O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

Mostrando postagens com marcador Banco dos Brics. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Banco dos Brics. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Banco do Brics: primeiros emprestimos; Brasil pegou 300 milhoes...

Novo Banco dos Brics aprova primeiro pacote de créditos

Gazeta Russa, 18 de abril de 2016 Maria Azálina, Gazeta Russa
Projeto do Brasil terá maior fatia entre os do setor energético, de 300 milhões de dólares
Ilustração: Niyaz Karim
Porjetos para energia verde e renovável evitarão a emissão de 4 milhões de toneladas de emissões nocivas anualmente.
O conselho de diretores do Novo Banco de Desenvolvimento dos Brics aprovou o primeiro pacote de créditos, que soma um total de 811 milhões de dólares para projetos no setor energético, de acordo com a agência de notícias Ria Nôvosti.
Os projetos foram apresentados no encontro paralelo, em Washington, do banco na sessão do segundo trimestre de 2016 dos órgãos dirigentes do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional.
No total, o banco aprovou o financiamento de quatro projetos de investimento para a produção de uma potência de 2,37 megawatts. O Brasil receberá 300 milhões de dólares, a China, 81 milhões, a Índia, 250 milhões, e a África do Sul, 180 milhões.
De acordo com a instituição, junto, os projetos no setor de energia verde e renovável ajudarão a evitar a produção de 4 milhões de toneladas de emissões nocivas anualmente.
O ministro das Finanças da Rússia, Anton Siluanov, disse anteriormente que cada país do Brics estava representado por um projeto. O projeto de investimentos russo para produção de baixo porte na Carélia também está em desenvolvimento avançado, segundo Siluanov, mas ainda não foi apresentado no conselho de dirigentes.
O acordo de criação do Novo Banco com um fundo de reservas monetárias de 100 bilhões de dólares foi assinado em 7 de julho de 2015 por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Originalmente publicado pelo portal Lenta.Ru.

sábado, 12 de março de 2016

Banco de "desenvolvimento" do BRICS: um grande negocio para a China - James T. Areddy (WSJ)

Uau! Um banco MULTILATERAL que depende de UM SÓ país? Nem os EUA, nos tempos gloriosos e exorbitantes do dólar-rei dispuseram de tamanho poder exclusivo nas instituições de Bretton Woods, FMI e Banco Mundial, pois sempre tiveram de dividir as responsabilidades pelas decisões com seus principais parceiros (notadamente os europeus e japoneses). Agora, os quatro outros membros do BRICS dependem da China, e só da China, para todas as operações que desejarem empreender, seja financiamento de infraestrutura em países em desenvolvimento (para maior benefício de construtoras chinesas, com a legitimidade de um selo "multilateral"), seja para emissão de seus próprios títulos a partir do NDB. Que o governo companheiro tenha concordado em colocar algumas centenas de milhões de dólares nesse empreendimento, a pretexto de "alavancar" suas próprias iniciativas nas duas vertentes (ou seja, retirar mais do que colocaram), não impede que toda a iniciativa é uma grande vitória para a China, e o Brasil dos companheiros, mais uma vez, coloca a azeitona na empada dos outros.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 12 de março de 2016

Novo banco do Brics depende do mercado chinês

Homem passa diante de propaganda promovendo o yuan. A China é essencial para as tentativas dos mercados emergentes de criar novas estratégias financeiras globais. 
Homem passa diante de propaganda promovendo o yuan. A China é essencial para as tentativas dos mercados emergentes de criar novas estratégias financeiras globais. Photo: Reuters
Quando os líderes de cinco das economias de crescimento mais rápido do mundo se reuniram numa conferência, há quatro anos, concluíram que um banco de desenvolvimento daria a eles mais voz nas questões financeiras internacionais. Agora, muitas dessas economias estão em apuros, e os planos imediatos do banco dependem da China.
O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), a instituição recém-criada pelos países que formam o grupo chamado Brics — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — está esperando a aprovação de reguladores chineses para emitir cerca de US$ 1 bilhão de títulos de longo prazo em yuan, disse ontem o presidente do banco, K.V. Kamath, ao The Wall Street Journal.
A decisão chinesa ajudará a determinar quando o banco poderá começar a emprestar. O conselho da instituição vai começar a analisar propostas a partir de abril.
Um projeto possível é uma usina hidrelétrica no oeste da Rússia, parte dos planos do banco de se concentrar em projetos de energia renovável.
Ele pretende emprestar para a África do Sul em rand, a moeda local, para limitar a exposição do país a possíveis oscilações do dólar. Dirigentes do banco dizem que os desembolsos podem chegar a US$ 2 bilhões neste ano e mais do que triplicar em 2017.
O mercado chinês de títulos de dívida é maior que os dos demais países e, teoricamente, mais favorável ao banco porque ele já obteve uma nota de crédito AAA no país, o que reduziria o custo de suas captações.
Mas os empréstimos no mercado de dívida interbancária do país são altamente regulados.
“Certamente, captar recursos na China é uma oportunidade”, diz Kamath. “Esperamos, nas próximas seis a oito semanas, conseguir realizar nossa primeira emissão de títulos na China.” Ele acrescentou que nenhum outro mercado de dívida parece viável no momento.
ENLARGE
O Novo Banco de Desenvolvimento, que vai funcionar como um mini-Banco Mundial para os países do Brics, ilustra os esforços dos países emergentes, principalmente a China, para conceber novas instituições financeiras internacionais que atendam a seus interesses. O banco nasceu numa conferência realizada na Índia em 2012.
Num comunicado, os líderes do Brics expressaram frustração com sua limitada “voz e representação” nos fóruns globais, dado o tamanho de suas economias, que na época cresciam a uma média de mais de 5% ao ano.
Desde então, a queda dos preços das commodities levou o Brasil e a Rússia à recessão e enfraqueceu a África do Sul, enquanto a China atravessa uma desaceleração dolorosa. Do grupo, apenas a Índia deve registrar um crescimento mais rápido neste ano do que quando o banco foi concebido.
O FMI prevê um crescimento médio de 2% neste ano para os países do Brics.
O NBD deve começar a operar em um momento delicado. O rebaixamento da dívida soberana de alguns de seus países-membros, inclusive o Brasil, pode elevar o custo dos empréstimos para o banco nos mercados internacionais. E a desaceleração do crescimento torna ainda mais arriscados os projetos de infraestrutura de baixo retorno que os bancos de desenvolvimento costumam financiar.
Kamath disse que as economias permanecem dinâmicas e ainda precisam de financiamento para se desenvolver. “Elas podem estar desacelerando, mas, juntas, contribuem mais para o crescimento que o resto do sistema”, disse ele.
A China é essencial para as tentativas dos mercados emergentes de criar novas estratégias financeiras globais. O país também é patrocinador de outro banco de desenvolvimento recém-lançado: o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura.



terça-feira, 21 de julho de 2015

Banco dos Brics: concorrencia saudavel ou capitalismo estatal de compadres?

