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domingo, 31 de agosto de 2025

Há um cartel de drogas liderado por Maduro na Venezuela, como afirma o governo Trump? Pesquisador diz que não é bem assim - Daniel Médici G1

Há um cartel de drogas liderado por Maduro na Venezuela, como afirma o governo Trump? Pesquisador diz que não é bem assim

Para especialista, EUA criam 'versão de Hollywood' do Cartel de los Soles para acusar presidente de ser um dos cabeças do grupo. A organização não é centralizada em uma figura como Pablo Escobar ou 'El Chapo', mas uma rede difusa que Maduro ajudou a instalar e a qual ele usa para se manter no poder.

Por Daniel Médici
G1, 31/08/2025 06h00


https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/08/31/ha-um-cartel-de-drogas-liderado-por-maduro-na-venezuela-como-afirma-o-governo-trump-pesquisador-diz-que-nao-e-bem-assim.ghtml

Ao mesmo tempo em que os EUA estacionam uma frota de guerra de última geração e 4.000 militares perto da costa da Venezuela, o governo Trump reitera as acusações de narcoterrorismo contra o presidente do país, Nicolás Maduro.
Para Washington, Maduro é o chefe de uma organização criminosa chamada “Cartel de los Soles”, um poderoso grupo que atua no tráfico de drogas da América do Sul para os EUA, inclusive para desestabilizar a sociedade do país.
A Casa Branca colocou o grupo na mira de seu aparato militar ao declarar as organizações de tráfico de drogas a organizações terroristas.
As conclusões do governo americano são contestadas, no entanto, por quem pesquisa o assunto.
Para especialistas, Maduro não seria o cabeça da organização, porque o Cartel de los Soles não é um grupo com uma hierarquia definida, mas uma “rede de redes” que facilita o tráfico de drogas e lucra com ele, composta de membros das mais diversas patentes militares e estratos políticos da Venezuela.
Apesar disso, há indícios de que Maduro, mesmo não sendo o líder, é um dos principais beneficiários de uma “governança criminal híbrida” que ele ajudou a instalar no país.
A definição vem do trabalho de Jeremy McDermott, cofundador e codiretor do InSight Crime, uma fundação que estuda o crime organizado nas Américas, já ouvidas por jornais como "The New York Times", o "The Washington Post" e "The Guardian".
Para ele, o Cartel de los Soles não é uma organização centralizada como alguns de seus “irmãos” mais famosos, como o Cartel de Sinaloa de “El Chapo” Guzmán ou o Cartel de Medellín, de Pablo Escobar.
Maduro e os chavistas, ele diz, não controlam o tráfico e se beneficiam da compra e venda de cocaína, mas distribuem concessões a militares e aliados, em troca de sua manutenção no poder (leia mais abaixo).
McDermott viveu e trabalhou em Medellín, na Colômbia, por 25 anos, analisando os cartéis de drogas que atuam na região.
Nome dado pela imprensa
O pesquisador explica que s origens do esquema vêm de muito antes de Hugo Chávez assumir o poder.
O nome “Cartel de los Soles” não foi dado pelos próprios integrantes, e eles provavelmente se identificam como parte do grupo, nesses termos.
“O nome Cartel de los Soles foi cunhado pela mídia, primeiro para descrever elementos corruptos da Guarda Nacional da Venezuela que estavam envolvidos no tráfico de drogas”, explica McDermott.
Ele foi usado pela primeira vez em 1993, na época dos julgamentos dos generais da divisão antidrogas Ramón Guillén Davila e Orlando Hernández Villegas, acusados de ligações com o tráfico.
O nome (Cartel dos Sóis, em português) vem das insígnias militares usadas pelos generais venezuelanos.
“O termo tem sido usado desde então para descrever todas as atividades de tráfico de drogas enraizadas no Estado e foi usado pelo Departamento de Justiça dos EUA na acusação que incluiu Nicolás Maduro”, completa o pesquisador.
Suas origens, portanto, são anteriores à eleição que marcou a ascensão de Hugo Chávez ao poder no país, em 1999.

