O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Economia brasileira ainda nao piorou tudo o que vai piorar - Adolfo Sachsida

Não é o profeta do apocalipse, mas um economista sensato e eu concordo inteiramente com ele: o pior ainda está por vir...
Aguardem...
Paulo Roberto de Almeida 

O que nos espera no segundo semestre?

Adolfo Sachsida
Blog, 25/06/2015

Por algum motivo que desconheço alguns analistas tem dito que o segundo semestre de 2015 será de recuperação. Então, apenas para deixar claro: o segundo semestre de 2015 será pior do que o primeiro.

Tal como tenho alertado há muito tempo, 2015 será o ano do ajuste. E, repito, o ajuste severo se dará no segundo semestre. A queda na produção e o aumento no desemprego se farão mais evidentes no final do ano.

Tenho visto técnicos do governo, e analistas da imprensa, reclamarem de que o Congresso Nacional não tem ajudado no esforço de ajuste fiscal. ERRADO! Quem não tem ajudado no ajuste fiscal é Dilma e a equipe econômica. Levy diz que 2015 é apenas uma “ressaca”, outros ministros dizem que o ajuste é temporário, Dilma estimula a população a consumir mais... bom quando o próprio governo minimiza a crise, exatamente por que o Congresso deveria se preocupar?

A equipe econômica e Dilma deveriam ser honestos. Deveriam reconhecer a magnitude da crise, as enormes dificuldades que nos esperam, deixar claro o tamanho monumental do sacrifício que deverá ser feito para corrigir os erros econômicos passados. Quando fizerem isso, quando admitirem que estamos a beira do caos econômico, então poderemos cobrar mais seriedade no ajuste fiscal por parte do Congresso. Mas se o próprio governo é o primeiro a dizer que a crise é apenas uma “ressaca”, exatamente por que o Congresso deveria adotar medidas drásticas?

Se preparem, o segundo semestre de 2015 será bem pior do que o primeiro. O ajuste mal começou, e com a postura atual do governo ele tem tudo para piorar ainda mais. Vou dar um exemplo: a indexação do salário mínimo é uma bomba que vai explodir as contas públicas ano que vem. O que o governo tem feito para desarmá-la? Cada R$ 1 real de aumento no salário mínimo impacta as contas públicas em aproximadamente R$ 300 milhões/ano. Um aumento de R$ 80 reais no salário mínimo ano que vem será o tiro de misericórdia nas contas públicas.

O Fim do Brasil nao e' o fim da historia - Felipe Miranda

Reflexões de um analista econômico:

O Fim do Brasil não é o fim da história
Felipe Miranda, 25/06/2015

Nietzsche não era O Anticristo. Fukuyama não imaginava que navegávamos em linha reta reta e, subitamente, atingíamos o penhasco, acabando com tudo. Ainda assim, escreveu o bestseller Fim da História, de repercussão mundial.

Ao leitor literal, o título pode soar absurdo. A história não pode terminar. Aos críticos de Francis Fukuyama, porém, deve-se ao menos perguntar, cerca de 25 anos depois, se há uma antítese material à tese da democracia liberal. Na dialética hegeliana, a história caminha pelo conflito perene entre tese e antítese, do qual emerge uma síntese. Esta, por sua vez, transforma-se, no período seguinte, novamente em tese, a que se opõe uma nova antítese. E o ciclo vai se repetindo, definindo o curso das coisas.

Se não há oposição efetiva à democracia liberal, não temos antítese a opor-se à tese. Não há dialética e interrompe-se o ciclo hegeliano. Aqueles com capacidade de enxergar uma metáfora entendem o argumento de Francis Fukuyama, independentemente de concordar ou não com ele.

Eu nunca acreditei que o Brasil iria acabar. Que fique claro: tampouco estou, arrogantemente, comparando minha tese às duas supracitadas. Sei da minha insignificância. Os exemplos de Nietzsche e Fukuyama remetem apenas à necessidade de identificar uma metáfora.

O Fim do Brasil não era somente uma postura crítica ao ensaio nacional desenvolvimentista adotado desde 2009/10, muito menos a defesa de uma postura niilista. Sequer representava, mesmo do ponto de vista hegeliano, o fim da história - aqui, Joaquim Levy é a antítese ortodoxa à tese da nova matriz econômica.

Meu argumento era de que aquele Brasil nascido em 1994 e marcado pela estabilização da economia, cuja adolescência acaba em 1999 a partir do tripé de Armínio Fraga, das privatizações, do prestígio às agências reguladoras, da lei de responsabilidade fiscal ou, em resumo, o País que caminhava na direção das instituições políticas e econômicas inclusivas morria com a nova matriz econômica.

O expansionismo fiscal, a permissividade com a inflação, a modicidade tarifária, a eleição de campeões nacionais, a concessão de subsídios discricionários, o aumento de salários acima da produtividade, o incremento de participação de bancos públicos e outras questões parecidas apontavam justamente na direção de instituições extrativistas.

O resultado só poderia ser baixo crescimento econômico, queda da produtividade, preços em alta, déficit em conta corrente insustentável e contas públicas desequilibradas.

Isso exigiria um ajuste, tanto na gestão da política econômica quanto no preço dos ativos financeiros brasileiros. Daí derivava toda uma tese de investimentos, pautada em aumento dos preços de risco, desvalorização cambial e queda das ações.

Não havia criticismo infundado ou defesa do niilismo. Do Fim do Brasil, emergia uma proposta pragmática a cada um dos leitores: esteja defensivo e mantenha apostas anticíclicas. Esse seria o caminho para ganhar dinheiro.

Considerando o crescimento de 0,1% em 2014, o prognóstico de recuo de 2% em 2015, a expectativa de estabilidade em 2016 e a perspectiva de crescimento em torno de 2% em 2017, entraríamos em 2018, em linhas gerais, com o mesmo PIB daquele mostrado em 2013, com recuo substancial da renda per capita. E, então, cumprimos metade do devaneio de 10 anos de recessão.
(...)

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Jesuitas na China - artigo de Carmen Licia Palazzo

Carmen Licia Palazzo (Centro Universitario de Brasilia - UniCEUB, History) just uploaded a paper on Academia.edu:

Jesuits: Favored Agents of Image Transfer from China to Europe, 16th to 18th Centuries

by Carmen Licia Palazzo

This article deals with the Jesuits’ role in the communication of informations about the Chinese Empire to Europe between the sixteenth and eighteenth centuries. These informations were an essential part of the Wester imaginary about East Asia. The Jesuits’ writings circulated among the European ...