Se o novo banco plurilateral -- de cinco países altamente desiguais, com políticas econômicas divergentes -- representar um acréscimo ao que vem sendo feito pelos demais bancos multilaterais, no sentido de examinar cuidadosamente, com base em estudos técnicos independentes, cada novo projeto de infraestrutura a ser implementado nos países em desenvolvimento, segundo critérios de mercados e obedecendo a análises de custo-benefício e de retorno dos investimento, então ele poderá ser algo útil no panorama dos bancos multilaterais. Mas a verdade é que atualmente os mercados de capitais de investimento e de financiamento, em bases de mercado, se tornaram muito mais importantes do que essas burocracias pesadas, que, por vezes, se deixam embalar por interesses políticos oportunistas, quando não pela corrupção pura e simples, que penetra, inclusive, as instituições multilaterais mais sólidas.
Mas, se ele se deixar levar pelo canto de sereia de capitalistas promíscuos, de burocratas corruptos, e de políticos idem, financiando projetos mal concebidos, custosos e sem retorno definido, então ele vai continuar a história sumamente infeliz dos últimos 60 anos de ajuda ao desenvolvimento e de cooperação Norte-Sul, ainda que ele se pretenda Sul-Sul (o que não quer dizer que seja melhor do que um banco de e para países desenvolvidos).
Tenho minhas sinceras dúvidas, conhecendo a maneira de fazer negócios dos chineses, sobretudo na África, e as tendências inerentemente corruptas das empresas estatais e das burocracias dos países membros, sobretudo quando guiados por lideranças que desprezam determinados princípios e valores, prevejo que será mais um banco, a promover negócios aqui e ali, sem realmente contribuir para o atingimento de seus objetivos estatutários, que aliás são sempre definidos no linguajar politicamente correto de todos os governos atualmente.
Os dois economistas citados na matéria do Shanghai Daily parece exibir uma ingenuidade ilusória e totalmente inadequada a pessoas que lidam com a análise econômica:
" Joseph Stiglitz and Nicholas Stern congratulated the bank on its launch and said they hoped it would help address some “central problems” of modern society concerning wealth distribution, climate change and environmental protection."
Bem, se for assim, o banco já começa mal.
Banco é para atuar no mercado de capitais, fazendo a ponte entre a oferta e a demanda de capitais, só isso, ponto e nada mais. Se ele pretende atuar na "distribuição de renda" já começa mal, pois esta não é uma função de bancos, que não criam riqueza, apenas circulam a riqueza. Ele pode até emprestar mais recursos para os pobres e é para isso que ele existe, mas esse dinheiro é apenas um meio para criar riqueza -- desde que aplicado ou investidos racionalmente -- não sendo ele mesmo riqueza nova. O dinheiro saiu de algum lugar antes de ser aplicado ou emprestado.
Tampouco deve ele atuar em mudança climática: essa é uma agenda ideológica, politicamente correta, que tem pouco a ver com as funções de um banco. O mesmo se aplica à tal de proteção ambiental, o que é puro bullshit politicamente correto.
Banco é feito para emprestar dinheiro com alguma, ou total, perspectiva de retorno, ponto, apenas, isto. Pretender que ele seja agente de justiça social, distribuindo riquezas, é uma grande ilusão.
Então, minhas saudações ao novo banco, mas não acho que ele era indispensável nem de uma necessidade absoluta.
Vamos ver...
Paulo Roberto de Almeida

BRICS’ new bank open for business


OFFICIALS from China and several of the world’s other largest developing nations launched the New Development Bank in Shanghai yesterday.
At the opening ceremony, Chinese Finance Minister Lou Jiwei said the bank will encourage all-inclusive cooperation among developing countries, led by the BRICS nations of Brazil, Russia, India, China and South Africa.
“It is to meet the urgent demand of such countries in infrastructure construction and beyond,” Lou said, adding that it will complement the existing international banking system, rather than challenge it.
KV Kamath, the bank’s president, said he is confident it will deliver people’s expectations.
“We have seen countries closely cooperating, and we hope to collaborate with like-minded institutions like the Asian Infrastructure Investment Bank,” Kamath said. “We will listen carefully to our members and try to offer tailor-made services.”
Shanghai Mayor Yang Xiong said the city will do its best to facilitate growth of the new bank, which may in turn bolster the city’s development.
A BRICS bank was first suggested by economists Nicholas Stern and Joseph Stiglitz in 2011, and the five countries signed an agreement last year which said the bank’s purpose is to “mobilize resources for infrastructure and sustainable development projects in BRICS and other emerging economies and developing countries, complementing the existing efforts of multilateral and regional financial institutions for global growth and development.”
In a video message screened at yesterday’s ceremony, Stiglitz and Stern congratulated the bank on its launch and said they hoped it would help address some “central problems” of modern society concerning wealth distribution, climate change and environmental protection.
The bank, headquartered in Shanghai, will have initial authorized capital of US$100 billion, and its initial subscribed capital of US$50 billion will be shared equally among the five founding members.
In a statement issued yesterday, Jim Yong Kim, president of the World Bank Group, said he was committed to working closely with the bank and other multilateral institutions and offered to share knowledge and to co-finance infrastructure projects.
“These types of partnerships will be essential to reach our common goals to end extreme poverty by 2030, boost shared prosperity, and to reduce inequalities,” Kim said.
The new bank, as well as the AIIB set up earlier this year, aims to address the world’s huge infrastructure needs, which are estimated to have an annual gap of US$1 trillion to US1.5 trillion in emerging markets and low-income countries.
Asian Development Bank President Takehiko Nakao also issued a statement yesterday saying his bank “looks forward to working with this new member of the global family of multilateral development banks in areas of common interest in Asia and Pacific.”
The BRICS economies have fueled more than half of the world’s economic growth over the past decade and are carrying out structural reforms to create balanced, sustainable growth in order to unlock domestic demand.
Economic ties have improved within the BRICS framework over the past six years since the bloc’s first summit. Trade among BRICS nations in 2013 totaled US$350 billion, 2.5 times the value six years ago. China is now the largest trading partner of Brazil, Russia and South Africa, and India’s second-largest trading partner.
At the end of last year, China’s accumulative investment in the other four countries exceeded US$55 billion.
The five nations, with 42.6 percent of the world’s population and roughly a third of the world’s land area, have a combined GDP of about a fifth of the global total.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Banco dos Brics confirma a hegemonia do dolar: ironia pura?

