O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador Brics. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Brics. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Coisas Internacionais: nossos aliados pouco aliados - Mario Machado

Meu amigo internacionalista e colega blogueiro, animador do Coisas Internacionais, faz interessantes considerações sobre as estranhas amizades do Brasil lulo-petista, que alerto não ser o Brasil normal, ou seja, aquele que sempre conhecemos antes do Nunca Antes...
Esse Brasil lulo-petista, infelizmente fala pelo Brasil, mas inverteu completamente algumas agendas diplomáticas, e os ingênuos, os incautos, os estrangeiros, ou certos jornalistas distraídos (ou aliados, ou melhor, de má-fé) proclamam que o Brasil, ou o Itamaraty, está fazendo isso e mais aquilo, quando não é, são os companheiros lulo-petistas, amadores em relações internacionais, e deformados em política -- quem gosta de ditadura para mim só pode ter um problema mental, ou alguma deformação moral -- que estão imprimindo direções surpreendentes a uma diplomacia que sempre primou pelo equilíbrio, pelo comedimento, pela medida, e sobretudo pelo respeito absoluto do direito internacional, sem falar dos interesses nacionais, obviamente.
Mas, leiam o que escrevem com uma ironia típica da Economist, e uma sutileza mordaz, meu amigo Mário Machado, que até achou uma reflexão que fiz para rechear seu texto por si excelente.
Paulo Roberto de Almeida

Nossos aliados
Coisas Internacionais,  03 Setembro 2014

Nossos aliados nos BRICS andam ocupados em agendas, no mínimo, controversas. Sempre repito aqui que qualquer um que estude e trabalhe com Relações Internacionais, cedo ou tarde terá que conviver e apertar as mãos de gente imprópria para o consumo humano, tudo em nome dessa quimera política chamada Interesse Nacional.

Ás vezes a diplomacia brasileira exagera nas deferências a esses parceiros problemáticos, vez ou outra algum presidente chama ditador de irmão, ou abrimos uma residência oficial para a estadia de outro. Mas, isso é esporádico, pontos fora da curva.

O problema é quando parceiros estratégicos de alto relevo agem de maneira controversa e essa aliança acaba impondo um silêncio conivente do Brasil, para um país que tem buscado com muito afinco o status de Ator Global, ou seja, por definição uma voz relevante nos assuntos planetários. E esse projeto tem se calcado na aliança com os outros gigantes emergentes.

A China tem se movimentado para restringir as liberdades individuais em Hong Kong, como bem colocou o professor e diplomata Paulo Roberto de Almeida, com seu natural estilo provocador:

“[A China] começa a restringir os direitos democráticos, que ainda existem, na sua província especial, ex-colônia britânica, que teve a sorte de ter todas as liberdades democráticas da metrópole-mãe, e mais liberdades econômicas do que a própria metrópole, que derivou para o fabianismo e foi para uma gloriosa decadência, antes de ser recuperada por uma estadista clarividente. Agora, o mais velho império do mundo pretende estabelecer a tirania que já existe em sua própria jurisdição”.

A Rússia tem se envolvido em violações da soberania Ucraniana. E a tradição diplomática brasileira sempre foi visceralmente avessa a esse tipo de violação, mas nesse caso tem mantido um silêncio loquaz. E nem vou levar em consideração os que por ideologia ou apreço a conspiração que tacham os ucranianos de nazistas.

Mas, a maior contradição dessa aliança é o caso indiano, que tem uma deliberada política de subsídios agrícolas agressivos que prejudicam os exportadores brasileiros e uma das causas do travamento da Rodada Doha, tudo bem que a causa do Livre Comércio não é popular no Palácio do Planalto, mas deve ser complicado, pra dizer o mínimo, equilibrar as concepções estratégicas que calcam a aliança global com prejuízos pra um dos setores mais importantes da economia brasileira que é o setor agrícola.

A Política Internacional, por vezes exige alianças, que nos amarram a atores que na consecução de suas agendas violam alguns dos valores que dizemos que nos definem. Como bem disse Nelson Rodrigues: “Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos”, mas numa democracia seria interessante que temas como nossas alianças internacionais fossem debatidos de maneira séria e pragmática.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Diplomacia brasileira: do morno ao frio, ao morno... - El Pais

O Brasil coloca à prova o seu tamanho na diplomacia mundial

Os presidenciáveis apresentam as suas propostas aos grandes desafios externos

Chamado de “anão” por Israel, o país deixa para trás um período morno em sua política externa

O papel de anfitrião na reunião de criação do banco dos Brics pode servir para o ganho de estatura

O Brasil volta a reivindicar um maior protagonismo e a medir o seu tamanho no cenário global, deixando para trás anos de uma política externa mais conservadora, concordam diplomatas e analistas ouvidos pelo EL PAÍS. O papel na criação do banco dos Brics e o posicionamento no conflito no Oriente Médio, que valeu ao país o incômodo apelido de “anão diplomático”, podem servir de impulso para essa nota etapa na agenda internacional brasileira.
Os desafios, no entanto, não são poucos, principalmente para o próximo mandato presidencial, em 2015. Entre eles estão uma maior liderança regional, sobretudo no processo de revitalização do Mercosul, uma retomada das relações com os Estados Unidos e a concretização de um acordo comercial com a União Europeia.
Entre os três principais candidatos à Presidência nas eleições de outubro, a aspirante à reeleição Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT), vislumbra uma maior participação da sociedade civil na definição das diretrizes da política externa, com uma visão multilateral em um cenário de destaque entre os Brics e os países que integram o hemisfério sul.
O adversário Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), destaca, por sua vez, a importância de uma maior atenção à Ásia, aos EUA e outros países desenvolvidos, apostando em uma diplomacia mais comercial, além de uma recuperação do Mercosul. Já o candidato do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Eduardo Campos, defende, entre outros pontos, a ampliação de acordos comerciais com outros países além das fronteiras do próprio bloco sul-americano.
“O mundo está à espera de que o Brasil saia do período de maior calmaria e adote resoluções mais concretas, assumindo um perfil de maior estatura”, afirma Thomas Trebat, diretor na América Latina doColumbia Global Centers, da Universidade norte-americana de Columbia.
“O Brasil tem muito a ganhar com um perfil global mais avançado, e não só por orgulho nacional, como também por tecnologia, recursos e oportunidades”, emenda Trebat, para quem a prioridade à política externa vai além da busca por um assento no Conselho de Segurança da ONU.