Thanks,
The Academia.edu Team

Wikileaks: Mon Dieu! Que vous etes perfides, les americains: ecouter les amis...

Ninguém está ao abrigo, sobretudo os comedores de baguettes, de escargots e de cuisses de grenouilles...
Oh ciel, qui pourra les arrêter?
Paulo Roberto de Almeida

French President Francois Hollande sharply criticized the United States over revelations that the National Security Agency (NSA) spied on him and past French presidents.
 Foreign Policy daily, June 24 2015

News of the alleged surveillance spilled out of six documents published on Tuesday evening by WikiLeaks in conjunction with Libération, a left-leaning newspaper, and the investigative website Mediapart. The documents allege that the United States spied on the internal conversations and deliberations of Hollande, as well as former presidents Nicolas Sarkozy and Jacques Chirac. The matters discussed include an appointment to the United Nations, the Middle East peace process, and the euro crisis. They also include telephone numbers listed by the NSA as being top intercept targets in France.

While the accuracy of the documents remains unconfirmed, WikiLeaks attests to their authenticity. The group has yet to say how it obtained the documents, but says that there is more to come.

"These are unacceptable facts that have already led to clarifications between the United States and France," Hollande’s office said after the country's top ministers and defense chiefs met to discuss the documents. "France will not tolerate any acts that compromise its security and the safeguarding of its interests."

Foreign Minister Laurent Fabius has also summoned the U.S. Ambassador Jane D. Hartley to meet with him. The French government will also send an intelligence official to the United States to be briefed on the NSA’s operations in Paris. In response, the Obama administration said that it does not currently spy on Hollande and will not in the future, but did not deny that Washington had done so in the past.

Venezuela-China: socialismo do seculo 19 e capitalismo do seculo 21, negocios esquizofrenicos (Reuters)

Assim são os negócios entre o maior capitalismo do século 21 e o único socialismo do século 19 que teima em existir nesse país surrealista que é a Venezuela bolivariana: os chineses fazem acordos, tanto estatais quanto envolvendo empresas privadas chinesas, os bolivarianos aceitam porque são incompetentes para fazer qualquer coisa, depois os chineses exportam seus produtos, os bolivarianos não conseguem sequer montar fábricas na China, e pagam em petróleo que os chineses descontam dos enormes empréstimos concedidos. São os únicos que escapam da penúria de dólares da Venezuela -- a despeito das enormes receitas em divisas com o petróleo -- que também atinge empresas brasileiras.
Paulo Roberto de Almeida 

Chinese firms do brisk business in Venezuela despite idle factories
BY BRIAN ELLSWORTH AND CORINA PONS
Reuters, June 24, 2015

Five years after Chinese home appliance maker Haier agreed to build a $912 million factory in Venezuela, its washing machines and refrigerators are almost the only ones available in the country's department stores.
Those appliances, however, are not made in Venezuela.
They are instead imported from Haier factories in China and paid for through an oil-for-loans deal dating from 2007 under which China lends cash and is repaid in crude and fuel.
The cost of leaving Haier's facility idle is primarily borne by Venezuela's socialist government, because its construction was bankrolled with $800 million borrowed from China.
While most foreign firms are being battered by Venezuela's currency controls and product shortages, Chinese companies like Haier are doing brisk business thanks to cooperation deals that give them privileged access to the OPEC nation's economy but leave business risks in the government's hands.
The Chinese loans - some $50 billion since 2007 - have shored up Venezuelan finances at a time when low oil prices have prompted default concerns and effectively shut the country out of global capital markets.
But Venezuela is struggling to make good on promises that Chinese financing would spur new industries and reduce its century-old dependence on the oil industry.
China, on the other hand, has won a steady supply of oil for its economy and lucrative contracts for its companies to export goods to Venezuela, sometimes in the shadow of China-backed factories meant to produce those very goods locally, a Reuters review of dozens of official Venezuelan documents found.
Bus-maker Yutong sold $353 million worth of buses upon agreeing in 2013 to help build a factory, which today consists of a patch of cleared land dotted with construction equipment.
Heavy machinery firm XCMG closed an export order of $745 million after agreeing in 2011 to help build a local facility, the location of which has not been determined.
Venezuelan state oil company PDVSA bought dozens of drilling rigs from China despite having built a rig production facility through a joint venture with a subsidiary of Chinese oil giant CNPC. The facility is not producing rigs, according to workers.
Late socialist leader Hugo Chavez, who negotiated the deals with China saying they would foster a vibrant manufacturing sector, predicted the Haier factory an hour outside Caracas near the town of San Francisco de Yare would start up in 2012.
"We're going to build a factory with the support of China, the support of Haier, to make home appliances," Chavez beamed in a 2011 television broadcast featuring Yare's traditional 'dancing devils'. "Right now we're bringing them in, but soon we will be making all of that here."
At the entrance to the Haier compound, the only visible activity on a recent visit was of workers milling around below a gate embossed with Chinese characters.

