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sexta-feira, 14 de junho de 2019

Registros (tetricos) da ditadura militar: a repressao brutal contra os comunistas - Luiz Claudio Cunha (Brasil 247)


Jair Bolsonaro, o capitão-presidente eleito na democracia, acaba de fazer o que não fez nenhum dos generais-presidentes impostos pela ditadura de 1964: é o primeiro governante brasileiro a reconhecer publicamente a 'Operação Condor'— a clandestina, secreta conexão multinacional de repressão montada na sangrenta década de 1970 pelos países do Cone Sul do continente, todos então submetidos a regimes militares que, a ferro e fogo, baniram a democracia da região sob o pretexto da cruzada anticomunista.

Em uma entrevista concedida ao jornalista argentino Alberto Armendáriz no Palácio do Planalto, — publicada como manchete principal na primeira página da edição de 1º de junho (sábado) do jornal La Nación, cinco dias antes do desembarque de Bolsonaro em Buenos Aires na quinta-feira passada (6), para uma rápida visita oficial à Argentina —, o presidente brasileiro avançou inesperadamente sobre o intocável tema da Condor.

Na última questão, o jornalista lembrou o presidente sobre uma polêmica afirmação dada à TV em 1999, quando ainda deputado federal, reclamando do 'baixo' número de vítimas produzidas pela ditadura brasileira: "Mataram só 300? Deviam ter matado uns 30 mil, inclusive o Fernando Henrique Cardoso!...", lamentou Bolsonaro, na ocasião. Para as combativas entidades de direitos humanos da Argentina, 30 mil é um número cabalístico e sensível, justamente a estimativa de mortos e desaparecidos na fase mais sangrenta da ditadura do general Jorge Rafael Videla — a chamada 'Guerra Suja', que assolou o país entre 1976 e 1983. É nesse contexto, de repente, que Bolsonaro menciona na resposta a La Nación a operação clandestina que ainda é um tabu entre os militares brasileiros:

La Nación — 30 mil mortos, na Argentina, é uma cifra muito relevante. Você acredita que esse número de mortos mudou algo para melhor na Argentina?

Bolsonaro — Não, não. Tivemos a Operação Condor entre vários países e os militares daquela época evitaram que o país caísse no comunismo. Foi isso o que aconteceu. Quantas pessoas morreram ou desapareceram e por quais motivos? Que cada país escreva sua história...

A repentina referência de Bolsonaro à embuçada Operação Condor, sem que fosse perguntado sobre ela, não é um ato de contrição, muito menos uma tardia e compungida frase de remorso diante do terrorismo de Estado que assombrou o Cone Sul há cinco décadas. A citação em tom de elogio parece mais o escorregão habitual de quem tem a língua sem controle e um desapego incondicional à inteligência. Na verdade, o nostálgico capitão agora lembra da Condor pelo que ela tem de pior. Em março de 2014, quando era apenas um deputado do baixo clero no sétimo e derradeiro mandato de sua estéril carreira parlamentar (só dois projetos de lei e uma única emenda constitucional aprovados em 27 anos como deputado), ainda sem aparecer como um improvável e ameaçador presidente dali a quatro anos, Bolsonaro já clamava por uma nova 'Mercosul do Terror', instigando uma ressuscitada conexão militar de repressão entre os vizinhos do Cone Sul: "Chegará o momento em que um novo 31 de março, ou uma nova Operação Condor, não serão suficientes para impedir o Brasil e a América Latina de serem lançados nos braços do comunismo", suspirava.

Chumbo e suicídio

Pelo que diz reiteradamente — sem vergonha — nos últimos anos, Bolsonaro é provavelmente o governante mais letal, estúpido e grosseiro do planeta. Ninguém definiu melhor a grotesca figura do presidente brasileiro do que o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, liderando a rejeição da maior cidade americana à presença do capitão, em abril passado, onde seria homenageado com um jantar de gala: "Jair Bolsonaro é um ser humano perigoso. Seu racismo evidente, homofobia e decisões destrutivas terão um impacto devastador no futuro de nosso planeta".

Algumas das frases rombudas com que ele mesmo se define, sempre transbordando os limites da vulgaridade e exalando paranoia: "Sou capitão do Exército, a minha especialidade é matar"(2017); "Prefiro filho morto em acidente do que vê-lo com um bigodudo por aí"(2011); "Mulher deve ganhar salário menor porque engravida"(2015); "O MEC é porta aberta para homossexualidade e pedofilia"(2011); "O governo deveria apoiar as milícias, já que não consegue combater o tráfico de drogas, e talvez legalizá-las no futuro"(2008); "Não entraria em avião com piloto selecionado por cota racial, nem aceitaria ser operado por médico cotista"(2011); "A PM tinha que matar mais no Brasil"(2015); "Quem não presta no Brasil é 70% do eleitorado"(2011); "O general Pinochet devia ter matado mais gente no Chile"(1998); "Sou preconceituoso, com muito orgulho"(2011); "Direita não, sou de extrema-direita" (2011). "O erro da ditadura foi torturar e não matar" (2016); "A [jornalista] Míriam Leitão estava chorando esses dias, na imprensa, porque foi torturada: 'Botaram uma cobra no meu quarto'. Eu tenho pena da cobra! " (2014); "Gastaram muito chumbo com o [capitão e líder guerrilheiro Carlos ] Lamarca. Ele devia ter sido morto a coronhadas" (1996); "Lamento a morte de Vladimir Herzog, se foi suicídio ou morreu torturado. Suicídio acontece, pessoal pratica suicídio" (2018)

Cães e porcos

Durante três anos, entre 1972 e 1974, o país viveu a fase militar mais intensa de combate e extermínio à Guerrilha do Araguaia, concentrada em uma zona de densa mata no norte do Tocantins, que chegou a reunir até 8 mil soldados na caça a 80 guerrilheiros do PCdoB. Um episódio sufocado do conhecimento público por uma rígida censura à imprensa. Após três duras campanhas militares, 60 guerrilheiros estavam mortos, a maioria executada sob a tortura tão louvada por Bolsonaro, todos incinerados ou ocultos em covas na mata.

Em 2009, quando Bolsonaro cumpria o quinto de seus baldios sete mandatos como deputado federal, a Comissão de Direitos Humanos da OEA abriu uma ação contra o Governo brasileiro por detenção arbitrária, tortura e desaparecimento de 70 pessoas, entre guerrilheiros, camponeses e moradores da região do rio Araguaia. Em 2010, quando Bolsonaro se elegeu pela sexta vez, a Corte da OEA acatou a denúncia e condenou o Brasil por usar a Lei da Anistia para não julgar os militares envolvidos na repressão à guerrilha. Era um tema que, definitivamente, incomodava o capitão-deputado.

Para repelir as famílias dos mortos e desaparecidos na Guerrilha do Araguaia e desdenhar da denúncia da OEA, Bolsonaro, em acesso de inaudita boçalidade, mandou afixar em 2009 um cartaz grotesco na porta de seu gabinete na Câmara dos Deputados, tentando fazer piadinha com o que era apenas cruel, desumano: "Desaparecidos do Araguaia. Quem procura osso é cachorro".

Ele mesmo, orgulhoso de sua gráfica patifaria, distribuiu a foto inacreditável.

Apenas quatro meses após assumir a presidência da República, em 11 de abril passado, Bolsonaro completou a cachorrada: com o Decreto 9.759, ele extinguiu dois grupos de trabalho (GTs) que procuravam cientificamente os ossos de vítimas da ditadura militar, em São Paulo e no norte do Tocantins. O GT Araguaia, integrado por entidades ligadas às famílias dos desaparecidos, investigava o destino de quase 350 pessoas supostamente executadas na repressão à guerrilha da década de 1970. "Sem o apoio dos arquivos do período, baseado apenas em informações de camponeses da região e antigos agentes da repressão, localizamos nove ossadas em 2012", disse Paulo Fonteles Filho, membro do GT Araguaia, contrariando a estúpida tese canina de Bolsonaro, que garantia em 2009 não existir mais ossos. O capitão mostrou essa óssea convicção com uma suína conclusão: "Os porcos comeram. Tenho pena dos porcos! ".

O GT Perus trabalhava na identificação de 1.047 caixas com ossadas localizadas em 1990, na gestão da prefeita Luiza Erundina, em uma vala clandestina no cemitério Dom Bosco, em Perus, um distrito no extremo norte da capital paulistana. Em dezembro passado, um mês após a eleição do capitão-presidente, o GT recebeu o resultado de um exame de DNA enviado por um laboratório de Haia, Holanda, identificando outro corpo enterrado em Perus como indigente: era o bancário Aluízio Palhano Pedreira Ferreira, militante da VPR, morto sob tortura aos 48 anos, em 1971, no DOI-CODI de Brilhante Ustra, o herói conspícuo de Jair Bolsonaro.

A fábula da cafetina

Um capitão extremista com esse doentio arquétipo mental, que se ufana de sua primordial especialidade matadora, certamente nunca lamentaria o rastro de sangue e violência que a lúgubre Operação Condor deixou para trás nos seis países do Cone Sul — Chile, Argentina, Uruguai, Brasil, Bolívia e Paraguai — que ela sobrevoou na década de 1970. O que é notável, na entrevista do La Nación, é a intempestiva menção de Bolsonaro à multinacional do terror, que os militares brasileiros, envergonhados, sempre evitam citar ou fingem desconhecer. Não existe, nos poucos arquivos conhecidos da ditadura, nenhuma menção oficial à Condor.