O vaivém do deslocamento de navios militares dos EUA para a Venezuela
Segundo o InSight Crime, alguns fatores levaram à criação de laços entre o tráfico de drogas e o chavismo. Em primeiro lugar, na vizinha Colômbia, as FARC – grupo guerrilheiro de esquerda que usava o tráfico como forma de se financiar – era alvo de uma intensa campanha do então presidente Álvaro Uribe, com apoio militar dos EUA.
Isso levou as FARC a levar parte de suas operações ao outro lado de uma fronteira mal vigiada.
Em 2002, Chávez foi brevemente destituído por um golpe de Estado, rapidamente reconhecido por Washington.
Ele estaria de volta ao poder em menos de 48 horas, mas, depois do episódio, “Chávez procurou angariar apoio entre os militares elevando-os a cargos governamentais influentes ou dando oportunidades de contratos lucrativos, fazendo vista grossa à crescente corrupção militar”, diz o centro de pesquisa.
“Durante a presidência de Chávez, até sua morte, o tráfico de cocaína aumentou e os traficantes colombianos que dominavam o comércio foram cada vez mais substituídos por autoridades venezuelanas que trabalhavam com grupos rebeldes colombianos”, afirma McDermott.
Maduro no poder
A lógica de tolerância à corrupção militar depois que Chávez morreu, em 2013, deixando Nicolás Maduro em seu lugar.
Sem o líder do movimento, e frente a uma crise econômica, Maduro e o chavismo buscaram uma forma de manter os militares a seu lado: uma delas foi tolerar a associação deles com o tráfico. As propinas recebidas também serviram como uma forma de complementar o salário, num momento em que o poder de compra despencava no país.
“Nesse contexto, o Cartel de los Soles evoluiu para um sistema de patrocínio criminoso no qual a cocaína é usada para ajudar a sustentar o governo de Maduro”, diz o InSight Crime.
De acordo com o centro de pesquisas, o governo Maduro tem a capacidade de “premiar” militares leais com a lotação em áreas onde o tráfico fornece mais rendimentos.
O apoio ao tráfico se dá em várias frentes: na proteção de rotas de passagens da droga, eventualmente no transporte da cocaína em veículos oficiais, na cobrança de “pedágios” ou até mesmo providenciando o embarque do produto em portos em aeroportos.
“O tráfico de cocaína aumentou desde que Maduro assumiu o poder em 2013, mas o que realmente mudou foi o sistema de governança criminal híbrida que Maduro instalou para se manter no poder, que fez com que o tráfico de drogas se tornasse cada vez mais controlado e regulado de dentro do regime”, afirma McDermott.

Versão de Hollywood
No entanto, o centro de pesquisa aponta que o governo dos EUA faz uma simplificação e cria uma “versão de Hollywood” ao dizer que Maduro é o chefe do cartel.
Em 2020, durante o primeiro governo Trump, sancionou Maduro sob a alegação de ele ser “um dos líderes e gerentes do Cartel de los Soles”.
“O Cartel de Los Soles buscava não apenas enriquecer seus membros e aumentar seu poder, mas também ‘inundar’ os Estados Unidos com cocaína e infligir os efeitos nocivos e viciantes da droga aos usuários nos Estados Unidos”, dizia o anúncio do Departamento de Estado.
Washington colocou uma recompensa para qualquer informação que ajude a prender Maduro, atualmente reajustada para US$ 50 milhões (cerca de R$ 270 milhões).
Essa visão é contestada pelo InSight Crime: os membros do grupo têm objetivos muito mais econômicos do que ideológicos, tanto que o tráfico partindo da Venezuela aumentou tanto em direção aos EUA quanto à Europa.
“Hoje, o termo genérico ‘Cartel de los Soles’ mascara o fato de que o eixo Estado-tráfico de drogas é menos uma rede administrada pelos militares e políticos chavistas e mais um sistema que eles regulam”, define o centro.
“As evidências disponíveis sugerem que o regime de Maduro mantém o controle desse sistema em âmbito nacional não por meio da intermediação de negócios de cocaína, mas alocando e distribuindo concessões, nomeações eleitorais e garantindo proteção.”Após declarar o cartel como uma organização terrorista, o governo Trump mobilizou um arsenal militar no Mar do Sul do Caribe, perto da costa venezuelana, incluindo navios capazes de lançar mísseis teleguiados a centenas de quilômetros de distância.
Especialistas contestam a capacidade dos militares americanos em lutar contra o tráfico com armas de guerra.
A conclusão é compartilhada por McDermott. Para ele, isso não vai impedir a chegada da droga nos EUA: “Tudo o que a mobilização naval fará é dificultar o tráfico marítimo via Venezuela, levando o comércio para outros pontos de partida na América do Sul”.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