O mundo está à espera de que o Brasil saia do período de maior calmaria e assuma um perfil de maior estatura
Thomas Trebat, diretor na América Latina do Columbia Global Centers
“Ao contrário de países que são pequenos e sabem disso, o Brasil quer ser grande, mas às vezes atua como pequeno”, ressalta Rubens Ricupero, ex-embaixador brasileiro em Genebra, Washington e Roma e ex-secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD).
Um passo de afirmação recente foi o “debate” em torno do conflito no Oriente Médio, também em julho. Ainda que a volta do embaixador brasileiro em Tel Aviv para consultas divida opiniões entre os especialistas, o posicionamento de condenação à desproporcionalidade dos ataques israelenses acabou sendo seguido nos últimos dias por “gigantes diplomáticos” como França e Reino Unido, quereforçaram as suas ações devido ao alto número de civis mortos no conflito.
A temperatura entre os países começou a subir quando o Itamaraty emitiu a sua segunda nota em uma semana comentando o conflito. Só que, desta vez, o governo brasileiro não condenava explicitamente o lançamento de foguetes e morteiros de Gaza contra o território israelense. Em resposta, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores israelense classificou o Brasil como um “anão diplomático”.

A política externa teve com os Brics um resultado concreto e importante, após muitas críticas à ausência de resultados
Rubens Ricupero, diplomata e ex-secretário-geral da UNCTAD
Outro ponto de busca de afirmação recente pode servir de exemplo: a condição bem-sucedida de anfitrião da reunião que marcou a criação do banco dos Brics, em julho. O grupo emergente, formado também por Rússia, Índia, China e África do Sul, pactuou a constituição de um banco de fomento e um fundo de reservas para ajudar os países integrantes no caso de uma possível crise de liquidez.
“A política externa brasileira teve com os Brics um resultado concreto e importante. Até então a diplomacia vinha sendo criticada pela ausência de resultados significativos”, avalia Ricupero, também ex-ministro da Fazenda brasileiro. Segundo o diplomata, a concordância para a cessão da sede do novo órgão para Xangai, na China, e da primeira secretaria-geral para a Índia, esteve ainda longe de representar uma derrota ao Brasil. “Caberia ao anfitrião esse comprometimento”, avalia.
Seguindo a mesma linha, Alberto Pfeifer, professor de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), classifica o encontro bem-sucedido dos Brics como um dos pontos altos do processo de “reativismo” da diplomacia brasileira. “O Brasil conseguiu agir com competência em uma cúpula que apresentou ao mundo um passo de instrumentalização financeira”, reforça.

Uma hora o Brasil acha que tem mais poder do que tem, na outra acredita que tem menos
João Augusto de Castro, diretor e analista da consultoria Eurasia
Uma maior visibilidade nas relações externas, sejam políticas ou comerciais, acarreta uma maior exposição a novos adversários, avalia João Augusto de Castro, diretor e analista da consultoria Eurasia, com sede em Washington. Segundo ele, o país precisa ainda ter uma ideia mais clara do seu peso internacional. “Uma hora o Brasil acha que tem mais poder do que tem, na outra acha que tem menos”, completa.
Como exemplo, ele cita a intervenção brasileira com a Turquia para o envio de urânio por parte do Irã para ser enriquecido no exterior, em 2010. Em meio à oficialização do acordo, os Estados Unidos acabaram por desautorizar a iniciativa, reforçando a proposição de sanções contra Teerã. “O Brasil acabou exagerando um pouco na dose e acabou se retraindo aos poucos”, completa Castro.

Os desafios

Os desafios que se apresentam à diplomacia brasileira, e ao novo mandato presidencial em 2015, não são mesmo poucos. A começar pela sub-região do Mercosul, em meio à deterioração da situação econômica de seus membros, sobretudo da Argentina, e à falta de novos acordos comerciais. “O bloco vive uma crise muito grave, sem que houvesse uma iniciativa nossa para superar os problemas”, afirma o diplomata Ricupero.
“Precisamos de uma nova agenda produtiva, econômica, comercial, política no Mercosul. Temos de ser mais pragmáticos e aprofundar a relação aduaneira, o livre comércio para que funcione de fato. Há muitas barreiras em vigor, como no caso das importações pela Argentina”, completa o professor Pfeifer.

Precisamos de uma nova agenda produtiva, econômica, comercial e política no Mercosul
Alberto Pfeifer, professor de Relações Internacionais da USP
Enquanto isso, o Mercosul vê emergir com força a Aliança do Pacífico, formada por México, Colômbia, Peru e Chile, e de quem uma aproximação se tornaria também algo muito positivo, embora ainda distante no momento. A China e o continente africano também não podem sair do radar.
“Existem outras iniciativas de relações entre blocos e países que estão em andamento e que podem marginalizar a Organização Mundial do Comércio (OMC), órgão que tem sido a aposta do Brasil”, emenda Castro, em referência à liderança exercida pelo diretor-geral da entidade, o brasileiro Roberto Azevêdo.
Outro ponto a ser fortemente considerado é um acordo comercial com a União Europeia (UE), cujas negociações entre os blocos se arrastam há mais de 20 anos e atualmente se encontram em banho-maria, segundo os especialistas ouvidos pelo EL PAÍS. “Se der certo, criaríamos um precedente para desmitificar a ideia de livre comércio no Brasil”, reforça Castro.

A retomada das relações com os EUA, após o caso Snowden, também deverá ser uma prioridade externa
Na última quinta, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior brasileiro, Mauro Borges, destacou que o país já chegou a um acordo com os parceiros do Mercosul sobre a oferta que será encaminhada à UE para a assinatura de um aguardado acordo comercial. Logo, o momento seria de espera de uma contrapartida do lado europeu.
A retomada das relações com os Estados Unidos, após o escândalo de espionagem denunciado no ano passado, que levou a parceria entre governos ao seu pior ponto em 30 anos, também deverá ser uma prioridade nos próximos meses.
“Parte da responsabilidade está do lado do governo norte-americano. Obama não deu muita atenção em seis anos para a América Latina. O escândalo da NSA acabou congelando as relações entre os governos, mas a visita do (vice-presidente norte-americano Joe) Biden em junho ajudou a relação a melhorar muito”, avalia o consultor da Eurasia.
O episódio de espionagem à própria presidenta Dilma Rousseff e assessores acabaria ainda ajudando uma importante iniciativa brasileira em escala global a avançar. Trata-se do Marco Civil da internet,sancionado pela presidenta e que estabelece princípios, garantias, direitos e deveres a usuários e provedores no país.
“A lei é boa e serve de modelo internacional para o uso compartilhado da rede”, avalia Trebat, do Columbia Global Centers. “A agenda brasileira para os próximos períodos é extensa. E o país precisa ter mais confiança na avaliação de seus próprios recursos”, resume o analista.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Os iguais e os mais iguais: Brics e políticas economicas do Brasil - Marcelo de Paiva Abreu