Em dois anos de intensa pesquisa em milhares de documentos oficiais de entidades civis e militares e órgãos de inteligência, a Comissão Nacional da Verdade (2012-2014) foi alvo de sistemática sabotagem por parte dos comandos das Forças Armadas, que desdenharam e afrontaram uma instituição criada por lei e aprovada pelo Congresso Nacional — uma desobediência desconsiderada pelo ministro da Defesa Celso Amorim e pela inusitada apatia da comandante-em-chefe, a presidente Dilma Rousseff, talvez inibida por sua condição de ex-guerrilheira da organização VAR-Palmares, presa e torturada no afamado DOI-CODI do II Exército, em São Paulo. Apesar do estorvo deliberado e da má vontade explícita de oficiais-generais do Exército, Marinha e Aeronáutica e seus comandados, a CNV conseguiu superar os obstáculos e produziu a mais abrangente, séria, documentada e contundente investigação já realizada sobre a ditadura de 21 anos que dominou o país a partir de 1964.

O capitão-presidente, é claro, discorda dessa avaliação. Entre 2010 e 2018, conforme minuciosa apuração do repórter Gustavo Fioratti, da Folha de S.Paulo, Bolsonaro fez 500 discursos no plenário da Câmara dos Deputados, 56 deles mirando a Comissão Nacional da Verdade — todos igualmente encanzinados, grosseiros, parvos. Transtornado com a qualidade irrespondível do relatório final da CNV, o capitão-deputado fez mais uma azeda arenga na Câmara, em outubro de 2014. Para tentar atingir os comissários da CNV (um ex-procurador da República, um ex-ministro do STJ, três advogados, uma psicanalista e um cientista político), todos mais qualificados intelectualmente e dotados da urbanidade que não tem o capitão, Bolsonaro recorreu a uma fábula beócia de sua obstruída veia literária: "Esse relatório lembra a história das sete prostitutas que, chamadas para escrever sobre uma cafetina, concluíram que ela tinha que ser canonizada!...".

A alucinada oposição de Bolsonaro à CNV não era apenas retórica. Descambava também para a rebordosa física. Em 23 de setembro de 2013, ele resolveu se intrometer na vistoria que a CNV realizava em um quartel da rua Barão de Mesquita, no bairro carioca da Tijuca, sede do 1º Batalhão da Polícia do Exército. Ali funcionou entre 1970 e 1979 o DOI-CODI do I Exército, um dos maiores centros de tortura do regime, onde morreram pelo menos 30 presos, segundo o relatório da CNV. Bolsonaro tentou participar da visita, para tumultuar os trabalhos e manifestar seu protesto. Ignorando a presença de senadores na comitiva, o capitão começou a bater boca e a trocar empurrões, inclusive com o senador Randolfe Rodrigues, que disse ter levado um soco do capitão valentão. Apesar da baixaria, Bolsonaro não entrou no batalhão e ficou na rua, resmungando sozinho sua frustração.

O valioso relatório final da CNV — que muitos citam, poucos leram e o indecoroso Bolsonaro certamente nunca irá estudar ou sequer folhear, por deficiência ou preguiça — se distribui por três densos volumes que somam 3.388 páginas, uma rigorosa autópsia do regime militar de 1964-1985, mas ainda insepulto na desarranjada cabeça do capitão-presidente

A repressão coordenada

Na sua histórica conclusão, a CNV lista os nomes dos 377 responsáveis pela morte de 434 pessoas, 210 delas ainda desaparecidas. Sempre focado na cadeia de comando, que aponta os comandantes que instruíram a violência institucional dos comandados, o relatório aponta corretamente, por ordem de hierarquia, os autores de graves violações dos direitos humanos cometidos pela ditadura que tanto encanta o capitão Bolsonaro. Lá estão todos os seus ídolos: os cinco generais-presidentes (Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo) e os três comandantes da Junta Militar que governou país por dois meses em 1969, além de seis ministros do Exército, sete da Marinha e cinco da Aeronáutica, três chefes do SNI e 24 chefes dos serviços de inteligência das três Forças Armadas — CIE, CENIMAR e CISA —, o braço executivo da repressão.

Na sequência estão os nomes dos outros 324 agentes civis e militares que produziram as torturas e mortes do terrorismo de Estado brasileiro, incluído ali o maior herói de Bolsonaro — o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra (1932-2015), que organizou e comandou por quatro anos o DOI-CODI da rua Tutoia, o mais sangrento do país. Ali, segundo a pesquisa da CNV, passaram 2.541 presos (a torturada guerrilheira Dilma Rousseff, inclusive), 51 não saíram vivos de lá (o 'suicidado' jornalista Vladimir Herzog era um deles).

No minucioso trabalho de investigação da CNV, a Operação Condor louvada agora pelo capitão Bolsonaro mereceu um espaço generoso, o capítulo 6, sob o título "Conexões Internacionais: a aliança repressiva no Cone Sul e a Operação Condor". Ocupa 55 páginas, com nomes, datas e fatos comprovados da colaboração clandestina entre os serviços da repressão militar na região, trocando informações, presos e técnicas de tortura que atravessavam fronteiras geográficas, limites legais e princípios éticos. Apesar disso, o que se constatou nos arquivos dos militares, da polícia política e do Itamaraty é que eles preservam o cirúrgico cuidado de nunca mencionar a palavra Condor, embora descrevendo sua típica conexão repressiva.

O abecedário letal

O Centro de Informações do Exterior (CIEx) do Itamaraty era um serviço clandestino da chancelaria brasileira, que não existia no organograma do ministério, mas tinha até verba secreta, criado para traficar informações e aliciar informantes nas embaixadas do país no exterior, especialmente nos centros que abrigavam os opositores exilados pelo golpe de 1964, concentrados exatamente na região do Cone Sul sobrevoada pela Condor. Ele atuava em conúbio com os agentes infiltrados nas embaixadas pelo CIE, CENIMAR, CISA e SNI — os serviços secretos do Exército, Marinha, Aeronáutica e Palácio do Planalto —, que formavam o abecedário letal do regime. Essa conexão produzia as informações e as decisões que tornavam a Condor operacional e eficaz. A cumplicidade de diplomatas e militares obrigou a Comissão Nacional da Verdade (CNV) a criar dois grupos de trabalho com áreas fronteiriças: o GT Operação Condor e o GT de Exilados e Estrangeiros.

Um grupo de 34 diplomatas, de conselheiros a embaixadores, esteve sob investigação no GT Estrangeiros, enquanto o GT Condor filtrava uma relação do Itamaraty com nomes de 194 adidos das Forças Armadas lotados em embaixadas brasileiras no santuário da Condor: 54 na Argentina, 49 no Uruguai, 48 no Paraguai e 43 no Chile. Os diplomatas e adidos militares desses postos tinham conhecimento, ou envolvimento ou participação ativa em pelo menos 17 casos de brasileiros desaparecidos no sul do continente (Argentina, Bolívia e Chile) em ações coordenadas da repressão regional. Adido não é uma função desprezível na carreira militar. Três ex-presidentes da ditadura passaram pelo cargo em diferentes embaixadas: Geisel em Montevidéu (1942), Costa e Silva em Buenos Aires (1950) e Médici em Washington (1964).

No ano do golpe, o Itamaraty possuía uma base de 86 embaixadas e 64 consulados que dariam o suporte para a rede internacional de vigilância e delação do regime. O repórter Cláudio Dantas Sequeira, que revelou a existência do CIEx em 2007 no Correio Braziliense, vasculhou 20 mil páginas de documentos com 8 mil informes ocultos nos arquivos do centro e descobriu que, das quatro centenas de mortos e desaparecidos da ditadura, 64 deles estavam lá, identificados nas pastas dedo-duro do CIEx.

O informe secreto

O secretismo que envolvia a Operação Condor só foi quebrado a partir da liberação de documentos secretos da CIA e do FBI no Governo Clinton, em 2000, revelando o nome e a existência da operação secreta. No entanto, em dois anos de pesquisa nos ralos arquivos a que teve acesso, a CNV encontrou um único, solitário documento do Itamaraty com a grafia da palavra maldita.

É o informe secreto nº 334, de 13 de setembro de 1977, produzido pelo Centro de Informações do Exterior (CIEx) Apenas esse informe ousa escrever a expressão 'Operação Condor", assim mesmo, para falar sobre a Condor no Uruguai. O telegrama secreto informa sobre o Partido Comunista local e sua ação no meio universitário, documento integrado ao informe nº 333, da mesma data, que levanta os nomes de quatro uruguaios do PC com conexões na Europa — especialmente Itália, Áustria, Suécia e União Soviética. A informação coletada em Montevidéu pela base do CIEx foi difundida, como diz o informe, para a rede brasileira da inteligência militar, devidamente identificada: a agência central do SNI, os serviços secretos do Exército (CIE), Marinha (CENIMAR) e Aeronáutica (CISA) e a 2ª Seção (área de segurança) do EMAER, Estado-Maior da Aeronáutica.

Na época desse informe, Bolsonaro, com 22 anos, tinha acabado de se formar na Academia Militar das Aguas Negras e, como aspirante a oficial, foi servir no 21º Grupo de Artilharia de Campanha no bairro carioca de São Cristóvão. Ele, na época, provavelmente nem sabia da existência da secreta Operação Condor, que hoje exalta pelo 'combate ao comunismo'. Mas, a conexão repressiva no Cone Sul já existia, na prática, desde o governo Médici, no início da década. A Condor já tinha bico e garra em dezembro de 1970, só não tinha nome.

