apesar de seu atrelamento econômico a norte-americanos e europeus, vem estabelecendo uma agenda própria para a expansão de seus negócios na África, América Latina e Leste Asiático. Suas capacidades bélicas também adquiriram grande avanço sobre bases tecnológicas próprias.
O que se destaca é o fato de que, desde o fim da Guerra Fria, nenhum desses dois países, Rússia e China, parecem estar acuados ou ter suas ações totalmente vetadas pelas potências do Ocidente.
Ambos, além de considerável poder militar e capacidade aeroespacial, têm condições de impor elevado custo àqueles que queiram aplicar sanções econômicas rigorosas ou coagi-los belicamente. Não há, dessa maneira, como determinar diretrizes de política externa para o Brasil sem considerar o novo peso que têm essas duas potências no sistema interestatal.
Não há como esquecer, além disso, de que a intensificação das relações internacionais brasileiras junto a outros países da periferia é tão ou mais importante quanto aquelas tidas com o centro do poder mundial.
O recente reforço às relações Sul-Sul, alargando a integração regional e  buscando estabelecer relações mais próximas junto aos países árabes e africanos, vem ajudando a incrementar o comércio exterior e favorecendo a ampliação da força política brasileira nos fóruns internacionais. Exemplo claro dessa atuação é o notável poder de barganha obtido com o G-20 dentro da OMC.
Enfim, há diferentes opções para uma política externa mais autônoma que preserve boas relações, mas que não seja atada aos Estados Unidos e/ou países da UE.
O cenário internacional nos impõe limites, mas sua configuração vem se modificando e adquirindo delineamentos que nos oferecem alternativas.
Banco dos BRICS
A última iniciativa do grupo dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) de instituir o Novo Banco de Desenvolvimento e o um Fundo de Reservas de Contingência nos permitirá estabelecer proteção adicional em relação à nossa vulnerabilidade monetária, ao mesmo tempo em que teremos nova possibilidade de financiamento desvinculada dos credores de Wall Street.
Além disso, a associação do Brasil a outros Estados também subdesenvolvidos amplia ainda mais o leque de possibilidades políticas e econômicas.
Nos governos Lula e Dilma pudemos assistir à retomada desse tipo de política externa, mais independente do que a praticada anteriormente. Nestas eleições, ao nos debruçarmos sobre o programa do candidato Aécio Neves, verificamos pouca concretude de propostas.
Infelizmente, é superficial para um debate mais profundo: informa que concluirá acordos junto à Europa e lançará bases para outro com os EUA, mas não especifica sob que termos o fará. No passado, não tivemos boa experiência com os termos da abertura comercial e financeira feita pelo governo FHC.
A proposta da candidata Marina Silva, por outro lado, põe em relevo os feitos realizados em período recente, contudo, ao final, há a afirmação de que o Itamaraty foi esvaziado, partidarizado e influenciado ideologicamente: ou seja, fez-se tudo certo, mas está tudo errado. A exposição deste quesito programático é, no mínimo, contraditória.
Entendemos que a política externa em curso e as propostas dos outros dois principais candidatos à Presidência mereceriam debate mais amplo. O escrutínio dos projetos e a crítica à condução atual poderiam, dessa forma, facilitar a escolha do candidato mais adequado, pois aquele que for eleito terá de lidar com desafios exteriores que podem oferecer tanto oportunidades históricas de desenvolvimento, quanto vicissitudes que comprometeriam qualquer programa de governo, como mostra nossa própria história.
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Eleições e as alternativas para a política externa

Entre as iniciativas atuais que mereceriam debate mais amplo, em contraste com as propostas dos outros candidatos, está, por exemplo, a criação do banco dos BRICs, que permitirá estabelecer proteção adicional em relação à nossa vulnerabilidade monetária, com nova possibilidade de financiamento desvinculada dos credores de Wall Street

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Tema pouco debatido nesta campanha eleitoral é a proposta de política externa dos candidatos. Somos grandes exportadores de produtos agropecuários, minerais e, em proporção menor, de manufaturados.