Uns mais iguais do que outros
Marcelo de Paiva Abreu*
O Estado de São Paulo, quarta-feira, 23 de julho de 2014
A recente reunião do Brics realizada em Fortaleza mostrou que o bloco pode ir além das palavras, embora os resultados sejam bem mais modestos do que pretende o governo. Foram criados o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) e o Arranjo Contingente de Reservas (ACR). O banco, com capital de US$ 50 bilhões, financiará projetos de infraestrutura. O ACR, de US$ 100 bilhões, poderá ser usado pelos acionistas com saques baseados em diferentes múltiplos de seus aportes: US$ 41 bilhões para a China (limite de saque de 50%), US$ 5 bilhões para a África do Sul (200%) e US$ 18 bilhões para os demais (100%). Os saques estarão limitados a 30% do valor acordado, na dependência de acordo paralelo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). As limitadas possibilidades de saque só são relevantes no caso da África do Sul, cujas reservas internacionais são relativamente modestas.
A comparação de Fortaleza a Bretton Woods, quando foram criados o FMI e o Banco Mundial, é ridícula. Escala e abrangência são muito mais modestas. Tudo indica que o objetivo dos Brics seja explicitar sua insatisfação com a resposta dos países desenvolvidos à limitada redistribuição de poder no FMI. Mesmo a reforma já aprovada no âmbito do fundo está encalhada no Congresso norte-americano em meio ao tiroteio entre democratas e republicanos. Mas esse objetivo de sinalização dos Brics perde bastante eficácia com a restrição de saques do ACR dependendo em grande medida de programas com o próprio FMI.
Houve muita conversa sobre "poder igual" entre os acionistas do NBD, por causa da participação igual dos cinco países no seu capital. Mas a realidade é mais complicada. A dominância chinesa é clara e refletiu-se na escolha da sede em Xangai. A China é a maior economia entre os Brics e, de longe, o país com mais envolvimento comercial e financeiro com os outros integrantes do bloco. Para os russos foi importante mostrar que não estão isolados em meio à crise ucraniana, embora a queda do avião da Malaysia Airlines tenha cancelado boa parte desse efeito. A diplomacia indiana mais uma vez prevaleceu sobre a brasileira. Em 2008, em Genebra, a resistência protecionista indiana afundou um possível breakthrough na Rodada Doha relativo à agricultura no qual o Brasil tinha interesse. O Brasil teve agora de abrir mão de sua postulação à presidência do banco em benefício da Índia para evitar um impasse que impediria a boa foto de Dilma Rousseff no início da campanha eleitoral.
Mas, levando tudo em conta, diante dos inúmeros percalços diplomáticos brasileiros desde Lula, o resultado concreto de Fortaleza merece ser comemorado. Comedidamente.
Exatamente quando esse modesto sucesso foi alcançado, qualquer otimismo quanto aos rumos da política comercial foi posto em perspectiva pela aprovação pelo Senado, por iniciativa do governo, da prorrogação da Zona Franca de Manaus até 2073 (dez anos antes que expirasse o prazo) e da redução de pelo menos 70% do IPI sobre produtos de informática por 15 anos! Aécio Neves afirmou que há convergência clara entre governo e oposição sobre o assunto. Agripino Maia diz ter votado entusiasticamente a favor, pois a medida é importante para o Amazonas, o Brasil e o mundo. Nessa foto, ninguém saiu bem.
A sátira de George Orwell - "todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros" - pode ser aplicada tanto à distribuição de poder entre os países integrantes do Brics quanto à capacidade de extração de benesses públicas por diferentes segmentos da sociedade brasileira. A diferença entre as duas situações é que há relativamente pouco que se possa fazer no curto prazo para melhorar de forma significativa o poder de barganha do Brasil entre os Brics, porém abandonar as formas mais grotescas de protecionismo é algo que depende somente de nós. Mas é preciso botar as cabeças no lugar.
*Marcelo de Paiva Abreu, doutor em economia pela Universidade de Cambridge, é professor titular no Departamento de Economia da PUC-Rio. 

segunda-feira, 21 de julho de 2014

A frase da semana: Zbigniew Brzezinski, sobre o Brics e o Brasil

Apenas reproduzindo, não uma, mas duas frases, ambas provocadoras, e talvez verdadeiras...

O BRIC não existe como bloco. 
É apenas um amontoado de letras e o Brasil precisa parar de pensar que é o país do futuro.
Zbigniew Brzezinski, geopolítico americano

domingo, 20 de julho de 2014

O Banco dos Brics, visto desde Washington - Raj M. Desai, James Raymond Vreeland (WP)

What the new bank of BRICS is all about
By Raj M. Desai and James Raymond Vreeland
The Washington Post, July 17, 2014

Leaders of the BRICS nations, from left, Russia’s President Vladimir Putin, India’s Prime Minister Narendra Modi, Brazil’s President Dilma Rousseff, China’s President Xi Jinping and South Africa’s President Jacob Zuma, pose for a group photo during the BRICS summit in Fortaleza, Brazil, Tuesday, July 15, 2014 (Silvia Izquierdo/Associated Press).
As World Cup fever recedes, this week in Fortaleza heads of state from Brazil, Russia, India, China, and South Africa (the so-called BRICS countries) agreed to establish a New Development Bank (NDB) at their summit meeting. They will have a president (an Indian for the first six years), a Board of Governors Chair (a Russian), a Board of Directors Chair (a Brazilian), and a headquarters (in Shanghai). What is the purpose of this BRICS bank? Why have these countries created it now? And, what implications does it have for the global development-finance landscape?

The “what” is relatively straightforward. The NDB has been given $50 billion in initial capital. As with similar initiatives in other regions (see below), the BRICS bank appears to work on an equal-share voting basis, with each of the five signatories contributing $10 billion. The capital base is to be used to finance infrastructure and “sustainable development” projects in the BRICS countries initially, but other low- and middle-income countries will be able buy in and apply for funding. BRICS countries have also created a $100 billion Contingency Reserve Arrangement (CRA), meant to provide additional liquidity protection to member countries during balance of payments problems. The CRA—unlike the pool of contributed capital to the BRICS bank, which is equally shared—is being funded 41 percent by China, 18 percent from Brazil, India, and Russia, and 5 percent from South Africa.