Sequestro com recibo

O ex-coronel de Cavalaria Jefferson Cardim de Alencar Osório, exilado no Uruguai, foi o primeiro insurgente armado contra a ditadura. Comandou em 1965 uma frustrada guerrilha de 23 guerrilheiros que durou 36 horas, no sul do país, até ser cercado e preso. Regressou ao exílio após torturas em três quarteis. Voltou a ser preso na Argentina na tarde de sexta-feira, 11 de dezembro, ao descer do ferry-boat que liga Montevidéu a Buenos Aires. A operação mostra a coordenação repressiva do Brasil em três países, marca singular da Condor. Jefferson ainda atravessava o Rio da Prata, junto com o filho de 18 anos e um sobrinho, quando começou a se mover a engrenagem da repressão.

O adido do Exército na embaixada em Buenos Aires, coronel Nilo Caneppa da Silva, informou sobre o trio de viajantes ao órgão de inteligência da Polícia Federal argentina, a Direção de Coordenação Federal. Com o carro cercado por quatro homens armados, Jefferson foi preso ao desembarcar, cena acompanhada de longe pelo coronel Caneppa. Os detidos foram levados até o gabinete do coronel Jorge Cáceres Monié, superintendente da inteligência, no último andar de um prédio na avenida Belgrano, no centro da cidade. Dali, já algemados e encapuzados, os presos desceram ao submundo do terror, no subsolo 4 do edifício. Lá, pai e filho apanharam, levaram choques, foram torturados inclusive com vela derretida no ânus.

Cáceres ligou para a embaixada brasileira e pediu a presença de Caneppa, que compareceu na companhia do adido da Aeronáutica em Montevidéu, coronel-aviador Leuzinger Marques Lima, justamente o homem que vigiava os passos de Jefferson no Uruguai. Na manhã de sábado, 12, Caneppa informou da prisão ao embaixador brasileiro, Antônio Azeredo da Silveira, a quem pediu um avião para levar os presos ao Brasil. Apenas 26 horas após a prisão, em pleno sábado, o ditador argentino de plantão, general Roberto Levingston — um presidente tampão entre os generais Juan Carlos Onganía e Alejandro Lanusse — assinou o decreto de expulsão. O embaixador descobriu em Buenos Aires, por acaso, um jatinho da FAB que servia ao ministro do Trabalho de Médici, Júlio Barata.

Esse foi um detalhe que salvou a vida de Jefferson e seu filho: o ministro era sogro de um sobrinho do preso e muito amigo de Corina, mãe do coronel. Assim que soube pelo ministro da prisão do filho, dona Corina avisou muita gente – e a notícia foi divulgada pelo mais famoso colunista social do país na época, Ibrahim Sued, que deu sua tradicional 'bola branca' para a prisão de Jefferson. Prisão confirmada, assim, o preso já não podia mais ser 'desaparecido'.

Na noite de sábado, o adido aeronáutico em Buenos Aires, coronel-aviador Miguel Cunha Lanna, avisou que a Aeronáutica, em Brasília, tinha autorizado o embarque de Jefferson e do filho no jato do ministro. Às seis horas da manhã de domingo, 13, eles foram retirados da cela e, ainda algemados, embarcaram em um comboio de quatro carros que tomou o rumo da base de El Palomar, sede da 1ª Brigada da Força Aérea, na zona oeste da capital. Militares brasileiros e argentinos uniformizados aguardavam na pista, ao lado do jatinho branco com o brasão da FAB. Mas eles só embarcaram após a chegada do Mercedes-Benz preto, com chapa diplomática e bandeirinha verde-amarela, de onde desceu o embaixador Azeredo da Silveira. O diplomata recebeu um documento, que leu e assinou. A ditadura brasileira recebia os presos e passava o recibo.

Jefferson e o filho viajaram algemados, vigiados por dois funcionários da embaixada, dois sargentos (armados com metralhadora INA e pistolas Colt 45) e o adido aeronáutico, coronel Leuzinger. O jatinho foi recepcionado na pista da base aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, pelo comandante da 3ª Zona Aérea, João Paulo Moreira Burnier, o brigadeiro mais radical da Aeronáutica brasileira. Jefferson e o filho, de novo encapuzados, foram levados para a tortura de praxe nas celas do CISA, o serviço secreto da Força Aérea, comandado pelo brigadeiro Carlos Afonso Dellamora. Jefferson ficou sete anos preso. O filho ficou detido ainda dois meses, até ser libertado, de repente, sem qualquer processo.

O berço da Condor

O sucesso do primeiro voo da Condor, ainda sem nome, fez muito bem às carreiras de dois personagens centrais do sequestro em Buenos Aires. O coronel Caneppa ganhou como recompensa a promoção a general e, em 1973, foi nomeado diretor da Polícia Federal no Governo Médici, em Brasília. O embaixador Azeredo da Silva se deu ainda melhor: foi brindado com o posto máximo da carreira, assumindo o Itamaraty como chanceler do Governo Geisel, quando o Brasil ajudou a fundar oficialmente a Condor no Chile.

Em novembro de 1975, o abutre que já voava na prática ganhou nome e status formal como 'Operação Condor' na reunião de cúpula da repressão das seis ditaduras do Cone Sul em Santiago do Chile, convocada pelo coronel Manuel Contreras, diretor da DINA, a Dirección Nacional de Inteligencia, a polícia política de Pinochet. Dissimulada como sempre, cínica como nunca, a ditadura do general Ernesto Geisel ainda assim tentava se manter oculta na reunião secreta de Santiago. Semanas antes, o coronel Contreras despachara ao exterior o seu braço-direito, coronel da Força Aérea Mário Jahn, para entregar pessoalmente os convites para a pomposa 'I Reunião de Trabalho de Inteligência Nacional'.

Jahn confirmaria anos depois, na Justiça chilena, que os destinatários eram os chefes da repressão na Bolívia, Paraguai, Uruguai, Argentina e Brasil, mas lembrou de um único nome: o do convidado que visitou em Brasília, o general João Baptista Figueiredo, chefe do SNI e amigo de Contreras. Geisel precisou conter o entusiasmo de seu general, pronto para embarcar rumo ao Chile. Contrariando o pedido de Contreras, Geisel mandou rebaixar a comitiva brasileira de três para dois representantes, com ordens estritas para ouvir mais do que falar. Geisel não queria envolver o Brasil em ações coletivas de repressão, mas desejava preservar o espaço para ações bilaterais, caso a caso, quando necessárias.

Figueiredo recebeu uma última ordem do presidente: reduzir a participação brasileira à condição de mero 'observador', sem autorização para firmar nenhum documento. O Planalto corrigiu ainda um erro de destino no convite da DINA. O convidado não devia ser o SNI, por definição apenas um órgão de informação do presidente. A velada missão brasileira em Santiago cabia, por dever de sangue e de ofício, ao CIE — o Centro de Informações do Exército, o braço operacional no combate à luta armada. Dois oficiais do serviço secreto do Exército foram selecionados por Figueiredo, com a aprovação do general Confúcio Danton de Paula Avelino, chefe do CIE, e do general Sylvio Frota, ministro do Exército de Geisel.

Estranhamente, nem os documentos da CIA desclassificados no Governo Clinton conseguiram identificar os nomes brasileiros, ao contrário das delegações dos outros cinco países presentes no encontro do Chile. Após dois anos de intensa garimpagem a partir de 2005, vasculhando antigas fontes da repressão e ouvindo velhos serviçais da ditadura, o autor deste artigo conseguiu enfim descobrir a identidade da dupla brasileira na cúpula fundadora da Condor, revelada em 2008 com o lançamento do livro Operação Condor: o Sequestro dos Uruguaios — uma reportagem dos tempos da ditadura, ­publicada em 2008 pela editora L&PM.

O tio e o doutor

Os dois parteiros do Brasil no berço da Condor eram o coronel de Cavalaria Flávio de Marco (codinome 'Tio Caco') e o major de Infantaria Thaumaturgo Sotero Vaz (codinome 'Dr. Sabino'). Eram do CIE, dois veteranos de ação decisiva no combate à Guerrilha do Araguaia, um preâmbulo perfeito da Condor. Em uma única operação de guerra interna, o Exército brasileiro executou em três anos no Araguaia, com êxito, o propósito que tinha a Operação Condor nas três fases com que assombraria o Cone Sul, na segunda metade da década de 1970: a coleta de informações na Fase Um, a caçada e a tortura em operações conjuntas na Fase Dois, o assassinato e o desaparecimento dos prisioneiros na Fase Três.

De Marco desembarcou no Araguaia em outubro de 1973, quando os 80 guerrilheiros estavam reduzidos a 56. Mandava e desmandava na 'Casa Azul', sede em Marabá do Estado-Maior do CIE, onde o coronel dispunha de duas equipes de matadores – códigos 'Zebra' e 'Jiboia' -, cada uma com seis homens, integradas por um capitão, um suboficial, dois sargentos e dois cabos. No total, os dois bandos mataram 19 guerrilheiros, nenhum deles em combate. O grupo remanescente de 56 guerrilheiros estava dizimado, reduzido a 10 combatentes, quando 'Tio Caco' deixou o Araguaia, em outubro de 1974. Um ano depois, em novembro de 1975, com a autoridade de um veterano na doutrina hunter-killer de contra-insurgência, De Marco estava em Santiago do Chile representando o Brasil no berço da Condor, mas sem autorização para firmar a ata de encerramento.

