sexta-feira, 8 de julho de 2011

Uma simples formalidade - Giuseppe Tornatore

Acabo de assistir um belo filme na televisão, um filme europeu, o que é relativamente raro nas TVs brasileiras, mesmo a cabo. Gostei.
Música do mestre Ennio Morricone, como aliás em vários outros grandes filmes europeus e americanos, como lembra o Allan em seu comentário. Algumas são dele, outras são "chansons françaises", encore magnifiques en dépit du pop anglo-saxon...
Ai vai a ficha do filme, que recomendo...
Paulo Roberto de Almeida

Une pure formalité
(titre original : Una Pura formalità) est un film italo-français réalisé par Giuseppe Tornatore, sorti en 1994.

Le film commence par un gros plan sur un coup de feu tiré de la bouche d'un revolver. S'ensuit, dans un sous bois frappé par un déluge, la fuite éperdue d'un homme aussitôt interpellé par une brigade de police. Comme il n'a pas ses papiers, il est emmené au poste, endroit d'une vétusté archaïque, où son attitude confuse et suspecte va amener le commissaire à le mettre en garde à vue. Cet homme se révèle être l'auteur de talent et de renom Onoff, dont le commissaire est fan et connait l'œuvre par cœur. Va s'engager entre les 2 hommes au cours d'un long et dur interrogatoire, une dialectique soutenue qui ira en s'accélérant vers la fin du film, livrant la clé de l'histoire; à ce moment on entendra un piège à souris claquer dans l'armoire. [Attention ce qui suit révèle la fin de l’histoire] L'écrivain se confessant peu à peu révéle son for intérieur. On apprend qu'il a inventé sa biographie officielle, qu'inspiré par un clochard génial qui fut son plus grand ami et son mentor, il ne pensera jamais atteindre le niveau de son maitre et que son écriture n'est qu'une douloureuse catharsis. A la fin du film, l'interrogatoire améne l'écrivain à se souvenir qu'il s'est suicidé. D'autres éléments "surnaturel" amènent peu à peu à comprendre que le commissariat et ses hôtes ne se trouvent pas dans le monde réel : le piège à souris entendu s'avère vide, l'écrivain ne peut se faire entendre au téléphone, et surtout, il ne porte pas la blessure du coup du feu qu'il s'est porté en se suicidant. L'écrivain enfin confessé est devenu un homme apaisé au moment où il est emmené hors du commissariat vers une destination inconnue.

Titre : Une pure formalité
Titre original : Una Pura formalità
Réalisation : Giuseppe Tornatore
Scénario : Giuseppe Tornatore et Pascal Quignard
Production : Bruno Altissimi, Mario Cecchi Gori, Vittorio Cecchi Gori, Claudio Saraceni
Musique : Ennio Morricone
Photographie : Blasco Giurato
Montage : Giuseppe Tornatore
Pays d'origine : Italie - France
Format : Couleurs - Stéréo
Genre : Thriller
Durée : 108 minutes
Date de sortie : 1994

Gérard Depardieu : Onoff
Roman Polanski : Inspecteur
Sergio Rubini : Andre, le jeune policier
Nicola Di Pinto : Capitaine

Sélection au Festival de Cannes 1994

Como NAO se deve escrever a Historia do Brasil (nem a Politica Internacional, alias)...

Karl Friedrich Philipp von Martius esteve no Brasil em meados dos anos 1820, acompanhando a comitiva da primeira imperatriz do Brasil, quando ele viajou pelo país e recolheu muitas espécies botânicas, como correspondia a seu espírito naturalista e investigador.
Vinte anos depois, atendendo a um concurso do IHGB, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, criado em 1839, ele escreveu, em Munique em 1843, um texto, que ficou famoso:

MARTIUS, Karl Friedrich Philipp von:
Como se deve escrever a História do Brasil
Revista do IHGB. Rio de Janeiro 6 (24): 389 - 411. Janeiro de 1845.
(Revista Trimensal de História e Geografia ou Jornal do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro)

Pois bem, onde pretendo chegar?
Por enquanto, apenas argumentar sobre como NÃO se deve escrever a história do Brasil, nem a política internacional, com base, por exemplo, nas provas abaixo transcritas aplicadas em 2011 no concurso de ingresso à carreira diplomática.
Depois -- não agora, apenas por falta de tempo -- eu vou demonstrar por que provas abertas aos talentos não poderiam ter sido redigidas dessa maneira. Esse tipo de empreendimento intelectual exige critérios abertos à inteligência, não a submissão ao pensamento único e a subserviência mental. Desenvolverei, no devido tempo, meus argumentos metodológicos, obviamente, mas também de caráter substantivo, talvez políticos, quem sabe até históricos e, finalmente, sociológicos, para sustentar minha crítica em favor de um serviço diplomático de qualidade, colocado a serviço do Estado, não do governo, de qualquer governo. Infelizmente, no Brasil, a estreiteza mental se torna cada vez mais estreita.
Bem, no momento, o que faço, unicamente é postar.
Paulo Roberto de Almeida

Instituto Rio Branco Prova Escrita de História do Brasil
Admissão à Carreira de Diplomata (Terceiro Secretário)


PROVA ESCRITA DE HISTÓRIA DO BRASIL PROVA ESCRITA DE HISTÓRIA DO BRASIL
Na prova a seguir, faça o que se pede, usando, caso julgue necessário, as páginas para rascunho constantes deste caderno. Em seguida, transcreva os textos para as respectivas folhas do CADERNO DE TEXTOS DEFINITIVOS DA PROVA ESCRITA DE HISTÓRIA DO BRASIL, nos locais apropriados, pois não serão avaliados fragmentos de texto escritos em locais indevidos. Em cada questão, respeite o limite máximo de linhas estabelecido.

