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segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Medo do argentino de perder subsídios garante a Massa segundo turno contra Milei - Lourival Sant'Anna (O Estado de S. Paulo)

 Medo do argentino de perder subsídios garante a Massa segundo turno contra Milei 

Lourival Sant'Anna
O Estado de S. Paulo, 23/10/2023

Mesmo com inflação anual de 140%, o ministro da economia conseguiu sair na frente no primeiro turno da eleição presidencial argentina.

 Os votos destinados à Patricia Bullrich, elegerão o presidente Mesmo com inflação anual de 140%, o ministro da economia conseguiu sair na frente no primeiro turno da eleição presidencial argentina. Os votos destinados à terceira colocada, Patricia Bullrich, elegerão o presidente O ministro da Economia, Sergio Massa, realizou um feito notável. Com inflação anual de 140%, conseguiu sair na frente no primeiro turno da eleição presidencial da Argentina. 

Ele disputará o segundo turno no dia 19 com o libertário Javier Milei. Os votos destinados à terceira colocada, Patricia Bullrich, elegerão o presidente. Bullrich é liberal na economia e conservadora nas questões sociais, sobretudo a segurança, o que favorece Milei. Entretanto, uma parte de seu eleitorado é mais moderado que ela, e votou, nas primárias de agosto, em seu rival dentro do partido Juntos pela Mudança, o prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta. Massa chegou ao seu teto, ou conseguiria atingir uma fatia suficiente desse eleitorado moderado? 

A resposta a essa pergunta ficará mais clara nas próximas semanas. O peso continuará se desvalorizando perante o dólar e minando a confiança dos argentinos na política econômica de Massa. Afinal, Milei, que emerge do primeiro turno com grandes chances de chegar à Casa Rosada, quer fechar o Banco Central e adotar o dólar como moeda O êxito de Massa nesse primeiro turno se explica, em parte, pela força política do peronismo e, em outra parte, pelo receio dos argentinos de perder os benefícios sociais. É uma vulnerabilidade que se retro-alimenta: quanto mais gastos sociais, mais déficit público, mais endividamento, mais inflação, mais empobrecimento e mais necessidade de amparo do Estado. 

 Desde 2015, os argentinos têm tentado escapar da crise econômica alternando experiências à direita e à esquerda. A situação só tem piorado.Agora, uma parcela substancial dos eleitores optou pela ruptura: uma experimentação radical, com Milei, que além de substituir o peso pelo dólar propõe cortar drasticamente gastos e impostos. O plano econômico de Milei é o mais atraente para seus eleitores porque parece ser o mais distante possível da terrível realidade inflacionária que eles enfrentam. Além disso, faz sentido para os argentinos que compreendem que o endividamento causado pelos gastos acima da arrecadação está na origem dos problemas econômicos. 

 A Argentina trocar o peso pelo dólar também faz sentido de duas maneiras fundamentais para muitos eleitores. Afinal, é isso o que quem pode faz: troca peso por dólar e guarda debaixo do colchão ou em contas no exterior. Há ainda uma identificação simples, quase infantil: como se o que trouxesse estabilidade e prosperidade para os Estados Unidos fosse o nome de sua moeda, não os fundamentos de seu sistema econômico, jurídico, educacional e assim por diante. Não se pode culpar os argentinos por querer algo novo. Em 2015, a peronista Cristina Kirchner, de esquerda, entregou o governo com uma inflação de 25%; em 2019, o liberal Mauricio Macri, saiu com 50%; este ano, o peronista Alberto Fernández encerra com 140% ou mais, até dezembro. Bullrich é a candidata de Macri, de quem foi ministra da Segurança Pública. Massa é o ministro da Economia de Fernández. 

 A figura excêntrica de Milei pode assustar muitos, mas para outros combina com o desejo de ruptura do atual sistema político. Esses gastos públicos excessivos são produtos de decisões dos políticos, de suas negociações orçamentárias e de suas práticas clientelistas para manter apoio das populações locais. Isso também está em xeque, com vários líderes sendo desbancados de seus “currais” eleitorais, para usar uma expressão tosca mas pertinente. Ninguém se parece menos com os políticos tradicionais argentinos, seja à esquerda ou à direita, do que Milei. Isso pode atender ao desejo de mudança dos argentinos, mas também traz incertezas com relação à própria capacidade de Milei de entregar. Exatamente pela falta de amplitude político-partidária, ele não terá maioria no Congresso. 

 Diante da consequente frustração de seus eleitores com o descumprimento das promessas, o que Milei faria? Muitos de seus eleitores são jovens, de todos os extratos sociais. Poderim ir às ruas e pressionar o presidente. Milei e, em especial, sua vice, Victoria Villarruel, filha de um falecido tenente do Exército, são admiradores declarados da ditadura militar argentina. Milei tentaria algo como fechar o Congresso? Nessa hipótese, não teria apoio das Forças Armadas nem de outras instituições. Mas desestabilizaria ainda mais an Argentina. 

