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domingo, 16 de fevereiro de 2014

Brasilia, capital da... sujeira e violencia - Veja

Fou-se o tempo em que era a capital da esperança, como a chamou André Malraux. Hoje é tudo menos isso.
Paulo Roberto de Almeida 

Copa do Mundo

A 4 meses da Copa, capital do país está abandonada

Brasília não está preparada para receber os turistas que chegarão com o evento esportivo. Falta de zelo com prédios públicos é uma das faces da crise gerencial de Agnelo Queiroz

Marcela Mattos e Gabriel Castro, de Brasília

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Mato cresce em plena Praça dos Três Poderes

Mato cresce em plena Praça dos Três Poderes - Cristiano Mariz

A quatro meses da Copa do Mundo, a capital do país-sede de um dos mais importantes eventos do mundo amarga o abandono. Ao contrário do esperado para a cidade que ergueu o estádio de futebol mais caro do país, quem visita hoje Brasília se depara com monumentos sujos, danificados e mal iluminados – o que, somado à dificuldade de utilizar o transporte público e à crescente onda de violência, acaba por decepcionar e afastar o turista.  

Não é necessário ir longe para se constatar a falta de cuidado com os principais atrativos de Brasília, que abrigará sete partidas do Mundial de futebol e deverá receber 600.000 visitantes, segundo o Ministério do Turismo. Apenas nas proximidades da Esplanada dos Ministérios, a reportagem do site de VEJA enumerou sete pontos que integram o roteiro turístico, mas estão em situação deplorável – por falta de limpeza e manutenção inadequada – ou com as portas fechadas.

Roteiro certo de quem visita a capital, a Praça dos Três Poderes, que interliga o Supremo Tribunal Federal (STF), o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional, tem mato crescendo entre as pedras que apoiam obras de Bruno Giorgi, Oscar Niemeyer e Marianne Peretti. Além disso, os bancos estão sujos, e o Espaço Lúcio Costa, um dos poucos atrativos da praça, está fechado desde outubro de 2012 – e com prazo de reabertura vencido há mais de um ano. Em nota, o governo do Distrito Federal prometeu que o museu voltará a funcionar em abril.

“Esperava algo mais ajeitado. Aqui é lindo, claro. Mas estamos na capital do país e era para ser a menina dos olhos”, disse a advogada Juliana Aragão após conhecer a Praça dos Três Poderes. “As coisas estão sujas e bagunçadas”, continuou o administrador de empresas Flávio Ramos. Os dois são moradores de Olinda (PE) e visitaram a cidade nesta semana. No relato, os pernambucanos criticaram ainda a falta de policiamento e as obras inacabadas do aeroporto.  

Também não passa despercebida a condição de outros cartões-postais de Brasília. A cúpula do Museu Nacional da República está suja, a rampa de acesso ao local apresenta rachaduras e a pintura descascando. Em situação similar, a Ponte Juscelino Kubitschek ainda está mal iluminada.

“Em Brasília, constroem-se coisas lindas, mas não há manutenção. Há lixo pela cidade toda. O turista vai ver isso e, junto com o retrato dos monumentos, vai levar essa paisagem”, diz a arquiteta Ana Helena Fragomeni, autora do livro Não vivemos em cartões postais. “Faltam lugares em que o turista saiba que vai ser recebido como pessoa. Esses lugares deveriam estar perto dos hotéis, com centro de turismo que forneça água, refrigerante e banheiros.”

Por ser de responsabilidade de diversas secretarias, o GDF afirma não ter como apresentar um valor total de quanto será investido para melhorar os pontos turísticos até a Copa do Mundo. Mas promete concluir a revitalização do Museu da República, da Torre de Televisão e da sua fonte luminosa antes do torneio de futebol. Além disso, o GDF afirma que estão em fase de instalação novas placas de sinalização para turistas.

Crise - O desleixo com os pontos turístios de Brasília é mais um sintoma da crise permanente no governo de Agnelo Queiroz (PT). O governador do Distrito Federal tem o segundo menor índice de popularidade do país, atrás apenas de Rosalba Ciarnlini (DEM), do Rio Grande do Norte. Por isso, ao contrário de outros chefes do Executivo, ele ainda não definiu os planos de reeleição. Há partidários que defendem o lançamento de outro nome do PT ao governo neste ano.