CAPTIVE MARKET
Haier secured a supply agreement for 3 million home appliances, also financed by the oil-for-loans program, which had generated $1 billion in revenue as of 2014, according to foreign ministry documents seen by Reuters. It is not clear how much cash, if any, Haier put into the facility.
"While Haier's cooperation in the country started through projects to sell household appliances, this has developed into a deeper commitment to serve our Venezuelan customers," Haier said in an emailed statement, noting test operations began in 2012.
"Production lines are now readied ... once the related facilities are put in place, mass production in the industrial park will start."
Venezuelan officials say opposition criticism of the China relationship is meant to undermine President Nicolas Maduro, who was elected in 2013 after his mentor Chavez died from cancer.
They note that joint ventures with device-makers Huawei and ZTE and cloud computing giant Inspur have assembled millions of cell phones and laptops in Venezuela.
Though the operations benefited for years from a steady supply of dollars - a crucial benefit at a time of strict currency controls - production dropped at all three in 2014 for lack of hard currency.
XCMG declined to comment. The other companies, along with Venezuela's industries ministry, did not respond to questions. Securities filings to China's stock exchanges generally make little more than fleeting references, if any, to Venezuela.
Still, the China deals ensure supplies of manufactured goods that are otherwise scarce.
Chinese cars are given away or sold cheap by state agencies to soldiers and civil servants, helping satiate a starved market. Haier appliances have been widely distributed through a government program called My Well-Equipped House and now fill shelves of private retailers.
"My refrigerator broke and there are no spare parts to fix it, so I came to get one of these Chinese ones," said retiree Ivonne Teran, 59, standing in line outside a Caracas store filled with Haier fridges - the only brand available.
The alliance began in 2007 as Venezuela sought new sources of financing and China wanted to secure steady crude supplies. Both wanted to reduce U.S. influence in Latin America.
They created the Joint Chinese Venezuelan Fund, which has received $30 billion, and the $20 billion Large Volume and Long Term Fund. Venezuela in 2014 shipped 630,000 barrels per day of oil and fuel under agreements with China, part of which went toward servicing loans, according to PDVSA's 2014 annual report.
China has recovered more than half of what it has lent. In contrast, outstanding foreign bonds issued by Venezuela and PDVSA total $69 billion.
"The scale of China-Venezuela practical cooperation is very large ... The sectors are broad and the results are very good," Chinese Foreign Ministry spokesman Lu Kang told reporters.

BUILD FACTORIES, IMPORT PRODUCTS
Venezuelan ministries or state-run firms typically tap the funds to build power plants, dredge waterways, or revamp sugar mills, using Chinese equipment and advisors, according to documents detailing some 200 projects being financed in 2014.
Reuters' review found that, under the bilateral arrangement, nine Venezuelan ventures were formally created in which Chinese firms own equity stakes. These include a food production company, the Haier and Yutong plants, three device assembly plants, and three oil industry ventures.
Venezuela does not publish comprehensive lists of Chinese-funded projects or their completion status.
An important benefit for some Chinese firms is bypassing currency controls, which regulate access to dollars for imports or remittance of profits to foreign headquarters.
Venezuela has slashed dollar sales as oil revenue dried up and steadily devalued the bolivar currency, creating billions of dollars in losses for multinationals and crimping auto assembly as the likes of Ford Motor Co and General Motors struggle to import parts.
But China's Chery Automobile Co Ltd receives only dollars for parts sold to an assembly facility that is majority owned by Venezuela's government, according to a Chinese national who worked at the Venezuela venture.
That facility brought in more parts as measured by weight than GM and Ford combined during the first 11 months of 2014, according to a Reuters analysis of import data, despite having less than half of those companies' combined assembly capacity in Venezuela.
Chery has also benefited from exports of cars manufactured in China, billing $140 million in 2013 alone in operations financed through the bilateral arrangement. Chery did not answer questions. GM and Ford declined to comment.
Venezuelan officials say Chinese funds come with fewer strings attached than those provided by multilateral lenders such as the IMF or the World Bank.
"Nobody comes here to put conditions on our revolutionary government as to what we should or shouldn't do with the resources," said Planning Minister Ricardo Menendez, who heads the China-Venezuela commission, in an interview.
He called Chinese funding a vote of confidence that will help Venezuela produce more of its own goods.
That does not appear to be the case of drilling rig producer ICTV, majority owned by PDVSA with a 15 percent stake held by China Petroleum Technology & Development Corporation, a division of China National Petroleum Company.
ICTV opened in 2009 with plans to assemble rigs from imported parts and later to manufacture them from scratch.
After investing $150 million, ICTV assembled a combined total of 13 rigs in 2010 and 2011, according to PDVSA reports. But in 2011 and 2012, PDVSA purchased 86 fully assembled rigs from China.
ICTV workers, who filed a complaint with the national comptroller's office alleging corruption, say the plant produces replacement parts but no rigs, for lack of materials.
CTPDC and PDVSA did not respond to questions.

(Additional reporting by Jake Spring, Aizhu Chen and Michael Martina in Beijing, Sue-Lin Wong in Shanghai, M.B. Pell in New York, Cesar Montes in San Felipe, and Maria de los Angeles Ramirez in Puerto Ordaz; Editing by Andrew Cawthorne and Kieran Murray)

terça-feira, 23 de junho de 2015

O que faz um professor universitário? - Marco Mello


O que é um professor universitário?

Marco Mello
No Brasil, é comum ouvir bizarrices como “O Prof. Fulano reclama de dar aulas demais, mas o cargo dele é de professor, né?”. Ou seja, há muita confusão sobre quais seriam as reais atribuições de um professor universitário. Como esse é o cargo mais importante na carreira acadêmica, vale a pena dedicar um post inteiro a esclarecer essa questão.