 Outro fator é a intenção de Milei de rever o direito ao aborto, aprovado na Argentina em 2020. Mulheres liberais que recebem bem suas ideias radicais no campo econômico não gostam da reversão dessa conquista, que consumiu muita energia dos progressistas. Em contrapartida, claro, ela atrai o voto dos conservadores. O mesmo se aplica à facilitação do acesso às armas. 

 O aumento da pobreza, que alcança 40% da população, agravou a criminalidade. Bullrich fez do endurecimento contra os criminosos uma de suas principais bandeiras, além de reformas econômicas. Mas grande parte dos argentinos perdeu a fé em soluções baseadas no poder do Estado. A última década de desordem econômica criou um ambiente de salve-se quem puder. Milei responde a esse sentimento, prometendo liberdade para os argentinos buscar prosperidade individualmente e fazer justiça com as próprias mãos. 

 A alternativa, representada por Massa, é a continuação de um Estado inchado e ineficiente, que suga as riquezas do setor público. Não é uma escolha fácil a que os argentinos se impõem a si mesmos.  

domingo, 22 de outubro de 2023

Eleições argentinas: quando começou a derrocada econômica da Argentina - e quão rica ela já foi? - Veronica Smink Role (BBC News Mundo)

Eleições argentinas: quando começou a derrocada econômica da Argentina - e quão rica ela já foi?

  • Author, Veronica Smink
  • Role, BBC News Mundo, Argentina

“A Argentina começou o século 20 como o país mais rico do mundo e hoje tem 40% de pobres e 10% de indigentes.”

Esta frase, repetida diversas vezes durante a campanha presidencial pelo economista “libertário” Javier Milei – que lidera as pesquisas para as eleições deste domingo (22/10) – reproduz um conceito que está impregnado no subconsciente dos argentinos: esta nação, submersa há décadas em sucessivas crises econômicas, já soube ser uma superpotência.

Vários apelidos remetem a esse passado glorioso. O mais famoso é “celeiro do mundo”, uma referência ao poderoso modelo agroexportador que enriqueceu a Argentina há um século e hoje continua a ser o seu principal suporte econômico.

Há também “a Paris da América do Sul”, uma alusão à arquitetura de estilo europeu da capital argentina, hoje em desarmonia com a realidade de um país onde 56% das crianças são pobres.

Essas frases nostálgicas são lembranças de uma época de ouro que muitos no país idealizam. E que alguns políticos, como Milei, prometem resgatar.

“A Argentina pode voltar a ser uma potência mundial”, afirma repetidamente o economista ultraliberal.

“Se aplicarmos todas as reformas pró-mercado, nos primeiros 15 anos poderemos parecer com a Itália ou a França; em 20 anos como a Alemanha; em 35 anos como os Estados Unidos”, diz ele.

Ele não é o primeiro político a entusiasmar eleitores com promessas de volta a esse passado próspero.

O ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019) – cujo campo político é representado nestas eleições pela candidata Patricia Bullrich – propôs na época transformar a Argentina numa “nova Austrália”, um país que na primeira parte do século XX teve uma trajetória econômica semelhante à Argentina, mas que conseguiu se manter no caminho do desenvolvimento, algo que muitos argentinos tomam como exemplo do que sua nação deveria ter feito.

Mas será que a Argentina era realmente o país mais rico do mundo?

E como passou de uma das nações mais prósperas a um dos países com a maior inflação do planeta?

Uma mão entregando notas de 1.000 e 500 pesos argentinos para outra

CRÉDITO, GETTY IMAGES

Legenda da foto, 

A Argentina tem inflação anual de 138% e eliminou 13 zeros de sua moeda no último meio século

Número 1?

Fim do Podcast

Comparar a riqueza de diferentes países é tarefa complexa, mas a maioria dos especialistas considera que a melhor forma de fazê-lo é medir o Produto Interno Bruto por habitante (PIB per capita, ou PIBpc).

Dado que o PIB dos países periféricos, como a Argentina, só começou a ser medido oficialmente em meados do século XX, informações anteriores a esse período devem ser vistas com cautela.

No entanto, economistas de várias ideologias concordam que a fonte mais confiável é a base de dados do Projeto Maddison, que usa diferentes estatísticas econômicas históricas para estimar o PIBpc no passado.

Em 2018, esta série estatística - criada pelo economista britânico Angus Maddison e mantida, até hoje, pela Universidade de Groningen, na Holanda - estimou que a Argentina foi o país mais rico do mundo em 1896, e que permaneceu entre os mais ricos nas primeiras décadas do século XX.

No entanto, a metodologia utilizada foi questionada por muitos historiadores econômicos, levando à publicação de uma nova série estatística em 2020 que tirou o troféu de número 1 do país sul-americano, relegando-o para o sexto lugar em 1896.

De qualquer forma, esta edição – que ainda é a mais atual – confirma que a Argentina começou o século XX como uma das nações mais ricas do mundo, uma prosperidade que a levou a estar no “top 10” das nações ricas até a Primeira Guerra Mundial (1914-18). 