Ao seu lado estava o major paraquedista Thaumaturgo, um especialista em guerra na selva com curso na Escola das Américas, que desembarcou no Araguaia liderando 36 'boinas-pretas' da tropa de elite do Destacamento das Forças Especiais do Exército, do Rio de Janeiro. Dez anos depois, em 1984, Thaumaturgo assumiu o comando em Manaus do Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), unidade de excelência nesse tipo de combate, frequentado por 103 oficiais estrangeiros entre 1966 e 1985, período mais crítico do combate às guerrilhas no Cone Sul. Alguns deles eram agentes chilenos da DINA, como reconheceu o próprio Manuel Contreras, revelando que a cada dois meses mandava oficiais para treinar na Escola Nacional de Informações (ESNI), em Brasília, complementando depois o curso no CIGS.

De Marco e Thaumaturgo não eram figuras acidentais na fundação da Condor. Foram escolhas diretas dos dois generais mais importantes da ditadura na época — o presidente Geisel e seu sucessor, Figueiredo —, o que define bem a hierarquia do envolvimento do Brasil com o bando criminoso que nascia no Chile. Ainda major, De Marco serviu com o coronel Figueiredo quando ele comandava o Regimento de Cavalaria de Guarda, no Rio de Janeiro. Tinha linha direta no Araguaia com o general Milton Tavares de Souza, o chefe mais temido do duríssimo CIE do Governo Médici. Voltou a trabalhar com Figueiredo quando ele assumiu a chefia do SNI, no Governo Geisel, e chegou a diretor administrativo do Palácio do Planalto no Governo Figueiredo. O coronel da Condor era da copa e cozinha no mais alto escalão da ditadura brasileira.

O major Thaumaturgo foi cadete na Academia Militar das Agulhas Negras e aluno do capitão Danilo Venturini. À época da fundação da Condor Venturini já era coronel em Brasília, comandante do Batalhão da Guarda Presidencial, que fazia a escolta do Planalto do general Geisel. Três anos depois, promovido a general, Venturini era o diretor da ESNI, a escola de informações do SNI, frequentada pelos rapazes da DINA do coronel Contreras. Durante todo o Governo Figueiredo, o instrutor de Thaumaturgo foi o ministro-chefe do Gabinete Militar.

O Brasil sai à francesa

De Marco e Thaumaturgo participaram ativamente da cúpula da repressão em Santiago. Obedientes a Geisel, mantiveram a postura discreta de 'observadores' e, só por isso, o 'Tio Caco' do CIE não pôde firmar o documento de encerramento do encontro, a que teria direito na condição de chefe da delegação brasileira. O coronel De Marco perdeu a chance de entrar na história e o Brasil saiu à francesa, envergonhado, do berço que deu asas multinacionais ao terrorismo de Estado no Cone Sul. A ata final do encontro secreto, de fato, registra apenas as assinaturas dos chefes das comitivas da Argentina (capitão de navio Jorge Demetrio Casas, diretor de operações do SIDE, Servicio de Inteligencia del Estado ), Bolívia (major de Exército Carlos Mena Burgos, do SIE, Servicio de Inteligencia del Estado), Uruguai (coronel de Exército José A. Fons, subdiretor do SID, Servicio de Inteligencia de Defensa) e Paraguai (coronel de Exército Benito Guanes Serrano, chefe do G-2, Departamento de Inteligência do Estado-Maior das Forças Armadas) — além do jubiloso anfitrião do Chile (coronel de Exército Manuel Contreras Sepúlveda, diretor da DINA de Pinochet).

Embora sem assinatura na ata, o Brasil pegou logo o espírito da coisa. O entrosamento da irmandade da Condor era tão fluido que, menos de um ano depois, chamou a atenção da poderosa DIA, a Agência de Inteligência da Defesa, o braço de espionagem mais importante do Pentágono. Em setembro de 1976, agentes da DIA em Buenos Aires transmitiram a Washington um quadro mais claro da integração repressiva do Brasil com a Argentina e o Uruguai. O telegrama secreto de 22 de setembro do DIA, repassado à Casa Branca, Pentágono, Departamento de Estado, NSA e CIA, resume com clareza inédita o nível de coordenação, apesar dos trechos censurados. O documento relata a presença de três homens, em trajes civis, embarcando no setor militar do Aeroparque, o aeroporto a dois quilômetros do coração de Buenos Aires. Diz o telegrama:

Em 15 de setembro de 1976... Roberto Viola, chefe do Estado-Maior do Exército, o general brigadeiro Suarez Masón, comandante do I Corpo de Exército, e o coronel Juan Saa, Assistente G-2 do Exército [estavam] a caminho de Montevidéu... Um veterano coronel de Exército responsável pela Inteligência argentina... está viajando a Brasília em 17 de setembro de 1976 para discutir assuntos de inteligência com as Forças Armadas brasileiras... [uma fonte não identificada informa] que a missão era secreta e que o Exército argentino estava trocando informações sobre subversão... ele sugeriu que este tipo de coordenação não era nova, mas não estabeleceu qual era a extensão dessa coordenação, além da troca de informações de inteligência.

[...] muito do sucesso desfrutado recentemente na batalha contra a subversão pode ser atribuído à eficiência da organização e dos procedimentos de inteligência...[segundo] três oficiais militares [...], um de cada uma das Forças Armadas. Quando a informação de inteligência é recebida pela polícia ela é rapidamente disseminada para o Exército, Marinha e Força Aérea e vice-versa... [a fonte] descreveu a velocidade de disseminação dizendo que a informação 'literalmente voava' de um quartel-general ao outro, assim, as operações são montadas, algumas vezes em questão de horas, para explorar a vantagem antes que os terroristas tenham tempo para reagir.

O comentário final do telegrama secreto da agência militar de inteligência americana é incisivo:

A visita do oficial do Exército ao Brasil fornece uma sólida informação de que os argentinos estão coordenando ativamente com seus vizinhos em temas de contra-insurgência. Embora o propósito da viagem de Viola não seja claro, ela pode ter sido para coordenar atividades antissubversivas. As atividades diárias de Viola são usualmente cobertas pela imprensa, mas desta vez não há menção à sua viagem.

Os generais que matam

Na irmandade da Condor, como supõe corretamente o desbocado Bolsonaro na entrevista ao La Nación, a ditadura brasileira não era um primo distante, alheio, alienado. O Brasil era apenas o irmão mais velho, mais forte, mais influente — talvez o mais dissimulado, certamente o mais cínico —, que fez o que era necessário fazer para organizar e sustentar a máquina de morte montada pelas ditaduras irmãs do Cone Sul. O Brasil não fez menos do que ninguém e, às vezes, fez primeiro e fez pior. Com exceção do Paraguai, a ditadura no Brasil era mais antiga do que a dos vizinhos — nove anos mais precoce do que a do Uruguai e do Chile, 12 anos mais velha do que a da Argentina. Com a maioridade de seus 21 anos, o regime militar brasileiro durou quatro anos mais que o chileno, nove mais que o uruguaio, 14 mais que o argentino — e sem brandura. A Condor foi apenas a cereja desse bolo autoritário que derramou sangue, medo e pavor pelo sul do continente.

Incapaz de superar o seu pétreo fanatismo anticomunista, Bolsonaro dificilmente entenderá que a Operação Condor, com um saldo de morte e sofrimento que jamais poderá ser quantificado, tornou-se a mais articuladas e ampla manifestação de terrorismo de Estado na história mundial. Winston Churchill resumiu, em agosto de 1940, a bravura dos escassos pilotos da RAF ao enfrentar a esmagadora superioridade aérea da Luftwaffe de Hitler que tentava subjugar a Inglaterra no início da Segunda Guerra Mundial: "Nunca tantos deveram tanto a tão poucos".

Por razões morais e circunstâncias históricas absolutamente opostas, algo semelhante se poderia dizer da Condor. Nunca houve, nem mesmo em períodos de guerras ou conflitos internos, uma coordenação tão extensa entre tantos países para um combate tão impiedoso e sangrento a grupos de dissensão política ou de luta armadas, confrontados à margem das leis por técnicas consagradas no submundo do crime. A Operação Condor trouxe para dentro do Estado ilegítimo das ditaduras as práticas ilegais da violência de bandos paramilitares, transformando agentes da lei em executores ou cúmplices encapuzados de uma política oficial de extermínio. Antes do próximo e açodado elogio, seria prudente que Bolsonaro entendesse que a Operação Condor — graças à especialidade matadora que ele tão bem conhece na condição de capitão — criminalizou os regimes militares do Cone Sul.

O Exército brasileiro não tinha apenas capitães, como Bolsonaro, especializados em matar. Os generais também mandavam matar. Em janeiro de 1971, o general Humberto de Souza Mello assumiu o comando do II Exército, em São Paulo, onde já funcionava a usina de morte do DOI-CODI. Em visita ao antro comandado pelo herói de Bolsonaro, o então major Brilhante Ustra, o general Souza Mello foi claro na diretriz assassina que deu ao delegado David dos Santos Araújo, codinome 'Capitão José Lisboa': "Matem os terroristas, matem os carteiros que entregam suas cartas. [Matem] os familiares, os amigos, seja o que for. Só não quero que morra nenhum de vocês", ordenou o general ao delegado, segundo depoimento dele a Percival de Souza, no livro Autópsia do Medo, a melhor biografia do sinistro Sérgio Paranhos Fleury, o delegado do DOPS que não era capitão, mas também se tornara um especialista em morte na ditadura.

A obsessão assassina era de pleno conhecimento do general que comandava todos eles, o presidente Ernesto Geisel. O general Vicente de Paulo Dale Coutinho, ministro do Exército no início do governo, lembrou a Geisel três anos depois, em fevereiro de 1974: "Eu vi [o trabalho de Souza Mello] em São Paulo, e justiça se faça ao Humberto. Quando começou o comando do Humberto, começou a diminuir o terror, porque a ordem dele era matar. A ordem dele era matar", repetiu Dale Coutinho [sem nenhuma contestação de Geisel]. O diálogo é relatado por Elio Gaspari em A Ditadura Escancarada.