'Fator Trump' é 'arma' mais poderosa de Putin nos 3 anos de guerra na Ucrânia - Artur Alvarez (G1)

'Fator Trump' é 'arma' mais poderosa de Putin nos 3 anos de guerra na Ucrânia, dizem especialistas

Investida do presidente dos EUA mudou trajetória do conflito, e Trump pode 'dar a vitória' aos russos em uma guerra estagnada. Conselho de Segurança da ONU vota propostas nesta segunda (24).

Artur Alvarez

G1, 24/02/2025 13h25 


https://g1.globo.com/mundo/ucrania-russia/noticia/2025/02/24/fator-trump-e-arma-mais-poderosa-de-putin-nos-3-anos-de-guerra-na-ucrania-entenda.ghtml


A guerra na Ucrânia, que completa três anos nesta segunda-feira (24), teve sua trajetória alterada pelo “fator Trump”, que se tornou uma "arma" poderosa a favor da Rússia, segundo especialistas consultados pelo g1.

A interferência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que travou uma negociação direta com os russos sobre o fim da guerra, excluindo Ucrânia e europeus, abalou as estruturas da ordem mundial e aumentou temores da Europa sobre o futuro da geopolítica, disseram ainda os especialistas.

Trump quer rapidez nas negociações por um acordo de paz, mesmo que isso signifique atender às demandas de Moscou — a anexação de 20% do território ucraniano atualmente controlado por tropas russas, e a proibição de que a Ucrânia de entre para a Aliança Militar do Atlântico Norte (Otan).

No entanto, a pressa dos EUA também pode atrapalhar a resolução final do conflito, ainda de acordo com os espcialistas, já que:

  • Um acordo de paz apressado e malfeito pode levar a guerras maiores no futuro;
  • A anexação de territórios pela Rússia com o aval dos EUA viola da Carta da ONU e coloca em xeque outras tensões ao redor do mundo;
  • Putin tem interesse em não parar na Ucrânia caso obtenha alguma vantagem com o atual conflito.

“A paz é desejada, mas ela não pode ser a qualquer preço, porque acordos de paz malfeitos levam a guerras maiores depois”, afirmou ao g1 o professor de Relações Internacionais da UFF e pesquisador de Harvard Vitelio Brustolin.

Ele citou outros acordos malfeitos de Trump. como o da retirada das tropas americanas do Afeganistão, implementado por Biden em 2021 e criticado pela comunidade internacional.

Voltando mais na História, a 2ª Guerra Mundial começou após um acordo de paz malfeitos, segundo Vitelio: o Pacto de Munique, que autorizou anexação dos Sudetos da Tchecoslováquia pela Alemanha de Hitler em 1938 deu o precedente para o ditador nazista fazer novas invasões e dar início ao conflito global meses depois.

Vitória na guerra?

Trump diz que é necessário cessar imediatamente o derramamento de sangue no conflito, que já causou centenas de milhares de baixas de ambos os lados. Para a Rússia, também seria benéfico finalizar o conflito agora.

Segundo especialistas, a Rússia está ganhando a guerra, mas ao mesmo tempo está longe de seus objetivos iniciais e enfrenta dificuldades para manter o conflito, segundo um estudo do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), instituição especializada em guerras.

