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domingo, 31 de agosto de 2025

Há um cartel de drogas liderado por Maduro na Venezuela, como afirma o governo Trump? Pesquisador diz que não é bem assim - Daniel Médici G1

Há um cartel de drogas liderado por Maduro na Venezuela, como afirma o governo Trump? Pesquisador diz que não é bem assim

Para especialista, EUA criam 'versão de Hollywood' do Cartel de los Soles para acusar presidente de ser um dos cabeças do grupo. A organização não é centralizada em uma figura como Pablo Escobar ou 'El Chapo', mas uma rede difusa que Maduro ajudou a instalar e a qual ele usa para se manter no poder.

Por Daniel Médici
G1, 31/08/2025 06h00


https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/08/31/ha-um-cartel-de-drogas-liderado-por-maduro-na-venezuela-como-afirma-o-governo-trump-pesquisador-diz-que-nao-e-bem-assim.ghtml

Ao mesmo tempo em que os EUA estacionam uma frota de guerra de última geração e 4.000 militares perto da costa da Venezuela, o governo Trump reitera as acusações de narcoterrorismo contra o presidente do país, Nicolás Maduro.
Para Washington, Maduro é o chefe de uma organização criminosa chamada “Cartel de los Soles”, um poderoso grupo que atua no tráfico de drogas da América do Sul para os EUA, inclusive para desestabilizar a sociedade do país.
A Casa Branca colocou o grupo na mira de seu aparato militar ao declarar as organizações de tráfico de drogas a organizações terroristas.
As conclusões do governo americano são contestadas, no entanto, por quem pesquisa o assunto.
Para especialistas, Maduro não seria o cabeça da organização, porque o Cartel de los Soles não é um grupo com uma hierarquia definida, mas uma “rede de redes” que facilita o tráfico de drogas e lucra com ele, composta de membros das mais diversas patentes militares e estratos políticos da Venezuela.
Apesar disso, há indícios de que Maduro, mesmo não sendo o líder, é um dos principais beneficiários de uma “governança criminal híbrida” que ele ajudou a instalar no país.
A definição vem do trabalho de Jeremy McDermott, cofundador e codiretor do InSight Crime, uma fundação que estuda o crime organizado nas Américas, já ouvidas por jornais como "The New York Times", o "The Washington Post" e "The Guardian".
Para ele, o Cartel de los Soles não é uma organização centralizada como alguns de seus “irmãos” mais famosos, como o Cartel de Sinaloa de “El Chapo” Guzmán ou o Cartel de Medellín, de Pablo Escobar.
Maduro e os chavistas, ele diz, não controlam o tráfico e se beneficiam da compra e venda de cocaína, mas distribuem concessões a militares e aliados, em troca de sua manutenção no poder (leia mais abaixo).
McDermott viveu e trabalhou em Medellín, na Colômbia, por 25 anos, analisando os cartéis de drogas que atuam na região.
Nome dado pela imprensa
O pesquisador explica que s origens do esquema vêm de muito antes de Hugo Chávez assumir o poder.
O nome “Cartel de los Soles” não foi dado pelos próprios integrantes, e eles provavelmente se identificam como parte do grupo, nesses termos.
“O nome Cartel de los Soles foi cunhado pela mídia, primeiro para descrever elementos corruptos da Guarda Nacional da Venezuela que estavam envolvidos no tráfico de drogas”, explica McDermott.
Ele foi usado pela primeira vez em 1993, na época dos julgamentos dos generais da divisão antidrogas Ramón Guillén Davila e Orlando Hernández Villegas, acusados de ligações com o tráfico.
O nome (Cartel dos Sóis, em português) vem das insígnias militares usadas pelos generais venezuelanos.
“O termo tem sido usado desde então para descrever todas as atividades de tráfico de drogas enraizadas no Estado e foi usado pelo Departamento de Justiça dos EUA na acusação que incluiu Nicolás Maduro”, completa o pesquisador.
Suas origens, portanto, são anteriores à eleição que marcou a ascensão de Hugo Chávez ao poder no país, em 1999.

O vaivém do deslocamento de navios militares dos EUA para a Venezuela
Segundo o InSight Crime, alguns fatores levaram à criação de laços entre o tráfico de drogas e o chavismo. Em primeiro lugar, na vizinha Colômbia, as FARC – grupo guerrilheiro de esquerda que usava o tráfico como forma de se financiar – era alvo de uma intensa campanha do então presidente Álvaro Uribe, com apoio militar dos EUA.
Isso levou as FARC a levar parte de suas operações ao outro lado de uma fronteira mal vigiada.
Em 2002, Chávez foi brevemente destituído por um golpe de Estado, rapidamente reconhecido por Washington.
Ele estaria de volta ao poder em menos de 48 horas, mas, depois do episódio, “Chávez procurou angariar apoio entre os militares elevando-os a cargos governamentais influentes ou dando oportunidades de contratos lucrativos, fazendo vista grossa à crescente corrupção militar”, diz o centro de pesquisa.
“Durante a presidência de Chávez, até sua morte, o tráfico de cocaína aumentou e os traficantes colombianos que dominavam o comércio foram cada vez mais substituídos por autoridades venezuelanas que trabalhavam com grupos rebeldes colombianos”, afirma McDermott.
Maduro no poder
A lógica de tolerância à corrupção militar depois que Chávez morreu, em 2013, deixando Nicolás Maduro em seu lugar.
Sem o líder do movimento, e frente a uma crise econômica, Maduro e o chavismo buscaram uma forma de manter os militares a seu lado: uma delas foi tolerar a associação deles com o tráfico. As propinas recebidas também serviram como uma forma de complementar o salário, num momento em que o poder de compra despencava no país.
“Nesse contexto, o Cartel de los Soles evoluiu para um sistema de patrocínio criminoso no qual a cocaína é usada para ajudar a sustentar o governo de Maduro”, diz o InSight Crime.
De acordo com o centro de pesquisas, o governo Maduro tem a capacidade de “premiar” militares leais com a lotação em áreas onde o tráfico fornece mais rendimentos.
O apoio ao tráfico se dá em várias frentes: na proteção de rotas de passagens da droga, eventualmente no transporte da cocaína em veículos oficiais, na cobrança de “pedágios” ou até mesmo providenciando o embarque do produto em portos em aeroportos.
“O tráfico de cocaína aumentou desde que Maduro assumiu o poder em 2013, mas o que realmente mudou foi o sistema de governança criminal híbrida que Maduro instalou para se manter no poder, que fez com que o tráfico de drogas se tornasse cada vez mais controlado e regulado de dentro do regime”, afirma McDermott.