No caderno de textos definitivos, identifique-se apenas na capa, pois não serão avaliados os textos que tenham qualquer assinatura ou marca identificadora fora do local apropriado.

QUESTÃO 1
Desenvolva análise comparativa do processo de definição das fronteiras do Brasil com a Guiana Francesa e com a Guiana Inglesa.
Extensão máxima: 90 linhas (valor: 30 pontos)

QUESTÃO 2
Redija texto dissertativo a respeito das iniciativas que caracterizaram a Política Externa Independente (1961-1964) no âmbito da descolonização afro-asiática, do descongelamento do poder mundial e do discurso desenvolvimentista. Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos:
- participação do Brasil no processo de descolonização africana naquele momento histórico;
- ideias de Araújo Castro acerca da ordem global;
- relação entre a Política Externa Independente e a formação de conceitos brasileiros de relações internacionais.
Extensão máxima: 90 linhas (valor: 30 pontos)

QUESTÃO 3
Disserte sobre a importância da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos para a política externa brasileira na década de 50 do século XX.
Extensão máxima: 60 linhas (valor: 20 pontos)

QUESTÃO 4
Ao assumir a Presidência da República, em abril de 1964, o Marechal Castelo Branco alterou os rumos da ação do Brasil no plano internacional. Caracterize as rupturas verificadas nas relações do Brasil com a Argentina, em decorrência da política externa brasileira adotada no primeiro governo do regime militar.
Extensão máxima: 60 linhas (valor: 20 pontos)

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UnB/CESPE – Instituto Rio Branco Prova Escrita de Política Internacional
Admissão à Carreira de Diplomata (Terceiro Secretário)


PROVA ESCRITA DE POLÍTICA INTERNACIONAL
Na prova a seguir, faça o que se pede, usando, caso julgue necessário, as páginas para rascunho constantes deste caderno. Em seguida, transcreva os textos para as respectivas folhas do CADERNO DE TEXTOS DEFINITIVOS DA PROVA ESCRITA DE POLÍTICA INTERNACIONAL, nos locais apropriados, pois não serão avaliados fragmentos de texto escritos em locais indevidos. Em cada questão, respeite o limite máximo de linhas estabelecido. No caderno de textos definitivos, identifique-se apenas na capa, pois não serão avaliados os textos que tenham qualquer assinatura ou marca identificadora fora do local apropriado.

QUESTÃO 1
Nos últimos anos, o Brasil ampliou sua interlocução externa com os mais variados parceiros. Nessa interlocução, o governo brasileiro vem defendendo os interesses nacionais e buscando produzir resultados socioeconômicos, sem negligenciar os esforços em prol da melhoria das condições tecnológicas e da competitividade de sua estrutura produtiva. Ao mesmo tempo, o país sinaliza com o “idealismo como horizonte”, em defesa de uma ordem mais justa e do respeito aos valores democráticos e aos direitos humanos.
Disserte sobre os desafios a serem enfrentados para a materialização desses objetivos políticos.
Extensão máxima: 90 linhas (valor: 30 pontos)

QUESTÃO 2
Em 17 de março de 2011, o Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) aprovou, por meio da Resolução n.º 1.973, o estabelecimento de uma zona de exclusão aérea na Líbia. A adoção da resolução, em cuja votação se absteve, entre outros Estados, o Brasil, expressou a resposta do CSNU à situação interna naquele país. Comente tal situação, do ponto de vista político, econômico e humanitário, e identifique, com base nos traços definidores da diplomacia brasileira, as razões que levaram o Brasil a abster-se na votação da referida resolução.
Extensão máxima: 90 linhas (valor: 30 pontos)

QUESTÃO 3
Quem poderia imaginar, em um passado não tão distante, que os chefes de Estado do Brasil e da Argentina poderiam dar instruções a suas agências nucleares para que desenvolvessem conjuntamente um reator nuclear multipropósito com fins de pesquisa? Quem poderia supor que esses países desenvolveriam em conjunto um veículo militar para equipar os dois exércitos, ou que seriam capazes de cooperar em áreas tão variadas e de alta tecnologia como a construção de um satélite para observação de oceanos e da costa, a fabricação de peças para aviões, a TV digital? Há apenas três décadas, não seria possível, tampouco, iniciar estudos para a construção de hidrelétricas na fronteira ou para melhorar a integração rodoviária e ferroviária entre ambos os países. A fronteira, hoje, pode ser mais bem descrita como o espaço por excelência da integração, da paz, da união e da amizade.
Antonio Patriota, "Um exemplo de audácia". In: La Nación, 10/1/2011 (com adaptações).