Next, the “why.” As we have discussed in our research, the rising economic strength of the BRICS countries has outpaced increases in their voice at the World Bank and the International Monetary Fund (IMF). South-South economic cooperation has expanded dramatically in recent years. Brazil now has more embassies in Africa than does the United Kingdom. China has become Africa’s most important trading partner. The value of South-South trade now exceeds North-South trade by some $2.2 trillion—over one-quarter of global trade. Low-income countries have also seen unprecedented growth in “South–South” foreign aid—with China, Brazil, and India all becoming larger donors. So, these BRICS institutions are partly just the result of a two-decades long process of greater economic engagement by and among developing nations.


In the meantime, long-standing dissatisfaction with Bretton-Woods institutions has also pushed BRICS towards a developing-country alternative to global development finance. We have seen this before. In the late 1960s, Andean nations created the Corporación Andina de Fomento (CAF), also known as the “Development Bank of Latin America,” as a way of bypassing the stringent rules imposed by the World Bank on infrastructure loans. In the early 2000s, partly as a reaction to a widely perceived failure of the IMF to stop currency speculation during the Asian Crisis, 10 ASEA nations plus China, South Korea, Japan established a network of bilateral currency swap agreements that would become he Chiang Mai Initiative. In 2009 seven Latin American countries signed an agreement to establish the “Bank of the South” or BancoSur to fund regional development and social protection, and in which each member nation would have one vote. Both of these latter efforts were launched, in part, as a response to the Bretton-Woods enforcement of conditions on countries seeking emergency loans. So it is with the NDB and the CRA; said the official statement, “International governance structures designed within a different power configuration show increasingly evident signs of losing legitimacy and effectiveness.”

Although the BRICS comprise over one-fifth of the global economy, together they wield about 11 percent of the votes at the IMF. But reform to the governance of the Bretton-Woods institutions has encountered a number of roadblocks. In 2008 and again in 2010, quota reform at the IMF was intended to double total financial commitments from all member countries, while at the same time giving BRICS countries larger voting shares. Because this required additional contributions by member governments of richer countries, several balked for different reasons.

Smaller European countries, whose quota shares would be reduced by the changes, opposed quota reform on the grounds that their contributions to total official development assistance would be undermined if their voting strength were diminished at the IMF. In the United States—whose shares would not be reduced by quota reform—the Congress failed to approve increased capital contributions to the IMF. In the one recent effort to pass quota reform, Democrats in the House of Representatives tried to sneak an amendment into a loan guarantee for Ukraine that would have authorized the increased quota, but then withdrew the amendment, bowing to Republican opposition. Thus, the one time the Congress has considered IMF quota reform has been as a rider in an unrelated bill.

These developments show the political tightrope on which countries must walk when it comes to global development finance:  while low- and middle-income countries have legitimate claims about their exclusion from the governance of the Bretton-Woods institutions, richer countries cannot cede too much influence over these institutions to developing nations and still justify large contributions—in particular, to the World Bank’s International Development Association every three years, and to the IMF as part of quota reforms—to their restless voters, especially during difficult economic times.


What are the implications of the BRICS institutions for international development finance? Developing nations hope that BRICS bank/CRA may eventually challenge World Bank-IMF hegemony over matters such as:  funding for basic services, emergency assistance, policy lending, and funding to conflict-affected states. The World Bank’s own estimates point to a $1 trillion infrastructure investment “gap” in developing countries. Existing multilateral development banks are able to fill approximately 40 percent of that gap. So, the fact that a BRICS bank aims to make electricity, transport, telecommunications, and water/sewage a priority is important; the demand for infrastructure is expected to grow sharply as more countries transition out of low-income status. In terms of scale, it has been suggested that—after a couple of decades, should membership be expanded, and should co-financing by governments and private investors be mobilized—that BRICS Bank loans could dwarf World Bank loans. This type of success has been seen with the CAF, which now funds more infrastructure in Latin America than the World Bank and the Inter-American Development Bank combined.

Whether the BRICS institutions go the way of the more successful CAF on the one hand, or the way of the as yet unutilized Chiang-Mai Initiative or BancoSur on the other, will ultimately depend on two other factors:  risk management and coordination.

Presumably a BRICS bank and reserve fund will need to ensure a high-quality loan portfolio that maximizes developmental impact, but keeps defaults to a minimum (for expanding the scale of lending operations, it would also be important to make profits on its loans). And so the problem of surveillance will have to be tackled. Unfortunately, the track record of regional initiatives on surveillance does not bode well. The Chiang Mai Initiative, for example, was simply unable to devise and implement a system of monitoring and surveillance, and eventually resigned itself to requiring countries using its credit lines to undergo surveillance by the IMF! The result:  not a single Asian nation has used credit through the initiative.

Meanwhile, given the abundance of evidence that multilateral economic initiatives work best when their principal stakeholders are able to resolve coordination problems, the possibility of serious intra-BRICS disagreements could prevent these new institutions from operating at capacity. Hugo Chavez’s dream of BancoSur supplanting both the World Bank and IMF in Latin America foundered on a series of disagreements on issues such as:  the bank’s tax-free status, the role of concessional finance, relationships with the private sector, transparency rules, and the need for environmental safeguards.

The structural disparity between China and the rest of the BRICS members (the Chinese economy being larger than the economies of all other BRICS combined) is at the heart of the matter for any BRICS institution. China’s dominant position makes coordination—in terms of operations and funding priorities—difficult to imagine. At one point, all other BRICS countries have expressed concern with Beijing’s economic policies and currency regime. Brazilian and Indian central bankers spoke out against the undervalued Yuan in 2009 and 2010, but to little effect. Ongoing trade disputes among developing countries also threaten unity. Last year WTO member states reached a deal on trade facilitation in Bali but India, among a group of developing nations, has threatened to withdraw support for the protocol over the issue of food security. A joint communiqué of BRICS trade ministers remains vague about whether BRICS countries commonly support the Bali agreement. These, along with a host of other intra-BRICS disputes, could limit the effectiveness of the NDB/CRA. For now, they seem to have been papered over amid the excitement surrounding the Fortaleza agreements. But they will, ultimately, determine whether the developing world has finally found a viable alternative to Bretton Woods.