Versão de Hollywood
No entanto, o centro de pesquisa aponta que o governo dos EUA faz uma simplificação e cria uma “versão de Hollywood” ao dizer que Maduro é o chefe do cartel.
Em 2020, durante o primeiro governo Trump, sancionou Maduro sob a alegação de ele ser “um dos líderes e gerentes do Cartel de los Soles”.
“O Cartel de Los Soles buscava não apenas enriquecer seus membros e aumentar seu poder, mas também ‘inundar’ os Estados Unidos com cocaína e infligir os efeitos nocivos e viciantes da droga aos usuários nos Estados Unidos”, dizia o anúncio do Departamento de Estado.
Washington colocou uma recompensa para qualquer informação que ajude a prender Maduro, atualmente reajustada para US$ 50 milhões (cerca de R$ 270 milhões).
Essa visão é contestada pelo InSight Crime: os membros do grupo têm objetivos muito mais econômicos do que ideológicos, tanto que o tráfico partindo da Venezuela aumentou tanto em direção aos EUA quanto à Europa.
“Hoje, o termo genérico ‘Cartel de los Soles’ mascara o fato de que o eixo Estado-tráfico de drogas é menos uma rede administrada pelos militares e políticos chavistas e mais um sistema que eles regulam”, define o centro.
“As evidências disponíveis sugerem que o regime de Maduro mantém o controle desse sistema em âmbito nacional não por meio da intermediação de negócios de cocaína, mas alocando e distribuindo concessões, nomeações eleitorais e garantindo proteção.”Após declarar o cartel como uma organização terrorista, o governo Trump mobilizou um arsenal militar no Mar do Sul do Caribe, perto da costa venezuelana, incluindo navios capazes de lançar mísseis teleguiados a centenas de quilômetros de distância.
Especialistas contestam a capacidade dos militares americanos em lutar contra o tráfico com armas de guerra.
A conclusão é compartilhada por McDermott. Para ele, isso não vai impedir a chegada da droga nos EUA: “Tudo o que a mobilização naval fará é dificultar o tráfico marítimo via Venezuela, levando o comércio para outros pontos de partida na América do Sul”.

Roubo escancarado: Por que a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do INSS assusta o governo Lula - Wilson Lima (Crusoé)

    A matéria é importantíssim, pois avalio que essa roubalheira é ainda maior e muito mais grave e indisiosa que o Petrolão, que incidiu sobre poucas empresas, sobretudo a Petrobras, e que roubou bilhões da empresa e do Tesouro. 

    O roubo dos sindicatos incidiu sobre pequenos valores, mas multiplicado milhões de vezes, sobre milhões de aposentados, ao longo de anos e anos. Ou seja, roubou bilhões e bilhões sobre milhões de pessoas modestas, descaradamente, impiedosamente, vergonhosamente, inclusive os sindicato que teoricamente deveriam defender aposentados, pensionistas, de muito poucos recursos.

    O autor da matéria comete um pequeno erro logo ao início, ao escrever que: 

A operação da Polícia Federal, batizada de "Sem Desconto", revelou um escândalo bilionário de fraudes por meio de descontos associativos que atingiu os cofres do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) entre 2019 e 2024...

    Não, as fraudes não incidiram sobre "os cofres do INSS", que aliás não existem. O INSS recolhe impostos de TODOS os brasileiros, que deveriam ser empregados para pagar os aposentados que saem de contribuintes e entram na categoria de beneficiários todos os anos.. O certo seria que cada um dos contribuintes tivesse uma conta de CAPITALIZAÇÃO e não fosse submetidos ao sistema de REPARTIÇÃO como é hoje. Mas o ROUBO não incidiu sobre os COFRES do INSS, mas sobre as CONTAS INDIVIDUAIS de cada beneficiário, por FRAUDES que receberam, SIM, a colaboração do INSS, ou de seus funcionários bem colocados. A CUPIDEZ maior, obviamente é dos SINDICATOS, que estão sendo PROTEGIDOS pelo governo que representa justamente a REPÚBLICA SINDICAL. 

Isso tem de ficar bastante CLARO.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 31 de agosto de 2025


https://crusoe.com.br/noticias/roubo-escancarado/?utm_medium=email&utm_campaign=mkt_-_materia_completa-assinantes-3108&utm_source=RD+Station

 

O problema não é o processo por golpe: é o não processo por mortes na pandemia - Paulo Roberto de Almeida; Jack Nicas e Ana Ionova (New York Times)

Transcrevo, a partir da postagem do Walmyr Buzatto, e apenas uma nota introdutória minha:

PRA: O grande erro dos brasileiros, em geral, mas da classe política (muito medíocre) em especial, e do STF em último lugar, não está em conduzir um processo contra um criminoso político apenas dois anos, ou mais, depois das tentativas de golpe (foram várias), mas em não processá-lo no momento imediato em que ele negligenciou os cuidados necessários pela saúde e a vida de milhares de cidadãos, e não apenas por omissão de cuidados, mas sim por total oposição ativa a métodos preventivos e à falta total de cuidados curativos, junto com seu generaleco criminoso no comando da Saúde da população. Foram milhares de mortos que não “precisariam” ter morrido. Esses foram os grandes crimes da dupla Bozo-Pazuello e de outros vilões dessa tenebrosa história, como o político Osmar Terra e outros apoiadores do negacionismo médico (vacinal, profilático e curativo). O assassinato da democracia começou bem antes das tentativas concretas de golpe de Estado, inviável na prática por incompetência e covardia do psicopata eleito democraticamente (não foi o único, como se sabe). PRA

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O Dilema Democrático do Brasil: Como Processar um Presidente

Por Jack Nicas e Ana Ionova, no New York Times de 29/08/2025*

Os repórteres cobriram o debate sobre o poder do judiciário brasileiro por quatro anos.

Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil, está indo a julgamento. Mas seu caminho lá despertou a preocupação de que o judiciário tenha excedido seus limites.

O Brasil colocará o ex-presidente Jair Bolsonaro em julgamento na próxima semana sob a acusação de tentativa de golpe depois de perder a eleição de 2022. Se condenado, ele poderia enfrentar décadas na prisão.

Muitos brasileiros — e muitos americanos assistindo de longe — veem este momento como um triunfo da democracia.

O Brasil, que emergiu de uma ditadura brutal há apenas 40 anos, terá realizado algo que os Estados Unidos não conseguiram: levar um ex-presidente a julgamento por acusações criminais de que ele tentou se apegar ao poder depois de perder uma eleição.

No entanto, a maneira como o Brasil fez isso deixou a nação lutando com perguntas desconfortáveis sobre a própria democracia que buscava proteger.

Essas perguntas começam com a Suprema Corte do Brasil.