O serial killer fardado

Aqui, mais uma vez, o Brasil chegou à frente da Argentina. A frase de 1971 do general Souza Mello, confissão demente de um serial-killer fardado e matriz do pensamento matador que contaminava o Exército brasileiro e seduziria o futuro capitão Bolsonaro, inspirou cinco anos depois uma boçalidade semelhante do general argentino Ibérico Saint Jean, nomeado interventor na província de Buenos Aires. Em maio de 1976, dois meses após o golpe de Videla, o general Saint Jean trovejou: "Primeiro, mataremos todos os subversivos. Depois, seus colaboradores. Mais tarde, os seus simpatizantes. Então, mataremos os que permanecerem indiferentes. E, finalmente, vamos matar os indecisos..." A intimidade nada retórica das ditaduras de Brasil e Argentina, base para a conexão da Condor entre os dois mais fortes regimes do Cone Sul, desmente a blandícia dos generais brasileiros e realça a face sangrenta dos argentinos.

As portas do inferno na Argentina abriram-se, de par em par, no vizinho Uruguai, um ano antes da frase truculenta do general Saint Jean. Montevidéu sediou, em cinco dias de outubro de 1975, a 11ª reunião da CEA, a Conferência dos Exércitos Americanos, com os comandantes fardados da repressão mais celerada do continente. Ali despontou um novato no encontro, o general argentino Jorge Rafael Videla, nomeado comandante do Exército há menos de dois meses pela presidente Isabelita Perón. O argentino não mostrou nenhum acanhamento pelo noviciado. Com a arrogância típica de uma força que não vê limites, ganhou as manchetes dos jornais ao antecipar em Montevidéu o futuro agourento que se abateria em breve sobre seu país: "Se for preciso, deverão morrer na Argentina todas as pessoas necessárias para alcançar a segurança do país...", avisou Videla, seis meses antes de liderar o golpe que matou e fez desaparecer 30 mil pessoas que 'ameaçavam' a segurança nacional. Ou seja, Videla realizou na Argentina o projeto de sangue que Bolsonaro queria ver aos borbotões no Brasil...

O sonho do capitão, porém, acabou virando um pesadelo para os generais argentinos.

O general e o papel higiênico

O general Ibérico Saint Jean, que sonhava exterminar subversivos, colaboradores, simpatizantes, indiferentes e indecisos, caiu em desgraça com a queda da ditadura, em 1983. Foi preso e condenado por crimes de lesa humanidade e tortura em 61 pessoas. Já na democracia ainda se gabava de ser responsável pelo desaparecimento de 'uns cinco mil subversivos'. Cumpria pena em casa e morreu no Hospital Militar Central de Buenos Aires, em outubro de 2012, aos 90 anos.

O general Jorge Rafael Videla teve pior sorte. Em dezembro de 2010 foi condenado à prisão perpétua por crimes de lesa humanidade e a morte de 31 presos políticos. Em 2012, ganhou mais 50 anos de prisão pelo sequestro de bebês durante seu governo, sendo encarcerado na base militar de Campo de Mayo, em Buenos Aires, onde ele instalara El Campito, o maior dos 380 centros clandestinos de detenção espalhados pelo país. Ali passaram 5 mil presos, apenas 43 sobreviveram. Em entrevista coletiva concedida na Casa Rosada em 1979, no auge de seu poder como ditador, Videla definiu a questão crucial dos milhares de desaparecidos que assombravam a consciência nacional, com uma frieza que deixaria o capitão Bolsonaro deslumbrado. Disse Videla: "Um desaparecido é uma incógnita. Não tem entidade. Não está nem morto, nem vivo. Está desaparecido. Frente a isso não podemos fazer nada...". Em 2012, em entrevista ao jornalista Ceferino Reato para o livro Disposición Final, admitiu ser o responsável direto pela morte e desaparecimento de algo "entre 7 mil e 8 mil pessoas", reconhecendo: "Eu sabia de tudo o que estava acontecendo e autorizei tudo. Tenho peso na alma, mas não me arrependo de nada".

A melhor descrição de sua morte inusitada, em 17 de maio de 2013, aos 87 anos, no cárcere onde cumpria pena perpétua, coube ao jornalista Ariel Palácios, brasileiro nascido em Buenos Aires e correspondente da GloboNews. Em texto que mescla o drama de um tango com o humor negro de uma tragédia argentina, ele escreveu:

Alguns generais morrem em campo de batalha. Outros falecem no leito doméstico, pronunciando supostas frases patrióticas. Alguns morrem assassinados em revoluções, golpes e complôs. Outros caem do cavalo (sem metáforas) e fraturam o pescoço. Mas, até agora, não havia registros de um ex-ditador/general sul-americano que tenha morrido sentado no vaso sanitário, ao lado de um prosaico rolinho de papel higiênico. Jorge Rafael Videla encerrou sua carreira desta forma, com um óbito digno de entrar nos anais da História.

A decadencia auto-induzida do imperio americano - Fareed Zakaria (Foreign Affairs)

The Self-Destruction of American Power

Washington Squandered the Unipolar Moment

Fareed Zakaria
Foreign Affairs, July-August 2019

Sometime in the last two years, American hegemony died. The age of U.S. dominance was a brief, heady era, about three decades marked by two moments, each a breakdown of sorts. It was born amid the collapse of the Berlin Wall, in 1989. The end, or really the beginning of the end, was another collapse, that of Iraq in 2003, and the slow unraveling since. But was the death of the United States’ extraordinary status a result of external causes, or did Washington accelerate its own demise through bad habits and bad behavior? That is a question that will be debated by historians for years to come. But at this point, we have enough time and perspective to make some preliminary observations.
As with most deaths, many factors contributed to this one. There were deep structural forces in the international system that inexorably worked against any one nation that accumulated so much power. In the American case, however, one is struck by the ways in which Washington—from an unprecedented position—mishandled its hegemony and abused its power, losing allies and emboldening enemies. And now, under the Trump administration, the United States seems to have lost interest, indeed lost faith, in the ideas and purpose that animated its international presence for three-quarters of a century.
U.S. hegemony in the post–Cold War era was like nothing the world had seen since the Roman Empire. Writers are fond of dating the dawn of “the American century” to 1945, not long after the publisher Henry Luce coined the term. But the post–World War II era was quite different from the post-1989 one. Even after 1945, in large stretches of the globe, France and the United Kingdom still had formal empires and thus deep influence. Soon, the Soviet Union presented itself as a superpower rival, contesting Washington’s influence in every corner of the planet. Remember that the phrase “Third World” derived from the tripartite division of the globe, the First World being the United States and Western Europe, and the Second World, the communist countries. The Third World was everywhere else, where each country was choosing between U.S. and Soviet influence. For much of the world’s population, from Poland to China, the century hardly looked American.
The United States’ post–Cold War supremacy was initially hard to detect. As I pointed out in The New Yorker in 2002, most participants missed it. In 1990, British Prime Minister Margaret Thatcher argued that the world was dividing into three political spheres, dominated by the dollar, the yen, and the deutsche mark. Henry Kissinger’s 1994 book, Diplomacy, predicted the dawn of a new multipolar age. Certainly in the United States, there was little triumphalism. The 1992 presidential campaign was marked by a sense of weakness and weariness. “The Cold War is over; Japan and Germany won,” the Democratic hopeful Paul Tsongas said again and again. Asia hands had already begun to speak of “the Pacific century.”

U.S. hegemony in the post–Cold War era was like nothing the world had seen since the Roman Empire.

There was one exception to this analysis, a prescient essay in the pages of this magazine by the conservative commentator Charles Krauthammer: “The Unipolar Moment,” which was published in 1990. But even this triumphalist take was limited in its expansiveness, as its title suggests. “The unipolar moment will be brief,” Krauthammer admitted, predicting in a Washington Post column that within a very short time, Germany and Japan, the two emerging “regional superpowers,” would be pursuing foreign policies independent of the United States.
Policymakers welcomed the waning of unipolarity, which they assumed was imminent. In 1991, as the Balkan wars began, Jacques Poos, the president of the Council of the European Union, declared, “This is the hour of Europe.” He explained: “If one problem can be solved by Europeans, it is the Yugoslav problem. This is a European country, and it is not up to the Americans.” But it turned out that only the United States had the combined power and influence to intervene effectively and tackle the crisis.
Similarly, toward the end of the 1990s, when a series of economic panics sent East Asian economies into tailspins, only the United States could stabilize the global financial system. It organized a $120 billion international bailout for the worst-hit countries, resolving the crisis. Time magazine put three Americans, Treasury Secretary Robert Rubin, Federal Reserve Chair Alan Greenspan, and Deputy Treasury Secretary Lawrence Summers, on its cover with the headline “The Committee to Save the World.”