O IISS afirma que o Exército russo enfrentará “diversas restrições de equipamentos, material humano e econômicas” em 2025, e estima que tenha fôlego para aguentar sustentar a guerra no ritmo atual até 2026.

"A Rússia poderia sair vitoriosa da guerra na Ucrânia se os EUA entregarem a ela uma vitória", disse Brustolin.

O pesquisador de Harvard acha que só o fato de a Ucrânia seguir existindo como país já poderia ser considerado uma vitória de Kiev, que dependeu de ajuda militar e econômica de seus aliados, EUA e UE.

Negociações por terras ocupadas e sobrevivência da Ucrânia

 

Trump está interessado nas terras raras ucranianas, que podem ser uma forma de tirar vantagem econômica do envolvimento indireto dos EUA no conflito. Os EUA tentam impor à Ucrânia um acordo de direitos de exploração, e podem estar negociando as terras com os russos, que ocupam territórios ricos em minérios.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, luta pela sobrevivência da Ucrânia e já admitiu a possibilidade de territórios e até de deixar o cargo em prol de um melhor destino para o país. Zelensky busca garantias de segurança do território ucraniano, que ainda não apareceram nas negociações de terras raras com os EUA.

No entanto, o reconhecimento dos EUA de territórios invadidos pela Rússia seria uma violação flagrante da Carta da ONU, que proíbe guerras de anexação, pontua Brustolin.

“Se os EUA reconhecerem territórios ocupados pela Rússia na Ucrânia é uma subversão da ordem mundial, porque viola o direito internacional, a Carta da ONU, viola todo o sistema pós-2º Guerra Mundial”, afirmou Brustolin, citando como indício uma fala do secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, na Conferência de Segurança em Munique neste mês.

Segundo o analista de segurança internacional e pesquisador do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE) Felipe Dalcin, o presidente dos EUA também busca deslegitimar Zelensky por meio de falas públicas para pressionar o ucraniano a aceitar seus termos.

 

Trump já chamou Zelensky de “ditador sem eleições”, falou para ele assinar o acordo “antes que não tenha mais país” e disse que Putin “é quem dá as cartas” nas negociações. Chegou até a dizer que foi a Ucrânia quem iniciou a guerra contra a Rússia, ao contrário do que aconteceu, e que o presidente ucraniano atrapalha o acordo.

Outros interesses do governo Trump por trás das negociações estão uma priorização dos interesses dos EUA, na lógica de “América primeiro”, uma estratégia de usar a Rússia para pressionar a Europa –a gastar mais em Defesa–, segundo Vitelio.

Felipe Dalcin afirma ainda que Trump pode estar pensando ainda mais à frente, em uma disputa de poder com a China ao tentar criar uma relação de proximidade com Putin.

Uma tática similar foi praticada por Richard Nixon, quando se aproximou da China para enfraquecer a União Soviética durante a Guerra Fria.

Expansionismo de Putin e Europa ameaçada

Os países europeus temem que Putin não vá parar na Ucrânia e que a ameaça russa sobre a Europa aumente diante um possível acordo favorável para o fim da guerra na Ucrânia, negociado entre russos e americanos.

“Existe um consenso na Europa de que o Putin não vai parar na Ucrânia, sobretudo se ele tiver o benefício de anexar territórios, porque isso já aconteceu no passado”, disse Dalcin.

 

Esse temor pôde ser visto em falas nos últimos dias dos primeiros-ministros da Dinamarca e da Espanha, endossadas por líderes de outros países europeus.

"A Rússia está ameaçando a Europa inteira atualmente. Não acho que eles vão parar na Ucrânia e estou muito preocupada com um acordo rápido de cessar-fogo porque poderia dar a Putin a oportunidade de se remobilizar e atacar novamente a Ucrânia ou outro país europeu", afirmou a premiê dinamarquesa Helle Thorning-Schmidt.

A UE aumentou em 50% os gastos com defesa desde a ocupação da Crimeia, mas mesmo assim sofrerá gargalos em sua defesa caso os EUA assumam postura mais distante.