Nos últimos seis anos, o tribunal se deu novos poderes extraordinários para enfrentar o que via como uma ameaça extraordinária representada pelo Sr. Bolsonaro e seus ataques às instituições. Pela primeira vez, o tribunal pôde lançar e conduzir suas próprias investigações extensas, mesmo quando a vítima era o próprio tribunal.

Para exercer essa nova autoridade e perseguir o Sr. Bolsonaro, o tribunal autorizou um juiz de linha dura, Alexandre de Moraes.

Durante o tempo em que o Sr. Bolsonaro liderou o país de 2019 a 2022, o presidente e seus apoiadores ameaçaram juízes, questionaram eleições, lançaram a ideia de uma tomada militar do poder e desencadearam uma onda de falsidades turbinadas pela internet.

Em resposta, o juiz Moraes ordenou invasões, censurou contas on-line, bloqueou redes sociais e, em alguns casos, prendeu pessoas sem julgamento.

Esses esforços resultaram em uma transferência bem-sucedida de poder, apesar da recusa do Sr. Bolsonaro em admitir que ele foi derrotado — e agora o rápido processo do ex-presidente e seus aliados.

Mas também levantou uma questão complicada: esta é uma virada perigosa e autoritária para o mais alto tribunal do Brasil? Ou é uma democracia imperfeita tentando o seu melhor para lidar com uma ameaça autoritária na era da internet?

“Como o tribunal reagiu? Com várias falhas, com uma série de erros”, disse Walter Maierovitch, jurista e juiz aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo. “Esses erros não apagam ou justificam a tentativa de golpe. Mas eles não devem ser repetidos.”

Por anos, o Brasil esteve lutando com esse debate por conta própria. Então, no mês passado, o presidente Trump interveio.

Em uma intervenção impressionante, o Sr. Trump enviou uma carta ao presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, exigindo que as acusações contra o Sr. Bolsonaro sejam retiradas. Ele chamou o caso de “caça às bruxas” e disse que se vê no Sr. Bolsonaro — um líder dissidente politicamente perseguido pelo “Estado Profundo”. Desde então, ele lançou uma ofensiva multifrontal de tarifas íngremes, uma investigação comercial e severas sanções ao juiz Moraes.

Esses movimentos parecem apenas endurecer a determinação do governo e do judiciário brasileiros.

“O processo deve prosseguir livremente, sem interferência política”, disse o presidente do Brasil, Sr. Lula, em uma entrevista no mês passado. “Posso garantir que Alexandre de Moraes é uma pessoa séria”, acrescentou. “Eu confio totalmente no judiciário para fazer seu trabalho.”

O juiz Moraes, que se recusou a ser entrevistado para este artigo, há muito aponta para o apoio de seus colegas da Suprema Corte em muitas de suas decisões. Ele está presidindo o julgamento do Sr. Bolsonaro e, nas últimas semanas, prometeu manter o curso.

“Não há a menor das possibilidades de recuar nem mesmo um milímetro”, disse ele ao The Washington Post este mês.

Gilmar Mendes, o juiz mais antigo da Suprema Corte, disse em uma entrevista na quinta-feira que as críticas devem ser direcionadas ao Sr. Bolsonaro e seus aliados, não ao tribunal.

“Eles dizem que somos nós que estamos abusando do nosso poder?” Ele disse. “Se tivéssemos nos encolhido e não agido, eles provavelmente teriam fechado” a agência eleitoral do Brasil.

No final do ano passado, alguns funcionários, juristas e advogados constitucionais brasileiros estavam levantando preocupações de que o juiz Moraes não tivesse responsabilidade e se recusado a ceder seus poderes expandidos, embora o Sr. Bolsonaro estivesse fora do cargo há dois anos.

Mas agora o governo brasileiro e a Suprema Corte colocaram a democracia do país nas mãos do juiz Moraes.

Em 30 de julho, os Estados Unidos atingiram o juiz Moraes com sanções, acusando-o de “uma campanha opressiva de censura, detenções arbitrárias que violam os direitos humanos e processos politizados”. A Suprema Corte do Brasil respondeu apoiando o juiz Moraes e suas decisões. No mesmo dia, o Sr. Lula convidou os juízes para jantar no palácio presidencial em uma demonstração de apoio.

Na semana passada, outro juiz da Suprema Corte decidiu que medidas estrangeiras não podem efetivamente ser aplicadas no Brasil sem a aprovação do tribunal superior — uma decisão amplamente vista como um esforço para proteger o juiz Moraes das penalidades financeiras das sanções.

Talvez o mais significativo, o presidente do Senado do Brasil, a instituição encarregada de responsabilizar a Suprema Corte, disse que não realizaria uma votação sobre o impeaching do juiz Moraes, apesar dos colegas senadores alegarem ter votos suficientes para chamar o juiz.

Os brasileiros parecem divididos. Cerca de 46% apoiam o impeaching do juiz Moraes, enquanto 43% se opõem à medida, de acordo com uma pesquisa este mês da Quaest, uma empresa de pesquisa brasileira. A mesma pesquisa descobriu que 52% dos brasileiros acreditam que o Sr. Bolsonaro tentou um golpe, contra 36% que não o fazem.

Em 7 de setembro, Dia da Independência do Brasil, a direita brasileira está planejando protestos em massa para iniciar o impeachment do juiz Moraes e denunciar a acusação do Sr. Bolsonaro.

Mas em Brasília, a capital do país, há um ar de inevitabilidade na condenação do Sr. Bolsonaro.

As evidências contra o Sr. Bolsonaro, coletadas pela polícia ao longo de quase dois anos, são extensas. Ele mesmo disse que discutiu maneiras de manter o poder, enfatizando que todas as opções que ele estava ponderando eram medidas estabelecidas na Constituição do país.

Para considerar o Sr. Bolsonaro culpado, três dos cinco juízes da Suprema Corte que estão supervisionando seu julgamento devem votar para condenar. Isso é considerado altamente provável, já que o painel inclui o juiz Moraes; outro juiz que é o ex-ministro da justiça do Sr. Lula; e um terceiro que é o ex-advogado pessoal do Sr. Lula.

Além do julgamento, a Suprema Corte do Brasil também deve ponderar se deve continuar a implantar seu enorme poder enquanto o país se prepara para a eleição presidencial do próximo ano - outro teste de seu processo eleitoral em uma nação profundamente polarizada e extremamente online.

O tribunal pode novamente ser chamado — ou pode assumir - para atuar como árbitro.

Com as ações do Sr. Bolsonaro, “a Suprema Corte foi forçada a entrar em um território que nunca havia entrado antes”, disse Conrado Hübner Mendes, professor de direito constitucional da Universidade de São Paulo.