Considerando o fragmento de texto acima, assim como a diversidade da agenda bilateral, analise os principais tópicos do relacionamento Brasil-Argentina.
Extensão máxima: 60 linhas (valor: 20 pontos)

QUESTÃO 4
Defina BRIC — grupo negociador, bloco econômico, grupo consultivo, agrupamento ou nenhuma dessas opções? Em sua resposta, especifique a participação do BRIC nos regimes globais de comércio, clima e segurança e explicite o modo como iniciativas como essa contribuem para os esforços da política externa brasileira em prol do fortalecimento das estruturas de governança global.
Extensão máxima: 60 linhas (valor: 20 pontos)

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A bientôt...
Paulo Roberto de Almeida

Pre-historia da globalizacao: arqueologia do socialismo

A maioria dos estudantes universitários da atualidade (como é óbvio), nasceu depois que o socialismo fez tilt e morreu. Ele implodiu, mais propriamente, ou se desfez como um castelo de cartas, depois que a realidade passou por ali e deu um leve sopro: ele estava preparado para morrer, só faltava um empurrão.
Esse empurrão foi dado pelas massas, não pelos dirigentes, mesmo se Gorbatchev tenha dado uma ajudinha, tentando reformar um sistema apodrecido desde suas fundações.
Como já tinha dito um século e meio antes Alexis de Tocqueville, o mais perigoso para sistemas esclerosados é quando eles tentam se reformar; aí a coisa degringola e tudo vem abaixo.
O texto abaixo, do jornalista Janer Cristaldo, é de 1988, quando ninguém esperava, ou pelo menos a maioria não esperava, que o socialismo fosse desaparecer com tal rapidez.
Nem mesmo Fukuyama, no seu festejado e depois condenado "The End of Hustory?" (atenção ao ponto de interrogação), esperava que a União Soviética viesse abaixo.

Em face do que ocorreu, lastimável para os partidos comunistas e excelente para todos os povos, seria preciso preservar o que resta. Quero dizer que os regimes socialistas que ainda restam, os que sobraram (na verdade apenas dois, Cuba e Coreia do Norte), precisam ser salvos, preservados, mantidos, se preciso embalsamados, colocados no formol, transformados em museus, enfim qualquer forma de preservação do que eles são e do que eles representam.
Por que digo isto?
Porque simplesmente se eles desaparecem, os jovens de hoje, e os de amanhã, jamais saberão como eram os socialismos reais, os sistemas stalinistas, a escravidão do homem pelo homem, os regimes miseráveis (materialmente e moralmente), que foram criados no mundo a partir de 1917 e depois se espalharam dentre 1945 e 1991 pelos quatro cantos da terra.
Eu proponho, por exemplo, que esses socialismos que sobraram sejam inscritos no anexo do CITES, a convenção que protege as espécies ameaçadas de extinção.
A UNESCO bem que poderia inscreve-los no patrimônio cultural da Humanidade, para que eles possam sobreviver, em boas condições, quero dizer, para que os mais jovens possam conhecer como eram os socialismos reais.
Será um pouco como essas tribos primitivas, visitadas regularmente pelos antropólogos, ou essas aldeias históricas, onde personagens vestidos a caráter fazem o seu revival, ou seja, o reenactment do socialismo nos seus bons tempos.
Enfim, essa longa introdução para deixar vocês com um texto saboroso, sobre o velho e bom socialismo dos tempos clássicos.
Paulo Roberto de Almeida

FAVOR NÃO BRANDIR MARTÍ
Janer Cristaldo
A Notícia (Joinville, SC), 11.12.1988

Florianópolis — Fui convidado, certa vez, a um debate em torno ao socialismo, do qual participavam vários intelectuais marxistas. Por socialismo, no caso, entenda-se socialismo soviético, é melhor deixar claro isto desde o início, particularmente nestes dias em que todo mundo fala de socialismo sem especificar a qual se refere, se ao socialismo do Leste europeu, da Iugoslávia ou da Albânia, ou das social-democracias européias, regimes estes fundamentalmente capitalistas mas de economia muito mais socializada do que a das ditas “democracias populares”, pleonasmo só concebível em intelectuais sem noções mínimas de grego. Enfim, etimologia à parte, meus colegas de mesa abriram o debate louvando a eficácia, o humanismo e o caráter revolucionário das teorias marxistas.

De Marx, pouco ou nada entendo, e vou dizer porque não entendo. No dia em que me dispus a enfrentar O Capital, percebi que necessitaria de bases anteriores de matemática, estatística, economia, história da Europa e particularmente da Inglaterra no período da Revolução Industrial. Em suma, para poder entender o economista Marx (até hoje não sei porque o consideram filósofo) eu necessitava de alguns anos de formação que não me dispunha a desperdiçar para tão-somente entender um livro. Leigo em matéria de teorias, modestamente me restringi a contar o que vi em minhas andanças por países socialistas, favor não confundir com as social-democracias.

Estive em Berlim Oriental, na Romênia e na Bulgária. Estive ainda na Iugoslávia, regime socialista peculiar, o único onde os nacionais podem sair do país sem maiores problemas e onde, em certas repúblicas, há uma economia dinâmica. Pequenos fatos do cotidiano nos oferecem robustos elementos de comparação.