THE BEGINNING OF THE END

Just as American hegemony grew in the early 1990s while no one was noticing, so in the late 1990s did the forces that would undermine it, even as people had begun to speak of the United States as “the indispensable nation” and “the world’s sole superpower.” First and foremost, there was the rise of China. It is easy to see in retrospect that Beijing would become the only serious rival to Washington, but it was not as apparent a quarter century ago. Although China had grown speedily since the 1980s, it had done so from a very low base. Few countries had been able to continue that process for more than a couple of decades. China’s strange mixture of capitalism and Leninism seemed fragile, as the Tiananmen Square uprising had revealed.
But China’s rise persisted, and the country became the new great power on the block, one with the might and the ambition to match the United States. Russia, for its part, went from being both weak and quiescent in the early 1990s to being a revanchist power, a spoiler with enough capability and cunning to be disruptive. With two major global players outside the U.S.-constructed international system, the world had entered a post-American phase. Today, the United States is still the most powerful country on the planet, but it exists in a world of global and regional powers that can—and frequently do—push back.
The 9/11 attacks and the rise of Islamic terrorism played a dual role in the decline of U.S. hegemony. At first, the attacks seemed to galvanize Washington and mobilize its power. In 2001, the United States, still larger economically than the next five countries put together, chose to ramp up its annual defense spending by an amount—almost $50 billion—that was larger than the United Kingdom’s entire yearly defense budget. When Washington intervened in Afghanistan, it was able to get overwhelming support for the campaign, including from Russia. Two years later, despite many objections, it was still able to put together a large international coalition for an invasion of Iraq. The early years of this century marked the high point of the American imperium, as Washington tried to remake wholly alien nations—Afghanistan and Iraq—thousands of miles away, despite the rest of the world’s reluctant acquiescence or active opposition.
Iraq in particular marked a turning point. The United States embarked on a war of choice despite misgivings expressed in the rest of world. It tried to get the UN to rubber-stamp its mission, and when that proved arduous, it dispensed with the organization altogether. It ignored the Powell Doctrine—the idea, promulgated by General Colin Powell while he was chairman of the Joint Chiefs of Staff during the Gulf War, that a war was worth entering only if vital national interests were at stake and overwhelming victory assured. The Bush administration insisted that the vast challenge of occupying Iraq could be undertaken with a small number of troops and a light touch. Iraq, it was said, would pay for itself. And once in Baghdad, Washington decided to destroy the Iraqi state, disbanding the army and purging the bureaucracy, which produced chaos and helped fuel an insurgency. Any one of these mistakes might have been overcome. But together they ensured that Iraq became a costly fiasco.
After 9/11, Washington made major, consequential decisions that continue to haunt it, but it made all of them hastily and in fear. It saw itself as in mortal danger, needing to do whatever it took to defend itself—from invading Iraq to spending untold sums on homeland security to employing torture. The rest of the world saw a country that was experiencing a kind of terrorism that many had lived with for years and yet was thrashing around like a wounded lion, tearing down international alliances and norms. In its first two years, the George W. Bush administration walked away from more international agreements than any previous administration had. (Undoubtedly, that record has now been surpassed under President Donald Trump.) American behavior abroad during the Bush administration shattered the moral and political authority of the United States, as long-standing allies such as Canada and France found themselves at odds with it on the substance, morality, and style of its foreign policy.

OWN GOAL

So which was it that eroded American hegemony—the rise of new challengers or imperial overreach? As with any large and complex historical phenomenon, it was probably all of the above. China’s rise was one of those tectonic shifts in international life that would have eroded any hegemon’s unrivaled power, no matter how skillful its diplomacy. The return of Russia, however, was a more complex affair. It’s easy to forget now, but in the early 1990s, leaders in Moscow were determined to turn their country into a liberal democracy, a European nation, and an ally of sorts of the West. Eduard Shevardnadze, who was foreign minister during the final years of the Soviet Union, supported the United States’ 1990–91 war against Iraq. And after the Soviet Union’s collapse, Russia’s first foreign minister, Andrei Kozyrev, was an even more ardent liberal, an internationalist, and a vigorous supporter of human rights.

The greatest error the United States committed during its unipolar moment was to simply stop paying attention.
Who lost Russia is a question for another article. But it is worth noting that although Washington gave Moscow some status and respect—expanding the G-7 into the G-8, for example—it never truly took Russia’s security concerns seriously. It enlarged NATO fast and furiously, a process that might have been necessary for countries such as Poland, historically insecure and threatened by Russia, but one that has continued on unthinkingly, with little concern for Russian sensitivities, and now even extends to Macedonia. Today, Russian President Vladimir Putin’s aggressive behavior makes every action taken against his country seem justified, but it’s worth asking, What forces produced the rise of Putin and his foreign policy in the first place? Undoubtedly, they were mostly internal to Russia, but to the extent that U.S. actions had an effect, they appear to have been damaging, helping stoke the forces of revenge and revanchism in Russia.
The greatest error the United States committed during its unipolar moment, with Russia and more generally, was to simply stop paying attention. After the collapse of the Soviet Union, Americans wanted to go home, and they did. During the Cold War, the United States had stayed deeply interested in events in Central America, Southeast Asia, the Taiwan Strait, and even Angola and Namibia. By the mid-1990s, it had lost all interest in the world. Foreign-bureau broadcasts by NBC fell from 1,013 minutes in 1988 to 327 minutes in 1996. (Today, the three main networks combined devote roughly the same amount of time to foreign-bureau stories as each individual network did in 1988.) Both the White House and Congress during the George H. W. Bush administration had no appetite for an ambitious effort to transform Russia, no interest in rolling out a new version of the Marshall Plan or becoming deeply engaged in the country. Even amid the foreign economic crises that hit during the Clinton administration, U.S. policymakers had to scramble and improvise, knowing that Congress would appropriate no funds to rescue Mexico or Thailand or Indonesia. They offered advice, most of it designed to require little assistance from Washington, but their attitude was one of a distant well-wisher, not an engaged superpower.

Unmarked Russian soldiers near Sevastopol, Crimea, March 2014

Unmarked Russian soldiers near Sevastopol, Crimea, March 2014

Ever since the end of World War I, the United States has wanted to transform the world. In the 1990s, that seemed more possible than ever before. Countries across the planet were moving toward the American way. The Gulf War seemed to mark a new milestone for world order, in that it was prosecuted to uphold a norm, limited in its scope, endorsed by major powers and legitimized by international law. But right at the time of all these positive developments, the United States lost interest. U.S. policymakers still wanted to transform the world in the 1990s, but on the cheap. They did not have the political capital or resources to throw themselves into the effort. That was one reason Washington’s advice to foreign countries was always the same: economic shock therapy and instant democracy. Anything slower or more complex—anything, in other words, that resembled the manner in which the West itself had liberalized its economy and democratized its politics—was unacceptable. Before 9/11, when confronting challenges, the American tactic was mostly to attack from afar, hence the twin approaches of economic sanctions and precision air strikes. Both of these, as the political scientist Eliot Cohen wrote of airpower, had the characteristics of modern courtship: “gratification without commitment.”
Of course, these limits on the United States’ willingness to pay prices and bear burdens never changed its rhetoric, which is why, in an essay for The New York Times Magazine in 1998, I pointed out that U.S. foreign policy was defined by “the rhetoric of transformation but the reality of accommodation.” The result, I said, was “a hollow hegemony.” That hollowness has persisted ever since.

THE FINAL BLOW

The Trump administration has hollowed out U.S. foreign policy even further. Trump’s instincts are Jacksonian, in that he is largely uninterested in the world except insofar as he believes that most countries are screwing the United States. He is a nationalist, a protectionist, and a populist, determined to put “America first.” But truthfully, more than anything else, he has abandoned the field. Under Trump, the United States has withdrawn from the Trans-Pacific Partnership and from engaging with Asia more generally. It is uncoupling itself from its 70-year partnership with Europe. It has dealt with Latin America through the prism of either keeping immigrants out or winning votes in Florida. It has even managed to alienate Canadians (no mean feat). And it has subcontracted Middle East policy to Israel and Saudi Arabia. With a few impulsive exceptions—such as the narcissistic desire to win a Nobel Prize by trying to make peace with North Korea—what is most notable about Trump’s foreign policy is its absence.

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Lista de diplomatas promovidos em junho de 2019: cumprimentos

Publicada a lista dos diplomatas promovidos neste primeiro semestre de 2019.
A todos eles meus cumprimentos.
Paulo Roberto de Almeida

Diplomatas promovidos no primeiro semestre de 2019

A MINISTRO DE PRIMEIRA CLASSE
Márcia Donner Abreu
Paulo Roberto Soares Pacheco
Juliano Féres Nascimento
Pedro Gustavo Ventura Wollny
Fabio Mendes Marzano
Kenneth Félix Haczynski da Nóbrega
Nestor José Forster Junior

A MINISTRO DE PRIMEIRA CLASSE DO QUADRO ESPECIAL
José Antonio Gomes Piras

A MINISTRO DE SEGUNDA CLASSE
Alan Coelho de Séllos
Luiz Maria Pio Corrêa
José Eduardo Bernardo dos Santos
Caio Mário Renault
Erika Almeida Watanabe Patriota
Mauricio Medeiros de Assis
Maria Angélica Ikeda
Marcus Rector Toledo Silva
Otávio Gabriel de Carvalho Santos Briones
João Carlos Beato Storti
Rodrigo de Oliveira Godinho
Paula Aguiar Barboza
Braz da Costa Baracuhy Neto

A MINISTRO DE SEGUNDA CLASSE DO QUADRO ESPECIAL
Ricardo José Lustosa Leal

A CONSELHEIRO
Bernardo Henrique Penha Brasil
Pablo Braga Costa Pereira
Camila Silva Leão D`Araújo Olsen
Marcela Pompeu de Sousa Campos
Guillermo Esnarriaga Arantes Barbosa
Carolina de Cresce El Debs
Ronaldo Lima Vieira
Rodrigo Oliveira Govedise
Carlos Ribeiro Santana
Ruy de Freitas Ciarlini
Henrique Choer Moraes
Luis Alberto Fernández y Sagarra
Wagner de Andrade Alves
Beatriz Augusta de Sousa Vasconcelos Goes
Gilsandra da Luz Clark
Marcos Mauricio Toba
Guilherme Marquardt Bayer

