Mas diferente do sambinha, que era chatinho de letra, mas tinha uma toada boa, o samba do governo doido não tem toada nem letra que preste, só tem zumbido, azucrinação, ranger de dentes, arrastar de cadeiras e cordas se rompendo ao menor movimento do compositor-intérprete, que só parece conhecer meia nota, nem uma nota inteira.
Tem também aquela do pato, e do ganso, com o andar desajeitada, e dizem que o pato é tiro certo: cada passo uma c....
Eta governo bisonho....
Tudo é prego. Se tivesse que resumir as várias
tentativas fracassadas para reviver a economia, acho que nada descreveria
melhor o insucesso do que a imagem de alguém tentando resolver um problema com
instrumentos inadequados e, pior, sem perceber o desajuste.
Na verdade, da mesma forma que dizem que os
generais sempre lutam a última guerra, o governo parece resolvido a lidar com
as dificuldades de hoje recorrendo aos instrumentos que usou para superar a
recessão de 2008-09.
Ocorre que, na época, a natureza do problema era
outra. Naquele momento a crise financeira levou a uma recessão mundial
sincronizada, traduzida, por exemplo, em quedas de dois dígitos na produção
industrial em qualquer meridiano ou paralelo que se olhasse. Era um caso
clássico de insuficiência de demanda, expressa na queda tanto do consumo quanto
do investimento.
Por conta disso, o desemprego (já ajustado à
sazonalidade e à fuga de parcela da população do mercado de trabalho, o chamado
“desalento”) saltou de 7% para 9% da força de trabalho em poucos meses. Sob
estas circunstâncias, políticas de incentivo ao consumo têm boa chance de
recolocar a economia na rota de expansão, às vezes até demais, como os exageros
de 2009 e 2010 demonstraram (mas, vocês sabem, havia eleição a ganhar).
Em contraste, a desaceleração do crescimento em
2011 e 2012 para níveis inferiores a 2% ao ano foi acompanhada de queda
persistente do desemprego. Neste contexto, a tentativa de impulsionar a
economia pelo aumento do consumo perde muito da sua eficácia.
Parte deste aumento se dirige ao consumo de
serviços, que, em sua esmagadora maioria, têm que ser produzidos localmente
(quase ninguém manda os filhos para a escola em Buenos Aires, ou vai se tratar
com um médico nova-iorquino), exigindo maior emprego no setor. Isto não é um
problema enquanto a mão de obra é abundante, mas, com desemprego reduzido, leva
a aumentos salariais que superam em muito o crescimento acanhado da
produtividade.
O setor de serviços convive com isso aumentando
seus preços, o que nos ajuda a entender porque a inflação deste segmento tem rodado
na casa dos 9% ao ano e segue acelerando. Já a indústria, pressionada pela
competição externa, não consegue fazê-lo, o que se traduz em redução de margens
e problemas de competitividade, e, portanto, dificuldades para aumentar a produção.
Assim, o aumento das importações (o “vazamento”
da demanda para o exterior) é a forma pela qual a economia consegue
compatibilizar a maior demanda por bens e a incapacidade industrial em
competir, não apenas com o exterior, mas, principalmente, com os serviços pela
mão-de-obra agora escassa. Por este motivo, políticas de incentivo à demanda
acabam apresentando pouca tração em termos de crescimento. E, por não entender
esta dinâmica, o governo insiste com o martelo, na esperança de achar, em algum
lugar, um mísero prego.
É contra este pano de fundo que se entende o
abandono do tripé macroeconômico. Seu arranjo impedia as marteladas, já que o
limite para a taxa de juros era a meta de inflação, enquanto a meta fiscal
restringia (ainda que de modo muito imperfeito) a expansão desmesurada do
gasto.
Não se trata, portanto, de dizer que a
desaceleração econômica resultou do abandono do tripé, mas, pelo contrário, que
a conjugação de baixa expansão com a percepção errônea da natureza do problema
levou à deterioração da política macroeconômica.
O Brasil cresce pouco por problemas do lado da
oferta: expansão medíocre da produtividade, educação inadequada, e investimento
insuficiente. Por falta deste entendimento o governo acredita que pode sacrificar
a estabilidade em troca de mais crescimento, mas colhe apenas mais inflação sem
ganho perceptível de produto. E, pelo andar da carruagem, prosseguirá com os
sacrifícios, sem a devida atenção aos efeitos colaterais das suas marteladas.
|
A equipe
econômica em ordem unida
|
(Publicado 23/Jan/2013)