Muito
freqüentemente sou solicitado, por interessados na carreira
diplomática, geralmente jovens, a pronunciar-me sobre a natureza exata
do trabalho diplomático. As dúvidas são muitas e a curiosidade infinita.
Ainda assim tento responder a cada um da melhor forma possível, mas
novas demandas se repetem, com perguntas usualmente similares. Como
exemplo típico desse gênero de questionamento, transcrevo mensagem
enviada hoje (11.01.06), que tentarei responder em seguida:
“Ainda
falta um pouco para eu me decidir por este caminho (a diplomacia), por
isso vim lhe pedir um breve relato de um dia comum seu, em sua
profissão. O que é comum encontrar nessa carreira? O que é gratificante?
E quais as dificuldades? Não quero incomodá-lo, aliás tenho muito
receio disso, mas, ao mesmo tempo, quero me encontrar com a certeza de
um futuro inescusável. E como decifrá-lo, se não perguntá-lo? A simples
informação de quanto tempo permanece sentado assinando papéis, de quanto
de autonomia se tem, dentre outros aspectos congêneres; essas simples
informações formam o motivo de minha interpelação.”
Pois bem, sei
que existem muitas lendas em torno das atividades de um diplomata,
geralmente de natureza turística ou etílica, ou seja, de que passamos o
tempo viajando de um lugar para outro, em belas cidades de países
desenvolvidos, participando de reuniões sofisticadas e, sobretudo, de
coquetéis e recepções, um pouco como se todo mundo ainda vivesse nos
tempos das cortes européias, em bailes e outras galanterias... Exagero,
claro, mas o pessoal também exagera em torno da quantidade de bebida que
é humanamente possível ingerir. Com exceção do Vinicius de Moraes, que
vivia de copo de uísque na mão, o diplomata geralmente não bebe, salvo,
claro, quando é obrigado...
Sans blague, para descrever um dia
típico de um diplomata seria preciso, primeiro, distinguir entre o
diplomata na Secretaria de Estado, ou seja, na sua capital, onde ele é
miseravelmente remunerado, e aquele destacado para um posto no exterior,
numa embaixada permanente, numa missão junto a um organismo
internacional, ou em missão temporária, integrando uma delegação em
alguma reunião internacional, onde ele ganha um pouco mais, mas onde ele
tampouco vive nababescamente, como alguns podem imaginar.
Na
Secretaria de Estado, somos perfeitos burocratas, processando
informações, geralmente em formato eletrônico – como tudo o mais na
vida, nestes tempos de informatização generalizada – mas também em
suporte papel, muito papel. Ainda existe um bocado de formulários e
memorandos nas burocracias governamentais, mais do que o necessário.
Um
diplomata padrão cuida de alguns assuntos, sobre os quais possui, ou
pelo menos deveria ter, domínio completo e competência reconhecida. Ele
recebe um insumo qualquer – digamos um telegrama, hoje um simples
e-mail, de uma embaixada, ou uma demanda de algum outro serviço – e
imediatamente transforma esse tema em algum tipo de “instrução”, para a
própria Secretaria de Estado, para outros órgãos do Estado ou para a
missão no exterior que primeiro suscitou o problema. Essa resposta pode
sair imediatamente ou requerer consultas a outras instâncias da Casa –
divisões políticas, isto é, geográficas, ou econômicas, jurídicas,
administrativas, etc. – ou de fora, algum órgão técnico do governo, por
exemplo, ou até mesmo a entidades da chamada “sociedade civil”. Se o
assunto é sério o suficiente para requerer uma decisão superior, ele é
levado sucessivamente a escalões mais elevados, eventualmente até ao
próprio presidente da República, que assume responsabilidade por todas
as decisões maiores da política externa oficial, da qual o chanceler (ou
ministro de Estado das relações exteriores) é o executor.
O
gratificante, para um diplomata, é ver que uma proposta sua, emanada de
seu “processamento” diligente, e inteligente, defendendo o que ele
considera como sendo o interesse nacional, foi convertida em política de
Estado e passa a ser defendida pelos representantes do país nos foros
internacionais. As dificuldades, pelo menos no plano “psicológico”,
geralmente estão ligadas à incapacidade de a instituição responsável
pela política externa chegar a uma posição clara, contemplando esses
interesses – mas nem sempre é fácil determinar onde está o interesse
nacional –, ou então elas são derivadas do fato de que a melhor posição
possível, em determinadas circunstâncias, tem de ser “contornada”,
digamos assim, em função de alianças táticas ou de “competição” com
outros objetivos, nem sempre muito claros.