Eu não consigo ler esse tipo de material sem um sorriso condescendente. Que me perdoem meus colegas engajados nesse exercício determinado pelos companheiros esquizofrênicos, mas a tentativa de explicar que estão fazendo algo diferente do que existe nas entidades do capitalismo hegemônico inaugurado em Bretton Woods me parece patética.
Claro que podem fazer algo de diferente: e será pior.
Como essa coisa, por exemplo de fazer empréstimos em outros moedas.
Como tudo tem de ser contabilizado em dólar, para que o trabalho? Só para assumir o risco do câmbio e criar mais custos administrativos e intermediações burocráticas?
Sinto muito, mas eu prefiro sorrir, a ter de chamar certas coisas pelo nome certo.
Tenha pena de ver alguém dotado intelectualmente se prestar a esse papel.
Paulo Roberto de Almeida

Negociador brasileiro explica como vai funcionar o Novo Banco de Desenvolvimento, o banco dos BRICS
Isaías Dalle, de Fortaleza
Rebrip, 16/07/2014

Carlos Márcio Bicalho Cozendey, ao centro, respondeu questões dos movimentos sociais sobre funcionamento do banco dos BRICS

O nome escolhido para a instituição financeira criada pelos BRICS é Novo Banco de Desenvolvimento. Já tem slogan: “Um Novo Banco para um Novo Desenvolvimento”. A informação foi dada na manhã desta quarta, dia 16, pelo embaixador Carlos Márcio Bicalho Cozendey, o principal negociador brasileiro durante o processo de criação do banco.

Curiosamente, essa foi a única informação que ninguém havia pedido. O embaixador esteve em debate promovido pela Rebrip (Rede Brasileira pela Integração dos Povos), em Fortaleza (CE), quando foi questionado sobre como o novo banco vai funcionar e se será, de fato, uma alternativa ao modelo financeiro internacional existente.

Ele diz que o banco pode, no longo prazo, produzir mudanças no sistema financeiro tradicional. “Mas que não se espere que isso vá ocorrer logo no primeiro dia”.

O banco terá um capital inicial de US$ 50 bilhões.

A seguir, os principais pontos explicados por Cozendey:

A China vai mandar no novo banco?

A sede será em Xangai. Cozendey explica que os cinco países terão cotas iguais (20%), ou seja, nenhum sócio será formalmente maior que o outro. Para equilibrar o processo decisório, a China será o último a presidir o banco. Primeira presidência caberá a Índia, depois, na sequência, Brasil, África do Sul e Rússia. O embaixador informa também que haverá um centro, uma espécie de subsede, na África do Sul. “A melhor solução para todos os pontos que precisaremos definir daqui para frente é que as vozes dos acionistas sejam devidamente ouvidas”.

O banco vai se financiar com recursos do sistema financeiro tradicional?

“Não há dois mercados financeiros oficiais no mundo. Então, vamos ter de recorrer ao único que existe. Então, vamos fazer captação de recursos globalmente. Vamos ter de decidir, caso a caso, se queremos, por exemplo, nos capitalizar com bônus dos EUA, por exemplo”, diz

O sistema financeiro vai ditar as regras do banco?

“Ninguém quer ser sancionado pelo mercado dos EUA, por exemplo. Por isso, nossas operações terão, inicialmente, de considerar a lógica atual. Mas, sem dúvida, pelo nosso peso, teremos um poder de negociação junto ao mercado muito maior (...) Temos um potencial futuro de mudar o sistema financeiro, fazendo com novas práticas que até organismos como Banco Mundial e FMI mudem. Mas sem ilusão de que no primeiro dia tudo vai ser diferente”.

O banco vai poder realizar empréstimos e investimentos em outras moedas que não o dólar?

“Prevemos que vamos trabalhar com outras moedas. Depende de onde será o investimento. Se for no Brasil, por exemplo, podemos usar o real. O problema é que essas moedas, por causa das regras atuais, não são conversíveis no mercado internacional, o que é prevalência do dólar. Mas quando pudermos, vamos usar outras moedas em transações multilaterais”.

Só os cinco países poderão aderir ao banco?

“Só os cinco serão acionistas com direito a voto. Caso outros países queiram aderir, vamos sempre manter 55% do capital”.

Os empréstimos serão dirigidos apenas aos cinco países?

“Pretendemos cooperar com outros países em desenvolvimento”.

O banco vai impor condicionantes ambientais, sociais e trabalhistas aos empréstimos?

“Há uma fronteira tênue entre dar à instituição o poder de condicionar os empréstimos a certas exigências e não permitir que essa mesma instituição possa interferir na política interna dos países. Estes dois lados não são facilmente separáveis. A melhor solução aí é que as vozes dos acionistas sejam devidamente ouvidas (...) O Brasil vai defender sempre que as entidades da sociedade civil sejam ouvidas e consultadas, e que tenham poder propositivo. Daí a importância de os movimentos sociais pressionarem e proporem. Eu digo que o Brasil, independentemente dos demais, vai dialogar com os movimentos no âmbito do banco”.

Quais critérios serão usados para financiar empreendimentos e ao mesmo tempo considerar o meio ambiente?

