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sábado, 11 de outubro de 2014

Economia global: Asia redefine o capitalismo que emergiu no Ocidente - Marcos Troyjo

Nenhum reparo maior a este artigo, senão quanto à confiança talvez excessiva depositada na Índia, e provavelmente na China. Esses países podem estar tendo seus booms atualmente, mas eles também vão enfrentar os seus bumps. Não só economicamente, politicamente também.
Quanto à América Latina -- que aliás não existe como entidade econômica, sendo a esse respeito uma aglomeração bastante artificial -- ela vai continuar seu eterno retorno em volta de si mesma. Mesmo um governo novo no Brasil, ainda que não esquizofrenico economicamente e menos incompetente administrativamente do que o dos companheiros aloprados, não conseguirá realizar todas as reformas necessárias, por força dos interesses consolidados, da oposição ferrenha de todos os corporativos, sobretudo daqueles mafiosos, como podem ser os vinculados aos neobolcheviques totalitários, e uma selva de regulações góticas que será difícil reformar, a começar pela Constituição surrealista e pela deformação da representação política. Esta dá um peso excessivo às regiões receptoras líquidas de transferências federais, em contraposição e em detrimento das pagadoras e contribuintes líquidas, que vão ter problemas para alterar o ambiente nefasto de negócios que é hoje o Brasil. Ou seja, acredito que vamos continuar nos arrastando penosamente em direção ao futuro, por força de todas as bolas de ferro que nós mesmos criamos e atamos aos nossos pés. Crescimento medíocre não se corrige apenas com vontade política, mas com reformas estruturais que não somos capazes de empreender. O Brasil é um pouco como a França, incapaz de se reformar, só que com uma renda per capita quatro vezes menor e uma educaçao dez vezes pior.
Paulo Roberto de Almeida 

Marcos Troyjo

Pólvora e capitalismo

O Oriente criou a pólvora, e o Ocidente a aprimorou; o capitalismo é do Ocidente, mas é a Ásia que o redefine

Folha de S.Paulo, 10/10/2014

Está em curso uma maciça migração do eixo dinâmico do capitalismo global para o Oriente.

A percepção é tanto mais forte quando analisamos as conclusões recentes do FMI quanto ao PIB chinês mensurado pela paridade do poder de compra (PPP). Tal critério leva em conta a estrutura relativa de preços e custos de cada país.

Por tal medida, a China chega em 2014 a US$ 17,6 trilhões e ultrapassa o PIB dos EUA. Torna-se a maior economia do mundo.

Em termos da riqueza em dólares correntes, a China ainda levará uma década para alcançar a economia norte-americana se crescer 7% anuais. Hoje, com um PIB nominal de US$ 10 trilhões, a China contribuirá com US$ 750 bilhões ao produto global. Como o PIB mundial é de US$ 75 trilhões, e sua fatia representa apenas 14% desse bolo, a China contribui com 33% do crescimento econômico do planeta.

Os países emergentes já são responsáveis por 58% da produção global --e a maior parte disso vem da Ásia. O Japão foi pioneiro nesse processo. Coreia do Sul, Taiwan e Cingapura vieram logo a seguir.

O novo meridiano geoeconômico da Ásia passa por Pequim. Os efeitos colaterais da pujança chinesa são sentidos em toda sua vizinhança. A Indonésia, que cada vez mais recebe investimentos chineses, cresce 6% ao ano há uma década.

Muitos acreditam que a explicação da arremetida asiática foi a presença de governos autoritários em algum momento desses últimos sessenta anos. A chave da ascensão, contudo, foi adotar modelo de desenvolvimento de "nações-comerciantes". Essa estratégia conjugou planejamento de longo prazo e um verdadeiro choque de capitalismo.

Todo esforço de poupança, investimento e política industrial foi voltado à promoção de exportações aos principais mercados compradores do mundo. E tudo com parâmetros de desempenho e prazo de validade.

Na América Latina, ao contrário, a política industrial pautou-se pela substituição de importações. Resultado: protecionismo comercial e a consolidação de oligopólios centrados no mercado interno. No caso brasileiro, a Embraer e o agronegócio, competitivos globalmente, são honrosas exceções.

Hoje, o grande desafio do capitalismo na Ásia passa pelo crescimento da Índia. Os sinais são entusiasmantes na agenda econômica. O premiê, Narendra Modi, implementa reformas desburocratizantes. Corre o mundo para divulgar o seu programa "Make in India", voltado à atração de plantas industriais. Ao fazê-lo, mostra diagnóstico e ação antenados com o encarecimento dos custos de produção na China.

Modi tenta impedir a migração para América Latina e África de capitais produtivos hoje alocados em território chinês. Quer fazer de seu país o novo parque industrial da Ásia. Se a Índia engatar crescimento sustentado mediante maior interação com a economia global, a balança do mundo emergente penderá ainda mais para a Ásia.

A pólvora foi inventada no Oriente, pelos chineses. O Ocidente a aprimorou. O capitalismo pode ter sido criado no Ocidente, mas é a Ásia que o está redefinindo.

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