Por exemplo: é meio-dia e você quer almoçar. Sem ir muito longe, até em Florianópolis o turista encontra um restaurante onde, com mais ou menos sorte, há boa oferta de pratos. Pois estive um dia em uma das capitais mais ricas do mundo socialista e localizar um restaurante foi uma epopéia que me exigiu mais de hora. Mesmo com amigas que falavam fluentemente o alemão, não foi tarefa fácil encontrar um, escondido no segundo andar de um monstruoso bloco de concreto, sem placa alguma que o anunciasse.

Enregelado, minha carcaça submetida a sei lá quantos graus abaixo de zero, esperei mais de hora em uma fila de resignados cidadãos. Tomasse o metrô e voltasse a Berlim Ocidental, quatro mil casas de restauração me atenderiam em um segundo, com carinho e calefação. Enfim, cheguei finalmente à porta, quando Sua Eminência, o Garçom, com um gesto ríspido me ordenou entrar. Penetrei em um galpão imenso, onde mesas imensas, situadas a enormes distâncias umas das outras, esperavam humildemente ser atendidas. Um cardápio me oferecia uma vintena de pratos, mas pelo menos na hora de escolher o garçom foi gentil: melhor nem tentar, só tem o prato do dia. Eu estava em um restaurante de luxo, em Berlim Oriental.

Transportei-me então — em meio ao debate — para Mangália, cidade balneária romena, às margens do Mar Negro. Era verão e a moça que me acompanhava, julgando muito caros os maiôs de Paris, decidiu deixar para comprar um honesto maiô socialista. Não sei, não — objetei — tens certeza de encontrar maiô por lá? Respondeu-me com um gesto indignado, quase ofensivo. Resumindo: após revirar Mangália inteira — cidade balneária e dirigida ao turismo europeu, insisto — em pleno verão, ela teve a ventura de encontrar dois maiôs: um era verde e outro azul. Quanto às dimensões, que se lixasse. Mas isto é o de menos.

Estávamos em um hotel de primeira classe e já na primeira noite o garçom perguntou-me que desejávamos para o almoço do dia seguinte e estendeu-nos uma tira suja de papel mimeografado onde devíamos optar entre porco ou frango. Não que fôssemos muçulmanos, mas preferimos frango. Café ou chá? Café. Dia seguinte, deu porco com chá da China. “Desculpe, mas frango e café estão em falta”. Hóspede de um hotel de primeira classe, pago em moeda forte, imaginei então o que seria a vida de um romeno, detentor de magros leu, a moeda local. Nem foi preciso imaginar: supermercados vazios, clientes disputando a tapas um pedaço de carne e isso que o pedaço era disputado por aqueles que tinham poder aquisitivo suficiente para comprá-la.

O verão fazia jus ao nome. Céu de brigadeiro, na praia os turistas eram brindados com alegres canhoneios de barcos de guerra ao largo. Minha companheira, ostentando seu magnífico maiô verde — e magnífico aqui é superlativo de grande mesmo, que outro número não tinha — desceu comigo à praia, justo no momento em que dois garçons começavam a abrir um bar. Uma hora de sol e pensamos em uma cerveja. Fui lá buscar.

Ah, cerveja não tem. Enfim, água mineral? Muito menos. Tentei outras hipóteses. Existe na Romênia uma cachaça feita á base de ameixa, o haidouc, aguardente típico do país. Também não tem.

Estávamos sob domínio soviético, pensei, quem sabe um vodca. Nem pensar. Parti então para a utopia: serve então um uísque, pode ser? Nem em sonhos. Por curiosidade, já que nem no deserto me ocorreria tal idéia, pedi uma Coca, Pepsi, ou um refrigerante qualquer. Negativo. Não há nada para beber, então? Nada. E para comer, o que é que tem? Nada.

Nada não entendia eu. Era aquilo um bar? Era, disse o garçom. Estava aberto? Claro que estava, o senhor não está vendo? Eu estava vendo. Mas não há nada para comer ou beber? Não. E por que não há? Porque o distribuidor não trouxe, ora bolas!

Contava eu estas histórias — e contei muitas outras, por exemplo, a dos turistas internos tirando fotos junto a maquetes de veleiros, porque veleiro, que é bom, nem pra remédio, pois bom velejador em dois dias chega às costas da Turquia, sem falar nos vigias de praia, assessorados por cães e metralhadoras de baioneta calada, assestadas contra o primeiro nacional que ousasse abordar um turista em busca de dólares, sem falar na moça da portaria com cara de sargento, que quando reclamei da falta de papel higiênico me perguntou: “quantos dias o senhor vai ficar aqui?”. Neste hotel, dois dias. Olhou-me então de alto a baixo, avaliou meu metabolismo, rasgou uns dois metros de um rolo e passou-me as tiras — enfim, contava eu essas coisas e muitas outras contaria se mais tempo tivesse, quando o organizador do debate interrompeu-me:

— Não é para isso que te convidamos. Estamos discutindo o socialismo em teoria.

Desculpei-me. De teoria eu nada entendia, só conhecia os dados da realidade. As teorias são brilhantes. Na prática, a teoria é outra.

