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quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Janer Cristaldo, uma homenagem critica - Carlos U. Pozzobon

Recebo, a propósito de uma postagem anterior:

http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/10/uma-lagrima-para-janer-cristaldo-uma.html

esta bela apreciação crítica ao Janer Cristaldo, a quem nunca conheci pessoalmente (talvez tenhamos trocado algumas mensagens lacunares, mas sinceramente eu não me lembro), mas de quem eu admirava a verve sempre ferina (para quem merecia) e tambem irônica (até para quem não merecia).
Ele era tão antireligioso, impiedoso, que não chegava a ser ateu, era até um estudioso das religiões, e provavelmente complacente com os ingênuos, mas implacável contra os que faziam da religião ofício e meio de vida, sempre fraudulentamente.
Provavelmente foi o mais articulado dos jornalistas anti-sistema, qualquer sistema, mas sobretudo os dos néscios, ignorantes e falastrões, o que certamente o colocava na linha de tiro dos petralhas. Mas ele estava acima de tudo isso, pois seu mundo das ideias não tinha nada a ver com o mundo das ideias toscas daqueles que ele criticava sem dó nem piedade.
Vai fazer falta, pois pessoas inteligentes, mordazes e sinceras sempre fazem falta.
Uma homenagem que recolho do rodapé para enquadrá-la devidamente.
Paulo Roberto de Almeida

Carlos U Pozzobon

55 minutos atrás  -  Compartilhada publicamente
 
Acabo de saber do falecimento de Janer Cristaldo. 
Lamento muito a perda deste crítico lúcido e singular, polemista de primeira e erudito em ciências humanas. Conheci Janer nos anos 70, quando trabalhava como colunista de jornal em POA, recém chegado da Suécia. Questões estéticas da literatura nos separaram e algumas de suas ideias me pareciam ligeiras. Suas fontes não eram as minhas, e raramente nos cruzamos em algum autor comum. 
Cheguei a ler sua tese de doutorado na Sorbonne sobre as semelhanças e complementaridades entre as obras de Marcel Camus e Ernesto Sábato. Janer era um excelente crítico, e escreveu profusamente sobre temas cotidianos em seu blog. 
Mas foi um escritor frustrado. Seu livro O Ponche Verde não agradou e ele desistiu (creio eu que amargamente) de fazer ficção, e por fim da literatura, concentrando sua crítica nas ciências humanas e nas instituições, especialmente na Universidade brasileira (onde chegou a ser professor brevemente de literatura, e de onde foi expulso pela petralhagem). 
Foi ele que criou o termo Supremo Apedeuta, e após somente Apedeuta para Lula, que depois se tornou um lugar comum na imprensa. Na crítica nacional, a lucidez associada a profundidade é uma qualidade muito rara. No meio jornalístico, Janer chegava a ponto de nos parecer um estranho, um deslocado, uma avis rara em uma comunidade extraordinariamente vocacionada para a mediocridade. 
Neste nosso país em que o maior defeito dos intelectuais consiste em se voltar para o mundo anglo-saxônico e esquecer o resto do mundo, Janer tinha uma cultura ecumênica, iluminista, multifacetada, que sempre conseguia surpreender com seu conhecimento sobre aspectos totalmente negligenciados das culturas e do repertório intelectual dos países e povos. 
Ele pode ser usado como símbolo da superioridade dos brasileiros que deixaram sua presença na Internet, quando comparados com os brasileiros que compõem nossas instituições culturais e sobretudo, a nossa academia. 
Pessoas com 10% do seu valor são eleitas para ABL e detém cadeiras vitalícias em universidades. O que prova, cada vez mais, que a cultura brasileira é uma cultura fecunda somente por ser marginal ao establishment.

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