“Nossa referência, e aí digo pelo banco como um todo, será a Rio + 20”.

A criação do banco vai livrar os países de órgãos como FMI e Banco Mundial?

“Continuaremos associados ao Banco Mundial e ao FMI. Mas cremos que com o tempo, nossa menor dependência e a construção de novas políticas levem os outros a caminhar em uma nova direção”.

Os BRICS também anunciaram a criação de um fundo de socorro aos países-membros. Isso dispensará a existência do FMI?

“Não está no horizonte de nenhum dos cinco países a necessidade de recorrer ao FMI. Mas na hipótese de isso ocorrer, esse fundo emprestará 30% do total que o país precisa, com condições diferenciadas. O restante terá de ser buscado no FMI. Mas esses 30% servirão como um colchão que dará ao país um outro poder de negociação com o FMI”.

domingo, 27 de julho de 2014

Banco dos Brics: brincando com o dinheiro dos contribuintes - Gustavo Franco

Nunca antes no país irresponsáveis totalitários foram tão irresponsáveis com o meu, com o seu, com o nosso dinheiro...
Paulo Roberto de Almeida 




Dida Sampaio/Estadão
Gustavo H.B. Franco - O Estado de S.Paulo
Seguindo-se à Copa do Mundo, em Fortaleza, o governo brasileiro resolveu comprometer até US$ 38 bilhões em uma iniciativa diplomática cujos supostos benefícios se parecem, na sua subjetividade, com os da própria Copa. Os custos, porém, são muito concretos: o equivalente a 114 estádios (ao custo unitário de US$ 0,33 bilhão), ou dois trens-bala, em dinheiro inexistente, o que indica algo entre a indiferença e o desprezo pelo contribuinte brasileiro. 
Presidentes se reúnem no Palácio do Itamaraty durante VI Cúpula dos BRICS
Presidentes se reúnem no Palácio do Itamaraty durante VI Cúpula dos BRICS
DIDA SAMPAIO/Estadão
Trata-se do banco do Brics, um banco de fomento, que receberia duas chamadas de capital, ambas de US$ 50 bilhões, a primeira já, e cabendo a cada sócio 20% da subscrição. O banco seria também o administrador de um fundo de liquidez de até US$ 100 bilhões dos quais caberia ao Brasil contribuir com o equivalente a 18% do total, tal como Rússia e Índia. Os porcentuais para a China e para a África do Sul seriam de 41% e 5%, respectivamente.

Tudo somado, US$ 38 bilhões, a maior parte a desembolsar depois de terminado o mandato de Dilma Rousseff.

Como é possível comprometer tanto dinheiro no final de uma administração em um projeto que reflete opções muito particulares e partidárias de política fiscal e de diplomacia econômica?

De onde saem os US$ 38 bilhões e em detrimento de que outras prioridades? Como será usado esse dinheiro?

Como não existem respostas para as primeiras duas perguntas (sobre as quais os órgãos de controle do setor público deveriam se debruçar), o texto que se segue trata apenas da última.

O Brasil participa de diversos bancos de desenvolvimento multilaterais, e em todos eles prevalece uma espécie de regra de ouro segundo a qual o capital colocado pelo Brasil precisa ser alocado em projetos de interesse do Brasil, sendo esta uma contabilidade que os funcionários brasileiros nessas instituições zelam para que seja cumprida à risca, ou com sobra. Já passamos da fase onde o País recebia mais do que aportava, como é típico dos países pobres, mas ainda não estamos na categoria dos ricos que conscientemente aceitam receber em empréstimos menos do que contribuem, e que se esmeram na definição das condições associadas ao uso dos recursos abrangendo impactos sociais e ambientais, e mesmo precauções contra a corrupção.

No caso em tela, onde o banco de desenvolvimento é formado por cinco países de renda média, a tendência será a formação de cinco balcões segregados, cada qual falando o próprio idioma e cuidando dos próprios negócios. O assunto fica mais politizado, mas não muito diferente, se o banco for operar em outros países, pois cada sócio vai criar a própria clientela, sabe-se lá com que critérios.

A prevalecer esta compartimentalização, o leitor estará correto em pensar que, para tratar do nosso pedaço, já temos o BNDES. Em vez de uma nova sede, bastava mais uma sala na Avenida Chile e um contrato de terceirização, com isso evitando boa parte dos custos administrativos e do aprendizado do novo veículo.

Entretanto, essa solução engenhosa e econômica resulta em criar um pequeno monstro: um canal de transferências regulares entre o Tesouro e o BNDES, que transitariam pelo novo banco só num relance contábil. Seria uma espécie de aprofundamento do modelo de "conta movimento" desenvolvida nos últimos anos, agora apensado a uma obrigação internacional. É mais um prego no caixão do equilíbrio fiscal, uma marca desse governo.

É verdade que os bancos de desenvolvimento podem ir além dos limites do próprio capital captando recursos em mercado a custos inferiores do que alguns de seus sócios seriam capazes de obter em captações individuais. Mas são poucos os que conseguem: o Banco Mundial, assim como a Corporação Andina de Fomento emitem instrumentos de dívida com muito sucesso há muitos anos, pois mantêm uma estrutura de capital conservadora e um histórico honrado de financiamentos a projetos com bons retornos e boas parcerias, inclusive com outros bancos de desenvolvimento.

Quanto tempo e quantos bilhões serão necessários até o banco do Brics chegar a esse amadurecimento? Com cinco sócios que pouco se conhecem, e com agendas tão diferentes, não seria mais plausível imaginar que a construção seja longa e dispendiosa, e talvez não chegue a lugar algum? E o risco de captura pelas agendas imperialistas de Rússia e China?

Outro assunto é o fundo para oferecer liquidez em bases temporárias a membros do grupo, ou a seus amigos. É fácil especular sobre esses assuntos quando todos estão com reservas sobrando, mas não vamos nos iludir que haja alguma ideia nova no arranjo. Desde a Conferência de Bretton Woods em 1944, quando o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) foram criados, algumas das melhores cabeças desse planeta estão matutando sobre a organização de mecanismos estabilizadores para a economia global, e já há muita experiência acumulada, em várias direções, a partir da atuação do FMI.