Estas considerações surgem à propósito do artigo de Gilson Pereira, “O coro dos contentes”, publicado domingo passado, onde o autor contesta algumas observações minhas após uma visita a Santiago do Chile. Diz Gilson jamais ter ido a Santiago — o que já não o autoriza muito a falar de Santiago — e acresce ser um daqueles 80 por cento de brasileiros que provavelmente jamais cruzará a fronteira, por absoluta falta de condições. Cantiga para ninar pardais, como dizem os lusos. O articulista demonstra excelente domínio do vernáculo, e mesmo da lógica — a ponto de sofismar à vontade — e hoje, qualquer pessoa que tenha chegado a este quociente mínimo intelectual é homem que, ou viajou, ou não viajou porque não quis. Diz não ser economista, mas brande a teoria da escola monetarista de Chicago. E assim explica o atual período de prosperidade vivido no Chile. Cito literalmente: “repressão ao movimento de massas, arrocho salarial e grandes investimentos estruturais”.

Confesso que nada sei da escola de Chicago. Mas de Stalin entendo um pouco. Sua política foi exatamente essa e mais, continua sendo. Mesmo sob o signo da glasnost e perestroika gorbachovianas, as massas continuam sendo reprimidas (vide os armênios do Azerbaijão e, certamente dentro em breve, os estonianos) e liberdade sindical, que dizem os petistas ser bom, digno e justo e justo, nem sombra dela nas repúblicas soviéticas. Esta política começou com a repressão e morticínio dos kulaks sob Stalin e tem sua seqüência com Lech Walesa. Os grandes investimentos estruturais na América do Sul, pelo menos, ainda não se traduzem em armamento nuclear e militarização do espaço. Em suma, como lemos no Eclesiastes, nada de novo sob o sol.

Com uma diferença: nos países soviéticos esta política não deu certo e hoje a URSS é uma “confederação” que permanece um século atrás da era moderna, onde instrumentos banais do nosso cotidiano, como o xerox e o telefone, são inacessíveis ao cidadão comum. Estou apenas seguindo a argumentação de meu interlocutor, pois não sendo especialista em questões econômicas — e muito menos chilenas — não tenho a mínima idéia a que se deve a atual prosperidade do Chile. É curioso, no entanto, que alguém que jamais atravessou a Cordilheira, tenha uma resposta certinha para explicar uma realidade que jamais viu. O que mais fascina os jovens no marxismo, a meu ver, é esta possibilidade de entender o mundo através de fórmulas figées. Acontece que o universo é por demais complexo para ser captado a partir de doze lições.

Gilson Pereira tem também uma resposta na ponta da língua para explicar a pluralidade de informações que encontrei em Santiago, seja em livrarias como em quiosques de jornais: “para mim está meridianamente claro que o Chile colhe hoje o que plantou no passado”. O que não passa de uma colossal lapalissade, afinal, todo presente, seja qual for, é conseqüência imediata de um passado.

Acontece que o passado do articulista é imediatíssimo, é o de ontem: “Seriam necessários pelo menos mais duzentos anos de ditadura para apagar do Chile as marcas da experiência socialista do governo Allende”. A assertiva carrega em seu bojo a fé de um crente. Mais cauteloso, não me parece que alguns anos de governo possam criar leitores que consomem jornais russos, poloneses, suecos, franceses, ingleses, italianos, americanos e vou ficando por aqui, já que não me preocupei em listar tudo que vi nas bancas.

Que mais não seja, que fatores teriam levado Eça de Queiroz a escrever, em 1890: “Haverá talvez Chiles ricos e haverá certamente, Nicaráguas grotescos”? Todo presente decorre fatalmente de um passado, mas o passado de Gilson é por demais curto e tendencioso. Passado é um conceito elástico, espichado por cada um conforme suas próprias conveniências. Na Espanha, eu me divertia às custas dos madrilenhos quando tentavam provar-me, por exemplo, que Sêneca era um pensador espanhol.

Allende se professava marxista. Desafio meu interlocutor a citar um regime, um só regime marxista, onde haja pluralidade de expressão e informação, onde livrarias e quiosques estejam repletos das mais diversas formas de pensamento.

É ocioso contar mortos, afirma Gilson. Eu diria que não. Até mesmo por uma questão de ofício, jornalistas, estamos sempre contando mortos. O que me desagrada é a diagramação da contagem. Em julho de 83, eu estava na Itália quando começaram uma série de manifestações em Santiago. DOIS MORTOS NO CHILE — titulava um jornal italiano. CINCO MORTOS NO CHILE — dizia outro na manhã seguinte. Passei à França: DEZ MORTOS NO CHILE. (Estes números eu os cito de memória, talvez não sejam exatamente estes, mas a progressão era esta).

Já na Espanha — e sempre em garrafais nas primeiras páginas dos jornais — Pinochet havia matado uma dúzia ou mais. Que a imprensa denuncie tais fatos é salutar. Foi aí que apanhei um Le Monde, talvez um Le Matin, em Madri. Posso não lembrar muito bem o jornal. Lembro apenas que, na última página, uma notinha telegráfica, sem destaque algum, noticiava: russos matam 250 no Afeganistão. Gilson cita Engels: a violência é a parteira da história. Pode ser que tenha sido, meu caro. Mas já está na hora de fugirmos a esse fatalismo tão grato a velhotes gagás como Antônio Callado, que quando babam na gravata, babam ódio e sangue. Não penso ser ocioso contar mortos. Infelizmente, temos de contá-los.