Já nem considero aqui as
dificuldades de tipo administrativo ou logístico – como a ausência de
recursos materiais e humanos suficientes para executar o que se poderia
considerar como a melhor diplomacia possível em todas as frentes abertas
ao engenho e arte de nosso serviço exterior – ou os obstáculos
propriamente “estruturais”, que são a obstrução dos fins pretendidos
pelas “nossas” instruções por alguma coalizão mais forte no plano
externo ou a insuficiente mobilização de aliados para a nossa causa.
Isso faz parte da vida...
O diplomata na capital, ainda que
fazendo parte de uma grande burocracia, dispõe de mais margem de ação e
de mais autonomia do que o diplomata no posto, que tem necessariamente
de seguir as instruções da capital. Mas este último também participa do
processo decisório e da elaboração de posições, ao informar corretamente
sobre as relações de força, sobre as posições dos demais países, sobre
as alianças táticas que estão sendo desenhadas em torno de algum assunto
e assim por diante.
Numa embaixada bilateral, que são os postos
mais numerosos, as negociações são talvez menos freqüentes, mas aumenta o
volume de informações produzidas sobre o país em questão e cresce o
esforço de defesa dos interesses brasileiros em temas concretos, como
comércio, investimentos, acordos de cooperação, geralmente científica e
tecnológica, visitas bilaterais, bem como atividades de promoção
cultural.
Coquetéis e recepções constituem parte integral do
“balé” diplomático, mas esse tipo de atividade “festiva” geralmente está
ligada às comemorações das datas nacionais – e isso dá para preencher
quase todos os dias do ano, dependendo da capital e da respectiva rede
de embaixadas, mas a freqüentação desse tipo de evento varia muito em
função de “quem trabalha com aquele país” – ou então contempla a parte
inicial de alguma reunião importante, com a presença de várias
delegações. Almoços de trabalho – muito raramente pagos pelo serviço
exterior – são mais usuais, ao passo que são mais raras aquelas
recepções que nós mesmos organizamos para os colegas que conosco
trabalham ou com quem convivemos por dever de ofício. Chefes de missão
têm, sim, uma jornada extra, recepcionando ou participando intensamente
desses eventos, para os quais se requer boa disposição de espírito, bom
humor e o físico em forma...
Resumindo em poucas palavras, o
diplomata, em suas diferentes funções ligadas à representação,
negociação e informação, passa a maior parte do tempo pesquisando,
escrevendo, processando informações, se relacionando com outros
diplomatas, colegas e de outros países, bem como com funcionários de
diferentes serviços, com o objetivo básico de conceber instruções e
depois defender posições que reflitam o interesse nacional de seu país.
É uma função, sem dúvida alguma, “nobre” e gratificante, mas também
muito exigente e comportando alguma dose de desprendimento, pois por
vezes as condições de trabalho, ou as da vida em família, não são as
melhores possíveis (em alguns postos “de sacrifício”, por exemplo, ou
até mesmo na Secretaria de Estado, onde os salários são baixos e o
trabalho excessivo).
No cômputo global, creio que se trata de
uma profissão invejável, pela diversidade de situações que ela permite e
pelas oportunidades que cria de engrandecimento pessoal, intelectual e
profissional. Os interessados em uma opinião pessoal sobre o que eu
creio serem, na atualidade, as regras pelas quais deve pautar-se um
diplomata, podem consultar meu ensaio preliminar “Dez regras modernas de
diplomacia”, nos seguintes links:
https://espacoacademico.wordpress.com/2017/10/21/dez-regras-modernas-de-diplomacia/ e
http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/viewFile/35896/20907; um resumo do
mesmo texto, limitado às regras, foi colocado em meu Blog, post nr. 62,
neste link:
http://paulomre.blogspot.com/2005/12/62-dez-regras-modernas-de-diplomacia.html.
Boa
sorte aos que tentam o ingresso na carreira, mas um aviso preliminar:
será preciso estudar muito, antes e durante toda a carreira...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 11 de janeiro de 2006
44 comentários:
Bjs
Gostaria muito que o senhor me enviasse um e-mail, me esclarecendo sobre a carreira diplomatica. Tenho interesses, mas gostaria de saber de uma pessoa totalmente qualificada na área e com boa experiência. Gostaria De saber remuneração e campos? E oque Agrada no senhor a carreira diplomatica?. xxxx@msn.com
Muito obrigada
Joseane Rocha
Tenho uma dúvida e gostaria de saber sua opinião a respeito de escolas que tem o ensino médio voltado a diplomacia.