O conceito básico aqui é simples: os empréstimos do FMI têm a natureza de um "redesconto bancário", ao passo que o fomento cabe ao Banco Mundial. A missão do FMI é ofertar reservas internacionais emprestadas por prazos curtos para países com dificuldades temporárias de balanço de pagamentos, a custos que não precisam ser especialmente punitivos, mas cujo uso deve ser caro a ponto de estimular o mutuário a não praticar as condutas que levam à necessidade de utilizar esses recursos. A missão do FMI é ajudar a restaurar o equilíbrio externo dos participantes da economia global, mas sem incentivar o desequilíbrio. A rede de proteção permite que o trapezista faça manobras mais ousadas, ou seja, cria um problema conceitual nada simples e para o qual não existe ainda uma bala de prata.

A ideia de um novo fundo para complementar a atuação e os recursos do FMI é bem vinda, mas ociosa, pois nada impede que cada um dos países do Brics participe dos pacotes de financiamento que o FMI organiza. Não há muita clareza sobre esse tópico, mas volta e meia aparece a ideia que o novo fundo poderia "competir" com o FMI e montar programas alternativos de apoio em "outras bases", o que apenas pode ser tomado como um bom roteiro para um romance de ficção científica, onde o contribuinte morre no fim.

Afastados esses delírios, fica a impressão de que, independentemente do que vai acontecer com o novo banco, a cooperação Sul-Sul teve aqui uma epifania, e quem pensava que a política externa era apenas uma diversão barata há de ter se surpreendido.

Nada é definitivo, felizmente, e se a hesitação em assinar cheques mostrar-se, uma vez mais, proporcional aos desentendimentos esperados entre os países do Brics, o desfecho provável desse minueto será alguma solução barata e que preserve os "ganhos conceituais", esta é a linguagem diplomática para as ideias que não voam.

domingo, 20 de julho de 2014

O Banco dos Brics, visto desde Washington - Raj M. Desai, James Raymond Vreeland (WP)

What the new bank of BRICS is all about
By Raj M. Desai and James Raymond Vreeland
The Washington Post, July 17, 2014

Leaders of the BRICS nations, from left, Russia’s President Vladimir Putin, India’s Prime Minister Narendra Modi, Brazil’s President Dilma Rousseff, China’s President Xi Jinping and South Africa’s President Jacob Zuma, pose for a group photo during the BRICS summit in Fortaleza, Brazil, Tuesday, July 15, 2014 (Silvia Izquierdo/Associated Press).
As World Cup fever recedes, this week in Fortaleza heads of state from Brazil, Russia, India, China, and South Africa (the so-called BRICS countries) agreed to establish a New Development Bank (NDB) at their summit meeting. They will have a president (an Indian for the first six years), a Board of Governors Chair (a Russian), a Board of Directors Chair (a Brazilian), and a headquarters (in Shanghai). What is the purpose of this BRICS bank? Why have these countries created it now? And, what implications does it have for the global development-finance landscape?

The “what” is relatively straightforward. The NDB has been given $50 billion in initial capital. As with similar initiatives in other regions (see below), the BRICS bank appears to work on an equal-share voting basis, with each of the five signatories contributing $10 billion. The capital base is to be used to finance infrastructure and “sustainable development” projects in the BRICS countries initially, but other low- and middle-income countries will be able buy in and apply for funding. BRICS countries have also created a $100 billion Contingency Reserve Arrangement (CRA), meant to provide additional liquidity protection to member countries during balance of payments problems. The CRA—unlike the pool of contributed capital to the BRICS bank, which is equally shared—is being funded 41 percent by China, 18 percent from Brazil, India, and Russia, and 5 percent from South Africa.

Next, the “why.” As we have discussed in our research, the rising economic strength of the BRICS countries has outpaced increases in their voice at the World Bank and the International Monetary Fund (IMF). South-South economic cooperation has expanded dramatically in recent years. Brazil now has more embassies in Africa than does the United Kingdom. China has become Africa’s most important trading partner. The value of South-South trade now exceeds North-South trade by some $2.2 trillion—over one-quarter of global trade. Low-income countries have also seen unprecedented growth in “South–South” foreign aid—with China, Brazil, and India all becoming larger donors. So, these BRICS institutions are partly just the result of a two-decades long process of greater economic engagement by and among developing nations.


In the meantime, long-standing dissatisfaction with Bretton-Woods institutions has also pushed BRICS towards a developing-country alternative to global development finance. We have seen this before. In the late 1960s, Andean nations created the Corporación Andina de Fomento (CAF), also known as the “Development Bank of Latin America,” as a way of bypassing the stringent rules imposed by the World Bank on infrastructure loans. In the early 2000s, partly as a reaction to a widely perceived failure of the IMF to stop currency speculation during the Asian Crisis, 10 ASEA nations plus China, South Korea, Japan established a network of bilateral currency swap agreements that would become he Chiang Mai Initiative. In 2009 seven Latin American countries signed an agreement to establish the “Bank of the South” or BancoSur to fund regional development and social protection, and in which each member nation would have one vote. Both of these latter efforts were launched, in part, as a response to the Bretton-Woods enforcement of conditions on countries seeking emergency loans. So it is with the NDB and the CRA; said the official statement, “International governance structures designed within a different power configuration show increasingly evident signs of losing legitimacy and effectiveness.”

Although the BRICS comprise over one-fifth of the global economy, together they wield about 11 percent of the votes at the IMF. But reform to the governance of the Bretton-Woods institutions has encountered a number of roadblocks. In 2008 and again in 2010, quota reform at the IMF was intended to double total financial commitments from all member countries, while at the same time giving BRICS countries larger voting shares. Because this required additional contributions by member governments of richer countries, several balked for different reasons.

Smaller European countries, whose quota shares would be reduced by the changes, opposed quota reform on the grounds that their contributions to total official development assistance would be undermined if their voting strength were diminished at the IMF. In the United States—whose shares would not be reduced by quota reform—the Congress failed to approve increased capital contributions to the IMF. In the one recent effort to pass quota reform, Democrats in the House of Representatives tried to sneak an amendment into a loan guarantee for Ukraine that would have authorized the increased quota, but then withdrew the amendment, bowing to Republican opposition. Thus, the one time the Congress has considered IMF quota reform has been as a rider in an unrelated bill.