Já a Rússia tem tropas ocupando territórios na Georgia, na Abecásia e Ossétia do Sul, além de na Transnístria, na porção leste da Moldávia.

Além da parte militar, também há suspeitas de que Moscou aplica ainda a chamada "ameaça híbrida" contra Ocidente. A suposta participação russa em interferência em eleições de países como a Romênia e a Geórgia e no rompimento de cabos no Mar Báltico, investigado por autoridades nórdicas.

A Rússia tem 2º Exército mais poderoso do mundo, atrás apenas dos EUA. A União Europeia tem gargalos militares por questões econômicas e, nas últimas décadas, sua segurança dependeu dos EUA.

Um relatório do Serviço de Inteligência da Dinamarca (DDIS, na sigla em inglês) divulgado na semana passada afirma que a Rússia pode desencadear uma guerra ampla contra a Europa em cinco anos, com ameaças principalmente aos países da Europa Oriental, caso haja um menor engajamento dos EUA na Otan e na defesa do continente.

Os países bálticos — Estônia, Letônia e Lituânia — se preparam abertamente para uma guerra, reforçando seus exércitos e construindo muros nas fronteiras. Países do leste europeu também têm empregado gastos maiores com Defesa, alguns até chegando aos 5% do PIB, diferentemente de muitos dos Estados da Europa ocidental

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, propôs uma cláusula de emergência que permite aos governos que as despesas militares não sejam contabilizadas em seus limites de déficit orçamentário.

Após reuniões nos últimos dias, os líderes europeus concordaram que é necessário investir mais em Defesa. Trump exige que os países da Otan passem a gastar 5% do PIB para essa finalidade, o que atualmente fica na casa dos 2% em sua maioria.

Por enquanto, alguns países já concordaram em elevar os investimentos a esse patamar de 5%, como a Letônia, a Lituânia e a Polônia.

 

 

segunda-feira, 22 de julho de 2024

Brasil apresentará nesta semana ao G20 diretrizes de aliança global contra a fome (G1 - Globo)

Não há dúvida de que o programa global de combate à fome e à pobreza extrema será aprovado no entusiasmo geral das declarações políticas. O interessante será saber o que acontecerá depois, pois tudo vai depender de novas fontes de financiamento (ainda não determinadas), da disposição geral para contribuir para mais um programa da ONU e como tudo isso vai impactar na realidade dos países mais afetados pela fome, que são também o que geralmente exibem conflitos sociais, guerras civis (como o Sudão, o Haiti, a República Democrática do Congo e outros) e o que vai de fato mudar. Provavelmente se terá uma declaração onusiana a mais e poucas mudanças reais.

Paulo Roberto de Almeida

Brasil apresentará nesta semana ao G20 diretrizes de aliança global contra a fome
G1 - Globo | Política, 22/07/2024

Por recomendação do presidente Lula, o combate à fome e à pobreza é um dos temas centrais da presidência brasileira no G20.

O governo federal apresentará nesta semana um conjunto de documentos que orientarão a construção da "Aliança Global contra a Fome e a Pobreza". Serão quatro documentos elaborados durante as reuniões técnicas do G20 (grupo das 20 economias mais ricas do mundo), realizadas em diversas cidades brasileiras.

Por recomendação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o combate à fome e à pobreza é um dos temas centrais da presidência brasileira no G20. Outras prioridades incluem a mobilização global contra as mudanças climáticas e a reforma da governança global.

O "pré-lançamento" dessa aliança marca a segunda fase da presidência brasileira no G20. Agora, no nível ministerial, os países devem avançar nas discussões. O Brasil recebe a cúpula do G20, com chefes de estado, no Rio de Janeiro, em novembro.

As reuniões ministeriais do G20 começam na segunda-feira (22), com o "pré-lançamento" previsto para quarta-feira (24), contando com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina. Os ministros Mauro Vieira (Fazenda), Wellington Dias (Desenvolvimento Social) e Fernando Haddad (Fazenda) também participarão.

