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terça-feira, 27 de outubro de 2020

Como era um "passaporte diplomático" brasileiro, cem anos atrás? - Carlos Lemgruber Kropf

 Em todos os meus postos diplomáticos, invariavelmente, eu buscava os arquivos, os papéis esquecidos, os relatórios de décadas atrás, os maços antigos, as pastas empoeiradas, os baús esquecidos, as malas deixadas para trás, geralmente, no subsolo da chancelaria, ou no sótão, naquelas casas antigas.

Logo no meu primeiro posto, embaixada em Berna, uma casa do século XIX, assim que dava uma folga no trabalho, eu subia as escadas em começava a ler relatórios de outras épocas. Encontrei, por exemplo, ofícios do imediato pós-Segunda Guerra, redigidos pelo pai do meu colega diplomata, embaixador em Washington e ministro da Fazenda Marcílio Marques Moreira, o então ministro Mario Moreira, relatando os problemas com os refugiados de guerra naquele país neutro que era a Confederação Helvética, que na verdade abrigou mais espiões do que refugiados (pois fecharam as fronteiras e rechaçaram judeus que buscavam refúgio), e acumulou um bocado de ouro roubado pelos nazistas de suas vítimas judias. Li quase todos.

Num baú, deixado ali por um colega do imediato pós-Grande Guerra, encontrei um passaporte que não hesitei em guardar, com a intenção de tentar encontrar os descendentes de tão ilustre personagem (o que ainda não consegui). Registro que Carlos Lemgruber Kropf só passou pela Suíça, a caminho de Praga, como novo Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário junto à recém criada, a partir da dissolução do Império Austro-Húngaro, República Tcheco-Eslovaca, em 1921. Mas na volta deve ter passado por lá novamente, já que deixou esse documento, já com carimbos dos países vizinhos, de 1922 e 1923.

Não se tratava exatamente de um passaporte, mas de uma longa folha, dobrada, de 57 centímetros na altura (ou seja, mais de meio metro) e 25 cm na largura, com apenas a metade da frente ocupada pela sua identificação, assinada pelo então EEMP em Quito, Argeu Guimarães (escreveu alguns livros de história diplomática). 

Reproduzo aqui as imagens que fiz (tive de montar, pois era longuíssimo esse "passaporte") e me coloco à disposição da família para devolver o original.