These developments show the political tightrope on which countries must walk when it comes to global development finance:  while low- and middle-income countries have legitimate claims about their exclusion from the governance of the Bretton-Woods institutions, richer countries cannot cede too much influence over these institutions to developing nations and still justify large contributions—in particular, to the World Bank’s International Development Association every three years, and to the IMF as part of quota reforms—to their restless voters, especially during difficult economic times.


What are the implications of the BRICS institutions for international development finance? Developing nations hope that BRICS bank/CRA may eventually challenge World Bank-IMF hegemony over matters such as:  funding for basic services, emergency assistance, policy lending, and funding to conflict-affected states. The World Bank’s own estimates point to a $1 trillion infrastructure investment “gap” in developing countries. Existing multilateral development banks are able to fill approximately 40 percent of that gap. So, the fact that a BRICS bank aims to make electricity, transport, telecommunications, and water/sewage a priority is important; the demand for infrastructure is expected to grow sharply as more countries transition out of low-income status. In terms of scale, it has been suggested that—after a couple of decades, should membership be expanded, and should co-financing by governments and private investors be mobilized—that BRICS Bank loans could dwarf World Bank loans. This type of success has been seen with the CAF, which now funds more infrastructure in Latin America than the World Bank and the Inter-American Development Bank combined.

Whether the BRICS institutions go the way of the more successful CAF on the one hand, or the way of the as yet unutilized Chiang-Mai Initiative or BancoSur on the other, will ultimately depend on two other factors:  risk management and coordination.

Presumably a BRICS bank and reserve fund will need to ensure a high-quality loan portfolio that maximizes developmental impact, but keeps defaults to a minimum (for expanding the scale of lending operations, it would also be important to make profits on its loans). And so the problem of surveillance will have to be tackled. Unfortunately, the track record of regional initiatives on surveillance does not bode well. The Chiang Mai Initiative, for example, was simply unable to devise and implement a system of monitoring and surveillance, and eventually resigned itself to requiring countries using its credit lines to undergo surveillance by the IMF! The result:  not a single Asian nation has used credit through the initiative.

Meanwhile, given the abundance of evidence that multilateral economic initiatives work best when their principal stakeholders are able to resolve coordination problems, the possibility of serious intra-BRICS disagreements could prevent these new institutions from operating at capacity. Hugo Chavez’s dream of BancoSur supplanting both the World Bank and IMF in Latin America foundered on a series of disagreements on issues such as:  the bank’s tax-free status, the role of concessional finance, relationships with the private sector, transparency rules, and the need for environmental safeguards.

The structural disparity between China and the rest of the BRICS members (the Chinese economy being larger than the economies of all other BRICS combined) is at the heart of the matter for any BRICS institution. China’s dominant position makes coordination—in terms of operations and funding priorities—difficult to imagine. At one point, all other BRICS countries have expressed concern with Beijing’s economic policies and currency regime. Brazilian and Indian central bankers spoke out against the undervalued Yuan in 2009 and 2010, but to little effect. Ongoing trade disputes among developing countries also threaten unity. Last year WTO member states reached a deal on trade facilitation in Bali but India, among a group of developing nations, has threatened to withdraw support for the protocol over the issue of food security. A joint communiqué of BRICS trade ministers remains vague about whether BRICS countries commonly support the Bali agreement. These, along with a host of other intra-BRICS disputes, could limit the effectiveness of the NDB/CRA. For now, they seem to have been papered over amid the excitement surrounding the Fortaleza agreements. But they will, ultimately, determine whether the developing world has finally found a viable alternative to Bretton Woods.

Raj M. Desai is Associate Professor of International Development at the Edmund A. Walsh School of Foreign Service and in the Department of Government at Georgetown University, and a Non-resident Senior Fellow at the Brookings Institution. James Vreeland is Associate Professor of International Development at the Edmund A. Walsh School of Foreign Service and in the Department of Government at Georgetown University.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Banco dos Brics: duas opinioes negativas - Roberto Ellery e Adolfo Sachsida

Começo com o vídeo do Adolfo Sachsida, pois basta clicar no link abaixo:

Uma Ideia Ruim Sempre Pode ser Piorada: O Banco dos BRICS

https://www.youtube.com/watch?v=xXwo5_-KDH8&list=UUdivG5uywW1-UHNG5NGpExQ

Agora leiam o artigo do Roberto Ellery em seu blog, sobre o qual o Sachsida justamente me chamou a atenção.
Paulo Roberto de Almeida