É claro que, na prática, o que cada professor faz no dia a dia varia muito entre universidades. Na verdade, há uma enorme variação mesmo entre professores de uma mesma universidade. As atribuições também vão mudando, conforme se progride verticalmente na carreira: substituto > assistente > adjunto > associado > titular. Aqui não vou tocar em problemas como concursos-gincana, acomodação, estabilidade fácil, isonomia salarial, salário defasado em relação à inflação etc., que merecem outros posts. Vou focar no sentido maior do cargo.
Em outros idiomas e culturas, a diferença entre um professor universitário e outros tipos de professor fica clara já no vocabulário. Por exemplo, no inglês, o termo professor se aplica apenas ao professor universitário, enquanto teacher é o professor de escola e lecturer é o docente universitário, geralmente com doutorado, mas sem título de professor. Sim, nos EUA, Inglaterra e outros países, professor, mais do que um cargo, é um título. No alemão também se diferencia o professor universitário através do termo Professor, enquanto quem dá aulas em escolas é um Lehrer e quem dá aulas na universidade sem ter o título de professor é um Dozent. Não é uma questão de qual tipo de professor é melhor do que o outro, blablabla. Cada professor tem o seu papel no sistema educacional e todos são importantes. É apenas uma questão de diferenciar as carreiras e títulos, para se definir claramente o que se espera de cada professor.
Então o que diferenciaria o professor universitário dos outros? Simples: esse cargo foi inventado para ser ocupado por profissionais que associam pesquisa e ensino. Sim, essas duas atividades são indissociáveis no conceito original de professor universitário. Mas, por que, Marco? Porque espera-se que um professor universitário esteja sempre na vanguarda da sua área. Espera-se que ele atue na formação de profissionais de nível superior, ensinando-lhes não apenas o conhecimento já sedimentado, mas também as novidades e macetes.
Para se formar em uma profissão de nível superior, o aluno tem que ser apresentado tanto aos fundamentos quanto à vanguarda. Acima de tudo, espera-se que um professor universitário produza ele mesmo algumas novidades. Sim, um professor universitário tem a obrigação não apenas de transmitir, mas também de produzir conhecimento. E a transmissão de conhecimento se dá principalmente em sala de aula, passando informações  consolidadas para os aspiras, e também divulgando descobertas em revistas técnicas indexadas e revisadas por pares. Então um professor universitário tem que fazer pesquisa também? Sim, claro! Ninguém se atualiza tanto em uma área, quanto alguém que precisa disso para fazer as próprias pesquisas, porque ama a ciência.
And the plot thickens… Pelas leis brasileiras federais e estaduais, a carreia de professor universitário envolve, em geral, cinco pilares:
  • Ensino: coordenação e participação em disciplinas de graduação e pós-graduação, presenciais ou à distância.
  • Pesquisa: investigação científica ou tecnológica para produção de conhecimento. Na verdade, a área da pesquisa envolve mais um monte de coisas além da investigação e publicação, como revisão de artigos, editoração de revistas científicas, organização de congressos, administração de sociedades científicas, consultoria para agências de fomento, assessoria à imprensa, assessoria política dentro da área em que é perito e muito mais.
  • Orientaçãoformação de novos cientistas através de estágios e projetos orientados de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado.
  • Extensão: assessoria e divulgação de conhecimento científico e técnico para o público externo à universidade através de consultoria, palestras, cursos, exposições, museus etc.
  • Administração: cargos de chefia em geral, cargos em órgão representativos da universidade (câmaras, conselhos, congregações), gerenciamento de projetos, captação de verbas externas, contabilidade, direção de laboratórios, etc.
Dependendo da universidade e do seu regimento interno, espera-se que o professor universitário envolva-se com no mínimo dois ou três desses pilares. Os melhores professores acabam se envolvendo com todos. O único pilar obrigatório é o ensino. Só fica desobrigado parcial ou totalmente de dar aulas quem ocupa altos cargos administrativos, como chefe de departamento, diretor de instituto, pró-reitor ou reitor. Significa que, na prática, nem todo professor universitário é obrigado a fazer pesquisa.
Vamos destrinchar um exemplo mais concreto: as universidades federais brasileiras. De acordo com a lei que rege essas instituições, o professor universitário “padrão” (sem cargo de chefia ou outras condicionantes) é obrigado a dar de 8 a 12 créditos por semestre. Cada crédito representa mais ou menos 15 h em sala de aula. Ou seja, o sujeito é obrigado a passar dentro de sala entre 120 e 180 h por semestre. Um professor dedicado, que de fato gasta tempo e energia com as aulas, precisa de no mínimo 2 h de preparação (slides, leituras, material biológico para aulas práticas, preparação de computadores etc.) para cada 1 h em sala. Vamos considerar que uma disciplina obrigatória de graduação tem 4 créditos (60 h) e costuma ser organizada de forma a ocupar 4 h em sala por semana. Logo, das 40 h de trabalho semanais determinadas por lei, o professor acaba passando pelo menos 12 h envolvido com a disciplina. Isso, fora as horas gastas com atendimento de alunos e correção de trabalhos. Assim, a conta pode facilmente chegar a 16 h por semana ocupadas com cada disciplina e piora na época das provas e entrega de trabalhos, se o professor não contar com ajudantes. Supondo uma turma com cerca de 60 alunos, imaginem a seriedade da ralação. E, já que o mínimo são 8 créditos, o que nós, professores, enfrentamos é isso vezes dois, pelo menos.
Para se ocupar com 2 disciplinas de 4 créditos por semestre, totalizando 8 créditos, e realmente ministrá-las com qualidade, o professor universitário não poderia se envolver com mais nada! A quem estamos enganando? A única forma de aliviar essa carga é através da ajuda de pós-graduandos que atuam como tutores e graduandos que atuam como monitores. Mas nem todo professor ou toda disciplina contam com o apoio de auxiliares. Os tutores remunerados conhecidos internacionalmente como “TAs” (teaching assistants), comuns nos EUA, Alemanha, França e UK, chegaram a ter uma versão brasileira temporária durante o Reuni. Só que o programa foi planejado para durar apenas cinco anos. Só para variar, nada é pensado a longo prazo neste país, tudo é paliativo, tudo é jeitinho. Como alguém pode se dedicar de verdade à pesquisa de ponta tendo sobre os ombros o peso de uma carga didática massacrante como essa? Como alguém pode fazer extensão e atender de outras formas o mundo real fora da Academia, sendo obrigado a dar aulas igual a um burro de carga? Na verdade, como seria possível conciliar qualquer um dos outros quatro pilares da carreira com um ensino de qualidade em grande quantidade?
O Brasil tem um verdadeiro fetiche pela sala de aula! Em universidades de ponta, a carga semestral obrigatória do professor não ultrapassa 4 créditos. Na prática, os professores e alunos passam muito menos tempo em sala, justamente porque se dá mais valor à independência dos aspiras. O bom aluno do ensino superior gasta a maior parte do seu tempo estudando por conta própria, sozinho ou em grupo, através de tarefas orientadas ou leitura espontânea. O momento em sala com o professor na aula teórica (lecture ouVorlesung) serve para apresentar ou consolidar o conteúdo principal, receber orientações, tirar dúvidas e passar tarefas.
No Brasil, castramos a individualidade, a criatividade, a autonomia, a iniciativa e o livre pensamento, porque insistimos em adestrar os alunos em cativeiro. Ok, estou divagando. Voltando ao ponto de vista do professor, dá para entender porque nunca chegaremos ao mesmo nível de qualidade em ensino e pesquisa do primeiro mundo? Ficou claro porque estamos fadados a enxugar gelo e ficar sempre dois passos atrás dos nossos colegas mais afortunados?
Por favor, nunca mais diga que um professor universitário brasileiro não pode reclamar de dar aulas demais, porque “tem cargo de professor”. Isso é tão estúpido quanto dizer que um professor universitário que tem bolsa de produtividade está desrespeitando a dedicação exclusiva, porque é também “pesquisador do CNPq”.
Leia também:
Unknown Fonte: PRISM.
Blog criado em 2012, onde publico textos escritos por mim, Prof. Marco Mello, e colaboradores eventuais. A origem do blog está em pequenos manuais que eu escrevia para os meus alunos desde 2007.