A partir daí, o país declinaria até atingir o atual 66º lugar.

Quão rica foi a Argentina?

Em 1913, antes do início da Primeira Guerra, o PIBpc da Argentina era de US$ 6.052 (a preços em dólares de 2011), segundo cálculos do Projeto Maddison.

Isso era menos que o PIBpc dos Estados Unidos (US$ 10.108), do Reino Unido (US$ 8.212) e da Austrália (US$ 8.220).

Mas era o dobro da Espanha (US$ 3.067), da qual se tornou independente há quase um século, e superior à da Alemanha (US$ 5.815), da França (US$ 5.555) e da Itália (US$ 4.057), entre outras nações europeias.

Foi também muito superior ao rendimento dos países asiáticos que hoje dominam a economia, como a China (US$ 985) e o Japão (US$ 2.431).

E este não era um fenômeno regional, como mostram os índices dos seus vizinhos e de outros países latino-americanos como o Uruguai (US$ 4.838 ), o Chile (US$ 4.836), o México (US$ 2.004) e o Brasil (US$ 1.046).

Então, quando foi que a Argentina começou a perder seu lugar privilegiado no mundo e por quê?

"100 anos de decadência"

Se observarmos como o PIB por habitante evoluiu no mundo no século passado, veremos que a posição da Argentina no ranking mundial tem caído constantemente ao longo dos últimos cem anos.

Embora a riqueza de todos os países – incluindo a Argentina – tenha aumentado ao longo do tempo, a nação sul-americana começou o século XX com a renda de um país rico e aos poucos foi ficando cada vez mais relegada na tabela internacional.

Muitos chamam o fenômeno de “os 100 anos de declínio argentino” e afirmam que este é o único exemplo no mundo de um país que passou de desenvolvido a em desenvolvimento.

Alguns até usam o caso argentino para ensinar o que não fazer.

Isto foi feito pela revista britânica The Economist, que em 2014 publicou uma famosa reportagem de capa intitulada “A Parábola da Argentina”, na qual explicava “o que outros países podem aprender com um século de declínio”.

artigo apontava claramente um culpado pela queda: o peronismo, o movimento político fundado por Juan Domingo Perón e sua esposa, Eva Duarte (a famosa "Evita"), que desde 1946 foi principal força a governar a Argentina.

Segundo a revista, o peronismo gerou “uma sucessão de populistas economicamente analfabetos” que levaram a Argentina “à ruína”.

Esta é uma opinião amplamente difundida entre setores liberais do país sul-americano.

Mas será verdade?

O peronismo

O economista Fausto Spotorno é vice-presidente da Fundação Norte e Sul, dedicada a questões de desenvolvimento, e compilou as estatísticas econômicas da Argentina desde sua fundação em 1810 até 2018.

Spotorno disse à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, que “os dados mostram que o crescimento econômico argentino começou a desacelerar a partir de 1930”, quando o país sofreu um duplo golpe: os impactos da crise internacional, devido à quebra da bolsa de Wall Street, e seu primeiro golpe de Estado militar.

No entanto, ele observou: “Fica claro pelos números que as coisas começaram a ficar complicadas depois do peronismo”.

“A Argentina se assemelhava a uma economia desenvolvida, em termos de padrão de vida, renda per capita e taxa de crescimento, até 1946”, explicou. Ou seja: até a chegada de Perón.

Juan Domingo Perón e sua primeira esposa, "Evita"

CRÉDITO, GETTY IMAGES

Legenda da foto, 

Juan Domingo Perón e sua primeira esposa, "Evita", fundaram um movimento popular que governou durante 40 dos últimos 78 anos.

“É aí que a inflação começa a aparecer”, disse ele, referindo-se ao problema mais persistente enfrentado pela Argentina.

Embora o país já tivesse tido aumentos de preços antes, esclareceu, a partir desse momento eles subiram para além de 20% pela primeira vez.

E por que a inflação começou a subir? 

“Porque os gastos aumentaram muito”, explicou o economista, que destacou que “a Argentina tinha gastos públicos de 8,5% do PIB e na segunda metade da década de 1940 e isso aumentou para 12%”.

No entanto, Spotorno esclareceu que muitos dos problemas que Perón enfrentou surgiram antes da sua chegada e foram agravados pelo contexto internacional desfavorável que a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) trouxe.

Os países europeus para os quais a Argentina exportava produtos de sua agricultura atrasaram pagamentos, afirmou. E o país, que durante décadas teve um superávit primário - isto é, mais receitas do que despesas - "começou a ter um deficit na década de 1940".

Este rombo não poderia ser resolvido – como fizeram os governos anteriores – com empréstimos externos, também por causa da guerra, disse o especialista.

Mas estas limitações não frearam Perón, que, apesar do contexto, aumentou drasticamente os gastos sociais.

“A Argentina aumentou as despesas sem poder financiá-las”, disse Spotorno. 