Banco dos BRICS: Desnecessário e Perigoso

Blog do Roberto Ellery,  16/07/2014

O assunto da semana é a criação do Banco dos BRICS. Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul decidiram criar um banco que será sediado em Xangai e que será uma mistura de FMI com Banco Mundial. Para começo de conversa é preciso deixar claro que FMI e Banco Mundial exercem funções diferentes e, não raro, conflituosas. Enquanto o Banco Mundial é um banco de desenvolvimento com a tarefa de financiar o crescimento econômico no mundo e reduzir a pobreza (ver aqui) o FMI é um fundo desenhado para socorrer países em crise de balanço de pagamentos (ver aqui). O Banco Mundial é aquele banco que você recorrer quando tem uma ideia que acredita ser boa e quer transformar a ideia em um negócio ou quer um financiamento para que sua ideia reduza a pobreza, o FMI é aquele banco que você procura quando está quebrado. O Banco Mundial é o “policial bonzinho” e o FMI é o “policial malvado”.
Pensar as duas funções em um único banco é um desafio que não vou enfrentar nesse post, apenas registro que as possibilidades de risco moral são inúmeras. Aqui vou separar cada função e questionar a relevância de cada uma delas para o Brasil. Começo pelo banco de desenvolvimento, um dos meus vilões favoritos. A verdade é que já temos um banco de desenvolvimento de dimensões consideráveis. Em 2012 o Banco Mundial emprestou U$ 32 bilhões (ver aqui e aqui), no mesmo ano o BNDES desembolsou R$ 156 bilhões, o que equivale a aproximadamente U$ 70 bilhões pelo cambio atual. É isto mesmo, em 2012 o BNDES desembolsou duas vezes mais que o total de empréstimos realizados pelo Banco Mundial. Se o Brasil tem um banco maior que o Banco Mundial que é só dele por qual razão vai criar outro banco concorrente do Banco Mundial?
Uma possível resposta é que o novo banco terá uma atuação internacional e nós queremos ajudar os países mais pobres. O problema é que o BNDES já financia projetos em outros países (ver aqui) e sem dar satisfação a chineses ou a russos. Outra resposta é que o BNDES está fazendo um excelente serviço e um novo banco seria uma forma de ampliar esses serviços. Já escrevi um bocado sobre os efeitos do BNDES aqui no blog, é só fazer uma busca. Os exemplos do fracasso das políticas do banco se amontoam, o caso mais emblemático é o do grupo X de Eike Batista o que eu tomei conhecimento mais recentemente é o da Eldorado (ver aqui). O próprio Luciano Coutinho, presidente do BNDES e um dos mentores da política de campeões nacionais, já percebeu que a política de campeões nacionais que norteou a atuação do BNDES deve ser abandonada (ver aqui).
Entretanto, na condição de liberal chato e sendo mais chato do que liberal, coloco mais uma vez o retrato do fracasso do BNDES em elevar a taxa de investimento brasileira. A figura abaixo mostra os desembolsos do BNDES, a taxa de investimento no Brasil e a taxa de investimento na América Latina e Caribe. Notem que a taxa de investimento no Brasil é menor que a da América Latina e Caribe (não retirei o Brasil do grupo América Latina e Caribe, portanto o Brasil está puxando o grupo para baixo), mas ainda, o gigantesco aumento dos desembolsos do BNDES não foi capaz de dar a taxa de investimento do Brasil uma dinâmica diferente da taxa de investimento da América Latina e do Caribe. O único momento em que isto aconteceu foi na sequencia da crise de 2008, minha conclusão é que os efeitos da atuação do BNDES parecem mais com a de uma política de curto prazo do que com o que se esperaria de um banco de desenvolvimento. Os dados para desembolso são do próprio BNDES, as taxas de investimento são do FMI.
O motivo para isto é simples: o Brasil não precisa de um banco de investimento. As grandes restrições para o investimento no Brasil estão no ambiente de negócios, investir em um país que muda regras o tempo todo é uma decisão de alto risco. Investimentos de longo prazo exigem estabilidade, exatamente o que não oferecemos. Peço que o leitor imagine a apreensão de quem acabou de investir no Brasil em um setor que concorre com produtos chineses. Com o novo banco os chineses serão favorecidos? Quem arrisca uma resposta? A verdade é que mesmo no Banco Mundial a estratégia de combater pobreza e estimular desenvolvimento com crédito barato vem sendo questionada. O crédito barato costuma acabar nas mãos dos amigos do governante de plantão que não necessariamente são os que têm os melhores projetos, mais grave, o crédito barato acaba sendo usado para manter governos no poder e atenta contra a democracia.
A atuação do banco dos BRICS como banco de desenvolvimento me parece trazer mais problemas do que soluções. Mas como fica a atuação como emprestador de última instância para países em crises de balanço de pagamentos? Aqui é mais delicado. Alguém sempre pode argumentar, com alguma razão, que a existência desse tipo de banco acaba por estimular um comportamento irresponsável que leva às crises que o banco vai resolver. Simpatizo com essa linha de raciocínio, mas tenho de reconhecer que crises existiam antes do FMI e que, portanto, o FMI não pode ser a causa única para crises. Parece razoável argumentar que já que crises existem é aceitável existir um banco que socorra países em crises. Mas como entra o Brasil nesta história?
A taxa de poupança do Brasil está entre as mais baixas do mundo (ver aqui). Exatamente por qual razão um país que não tem capital para financiar o próprio investimento e que importa capital vai se oferecer para financiar países sem crédito para honrar seus compromissos externos? Pior, se não ajustar o preços dos combustíveis o Brasil caminha ele mesmo para uma crise do balanço de pagamentos (ver aqui). Mas aí está a vantagem, podem argumentar os espertos de plantão, ao criar o banco dos BRICS o Brasil está se antecipando e conseguindo quem financie uma eventual crise no balanço de pagamentos, afinal a China é um dos maiores credores do planeta. É uma jogada interessante, mas não esqueçamos que malandro demais vira bicho. China, Rússia e mesmo Índia não são os bobos do jogo de poder internacional, pelo contrário, são atentos e não raro brutais neste jogo. Acreditar que a China está disposta a financiar uma crise brasileira para mostrar algo aos EUA é acreditar em fadas. Impressiona que os que falam pelos cotovelos a respeito da questão geopolítica não estejam nos explicando exatamente o que ganhamos e o que perdemos no jogo de poder com a criação do banco.
O post já está longo, termino com uma frase que gosto muito de um filme sobre pôquer que não estou lembrando o nome agora. O jogador do filme dizia que se em tantos minutos você não souber quem o otário da mesa então saia da mesa que o otário é você. Gostaria muito que os especialistas que defendem a criação do banco dissessem quem é o otário da mesa, por razões óbvias as autoridades não podem dizer, se não souberem é melhor recomendar que saiamos da mesa...

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Deu no New York Times: Banco do Brics tem sede em Shanghai e presidente indiano