segunda-feira, 22 de junho de 2015

Regime previdenciario geral: proximo da falencia - Revista Epoca

Ele vai ter de ralar
O fim do fator previdenciário pode gerar uma conta altíssima, a ser paga pela próxima geração.
Por Paulo Tafner
Época, 20/06/2015

Em qualquer país minimamente organizado, quando o assunto é Previdência Social, só se fala na necessidade de reformar. Por quê? Cada país tem suas razões, mas há algo em comum à maioria: a população está envelhecendo. Em breve, haverá menos gente jovem para sustentar essa despesa e mais gente idosa que dependerá de transferências previdenciárias. A situação brasileira é ainda mais grave: já gastamos muito, num país ainda relativamente jovem.
O gasto total com benefícios previdenciários tem ficado em torno de 11% do PIB. A tendência é crescer. Há pouco mais de uma dezena de países com gastos superiores ao brasileiro, mas todos com uma relação entre número de cidadãos ativos e número de idosos duas vezes pior que a nossa, do ponto de vista previdenciário. Em 1980, a população brasileira apta a trabalhar representava 56% do total e apenas 6% eram beneficiários da Previdência. Para cada beneficiário, havia nove produtores de riqueza. Em 2020, para cada recebe dor de benefícios, haverá apenas cinco ativos. E em 2050, para cada beneficiário, haverá 1,9 ativo. O sistema caminha para a inviabilidade.
Nosso sistema previdenciário, como em boa parte do mundo, se estrutura sob o princípio de repartição: a geração ativa financia os benefícios da geração que já se aposentou. Se uma geração de pessoas na ativa for muito pequena, em comparação com a geração idosa que precisa sustentar, será mais difícil fechar as contas. Torna-se necessário 1) tributar mais a população ou 2) obter ganhos expressivos de produtividade (ou seja, cada indivíduo passar a produzir mais) ou 3) endurecer as regras para a obtenção dos benefícios.
Tentar corrigir o problema pelo aumento de alíquotas parece impossível. Ninguém aguenta mais tributos. A alíquota média no financiamento da Previdência é de 31%, sendo 11% para os trabalhadores e 20% para as empresas. É melhor aumentar a produtividade do trabalhador e endurecer as regras do benefício. Mas elevar a produtividade exigirá investir em infraestrutura e prover educação de qualidade melhor do que temos hoje, Não temos sinal, no momento, de que conseguiremos superar nenhum desses dois desafios.
Resta-nos mudar nossas regras para aposentadorias e pensões. Isso foi feito em etapas: em 1998, a Emenda Constitucional 20 estabeleceu regras mais rígidas para aposentadorias, nos setores público e privado. Em 1999, foi introduzido o fator previdenciário, que leva em conta no cálculo da aposentadoria, de forma justa, a expectativa de vida do cidadão no momento em que ele se aposenta. Em 2003, a Emenda Constitucional 41 generalizou regras mais duras para todos os trabalhadores do setor público. Mais recentemente, a Medida Provisória 664 tentava moralizar a pensão por morte. O Congresso, em vez de buscar esse aprimoramento, fez o contrário. Desfigurou a MP 664 e acabou com o fator previdenciário. Colocou em seu lugar a regra "85/95", que ignora a constante evolução da expectativa de vida do brasileiro.
A grande maioria de parlamentares do PT, que, corretamente, em 2003, aprovou a fixação de idade mínima de aposentadoria para trabalhadores do setor público, votou agora pela derrubada do fator previdenciário, sem fixação de idade mínima para aposentadoria. O mesmo ocorreu com boa parte de parlamentares do PMDB, também da base de sustentação do governo. Igualmente grave é o fato de que vários parlamentares do PSDB que em 1999 haviam aprovado, corretamente, o fator previdenciário votaram agora a favor de sua derrubada. Restou à presidente Dilma Rousseff vetar o projeto, na quarta-feira da semana passada.
Grande parte das críticas ao fator previdenciário parte de quem nem tenta compreendê-lo. Em 1999, diante da recusa do Congresso em fixar idades mínimas para aposentadorias, o então presidente Fernando Henrique Cardoso criou o fator previdenciário editando a Lei nº 9.876. Trata-se de um artificio engenhoso, que substitui imperfeitamente a exigência de idades mínimas para aposentadoria. Para identificação do fator a ser aplicado a cada trabalhador, o cálculo leva em conta o tempo de contribuição, a idade de aposentadoria e a expectativa de sobrevida no momento da aposentadoria. Multiplica-se esse fator pelo valor-base do benefício, definido pela média dos 80% maiores salários de contribuição, computados a partir de julho de 1994. Feitos os cálculos, se o fator for igual a 1, o valor da aposentadoria será integral, igual ao valor-base de contribuição. Se for maior do que, o valor da aposentadoria será maior que o valor integral (isso tende a ocorrer com quem trabalha por mais tempo e atrasa o pedido de aposentadoria, o que é benéfico para a coletividade). Se o fator for menor que 1, o benefício será menor que o integral (o que tende a ocorrer com quem se apressa em se aposentar). Para mulheres e professores dos níveis fundamental e médio, somam-se cinco anos ao tempo de contribuição.
Costumo explicar o fator com um exemplo bem simples. Imaginem que dois trabalhadores homens comecem a trabalhar no mesmo dia, um com 15 anos e outro com 25 anos. Imaginem que ambos fiquem empregados todo o tempo de sua jornada profissional e que tenham a mesma trajetória na carreira. Após 35 anos de trabalho, ambos poderão se aposentar e terão acumulado o mesmo montante com contribuições previdenciárias. A diferença é que» no momento da aposentadoria, o primeiro terá 50 anos e o segundo 60 anos. Pelas tábuas atuais de mortalidade do IBGE, o primeiro deverá sobreviver mais 28 anos e o segundo apenas 20 anos. Como ambos têm o mesmo montante acumulado se o mais velho receber R$ 1.000 por mês ao longo de 20 anos, o mais jovem deveria receber cerca de R$ 723, pois desfrutará a aposentadoria por oito anos a mais que o outro. £ justo que, recebendo mensalmente valores diferentes, ao final, ambos tenham recebido o mesmo total. Em substituição a essa fórmula racional, o Congresso apresentou sua proposta ruim, a da regra "85/95", vetada por Dilma.
Por essa regra, pode se aposentar com o benefício integral o cidadão cuja soma de idade com tempo de contribuição resultar em 95 anos, no caso dos homens, ou 85 anos, no caso das mulheres. Em ambos os casos, docentes do ensino fundamental ou médio acrescentam cinco anos ao tempo de contribuição. Qual é o impacto da proposta?
Suponha um homem que comece a trabalhar aos 20 anos e permaneça contribuindo até poder se aposentar Na regra atual, ele pode se aposentar aos 55 anos. Como ainda é jovem e deverá viver por mais quase 24 anos, seu fator previdenciário será 0,72, ou seja, o valor de sua aposentadoria será 72% do valor-base. Se for paciente e esperar três anos, pode se aposentar aos 58. Ainda é jovem e deverá viver por 21 anos, mas o fator previdenciário o premia por adiar a aposentadoria e eleva o benefício a 88% do valor-base. Pela regra "85/95", ele não poderia se aposentar aos 55 anos. Mas aos 58 (ainda relativamente jovem) já poderia se aposentar com o benefício integral. E o aumento de gasto para a sociedade, da ordem de 13%, se prolongará por 21 anos, enquanto esse cidadão viver. No caso das mulheres, a diferença é ainda maior. Suponha que ela tenha começado a trabalhar aos 20 anos. Pela regra atual, ela poderia se aposentar aos 50 anos, com 60% do benefício integral, ou aos 53, com 77%. Pela regra "85/95"" ela não poderia se aposentar aos 50, mas já teria direito ao beneficio integral aos 53 anos, com expectativa de vida de quase 30 anos pela frente. Trata-se de um aumento de quase 30% nas despesas para a sociedade, ao longo de três décadas de sobrevida da cidadã.
A regra "85/95" traz uma pequena redução no crescimento da despesa previdenciária nos próximos dois a três anos. A partir daí, o aumento do gasto será enorme. Mantida essa regra, o gasto será 8% maior em 2020, 20% maior em 2030 e 33% maior em 2050. Será um tardo sobre os bebês de hoje, que estarão ainda na ativa.
Se o prejuízo é óbvio, por que o defendem de forma tão barulhenta? Porque a mudança atinge um grupo de elite entre os trabalhadores. O fator previdenciário atinge a aposentadoria por tempo de contribuição, ou seja, os que, após 35 anos de contribuição, podem requerer a aposentadoria. Esse grupo tende a ser mais qualificado. Só que o trabalhador brasileiro típico se aposenta por idade, sofre períodos de desemprego, passa pela informalidade e não junta 35 anos de contribuição. Apenas 28% das aposentadorias são por tempo de contribuição, mas elas consomem quase metade do total das despesas.
No mundo da política, o bom-senso padece. O governo errou ao enviar ao Congresso uma Medida Provisória com mudanças nas regras de pensão sem antes voltar a informar os parlamentares sobre o que eles já sabem - o gravíssimo problema das contas públicas e do sistema previdenciário. Assim, ocorreram a desfiguração do projeto de pensões e a derrubada do fator previdenciário. Restou ao Executivo vetar e apresentar outra Medida Provisória, que propõe aumento progressivo da regra "85/95". O aumento se inicia em 2017 até se tornar, em 2022, "90/100". É melhor do que a regra pura "85/95", mas é um retrocesso. A regra pura "85/95" faria com que em 2030 o gasto previdenciário crescesse 20%. Com a tentativa do Executivo de remediar um pouco o malfeito, o aumento ainda será de 18,5%. Trata-se de uma contrarreforma, rumo ao passado. O episódio deixou claro que o Brasil corre sérios riscos e que nossos representantes eleitos têm cabeças de ontem, saudosas do Brasil de anteontem.