Mas, ele acrescentou, os juízes não devem permitir que interesses individuais e a política manchem suas decisões, assim como se encarregam dos debates mais cruciais de sua nação. “Isso o deixa institucionalmente frágil”, disse ele.

*traduzido por IA com revisão e alguns ajustes meus. (WB)”

Biografia e obras do Padre Antonio Vieira - Wikipedia

 From Wikipedia: 

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Vieira

António Vieira

António Vieira
Presbítero da Igreja Católica
Visitador-geral das missões do Brasil
Retrato do Padre António Vieira, de autor desconhecido do início do século XVIII.
Atividade eclesiástica
OrdemCompanhia de Jesus
Ordenação e nomeação
Ordenação presbiteral10 de dezembro de 1634
Salvador
por Dom Pedro da Silva Sampaio
Dados pessoais
NascimentoLisboa
6 de fevereiro de 1608
MorteSalvador
18 de julho de 1697 (89 anos)
Nacionalidadeportuguês
Funções exercidasPadrefilosofoescritor e orador
Assinatura{{{assinatura_alt}}}
Categoria:Igreja Católica
Categoria:Hierarquia católica
Projeto Catolicismo


António Vieira (Lisboa6 de fevereiro de 1608 – Salvador18 de julho de 1697), mais conhecido como Padre António Vieira,[1] foi um filósofoescritor e orador português da Companhia de Jesus.

Uma das mais influentes personagens do século XVII em termos de política e oratória, destacou-se como missionário em terras brasileiras. Nesta qualidade, defendeu incansavelmente os direitos dos povos indígenas combatendo a sua exploração e escravização e fazendo a sua evangelização. Era por eles chamado "Paiaçu" (Grande Padre/Pai, em tupi). Isso serviu de base para seu argumento como um dos principais defensores do fim da escravidão e do tráfico negreiro.[2]

António Vieira defendeu a abolição da distinção entre cristãos-novos (judeus convertidos à força ao catolicismo, perseguidos e exterminados pela Inquisição durante mais de 300 anos) e cristãos-velhos (aqueles cujas famílias eram católicas há gerações).[3] Antônio Vieira defendeu também a abolição da escravatura, além de criticar severamente os sacerdotes da sua época e a própria Inquisição.[4]

Na literatura, seus sermões possuem considerável importância no barroco brasileiro e português. As universidades frequentemente exigem a sua leitura.

Biografia

Estátua do Padre António Vieira, de 2017, no Museu de São Roque, em Lisboa.

Nascido em lar humilde, na Rua do Cónego, freguesia da , em Lisboa, foi o primogénito de quatro filhos de Cristóvão Vieira Ravasco (Santarém, 1568 - ?), cujo pai Baltasar Vieira Ravasco era natural de Moura e cuja mãe era filha de uma parda, e de sua esposa Maria de Azevedo (Lisboa, 1584 - ?), filha de Brás Fernandes de Azevedo, de Lisboa.[5][6][7]

Cristóvão serviu na Marinha Portuguesa e foi, por dois anos, escrivão da Inquisição. Mudou-se para o Brasil em 1614, para assumir cargo de escrivão em Salvador, na Bahia, mandando vir a família em 1618.

No Brasil

Vista do Terreiro de Jesus, em Salvador, em 1862, com a atual Catedral Basílica - ao fundo, antiga Igreja do Colégio dos Jesuítas (anexo à direita). Onde Antonio Vieira estudou e lecionou.

António Vieira chegou à Bahia, onde em 1619 seu pai passou a trabalhar como escrivão no Tribunal da Relação da Bahia, o que motivou a vinda de toda a família. Em 1614, iniciou os primeiros estudos no Colégio dos Jesuítas de Salvador,[8] onde, principiando com dificuldades, veio a tornar-se um brilhante aluno. Segundo o próprio, foi a partir de um "estalo" na cabeça que, de súbito, tudo clareou: passou a entender com facilidade e a guardar tudo o que lia na memória. Até hoje muitos se referem a fenômeno semelhante a esse como "o estalo de Vieira".[9]

Ingressou na Companhia de Jesus como noviço em 5 de maio de 1623.[10]

Em 1624, quando na invasão holandesa de Salvador, refugiou-se no interior da capitania, onde se iniciou a sua vocação missionária.

Um ano depois tomou os votos de castidade, pobreza e obediência, abandonando o noviciado.

Em 1626, seus talentos como escritor já eram reconhecidos e ficou encarregado de escrever e traduzir para o latim a "Carta Ânua", que era um relatório anual dos trabalhos da Província da Companhia de Jesus, que era encaminhada ao Superior-Geral da Companhia em Roma.[10]

Igreja de Nossa Senhora da Graça e Seminário de Olinda, no Pernambuco, antigo Colégio dos Jesuítas, onde Antonio Vieira foi professor.

Prosseguiu os seus estudos em Teologia, tendo estudado ainda LógicaMetafísica e Matemática, obtendo o mestrado em Artes. A partir do final de 1626 ou do início 1627, começou a atuar como professor de Retórica em Olinda. Retornou a Salvador para completar seus estudos, onde em 10 de dezembro de 1634, foi ordenando sacerdote,[10] pelo bispo Pedro da Silva Sampaio.[11] Nesta época já era conhecido pelos seus primeiros sermões, tendo fama de notável pregador. Em 1638, foi nomeado como professor de teologia do Colégio Jesuíta de Salvador.[12]

Seis volumes dos Sermões, expostos numa Biblioteca Municipal, no Brasil.

Quando a segunda invasão holandesa ao Nordeste do Brasil (1630-1654), defendeu que Portugal entregasse a região aos Países Baixos, pois gastava dez vezes mais com sua manutenção e defesa do que o que obtinha em contrapartida, além do fato de que os Países Baixos eram um inimigo militarmente muito superior à época. Quando eclodiu uma disputa entre Dominicanos (membros da Inquisição) e Jesuítas (catequistas), Vieira, defensor dos judeus,[13] caiu em desgraça, enfraquecido pela derrota de sua posição quanto à questão da guerra.

Em Portugal

Após a Restauração da Independência (1640), em 1641 regressou a Lisboa iniciando uma carreira diplomática, pois integrava a missão que ia ao Reino prestar obediência ao novo monarca.