Agnelo passou o primeiro ano de mandato tentando explicar os sucessivos casos de corrupção – novos e antigos –, que vieram à tona quando ele assumiu o Palácio do Buriti. Mesmo depois de passada a fase mais aguda dos escândalos, não mostrou serviço: as principais obras haviam sido planejadas pela gestão de José Roberto Arruda, que perdeu o cargo após a Operação Caixa de Pandora. A falta de eficiência na gestão gerou problemas na saúde e na segurança pública.

Recentemente, uma onda de violência atingiu a capital federal, em parte porque policiais militares insatisfeitos resolveram dar início a uma "Operação Tartaruga" para pressionar o governo a aumentar os salários. Foram mais de 70 assassinatos em janeiro, um aumento de 40% na comparação com o mesmo mês de 2013. Era uma rara oportunidade em que a população, refém dos policiais e dos criminosos, poderia dar um voto de confiança a Agnelo caso o governador reagisse com firmeza. Mas ele preferiu se omitir.

Brasília  abandonada

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Museu Nacional

Localizado entre a Catedral e o Congresso Nacional, o Museu Nacional da República é um dos monumentos mais recentes de Oscar Niemeyer e destaca-se como um dos pontos imprescindíveis no roteiro de turistas interessados nas obras do arquiteto. Ao chegar ao local, porém, os turistas vão se deparar com um ambiente inóspito: a cúpula do museu está imunda e a famosa rampa de acesso, além da sujeira, apresenta rachaduras. Pior: os arredores de uma das principais referências da capital do país virou ponto de tráfico de drogas e atrai usuários à luz do dia. “Às 15h já podemos ver os consumidores”, conta um dos seguranças, que preferiu não se identificar. Ele reclamou ainda da falta de segurança e da ausência de policiamento no local. 