Previdencia dos servidores publicos - Ricardo Bergamini

Gastos da União com servidores e o INSS
Ricardo Bergamini
Jornal do Comércio (Porto Alegre), 22/06/2015

No Brasil sempre que se debate a falência da previdência se refere apenas ao Regime Geral de Previdência (INSS), jamais se toca no Regime Próprio de Previdência dos servidores público, nesse campo há um silêncio abissal de todos, sejam políticos, imprensa, grupos de debates, estudiosos, intelectuais. Em 2014, o déficit previdenciário pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS) foi de R$ 79,5 bilhões (1,44% do PIB) e do déficit previdenciário do setor público federal pelo Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) foi de R$ 66,9 bilhões (1,21% do PIB), totalizando no ano 2014 déficit previdenciário de R$ 146,4 bilhões (2,65% do PIB).

Em 2014, a receita previdenciária pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS) foi de ? R$ 319, bilhões (5,79% do PIB) em contribuições de 67,1 milhões de pessoas físicas, sendo 53,8 milhões de empregados. A despesa previdenciária dos benefícios pagos aos 27,5 milhões de aposentados e pensionistas, com salário médio de R$ 1.044,05, foi de R$ 399,2 bilhões (7,23% do PIB), fazendo com que o resultado previdenciário tenha sido negativo em R$ 79,5 bilhões (1,44% do PIB). No ano passado, a receita previdenciária pelo Regime Próprio de Previdência Social da União (RPPS) das
contribuições dos 1.294.040 servidores ativos do governo federal (934.822 civis e 359.218 militares), com salário médio mensal de R$ 9.228,20, além da parte patronal e da contribuição dos inativos foi de R$ 29,2 bilhões (0,53% do PIB). A despesa previdenciária dos benefícios pagos aos 1.028.563 servidores aposentados e pensionistas do governo federal (731.977 civis e 296.586 militares), com salário médio de mensal de R$ 7.785,94, foi de R$ 96,1 bilhões (1,74% do PIB).

Em 2014, o rendimento médio/mês per capita com pessoal ativo da União -- 1.294.040 servidores (934.822 civis e 359.218 militares -- foi de R$ 9.228,20, enquanto a média/mês per capita nacional para os trabalhadores formais nas  atividades privadas foi de R$ 2.122,10 (77% menor).