Em 1º de janeiro de 1642, pregou o "Sermão dos Bons Anos" na Capela Real, que teve um forte teor político, no qual criticou os tempos nos quais Portugal foi controlado por castelhanos e no qual associou o sebastianismo a João IV e à restauração da independência de Portugal.[10][12]

Sobressaindo pela vivacidade de espírito e como orador, conquistou a amizade e a confiança de João IV de Portugal, sendo por ele nomeado embaixador e posteriormente pregador régio. Ainda como diplomata, foi enviado em 1646 aos Países Baixos para negociar a devolução do Nordeste do Brasil, e, no ano seguinte, à França. Caloroso adepto de obter para a Coroa a ajuda financeira dos cristãos-novos, entrou em conflito com o Santo Ofício, mas viu fundada a Companhia Geral do Comércio do Brasil.

No Brasil, outra vez

Catedral de São Luís, em 1860, antiga Igreja e Colégio dos Jesuítas de São Luís do Maranhão. Estabelecida pelo padre Luís Figueira, e onde o padre Antônio Vieira viveu e publicou alguns de seus sermões.

Em Portugal, havia quem não gostasse de suas pregações em favor dos judeus. Após tempos conturbados acabou voltando ao Brasil, onde, entre 16 de janeiro de 1653[12] e setembro de 1661,[14] esteve na liderança da Missão no Maranhão e no Grão-Pará, sempre defendendo a liberdade dos índios.[15]

Em 1653, proferiu o "Sermão da Primeira Dominga de Quaresma" em São Luís do Maranhão, no qual tentou convencer os senhores de engenho a libertarem os seus escravos indígenas. Sua luta contra a escravidão dos povos nativos da América estava associada à sua crença de que a colonização portuguesa teria como missão converter aqueles povos para a  católica.[10]

Pe. António Vieira pregando aos índios (C. Legrand, ca. de 1841)

Entre 1658 e 1660, escreveu o "Regulamento das Aldeias[16]", mais conhecido como a "Visita de Vieira", por meio do qual estabeleceu as diretrizes das missões religiosas na Amazônia, que, com pouquíssimas mudanças, vigoraram por mais de um século. Esse documento tratou do cotidiano da ação missionária, envolvendo desde os métodos de doutrinação até a disposição do espaço de moradia dos missionários e índios. Essas regras não eram de aplicação restrita aos jesuítas, pois tiveram que ser seguidas também pelas outras congregações.[17]

Diz o Padre Serafim Leite em Novas Cartas Jesuíticas, Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1940, página 12, que Vieira tem "para o norte do Brasil, de formação tardia, só no século XVII, papel idêntico ao dos primeiros jesuítas no centro e no sul», na «defesa dos índios e crítica de costumes". "Manuel da Nóbrega e António Vieira são, efectivamente, os mais altos representantes, no Brasil, do criticismo colonial. Viam justo - e clamavam!"

Igreja de Santo Alexandre e antigo Colégio dos Jesuítas, na região da Feliz Lusitânia, em Belém do Pará. Estabelecida no século XVII, onde Antonio Vieira administrou as missões jesuíticas pela Amazônia.

Sobre esse período da vida de Vieira, ver também: O papel de Antônio Vieira nas Missões religiosas na Amazônia Portuguesa

Naufrágio nos Açores

Em 1654, pouco depois de proferir o célebre "Sermão de Santo António aos Peixes" em São Luís,[15] no estado do Maranhão, o padre António Vieira partiu para Lisboa, junto com dois companheiros, a bordo de um navio carregado de açúcar. Tinha como missão defender junto ao monarca os direitos dos indígenas escravizados, contra a cobiça dos colonos portugueses. Após cerca de dois meses de viagem, já à vista da ilha do Corvo, a Oeste dos Açores, abateu-se sobre a embarcação uma violenta tempestade. Mesmo recolhidas as velas, à exceção do traquete, correndo o navio à capa, uma rajada mais forte arrancou esta vela, fazendo a embarcação adernar a estibordo. Em pleno mar revolto, na iminência do naufrágio, o padre concedeu a todos absolvição geral, bradando aos ventos:

"Anjos da guarda das almas do Maranhão, lembrai-vos que vai este navio buscar o remédio e salvação delas. Fazei agora o que podeis e deveis, não a nós, que o não merecemos, mas àquelas tão desamparadas almas, que tendes a vosso cargo; olhai que aqui se perdem connosco."[18]

Após essa exortação, obteve de todos a bordo um voto a Nossa Senhora de que lhe rezariam um terço todos os dias, caso escapassem à morte iminente. Ainda por um quarto de hora o navio permaneceu adernado até que os mastros se partiram. Com o peso da carga, estivada até às escotilhas, o navio voltou à posição normal, permanecendo à deriva, ao sabor dos elementos.

Nesse transe uma outra embarcação foi avistada, mas sem que prestasse qualquer auxílio. Ao cair da noite a mesma retornou, mas tratava-se de um corsário neerlandês que recolheu os náufragos a bordo e pilhou a embarcação à deriva, que acabou por ser afundada. Nove dias mais tarde, quarenta e um portugueses, despojados de seus pertences pessoais, foram desembarcados na Graciosa, onde o padre António Vieira, com o auxílio dos religiosos da Companhia de Jesus, procurou providenciar-lhes roupascalçado e dinheiro durante os dois meses que permaneceram na ilha. Dali, também, creditou Jerónimo Nunes da Costa para que este fosse a Amesterdão resgatar os papéis e livros que lhe haviam sido tomados pelos corsários, o que se acredita tenha sido cumprido uma vez que dispomos hoje de cerca de duzentos sermões (este naufrágio é relatado no vigésimo-sexto) e cerca de 500 cartas do religioso, muitas das quais anteriores ao naufrágio.

O grupo passou em seguida à Ilha Terceira, onde Vieira obteve o aprestamento de uma embarcação para que os seus companheiros de infortúnio pudessem seguir para Lisboa. Instalado no Colégio dos Jesuítas em Angra, ele aqui permaneceu mais algum tempo, tendo instituído a devoção do terço, que pela primeira vez foi cantado na Ermida da Boa Nova. Entre os sermões que pregou em diversos locais da ilha, destacou-se o que proferiu na Igreja da Sé, na Festa do Rosário, celebrada anualmente a 7 de outubro, com aquele templo repleto.

Uma semana mais tarde, Vieira passou à Ilha de São Miguel, onde proferiu o sermão de Santa Teresa, um dos mais destacados de sua autoria. Dali partiu para Lisboa, a bordo de um navio inglês, a 24 de outubro. Após atravessar nova tempestade, o religioso chegou finalmente ao destino, em novembro de 1654.

Em Portugal, outra vez

Em setembro de 1661, teve que deixar o Estado do Maranhão e Grão-Pará por reações contrárias às suas ações contra a escravidão dos povos nativos.[19]

Em Portugal, António Vieira tornou-se confessor da “regente”, D. Luísa de Gusmão que foi a primeira rainha de Portugal da quarta dinastia, no entanto essa foi deposta em junho de 1662,[12] por D. Afonso VI, que não era favorável ao jesuíta.