A CONSELHEIRO DO QUADRO ESPECIAL
João Luiz de Medeiros

A PRIMEIRO SECRETÁRIO
Tiago Ribeiro dos Santos
Igor da Silva Barbosa
Pedro Henrique Fleider Wolanski
Eduardo Minoru Chikusa
Edison Luiz da Rosa Junior
Marcela Magalhães Braga
Vitor Puech Bahia Diniz
Filipe Abbott Galvão Sobreira Lopes
Paulo Thiago Pires Soares
Felipe Dutra de Carvalho Heimburger
Marianne Martins Guimarães
Fernando de Azevedo Silva Perdigão
Joaquim Aurélio Correia de Araújo Neto
Luis Pinto Costa
Leandro Santos Teixeira
Leonardo Dutra Rosa
Marcelo Brandt de Oliveira
André Campos Ferreira Makarenko
Fabiano Burkhardt

A SEGUNDO SECRETÁRIO (POR ANTIGÜIDADE)
Pedro Ivo Ferraz da Silva
Laura Paletta Crespo
Alexandre Vieira Manhães Ferreira
Hugo Freitas Peres
Gustavo Fortuna de Azevedo Freire da Costa
Andrezza Brandao Barbosa
Luiz de Andrade Filho
André Luís Bridi
Lucas Hage Chahine Assumpção
Geórgenes Marçal Neves
Alexandre Piana Lemos
Felipe Neves Caetano Ribeiro
Leticia dos Santos Marranghello
Maria Lima Kallás
Caio Grottone Teixeira da Mota
João Marcelo Costa Melo
Pedro Piacesi de Souza
Pedro Meirelles Reis Sotero de Menezes
Guilherme Rafael Raicoski
Filipe Brum Cunha

Prata da Casa: 12 livros de ou sobre diplomatas - Paulo Roberto de Almeida

Reproduzo abaixo as páginas da Revista da ADB que publicaram minha dúzia de mini-resenhas de livros de diplomatas ou sobre eles.
Já estou preparando a nova safra.
Paulo Roberto de Almeida