Raj M. Desai is Associate Professor of International Development at the Edmund A. Walsh School of Foreign Service and in the Department of Government at Georgetown University, and a Non-resident Senior Fellow at the Brookings Institution. James Vreeland is Associate Professor of International Development at the Edmund A. Walsh School of Foreign Service and in the Department of Government at Georgetown University.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Deu no New York Times: Banco do Brics tem sede em Shanghai e presidente indiano

Emerging Nations Bloc to Open Development Bank


RIO DE JANEIRO — At a meeting in Brazil, the leaders of Brazil, Russia, India, Chinaand South Africa announced on Tuesday that they were establishing a development bank to challenge the influence of venerable institutions like the World Bank and theInternational Monetary Fund.
The New Development Bank, which will be based in Shanghai, will open with an initial capitalization of $50 billion. India will name the first president, according to a statement from the leaders of the so-called BRICS group of nations who have gathered in the northeastern city of Fortaleza, and Russia and Brazil will select other top officers.
The five-nation bloc also said it would create a $100 billion fund of currency reserves for members to use during balance of payments crises. Pointing to concerns that the United States Federal Reserve was stepping back in its aggressive efforts to stimulate the American economy, possibly opening the way for interest rate increases in the United States, Brazil’s president, Dilma Rousseff, said the fund could mitigate the volatility that could emerge from such shifts.
“This provides security, a kind of safety net for BRICS countries and others,” Ms. Rousseff said.
Taken together, the New Development Bank and the contingency fund reflect ambitions of forging a new global economic framework.
Nations like Brazil already have huge development banks that dwarf the World Bank in size. Still, leaders in emerging economic powers chafe at the policy prescriptions coming from the World Bank and the I.M.F., which emerged from the Bretton Woods monetary conference in New Hampshire 70 years ago.
While the United States has long wielded influence in the global economy through those institutions, China, which accounts for about 70 percent of the collective gross national product of the countries represented at Fortaleza, has tried to play down its staggering economic weight in the bloc. But that could change over time, analysts said, if animus grows over China’s trade surpluses with other members.
“There may be potential cracks in the facade of unity once China asserts its interests,” said Eric Farnsworth, vice president of the Council of the Americas and the Americas Society in the United States.
The BRICS countries face other challenges like slowing economic growth.
While Jim O’Neill, the former Goldman Sachs executive who coined the term BRIC 2001 (before South Africa joined the group in 2011), had predicted that Brazil would grow 5 percent a year over this decade, the economy has eked out much slower growth since 2011, forecast at just 1.6 percent this year.
Still, while the bloc involves countries with varying levels of economic growth, vastly different political systems and an array of simmering issues like the hostilities between Russia and Ukraine and the territorial disputes between China and its neighbors, analysts caution that its potential clout should not be taken lightly.
“They still have just shy of half the world’s population,” said Kevin P. Gallagher, a professor of international relations at Boston University, emphasizing the influence the countries already have within organizations like I.M.F. and the World Trade Organization. “They are a force regardless of their growth rate, which will remain faster when averaged than the West’s for years to come.”

terça-feira, 15 de julho de 2014

70 anos depois de Bretton Woods, Brics querem dar passo atras na multilateralizacao dos pagamentos

Inacreditavel inconsciencia de empresários e despreparo de dirigentes politicos. O comércio internacional requer uma moeda comum, ou então tem de recorrer ao câmbio, com todos os imponderáveis, incertezas, volatilidade e CUSTOS que lhe são inerentemente associados.
Por que é que empresários privados, que na sua interface externa, usam o dólar ou o euro para suas transações, desejariam abandonar essas duas moedas para adotar as nacionais, que ainda assim precisariam da referência a uma das outras duas para que a operação seja completada?
Eu só vejo uma razão: transferir os custos da operação e o risco cambial para o poder público.
E por que os bancos centrais assumiriam esses custos de abrir mais janelas para transações externas e de cobrir eventuais perdas contábeis por flutuações ou manipulações do câmbio?
Eu não vejo NENHUMA razão, só DESVANTAGENS.
E por que dirigentes políticos tomariam esse tipo de decisão, que representaria um INACREDITÁVEL passo atrás, 80 anos atrás, em relação à multilateralização dos pagamentos decidida em Bretton Woods?
Podem ter várias razões: ignorância histórica, estupidez econômica, teimosia ideológica, desejo de confrontar o "imperialismo monetário dos países hegemônicos", infantilidade política, e muitas outras, todas elas ruins do ponto de vista técnico, econômico, financeiro, inclusive no que se refere a compromissos multilaterais assumidos e do ponto de vista simplesmente orçamentário, e até operacional, já que complica a vida de todo mundo.
Vocês escolhem qual a bobagem do dia, mais uma na conta dos companheiros.
Inacreditável esses casamento da estupidez ideológica com a sandice econômica.
Paulo Roberto de Almeida

Setor privado apoia uso de moedas locais

Valor Econômico, 15/07/2014


Representantes do setor privado reunidos ontem na VI Cúpula dos Brics, em Fortaleza, defenderam o uso das moedas locais nas transações entre os países-membros do bloco como forma de baratear os custos dos investimentos. A expectativa é de que a troca direta de moedas possa se materializar por meio do New Development Bank (NDB), nome oficial do banco dos Brics, que deve ser anunciado hoje pelos líderes de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Presidente da Marcopolo, fabricante brasileira de carrocerias com grande presença no exterior, Rubens De La Rosa assumiu ontem a presidência rotativa do Conselho Empresarial dos Brics, que conta com cinco empresas de cada país. Segundo ele, o NDB pode ser um instrumento prático para o uso das moedas locais acontecer.
Em entrevista ao Valor na semana passada, o presidente do banco de fomento da Rússia, Vladimir Dimitriev, defendeu que a utilização das moedas locais no âmbito dos Brics fosse acelerada.
Na avaliação do presidente da CNI, Robson Andrade, o banco dos Brics poderá viabilizar o avanço dos investimentos da indústria nacional no exterior. "Para nós, é fundamental que promova financiamento em países como esses e que aceite como garantia a matriz da empresa no Brasil", disse. A troca de moedas está entre as demandas que o fórum dos empresários apresentará aos líderes do bloco.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Brics no Brasil: os democratas e os autoritarios - El Pais

Na verdade, é um pouco mais complexo do que isso: a democracia no Brasil, na Índia e na África do Sul é de muito baixa qualidade, com muita corrupção, muito curral eleitoral, muito dinheiro sendo gasto inutilmente com quem está no poder.
Paulo Roberto de Almeida

Unidos pela economia, separados pela democracia

Quando os cinco presidentes do clube dos BRICS se reunirem na manhã de terça-feira em Fortaleza, voltarão a comprovar que como gigantes emergentes estão unidos muito mais por seus interesses econômicos do que por seus posicionamentos políticos e sociais. Por trás da sexta cúpula entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –que respondem por 20% do PIB mundial e 40% da população global– será vislumbrado um choque de filosofias que mostrará se a democracia é necessária para conseguir um sólido crescimento econômico e reduzir a pobreza.