Analista financeiro

Deixe seu comentário sobre este texto:
http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=200100

domingo, 21 de junho de 2015

Marcos Troyjo: remaking the future

BRICS BUSINESS MAGAZINE

English Edition No. 6 (10) - June 2015

Brics_n10_en

Remaking the Future

Width_250px_000_dv367481_fmt

Having passed through a stage of ‘deep globalization,’ the world is now running the risk of ‘deglobalization.’ New trade and investment strategies, ‘China 2.0,’ and the dawn of an ‘age of talent’ could, however, propel us into an era of ‘reglobalization'



Portrait

Marcos Troyjo

Director of the BRICLab at Columbia University, where he teaches international affairs 

Remaking the Future

Globalization has been at a crossroads for a while. The dynamics of freer circulation of goods, capital, and people has lost steam. Trade protectionism is on the rise. Multilateral institutions such as the International Monetary Fund, the World Bank, and the World Trade Organization provide slow and often insufficient responses to contemporary challenges. There are indeed various forces of ‘deglobalization’ operating around the world today.

Globalization as a concept should represent more than just the ever-expanding technological advances in transport and communications. It is instead about decreasing obstacles to international trade and investment, increasing global supply chains, and improving macroeconomic coordination among the world’s top economic players, especially those member countries of the G20. The globalization of common and shared ways of experiencing the world help interdependence and interconnectedness – the basis for productivity gains on a global scale and the sustained expansion of the world economy over time.

All of these different drivers of globalization seem to have been clearly in check for the past seven years, particularly the globalization of values – the notion of a normative compass found in the 1990s idea that the principles of market economy and representative democracy as a system of government were the best parameters for the organization of societies across the globe.

From ‘Deep Globalization’ to the ‘Risk of Deglobalization’

In the early 1990s, the interplay of different elements brought about an era of ‘deep globalization,’ during which the global economy expanded vigorously. The demise of the Soviet Union and the subsequent ‘End of History’ seemed to allow for renewed international cooperation based upon the pillars – and promise – of democracy and free markets.

The U.S. seemed destined to remain a ‘hyperpower’ in the decades to follow: a new hegemon shaping a ‘new American Century.’ With increased competition and cooperation with other economic powers notwithstanding, the U.S. would go on unchallenged as a geopolitical player and the country most vehemently embracing the principles of democracy and free markets.

The globe’s geoeconomic meridian, as far as manufacturing output was concerned, seemed to be shifting towards Asia – and this process was being led by Japan. Regional blocs appeared to be the up-and-coming economic actors – and the success of European integration was seen as paradigmatic. Both the rise of Asia – propelled by Japan and the so-called ‘Asian Tigers’ – and European integration were compatible with the interests of the United States as a hyperpower, since more democracy and free markets would only deepen globalization.

But, in short, over 20 years we have left a period of ‘deep globalization’. We have moved closer to the ‘risk of deglobalization.’ In this context, international relations (understood here as relations involving nation states) have resurfaced powerfully. It is not necessarily a world of renewed nationalisms, but rather a global juncture in which nation states are particularly selfish, individualistic, and act according to an ‘every-nation-for-itself’ mode.

As deglobalization gains ground, a strong trend is showing itself in the world economy. Against a backdrop of great uncertainty, countries increasingly adopt industrial and trade policies based on a ‘doctrine of local content’; a notion we could call ‘local-contentism.’

Many confuse local-contentism with defensive trade measures erected against artificial exchange-rate stratagems that boost the attractiveness of a country’s exports. There are clear differences, however, between local-contentism and old-school protectionism. While the latter is essentially about import quotas and tariff barriers set up to protect what is ‘national,’ the former idolizes foreign direct investment and makes extensive use of government procurements as bait. After all, by its very definition, local-contentism is all about being ‘local,’ not necessarily ‘national.’

Whether this or that country might have at one point been called ‘developed’ or ‘emerging,’ they will greatly gain by letting go of the certainty that either their ‘advanced status’ or their ‘rise’ are inevitable. In the global race for competitiveness and development, nothing is automatic or everlasting

From the U.S. to France, from Brazil to China, local-contentism can be easily identified in the way state-owned enterprises, official banks, municipalities, states, provinces, and central governments interpret and implement a country’s interests in the global economy. Today, local-contentism is one of the top parameters of how governments indirectly protect domestic companies from foreign competition, foster the creation of jobs and go about procurements.

The practice is becoming the most recurrent tool in bulking up a nation’s capacity to compete in world trade and attract investment – and this in spite of its heavy price tag. Starting in 2003 in Brazil, for example, the Federal Government has only allowed Petrobras (the state-owned oil company) to buy oil tankers that have been built with at least 65% of local content. As a consequence, Petrobras ends up paying a premium of 100% on top of the average international price for any large oil-transporting vessel.

‘Local-Contentism’ on the Rise 

But the recent move towards local-contentism is also visible on radar screens in the U.S. and Europe. Past presidential campaigns in America and France were not centered on free markets or enhanced regional economic integration. They focused instead on the job creation side of local-contentism. We are therefore experiencing far more than just ‘currency wars.’ Exchange-rate tactics make for ancillary rather than decisive battles. The world has set the stage for the waging of ‘clashes for competitiveness.’

In recent years, the criticism against China’s hyper-competitiveness has been a good example of how countries have overlooked the importance of local-contentism. Throughout the past two decades, ever-louder American and European voices were raised against the way China managed its exchange rate. They aimed at spreading the notion that an undervalued currency was the key to China’s capacity to compete. But other factors have been more important in strengthening China’s sophisticated policies of local-contentism, which since 1978 have included:

  • public-private partnerships (PPPs) as a springboard for exports and attracting foreign direct investment; 
  • the (still) low cost of China’s domestic factors of production; 
  • privileged access to the world’s most important buying markets (such as the United States granting China ‘Most Favored Nation’ status in 1980, with Europe following suit in 1985); and 
  • a vigorous business diplomacy, which reportedly results in two separate Chinese trade and investment missions visiting the U.S. and Europe every day.

If, on the one hand, local-contentism is a pillar upon which China built its current economic might, it is also one of the concepts countries are now implementing to fight China’s hyper-competitiveness. As a consequence, we may see fewer ‘Made in the World’ goods coming from ‘network corporations’ that in the heyday of globalization combined worldwide logistics, supply chains, and talent pools to achieve productivity gains, and more of these processes taking place simultaneously in a single country. 