Nossa indústria depende da importação de componentes, maquinário e serviços do exterior. Há ainda o consumo de bens finais importados que, pela valorização do real, colaboram para diminuir o ritmo de investimentos produtivos, ao mesmo tempo em que mitigam a elevação dos preços.
Além disso, a entrada e saída de capitais como investimentos diretos, aplicações especulativas, empréstimos e emissão de papéis são tão ou mais importantes que o saldo do comércio internacional brasileiro. Tais pontos, mais vinculados à economia interna, não resumiriam todos os aspectos a serem tratados por nossos representantes no exterior.
As relações interestatais também impõem desafios. Estamos sujeitos a uma zona de influência internacional que nos limita a autonomia sobre a política externa. Os Estados Unidos nos “protegem” com a Quarta Frota e espionam nosso governo.
Economicamente, como muitos países, estamos submetidos a um fluxo de liquidez controlado em última instância pelo banco central norte-americano. O que torna nossa situação bem menos confortável é o fato de nossa moeda não ser conversível, o que, conforme a absorção externa de divisas, poderia fragilizar a economia, obrigando o País a submeter-se outra vez às imposições de seus credores.
Dessa maneira, os EUA são ator da maior relevância com o qual o Brasil deve lidar habilmente. Não se trata de um demônio a nos tolher a iniciativa, mas de uma nação hegemônica que põe seus interesses à frente de qualquer outro em sua tradicional área de influência, a América Latina.
Rússia e China
Novos desdobramentos internacionais, por outro lado, sinalizam mudanças na divisão do poder geopolítico mundial. No leste, a Rússia demonstrou não submeter-se a pressões norte-americanas e europeias.
A incorporação da Crimeia àquele Estado e as “independências” da Abcásia e Ossétia do Sul em relação a Geórgia – apesar da contrariedade dos Estados Unidos e União Europeia – não devem ter seu status revertido.
Mais ao oriente, a China, apesar de seu atrelamento econômico a norte-americanos e europeus, vem estabelecendo uma agenda própria para a expansão de seus negócios na África, América Latina e Leste Asiático. Suas capacidades bélicas também adquiriram grande avanço sobre bases tecnológicas próprias.
O que se destaca é o fato de que, desde o fim da Guerra Fria, nenhum desses dois países, Rússia e China, parecem estar acuados ou ter suas ações totalmente vetadas pelas potências do Ocidente.
Ambos, além de considerável poder militar e capacidade aeroespacial, têm condições de impor elevado custo àqueles que queiram aplicar sanções econômicas rigorosas ou coagi-los belicamente. Não há, dessa maneira, como determinar diretrizes de política externa para o Brasil sem considerar o novo peso que têm essas duas potências no sistema interestatal.
Não há como esquecer, além disso, de que a intensificação das relações internacionais brasileiras junto a outros países da periferia é tão ou mais importante quanto aquelas tidas com o centro do poder mundial.
O recente reforço às relações Sul-Sul, alargando a integração regional e  buscando estabelecer relações mais próximas junto aos países árabes e africanos, vem ajudando a incrementar o comércio exterior e favorecendo a ampliação da força política brasileira nos fóruns internacionais. Exemplo claro dessa atuação é o notável poder de barganha obtido com o G-20 dentro da OMC.
Enfim, há diferentes opções para uma política externa mais autônoma que preserve boas relações, mas que não seja atada aos Estados Unidos e/ou países da UE.
O cenário internacional nos impõe limites, mas sua configuração vem se modificando e adquirindo delineamentos que nos oferecem alternativas.
Banco dos BRICS
A última iniciativa do grupo dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) de instituir o Novo Banco de Desenvolvimento e o um Fundo de Reservas de Contingência nos permitirá estabelecer proteção adicional em relação à nossa vulnerabilidade monetária, ao mesmo tempo em que teremos nova possibilidade de financiamento desvinculada dos credores de Wall Street.