“Perón nacionalizou o Banco Central para poder imprimir dinheiro, o que desencadeou a inflação.”

Impressão de notas de 500 pesos na Casa da Moeda argentina

CRÉDITO, GETTY IMAGES

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Segundo economistas ortodoxos, o persistente problema de inflação da Argentina está relacionado com a emissão de notas para cobrir o deficit fiscal.

Esse problema (gastar mais do que se tem) foi piorando a cada governo posterior, explicou o economista.

E as soluções adotadas por todos - seja emitindo mais dinheiro ou solicitando mais empréstimos - foram o que levou a Argentina a se tornar um dos países com mais inflação e mais incumprimentos (ou cessação de pagamentos de dívidas - os famosos calotes) do mundo.

Os militares

Mas muitos também dizem que seria injusto dizer que a Argentina “perdeu o rumo” por causa do peronismo.

Afinal, as potências com as quais o país conviveu no início do século se beneficiaram pelo Plano Marshall, que depois da Segunda Guerra lhes permitiu regressar ao caminho do desenvolvimento.

Em contraposição, a Argentina, que demorou a declarar guerra à Alemanha e ao Japão, foi excluída dos mercados europeus.

Quanto à inflação, economistas lembram que Perón conseguiu reduzi-la para menos de 4% antes de ser derrubado por um golpe de Estado em 1955.

E observam que, depois desse acontecimento, o peronismo foi banido por mais de 18 anos.

Acadêmicos como Eugenio Díaz Bonilla, economista e professor da Universidade George Washington, destacam que se compararmos a trajetória econômica da Argentina com a da Austrália - que sofreu os mesmos ataques internacionais e não foi incluída no Plano Marshall - pode-se perceber que o verdadeiro colapso do país sul-americano não teria ocorrido com a ascensão do peronismo, mas décadas depois, com a chegada do último regime militar, que aplicou políticas neoliberais.

“Se compararmos os dois países tomando como referência a distância em relação à renda per capita dos Estados Unidos, vemos que a relação permanece entre 1900 e 1975. A mudança ocorreu com o golpe de 1976”, disse Díaz Bonilla à BBC Mundo após a polêmica gerada pela revista The Economist.

Emilio Massera (esq), Jorge Rafael Videla e Orlando Ramon Agosti, líderes da Junta militar que tomou o poder argentino em 24 de março de 1976

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Muitos acadêmicos sustentam que o verdadeiro desastre econômico ocorreu com o regime militar, há 40 anos.

O historiador argentino Ezequiel Adamovsky concluiu o mesmo.

“Nos trinta anos após 1945, a Argentina dobrou sua renda per capita e expandiu seu PIB a taxas superiores às dos Estados Unidos e também às do Reino Unido, Austrália ou Nova Zelândia (embora tenha sido superada pelos de alguns países europeus)", observou numa coluna de opinião no jornal El Diario AR.

“Com todos os seus problemas, a economia argentina crescia a um ritmo mais rápido do que o das principais potências ocidentais”, observou.

“Só em 1975 é que a economia local sofreu um declínio abrupto e perdeu terreno em comparação não só com os países mais avançados, mas praticamente com o mundo inteiro. Desde 1975, sim, pode-se dizer que o país sofreu um declínio”, escreveu ele, em referência a um período marcado pela crise de hiperinflação.

Um problema de base

Mas há algo com que analistas de várias ideologias concordam: para além das falhas de governos específicos, o problema subjacente que afetou a Argentina é uma instabilidade institucional que levou a seis golpes de Estado no século XX.

Neste ano, o país está comemorando, pela primeira vez, 40 anos ininterruptos de democracia.

Uma pesquisa conduzida pelo professor de economia da Universidade de Liubliana, Rok Spruk, destacou que esta fraqueza existe desde o início.

“Em comparação com EUA, Canadá e Austrália, a Argentina nunca completou a transição para uma democracia aberta sustentada pelo Estado Democrático de Direito”, escreveu Rok num artigo intitulado “The Rise and Fall of Argentina” (A ascensão e queda da Argentina, em tradução direta), publicado em 2019 na revista Latin American Economic Review.

“Quando os militares quebraram formalmente a ordem constitucional em 1930, a Argentina embarcou no caminho do desenvolvimento institucional instável e das frequentes transições de idas e vindas entre ditadura e democracia.”

“Em vez de embarcar no caminho do desenvolvimento institucional sustentado, a Argentina sofreu uma fraude eleitoral tumultuada com uma quase erosão do sistema de freios e contrapesos que precipitou a ascensão de líderes populistas”.

Um quebra-cabeça da Argentina com peças separadas

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A fraqueza institucional da democracia argentina causou muitas rupturas durante o século passado

Spotorno diz que esta instabilidade democrática fez com que a Argentina perdesse a atratividade que tinha no final do século XIX e início do XX.