Even China, which based its prosperity on a ‘trading nation’ strategy, has to model its local-contentism not so much on the way it sells to the world, but rather on how it buys from the world. Major contracts by China’s government, corporations, and consumers as buyers will have to support activities carried out locally, generating local jobs and taxes. On a broader scope, we can essentially argue that the original idea of the BRICs (Brazil, Russia, India, and China) that emerged over the past dozen years is one that pertains to how these four nations succeeded in both globalization and deglobalization. They have been able to adapt successfully to the changing contours of the global economy, especially by becoming local content hubs. That is to say, in a world where the generation of jobs is key to economic success, they have been able to pursue alternative strategies so that their economies were always busy in providing local content.

And if local content remains an essential part of BRICS’s industrial policies only up to the point where their corporations are able to compete on a level playing field, then the BRICS’s vocation as global growth engines can definitely be confirmed. If the BRICS are indeed able to translate their local content policies into springboards for knowledge and innovation, they will certainly become one of the world’s most dynamic, prosperous, and influential group of nations.

But it is equally important to observe that although local-contentism can benefit one nation or another for a number of years, the global economy will pay a heavy price for the loss of efficiency it entails. That is why many governments today are trying to build a road back to ‘reglobalization’ either through the launch of ambitious initiatives such as that of the Transatlantic Trade and Investment Partnership (TTIP), involving the U.S. and the European Union, or the Trans-Pacific Partnership (TPP) negotiated by Australia, Brunei, Canada, Chile, Malaysia, Mexico, New Zealand, Peru, Singapore, the U.S., and Vietnam. A successful outcome of the Doha Round of the World Trade Organization (WTO) would also help industrial and trade policies around the world move away from local-contentism and closer to interdependence. But such a positive scenario for the WTO, which depends on harmonizing the interests of more than 150 nations, seems highly improbable.

More broadly, if instead of playing a part in a country’s catching up strategy, local-contentism becomes an across-the-board philosophy for our times, it could easily be transformed into protectionism pure and simple – and as a consequence we can only expect ever-growing economic imbalances. Local-contentism would thus become the very ‘air du temps’ of a lengthy, unwelcome era of deglobalization.

End of the affair? 

The concept of ‘emerging markets’ came up years ago as a driver of the future of the world. Demographics, territorial scale, low production costs, and easy access to commodities were all signs of impending change in the geo-economic axis. Countries such as the BRICS became the world’s ‘engines of growth.’ Export-driven growth in China, a ‘transition economy’ for Russia’s market, outsourcing and technological innovation in India, and ‘import substitution 2.0’ in Brazil kept these economies booming – and social tensions quelled.

Globalization as a concept should represent more than just the ever-expanding technological advances in transport and communications. It is instead about decreasing obstacles to international trade and investment, increasing global supply chains, and improving macroeconomic coordination among the world’s top economic players, especially those member countries of the G20

These economies successfully adapted both to ‘deep globalization,’ which gained steam with the end of the Cold War, and to the ‘deglobalization’ logic of ‘every-nation-for-itself’ that has influenced international behavior since the 2008 crisis. This context brought about a naïve expectation: the BRICS were destined, slowly but surely, to lead a process of convergence between emerging economies and the development pattern of advanced economies. In the event of cyclical crises, however, we would see a much desired ‘decoupling’ – the inflexibility of developed markets would make it tougher for them to weather crises, whereas emerging markets would dynamically overcome them.

But in the past few years, those pro-convergence drivers seem to have changed course. The honeymoon with emerging markets has apparently come to an end. Emerging economies have been slowing down. In contrast, the U.S. is recovering. Although sluggishly, Europe is coming out of its recession. This, of course, has had an impact on the outlook for the direction of international capital flows. The supposed ‘end of the affair’ with emerging markets has led many to jump to superficial conclusions: no more talk of convergence or decoupling, but instead a return to the old ‘north-south’ economic hierarchy. In reality, performance in the coming years will be judged less by what we today label either ‘advanced’ or ‘emerging’ economies and more by a country’s ability to competitively shape up to a ‘reglobalization’ now in the making.

Reglobalization, the new age in world affairs we are entering, does not promote the verticalization of cross-border dynamics of regional economic, political, and legal integration. Regional entities will not take precedence over nations as the main actors in global affairs. It will not bring about a far-reaching communion of different worldviews. It will not come under a new global compact stitched together at the United Nations or the WTO.

Reglobalization will be more ‘superficial’ than the idealized ‘End of History’ world order we might have experienced at some point since the Cold War. It will be mostly focused on trade, investment, and the strengthening of global production networks. It will also be more selective – and therefore emerge as the result of the proliferation of multiple free trade agreements at bilateral levels and between some of the most powerful economic regions of the world. This is what may come out of the current negotiations involving the U.S. and Europe – the TTIP – and the similar dynamics observed in the TPP. 

China’s success or failure in turning itself into a consumption-led economy producing high value-added goods will be central to how reglobalization takes shape. There will be little room for the kind of Asian ‘neomercantilism’ practiced by China since Deng Xiaoping stipulated that the color of the cat doesn’t matter, so long as it catches the mouse. China will also contribute a great deal to reglobalization by both leading a family of new global governance institutions, such as the Asian Infrastructure Development Bank (AIIB) and the New Development Bank (NDB), in partnership with other BRICS countries.

Thus, those we once called ‘emerging markets’ may very well stagnate. But the same is also true of ‘advanced economies’ that set aside the imperatives of hard work and constant reinvention – and revel in expensive, ill-budgeted welfare states. Opportunities will decline for those countries that, having integrated themselves into a trade bloc or regional economic and political community, flirt with the luxury of fiscal irresponsibility and the granting of unsustainable labor and social security benefits without gains in productivity to support their economies. Mediterranean Europe – with the severe adjustment that it has been undergoing for a few years now – obviously comes to mind.

Whether this or that country might have at one point been called ‘developed’ or ‘emerging,’ they will greatly gain by letting go of the certainty that either their ‘advanced status’ or their ‘rise’ are inevitable. In the global race for competitiveness and development, nothing is automatic or everlasting.

Reglobalization will belong to those countries that create business-friendly ecosystems, well established and transparent market rules, and steadfast connections to transnational economic networks. Those countries, regardless of their past on one side or the other of the old north-south economic geography, will be the true ‘re-emerging markets’ of the years to come. 


BRICS BUSINESS MAGAZINE - English Edition No. 6 (10) - June 2015