Ao reivindicar como seu modelo intelectual o cubano José Martí, o articulista faz-me lembrar meus alunos de Letras que, ao ver na televisão Quanto mais Quente Melhor ou O Anjo Azul sonhavam, idílicos: “já pensou? Eu tomando um trago com a Marylin na Florida, convidando a Dietrich para uma esticada noturna em Paris?” Nesta nossa era televisiva, passado, presente e até mesmo o futuro parecem ter sido mesclados em um tempo só. Como as imagens são oferecidas simultaneamente no vídeo, os jovens gostariam talvez de achar o número de telefone da Monroe ou quem sabe contemplar as pernas célebres da Dietrich, que hoje tem pelo menos o pudor de escondê-las em seu refúgio parisiense.

Pior mesmo, só quando essa mixagem de tempos — recurso inerente ao cinema — é transporta para a história ou literatura e é isto que faz Gilson, quando insere Martí na Cuba contemporânea. Que sempre lutou pela independência de Cuba e dos países latino-americanos, isto todos sabemos, e talvez muito poetinha de esquerda que adora falar em Nuestra America ignore ter sido Martí quem cunhou tal expressão. Gilson tem em mãos o epistolário. Boa leitura. Mas conheceria melhor o poeta se tivesse suas obras completas.

Constataria, por exemplo, nos Discursos, a fé de Martí no futuro de Cuba e na capacidade de os cubanos governarem-se livremente, a fé de Martí no continente que ele considerava ser o da esperança humana. Seria também interessante ler El Presídio en Cuba, de 1871, fruto de sua condenação ao regime de trabalhos forçados. O livrinho tem mais de um século, mas sua publicação seria atualíssima na Cuba de Castro, afinal presídios, sejam os de ontem, sejam os de hoje, em pouco ou nada diferem.

Martí contesta efetivamente a hegemonia ianque. Mas contestou-a estabelecido em Nova York, onde foi cônsul, sucessivamente, do Uruguai, Paraguai e Argentina. Constituiria um interessante exercício intelectual imaginá-lo hoje em Cuba, contestando a ditadura de Castro.

Por outro lado, se contestava a hegemonia econômica e política dos Estados Unidos, era homem fascinado pela cultura de seus irmãos do Norte, a ponto de estudar, em Norte-americanos, as obras de Emerson, Beacher, Cooper, Wendell Philips, Grant, Sheridan, Whitman e fico por aqui.

Yo quiero cuando me muera
sin patria, pero sin amo
tener en mi losa un ramo
de flores y una bandera.

Martí, pensador libertário, morreu em 1895. Que seu cadáver — por favor! — não seja brandido em defesa de tiranetes dos trópicos.

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O texto acima faz parte da antologia editada sob forma de e-book:
Crônicas da Guerra Fria
Crônicas da Guerra Fria (1889-1991)
Janer Cristaldo (1947— )
Edição: eBooksBrasil.com
Fonte digital: Documento do Autor

Copyright
©2000-2006 Janer Cristaldo
cristal@altavista.net

SOBRE O AUTOR
Janer Cristaldo nasceu em 1947, em Santana do Livramento, RS. Cursou o secundário em Dom Pedrito e Santa Maria, onde formou-se em Direito. Em Porto Alegre, em Filosofia. Iniciou-se em jornalismo no extinto Diário de Notícias, Porto Alegre. Escreveu no Correio do Povo e Folha da Manhã. Nos anos 71 e 72, exilou-se voluntariamente em Estocolmo, onde estudou cinema e língua e literatura suecas.
De volta ao Brasil, publicou suas primeiras traduções: Kalocaína, de Karin Boye (do sueco), e Crônicas de Bustos Domecq, de Jorge Luís Borges e Adolfo Bioy Casares (do espanhol). Em 1973, publicou O Paraíso Sexual Democrata, que teve quatro edições no Brasil e uma em espanhol, em Buenos Aires, proibida na Argentina. Em 1975, passa a assinar coluna diária para a Folha da Manhã, Porto Alegre. Em 77, recebe bolsa do governo francês para um doutorado em Letras Francesas e Comparadas. De Paris, mantém correspondência diária para a Folha da Manhã. Em 1981, doutorou-se pela Université de la Sorbonne Nouvelle (Paris III), com a tese La Révolte chez Ernesto Sábato et Albert Camus, traduzida ao brasileiro sob o título de Mensageiros das Fúrias. Participou de diversos colóquios na França e Alemanha, como também de festivais cinematográficos em Berlim, Cannes e Cartago, na condição de jornalista. Ainda em Paris, iniciou a tradução da obra ficcional e ensaística de Ernesto Sábato, a pedido do próprio autor.
No Brasil, foi professor visitante de Literatura Brasileira e Comparada, na Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis, de 1982 a 1986. Neste período, traduziu vários outros romances, introduzindo no universo literário brasileiro autores como Roberto Arlt, Camilo José Cela, José Donoso, Michel Déon e Michel Tournier. Em 86, publica seu primeiro romance, Ponche Verde, que tem como fulcro a peregrinação dos exilados brasileiros por Estocolmo, Berlim, Paris e Lisboa.
Em 87, recebe bolsa do governo espanhol para um curso de Língua e Literatura Espanholas. Residiu seis meses em Madri. De 91 a 93, foi redator de Política Internacional da Folha de São Paulo e do Estado de São Paulo.
Crônicas da Guerra Fria é uma compilação de artigos publicados em sua maior parte entre 1989, ano da queda do Muro de Berlim, e 1991, ano da dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

Ampliando a carreira diplomatica: mais 400 cargos...