“Se há um golpe de Estado volta e meia e as instituições são violadas, obviamente os investimentos começam a bambear”, disse ele.


quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Uma nova ópera dos três vinténs na Argentina - Paulo Roberto de Almeida

 Um libreto porteño, sem qualidades

Paulo Roberto de Almeida

“Argentinos aceleram compra de dólares; para Milei, peso não vale nem um “excremento”.”

A Argentina se prepara atabalhoadamente para um salto no escruro. Quem tem dólares é a classe média, que ainda sobrevive. A imensa maioria da população não os tem, e vai ficar muito mais pobre com um governo Milei, que seria o caos completo. 

Para o Brasil seria o fim do Mercosul e da possibilidade de qualquer liderança na América do Sul, menos ainda no diáfano Sul Global. Um fracasso partilhado com muitos outros vizinhos.

Para os argentinos, seria o labirinto do Minotauro sem qualquer fio de Ariadne. 

Já se pode chorar antecipadamente pela Argentina, mas isso não vale nem um ópera de três vinténs. 

Brasília, 11/10/2023

terça-feira, 3 de outubro de 2023

Argentina numa fase terminal: que venha o dilúvio (OESP)

 Escândalo no Kirchnerismo ameaça campanha de Sérgio Massa na reta final

O Estado de S. Paulo, 3/10/2023

Na reta final das campanhas para o primeiro turno das eleições na Argentina, fotos de um membro do governo aproveitando férias luxuosas na Espanha enquanto os números de pobreza do país saltam respingaram no candidato peronista Sergio Massa, que pediu publicamente sua cabeça. As imagens, publicadas se espalharam na redes sociais e fez do ministro-candidato um alvo no debate presidencial do último domingo, 1º enquanto ele luta para conseguir uma vaga no segundo turno.

 No último sábado, 30, a modelo Sofía Clerici publicou em seu Instagram fotos junto com Martín Insaurralde, kirchnerista que até então era chefe de Gabinete da província de Buenos Aires e disputava um cargo de vereador em Lomas de Zamora, uma cidade-chave da grande Buenos Aires. Nas imagens, o político aparece não apenas em um iate de luxo em Marbella, na Espanha, mas rodeado de champanhe, bolsas Louis Vuitton e relógios Rolex. Clerici chegou a apagar as imagens minutos depois, mas rapidamente elas viralizaram na rede social X (antigo Twitter). 

Poucas horas depois, Insaurralde renunciou de seu cargo e nesta segunda-feira, 2, desistiu da corrida eleitoral, a pedido de Sergio Massa, segundo os jornais argentinos. O escândalo ameaça não apenas a corrida presidencial peronista, mas coloca em xeque a vitória de Axel Kicillof na província de Buenos Aires, até então dada como certa. Os opositores de Massa logo se pronunciaram nas redes. 

“Quando os políticos dizem que a despesa pública é sagrada e que nada pode ser cortado, é porque estão se preocupando com os negócios que lhes permitem viver como monarcas”, escreveu o libertário Javier Milei. Logo em seu discurso de apresentação no debate, a candidata Myriam Bregman, do Frente de Esquerda e da Unidade dos Trabalhadores, disparou “Enquanto o povo passa fome, eles vão nos seus luxuosos iates passear pela Europa”. “Massa, explique aos argentinos como sendo o pior ministro da Economia, você pode ser presidente”, lançou Patricia Bullrich, candidata pela oposição do Juntos pela Mudança. “Como você pode se dividir em duas pessoas com tanto cinismo. 

Você aumentou 40 impostos e agora quer fazer uma lei criminal, já tem o primeiro, implique Insaurralde”. Mas analistas admitem que esperavam que o escândalo fosse mais explorado do que realmente foi no debate de ontem. Ao fim do debate presidencial, ocorrido na empobrecida província de Santiago del Estero, Massa pediu abertamente a renúncia do chefe de Gabinete de Buenos Aires: “Insaurralde cometeu um erro grave, renunciou (ao cargo no gabinete) e tem que renunciar à candidatura”. 

De acordo com o jornal argentino Clarín, nos bastidores Massa pressionou para a queda do político. “Como não quero ser utilizado para afetar o espaço político no processo eleitoral, hoje apresentei a minha demissão do cargo de Chefe de Gabinete da Província”, disse Insaurralde ao renunciar no mesmo sábado. A província em risco Com a improbabilidade de Massa vencer as eleições presidenciais, já que em um cenário de segundo turno ele perderia para Milei e para Bullrich, o peronismo aposta todas as fichas nas eleições para a província de Buenos Aires. 

E é justamente nesta eleição que o peronismo pode sofrer a sua derrota mais dramática. A chapa peronista do União pela Pátria venceu as primárias para o governo de Buenos Aires, com Axel Kicillof recebendo mais de 36% dos votos contra o Juntos pela Mudança (32,92%) pela sua reeleição. A diferença, porém, foi pequena e não seria impossível uma virada da oposição. O União pela Pátria também disputa a prefeitura da cidade de Buenos Aires, mas com menores probabilidades de vitória, já que Jorge Macri, primo de Mauricio Macri, lidera a corrida.