Alianca do Pacifico, ciumes no Atlantico - Moises Naim

EL OBSERVADOR GLOBAL

Experimento en Latinoamérica

La Alianza del Pacífico puede cambiar el mapa económico en la región

En Venezuela están matando estudiantes y el Gobierno cierra un canal de televisión que se atrevió a transmitir las protestas callejeras. Argentina sigue su desenfrenada carrera hacia el precipicio económico. Los presidentes de toda América Latina se reunieron en una cumbre democrática… en La Habana. La economía brasileña entró en recesión y 2014 será su cuarto año seguido de anémico crecimiento económico. Últimamente, los brasileños salen a las calles no a bailar, sino a protestar. En 2013 Brasil sufrió la mayor fuga de capitales en más de una década.
¿Es fin de fiesta en América Latina? No.
Mientras las malas noticias que nos llegan de esa región proliferan, esta semana cuatro presidentes latinoamericanos se reunieron en Cartagena (Colombia) para concretar un pacto económico. Lo llaman Alianza del Pacífico y lo integran México, Colombia, Perú y Chile. Es tentador ignorar la noticia y pasar la página. ¿Qué puede ser más aburrido que una cumbre de jefes de Estado? ¿Y quién es el ingenuo que va a creer las promesas de unos presidentes que tratan de mostrar que su reunión fue importante cuando, en realidad, lo normal es que esos eventos solo benefician a las empresas de banquetes? Es, por lo tanto, muy lógico que pocos se hayan enterado de que exista esta Alianza del Pacífico o que, quienes la conozcan, la ignoren.
Pero esta vez puede que sea un error no tomar en serio este intento de integrar las cuatro economías más exitosas de Latinoamérica. Son los países de mayor crecimiento económico y menor inflación de la región. En conjunto, representan el 36% de la economía de América Latina, el 50% de todo su comercio internacional y el 41% de toda la inversión extranjera. Si esta Alianza fuese un país, sería la octava economía más grande del mundo y la séptima potencia exportadora. Sus cuatro integrantes lideran las listas de las economías más competitivas de América Latina. Dado que el comercio entre estos cuatro países es tan solo el 4 % de su comercio total, el potencial para que crezca mucho y rápido es enorme.
En esto, la Alianza del Pacífico no tiene nada de nuevo: América Latina tiene una larga historia de proyectos de integración económica animados por un gran potencial pero que, en la práctica, han fracasado. Mercosur, es un buen ejemplo. Cuando, en 1991, Argentina, Brasil, Paraguay y Uruguay anunciaron la unión de sus economías hubo un gran entusiasmo. El potencial de integrar a dos gigantes como Brasil y Argentina era obvio. Lamentablemente, los resultados han sido muy pobres. Después de más de una década, el comercio entre los miembros de Mercosur es un magro 15% de su comercio total (mientras que con Europa es el 20% y con China, el 14%).
La Alianza del Pacífico no fue bien recibida por los líderes de Mercosur y otros bloques regionales. El boliviano Evo Morales, por ejemplo, afirmó que la Alianza era una conspiración urdida en Washington para dividir a la región. Rafael Correa, el presidente de Ecuador, la describió despreciativamente como “más neoliberalismo, más libre comercio”. En Brasil, Lula da Silva, declaró que la Alianza era un intento de revivir el aborrecido Consenso de Washington, mientras que el entonces ministro de Exteriores de Brasil, Antonio Patriota, dijo que la Alianza del Pacífico es “solo marketing, un nuevo empaque para un viejo producto”. Marco Aurelio García, el principal asesor internacional de Dilma Rousseff, calificó la iniciativa de “irrelevante”.
¿Qué responden los cuatro presidentes de la Alianza? “No estamos contra nadie. Esta es una alianza económica y no una iniciativa política”. Juan Manuel Santos, el presidente de Colombia, ha dicho: “Tenemos una visión común del manejo de nuestras economías, actitudes comunes hacia la inversión extranjera y respeto por la propiedad privada”.
Pero quizás la respuesta más contundente han sido las decisiones de los cuatro países. Ya han eliminado aranceles al 92% de los productos, así como la necesidad de visados para quienes viajan entre sus países promoviendo comercio e inversiones. Han sentado las bases para la integración de sus bolsas de valores, y en varios países una sede diplomática común representa a las cuatro naciones de la Alianza.
La lista de las razones por las cuales la Alianza del Pacífico tampoco va a llegar a nada es fácil de hacer. Pero la lista de los incentivos que tienen estos países para lograr que tenga éxito es igualmente larga. Y esto cambiaría el mapa económico de América Latina.
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Uma visao mais equilibrada do regime militar brasileiro - Daniel Aarao Reis


Em nova obra, professor da UFF analisa a participação da sociedade durante a ditadura e defende a discussão sobre a tradição autoritária brasileira


Por Leonardo Cazes
O Globo, 15/02/2014

No ano em que se completa o cinquentenário do golpe que derrubou o presidente João Goulart da presidência e deu início à ditadura, Daniel Aarão Reis, professor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF), defende que é preciso aprofundar o debate sobre as conexões civis do regime militar. Em seu novo livro, “Ditadura e democracia no Brasil” (Zahar), ele avalia algumas das relações entre a sociedade e as Forças Armadas, além de propor uma diferenciação entre ditadura e estado de direito autoritário. Em entrevista ao GLOBO, Aarão Reis diz que, sem o conhecimento e a discussão sobre os fundamentos sociais e históricos da ditadura, não será possível avançar.

Quais as principais mudanças e descobertas, nos últimos dez anos, no campo dos estudos sobre a ditadura militar brasileira?