Na ocasião, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) apresentará o relatório "O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo (SOFI)", conhecido como o mapa da fome. Segundo o Itamaraty, é a primeira vez que a FAO divulga esses dados fora de Roma e Nova Iorque.

Na sexta-feira (19), em Brasília, o Embaixador Mauricio Lyrio, Secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty e coordenador da Trilha Sherpas do G20, revelou que pelo menos 150 milhões de crianças de até 5 anos passam fome no mundo. Além disso, cerca de 730 milhões de pessoas estão em situação de fome ou insegurança alimentar.

O embaixador defendeu que o mundo já reconheceu os programas sociais como mecanismos eficientes para reduzir a fome e a desigualdade. Durante a presidência do Brasil no G20, busca-se a "consagração" da necessidade de programas abrangentes, como agricultura familiar, merenda escolar e bancos de leite.

"Após mais de duas décadas de implementação, temos agora um endosso internacional de instituições como a FAO e o Banco Mundial, que dizem: esses são os programas que funcionam. Temos, pela primeira vez, um conhecimento acumulado sobre o que é eficaz para combater a fome no mundo", enfatizou o embaixador.

A partir da próxima semana, os países poderão aderir e fazer propostas para a "Aliança Global contra a Fome e a Pobreza." Até novembro, serão estabelecidas as regras de governança e os tipos de políticas públicas. A reunião ministerial inaugura a "chancela política" do que foi elaborado até agora. A Cúpula com chefes de estado está prevista para os dias 18 e 19 de novembro no Rio de Janeiro.

Entre os dias 22 e 24 de julho, ocorrerão reuniões ministeriais da força-tarefa contra a fome e do grupo de desenvolvimento. Nos dias 25 e 26 de julho, haverá um encontro de ministros de finanças e presidentes de bancos centrais, no Galpão da Cidadania, no Rio de Janeiro. Simultaneamente, em Fortaleza, uma reunião discutirá trabalho e emprego no mundo.

Durante a reunião ministerial do G20, também estão previstas discussões sobre acesso à água e saneamento básico. Os países estão negociando um documento para mobilização de recursos e intercâmbio entre instituições que trabalham com acesso à água.

Ao lado da primeira-ministra de Bangladesh, a primeira-dama, Janja, apresentará um painel sobre a centralidade da mulher em programas sociais. Embora Bangladesh não faça parte do G20, a primeira-ministra foi convidada pelo governo brasileiro devido às experiências positivas de seu país com programas sociais.

"No caso do Brasil, temos o Bolsa Família, pago às mães. É simbólico dizer que esses países reduziram a fome com programas eficazes focados nas mulheres," disse o embaixador.

O financiamento da "Aliança Global contra a Fome e a Pobreza" ainda está em debate. Segundo Lyrio, existem várias opções, incluindo a possibilidade de trocar dívida externa por financiamento de programas sociais, uso de recursos de organismos internacionais como o Banco Mundial e o FMI, e a taxação de "super-ricos" como uma forma de colaborar com o financiamento do combate à pobreza.

"Esses programas de combate à fome e à pobreza exigem capacidade fiscal, e, infelizmente, os países mais afetados pela fome também têm altos índices de endividamento," afirmou Lyrio.

O Embaixador Mauricio Lyrio anunciou que os países aprovaram, por unanimidade, uma reunião sobre a Reforma da Governança Global na sede da ONU em setembro deste ano. Segundo ele, o tema vai além do Conselho de Segurança e envolve desafios contemporâneos como mudanças climáticas, eventos extremos e transição energética.

"Conseguimos a aprovação de todos os países para a reunião na sede da ONU. Estamos em um momento recorde de conflitos, e a ONU, com quase 80 anos, precisa ser reformada para se adequar às realidades contemporâneas. A ONU deve estar no centro da reforma da governança global, e nada mais simbólico do que realizar a reunião na sede da ONU," enfatizou o embaixador.

O Brasil assumiu a presidência do G20 em dezembro do ano passado. O grupo reúne as 19 maiores economias do mundo, além de representantes da União Europeia e da União Africana.

