Apocalypse now?
Uma reflexão sobre grandes crises que nos atingiram e seus principais responsáveis
O mundo e o Brasil, todos nós, das quatro gerações que precederam a nossa, conhecemos algumas crises devastadoras, nos últimos cem anos. Todas elas podem ser identificadas pelos nomes dos principais (não exclusivos) responsáveis.
1929 foi uma simples crise do mercado acionário americano, e o país já estava a se recuperando em março-abril de 1930 (conforme li num número da Economist dessa data), quando o presidente Herbert Hoover sancionou a Lei Tarifária Smoot-Hawley em junho desse ano, contra a opinião de mais de 200 economistas, que tinham alertado nas páginas do NYT contra a aprovação desse ato protecionista.
Não deu outra: mais do que a crise da Bolsa de NY no ano anterior, o ato precipitou respostas de outros países, igualmente protecionistas, e preparou o terreno para as crises bancárias europeias de 1931, que lançaram o mundo na Grande Depressão.
Podemos chamar essa de "Crise Hoover".
Ambas foram responsáveis pela maior crise econômica no Brasil até aquele ano: em 1930-1931, o PIB decresceu 6%, mas depois se recuperou, com as medidas adequadas tomadas pelo novo ministro da Fazenda, Oswaldo Aranha.
2014-2015: foi uma crise cuidadosamente preparada pela sua administradora principal, a chefe da Casa Civil, e sua tropa de economistas amestrados da "Nova Matriz Econômica". Tivemos uma recessão superior à de 1931: menos 8% no PIB e menos 10% no PIB per capita. Foi a maior crise da história econômica do Brasil, até aqui.
Podemos chamar a essa de "Crise Dona Dilma".
A recuperação foi dura, e só veio depois do impeachment da presidente em 2016, com o governo Michel Temer e um programa dirigido pelo ministro da Fazenda Henrique Meirelles (que já tinha debelado a crise criada pela eleição de Lula em 2002, à frente do Banco Central entre 2003 e 2010) . Foi duro mas passou.
2025-202?: estemos assistindo à construção da "Crise Trump", que vai afetar não apenas os Estados Unidos, mas também o mundo inteiro, embora com variações em função das retaliações tarifárias e outras.
O Brasil vai ser um dos mais atingidos, não apenas em virtude das tarifas de 50% (talvez mais, se medidas retorsivas forem adotadas pelo Brasil), mas também pelas investigações da Seção 301 da Lei Comercial americana de 1974, tudo isso por motivação puramente política (entre elas a briga pessoal Trump-Lula), ligada ao clã dos "traidores da pátria", mais o efeito Brics+.
Como sempre, todas essas crises – mais a dos países em desenvolvimento de 1997-1999, a dos países desenvolvidos, a imobiliária de 2007 e a bancária de 2008 – resultam de uma mistura de políticas econômicas erradas e da impulsividade de certos dirigentes: Hoover, Dilma, agora Trump (with a little help from Lula, se este se agita muito contra o laranjão demencial).
Vou ter de atualizar meu quadro das crises econômicas relevantes, que já fiz com base no livro do Charles Kindleberger, Panic, Manias and Crashes, atualizado e aumentado para a AL e o Brasil até o início dos anos 2000.