Depois da queda do Muro de Berlim em 1989, o modelo ocidental democrático-capitalista parecia se impor a longo prazo como a melhor receita de sucesso, mas a crise econômica internacional de 2008 e a gradual perda de influência do Ocidente diante do surgimento de novos atores mudaram este paradigma. “Enquanto os poderes ocidentais lutavam por superar a paralisação política, o ‘establishment’ político chinês continuava gerando altos níveis de crescimento e tirando milhões de pessoas da pobreza”, destaca um relatório dos BRICS, apresentado recentemente em Washington e elaborado pelo centro de estudos britânico Legatum, com a colaboração de think-tanks brasileiros, indianos e sul-africanos.

Com certeza, um dos exemplos mais reveladores é a dificuldade do Governo dos Estados Unidos –dada a paralisia que amarra o Capitólio– de conseguir a aprovação para a construção de uma infraestrutura, em contraste com a eficácia e a rapidez da China.

O documento compara os modelos de governos democráticos do Brasil, da Índia e da África do Sul frente aos autoritários da China e da Rússia. E sua conclusão é muito nítida: “A democracia não é um obstáculo ao crescimento. Não é necessário, como alguns argumentam, renunciar às liberdades individuais, ao Estado de Direito, instituições independentes, liberdade de imprensa e eleições regulares. Ao contrário, os direitos e liberdades democráticas podem ajudar a promover um desenvolvimento sustentado, um maior crescimento e reduções efetivas da pobreza”.

Os autores sustentam que o desenvolvimento econômico e social do Brasil, da Índia e da África do Sul nos últimos 25 anos não pode ser entendido sem sua evolução democrática. Por isso, argumentam, representam um modelo de “democracia alternativa do Sul”, afastado do padrão ocidental dos Estados Unidos e da Europa, e que pode servir de referência para outros países emergentes – como Malásia, Turquia e Cingapura-, tentados a não avançarem em relação a liberdades e contrapoderes plenos.

Nas últimas duas décadas, China e Rússia –ainda que em menor medida– registraram uma queda drástica da taxa de pobreza e uma ampliação da classe média. O mesmo foi conseguido pelo Brasil, Índia e África do Sul. Portanto a pergunta surge rapidamente: O que a democracia acrescenta nesses casos? E a resposta, segundo o relatório, é: muitíssimo. Em uma ampla análise comparativa e partindo do pressuposto de que o conceito de democracia vai além da realização das eleições, o documento destaca que esse modelo permite uma maior liberalização econômica, dá poder e protege indivíduos que não pertencem a classes privilegiadas, gera instituições alheias às interferências políticas –um assunto-chave para reduzir a corrupção–, e permite aos indivíduos denunciar abusos de poder sem serem reprimidos. Fatores imprescindíveis em nações emergentes com amplas disparidades raciais, étnicas, regionais e de classe.

Além disso, ao contrário das sociedades autoritárias, as democráticas “podem corrigir a si mesmas”, geram um “contrato social” ao forjar uma identidade nacional em torno de valores democráticos que permitem uma solução pacífica de tensões, e que “fomentam e blindam a inovação social e econômica.” Por exemplo, os autores duvidam que o Bolsa Família, o bem-sucedido programa brasileiro de subsídios para reduzir a pobreza, teria conseguido impulso em países despóticos.

O panorama, no entanto, está longe de ser idílico. Brasil, Índia e África do Sul mantêm numerosos problemas e desafios –além dos econômicos, a corrupção e a desigualdade continuam elevadas–, o que os coloca em uma encruzilhada. “Existem circunstâncias perigosas nos três. É preciso mais democracia”, afirmou na apresentação do relatório Ann Bernstein, diretora-executiva do Centro para o Desenvolvimento e Empreendimento, um laboratório de ideias sul-africano.

O documento considera que as reformas estruturais empreendidas nos três países na década de noventa ficaram obsoletas e defende uma segunda onda para fazer frente às crescentes exigências de melhorias por parte da classe média urbana, ao risco de perder competitividade mundial e à dificuldade de manter o elevado gasto público em políticas sociais. Em concreto, propõe melhorar a transparência e a responsabilidade nas instituições, liberalizar mais a economia, ganhar eficiência na gestão de serviços públicos e promover a autossuficiência nas políticas contra a pobreza. O objetivo: conseguir um crescimento econômico sólido e inclusivo sem perder a estabilidade política.

O contexto não é por acaso: 2014 é um ano eleitoral para os três grandes emergentes democráticos. Índia e África do Sul foram às urnas em abril e maio, com a mudança de governo no gigante asiático. E será a vez do Brasil em outubro, com a presidenta Dilma Rousseff liderando as pesquisas. O que parece muito improvável, concordam os analistas, é que as divergências democráticas no seio dos BRICS sejam tratadas na cúpula de Fortaleza. O clube dos emergentes, enfatizam, nasceu como um conceito econômico e de contraposição aos organismos ocidentais.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Brics meetings and summits: much ado about almost nothing? - Oliver Stuenkel, Alan Beattie

A despeito de todo o hype em volta dos Brics, não consigo perceber o que de novo, de interessante, de útil, de benéfico para a humanidade, ou para si mesmos, o grupo que não é um grupo, mas uma coisa indefinida, pode trazer de realmente de diferente para este nosso planetinha redondo.
OK, eles são mais do que reuniões de cúpula, e também tem reuniões especializadas.
Mas, estas seriam coisa mais substantiva do que meros encontros de burocratas, de alguns acadêmicos conformistas, que se reunem to talk and talk?
O que vai sair de positivo para os seus povos, e para a humanidade, de todos esses encontros?
Apenas dizer: Oi pessoal, nós estamos aqui, nós existimos, não se esqueçam de nós, OK? Tragam os seus fotógrafos, nós vamos soltar uma declaração conjunta logo, logo, confirmando que existimos, estamos aqui, fazemos alguma coisa, nos reunimos, escrevemos declarações, etc. etc. etc...
Paulo Roberto de Almeida 

Post-Western World - BRICS: There Is More Than Just the Summits
Oliver Stuenkel - 08 Jun. 2014

When BRICS leaders come together in Fortaleza in mid-July, analysts from around the world will have a quick look at the dynamics during the meeting and the 6th summit declaration, and then offer their view on the future of the grouping. Yet believing that the yearly summits make up the entire BRICS' edifice would be mistaken. The BRICS leaders summits are an important symbolic expression of political commitment, but what truly matters is the ongoing intra-BRICS cooperation that takes place throughout the year.