A grande novidade nessa última década é que se fortaleceu uma corrente crítica à principal tendência da historiografia sobre o período. A história da ditadura que ainda permanece hegemônica no Brasil, encarnada em grande parte pelo Arquivo Nacional e em certa medida pela Comissão Nacional da Verdade, se recusa a considerar a ditadura nas suas complexas relações com a sociedade brasileira. Imagina que a ditadura foi imposta de cima para baixo e enfatiza, quase que exclusivamente, a resistência à ditadura. Ulysses Guimarães, por exemplo, é uma grande figura da resistência democrática, foi chamado de “Senhor Diretas” e presidiu a Constituinte. Mas pouca gente sabe que ele foi um dos líderes da Marcha da Família com Deus pela Liberdade e apoiou o golpe de 1964. Ele fez parte da comissão do Congresso que tentou elaborar o primeiro Ato Institucional, mas os militares não gostaram e assumiram a responsabilidade. A própria CNBB, que exerceu um papel importante na divulgação de violações contra os direitos humanos durante a ditadura, apoiou o golpe. D. Paulo Evaristo Arns era bispo de Petrópolis e foi apoiar as tropas do General Olímpio Mourão Filho que desciam de Minas para o Rio. É preciso estudar as complexas relações que se estabeleceram. Houve muita colaboração, cumplicidade, zigue-zagues. Juscelino Kubitscheck, sobre quem até hoje há suspeitas de que foi assassinado pelos órgãos de segurança, apoiou o golpe, mesmo que com reservas. Ele cabalou o voto para a eleição de Castello Branco no Congresso. Tudo isso é silenciado. Quem sabe, não fala no assunto.

É por isso que no seu livro recém-lançado, “Ditadura e democracia no Brasil”, o senhor enfatiza a participação civil tanto no golpe quanto no regime?

Não é à toa que cada vez mais gente fala em uma ditadura civil-militar, não apenas uma ditadura militar. A noção de uma ditadura militar foi criada logo depois do golpe pelas esquerdas derrotadas. Era um recurso político legítimo na época, porque a gente queria isolar a ditadura. Fingíamos ignorar os apoios que ela tinha no mundo civil e a designávamos de militar. Essa ideia inicial, politicamente legítima, vai sendo incorporada por todos que migram de uma posição de tolerância ou cumplicidade ativa com a ditadura para as oposições. Vai haver uma migração maciça, principalmente a partir de 1973, 74, de líderes do regime e de segmentos sociais que encontraram na expressão “ditadura militar” um verdadeiro bálsamo para absolver e esconder as suas relações. A apoteose desse tipo de perspectiva foi a colocação do marco cronológico do fim da ditadura, que é construído em função de premissas e perspectivas teóricas e políticas. Fixou-se o marco em 1985, na posse de José Sarney. Ora, o Sarney foi homem da ditadura desde o início e uma de suas lideranças, mas essa cronologia ganha coerência porque a ditadura era militar e ele foi o primeiro presidente civil. Se a ditadura fosse entendida como um complexo civil e militar, seria mais problemático colocar esse marco. Creio que, passados tantos anos, embora a resistência à ditadura mereça e continuará merecendo atenção nos nossos debates, essa tendência de rever a história vai crescer. Se você assume esse ponto de vista, apontando os fundamentos sociais e históricos, há áreas incríveis que merecem estudo, como os sindicatos, que tiveram um crescimento gigantesco durante a ditadura.

Description: http://oglobo.globo.com/blogs/arquivos_upload/2014/02/110_144-Capa-DanielAarao.jpgA ditadura sempre esteve muito preocupada em manter uma aparência de legalidade e com a sua legitimidade. Manteve o Congresso Nacional aberto e criou uma nova Constituição em 1967. Por quê?

A ditadura se instaurou em nome da democracia. Essa é uma diferença importante a se fazer entre as ditaduras anteriores e posteriores à Segunda Guerra Mundial. No Estado Novo, o Getúlio não tinha nenhum problema em dizer que aquele regime era autoritário porque a democracia estava muito desprestigiada à época. A União Soviética se desenvolvia a passos gigantescos e não era uma democracia, o nazifascismo aparecia como uma alternativa universal e recusava a democracia. Muitos regimes na Ásia, África e América Latina adotaram formas corporativistas autoritárias, como o Brasil. Já depois da Segunda Guerra, feita em nome da democracia e contra o nazifascismo, era muito mais difícil legitimar um regime contra a democracia. O movimento de 1964 foi feito em defesa da democracia e contra a corrupção. Muitas lideranças políticas que apoiaram o golpe acharam que os militares iam fazer uma intervenção rápida. Cassariam os comunistas, os trabalhistas e as esquerdas mais radicais e abririam caminho para as eleições presidenciais de 1965. O apoio de JK a Castello Branco se insere aí, porque Juscelino era um dos fortes candidatos, assim como Carlos Lacerda e Adhemar de Barros. Esses líderes civis que participam do golpe eram liberais autoritários. Tinham medo de que uma democracia ampla no Brasil incitasse as massas à luta e que isso provocasse uma revolução social no país. A farsa da Constituinte do Castello marca o início do estado de direito autoritário que vai de março de 1967 a dezembro de 1968, com o AI-5.