Além disso, a associação do Brasil a outros Estados também subdesenvolvidos amplia ainda mais o leque de possibilidades políticas e econômicas.
Nos governos Lula e Dilma pudemos assistir à retomada desse tipo de política externa, mais independente do que a praticada anteriormente. Nestas eleições, ao nos debruçarmos sobre o programa do candidato Aécio Neves, verificamos pouca concretude de propostas.
Infelizmente, é superficial para um debate mais profundo: informa que concluirá acordos junto à Europa e lançará bases para outro com os EUA, mas não especifica sob que termos o fará. No passado, não tivemos boa experiência com os termos da abertura comercial e financeira feita pelo governo FHC.
A proposta da candidata Marina Silva, por outro lado, põe em relevo os feitos realizados em período recente, contudo, ao final, há a afirmação de que o Itamaraty foi esvaziado, partidarizado e influenciado ideologicamente: ou seja, fez-se tudo certo, mas está tudo errado. A exposição deste quesito programático é, no mínimo, contraditória.
Entendemos que a política externa em curso e as propostas dos outros dois principais candidatos à Presidência mereceriam debate mais amplo. O escrutínio dos projetos e a crítica à condução atual poderiam, dessa forma, facilitar a escolha do candidato mais adequado, pois aquele que for eleito terá de lidar com desafios exteriores que podem oferecer tanto oportunidades históricas de desenvolvimento, quanto vicissitudes que comprometeriam qualquer programa de governo, como mostra nossa própria história.
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Victor Augusto Ferraz Young

Eleições e as alternativas para a política externa

Entre as iniciativas atuais que mereceriam debate mais amplo, em contraste com as propostas dos outros candidatos, está, por exemplo, a criação do banco dos BRICs, que permitirá estabelecer proteção adicional em relação à nossa vulnerabilidade monetária, com nova possibilidade de financiamento desvinculada dos credores de Wall Street

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Tema pouco debatido nesta campanha eleitoral é a proposta de política externa dos candidatos. Somos grandes exportadores de produtos agropecuários, minerais e, em proporção menor, de manufaturados.
Nossa indústria depende da importação de componentes, maquinário e serviços do exterior. Há ainda o consumo de bens finais importados que, pela valorização do real, colaboram para diminuir o ritmo de investimentos produtivos, ao mesmo tempo em que mitigam a elevação dos preços.
Além disso, a entrada e saída de capitais como investimentos diretos, aplicações especulativas, empréstimos e emissão de papéis são tão ou mais importantes que o saldo do comércio internacional brasileiro. Tais pontos, mais vinculados à economia interna, não resumiriam todos os aspectos a serem tratados por nossos representantes no exterior.
As relações interestatais também impõem desafios. Estamos sujeitos a uma zona de influência internacional que nos limita a autonomia sobre a política externa. Os Estados Unidos nos “protegem” com a Quarta Frota e espionam nosso governo.
Economicamente, como muitos países, estamos submetidos a um fluxo de liquidez controlado em última instância pelo banco central norte-americano. O que torna nossa situação bem menos confortável é o fato de nossa moeda não ser conversível, o que, conforme a absorção externa de divisas, poderia fragilizar a economia, obrigando o País a submeter-se outra vez às imposições de seus credores.
Dessa maneira, os EUA são ator da maior relevância com o qual o Brasil deve lidar habilmente. Não se trata de um demônio a nos tolher a iniciativa, mas de uma nação hegemônica que põe seus interesses à frente de qualquer outro em sua tradicional área de influência, a América Latina.
Rússia e China
Novos desdobramentos internacionais, por outro lado, sinalizam mudanças na divisão do poder geopolítico mundial. No leste, a Rússia demonstrou não submeter-se a pressões norte-americanas e europeias.