Comissão aprova criação de 1293 cargos no Itamaraty
Elton Bomfim
Agencia Camara, 07/07/2011 17:04

A Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional aprovou na quarta-feira (6) o Projeto de Lei 7579/10, do Executivo, que cria no quadro de pessoal do Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) 400 cargos de diplomata e 893 de oficial de chancelaria, para provimento gradual a partir de 2011.
A proposta também transforma, sem aumento de despesa, 346 cargos de assistente de chancelaria em 172 cargos de oficial de chancelaria. Segundo o texto aprovado, o provimento gradual obedecerá autorização do Ministério do Planejamento, desde que haja previsão orçamentária.
Protagonismo
O relator, deputado Dr. Rosinha (PT-PR), apresentou parecer pela aprovação. Segundo ele, o projeto está de acordo com a nova condição de protagonista que o Brasil vem consolidando no contexto internacional, nos últimos anos.

Dr. Rosinha observou que o Itamaraty tem se empenhado também em prestar a devida assistência à comunidade de cerca de 4 milhões de brasileiros que vivem fora do País. “Somados às atividades da diplomacia ordinária, as ações de apoio e defesa dos cidadãos brasileiros que residem em países estrangeiros têm demandado a ampliação da estrutura e dos serviços do ministério, em Brasília e na rede de postos diplomáticos e consulares no exterior”, explicou o deputado.
Mais representação
O Brasil tem hoje 223 representações oficiais em todo o mundo, entre missões diplomáticas permanentes, repartições consulares, escritórios de representação e delegações – sendo que 64 delas (mais de 27%) foram criadas a partir de 2003. Essa expansão está baseada na Lei 11.292/06, que permitiu a criação de 23 embaixadas, duas delegações e treze repartições consulares.
Segundo Dr. Rosinha, o provimento escalonado deverá ser feito à razão de cerca de cem cargos por ano, visando preencher as necessidades das novas embaixadas e consulados e também da adequada lotação das unidades sediadas em Brasília. “Sempre de forma a reforçar a presença diplomática brasileira nos mais distintos foros de negociação nas esferas bilateral e multilateral”, disse o deputado.
Tramitação
O projeto ainda terá análise conclusiva das comissões de Trabalho, de Administração e Serviço Público; de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.
Íntegra da proposta:

PL-7579/2010
Reportagem - Luiz Claudio Pinheiro
Edição – Newton Araújo

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Aflicoes cambiais? Chamem o Doutor Mantega! Ou nao???

O nosso dólar é mais barato
Carlos Alberto Sardenberg
O Globo, 707/2011

Não é de hoje que o ministro Guido Mantega está de bronca com o dólar fraco. Não é de hoje que ele declara ter um arsenal de medidas para impedir uma valorização excessiva do real. Olhando os números, porém, verifica-se que o ministro tem fracassado.

Quando ele assumiu, em 28 de março de 2006, o dólar valia R$2,24. Seguiu daí uma clara tendência de baixa, até ficar abaixo de R$1,60 nos dias que antecederam a grande crise financeira de 2008.

Com o quase colapso da economia global, a paralisia dos mercados de crédito e a queda brutal da atividade mundial, a moeda brasileira sofreu rápida e forte desvalorização. Em dezembro de 2008, bateu no teto desse período, com o valor de R$2,51.

Daí em diante, o dólar rodou algum tempo numa cotação elevada, mas retomou a tendência de queda quando o mundo se acalmou e, sobretudo, quando os emergentes voltaram a crescer forte. Nos últimos dias, a moeda americana chegou a um valor nominal igual ao verificado no momento pré-crise 2008.

Ou seja, as medidas tomadas pelo governo brasileiro — aumento do imposto e limitação de entrada de aplicações financeiras, além da compra de moeda pelo BC — tiveram efeito acessório e limitado. O que mudou a cotação, para cima e para baixo, foi o fator internacional.

Bem resumindo: o fato é que o governo não tomou qualquer medida estrutural — ortodoxa, heterodoxa ou desenvolvimentista — para agir sobre o câmbio. Persiste uma indecisão que vem desde a gestão Lula.

Não que seja fácil resolver. O problema é a excessiva entrada de dólares no país. Mas há muitos bons motivos para receber essa dinheirama.

Como somos um país que consome muito e poupa pouco, precisamos de capital externo para financiar investimentos. E lá se vão as autoridades mostrar aos estrangeiros que há aqui muitas oportunidades de negócio. Eles estão acreditando nisso e atendendo aos convites. É bom.

Além disso, como o risco Brasil está baixo e como sobra dinheiro no mundo, a juros no chão, companhias aqui instaladas tomam dólares emprestados lá fora para financiar operações locais. Bom de novo, financiamento abundante e barato. Com os juros aqui pela hora da morte, essa tomada de empréstimos no exterior barateia os negócios no país e, assim, beneficia os consumidores.

Por outro lado, os preços de alguns dos principais produtos brasileiros de exportação estão em níveis historicamente elevados e parece que permanecerão assim por uns bons anos. Garantia de receita. Bom de novo.

O dólar barato também faz a alegria das classes médias, as antigas e as emergentes, que podem viajar para fora e comprar produtos mais baratos... e votar com o governo.