 A província de Buenos Aires, que tem o maior eleitorado do país, foi uma das poucas onde ganhou Sergio Massa na primárias. Para saber como este escândalo afetará o peronismo nas próximas semanas será necessário esperar a reação das próprias lideranças peronistas, defende Facundo Cruz, cientista político e coordenador geral do Instituto Pulsar da Universidade de Buenos Aires. “Sergio Massa reagiu rapidamente [ao escândalo]”, aponta Cruz. “Ontem deu declarações à imprensa sobre o que aconteceu com Insaurralde e não só aplaudiu sua renúncia à liderança de gabinete, mas foi mais longe e pediu-lhe que desistisse da lista de vereadores em Lomas de Zamora. Então já estamos vendo mais um Sergio Massa que de alguma forma busca se consolidar como o líder do peronismo e aquele que dita as diretrizes para os demais dirigentes”. Kicillof, que é próximo de Insaurralde, foi rápido em aceitar sua renúncia de sua equipe. 

Mas nas redes sociais as críticas giravam em torno da renúncia ter partido do próprio chefe de Gabinete e não uma demissão direta por Kicillof. De acordo com jornais argentinos, logo após o debate eleitoral, toda a cúpula peronista, incluindo Massa e Cristina Kirchner, se reuniram para decidir o que fazer no caso. Logo em seguida, Massa buscou se distanciar do candidato a vereador que aparece no fim de sua cédula eleitoral. Hoje, um vídeo viralizou nas redes mostrando um cartaz de Insaurralde junto o candidato peronista para a prefeitura de Lomas e Zamora sendo retirado às pressas na cidade. 

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Voltamos aos tempos da “clausura de los rios”? Argentinua continua se achando dona do pedaço…

 Um dos conflitos do Prata, no Império, foi justamente causado pela ação argentina de tentar controlar os afluentes do Rio da Prata. Voltamos a isso?

Pedágio em hidrovia coloca Brasil e Paraguai contra Argentina e gera crise 

Via é usada como caminho mais barato para transportar soja, milho e derivados Júlia Barbon BUENOS AIRES É dia 28 julho e uma embarcação de bandeira paraguaia navega pelas águas do rio Paraná levando 13.561 toneladas de soja brasileira à Argentina. Ao chegar para descarregar os grãos na cidade de San Lorenzo, a cerca de 300 km da costa, porém, o rebocador se recusa a pagar pedágio e é retido por decisão judicial.

 O barco é liberado dez dias depois, com o pagamento da tarifa, e faz emergir uma discussão que até então estava se dando abaixo da superfície: a imposição de uma taxa pela Argentina, desde janeiro, a quem passar por um trecho da hidrovia Paraguai-Paraná, que corta cinco países ligando o Mato Grosso ao rio da Prata. Sem que se conseguisse um acordo na instância técnica nos últimos dez meses, o assunto foi parar nos gabinetes políticos, escalando na semana passada para trocas de acusações públicas e até retaliações práticas entre Argentina e Paraguai. Este último chegou a suspender a venda de energia aos argentinos, que tiveram que recorrer às usinas brasileiras, mais caras. 

 A tensão subiu em toda a região, gerando um cenário de quatro contra um: Brasil, Bolívia e Uruguai se juntaram ao coro paraguaio para pedir que os vizinhos retirem o pedágio até que a questão seja resolvida. Enquanto isso, os países já iniciaram os trâmites para uma possível arbitragem internacional, o que é visto como um retrocesso para a integração regional tão almejada pelo presidente Lula. 

 A hidrovia em debate, com 3.442 km de extensão, é gerida de forma conjunta entre essas nações desde o fim da década de 1980, servindo de caminho mais barato para soja, milho e derivados, além de combustíveis, fertilizantes e minério de ferro. A via é especialmente importante para o Paraguai, que não tem ligação com o mar, então depende dela para transportar quase 80% do seu comércio exterior, e tem a terceira maior frota de embarcações do mundo. 

 Os quatro países criticam principalmente dois pontos: primeiro, dizem que a Argentina impôs o pedágio —de US$ 1,47 ou R$ 7 por tonelada— de forma unilateral e arbitrária, o que vai contra os tratados que preveem uma decisão em conjunto. Depois, reclamam que, ao reter os barcos, a nação restringiu a liberdade de navegação de bens estratégicos, novamente indo contra os acordos vigentes. "No entendimento do Brasil, da Bolívia, do Paraguai e do Uruguai, o governo argentino não foi capaz de demonstrar, até o momento, que o pedágio constitui ressarcimento de serviços efetivamente prestados na hidrovia, condição prevista no acordo para qualquer cobrança", afirmou o Itamaraty à Folha. O Paraguai disse que não seria possível indicar porta-voz. 