Vou iniciar a oitava serie em 2009,e pretendo seguir a carreira.Moro no interior de Minas Gerais e tenho duvidas quanto a escolha de fazer um ensino médio em algum colégio que de ênfase a essa carreira.
Busco uma ajuda a escolha de uma capital que tenha esse suporte.
Agradeço desde já.
Hanna
Fiz como os Diplomatas e pesquisei sobre essa carreira realmente exigente, como acabo de ler no seu post.
Ainda tenho 16 anos, mas já me interesso pela maioria das coisas que os Diplomatas se interessam, ou são obrigados á conviver. Então acho que estou no caminho certo.
Amo línguas, falo Inglês, brevemente Espanhol e Francês.
Pretendo cursar Relações Internacionais e Ciências Políticas.
Gostaria de saber se estou no caminho certo, e se o Sr. mantém contato com questões internacionais,e qual foi a pessoa mais ilustre que o Sr. já conheceu.
Parecem dúvidas pouco inteligentes, mas sem dúvida me dariam um grande estímulo.
Obrigada por esclarecer tudo, ou quase tudo dessa carreira tão bonita que é a Diplomacia.
Grande Abraço.
Elisa Duarte de Mattos.
Se voce tem 16 anos e já faz e já sabe tantas coisas, então está no caminho certo para tornar-se diplomata. Mas, tenha plena consciência de que precisará ler muita coisa, que está no Guia de Estudos do Instituto Rio Branco (veja em mre.gov.br)
No meu site (www.pralmeida.org), secao Carreira Diplomatica tem muitos textos e alugns conselhos que respondem a algumas de suas questoes.
Bons estudos e boa sorte
PRA
Quando fala a respeito dos baixos salários baixos para os diplomatas na Secretaria do Estado, em que termos de valores médios você se refere?
agradeço a resposta.
A carreira é composta de estagios no exterior e na Secretaria de Estado em Brasilia, geralmente a razao de 2-3 e 1-3 do tempo, aproximadamente, mas isso é flexivel.
A decisao é tomada em interacao entre o diplomata e o setor de Administracao. Geralmente voce tem de cumprir prazos no exterior para poder ser promovido, entao as pessoas tem interesse em sair para ficar em cinducoes de ser promovido.
Para onde se vai é uma negociacao complexa, mas sempre tem alguma compensacao posterior: se voce pega um posto C ou D (de maior sacrificio), voce tem direito, depois, de ir a posto A ou B (que são as grandes capitais do mundo desenvolvido).
A carreira é composta de estagios no exterior e na Secretaria de Estado em Brasilia, geralmente a razao de 2-3 e 1-3 do tempo, aproximadamente, mas isso é flexivel.
A decisao é tomada em interacao entre o diplomata e o setor de Administracao. Geralmente voce tem de cumprir prazos no exterior para poder ser promovido, entao as pessoas tem interesse em sair para ficar em cinducoes de ser promovido.
Para onde se vai é uma negociacao complexa, mas sempre tem alguma compensacao posterior: se voce pega um posto C ou D (de maior sacrificio), voce tem direito, depois, de ir a posto A ou B (que são as grandes capitais do mundo desenvolvido).
Tenho apenas 11 anos de idade. Curso inglês e espanhol, gosto, tenho prazer em estudar,tiro notas boas e acho a carreira de diplomacia fascinante. Será que eu poderia seguir essa carreira? Minha mãe diz que sou jovem para ficar pensando nessas coisas, mas eu já gostaria de investir no meu futuro.
E a propósito adorei o texto!
Acho que com 11 anos voce tem a idade perfeita para comecar a se preparar. Diga para a sua mae que quanto mais cedo melhor. Eu comecei antes, bem antes, lendo livros de historia mundial, de historia do Brasil, de geografia e sobre temas internacionais de maneira geral.
Os examos de ingresso na carreira diplomatica sao extremamente dificeis e exigentes, assim que so conseguem entrar os mais bem preparados, aqueles otimamente preparados, o que so se consegue com estudos de longo prazo, nao com preparacao rapida em poucos meses.
Assim que eu recomendaria a voce continuar a estudar linguas, sobretudo ingles (que precisa ser perfeito), ler muita literatura e classicos da cultura brasileira (seu Portugues precisar ser perfeito tambem) e ler todos os materiais relevantes para a carreira que voce encontrar.