Mas há um enorme problema: o produto industrial fabricado aqui fica mais caro, perde competitividade aqui e no exterior. Ora, a indústria dá emprego bom e abundante, faz a força de uma economia, de modo que não se pode brincar com isso.

O que fazer? Essa valorização da moeda local não é exclusividade brasileira. Para ficar apenas na América Latina, todas as principais moedas ganharam sobre o dólar. Conforme contas elaboradas pela consultoria Economática, o dólar perdeu quase 40% em relação ao peso colombiano, em termos nominais, de 31 de dezembro de 2002 a 5 de julho último.

Mas a Colômbia foi apenas a vice-campeã. Perde do Brasil. No mesmo período, que coincide com o governo Lula e seis meses de Dilma, o dólar perdeu 55% em relação ao real.

Logo, há dois conjuntos de causas de apreciação da nossa moeda. O primeiro é o mesmo para toda AL: exportação de commodities em preços recordes e muita entrada de dólares de investimentos e empréstimos para negócios locais, em economias em crescimento. A Colômbia é tão parecida com o Brasil que tem até uma forte descoberta recente de petróleo.

Este é um problema global, aliás, citado por Christine Lagarde em seu primeiro pronunciamento como diretora do FMI.

Mas por que a valorização do real é campeã global? Só pode ser por causas nossas. E aqui a resposta já não é pacífica, mesmo porque não envolve apenas a taxa de câmbio. É preciso tratar da dobradinha dólar barato/juro caro.

Os analistas têm divergências doutrinárias, que, aliás, tratamos aqui na coluna de 9 de junho ("Ortodoxos, desenvolvimentistas, nem tanto“). De todo modo, se sabemos o que há de comum entre o Brasil e os demais latino-americanos, devemos perguntar: o que há de diferente?

Se procurarem no excesso de gasto público, carga tributária e dívida, vão encontrar alguma coisa. Para os desenvolvimentistas, o caminho é outro, começando por controle de entrada de capitais e derrubada imediata dos juros. Mas, assim como o governo Lula, Dilma ainda não decidiu.

CARLOS ALBERTO SARDENBERG é jornalista. E-mail: sardenberg@cbn.com.br; carlos.sardenberg@tvglobo.com.br

Falacias Academicas: o retorno!: desta vez, sobre o marxismo vulgar... (ou marquissismo)

Fazia tempo que não escrevia algum novo artigo da série "falácias acadêmicas" (e elas são muitas, inesgotáveis).
No mês passado, um desses "marquissistas de opereta", que vivem repetindo como papagaios alguns slogans surrados do marxismo oficial, e com isso deteriorando ainda mais o marxismo vulgar que já percorre e contamina nossas faculdades de humanidades sem nenhum pudor dialético, protestou contra o fato de eu ter postado neste blog um "projeto" (o conceito não se aplica) de pesquisa, financiado generosamente pela agência paulista de fomento, para provar algo que eu mesmo posso provar sem projeto e sem cobrar nada: que o governo Lula praticava (e sua sucessora ainda pratica) uma política econômica neoliberal.
Furibundo pelo fato de eu ter simplesmente tecido comentários irônicos sobre o seu "projeto", o tal de "marquissista de fancaria" pretendeu liderar uma caça às bruxas (no caso apenas uma, eu mesmo), contra o que ele considerava ser um ataque reacionário ao seu justo direito de gastar dinheiro público descobrindo o óbvio. Teve um outro colega delirante chegou a afirmar que eu estava levando -- vejam vocês, com um simples e obscuro post -- uma "campanha macartista". Ele provavelmente não deve saber o que isto significa e fala coisas sem saber.
O fato é que os nossos "marquissistas" estão deteriorando o edifício mais que secular do marxismo, com seu "modo repetitivo de produção", que consiste simplesmente em juntar alguns slogans mais conhecidos e ir colando, aqui e ali, em textos absolutamente incompreensíveis, como um recente, sobre "o moinho satânico" do capitalismo", uma assemblagem insossa e sem sentido de chavões e clichês que pretende ser marxista, quando é somente ridículo.
Em todo caso, aqui segue o meu artigo:

Falácias acadêmicas, 15: o modo repetitivo de produção do marxismo vulgar no Brasil
Brasília, 26 junho 2011, 15 p. Discussão das mistificações cometidas contra o marxismo pelos repetidores de slogans superficiais.
Espaço Acadêmico (ano 11, n. 122, julho 2011, p. 111-122)
Relação de Originais n. 2283; Publicados n. 1040.
link: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/13823/7221

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Pautar ou ser pautado, eis a questao (sem Hamlet, por favor...)

Existem governos que pautam a imprensa, ou seja: produzem fatos, mudanças, políticas, matérias concretas para a imprensa, de um ponto de vista puramente objetivo. Esses governos figuram nas páginas dos jornais porque apresentam algo de substantivo a demonstrar.

Existem outros governos que são pautados pela imprensa, que só adota atitudes reativas porque a imprensa atuou, produziu fatos, versões, descobertas, enfim fez o governo se mexer, mesmo quando este não queria, não pretendia e não tinha a intenção de fazer nada, absolutamente nada.

Sob qual governo você prefere viver?
Num ativo, ou num passivo?

Paulo Roberto de Almeida

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Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...