 A Argentina argumenta que a taxa é uma compensação por melhorias estruturais feitas no rio nos últimos 13 anos e insinua que a situação escalou pelo lado paraguaio, que estaria agindo por pressão do empresariado local. Procurada, a Casa Rosada afirmou que está respeitando o acordo de não dar declarações sobre o assunto e que o ambiente das negociações tem sido positivo. 

 O tom começou a subir em 24 de agosto, após o ministro da Economia e candidato presidencial argentino, Sergio Massa, fazer uma escala em Assunção para conversar com o presidente recém-empossado Santiago Peña. Eles posaram juntos para a foto, mas horas depois o Ministério de Relações Exteriores paraguaio criticou a Argentina nas redes sociais por não ter cumprido o suposto combinado de retirar o pedágio. 

Diego Giuliano, ministro dos Transportes argentino, respondeu no post que lamentava "que o conteúdo de uma reunião tão frutífera tenha sido distorcido". "Não sei se é falta de comunicação, acredito que são momentos distintos. No caso do Paraguai é muito claro: quando dizemos algo, se cumpre", alfinetou Peña a jornalistas no dia seguinte. "Nós não negamos a opção de cobrança [...], mas não podemos cobrar unilateralmente, deve ser um acordo entre os cinco países", adicionou.

O marco da escalada do conflito, então, ocorreu no último dia 6, quando uma segunda embarcação paraguaia foi parada em Zárate, cidade a 90 km de Buenos Aires, após também se negar a quitar o pedágio por transportar diesel paraguaio ao próprio Paraguai. Ela só foi liberada cinco dias depois, após pagar uma taxa. Enquanto isso, as farpas se transformaram em ações concretas: no dia 8, Peña decidiu parar de vender o excedente de energia produzido pela hidrelétrica Yacyretá, compartilhada entre os dois países, acusando a Argentina de não pagar uma dívida antiga —do outro lado, os argentinos também reclamam um passivo histórico menor pela construção da represa. "A decisão de retirar 100% da energia disponível para o Paraguai foi intencional, e a Argentina teve que comprar energia do Brasil a um custo mais alto. Fizemos grandes esforços para recompor a relação [...], mas os atrasos significativos com o Paraguai persistem", disse o presidente Peña ao jornal argentino La Nación no dia 10, depois negando uma relação com o assunto do pedágio. 

 Na mesma noite, os quatro países divulgaram uma nota pedindo que a Argentina suspenda a taxa e garanta a livre navegação até que se resolva o impasse, o que não foi feito até agora. No dia seguinte, uma delegação ligada a Massa viajou a Assunção para reduzir a tensão. Indicou-se que os dois lados concordaram com o direito de cobrar pedágio, mas ainda sem saber quanto nem como. Achamos que US$ 1,47 é um valor excessivo, os cerealistas calculam que deveria ser de US$ 0,66 [ou R$ 3,20]. 

Dependendo da carga, isso encarece em até 10% o valor do frete, e quem acaba pagando é a população em geral quando compra produtos importados", diz Raúl Valdez, presidente do Centro de Armadores Fluviais e Marítimos do Paraguai (Cafym). Ele diz que os pedágios pagos desde janeiro somam cerca de US$ 50 milhões, o dobro dos US$ 25 milhões que a Argentina afirma ter gasto com melhorias na hidrovia —o país não respondeu sobre as cifras. "Reconhecemos os investimentos e a necessidade do pedágio, mas as dragagens e sinalizações feitas até aqui não se traduziram em mais eficiência e segurança. 

É preciso trabalhar juntos, nós sabemos o que tem que ser feito." Agora, iniciaram-se as reuniões técnicas para decidir o valor e a forma de pagamento, além de debater a situação da hidrelétrica de Yacyretá. Se os dois lados não chegarem a um acordo, o caso deve passar à arbitragem internacional, como indicou Peña. O chanceler paraguaio Rubén Ramírez também chegou a dizer que acionou o Tribunal Permanente de Revisão do Mercosul.

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Quatro países da Bacia do Prata contra medidas unilaterais da Argentina de taxação de passagem de navios

 Ministério das Relações Exteriores

Assessoria Especial de Comunicação Social 

Nota nº 384

10 de setembro de 2023

 

 

Comunicado sobre o Transporte Fluvial pela Hidrovia Paraguai-Paraná relativo às medidas restritivas de navegação impostas pela República Argentina
 

Os Governos de Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai lamentam as medidas impostas pela República Argentina que restringem a navegação na Hidrovia Paraguai-Paraná a partir da aplicação de uma taxa unilateral e arbitrariamente estabelecida à margem do Acordo de Santa Cruz de la Sierra e de outras disposições regulamentares internacionais vigentes.

Observam que, apesar das objeções apresentadas pelos quatro Governos no âmbito intergovernamental da Hidrovia, a República Argentina continua promovendo medidas dessa natureza, o que, neste caso, resultou em uma ordem de embargo e proibição de saída de uma barcaça carregada e pronta para zarpar, com base na pretensão de cobrança da referida taxa.