Entre no site do Instituto Rio Branco (no mre.gov.br) e veja o Guia de Estudos, que traz a lista dos livros de referencia. Comece a ler desde agora e faca notas em algum caderno ou no computador.
Bons estudos para voce, desde ja.
Cordialmente,
Paulo Roberto de Almeida
Primeiramente, muito obrigada pelos excelentes textos que tenho encontrado de sua autoria. Tenho 17 anos, moro no interior de Rondônia.
Sou formada em língua inglesa, e obtive boas notas em algumas provas de caráter internacional. Dou aulas de inglês também.
Estou fascinada com o curso e a carreira diplomática, porém tenho ainda algumas dúvidas.
Estou prestando vários vestibulares, em sua maioria em Brasília.
Sempre me recomendam fazer o curso de Direito antes do curso de Relações Internacionais, gostaria de saber se isso é mesmo necessário, ou não.
Obrigada pela atenção. Abraços.
Voce vai precisar de muito mais do que apenas conhecimento de ingles para passar em todas as demais materiais.
Se eu fosse voce, eu faria direito, antes de RI, esta como especializacao, nao como bacharelado ou licenciatura.
Paulo R Almeida
Grata pela atenção,
Aline. (email: aline.guiotti@hotmail.com)
Tenho 15 anos, me interesso muito por temas relacionados a carreira diplomática, faço minhas provas de história e geografia sem estudar e tiro notas boas, por exemplo, achei seu texto interessantissimo.
Gostaria de saber se você acha melhor fazer um cursinho preparatório como o curso Clio ou é melhor tentar na "raça" estudando sozinho?
Estude na raça, como voce diz, mas se puder fazer um cursinho, desses bem bitoladores, talvez seja melhor. Nunca se deve confiar apenas na sorte e no estudo descompromissado. Pode vezes, um estudo dirigido, desses que pegam as questões mais idiotas que os professores conseguem formular, e dão as respostas adequadas, é bom. Nem sempre a lógica e o conhecimento triunfam. Por vezes, a versão vale mais do que a realidade.
O abraco do
Paulo Roberto de Almeida
Primeiramente,agradeço pelo seu texto acerca da diplomacia e dos estudos internacionais. Sempre me interessei por esta carreira. No entanto, meu desejo é fazer um curso de Direito para adiante me especializar em relações internacionais, não procurando ser especificamente um bacharel na última. É prudente esta minha posição? Estarei em desvantagem com relação aos que já buscam,a priori, o grau de bacharel na área? O que devo fazer para,digamos,me acostumar com a área ao longo do curso de Direito?
Primeiramente,agradeço pelo seu texto acerca da diplomacia e dos estudos internacionais. Sempre me interessei por esta carreira. No entanto, meu desejo é fazer um curso de Direito para adiante me especializar em relações internacionais, não procurando ser especificamente um bacharel na última. É prudente esta minha posição? Estarei em desvantagem com relação aos que já buscam,a priori, o grau de bacharel na área? O que devo fazer para,digamos,me acostumar com a área ao longo do curso de Direito?
Acho que você está certo em fazer Direito e estudar as matérias do concurso paralelamente. Relações Internacionais se aprende basicamente nos livros, e isso você pode fazer sozinho.
Paulo R. Almeida
Tenho 17 moro em Brasília e estou me preparando para ingressar em Relações Internacionais na UNB com foco para diplomacia, desde muito cedo me interessei em seguir carreira diplomática, amo história, geografia, ler, me expresso bem, falo inglês fluentemente e tenho facilidade com línguas estrangeiras;O fato de não fazer Direito antes de RI realmente me deixaria em desvantagem mesmo se antes de eu prestar o concurso para a Fundação Rio Branco eu me preparasse em cursinhos como o Clio?
Você não precisa fazer Direito, para ser diplomata. Alias, não precisa fazer nada especificamente, só precisa de um canudo universitário, qualquer um, pode ser economia doméstica, educação física, física nuclear, engenharia, whatever. Por mim, eu não exigiria nem diploma de curso primário, mas o Rio Branco pede um título universitário, qualquer título reconhecido pelo MEC. Portanto, o RI da UnB serve, o que não quer dizer que o curso seja suficiente. Você vai ter de estudar por conta própria ou fazer um cursinho.
Esqueça Direito: ainda que possa trazer alguns rudimentos de conhecimento especializado, não existe nada, literalmente NADA no curso que você não possa aprender sozinha, lendo livros ou se se informando na internet.
Esqueça a chateação de fazer Direito na UnB: o curso é fraco, está abaixo do Uniceub.