O G20 atua em duas frentes: Sherpas e Finanças. A trilha de Sherpas trata de questões políticas e é gerenciada por enviados dos líderes do G20. A trilha de Finanças aborda assuntos macroeconômicos e é liderada pelos ministros das finanças e presidentes dos bancos centrais. O objetivo é promover um intercâmbio entre as duas frentes, para que os países disponham de recursos financeiros para implementar os acordos firmados.


quinta-feira, 21 de março de 2024

O Brasil tem parceiros estrangeiros; o PT tem aliados preferenciais: Putin, por exemplo (G1)

Há uma certa confusão, no governo atual, entre aliados políticos e parceiros comerciais. Creio que não se faz muita diferença entre as duas categorias. PRA

PT parabeniza Putin pela eleição na Rússia e chama vitória de 'feito histórico'

Organismos internacionais criticam eleição na Rússia pela falta de transparência e de real competitividade. Para secretário do PT, vitória de Putin 'ressalta a importância do voto voluntário na Rússia'.

G1, 21/03/2024

Em uma carta pública, o secretário de Relações Internacionais do PT, Romênio Pereira, parabenizou o presidente russo Vladimir Putin pela vitória na eleição no último fim de semana. Pereira chamou a vitória de Putin de "feito histórico" e disse que a conquista do novo mandato "ressalta a importância do voto voluntário na Rússia".

A eleição russa é criticada por organismos internacionais pela falta de transparência e pela ausência de real competitividade. 

Putin, que está no poder há 24 anos, não tinha outros concorrentes com real chance de vitória. Os outros três candidatos, todos deputados, eram considerados fantoches do governo — eles votaram a favor da guerra na Ucrânia no Parlamento (sinal de alinhamento a Putin) e já fizeram declarações públicas de apoio ao presidente. 

O país vive uma repressão implacável que sufocou os meios de comunicação independentes e grupos de direitos humanos proeminentes. O mais destacado adversário de Putin, Alexei Navalny, líder da oposição, morreu em uma prisão no Ártico em fevereiro. Outros críticos estão na prisão ou no exílio. 

Putin está no poder há 24 anos e é o presidente mais longevo da Rússia desde Josef Stalin, da época da União Soviética. 

"Acompanhamos com grande interesse o desenrolar do recente processo eleitoral presidencial na Rússia, que resultou na reeleição do presidente Vladimir Putin. Com uma participação impressionante de mais de 87 milhões de eleitores, representando 77% do eleitorado do país, esse feito histórico ressalta a importância do voto voluntário na Rússia". escreveu o secretário de Relações Internacionais do PT.

A carta, apesar de pública e aberta, é endereçada a Dmitry Medvedev, aliado de Putin e presidente do partido Rússia Unida, pelo qual o presidente se elegeu. 

"Renovamos nosso compromisso em fortalecer nossos laços de parceria e amizade, trabalhando juntos rumo a um mundo mais justo, multilateral e plural. Enviamos nossas calorosas saudações à Rússia e seu povo neste momento importante e especial para o país", continua Pereira. 


Silêncio no governo 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que também é do PT, ainda não se pronunciou publicamente sobre a vitória de Putin. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil também não. 

Interlocutores de Lula no Palácio do Planalto afirmam que o presidente mandou cumprimentos privados a Putin pela vitória eleitoral. 

No início do mandato, Lula foi criticado por declarações que conferiam à Ucrânia parte da responsabilidade pela guerra. A Ucrânia foi invadida pela Rússia em fevereiro de 2022, e a guerra dura até hoje. A decisão de invadir foi unilateral da Rússia. 