No livro, o senhor marca uma diferença entre esse estado de direito autoritário e a ditadura propriamente dita. Poderia explicar melhor?

Eu tento fixar um critério para conceituar um governo como ditatorial ou não. O critério que eu coloco é óbvio, o do estado de exceção. É quando o governo faz e desfaz leis a seu bel-prazer, não passando por nenhuma instância de controle nem sendo controlado por nenhuma instância. O governo inventa os meios legais como quer, como a figura jurídica do banimento, criada para permitir a libertação dos 15 presos trocados pelo embaixador americano em 1969. A república entre 1946 e 1964 era um estado de direito autoritário. Quase metade da população não votava porque era analfabeta. Ninguém chama o governo Dutra de ditadura, mas na contagem do PCB, então na ilegalidade, 51 militantes foram mortos em manifestações. No regime militar, a ditadura é reativada em dezembro de 1968, com o AI-5, e segue até 1979. Do governo Figueiredo até 1988, temos um estado de direito autoritário. Na Constituição de 1988, que sem dúvida é a nossa carta mais democrática, ainda subsistem claramente aspectos autoritários, como o direito dos militares intervirem na vida política nacional desde que sejam chamados pelo chefe de um dos três poderes. Isso é de um autoritarismo enorme e foi incluído por pressão dos milicos à época. Poderíamos mencionar outros, como a concentração de poder que cria um presidencialismo de caráter imperial e as medidas provisórias. Desde 1889, quando não tivemos ditaduras, tivemos um estado de direito autoritário no Brasil.

Muito se discute atualmente sobre as heranças da ditadura. Como essa tradição autoritária que o senhor aponta se manifesta hoje?

Uma prática que persiste é a tortura. A tortura foi política de Estado em alguns governos da Primeira República e nas ditaduras do Estado Novo e de 1964. Ela antecedeu e continuou após essas ditaduras e está aí até hoje nas delegacias, nos quartéis. É uma tradição maldita que vem da escravidão. A posição favorável à tortura encontra-se disseminada na sociedade brasileira. O Núcleo de Estudos da Violência da USP, em pesquisa de 2011, apontou que 48,5% dos entrevistados admitiam a tortura em determinados casos. Você pode presumir que esse número é muito maior, pois muita gente não assume essa posição para o pesquisador, mesmo com a garantia do anonimato. Os fundamentos sociais e históricos da ditadura precisam ser discutidos e compreendidos. O autoritarismo permeia toda a sociedade brasileira. De modo nenhum nossa democracia está a salvo de surtos autoritários. A gente viu agora mesmo nas manifestações de 2013 como políticos de diversos partidos se comprometeram com uma repressão desapiedada sobre o movimento. A Polícia Militar mata cotidianamente pessoas no Brasil todo, os índices são demenciais comparados a outros países, e isso está naturalizado. Embora haja críticas muito severas aos black blocs, as críticas à PM são muito moderadas. No Rio, o governador Sérgio Cabral, eleito democraticamente, tentou criar uma estrutura denunciada e repudiada como uma reedição do DOI-Codi, e recuou. Mas o simples fato dele ter proposto é muito simbólico. Sem lidar com a nossa tradição autoritária, as ditaduras não se explicam. O Estado Novo se instaurou em 1937 quase sem resistência e acabou em 1945 em uma transição pelo alto. Em 1964 e em 1979, foi muito parecido. É preciso discutir isso seriamente


UE-Brasil: tremeliques na parceria estrategica - Estadao

Dilma volta atrás e vai à cúpula com a UE
Lisandra Paraguassu e Jamil Chade
O Estado de S.Paulo, 15/02/2014