Expressam preocupação especial pelo fato de se tratar de uma restrição à liberdade de trânsito de bens estratégicos e sensíveis para um país signatário que tem comprometido o abastecimento de combustível e que pode afetar o preço desse insumo, o que representa uma séria medida que agrava a vulnerabilidade desse Estado devido à sua condição de país sem litoral.

Ao destacar a importância de unir esforços para facilitar o transporte comercial, promover o desenvolvimento e a eficiência da navegação, bem como a institucionalidade do sistema da Hidrovia Paraguai-Paraná, os Governos da Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai reiteram seu pedido à República Argentina para suspender a aplicação das resoluções 625/2022 e 1023/2022 do Ministério dos Transportes, adotar as medidas necessárias para garantir a liberdade de navegação e trânsito e abster-se de aplicar outras medidas restritivas à navegação até que a controvérsia seja resolvida no âmbito intergovernamental da Hidrovia.

Assunção, 10 de setembro de 2023

 

 

domingo, 3 de setembro de 2023

¿Puede Javier Milei ganar las elecciones en primera vuelta? - Raúl Kollmann (El País)

¿Puede Javier Milei ganar las elecciones en primera vuelta? El veredicto de los encuestadores

El País, 3/09/2023

La posibilidad de que Javier Milei gane en primera vuelta, sin ballotage, no fue descartada por los encuestadores consultados por Página/12, aunque la mayoría lo ve muy improbable.

Facundo Nejamkis, de Opina Argentina, sostiene que “luego de la confirmación del escenario de tres tercios, corresponde analizar cuál de ellos es el que más chances tiene de crecimiento. Si analizamos la falta de legitimidad del sistema político en su conjunto, si a eso le agregamos la voluntad de cambio que una mayoría clara expresa en las encuestas y si por último vemos el cambio de expectativas a favor de Milei, uno tiende a pensar que es el que que más chances tiene de crecer. Los límites que presentan las candidaturas de Massa (por oficialismo) y de Bullrich (por parecido de familia con Milei) confirman estas especulaciones. Como Milei ahora es el centro de gravedad del sistema político, solo resta saber cómo afecta eso a los votantes que, por miedo, pueden llegar a movilizarse en contra del candidato libertario. A su favor le juega que este factor miedo o de rechazo suele ser más desequilibrante cuando este tipo de políticos tienen o han tenido un paso por el poder. Solo restan dilucidar dos interrogantes principales. Primero: qué ocurrirá con los votantes que voten en octubre y no lo hicieron en las PASO. Segundo: hasta dónde puede llegar ese crecimiento de Milei y si es posible que tengamos un desenlace sin pasar por la segunda vuelta".

 Marina Acosta, de Analogías, se refiere específicamente a la posibilidad de que Milei gane en primera vuelta. Lo ve improbable. “En estos momentos estamos observando un escenario de balotaje entre la ultraderecha y el oficialismo. Esto es, estimamos improbable que Milei pueda imponerse en primera vuelta ya sea porque logre el 45 por ciento de los votos afirmativos o porque alcance el 40 por ciento de los votos y saque una diferencia porcentual mayor a 10 puntos respecto de la fórmula que le sigue. El principal movimiento del desplazamiento del voto que estamos notando es el que se está dando desde Juntos por el Cambio hacia Milei. Vemos a una ciudadanía expectante por los movimientos de las distintas fuerzas políticas, en un contexto de crisis de UxP y JxC, las dos coaliciones predominantes”.

Campaña con vacíos

Prácticamente todos los consultores perciben una enorme debilidad en las campañas que se están haciendo.

Santiago Giorgetta de Proyección lo formula así. “Bullrich está muy desorientada. El crecimiento de Milei es inevitable. Massa tiene que buscar el 33 o 34 por ciento de los votos y tal vez las medidas lanzadas van en esa dirección: apuntalar a una mayoría, en especial a los sectores de menos recursos que perdieron poder de salario. UxP tiene que recuperar en esa franja, sí o sí”.

Timerman es aún más duro. “El tema es que Milei hasta ahora había sido el único que presentaba propuestas. Apareció esta semana una lista de propuestas de Bullrich-Melconian. Pero no existen las propuestas de Sergio Massa. Y en las elecciones, si no hay promesas, no hay campaña, dice un viejo slogan norteamericano. Si no hay promesa, no hay campaña. Y por ahora no sabemos cómo va a ser la República Argentina si Sergio Massa es presidente”.

“Los tres candidatos está modificando el discurso -sostiene Analía Del Franco-. Milei empezó a moderarse. Habla poco de dolarización, Banco Central o venta de órganos. No impacta en su electorado, pero sí en los nuevos votantes que puede captar. Bullrich recurrió a Melconian, porque la cuestión económica era de gran debilidad. Massa por ahora transita su posición de ministro y presentador de acciones de gobierno. No aparece la propuesta. Igual creo que es el que mejor actúa y trabaja y canaliza a los que tienen miedo al crecimiento de Milei”