A incorporação da Crimeia àquele Estado e as “independências” da Abcásia e Ossétia do Sul em relação a Geórgia – apesar da contrariedade dos Estados Unidos e União Europeia – não devem ter seu status revertido.
Mais ao oriente, a China, apesar de seu atrelamento econômico a norte-americanos e europeus, vem estabelecendo uma agenda própria para a expansão de seus negócios na África, América Latina e Leste Asiático. Suas capacidades bélicas também adquiriram grande avanço sobre bases tecnológicas próprias.
O que se destaca é o fato de que, desde o fim da Guerra Fria, nenhum desses dois países, Rússia e China, parecem estar acuados ou ter suas ações totalmente vetadas pelas potências do Ocidente.
Ambos, além de considerável poder militar e capacidade aeroespacial, têm condições de impor elevado custo àqueles que queiram aplicar sanções econômicas rigorosas ou coagi-los belicamente. Não há, dessa maneira, como determinar diretrizes de política externa para o Brasil sem considerar o novo peso que têm essas duas potências no sistema interestatal.
Não há como esquecer, além disso, de que a intensificação das relações internacionais brasileiras junto a outros países da periferia é tão ou mais importante quanto aquelas tidas com o centro do poder mundial.
O recente reforço às relações Sul-Sul, alargando a integração regional e  buscando estabelecer relações mais próximas junto aos países árabes e africanos, vem ajudando a incrementar o comércio exterior e favorecendo a ampliação da força política brasileira nos fóruns internacionais. Exemplo claro dessa atuação é o notável poder de barganha obtido com o G-20 dentro da OMC.
Enfim, há diferentes opções para uma política externa mais autônoma que preserve boas relações, mas que não seja atada aos Estados Unidos e/ou países da UE.
O cenário internacional nos impõe limites, mas sua configuração vem se modificando e adquirindo delineamentos que nos oferecem alternativas.
Banco dos BRICS
A última iniciativa do grupo dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) de instituir o Novo Banco de Desenvolvimento e o um Fundo de Reservas de Contingência nos permitirá estabelecer proteção adicional em relação à nossa vulnerabilidade monetária, ao mesmo tempo em que teremos nova possibilidade de financiamento desvinculada dos credores de Wall Street.
Além disso, a associação do Brasil a outros Estados também subdesenvolvidos amplia ainda mais o leque de possibilidades políticas e econômicas.
Nos governos Lula e Dilma pudemos assistir à retomada desse tipo de política externa, mais independente do que a praticada anteriormente. Nestas eleições, ao nos debruçarmos sobre o programa do candidato Aécio Neves, verificamos pouca concretude de propostas.
Infelizmente, é superficial para um debate mais profundo: informa que concluirá acordos junto à Europa e lançará bases para outro com os EUA, mas não especifica sob que termos o fará. No passado, não tivemos boa experiência com os termos da abertura comercial e financeira feita pelo governo FHC.
A proposta da candidata Marina Silva, por outro lado, põe em relevo os feitos realizados em período recente, contudo, ao final, há a afirmação de que o Itamaraty foi esvaziado, partidarizado e influenciado ideologicamente: ou seja, fez-se tudo certo, mas está tudo errado. A exposição deste quesito programático é, no mínimo, contraditória.
Entendemos que a política externa em curso e as propostas dos outros dois principais candidatos à Presidência mereceriam debate mais amplo. O escrutínio dos projetos e a crítica à condução atual poderiam, dessa forma, facilitar a escolha do candidato mais adequado, pois aquele que for eleito terá de lidar com desafios exteriores que podem oferecer tanto oportunidades históricas de desenvolvimento, quanto vicissitudes que comprometeriam qualquer programa de governo, como mostra nossa própria história.
