O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Inquerito criminal contra o capo di tutti i capi: at last...

Demorou...

Financial Times

Last updated: July 16, 2015 9:56 pm

Lula da Silva faces criminal inquiry

©AFP

Former Brazilian president Luiz Inacio Lula da Silva


preliminary inquiry into alleged illegal influence peddling by former Brazilian president Luiz Inácio Lula da Silva has been turned into a formal criminal investigation, deepening a growing political crisis in Latin America’s biggest economy. 
The move by prosecutors came as the leader of Brazil’s lower house of Congress, Eduardo Cunha, said he was seeking legal advice on whether there were grounds to impeach Dilma Rousseff, Brazil’s president and Mr Lula da Silva’s protégé, over separate allegations of impropriety. 
Mr Lula da Silva has been accused of irregularities in his dealings with Odebrecht, the nation’s largest construction conglomerate, in relation to contracts it won for projects in Africa and the Caribbean. He has denied any wrongdoing. 
“The prosecutor decided to open a [formal] inquiry before the time limit for doing so expired,” a spokesman for the Federal district public prosecutor’s office said. 
The Brazilian real weakened on the news 0.46 per cent against the dollar to R$3.15. 
The probe into the left-leaning former president, who ended his two four-year terms in power in 2010 with record approval ratings, is the most serious threat yet to Brazil’s ruling Workers’ party, or PT, which he helped to found. 
Época, a weekly magazine, alleged in May that Mr Lula da Silva had improperly used his influence to obtain loans from Brazil’s state development bank BNDES for Odebrecht’s dealings in Cuba and the Dominican Republic, often travelling to meet the countries’ leaders at the company’s expense. 
The magazine also accused Mr Lula da Silva of similar influence peddling in Ghana and Angola. 
A spokesman at Mr Lula da Silva’s thinktank, Instituto Lula, said on Thursday that it received news of the formal inquiry “with surprise”. 
“But we also received the news with tranquillity out of certainty of the honesty and legality of the activities of the Institute and of the ex-president,” the institute said. 
Separately, Mr Cunha, a congressman with the PMDB, the PT’s main coalition partner, said Brazil was suffering a “grave” crisis in governability. 
Ms Rousseff’s hold over Congress has diminished since elections last year in which the PT performed poorly while her own approval ratings have plummeted. 
Her lack of popularity has been fuelled by the Petrobras scandal, in which ruling coalition politicians are alleged to have collaborated with former directors and contractors to extract bribes from the company. She was chairman of the company when much of the alleged activity took place but has denied wrongdoing.
Mr Cunha, who has also been named for investigation in the Petrobras case, said he was considering a request for Ms Rousseff’s impeachment, submitted by civil activist group the Free Brazil Movement, and was consulting legal experts and Congress’s own counsel. “In the next 30 days, I will have a position on that,” he said. 
The PMDB would prepare its own candidate for the next presidential elections with the partnership with the PT “practically finished”, he said. 

We . . . received the news with tranquillity out of certainty of the honesty and legality of the activities of the Institute and of the ex-president

- Instituto Lula
“It’s that story of a marriage in which the couple have already been sleeping in separate houses for some time. But that’s not to say the PMDB does not support governability,” he said. 
The ratcheting up of the rhetoric by Mr Cunha comes as markets are closely watching Ms Rousseff’s government to see if it can deliver a fiscal adjustment to restore balance to public finances and prevent Brazil losing its coveted investment grade credit rating. 
Economists have been increasing their forecasts for the deepening of a recession in Brazil this year, with Santander on Thursday revising its estimate for a contraction in gross domestic product of 1.9 per cent from 1.5 per cent. 
“The fiscal and monetary policy tightening, Brazilian real depreciation, current crisis in the oil sector, political uncertainty, and business confidence at the lowest level of its historical series sustain our expectation of a strong contraction in investments this year,” Santander said.
 

Latin American development trends and Brazil’s role in the region - Paulo Roberto de Almeida

Mais recente artigo publicado:


1181. “Latin American development trends and Brazil’s role in the region”, revista Paiaguás: revista de estudos sobre a Amazônia e Pacífico (UFMS; vol. I, n. 1, 2015; link para a revista: http://seer.ufms.br/index.php/revpaiaguas; link para o artigo: http://seer.ufms.br/index.php/revpaiaguas/article/view/997; em pdf: http://seer.ufms.br/index.php/revpaiaguas/article/view/997/606). Relação de Originais n. 2830.

Latin American development trends and Brazil’s role in the region

Paulo Roberto de Almeida

Resumo

Analytical essay dealing with Latin American integration process, its peculiarities and  the recent development trends in the region. Instead of deepening its integration process, Latin America is experiencing a clear fragmentation path, with many divergences among leading countries in the domains of economic policies and the integration processes, notwithstanding the fact that new instances were created for that objective (Unasur, Celac). The essay also examines Brazil’s economic and political role in the region, and concludes by an assessment of current trends (comparing the region with Asia Pacific) and advance prospects for divergent trends in Latin America.