Irritada com questionamentos dos europeus à política industrial brasileira na OMC, presidente havia decidido não participar de reunião

BRASÍLIA/ GENEBRA - A presidente Dilma Rousseff decidiu, de última hora, comparecer à Cúpula Brasil-União Europeia, na próxima semana. Irritada com a decisão europeia de questionar a política industrial brasileira na Organização Mundial do Comércio (OMC), Dilma havia suspendido a viagem e, consequentemente, a cúpula.
No entanto, uma conversa nesta sexta-feira, 14, com o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, no caminho para Manaus, a convenceu de que era melhor conversar diretamente com os europeus. Na União Europeia, a decisão de manter a visita foi considerada positiva.
Em entrevista a rádios do Amazonas, a presidente deu indícios do porquê de ter voltado atrás. "Eu estarei na UE, farei uma visita à UE, possivelmente dia 24 de fevereiro, e um dos temas da minha pauta com a União Europeia é essa questão da Zona Franca de Manaus", afirmou.
A existência da zona franca na capital amazonense e em outras áreas da região Norte é um dos pontos que os europeus pretendem questionar na OMC. A União Europeia alega que países emergentes usam a necessidade de desenvolver regiões mais pobres como desculpa para criar zonas francas, com incentivos fiscais, que distorcem a competitividade e prejudicam os países europeus. Na mesma entrevista, Dilma afirmou que pretende ver aprovada a manutenção da zona franca até 2050.
Desculpa. A desculpa oficial do governo brasileiro para adiar a reunião de cúpula com a União Europeia era um problemas de datas. A presidente estará na Itália nos dias 22 e 23 deste mês, e queria que a reunião, inicialmente marcada para o dia 27, fosse antecipada. Segundo governo brasileiro, a UE não teria dado resposta a esse pedido. Na verdade, os europeus haviam confirmado a mudança há vários dias, mas Dilma resistia por causa da disputa comercial na OMC.
A disputa que os europeus se preparam para lançar contra a política industrial brasileira certamente será um dos principais temas da pauta. Em Genebra, ontem, os negociadores europeus terminaram o segundo dia de consultas sobre a queixa da UE contra o sistema de incentivos fiscais do Brasil e as regras da Zona Franca de Manaus.
Fontes em Brasília confirmaram ao Estado que a diplomacia europeia deve abrir um contencioso na OMC e que usará as informações prestadas pelo Brasil nas consultas para montar o caso. Mas o anúncio agora irá esperar o fim da visita de Dilma a Bruxelas para evitar criar uma nova tensão na relação.
Mercosul. Na agenda também deverá estar o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. Apesar de não ter mandato para falar em nome do bloco, a presidente deverá reafirmar o interesse do Mercosul em começar logo as negociações. A ideia é que a troca de ofertas aconteça até o final de março. 
Depois de um início tumultuado, especialmente pela dificuldade argentina de acertar sua proposta, os países do bloco conseguiram sair da última reunião em Caracas, realizada na quinta-feira, com suas ofertas chegando próximas aos 90% de produtos a terem suas tarifas liberadas. O acerto final deverá ser feito no dia sete de março, em um último encontro para afinar uma proposta única.

Nos próximos 20 dias, os países terão de revisar suas próprias listas para que seja possível apresentar aos europeus uma oferta única também próxima dos 90%, índice considerado ideal. Isso porque o cruzamento das listas acaba levando o índice geral para baixo. Nos próximos dias, cada país terá de ceder um pouco, mas a expectativa do governo brasileiro é que o pacote esteja fechado no início de março.

Siria: como destruir um pais na indiferenca geral do mundo externo - WP


KILIS, Turkey — The Syrians who reach this Turkish border town after escaping the northern city of Aleppo bring stories of horror about exploding barrels that fall from the sky.
The worst part is the terrifying anticipation as the barrel bombs are unleashed from warplanes roaring overhead, said one man who fled after three bombs demolished the street where he was living. The sight of rescuers scraping human remains from the sidewalk outside her home prompted another of the refugees to leave. A third Syrian, a grandmother, said she left simply because life had become unsustainable in the wrecked, rubble-strewn city, where entire neighborhoods have been almost completely depopulated.