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Victor Augusto Ferraz Young

Eleições e as alternativas para a política externa

Entre as iniciativas atuais que mereceriam debate mais amplo, em contraste com as propostas dos outros candidatos, está, por exemplo, a criação do banco dos BRICs, que permitirá estabelecer proteção adicional em relação à nossa vulnerabilidade monetária, com nova possibilidade de financiamento desvinculada dos credores de Wall Street

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Tema pouco debatido nesta campanha eleitoral é a proposta de política externa dos candidatos. Somos grandes exportadores de produtos agropecuários, minerais e, em proporção menor, de manufaturados.
Nossa indústria depende da importação de componentes, maquinário e serviços do exterior. Há ainda o consumo de bens finais importados que, pela valorização do real, colaboram para diminuir o ritmo de investimentos produtivos, ao mesmo tempo em que mitigam a elevação dos preços.
Além disso, a entrada e saída de capitais como investimentos diretos, aplicações especulativas, empréstimos e emissão de papéis são tão ou mais importantes que o saldo do comércio internacional brasileiro. Tais pontos, mais vinculados à economia interna, não resumiriam todos os aspectos a serem tratados por nossos representantes no exterior.
As relações interestatais também impõem desafios. Estamos sujeitos a uma zona de influência internacional que nos limita a autonomia sobre a política externa. Os Estados Unidos nos “protegem” com a Quarta Frota e espionam nosso governo.
Economicamente, como muitos países, estamos submetidos a um fluxo de liquidez controlado em última instância pelo banco central norte-americano. O que torna nossa situação bem menos confortável é o fato de nossa moeda não ser conversível, o que, conforme a absorção externa de divisas, poderia fragilizar a economia, obrigando o País a submeter-se outra vez às imposições de seus credores.
Dessa maneira, os EUA são ator da maior relevância com o qual o Brasil deve lidar habilmente. Não se trata de um demônio a nos tolher a iniciativa, mas de uma nação hegemônica que põe seus interesses à frente de qualquer outro em sua tradicional área de influência, a América Latina.
Rússia e China
Novos desdobramentos internacionais, por outro lado, sinalizam mudanças na divisão do poder geopolítico mundial. No leste, a Rússia demonstrou não submeter-se a pressões norte-americanas e europeias.
A incorporação da Crimeia àquele Estado e as “independências” da Abcásia e Ossétia do Sul em relação a Geórgia – apesar da contrariedade dos Estados Unidos e União Europeia – não devem ter seu status revertido.
Mais ao oriente, a China, apesar de seu atrelamento econômico a norte-americanos e europeus, vem estabelecendo uma agenda própria para a expansão de seus negócios na África, América Latina e Leste Asiático. Suas capacidades bélicas também adquiriram grande avanço sobre bases tecnológicas próprias.
O que se destaca é o fato de que, desde o fim da Guerra Fria, nenhum desses dois países, Rússia e China, parecem estar acuados ou ter suas ações totalmente vetadas pelas potências do Ocidente.
Ambos, além de considerável poder militar e capacidade aeroespacial, têm condições de impor elevado custo àqueles que queiram aplicar sanções econômicas rigorosas ou coagi-los belicamente. Não há, dessa maneira, como determinar diretrizes de política externa para o Brasil sem considerar o novo peso que têm essas duas potências no sistema interestatal.
Não há como esquecer, além disso, de que a intensificação das relações internacionais brasileiras junto a outros países da periferia é tão ou mais importante quanto aquelas tidas com o centro do poder mundial.
O recente reforço às relações Sul-Sul, alargando a integração regional e  buscando estabelecer relações mais próximas junto aos países árabes e africanos, vem ajudando a incrementar o comércio exterior e favorecendo a ampliação da força política brasileira nos fóruns internacionais. Exemplo claro dessa atuação é o notável poder de barganha obtido com o G-20 dentro da OMC.
Enfim, há diferentes opções para uma política externa mais autônoma que preserve boas relações, mas que não seja atada aos Estados Unidos e/ou países da UE.
O cenário internacional nos impõe limites, mas sua configuração vem se modificando e adquirindo delineamentos que nos oferecem alternativas.