A brief look at BRICS-related meetings this year shows that intra-BRICS consultation and cooperation takes place continuously. In February, the first BRICS Science Technology and Innovation Ministerial Meeting took place in Cape Town. Ministers decided to strengthen cooperation in five fields: climate change and natural disaster mitigation (led by Brazil), water resources and pollution treatment (led by Russia), geospatial technology and its applications (led by India), new and renewable energy, and energy efficiency (led by China) and astronomy (led by South Africa).

In early March, the inaugural BRICS seminar on population matters took place, where participants discussed ways to address the challenges associated with demographic phenomena and processes, including migration, declining fertility rates, rising life expectancy, ageing population and changes in production and consumption patterns.

A week later, the 6th BRICS Academic Forum took place in Rio de Janeiro, bringing together scholars from Brazil, Russia, India, China and South Africa to discuss their research. Largely due to China's participation, these meetings tend to suffer from a boring whiff of officialdom, making truly innovative/contrarian academic ideas unlikely to be voiced, but still they serve an important purpose: To connect academic communities which have historically been disconnected from each other.

At the end of March, the BRICS Foreign Ministers met on the sidelines of the Nuclear Security Summit in The Hague, issuing a high-profile statement opposing restrictions on the participation of Russian President Vladimir Putin at the G-20 Summit in Australia in November 2014.

A day later, on March 25th 2014, the BRICS Seminar on Systems of Innovation and Development took place in Brasília, as a direct result of the meeting of Ministers of Science and Technology in February.

In early April, BRICS Finance Ministers met on the sidelines of an IMF/World Bank gathering in Washington DC, in which they discussed preparations for the BRICS-led development bank, a U$ 100 billion contingency reserve arrangement and the forthcoming Summit in Fortaleza in Brazil. In late April, a public seminar meant to inform the Brazilian public about the upcoming Summit took place in Fortaleza.

In mid-May, the 4th Meeting of the BRICS Cooperatives took place in Curitiba (Brazil), and less then a week later, the BRICS Ministerial Meeting on the sideline of the 67th World Health Assembly (WHA) occurred. There, the side event on “Access to medicines: challenges and opportunities for developing countries” was organized by the BRICS countries.

Merely organizing a never-ending string of meetings will not create sustainable cooperation, skeptics will argue. That is true, and the impact of several of the gatherings listed above may not have the desired outcome. Only time will tell in how far these meetings can generate more sustainable cooperation. But they do show that intra-BRICS cooperation is indeed taking place in many different areas. Those who criticize the BRICS concept can no longer just take a quick glance at the yearly leaders' summits; rather, intra-BRICS cooperation has, over the past years, grown far too complex to be easily dismissed.

=======

Post-Western World - BRICS Summit is Chance to Strengthen Brazil’s Global and Regional Ties
Oliver Stuenkel - 11 Jun. 2014

The BRICS are not a group. - Martin Wolf, Financial Times

It’s time to bid farewell to the Brics.- Philip Stephens, Financial Times

Lack of unity is symptomatic of the BRICS members’ underlying incompatibilities. - Joe Nye, Harvard University

Since its first Summit, in 2009, BRICS has consolidated its position as a positive force for the democratization of international relations and for the enhancement of existing institutions of international governance. It has also forged an impressive partnership carrying out cooperation initiatives in more than 30 areas between its members. -  2014 BRICS Summit website

One month before the 6th BRICS, the Brazilian government has finally launched a website providing ample information about past summits, leaders declarations, and main areas and topics of dialogue between the BRICS countries. For the first time, journalists quickly find out about intra-BRICS cooperation without hours of tedious research through non-functioning websites. Together, this information goes some way to establish a counter narrative against the general global consensus that the BRICS grouping is a weird and useless aberration set to fall into oblivion. Irrespective of who is right, the website will undoubtedly contribute to turning the debate into a more informed one, particularly since continuous intra-BRICS cooperation is virtually unknown outside a small group of specialists.

Reading the leaders declarations since 2009 provides interesting insight into how intra-BRICS cooperation has advanced over the past five years - even though, as Ambassador Graça Lima, Brazil's summit sherpa, pointed out during a press briefing, the grouping's institutionalization is still low.

While the World Cup will inevitably crowd out a broad discussion about the BRICS Summit, global attention is assured. The 2014 BRICS Summit will be one of the most important meetings of global leaders this year, bringing together the West's no.1 enemy, the leader of the soon-to-be greatest economy, the leader of Latin America's largest country, Africa's most powerful (though increasingly embattled) leader, and the man who is supposed to bring India back on track, the latter on his first trip outside of Asia. The summit will be dominated by the creation of the BRICS Development Bank, and the lingering question of whether the institution may challenge existing Bretton Woods institutions, a powerful symbol of Western-led global order.


In addition, Brazil's decision to invite all South American leaders to meet Xi, Modi, Zuma and Putin after the summit as part of an "outreach" is a shrewd attempt to position itself as the region's leader and representative. If structured in the right way, the summit marathon in mid-July would not only help strengthen Brazil's ties to the world's leading emerging economies, but also show its neighbors that Brasília has a regional project that involves connecting the entire continent to the world.
=========

A BRICS bank: can it outdo the World Bank?
by Alan Beattie
beyondbrics (Financial Times), Jun 19, 2014

As a coordinated entity, the BRICS grouping of emerging markets has produced little except inspiring the name of a widely-read blog.

Next month, the five governments – Brazil, Russia, India, China and South Africa – are planning to erect an actual edifice amid the swirling mists of rhetoric with the launch of a development bank dedicated to filling some of the gigantic hole in the financing of infrastructure and growth in fast-growing emerging economies.

The BRICS are seeking to avoid some of what they say are the faults of the World Bank and regional development banks – too much rich country dominance and too many conditions attached to lending. But that leaves the exact function and operation of the BRICS bank open to a great deal of political jockeying and uncertainties over how it is run.

That much more low-cost finance is needed in the emerging and developing world is hardly in doubt. Two former World Bank chief economists, Nick Stern and Joseph Stiglitz, say that (registration required) the contribution to infrastructure finance from multilateral development banks and overseas aid is likely to be $40-$60bn a year for the next few years, only 2-3% of the estimated $2tn annual need.