Emerging Nations Bloc to Open Development Bank


RIO DE JANEIRO — At a meeting in Brazil, the leaders of Brazil, Russia, India, Chinaand South Africa announced on Tuesday that they were establishing a development bank to challenge the influence of venerable institutions like the World Bank and theInternational Monetary Fund.
The New Development Bank, which will be based in Shanghai, will open with an initial capitalization of $50 billion. India will name the first president, according to a statement from the leaders of the so-called BRICS group of nations who have gathered in the northeastern city of Fortaleza, and Russia and Brazil will select other top officers.
The five-nation bloc also said it would create a $100 billion fund of currency reserves for members to use during balance of payments crises. Pointing to concerns that the United States Federal Reserve was stepping back in its aggressive efforts to stimulate the American economy, possibly opening the way for interest rate increases in the United States, Brazil’s president, Dilma Rousseff, said the fund could mitigate the volatility that could emerge from such shifts.
“This provides security, a kind of safety net for BRICS countries and others,” Ms. Rousseff said.
Taken together, the New Development Bank and the contingency fund reflect ambitions of forging a new global economic framework.
Nations like Brazil already have huge development banks that dwarf the World Bank in size. Still, leaders in emerging economic powers chafe at the policy prescriptions coming from the World Bank and the I.M.F., which emerged from the Bretton Woods monetary conference in New Hampshire 70 years ago.
While the United States has long wielded influence in the global economy through those institutions, China, which accounts for about 70 percent of the collective gross national product of the countries represented at Fortaleza, has tried to play down its staggering economic weight in the bloc. But that could change over time, analysts said, if animus grows over China’s trade surpluses with other members.
“There may be potential cracks in the facade of unity once China asserts its interests,” said Eric Farnsworth, vice president of the Council of the Americas and the Americas Society in the United States.
The BRICS countries face other challenges like slowing economic growth.
While Jim O’Neill, the former Goldman Sachs executive who coined the term BRIC 2001 (before South Africa joined the group in 2011), had predicted that Brazil would grow 5 percent a year over this decade, the economy has eked out much slower growth since 2011, forecast at just 1.6 percent this year.
Still, while the bloc involves countries with varying levels of economic growth, vastly different political systems and an array of simmering issues like the hostilities between Russia and Ukraine and the territorial disputes between China and its neighbors, analysts caution that its potential clout should not be taken lightly.
“They still have just shy of half the world’s population,” said Kevin P. Gallagher, a professor of international relations at Boston University, emphasizing the influence the countries already have within organizations like I.M.F. and the World Trade Organization. “They are a force regardless of their growth rate, which will remain faster when averaged than the West’s for years to come.”

terça-feira, 10 de junho de 2014

Banco do Brics: por que mais um, se já existem tantos?

De fato, o que não faltam são instituiçōes multilaterais de fomento e de financiamento, e o Brasil pertence à maior parte delas: Banco Mundial, BID, CAF, Fonplata, BAD, Basd, sem mencionar BIE, Banco do Sul, BNDES, e outras agências nacionais ou plurilaterais de financiamento.
Para que mais uma?
Esta é uma pergunta de 28 bilhōes de dólares...
Paulo Roberto de Almeida 

Internacional

Brasil entrará com US$ 28 bilhões para criar Banco dos Brics

Veja.com, 9/06/2014

Bloco Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul planeja uma instituição financeira para ocupar o espaço de Banco Mundial e FMI

Funcionário conta dinheiro no Banco da China
Funcionário conta dinheiro no Banco da China (ChinaFotoPress/Getty Images)
O Brasil comprometeu com 28 bilhões de dólares na formação do Banco dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e na criação do Arranjo Contingente de Reservas (ACR). As instituições, planejadas pelo bloco, têm como objetivo ocupar parcialmente o espaço hoje do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional.
As duas instituições, negociadas desde 2012, começarão a sair do papel no próximo mês, na 6ª reunião de Cúpula do bloco, em Fortaleza. O banco terá capital inicial de 10 bilhões de dólares, com cotas iguais para cada um dos cinco países, e a garantia de 8 bilhões de dólares a serem aportados apenas em caso de necessidade.
Os outros 18 bilhões de dólares serão a reserva brasileira para o ACR, que terá o mesmo aporte de Rússia e Índia, além de 5 bilhões de dólares da África do Sul e 41 bilhões de dólares da China, o sócio mais rico, em um valor total que chega a 100 bilhões de dólares.
A reunião de Fortaleza é a primeira de um novo ciclo dos Brics, cuja primeira reunião formal aconteceu em 2009, em Ecaterimburgo, na Rússia. O banco e o ACR são os primeiros resultados concretos de um bloco que surgiu para tentar ser uma alternativa à dominação dos países desenvolvidos das chamadas instituições de Bretton Woods, Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional.
"A criação dessas instituições é uma forte mensagem da disposição dos países membros em aprofundar e consolidar parcerias econômicas e financeiras", afirmou o embaixador José Alfredo Graça Lima, subsecretário-geral do Itamaraty. "São instituições espelho, na medida em que obedecem as mesmas regras, as mesmas inspirações, mas não têm intenção de competir".
Não há dúvida, no entanto, que o banco de desenvolvimento dos Brics - que ainda não tem um nome formal - pretende servir de alternativa ao Banco Mundial. O banco poderá financiar obras de infraestrutura e desenvolvimento sustentável em países que têm dificuldades de obter recursos nas instituições tradicionais. Não está definido, no entanto, se o banco poderá financiar obras em países que não participam do banco ou apenas em cotistas. "A ideia do banco é suprir uma necessidade, cada vez mais evidente, que é financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável não só nos Brics, mas em países fora, como por exemplo os africanos, que têm essa necessidade e podem encontrar dificuldades obtenção de recursos", afirmou Graça Lima.
Já o ACR, ideia brasileira, será reservado, em princípio, para os cinco membros do bloco - que não deve crescer a curto prazo. A intenção é ter uma forma de garantir a segurança financeira dos cinco países, que poderão pegar empréstimos de curto prazo em caso de problemas nas suas balanças de pagamento. Uma espécie de FMI com poucos sócios e mais amigável.
(Com Estadão Conteúdo)

terça-feira, 4 de março de 2014

Banco dos Brics: mais um elefante branco economico? - Assis Moreira (Valor)

País pode sediar banco dos Brics

Valor Econômico/Assis Moreira | De Sydney
Quinta, 20 Fevereiro 2014

O Brasil está examinando se entrará na briga para sediar o futuro banco dos Brics, podendo apresentar Rio de Janeiro ou São Paulo na disputa que tende a envolver todos países do grupo. A África do Sul e a China foram os primeiros a manifestar a vontade de sediar a instituição, que no momento é chamada de New Development Bank (NDB).
Em reunião dos cinco países - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul -, pela primeira vez o tema foi formalmente colocado na mesa. No entanto, as decisões mais políticas, incluindo a presidência do banco, devem ficar para abril, em nova reunião. O capital inicial do banco, já acertado, é de US$ 50 bilhões, mas com possibilidade de os países aumentarem o volume para até US$ 100 bilhões.