Uma estada breve (mas suficiente), na Bizarrolandia, uma experiencia inesquecivel - Paulo Roberto de Almeida

Não é exatamente Une Saison En Enfer, de Rimbaud (ou Mademoiselle Verlaine), inclusive porque o povo é simpático e acolhedor, mas é uma experiência edificante, tanto em termos econômicos, quanto políticos. Tudo é meio bizarro, surrealista, diáfano e vagamento enganador, a ponto de não se poder determinar ao certo se as novelas é que estão certas, ou se a vida real é assim mesmo maluca...
Em todo caso, foi o que me veio à mente, viajando de ônibus de Anápolis a Brasília, e me preparando para sair do Brasil...
Paulo Roberto de Almeida


Uma breve estada na Bizarrolândia

Paulo Roberto de Almeida

Acabo de passar dez dias num país profundamente anormal. Um país no qual as pessoas acreditam que existam coisas, qualquer coisa, bem ou serviço, que podem ser adquiridas em "dez vezes sem juros". A anormalidade é tão grande que as pessoas, vendedores ou consumidores, nem percebem mais a anomalia econômica. Esse é o preço final e está conversado, nem se discute e nem se contesta: ele está registrado nos cartazes, nos sites, em todos os lugares. E se por acaso você esquecer dessa particularidade, a mocinha do caixa se encarrega de lembrá-lo: "Em quantas vezes o Sr. quer pagar?"
E não precisa ser algum bem de maior valor, de consumo durável, que justifique algum financiamento embutido, aliás nunca explicitado, seja no preço, seja no ato do pagamento. Pode ser qualquer coisa, numa farmácia ou no supermercado: "Quer dividir? Em quantas vezes?" E você, meio surpreso, esboça uma resposta: "Dá para fazer em 55 vezes?" Não, em 55 vezes não dá, mas ela pode parcelar em até cinco vezes, está bem assim?
Eu sinceramente me pergunto quando começou o "dez vezes sem juros", mas sobretudo eu gostaria de saber se as pessoas realmente acreditam que elas estão adquirindo algum bem ou serviço em "dez vezes sem juros". Será possível isso? Essas coisas são normais?
Eu começo a desconfiar da capacidade de raciocínio de pessoas educadas, gente de classe média, com dinheiro, já fazendo pós-graduação: "Fessor, a gente tá viajando pra Flórida nas férias!" "Ah, tá bom, mas a alta do dólar não vai atrapalhar um pouco?" "Não, a gente tá fazendo tudo em 10 vezes sem juros." "Ah, tá bom então."
O que é que eu vou dizer? Vou chamar o cidadão de idiota, ali na frente dos outros? Mas aí eu percebo que o único anormal ali sou eu mesmo, que ainda me dou ao trabalho de questionar essas coisas e de ver anormalidades numa situação que é considerada a mais normal do mundo. Dez vezes sem juros, quem é que não gosta, quem é que não quer? Como é que eu ouso contestar essa santa paz dos negócios, essa absoluta normalidade do "Quer parcelar?"? E eu me pergunto se economistas sensatos, ou normais, não alertam para o tremendo engodo incorporado a essa mania -- ou seria já um hábito normal? -- do "dez vezes sem juros", e não começam a avisar os incautos que eles estão pagando o dobro do valor real, que eles estão pagando dois televisores e só levando um para casa, que eles estão na verdade adquirindo um financiamento a 100%, não comprando um bem ou serviço.
Mas essa não foi a única anormalidade que eu encontrei em minha recente estada na Bizarrolândia. Confesso que fiquei igualmente surpreso com o comportamento de uma tribo especial de cidadãos, os políticos, ou representantes do povo, como são chamados por aqui. Eles parecem se situar numa outra galáxia, não nesta onde estão os que os elegeram. Eles são capazes de tudo, menos de mirar a situação economicamente caótica que vive Bizarrolândia atualmente. Eles continuam a aprovar aumento de gastos -- geralmente para eles mesmos ou em benefício dos que lhes são caros -- na total indiferença em relação à inflação, ao desemprego, ao descalabro das contas públicas. E se acusam mutuamente de trapaças, de traições, até de roubalheira e de corrupção, vejam só.
Prepostos dos políticos confessam candidamente que desviaram tantos e tantos milhões de uma estatal qualquer, e que mandaram esses milhões para algum paraíso fiscal e já ninguém mais se espanta! Pior: não acontece nada, nadinha. As coisas continuam como se tudo fosse absolutamente normal. O cidadão, ou a cidadã, foi eleito com base em dinheiro desviado, extorquido de empresas privadas e tudo segue adiante na mais perfeita normalidade.
Mais estranho ainda, o que eu fiquei sabendo nessa breve estada em Bizarrolândia, foi que os guardiões do Tesouro, dos recursos duramente amealhados dos contribuintes, fraudaram completamente as contas, despeitaram o orçamento, violaram as leis e a própria Constituição de Bizarrolândia, e nada se passa: as coisas continuam fluindo na mais perfeita (a)normalidade.
E não só os guardiões, mas inacreditavelmente foi o principal responsável pelo respeito à lei e à Constituição quem incorreu nesses crimes contra a moralidade ou ao simples dever constitucional. Como é que pode?
Confesso que não sei. Não sei como é que o povo de Bizarrolândia consegue conviver com essas coisas, assim numa boa, como se tudo isso fosse absolutamente normal. Será que sou eu o anormal?
Não sei. Só sei que estou deixando Bizarrolândia por algum tempo, mas vou ficar observando de longe. Confesso que gostaria de voltar. Encontrei um povo simpático e até brincalhão, no meio do caos econômico e das esquisitices políticas. Mas gostaria de encontrar algo mudado quando eu voltar.
  
Paulo Roberto de Almeida
Em viagem, Anápolis-Brasília, 16/07/2015