Melhor fazer Direito na Wikipedia...
Estude sozinha, você sempre estará melhor do que mal acompanhada...
Paulo Roberto de Almeida
Tenho 14 anos e a pouco tempo li seu blog, estou interessada em ser diplomata mas tenho algumas duvidas, gostaria de saber se a Matemática é uma matéria de muito peso para quem quer ser diplomata, pois tenho dificuldade nesta matéria,mas em contrapartida gosto muito de inglês inclusive faço curso além de gostar de viajar e não ter problema em ficar longe da família por um longo tempo.
grata
Geovanna
Estou com diversas dúvidas sobre a carreira diplomática, o seu texto ajudou-me a esclarecer algumas delas.
Moro o interior do RS, na cidade de Sinimbu,tenho 16 anos, estou no terceiro ano de ensino médio. Sempre estudei em escola púbica,e vou prestar vestibular para a UFRGS, UFSM e UNISC. Prtendo cursar a faculdade de Direito, gostaria de saber a sua opinião qual a graduação mais indicada para adquirir habilidades e competências para a carreira diplomática.Estudo a língua alemã, este ano faço a prova A2, poderia me informas quais são as línguas mais requisitadas no currículo de um diplomata? Desde já muito grata, Lucia Carolina Raenke Ertel.
Meu e-mail é: xxxxxxxxxx@hotmail.com
Sou recém formada em Relações Internacionais e trabalho numa empresa multinacional.
Compartilho, no entanto e assim como muitos jovens internacionalistas, o desejo de ingressar na carreira diplomática.
Não me importo em passar anos investindo pois sou uma pessoa muito determinada e acredito que tudo é possível com fé e esforço pessoal.
No entanto, um dos meus maiores temores é acabar me frustando por causa da burocracia. Ou ainda, me sentir impotente diante de tantos fatos envolvendo interesses diversos.
Gostaria de saber na opinião do senhor se vale a pena investir na diplomacia visto que, a meu ver tais possibilidades são reais.
Obrigada pelo excelente texto.
Se for como muitas profissões, onde o trabalho faz parte da rotina dos pais, por mim tudo bem. O que não gostaria é ser uma mãe ausente em busca de um sonho.
A carreira é realmente exigente, pois voce tem viagens em fins de semana e ausências seguidas e isso pode causar algum stress familiar. Mas, se voce conta com alguma ajuda domestica, tudo pode ser arranjado.
Ser mae ausente é outro problema e pode ocorrer em qualquer profissao. Pode-se ser diplomata e presente, como sempre fomos, eu e minha mulher, em qualquer circunstancia. Eventualmente o conjuge nao diplomata vai arcar com um pouco mais de responsabilidade e encargos, mas isso faz parte da profissão.
Paulo Roberto de Almeida
Tenho 17 anos e pretendo cursar relações internacionais, queria que o senhor me ajudasse, terminando o curso se eu escolher trabalhar em uma empresa, você poderia me esclarecer um pouco como seria esse trabalho ?
agradeço a ajuda.
Se voce fizer RI e escolher (ou tiver de) trabalhar em uma empresa, certamente você seria chamado para a area de negocios internacionais dessa empresa, se ela estiver envolvida nesse tipo de assunto obviamente: importação, exportação, regras de comércio internacional, processos de integração dos quais o Brasil participa (como o Mercosul, por exemplo), etc.
Por isso recomendo que você reforce o estudo de economia, leia bastante sobre relações econômicas internacionais, mais, bem mais do que você tiver como matéria no curso de RI (que costumam ser fraquinhos e ter poucas matérias práticas, de corte empresarial, sendo bem mais teórico-acadêmicos). Estude por sua conta, lendo jornais e revistas de economia internacional e pesquisando sozinho na internet.
Nada é melhor do que você garantir a sua própria formação em economia: ela lhe será útil numa empresa.
Paulo Roberto de Almeida
Tenho 15 anos e sempre tive uma fascinação com os assuntos relacionados à geografia, principalmente na área econômica e também à história.
Estava decidido à fazer o curso de história até que encontrei o curso de RI e comecei a pesquisar sobre ele.
Em vários fóruns pela internet há um grande debate sobre viagens internacionais.
Meu sonho sempre foi trabalhar em outro país ou apenas fazer viagens de negócios.
Eu queria saber se quando se trabalha com RI há a possibilidade de se atuar em outros países e se há algum outro curso que se necessite atuar em outros países?