Banco dos BRICS
A última iniciativa do grupo dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) de instituir o Novo Banco de Desenvolvimento e o um Fundo de Reservas de Contingência nos permitirá estabelecer proteção adicional em relação à nossa vulnerabilidade monetária, ao mesmo tempo em que teremos nova possibilidade de financiamento desvinculada dos credores de Wall Street.
Além disso, a associação do Brasil a outros Estados também subdesenvolvidos amplia ainda mais o leque de possibilidades políticas e econômicas.
Nos governos Lula e Dilma pudemos assistir à retomada desse tipo de política externa, mais independente do que a praticada anteriormente. Nestas eleições, ao nos debruçarmos sobre o programa do candidato Aécio Neves, verificamos pouca concretude de propostas.
Infelizmente, é superficial para um debate mais profundo: informa que concluirá acordos junto à Europa e lançará bases para outro com os EUA, mas não especifica sob que termos o fará. No passado, não tivemos boa experiência com os termos da abertura comercial e financeira feita pelo governo FHC.
A proposta da candidata Marina Silva, por outro lado, põe em relevo os feitos realizados em período recente, contudo, ao final, há a afirmação de que o Itamaraty foi esvaziado, partidarizado e influenciado ideologicamente: ou seja, fez-se tudo certo, mas está tudo errado. A exposição deste quesito programático é, no mínimo, contraditória.
Entendemos que a política externa em curso e as propostas dos outros dois principais candidatos à Presidência mereceriam debate mais amplo. O escrutínio dos projetos e a crítica à condução atual poderiam, dessa forma, facilitar a escolha do candidato mais adequado, pois aquele que for eleito terá de lidar com desafios exteriores que podem oferecer tanto oportunidades históricas de desenvolvimento, quanto vicissitudes que comprometeriam qualquer programa de governo, como mostra nossa própria história.
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Book Lovers Are Totally Obsessed With This Website: BookBub

Book Lovers Are Totally Obsessed With This Website

Last year, Random House quietly gave away Dan Brown’s bestselling novel, The Da Vinci Code, for free for one week. Millions of readers were unaware of the week-long giveaway.
A select group of readers did take advantage of the promotion, though. They were using BookBub, a daily email that alerts readers to free and deeply discounted ebooks that are available for a limited time. BookBub notified nearly 1 million readers of the free Da Vinci Code deal last spring.
“It’s the Groupon of books,” Dominique Raccah, the publisher of Sourcebooks, told The New York Times about deal sites like BookBub. “For the consumer, it’s new, it’s interesting. It’s a deal and there isn’t much risk. And it works.”
Why did Random House give away a bestselling ebook that usually retails for $9.99? The company’s goal was to hook new readers on Brown’s thrillers and drum up interest in his new book, Inferno. The free ebook even included the prologue and first chapter of Inferno.
“It makes it almost irresistible,” Liz Perl, Simon & Schuster’s senior vice president explained to the The New York Times. “We’re lowering the bar for you to sample somebody new.”
Book lovers have now become practically obsessed with BookBub. In many cases, they’ve downloaded hundreds of books that publishers and authors have promoted on the site.
“I now have more books than I can read in a lifetime,” said Suzie Miller of Auburn, Wash. She said she has downloaded more than 350 free books using the service.
For readers, part of the appeal of BookBub is that it does not list every single free ebook on the market. Instead, BookBub’s expert editorial team selectively curates only the highest-quality ebooks to feature in their email and on their website. In most cases, the deals can be purchased for any ereading device, including Kindle, iPad, Nook, and Android.
Readers can select which genres they would like to receive, so each email is matched to their preferences. BookBub features more than two dozen genres of books, including mystery, romance, literary, historical fiction, nonfiction and more.
With millions of readers using BookBub’s service, this type of promotional concept seems to be resonating with both publishers and readers alike. To find out more about the service, go to www.bookbub.com.