Os judeus e o dinheiro: mitos, historia e preconceitos - Museu judeu de Londres

A Terribly Durable Myth

Jews, Money, Myth

an exhibition at the Jewish Museum, London, March 19–July 7, 2019

Exchequer receipt roll showing the oldest known anti-Jewish caricature, 1233
National Archives, LondonDetail of an Exchequer receipt roll showing the oldest known anti-Jewish caricature, 1233
In 2006 much of French society was divided over a strange and painful question: Is it anti-Semitic to assume that a Jew is rich? The debate was sparked by the kidnapping, torture, and murder of a twenty-three-year-old Jewish cell phone salesman from Paris named Ilan Halimi. The details of the torture, which extended over a three-week period as the kidnappers made various demands for ransom, were horrific enough. But when their ringleader, who was quickly apprehended, publicly stated that they had targeted Halimi, who was of modest background and means, because Jews were “loaded with dough,” a brutal crime morphed into a political crisis.
Prosecutors wavered over whether to invoke France’s hate crime statute. Defense lawyers claimed that money, not anti-Semitism, was the suspects’ motive, and the police and much of the public seemed to agree. The Halimi family, however, insisted that Ilan would not have died if he had not been Jewish, and tens of thousands of protesters took to the streets to support them. Politicians, historians, and philosophers offered dueling definitions of anti-Semitism; an eminent sociologist suggested that one must distinguish between beliefs about Jewish wealth, even if based on discredited stereotypes, and “Jew-hatred.”1
The exhibition “Jews, Money, Myth” at the Jewish Museum in London makes such a distinction hard to maintain. It examines its theme through a wide range of documents, artworks, portraits, posters, and souvenirs. The very first item on view is a copy of The Oxford English Dictionary from 1933, whose entry for “Jew” includes the definition: “1. Jew: trans. and offensive. As a name of opprobrium: spec. applied to a grasping or extortionate person.” Object after object testifies to the persistence and the toxicity of the association of Jews and money, from a 1790s print entitled “I’ve got de Monish,” which mocks the pretensions, profile, and accent of a gentleman Jewish banker, to the Mafia IIvideo game, whose characters are harassed by a Jewish loan shark. By the end of this short but shattering survey, it becomes painfully clear that economic assumptions and personal and societal animosity are inextricably intertwined.2
“Jews, Money, Myth” seeks both to document and to refute the stereotype of the moneyed Jew. The subject is distressingly timely. Propelled by rising nationalism on the right and antiglobalism on the left, in the past two years anti-Semitism has come back into the headlines. Politicians and activists on all sides now implicitly endorse or even repeat accusations of Jewish greed and financial power. The Labour Party in the United Kingdom has instituted a complaints procedure to deal with allegations of anti-Semitism in its leadership and ranks, which has resulted in the expulsion of a dozen members. In 2017, hate crimes against Jews in the US rose by 37 percent from the previous year (accounting for almost two thirds of all religious-based hate crimes), and across Europe in 2018 almost one in three Jewish people experienced anti-Semitic harassment.
Although these developments are presumably the impetus for mounting this exhibition, the first substantial section in “Jews, Money, Myth” takes a positive tone. The Oxford English Dictionary is immediately followed by a wall panel emphasizing the centrality of economic ethics in Judaism and a selection of objects illustrating Jews’ commitment to tzedakah, or assistance to the poor (literally “righteousness”). A letter written in Hebrew on papyrus in eleventh-century Egypt on behalf of a poor blind man asks his congregation for financial aid to help his family journey from Alexandria to join him in Fustat (Cairo); a seventeenth-century Dutch painting commissioned by a wealthy Jewish merchant exalts anonymous giving by depicting a disembodied hand offering a coin to another outstretched hand (see illustration on below).
The misconceptions concerning Jewish rapaciousness are perhaps widespread enough to justify opening with this theme. But a pitfall of doing so is that it echoes the anti-Semitic suggestion that Jews have a particular preoccupation with money, albeit one driven by philanthropy rather than avarice.
The show then takes a second approach to refuting the myth of the moneyed Jew: it examines Jews’ economic status in various periods, primarily in British history. A panel introducing a section on Jews in seventeenth-, eighteenth-, and nineteenth-century Britain notes that far more Jews were poor peddlers and beggars than affluent, influential bankers. An early-twentieth-century soup kitchen tally board vividly conjures the struggles of destitute Eastern European immigrants in London’s East End.
The focus on Jews in Britain, though, somewhat undermines the force of the argument, since British Jewish communities, unlike those in many other places, were in fact almost exclusively urban, and were fairly narrowly occupied in finance, shopkeeping, and trade. This was for specific historical reasons: Jews arrived in England only after the Norman Conquest, when merchants and minters were invited from the Continent by the new rulers and settled in royal towns in order to promote commerce and provide economic expertise.3 Though these medieval communities were expelled from the kingdom in 1290, the basic pattern was repeated after Jews were readmitted to Britain in the seventeenth century. Elsewhere in Europe and the Mediterranean, medieval, early modern, and modern Jews lived more varied economic lives, engaging in agriculture, manual labor, and a wide range of crafts.
The power of the exhibition lies not in such well-intentioned correctives but in its relentless documentation of the reach and virulence of the stereotype of the money-grubbing Jew. Sections on stock characters of anti-Jewish propaganda and political satire from across the centuries, such as Judas and the figure of the Jewish moneylender, expose the malignity and menace of the myth. In the thirteenth century, Christian artists modified existing symbols of sin to develop a visual convention for embodying Jews’ supposed bestial and devilish greed that far outlived its original inspiration.4 The same hooked nose, thick lips, and dark scowl appear in a doodle of a Jewish businessman on an English court document from 1277, in an 1825 English print suggesting that Jews caused and profited from a financial crash, on a 1944 Italian poster that blames the bloodshed of World War II on Jewish bankers, and on a 2012 mural painted on the wall of a London building criticizing “class and privilege.” (This mural, which has since been painted over, became a cause célèbre in 2018 when it was found that the leader of the Labour Party, Jeremy Corbyn, had posted his sympathy for the artist on Facebook after protests demanding its removal; Corbyn subsequently apologized for failing to notice its anti-Semitic tenor.)
As the curators’ selection of objects makes clear, the fleshy features in nineteenth-century English caricatures and the intimations of moral turpitude they convey were not reserved for the wealthy. They are shared by a destitute Jewish beggar in an 1824 cartoon lampooning the charitable activities of Nathan Meyer Rothschild and by a shabbily dressed dealer in secondhand clothes mocked on the cover of The London Saturday Journal in 1841. Contradiction was inherent in the stereotype: Jews were despised for being both rich and poor, capitalist and communist, and they have been portrayed as gross-featured and blatantly different, yet distrusted for supposedly being adept at assimilation and disguise.
What “Jews, Money, Myth” does not, perhaps cannot, do (given the limitations of a small museum exhibition) is explain the origins of the stereotype of the money-grubbing Jew or the intensity of the hatred it has inspired. A display headed “Medieval Commerce,” which includes medieval Jewish loan and lease documents, and another called “The Figure of the Jewish Moneylender,” which explores negative representations of Shylock, suggest that Jewish financial activities are at the root of anti-Jewish hostility. Because “the Catholic Church regarded [usury] as sinful,” we are told in a wall panel, Jews were pushed into occupations forbidden to Christians, such as moneylending, and then excoriated for it.
It is true that economic resentments did often provoke and exacerbate Jew-hatred, but the stereotype considerably predates the development of such resentments. Jews were labeled materialistic and corrupt centuries before the Catholic Church began to worry about usury, or even about the sin of avarice. Moreover, throughout the Middle Ages many more Christians than Jews engaged in lending at interest—a fact that was well known and openly acknowledged by Church authorities, who in the decades around 1200 outlawed moneylending for Christians, and thereafter regularly castigated Christians’ attempts to disguise now-illicit financial transactions.
The figure of the Jewish moneylender is the product, not the source, of the myth of the worldly, greedy Jew. The seeds of that myth were planted in the earliest surviving Christian texts, the letters of Saint Paul. Paul of Tarsus was a Hellenized Jew from Asia Minor who, in the decades following Jesus’s death, appointed himself “apostle to the gentiles.” Paul believed that anyone who insisted on continuing to observe the “letter” of Judaic law, or who refused to recognize Christ’s true, salvific nature, was mired in the flesh and the material world. A series of oppositions emerges in Paul’s attempts to reconcile ancient Hebrew scripture with the new faith: literal versus allegorical, material versus spiritual. Jews (meaning not necessarily people born Jewish but anyone, gentiles included, who obeyed Jewish law) were aligned with the former, Christians with the latter. But Paul’s polemic against “Jewish” materialism was therefore about biblical interpretation and religious practice and had nothing to do with Jewish wealth or economic activities.
A second source for the myth of the materialistic Jew is the Gospels themselves, written slightly later than the letters of Paul. The central episode occurs when Jesus, recently arrived in Jerusalem for the Passover festival, drives merchants and moneychangers from the Temple forecourt, saying, according to Matthew, “It is written, ‘My house shall be called a house of prayer; but you are making it a den of robbers.’”
Painting by Benjamin Senior Godines depicting an act of ­anonymous giving, 1679–1681
Jewish Museum, LondonDetail of a painting by Benjamin Senior Godines, commissioned by a Jewish ­merchant, that depicts an act of ­anonymous giving, 1679–1681
This scene is frequently cited as a source of anti-Jewish economic animus, and medieval and early modern illustrations of the episode often employ anti-Jewish motifs, as in a sixteenth- century stained glass panel from Germany in “Jews, Money, Myth” that shows a righteously angry Jesus threatening two men with a cudgel—one a merchant selling a lamb for sacrifice, the other a bearded, frowning moneychanger balancing a treasure chest on his head as he flees. But the dispute was, in fact, a religious rather than economic one—Jesus was not objecting to business per se or articulating any kind of commercial morality. He was, rather, incensed by the presence of commerce near the sanctuary. It is for this reason that in the Gospel of Mark, Jesus’s actions are opposed by “the chief priests and the scribes,” guardians of ritual, not financial authorities—the currency exchange and selling of animals allowed pilgrims to offer Temple sacrifices.
Neither the letters of Paul nor the Gospels were intentionally anti-Semitic. Jesus, Matthew, and Paul were all Jews, addressing audiences who were either Jewish themselves or sympathetic to Judaism. But texts outlive the people who write them, memory of their initial purpose fades, and words take on new meaning and power. Paul’s division of humankind into “spiritual” believers and “carnal”—that is, Jewish—unbelievers and Jesus’s tarring of trade around the Temple proved to be immensely influential. When Saint Jerome wanted to contrast Christian faith with Jewish error, he repeated Paul’s condemnation of Jewish materialism and insisted that the idols in Isaiah 2:8 signified Jewish (though also Roman) avarice. When Augustine of Hippo wanted to attack Jews’ rejection of the New Testament, he wrote, “Jews do not grasp [its] meaning and as a result they prove themselves indisputably carnal.”
Although Jews were firmly established in Christian polemic as avaricious and carnal unbelievers, anti-Jewish polemics had little to say about the Jews’ economic activities until around the eleventh century. A commercial and urban revolution was then altering the landscape of Christendom, and the traditional tripartite division of society into nobles, clerics, and peasants was supplemented by a nascent fourth estate: a prosperous urban bourgeoisie. Church authorities finally felt the need to articulate a Christian economic morality. They naturally turned to Scripture. There they found not just Old Testament injunctions against lending at interest—though church leaders did not at first adopt them, preferring instead to regulate interest rates—but also Paul’s denigration of “Jewish” materialism and Jesus’s (apparent) condemnation of commerce.
A conflation of these various Jewish trespasses (overly literal biblical interpretation, unspiritual ritualism, and crass mercantilism) infuses the most celebrated artwork in the exhibition: Rembrandt’s Judas Returning the Thirty Pieces of Silver (1629), which has rarely been displayed in public. Though the curators rightly note the hint of sympathy in the portrayal of a repentant Judas, Rembrandt betrays no equivalent understanding of the Jewish priests, shown as fat-bellied, hard-hearted servants of their massive book of the Law, arrogantly adorned in gold turban, silver crown, and fur cloak.
In order to shame churchmen and laypeople alike into being less focused on wealth and luxury, moralists mobilized all the rhetorical weapons at their disposal. The great Cistercian abbot Bernard of Clairvaux applied the old word “judaizer”—used by Paul for followers who practiced circumcision, and by John Chrysostom for congregants who celebrated the Sabbath on Saturday instead of Sunday—to Christians who lent money at interest. The twelfth-century abbot of the great monastery of Cluny, drawing on Chrysostom’s fiery oratory, called pawnshops “Synagogues of Satan.” Through such new applications of the age-old linkage of Jews to “filthy lucre,” a perception began to form that commerce and the money trade were characteristically Jewish endeavors. This wasn’t because Jews monopolized the money trade, but precisely because they did not. Although many Jews did indeed participate in the new economy, Jewish and Christian financial activities were not distinct, a fact of which Christian moralists were all too aware and that they were determined to change. And so the stereotype of the Jewish usurer first appears.
Preachers began to tell anecdotes about deceitful Jewish misers who consorted with the devil; artists began to visualize such tales in grotesque and frightening detail, endowing their Jewish villains with distinctively fleshy and bestial features. The aim was to intensify the negative connotations of “Jew” and thereby create a more negative attitude toward usury, so that it would be shunned by Christians, or so that Christians who practiced usury would be shunned by others. They achieved neither goal, but they did impel moneylending Christians to cloak their loans with various subterfuges, thereby reinforcing the stereotype by leaving Jews as among the only people openly charging interest.
Because “Jews, Money, Myth” focuses on Jews, it does not discuss Christian biblical interpretation or, for that matter, Christian economic activities. Yet this is the essential background for understanding the images and objects in the exhibition. The oldest Jewish caricature in the show appears on an English tax receipt roll dating to 1233 (see illustration above). The label correctly identifies the three Jews who are mocked in a kind of doodle drawn in ink at the top, and rightly notes its anti-Jewish import. But as I have argued elsewhere, Jewish usurers were probably not the sole, or even primary, targets of this cartoon.5They appear as proxies for the main object of the scribe’s bile: his new boss, a much-despised and famously rapacious royal favorite who used his control over Jewish moneylenders to fleece Jews and their Christian clients alike. Indeed, the favorite’s behavior generated such anger that the king ultimately dismissed him and deflected further criticism by turning viciously on the Jews.
Acknowledging the political message underlying the caricature does not lessen its anti-Judaism. Rather, it underscores the dangers inherent in anti-Semitic scapegoating. Royal courtiers, medieval Christian merchants, and nineteenth-century British bankers were all guilty of the vices imputed to Jews. To defend Jews from such slanders was to risk being lumped together with them. It was easier to scapegoat, expel, and continue to lend money.
The effects of the anti-Jewish rhetoric and imagery devised in the Middle Ages are all too vividly still with us. “Jews, Money, Myth” closes with a film by the artist Jeremy Deller in which he has spliced together recent cartoons, memes, speeches, interviews, and advertisements that spew hatreds and flaunt falsities that many people hoped were deeply buried, if not long dead. Some are the work of deranged conspiracy theorists, but others appear on successful media outlets (the Trinity Broadcasting Network) or feature respected pastors (Pat Robertson) and leading politicians (Donald Trump, Nigel Farage). Just as rage and anxiety about royal policy and economic change were deflected onto Jews in the Middle Ages, so now Jews are identified with the ill effects of globalization, inequality, and immigration. Just two months ago, a tree planted in Paris in memory of Ilan Halimi was hacked down by anonymous vandals.
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    See “Inside France’s ‘Barbarians’ Trial,” BBC News, July 10, 2009: “But Michel Wieviorka, the author of a book on anti-Semitism in France, says the motive for the murder was money first. “Anti-Semitism added to what happened,” he told journalists at the start of the trial. “Initially it wasn’t about expressing hatred of Jews…. The target was a Jewish man because Jews are supposed to have money and are believed to look after their own, so they’ll pay up.” 
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    There is also a companion volume, Jews, Money, Myth, edited by Joanne Rosenthal and Marc Volovici (Jewish Museum/Pears Institute/Birkbeck University, 2019), to which I contributed a short essay. 
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    William probably encouraged Jews from his duchy of Normandy to settle in England because Jews, who had no separate power base, were more dependent on the king or duke for privileges and protections than most Christians. He therefore could tax Jews readily, whereas kings and dukes had difficulty taxing Christians.  
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    I discuss these developments in my essay “Jewish Money and the Jewish Body in Medieval Iconography” in Jews, Money, Myth. See also my “The Invention of the Jewish Nose,” NYR Daily, November 14, 2014. 
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    See my “The First Anti-Jewish Caricature?,” NYR Daily, June 6, 2016.