Recebo, a propósito de uma postagem anterior:
http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/10/uma-lagrima-para-janer-cristaldo-uma.html
esta bela apreciação crítica ao Janer Cristaldo, a quem nunca conheci pessoalmente (talvez tenhamos trocado algumas mensagens lacunares, mas sinceramente eu não me lembro), mas de quem eu admirava a verve sempre ferina (para quem merecia) e tambem irônica (até para quem não merecia).
Ele era tão antireligioso, impiedoso, que não chegava a ser ateu, era até um estudioso das religiões, e provavelmente complacente com os ingênuos, mas implacável contra os que faziam da religião ofício e meio de vida, sempre fraudulentamente.
Provavelmente foi o mais articulado dos jornalistas anti-sistema, qualquer sistema, mas sobretudo os dos néscios, ignorantes e falastrões, o que certamente o colocava na linha de tiro dos petralhas. Mas ele estava acima de tudo isso, pois seu mundo das ideias não tinha nada a ver com o mundo das ideias toscas daqueles que ele criticava sem dó nem piedade.
Vai fazer falta, pois pessoas inteligentes, mordazes e sinceras sempre fazem falta.
Uma homenagem que recolho do rodapé para enquadrá-la devidamente.
Paulo Roberto de Almeida
Acabo
de saber do falecimento de Janer Cristaldo.
Lamento muito a perda deste
crítico lúcido e singular, polemista de primeira e erudito em ciências
humanas. Conheci Janer nos anos 70, quando trabalhava como colunista de
jornal em POA, recém chegado da Suécia. Questões estéticas da literatura
nos separaram e algumas de suas ideias me pareciam ligeiras. Suas
fontes não eram as minhas, e raramente nos cruzamos em algum autor
comum.
Cheguei a ler sua tese de doutorado na Sorbonne sobre as
semelhanças e complementaridades entre as obras de Marcel Camus e
Ernesto Sábato. Janer era um excelente crítico, e escreveu profusamente
sobre temas cotidianos em seu blog.
Mas foi um escritor frustrado. Seu
livro O Ponche Verde não agradou e ele desistiu (creio eu que
amargamente) de fazer ficção, e por fim da literatura, concentrando sua
crítica nas ciências humanas e nas instituições, especialmente na
Universidade brasileira (onde chegou a ser professor brevemente de
literatura, e de onde foi expulso pela petralhagem).
Foi ele que criou o
termo Supremo Apedeuta, e após somente Apedeuta para Lula, que depois
se tornou um lugar comum na imprensa. Na crítica nacional, a lucidez
associada a profundidade é uma qualidade muito rara. No meio
jornalístico, Janer chegava a ponto de nos parecer um estranho, um
deslocado, uma avis rara em uma comunidade extraordinariamente
vocacionada para a mediocridade.
Neste nosso país em que o maior defeito
dos intelectuais consiste em se voltar para o mundo anglo-saxônico e
esquecer o resto do mundo, Janer tinha uma cultura ecumênica,
iluminista, multifacetada, que sempre conseguia surpreender com seu
conhecimento sobre aspectos totalmente negligenciados das culturas e do
repertório intelectual dos países e povos.
Ele pode ser usado como
símbolo da superioridade dos brasileiros que deixaram sua presença na
Internet, quando comparados com os brasileiros que compõem nossas
instituições culturais e sobretudo, a nossa academia.
Pessoas com 10% do
seu valor são eleitas para ABL e detém cadeiras vitalícias em
universidades. O que prova, cada vez mais, que a cultura brasileira é
uma cultura fecunda somente por ser marginal ao establishment.
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