Abraçou a profecia Sebastiana e por isso entrou em novo conflito com a Inquisição que o acusou de heresia, inicialmente, com base numa carta de 1659 ao bispo do Japão na qual expunha sua teoria do quinto império segundo a qual Portugal estaria predestinado a ser cabeça de um grande império do futuro.

Em 1665 os inquisidores consideraram as suas proposições "heréticas, temerárias, mal soantes e escandalosas" e foi condenado por um conjunto de manuscritos sebastianistas: "Quinto Império"; "História do Futuro" e "Chave dos Profetas". Esteve nas cadeias da Inquisição entre 1 de outubro de 1665 e 23 de dezembro de 1667, depois num Colégio dos jesuítas, e após isso sua reclusão foi transferida para a Casa do Noviciado dos jesuítas em Lisboa. Em 30 de junho de 1668, recebeu o perdão das penas.[19][20] Ficou proibido de ensinar, escrever ou pregar. Só talvez o prestígio de Vieira, a sua inteligência e o apoio de membros da família real o salvaram de problemas maiores.[21]

Pensa-se que Vieira seja o autor do famoso escrito anónimo "Notícias Recônditas do Modo de Proceder a Inquisição de Portugal com os seus Presos", revelador de um conhecimento profundo do funcionamento interno da Inquisição.[22] Ele teria entregado o documento ao papa Clemente X para apoiar a causa dos perseguidos pela Inquisição. Entre 1674 e 1681, esta foi suspensa pelo Papa.[23]

Entre janeiro e março de 1669, Cosme III de Médici teve a oportunidade de falar várias vezes com António Vieira e ainda atendeu a um dos seus sermões.[24][25]

Em Roma

Em agosto de 1669, mudou-se para Roma,[20] onde ficou 6 anos.

Oficialmente, o motivo de sua viagem era o de defender a canonização dos "Quarenta Mártires Jesuítas" (1570), mas também procurou ser reabilitado e combater a Inquisição Portuguesa.[10]

Encontrou o Papa à beira da morte, mas deslumbrou a Cúria com seus discursos e sermões. Com apoios poderosos, renovou a luta contra a Inquisição, cuja actuação considerava nefasta para o equilíbrio da sociedade portuguesa. Obteve um breve pontifício que o tornava apenas dependente do Tribunal romano. A mesma extraordinária capacidade oratória que seduzira, primeiro, o governo geral do Brasil, a corte de Dom João IV, e que depois, iria convencer o Papa e garantir assim a anulação das suas penas e condenações.

Entre 1675 e 1681, a actividade da Inquisição esteve suspensa por determinação papal em Portugal e no império, uma determinação que encontrou o seu maior fundamento nos relatórios que o jesuíta deixou em Roma, nas mãos do Sumo Pontífice, sobre os múltiplos abusos de poder. Desta forma conseguia dois feitos raros e históricos, por um lado conseguia parar pela primeira vez durante sete anos a actividade do Santo Ofício em Portugal e, feito não menor, lograva escapulir da perigosa malha que inquisidores derramavam sobre si.

Em Portugal

Regressou a Lisboa seguro de não ser mais importunado. Quando, em 1671, uma nova expulsão dos judeus foi promovida, novamente os defendeu. Mas o Príncipe Regente passara a protector do Santo Ofício e recebeu-o friamente. Em 1675, absolvido pela Inquisição, voltou para Lisboa por ordem de D. Pedro, mas afastou-se dos negócios públicos.

No Brasil, pela última vez

Em 1681, retornou à Bahia, alegando questões de saúde. Em 1688, exerceu a função de visitador-geral das missões do Brasil e dedicou o resto de seus anos à edição dos Sermões, cartas e de Clavis Prophetarum, uma obra de interpretação profética das Escrituras que iniciara em Roma.[10]

A coleção completa dos seus Sermões, iniciada em 1679, exigiu 16 volumes. Cerca de 500 de suas Cartas foram publicadas em 3 volumes. As suas obras começaram a ser publicadas na Europa, onde foram elogiadas até pela Inquisição.

Já velho e doente, teve que espalhar circulares sobre a sua saúde para poder manter em dia a sua vasta correspondência. Em 1694, já não conseguia escrever pelo seu próprio punho. Em 10 de junho começou a agonia, perdeu a voz, silenciaram-se seus discursos. Morreu na Bahia a 18 de julho de 1697, com 89 anos.[15]

Obra

Deixou uma obra complexa que exprime as suas opiniões políticas, não sendo propriamente um escritor, mas sim um orador. Além dos Sermões redigiu o Clavis Prophetarum, livro de profecias que nunca concluiu. Entre os seus sermões, alguns dos mais célebres são: o "Sermão da Quinta Dominga da Quaresma", o "Sermão da Sexagésima", o "Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda", o "Sermão do Bom Ladrão","Sermão de Santo António aos Peixes" entre outros. Vieira deixou cerca de 700 cartas e 200 sermões.

A Obra Completa do Padre António Vieira,[26] anotada e atualizada, começou a ser publicada em 2013, quase quatro séculos após o seu nascimento. Esta publicação em 30 volumes inclui a totalidade das suas cartas, sermões, obras proféticas, escritos políticos, sobre os judeus e sobre os índios, bem como a sua poesia e teatro, e é a primeira edição completa e cuidada de toda a sua vasta produção escrita. Um dos maiores projetos editoriais do seu género, foi o resultado de uma cooperação internacional entre várias instituições de investigação e academias científicas, culturais e literárias Luso-Brasileiras, sob a égide da Reitoria da Universidade de Lisboa. Mais de 20 mil fólios e páginas de manuscritos e impressos atribuídos a Vieira foram analisados e comparados, em dezenas de bibliotecas e arquivos em Portugal, no Brasil, em Espanha, França, Itália, Inglaterra, Holanda, México e Estados Unidos da América. Cerca de um quarto da Obra Completa consiste em textos inéditos. Este projeto, sob a direção de José Eduardo Franco e Pedro Calafate, foi desenvolvido pelo CLEPUL em parceria com a Santa Casa da Misericórdia, e publicado pelo Círculo de Leitores, com o último volume a ser lançado em 2014. Embora esta seja uma edição portuguesa, uma seleção de textos será publicada em 12 línguas como parte do projeto.

Festa litúrgica

Embora não seja considerado santo na Igreja Católica, Padre Antônio Vieira consta no calendário de santos da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil como sacerdote e testemunha profética, sendo sua festa litúrgica celebrada em 18 de julho.[27]

Obras

Arte de Furtar, atribuída ao Padre António Vieira, edição de 1744.
Primeira página de "Historia do Futuro", de uma edição de 1718.