Depois da má repercussão, Lula moderou o discurso e não mais disse que a Ucrânia é culpada pela guerra. Ele também tenta criar um grupo de países neutros para intermediar negociações de paz.


domingo, 18 de fevereiro de 2024

Ignorância e demagogia: as afirmações de Lula sobre Holocausto e Faixa de Gaza: Netanyahu diz que Lula 'cruzou linha vermelha' (G1)

As afirmações do presidente Lula sobre a tragédia atual envolvendo Hamas e Israel, com alusões ao Holocausto hitlerista absolutamente equivocadas, são inaceitáveis do ponto de vista histórico e diplomático, e apenas diminuem sua credibilidade como interlocutor responsável em face dessa tragédia. Elas apenas revelam seu despreparo para tratar desse assunto. (PRA)


Israel convoca o embaixador do Brasil após Lula comparar guerra em Gaza com Holocausto

Netanyahu diz que Lula 'cruzou linha vermelha'. A Confederação Israelita do Brasil (Conib) também reagiu e chamou as declarações do presidente brasileiro de infundadas: 'distorção perversa da realidade'.

Por g1, 18/02/2024 12h55  

 

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que vai convocar o embaixador brasileiro para "uma dura conversa de repreensão", após a fala do presidente Lula que comparou a guerra em Gaza com o Holocausto nazista e ações de Hitler.

"As palavras do presidente do Brasil são vergonhosas e graves. Trata-se de banalizar o Holocausto e de tentar prejudicar o povo judeu e o direito de Israel se defender", disse Netanyahu, em uma publicação neste domingo (18) no X (antigo Twitter).

"Comparar Israel ao Holocausto nazista e a Hitler é cruzar uma linha vermelha"

O ministro das Relações Exteriores do país, Israel Katz, disse que ninguém irá comprometer o direito que Israel tem de se defender.

Lula deu as declarações durante entrevista em Adis Abeba, na Etiópia, onde participou nos últimos dias da 37ª Cúpula da União Africana e de reuniões bilaterais com chefes de Estado do continente.

"O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando o Hitler resolveu matar os judeus", disse Lula.

A fala de Lula também gerou reação da Confederação Israelita do Brasil (Conib). Para a entidade, o discurso do petista é uma "distorção perversa da realidade".

"Os nazistas exterminaram 6 milhões de judeus indefesos na Europa somente por serem judeus. Já Israel está se defendendo de um grupo terrorista que invadiu o país, matou mais de mil pessoas, promoveu estupros em massa, queimou pessoas vivas e defende em sua Carta de fundação a eliminação do Estado judeu", diz nota da Conib.

O presidente Lula fez a afirmação após ser questionado sobre a decisão de alguns países de suspender repasses financeiros à agência da Organização das Nações Unidas (ONU) que dá assistência a refugiados palestinos, a UNRWA.

No fim de janeiro, Israel acusou funcionários da UNRWA de envolvimento com ações terroristas do Hamas, o que motivou a suspensão de auxílio por parte de governos ocidentais, como os do Estados Unidos, Canadá, Austrália e Reino Unido. Não se sabe quantos funcionários estariam envolvidos.

Lula disse que, se houve um "erro" na UNRWA, que os responsáveis sejam investigados, mas afirmou que a ajuda humanitária não pode ser suspensa. Recentemente, o governo brasileiro anunciou que vai prestar auxílio à agência.






Publicação de Netanyahu sobre fala do presidente Lula sobre Gaza — Foto: Reprodução/X


Leia a nota da Conib na íntegra

"A Conib repudia as declarações infundadas do presidente Lula comparando o Holocausto à ação de defesa do Estado de Israel contra o grupo terrorista Hamas. Os nazistas exterminaram 6 milhões de judeus indefesos na Europa somente por serem judeus. Já Israel está se defendendo de um grupo terrorista que invadiu o país, matou mais de mil pessoas, promoveu estupros em massa, queimou pessoas vivas e defende em sua Carta de fundação a eliminação do Estado judeu. Essa distorção perversa da realidade ofende a memória das vítimas do Holocausto e de seus descendentes.

O governo brasileiro vem adotando uma postura extrema e desequilibrada em relação ao trágico conflito no Oriente Médio, abandonando a tradição de equilíbrio e busca de diálogo da política externa brasileira. A Conib pede mais uma vez moderação aos nossos dirigentes, para que a trágica violência naquela região.não seja importada ao nosso país."

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Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...