Uma graduação universitária, qualquer uma, apenas qualifica alguém em alguma área do conhecimento, eventualmente ajudando a conseguir uma profissão cujos requerimentos são afinados com aquela área.
Mas ela não garante qualquer chance de trabalho, ou emprego, se a própria pessoa não for realmente capacitada -- aos olhos de um empresário empregador, por exemplo -- ou capaz de passar em algum concurso em uma profissão que permita atuar em outros países.
Existem muitas profissões que permitem esse tipo de abertura, na vida privada -- em empresas multinacionais, digamos assim -- ou na vida pública, passando no concurso para a diplomacia, por exemplo.
Neste caso, você teria de estudar muito, pois o concurso é extremamente exigente.
Sorte sua, pois com 15 anos, você tem tempo de se preparar adequadamente. Comece agora, a ler tudo o que voce precisa ler (no meu site tem indicações sobre isso: www.pralmeida.org) e estude sempre, independentemente do curso que voce for fazer.
Tem de estudar por contra própria, sem depender de ninguém.
Bons estudos.
Paulo Roberto de Almeida
Tenho 15 anos e sou apaixonada pelas ciências humanas, por idiomas e pelo mundo, pelos países. Recentemente descobri que existe a possibilidade desse emprego que eu julgo maravilhoso, mas tenho medo de estar idealizando. Como é a vida pessoal de um diplomata? Eles têm uma vida normal no que se diz à isso? E sobre o trabalho em outros países, gostaria muito de saber sobre isso.
Muito Obrigada.
Por incrivel que pareça, o diplomata pode ser uma pessoa normal. Enfim, tem de tudo na diplomacia, mas a maioria é bem normalzinha: trabalha, bebe, trabalha, bebe, dorme, bebe...
Estou brincando, claro, mas você vai descobrir muita coisa sobre os diplomatas pesquisando na internet, e corre até o risco de achar muita coisa minha, que sou um diplomata normal (mas tem gente que não acredita...).
Paulo Roberto de Almeida
Você pode ser diplomata com qualquer diploma superior, até de economia doméstica, se existir. Portanto, se você se sente atraído pela profissão de jornalista, faça o curso, sabendo, porém, que os cursos de jornalismo são geralmente medíocres, com professores idem, com as exceções de praxe em algumas faculdades, e que a vida de jornalista é relativamente miserável, sem muitos atrativos turísticos e muita espera e suor em torno de uma boa matéria.
Mas se isso lhe encanta, faça.
Mas saiba que você vai precisar se preparar muito para ser diplomata, o que nenhuma faculdade lhe dará, nem mesmo cursos de RI que em geral também são medíocres. Portanto, se você quiser um conselho, estude por sua própria conta todas as matérias do concurso de ingresso na diplomacia, ao mesmo tempo que voce faz uma faculdade qualquer, a menos ruim possível (mas não confie muito).
Paulo Roberto de Almeida
Atualmente faço o curso de Ciências Sociais (segundo semestre) e tenho predileção por Antropologia, pretendo seguir a área acadêmica (mestrado,doutorado e depois dar aula em universidades), mas também tenho interesse na carreira diplomática.As vezes fico pensando se realmente quero ser diplomata ou só é uma idealização da minha parte, acho incrível poder trabalhar cada período em um país diferente, com culturas distintas, quanto maior o choque cultural, melhor.Enfim, eu estou em desvantagem por não cursar Direito? O conhecimento em francês e espanhol tem que ser perfeito igual ao inglês e português? Vi que o Sr. possui doutorado em Ciências Sociais, então eu pergunto se os meus interesses intelectuais e a carreira diplomática não estariam em desacordo, se a diplomacia não seria mais para quem gosta de Ciência Política.
Desde já, agradeço.
Eu também fiz Ciências Sociais, e acho os diplomatas uma tribo especialmente bizarra, pronta para ser examinada por algum antropólogo especializado em grupos perdidos na selva.
Mas eu nunca dependi de qualquer curso para me tornar diplomata: estudei por minha própria conta e me tornei diplomata, esse ser nomade que fica vagando entre países e o Brasil a intervalos regulares. Acho bom.
Estude, entre, depois você decide se quer ser diplomata, ou se quer ser apenas um etnólogo de diplomatas.
Paulo Roberto de Almeida
Quero lhe parabenizar e agradecer, não somente por informar sobre a rotina do diplomata brasileiro, mas também pela humildade e atenção em responder os comentários.
Era o tipo de opinião que faltava pra eu me decidir pela carreira.