Antônio Vieira escreveu mais de 200 sermões, 700 cartas, além de tratados proféticos, relações, livros, etc. Seguem abaixo algumas das suas obras:[15]

Cronologia[28]

  • 1608 – Nasce a 6 de fevereiro em Lisboa, na freguesia da , António Vieira, filho primogénito de Cristóvão Vieira Ravasco e de Maria de Azevedo.
  • 1614 – Desembarca com a família em Salvador da Bahia, onde frequentará as aulas do Colégio dos Jesuítas.
  • 1624 - Em maio, as forças holandesas ocupam a cidade de Salvador.
  • 1626 – Com 18 anos de idade, o noviço António Vieira é encarregue de redigir a Carta Annua ao Geral dos Jesuítas, relatório anual da Companhia de Jesus no Brasil. Constitui o seu primeiro escrito.
  • 1627 – Transfere-se para o Colégio dos Jesuítas de Olinda, onde passa a ministrar aulas de Retórica.
  • 1633 – Prega o primeiro sermão público, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, em Salvador.
  • 1634 – É ordenado sacerdote, a 10 de dezembro, celebrando a 13 do mesmo mês a sua primeira missa.
  • 1638 – É nomeado Lente em Teologia.
  • 1640 – Prega o "Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal Contra as de Holanda", na Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, em Salvador.
  • 1641 – Vieira viaja para Lisboa, onde residirá até 1646.
  • 1642–1644 – Prega pela primeira vez na Capela Real, em Lisboa, o "Sermão dos Bons Anos". Em atenção ao brilhantismo das suas prédicas recebe, em 1644, o título de Pregador de Sua Majestade e alguns dos seus sermões são publicados separadamente. É, igualmente, nomeado Tribuno da Restauração.
  • 1645 – Prega o "Sermão do Mandato", na Capela Real, em Lisboa.
  • 1646–1652 – Profissão solene na Igreja de São Roque, em Lisboa. Pregador e conselheiro de D. João IV, é por este enviado como embaixador em diversas missões diplomáticas aos Países Baixos e à França, negociando Pernambuco, a paz europeia, o financiamento da guerra contra Castela e a futura Companhia Geral do Comércio do Brasil. É o período de grande actividade diplomática e política de Vieira, que se desloca por grande parte da Europa, representando e defendendo os interesses portugueses. Faz, ainda, parte da embaixada portuguesa nas negociações da Paz de Münster, cujo objectivo era pôr fim à Guerra dos Trinta Anos. Em Ruão e Amesterdão encontra-se e negocia com representantes da comunidade judaica portuguesa aí refugiada, o que lhe valeria, desde então, a hostilidade do Santo Ofício.
  • 1652 – Em novembro parte de volta para a América Portuguesa, a fim de se dedicar às missões junto dos indígenas do estado do Maranhão, dos quais assumirá corajosamente a defesa, contra os interesses esclavagistas dos colonos.
  • 1654 – Prega o "Sermão de Santo António aos Peixes", na véspera de embarcar para Lisboa, onde, em breve visita, pedirá providências favoráveis aos índios e às missões jesuítas no estado do Maranhão.
  • 1655 – Antes de retornar às missões do Estado do Maranhão, em abril, prega na Capela Real, em Lisboa, durante a Quaresma: abre com o "Sermão da Sexagésima" e fecha com o "Sermão do Bom Ladrão".
  • 1657 – Prega o "Sermão do Espírito Santo", no Maranhão.
  • 1659 – Visita cinco aldeias da etnia Nheengaíba. No regresso a Belém do Pará, encontrando-se doente em Cametá, redige o seu primeiro tratado futurológico "Esperanças de Portugal, V Império do Mundo".
  • 1661 – Em resultado do seu combate à escravidão dos índios, Vieira e os seus companheiros jesuítas são expulsos do Estado do Maranhão e embarcados para Lisboa.
  • 1662 – Prega o importante "Sermão da Epifania" diante da rainha-regente.
  • 1663–1667 – É desterrado para Coimbra e começam os interrogatórios da Inquisição, que o persegue devido às suas ideias milenaristas e messiânicas inspiradas no profetismo de António Gonçalves Annes Bandarra ("Quinto Império") e, também, por causa das suas alegadas simpatias pela "gente da nação", os judeus. Em 1666, a Inquisição ordena que seja retirado da cela de religioso, a que estava confinado, e colocado em cárcere de custódia. Apesar de praticamente desprovido de livros para consultas, redige duas Representações da Defesa e, em segredo, parte do livro "História do Futuro" e da "Apologia". Em 1667 é proferida a sentença: "… seja privado para sempre da voz activa e passiva e do poder de pregar…"
  • 1668 – É amnistiado a 12 de junho.
  • 1669 – Prega o "Sermão do Cego", na Capela Real, em Lisboa. Parte para Roma em busca de revisão da sua sentença, onde permanece seis anos, pregando, em italiano, aos cardeais da Cúria romana e à exilada rainha Cristina da Suécia.
  • 1675 – Regressa a Lisboa munido de um Breve do Papa Clemente X, isentando-o "por toda a vida de qualquer jurisdição, poder e autoridade dos inquisidores presentes e futuros de Portugal", mas permanecendo sujeito à autoridade da Cúria romana.
  • 1679 – Declina o convite da rainha Cristina da Suécia para ser seu confessor.
  • 1681 – Regressa à América Portuguesa, a Salvador, na Bahia, em janeiro, e passa a residir na Quinta do Tanque, casa de campo do Colégio dos Jesuítas, onde prepara a publicação dos seus Sermões e redige a "Clavis Prophetarum".
  • 1686 – Vieira é um dos poucos a não ser afectado pela epidemia de "mal da bicha" (febre amarela). Devido a essa calamidade, a Câmara de Salvador faz votos a São Francisco Xavier, proclamando-o Padroeiro da Cidade do Salvador, em 10 de maio.
  • 1688 – É nomeado Visitador-Geral da Província do Brasil (até 1691).
  • 1690 – Promove a Missão entre os índios Cariri da Bahia, financiando-a com o lucro da venda dos seus livros.
  • 1694 – Emite parecer a favor da liberdade dos índios, contra as administrações particulares na Capitania de São Paulo.
  • 1695 – Envia carta-circular de despedida à nobreza de Portugal e amigos, por não poder escrever a todos.
  • 1696 – É transferido da Quinta do Tanque para o Colégio dos Jesuítas, no Terreiro de Jesus.
  • 1697 – Termina a revisão do tomo XII dos Sermões; dita a sua última carta ao Geral da Companhia de Jesus, Tirso González, a 12 de julho. Falece a 18 de julho, no Colégio, aos 89 anos. Os ofícios fúnebres realizam-se na Igreja da Sé, oficiados pelos Cónegos. É sepultado na Igreja do Colégio.