They might have added that the environmental and human resettlement safeguards adopted by the World Bank after decades of lobbying by (mainly western-based) NGOs have made its infrastructure lending complex and expensive for borrowers. Hostility to the effects of big dams, for example, means the bank has only a handful of large hydropower projects worldwide.

Development banks already run by emerging markets have stepped into the breach with varying degrees of opacity and indifference to collateral damage.

China, for example, honed its use of the huge China Development Bank (CDB) on its own infrastructure, including the much-criticised Three Gorges Dam, which the World Bank declined to finance on environmental and human rights grounds. It has since sent it out to do China’s mercantile and foreign policy bidding abroad. The CDB, which now lends far more than the World Bank, routinely hands out low-interest loans, particularly in Africa, conditioned less on development need than on the desire to secure natural resources and promote Chinese exports – and to encourage governments to de-recognise Taiwan at the UN.

Other emerging market countries’ development banks are much more transparent, but still attract credible criticism for not going far enough. Global Witness, the campaigning NGO, last week launched a broadside against BNDES, the Brazilian development bank that is partly funded by the national Treasury. BNDES funded some of the World Cup stadia that have been widely accused in Brazil of benefiting politically well-connected companies, running way over cost and and having little lasting growth impact. BNDES argue that they finance SMEs as well as large companies, but it is hard to believe that a heavily subsidised development bank, rather than fundamental reform of capital markets and lower long-term market interest rates, is what Brazilian businesses really need.

Even plurilateral development banks have yet to match the transparency standards of their multilateral cousins. The Andean Development Corporation (CAF), which brings together sixteen central and South American emerging economies (plus Spain and Portugal), now finances more infrastructure in Latin America than the World Bank and the Inter-American Development Bank together, but also attracts accusations (link in Spanish) of opacity and low lending standards.

Satisfying these demands while recognising political realities will be a difficult task for the BRICS bank. Who runs the institution and how it makes lending decisions have yet to be revealed, but it is inevitable that some raw politics will be involved.

The creation of the bank has revealed how delicate are these negotiations. China, which could easily finance an institution several times the size of the BRICS bank on its own, and whose high credit rating will be enormously helpful, had to be persuaded to accept a minority shareholding. Essentially, Beijing is gaining greater credibility for international cooperation at the cost of a greater implicit financial contribution and more constraints on its action. How far it is prepared to accept the latter to gain the former remains to be seen.

Although Beijing will not be able to use the bank to buy political favours as it does with the CDB, there will be some quiet but fierce struggles if one of the BRICS feels its own interests are being threatened. Nor is China likely to be very happy if it ends up simply subsidising the borrowing of other emerging markets – including BRICS nations like India – whose companies may compete with Chinese businesses for export markets.

Jim O’Neill, the former Goldman Sachs chief economist who invented the BRIC classification, suggests the bank approve loans based on their ability to help borrowers to achieve benchmarks for governance, education and access to technology. It is an interesting idea, but probably a quixotic one. Many governments correctly take “governance” in this context as a euphemism for combating corruption, and regard loans with governance conditions attached as intrusive political meddling. Given the emerging markets want to escape what they consider to be the challenge to their sovereignty from World Bank conditionality, they – particularly China – are unlikely to want it to re-emerge in their own development institution.

The BRICS bank certainly has an opportunity to make a considerable difference. There is an unoccupied niche in governance as well as in financing. It ought be possible to be more transparent than the likes of BNDES and CAF without being choked by bureaucracy like the World Bank.

By agreeing to finance a joint development bank, the BRICS have committed to a greater degree of scrutiny than going it alone. Pooling money and credit ratings may produce financing greater than the sum of its parts. But it seems hopeful rather than certain that a joint venture of five disparate countries – whose own governance is frequently murky – will do the same for the transparency of the new bank and its decisions to whom, and for what, to lend.
 ============

Can the BRICS avoid the “Power South vs. Poor South” Dynamic?
Oliver Stuenkel
Post-Western World, 20 Jun. 2014

Bridging the gap between the Global North and Global South was one of the key ambitions when global leaders created the G20 in response to the global financial crisis of 1997-99. In the same way, supporters of the BRICS and IBSA groupings have often argued that such outfits would strengthen the voice of the developing world in global affairs.

Yet the past decade has also seen the emergence of a new division: That of the "Power South" against the "Poor South", as Amitav Acharya argues in his recent book. Countries' quest for status as an "emerging power", he argues, can undermine its regional engagement. There is always a temptation to "leapfrog" their unglamorous neighborhood in order to pursue to global glitz and prestige that BRICS and G20 membership brings.

Contrary to previous developing country clubs like the Bandung Conference and its offshoot, the Non-Aligned Movement, which were broad and inclusive, the new outfits are exclusive and plagued by questions about their legitimacy and capacity to represent the developing world. Nations represented at Bandung, including Nehru's India, Mao's China, and Nasser's Egypt, had few illusions about achieving global power status, whether individually or collectively. The BRICS, on the contrary, harbor an individual aspiration to project power globally. The more powerful they become, the more pressing are worries in smaller developing countries about whether the BRICS of the G20 can still represent their interests? Or have countries like Brazil, India and China long joined a global oligarchy that knows little about the challenges small poor countries face?

At the same time, none of the BRICS countries enjoy broad regional support - quite to the contrary, in almost all cases, the BRICS countries' immediate neighbors are most skeptical of the emerging powers' leadership ambitions. Paradoxically, the BRICS' leadership ambitions are more recognized and even openly demanded on a global scale than regionally. The key challenge, then, of each BRICS country is how to show that their individual rise is good for their neighborhood, too.

Finally, the issue raises an important question several emerging powers have to face: How important is regional support to sustain a credible leadership ambition on a global scale? Put differently, is it necessary to be recognized as a regional leader before projecting influence globally?

These are important questions as Brazil prepares the BRICS-South America Summit in Brasília, which will take place shortly after the 6th BRICS Summit in Fortaleza. The decision to invite the continent's leaders is a shrewd one; yet Brazil should use this golden opportunity to articulate a clearer regional vision and answer pressing questions: What should UNASUR look like ten years from now? How does it think about South America's place in a global economy increasingly divided by big trade blocs? What should be the future of the South American Defense Council? And how should the region think about and respond to China's growing presence?


Organizing the summit marathon in the second half of July is a formidable logistical and diplomatic challenge. Yet if Dilma Rousseff is able to articulate a clear vision to the many participants, it would be a considerable success of a President who is generally thought to have neglected foreign policy since taking office in January 2011.