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segunda-feira, 3 de setembro de 2007

772) Produtividade do trabalhador brasileiro em baixa

Uma situação mais do que preocupante, dramática, na verdade. Significa que estamos perdendo a competitividade interna e externa de nossa economia. Má educação geral da população, e dos trabalhadores em particular, explica esse quadro lamentável.

Produtividade cai e Brasil fica mais longe de desenvolvidos
Assis Moreira
Valor Economico, 03/09/2007

A produtividade por empregado no Brasil caiu abaixo do nível verificado em 1980, na contramão da tendência global. A capacidade de produção do trabalhador brasileiro é três vezes menor do a que a de trabalhadores de economias industrializadas e está ameaçada pela China e outros concorrentes emergentes. Os dados são da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em relatório que mostra a crescente diferença entre a produtividade do país e das principais economias.

O nível de vida num país depende também da produtividade, que mede quanto um trabalhador produz por hora. Os lucros das empresas crescem quando os empregados produzem mais por hora do que antes. A renda adicional pode ser repartida entre lucro extra e aumento salarial, alimentando gastos e investimentos, criando mais empregos e expandindo a economia. Para a OIT, a produtividade é mais alta quando a empresa combina melhor capital, trabalho e tecnologia. Falta de investimento na formação e qualificação e em equipamentos e tecnologias provoca subutilização do potencial da mão-de-obra.

No relatório "Principais indicadores do mercado de trabalho" (KILM, em inglês), a entidade mostra que a produtividade aumentou no mundo inteiro nos últimos dez anos, mas as disparidades persistem entre nações industrializadas e os demais países. No caso da América Latina, o ritmo de crescimento da produtividade foi o menor entre 1996-2006, período em que parte da Asia e da Europa do Leste ex-socialista começou a reduzir seu atraso.

No Brasil, a diferença no valor agregado por trabalhador cresceu especialmente em comparação com os Estados Unidos, o campeão global da produtividade, segundo a OIT. A produção por trabalhador foi de US$ 14,7 mil em 2005, abaixo dos US$ 15,1 mil de 1980. É várias vezes menor que os US$ 63,8 mil por empregado nos EUA em 2006 (e era de US$ 41,6 mil em 1980).

Na China, a produtividade dobrou em dez anos. Pulou de US$ 6,3 mil para US$ 12,5 mil por empregado entre 1996 e 2006, a mais forte alta no mundo. A produtividade chinesa era oito vezes menor que a dos industrializados, e agora passou a cinco vezes menos. O Leste da Europa registrou alta de 50%.

A produção brasileira, em comparação com os EUA, sofreu queda ainda maior. O valor agregado por empregado no país era equivalente a 36,5% do atingido pelos americanos em 1980, e caiu para 23,5% em 2005. Na direção oposta, a produtividade da Coréia do Sul pulou de 28% para 68% em relação à dos EUA no período.

No setor industrial, a diferença cresce. A produção por empregado industrial no Brasil representava 19% daquela dos EUA em 1980. Agora, declinou para 5% em 2005. O valor agregado na indústria brasileira foi de US$ 7.142 para US$ 5.966 por empregado entre 1980 e 2005. Já a China aumentou o valor agregado industrial em 7,9%. Com isso, reduziu a diferença com os EUA, e a produtividade passou a ser o equivalente a 12% da americana, e não mais 5%.

A produtividade brasileira só cresceu no setor agrícola, florestas e pesqueiro, ficando em média em 3,6%, mas esse ritmo foi inferior ao da China e de alguns países que subsidiam altamente suas agriculturas, como Noruega e Coréia. Com a alta de 3,6% ao ano, o valor por trabalhador brasileiro no setor aumentou de US$ 2.356, em 1980, para US$ 5.700 em 2005. Em contrapartida, os chineses, ao iniciarem a reforma agrícola, com menor coletivização das terras, registraram alta de 4% por ano de produtividade agrícola, triplicando de US$ 330 para US$ 910 por pessoa entre 1980 e 2006. No comércio, onde é maior o uso de tecnologia da informação e de novos modelos de negócios, a produtividade brasileira por trabalhador declinou no período de US$ 3,945 para US$ 4 1.726.

A carga de trabalho dos americanos foi calculada em 1.804 horas em 2006, bem acima da média dos países desenvolvidos, como França (1.540 horas, ou 300 a menos com a carga de 35 horas semanais), Alemanha (1.436 horas) e Japão (1.784 horas). Em boa parte dos emergentes, a carga de trabalho fica bem acima de 1.800 horas. O dado sobre o Brasil é ainda de 1999, quando era estimada em pouco mais de 1.600 horas por ano.

Quando a OIT mede o valor por hora trabalhada, o Brasil também está lá embaixo. A produtividade por hora trabalhada fica em torno de US$ 7,50, valor quase idêntico ao de 1980. Não há dados sobre a China, mas aí é a Noruega, e não os EUA, que tem a mais alta produtividade, de US$ 38 por hora, seguido pelos americanos, com US$ 35,60. A França é o terceiro país com maior nível de valor agregado por hora, de US$ 35.

Para o diretor-executivo do setor de emprego da OIT, José Maria Salazar, dentro de três anos a China pode superar a produtividade da América Latina, que no momento é um terço maior (US$ 18,9 mil) que a chinesa. Mas o assessor nota que no Brasil e no resto da América Latina, em cada dez empregos, sete são criados no setor informal, sem proteção social e com pouca qualificação.

Para reforçar a tendência do perigo chinês, o relatório mostra que só na América Latina subiu a "'vulnerabilidade do emprego"', com menor redução no número de pobres. Já a China é tomada como exemplo de país com amplo aumento de produtividade, que consegue baixar o número de pessoas vivendo com menos de US$ 2 por dia.

"O incremento de produtividade é enorme na agricultura da China, com grande transformação ao deixar a agricultura coletivizada, mas o maior incremento é na manufatura, graças à taxa de investimento anual muito alta, de cerca de 30%", afirma. "Há muita inovação tecnológica, investimentos fortíssimos na educação e uma reserva de mão-de-obra barata."

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