Referências

  1.  No português barroco da época do padre, o nome da família era escrito Vieyra; esta maneira de soletrar o nome do padre é ainda a usada na Wikipédia em inglês no artigo referente a ele
  2.  da Silva, Celso (2011). A visão do Padre Antonio de Vieira sobre a escravidão. Florianololis - SC: Mafuá
  3.  VIEIRA, Antônio. Obras Escolhidas, volume 4. [S.l.: s.n.] pp. p. 109
  4.  «Padre António Vieira»www.ubi.pt. Consultado em 11 de junho de 2020
  5.  RevelarLX Arquivado em 10 de fevereiro de 2012, no Wayback Machine. based on CARDOSO, Maria Manuela Lopes – António Vieira: pioneiro e paradigma de Interculturalidade. Lisboa: Chaves Ferreira Publicações S.A., 2001. p. 37-57; DOMINGUES, Agostinho – O Padre António Vieira: um património a comunicar. Porto: Edição Artes Gráficas, Lda., 1997. p. 6-37; DOMINGUES, Mário – O drama e a glória do Padre António Vieira. 2ª edição. Lisboa: Livraria Romano Torres, 1961. p. 9-31. MENDES, João, S.J. – Padre António Vieira. Lisboa: Editorial Verbo, imp. 1972. p. 9-23.
  6.  companhiadasletras.com.br - pdf
  7.  «Blog Privado - SAPO Blogs»blogs.sapo.pt. Consultado em 19 de junho de 2021
  8.  Coelho, Geraldo Mártires. (dezembro de 2010). O visionário da AmazôniaRevista de História da Biblioteca Nacional, n.63
  9.  Sermões: http://educarparacrescer.abril.com.br/leitura/sermoes-401724.shtml Arquivado em 12 de novembro de 2013, no Wayback Machine.
  10.  O MESSIANISMO DO PADRE VIEIRA E A INQUISIÇÃO, acesso em 16 de outubro de 2016.
  11.  Pablo Antonio Iglesias Magalhães (2010). Equus Rusus (PDF). A Igreja Católica e as Guerras Neerlandesas na Bahia (1624 – 1654). Salvador: UFBA. p. 227
  12.  Os Jesuítas no Maranhão e Grão-Pará Seiscentista: Uma Análise Sobre os Escritos dos Protagonistas da Missão, acesso em 11 de novembro de 2016.
  13.  Propôs que Portugal protegesse os cristãos novos (judeus) da Inquisição, de modo a atrair os cristãos novos que estavam espalhados pela Europa, e desse modo atrair recursos para financiar os empreendimentos do Império Português cf. (Antonio Vieira, acesso em 13 de outubro de 2016.).
  14.  Os Jesuítas no Maranhão e Grão-Pará Seiscentista: Uma Análise Sobre os Escritos dos Protagonistas da Missão, acesso em 11 de novembro de 2016.
  15.  «Antonio Vieira». UOL - Educação. Consultado em 6 de fevereiro de 2013
  16.  REGULAMENTOS DAS ALDEIAS: da Missio ideal às experiências coloniais, acesso em 28 de outubro de 2016.
  17.  A ordem da missão e os jogos da ação: conflitos, estratégias e armadilhas na Amazônia do século XVII, acesso em 12 de outubro de 2016.
  18.  Costa, Mario (25 de agosto de 2019). Relembrando o Início: RETROCOGNIÇÃO - Intuído por Zé Pelintra. [S.l.]: Editora Bibliomundi Serviços Digitais Ltda
  19.  «Antonio Vieira»educacao.uol.com.br. Consultado em 25 de maio de 2024
  20.  «Padre António Vieira nos cárceres da Inquisição»Arquivo Nacional da Torre do Tombo. 2 de outubro de 2015
  21.  Paiva, José Pedro (1 de janeiro de 2011). «Revisitar o processo inquisitorial do padre António Vieira»Lusitania Sacra. Consultado em 25 de maio de 2024
  22.  Vieira, António (1821). Noticias reconditas do modo de proceder a Inquisição de Portugal com os seus prezos. [S.l.]: Imprensa Nacional
  23.  Saraiva (2001), p. 82, 177, 216.
  24.  «e-journal of Portuguese History»www.brown.edu. Consultado em 25 de maio de 2024
  25.  Cabeleira, João (30 de junho de 2021). «Visão da paisagem seiscentista portuguesa através das vedute de Pier Maria Baldi e da Relazione ufficiale de Lorenzo Magalotti.»RiMe. Rivista dell'Istituto di Storia dell'Europa Mediterranea (ISSN 2035-794X) (em inglês): 113–144. ISSN 2035-794Xdoi:10.7410/1479. Consultado em 25 de maio de 2024
  26.  «CÍRCULO de leitores»www.circuloleitores.pt. Consultado em 19 de junho de 2021
  27.  "Normas para o Ano Cristão". Igreja Episcopal Anglicana do Brasil. 27 de novembro 2014. Disponível em: [1]. Página visitada em 20 de julho de 2015.
  28.  Revista Oceanos, nrs. 30/31, Abril/Setembro 1997.

Bibliografia

  • José Pedro Paiva. Padre Antonio Vieira, 1608-1697: bibliografia, Biblioteca Nacional, Lisboa 1999 ISBN 972-565-268-1
  • João Lúcio de Azevedo. História de Antônio Vieira. São Paulo: Alameda, 2008, 2v.: Esse biógrafo destaca-se por dividir a vida de Vieira em seis fases: "O religioso" (1608-40), "O político" (1641-50), "O missionário" (1651-61), "O vidente" (1661-68), "O revoltado" (1669-80) e "O vencido" (1681-97)
  • José Van Den Besselaar. António Vieira: o homem, a obra, as ideias. Lisboa: ICALP, 1981 (Colecção Biblioteca Breve - Volume 58)
  • Thomas Cohen. The fire of tongues. Stanford, EUA: Stanford University Press, 1998.
  • Margarida Vieira Mendes. A oratória barroca de Vieira. 2ª ed., Lisboa: Caminho, 2003.
  • Alcir PécoraTeatro do sacramento. 2ª ed., São Paulo/Campinas: Edusp/Ed. Unicamp, 2008.
  • Saraiva, António José. (2001). The Marrano Factory: The Portuguese Inquisition and Its New Christians 1536-1765. [S.l.]: Brill. ISBN 978-9004120808

Ligações externas